02.11.2013 Views

Leituras Inglesas no Brasil oitocentista

Leituras Inglesas no Brasil oitocentista

Leituras Inglesas no Brasil oitocentista

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

VASCONCELOS, Sandra Guardini T. <strong>Leituras</strong> <strong>Inglesas</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> <strong>oitocentista</strong>.<br />

casto. Ordinariamente os seus heróis, ou heroínas, se bem que<br />

por dever imperioso do romanceiro, eles estejam namorados, não<br />

aparecem senão <strong>no</strong> segundo pla<strong>no</strong>. É verdade na <strong>no</strong>vela que<br />

traduzimos tanto por ser breve, e caber <strong>no</strong>s limites de dois folhetos,<br />

como porque o mesmo Walter Scott, dando-se a si mesmo o<br />

segundo papel, delineia sua configuração física, e moral, os amantes<br />

representam as primeiras figuras; porém o autor vela com tal delicadeza<br />

o crimi<strong>no</strong>so da sua paixão, e os mostra na catástrofe tão<br />

cruelmente castigados, que a lição de moral que quis dar não<br />

pode deixar de se gravar profundamente <strong>no</strong> coração.” 33<br />

O Jornal do Comércio, a partir do final da década de 1830, também<br />

iria se valer da fórmula de misturar as primeiras experiências de brasileiros,<br />

<strong>no</strong> terre<strong>no</strong> ficcional, com a publicação de romances consagrados em terras<br />

francesas. Inaugurando a seção “Folhetim” <strong>no</strong> rodapé do jornal com O capitão<br />

Paulo, romance-folhetim de Alexandre Dumas, em 1838, Plancher adotou<br />

a prática de oferecer a seus leitores ficção aos pedaços e abriu espaço<br />

para Pereira da Silva, Justinia<strong>no</strong> José da Rocha e Joaquim Norberto de Souza<br />

e Silva trazerem a público suas historietas.<br />

Começam já aí, nessas pequenas <strong>no</strong>velas brasileiras, a aparecer os<br />

ingredientes que iriam compor seu cardápio rotineiro, emprestados às suas<br />

congêneres francesas e inglesas.<br />

III<br />

Um dos efeitos visíveis do que Antonio Cândido chamou de o “estado<br />

de timidez envergonhada” do romance, isto é, sua necessidade permanente<br />

de auto-justificação, também fez escola entre nós. Não foi outra a<br />

razão para os vários artifícios utilizados por <strong>no</strong>ssos primeiros ficcionistas <strong>no</strong><br />

intuito de, por um lado, responder ao apelo moralizante e, por outro, conferir<br />

um certo ar de verdade ao seu relato. A garantia de autenticidade era<br />

um truque eficaz <strong>no</strong> processo de convencimento do leitor de que as horas<br />

dedicadas à leitura de ficção não seriam ociosas. Não deve ter sido outro o<br />

motivo para tantos atestados de verdade e nem são poucos os exemplos das<br />

estratégias empregadas na busca da verossimilhança. Daí o recurso aos manuscritos,<br />

velha arma já utilizada por Horace Walpole, entre outros romancistas<br />

ingleses, como é o caso da já referida “Olaya e Júlio, ou a Periquita”:<br />

33<br />

Prólogo do Tradutor. O Beija-Flor, 1830, n. 1, p. 32.<br />

242<br />

Sem título-1 242<br />

16/11/2010, 16:21

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!