Letras Digitais: 30 anos de teses e dissertações

Essa dupla relac;ao implica justamente a possibilidade da criac;ao do
espac;o da memoria atraves do espac;o fisico. Bosi comenta que:
"A imagem pode ser retida e depois suscitada pela
reminiscencia ou pelo sonho. Com a retentiva, comec;a a
correr aquele processo de co-existencia de tempos que
marca a ac;ao da memoria: 0 agora refaz 0 passado e convive
com ele.
(Bosi, 1997, p. 13).
o que se nos apresenta no poema e urn constante nascer. Esse
nascer de novo, provem das cinzas deixadas pelo tempo antigo (0 tempo
passado). Deixa-se bem claro a presenc;a do mito da Fenix. Segundo 0 que
relataram Herodoto e Plutarco, e 0 que diz Chevalier (1999, p. 422), e urn
passaro mitico, de origem etiope, de urna beleza sem igual, e que tern 0 poder,
depois de se consumir em urna fogueira, de renascer de suas cinzas. Os aspectos
simbolicos aparecem claramente: ressurreic;ao, imortalidade e reaparecimento
ciclico.
o projeto poetico de H. Dobal, no que diz respeito a cenografia do
nascimento do tempo, consiste na utilizac;ao dos recursos semanticos que
remontam aos sentidos de ruinas prenunciando 0 surgimento da vida, depois da
morte. A urn tempo ruim surge urn tempo born. Tudo isso pode ser comprovado
nos versos de N2 3 e 4: "(oo.) a pureza dos ossos sobrevive ao pecado/ da came
alegre noutro tempo; e 17 a 20: "noutro tempo/ 0 seu comercio de misterio:/ tao
divididos tao distanciados ou descendentes/ se libertam de toda ligac;ao com os
avos.