Ãndice - Revista Sobrape
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R. Periodontia - 18(2):24-30<br />
nismos de defesa para eliminar a contaminação bacteriana,<br />
a qual multiplica-se e causa a infecção pulmonar<br />
(SCANNAPIECO & MYLOTTE, 1996). Então, dentro deste<br />
contexto, KHAN et al (2003) afirmam que a doença<br />
periodontal deve ser considerada um problema em destaque.<br />
A doença periodontal é uma infecção multifatorial,<br />
induzida por um complexo bacteriano que interage com os<br />
tecidos e células do hospedeiro causando a liberação de um<br />
amplo espectro de citocinas, quimiocinas e mediadores inflamatórios,<br />
alguns dos quais levam à destruição de estruturas<br />
periodontais, incluindo os tecidos que suportam o dente,<br />
osso alveolar e ligamento periodontal. O gatilho para o<br />
início da doença é a presença do biofilme microbiano complexo,<br />
que coloniza as regiões do sulco gengival entre a superfície<br />
dental e as margens gengivais, através de interações<br />
de adesão específicas e acúmulo devido a alterações<br />
arquiteturais no sulco, como perda de aderência e formação<br />
de bolsa (HOLT & EBERSOLE, 2005).<br />
A cavidade bucal pode abrigar mais de 700 espécies<br />
bacterianas. Entretanto, o acúmulo do biofilme sobre as superfícies<br />
dentárias pode alterar essa flora bacteriana oral, atuando<br />
como reservatório de patógenos respiratórios, o que<br />
aumenta ainda mais o risco de pneumonia por aspiração<br />
em pessoas susceptíveis (SOCRANSKY & HAFFAJEE, 2005).<br />
Através de uma revisão de literatura, o presente artigo<br />
tem como finalidade abordar a relação entre a doença<br />
periodontal como fator de risco para a pneumonia por aspiração<br />
e a presença do biofilme dental como potencial nicho<br />
de microrganismos causadores de infecções pulmonares.<br />
REVISÃO DE LITERATURA<br />
Como relatado por SCANNAPIECO & MYLOTTE (1996),<br />
a pneumonia bacteriana em adultos pode resultar da aspiração<br />
da flora orofaringeal somada à falha dos mecanismos<br />
de defesa para eliminar a contaminação.<br />
Indivíduos sadios aspiram, freqüentemente, pequenas<br />
quantidades de secreções orofaríngeas, principalmente durante<br />
o sono. No entanto, muitos desses eventos de aspiração<br />
são pequenos, causam poucos sintomas e raramente<br />
resultam em infecções do trato respiratório (DRINKA &<br />
CRNICH, 2005).<br />
Normalmente, o trato respiratório é capaz de se defender<br />
dessas invasões através de mecanismos diretos ou indiretos,<br />
tais como: barreiras anatômicas (glote e laringe); reflexo<br />
da tosse que ajuda a expelir as partículas inaladas; o fluxo<br />
salivar que lava as superfícies epiteliais; secreções<br />
traqueobronquiais; estruturas mucociliares que retêm<br />
microorganismos para serem expelidos através da nasofaringe<br />
ou enviados à orofaringe para serem eliminados pela<br />
salivação; imunidade humoral e celular e um duplo sistema<br />
fagocítico constituído pelos macrófagos alveolares e os<br />
neutrófilos (GARCIA, 2005).<br />
Porém, indivíduos com desordens neurológicas, idosos<br />
e pacientes hospitalizados constituem um grupo de risco<br />
para a pneumonia por aspiração, visto que nestes indivíduos<br />
o reflexo da tosse, a capacidade de expectoração e as<br />
barreiras imunológicas estão deficientes (DRINKA & CRNICH,<br />
2005).<br />
Várias vias de acesso dos microorganismos para o trato<br />
respiratório têm sido descritas, tais como: inoculação direta<br />
por aspiração, inalação de aerossóis infectados, disseminação<br />
hematógena e extensão da infecção de áreas adjacentes.<br />
Destas, a aspiração de microorganismos da cavidade<br />
bucal e orofaringe é a via mais comum de infecção, significando<br />
então que a microbiota oral tem papel primordial na<br />
etiologia das infecções pulmonares (TUNES & RAPP, 1999;<br />
SCANNAPIECO & MYLOTTE, 1996; FOURRIER et al, 1998;<br />
SCANNAPIECO, 2005).<br />
Segundo DRINKA & CRNICH (2005), a síndrome de pneumonia<br />
por aspiração é um processo infeccioso secundário à<br />
disfagia orofaringeal, com inalação de bactérias periodontais<br />
ou colonizadoras da orofaringe. Estas pneumonias também<br />
podem ser causadas por regurgitação de material gástrico<br />
infectado.<br />
Dado que a colonização da mucosa faringeana por<br />
patógenos respiratórios parece ser um fenômeno transitório;<br />
sugere-se que o biofilme dental possa servir como reservatório<br />
destes patógenos, principalmente naqueles pacientes<br />
com alto risco e higiene bucal pobre (EL-SOLH et al, 2004).<br />
Quatro mecanismos têm sido sugeridos para explicar o<br />
papel das bactérias orais na patogênese das doenças respiratórias<br />
(SCANNAPIECO, 2005):<br />
1) Os organismos que vivem no biofilme dental podem<br />
ser liberados na saliva e pequenas gotículas podem ser aspiradas<br />
nos pulmões. Normalmente os mecanismos de defesa<br />
pulmonar previnem a infecção. Entretanto, a colonização<br />
do trato respiratório inferior pode ocorrer se o sistema imune<br />
está deprimido ou comprometido, se um patógeno virulento,<br />
pouco usual, é aspirado ou se um grande número<br />
destes é aspirado simultaneamente.<br />
2) A ação das enzimas bacterianas sobre as células<br />
epiteliais da mucosa oral pode promover a colonização de<br />
patógenos respiratórios. Normalmente, moléculas sobre a<br />
superfície epitelial inibem a adesão bacteriana, porém<br />
enzimas liberadas por essas bactérias podem degradar es-<br />
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