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Leituras Inglesas no Brasil oitocentista

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Crop, 8, 2002<br />

to dos personagens e por um certo realismo social, mais próximo de A<br />

Moreninha. 35 Não é possível verificar se essa observação se aplica ao conjunto<br />

da ficção produzida <strong>no</strong> período do surgimento da ficção <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>,<br />

uma vez que parte dela se perdeu. Entretanto, é fato que, com a consolidação<br />

do gênero, a partir da década de 1840, iriam predominar a verossimilhança<br />

na ação e um ajuste mais adequado entre a pintura do cenário e as<br />

situações encenadas.<br />

Se <strong>no</strong>s romances sentimentais de Macedo não iria desaparecer de<br />

todo a atitude edificante referida acima, nem o fardo da subliteratura romântica,<br />

já se destacam algumas qualidades que fizeram do escritor, fiel<br />

cronista da vida do Rio de Janeiro, “uma lufada de ar fresco”, garantida pela<br />

busca de plausibilidade e verossimilhança e pela aposta na pintura de costumes<br />

e da vida social.<br />

Em Formação da Literatura <strong>Brasil</strong>eira, Antonio Cândido aponta duas<br />

linhas de força do gênero, estabelecendo uma diferença fundamental entre<br />

o romance que explora as “camadas subjacentes do ser”, à la Dostoievski e<br />

Machado, e o “da vida de relação”, em que o peso recai sobre a cena e o<br />

acontecimento e o que importa é o “movimento mais amplo da vida social”,<br />

representado, em <strong>no</strong>ssa literatura por Manuel Antonio de Almeida. 36 Eu<br />

arriscaria a dizer que estão aí, colocados assim de forma simples e absolutamente<br />

precisa, os dois grandes paradigmas criados por Richardson e Fielding<br />

na década de 1740, na Inglaterra, e que foram imitados à exaustão por seus<br />

seguidores e diluidores em ambos os lados do Canal da Mancha.<br />

O conflito da condição econômica e social com a virtude e as leis da<br />

paixão, que, segundo Cândido, já se desenha em A Viuvinha, de Alencar, e<br />

vai ser o drama central de Senhora, nada mais é do que a transposição, para<br />

o meio social brasileiro, do grande modelo inaugurado por Pamela, em<br />

1740, e levado ao paroxismo em Clarissa Harlowe (1747-8), de Richardson.<br />

Não é à toa que Alencar, em sua carta a D. Paula de Almeida, diz que<br />

“Há duas maneiras de estudar a alma: uma dramática, à semelhança<br />

de Shakespeare; outra filosófica, usada por Balzac. O<br />

romancista dispõe de ambas; mas deve, sempre que possa, dar<br />

preferência à primeira, e fazer que seus personagens se desenhem<br />

a si mesmos <strong>no</strong> correr da ação”. 37<br />

35<br />

Ver David Salles, op. cit.<br />

36<br />

Antonio Cândido, op. cit., vol. 2, p. 215-16.<br />

37<br />

José de Alencar. “Carta a D. Paula de Almeida”. Obra Completa. Rio de Janeiro,<br />

José Aguilar, 1959, vol. I, p. 1212.<br />

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Sem título-1 245<br />

16/11/2010, 16:21

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