Sinal Verde - Senac
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A próxima etapa do projeto prevê<br />
a realização de testes com mulheres<br />
e crianças de áreas com grande<br />
incidência de pessoas infectadas.<br />
“Tudo é feito gradativamente”, diz<br />
Miriam. “Primeiro começamos com<br />
um número pequeno, então vamos<br />
aumentando o número de pessoas<br />
incluídas no teste clínico, de modo<br />
que nos próximos três a quatro<br />
anos isso já deve estar assegurado,<br />
até que possa ser disponibilizado<br />
para a população.”<br />
O teste clínico em humanos teve início<br />
em maio de 2011, logo após a aprovação<br />
da Agência Nacional de Vigilância<br />
Sanitária. A legislação internacional<br />
determina que os testes com pacientes<br />
sejam realizados no país de origem<br />
da tecnologia, e esta é a primeira<br />
vez que isso ocorre no Brasil.<br />
Ciclo de negligência<br />
A esquistossomose está incluída na<br />
lista das doenças negligenciadas.<br />
Esse termo surgiu na década de<br />
1970, para se referir a enfermidades<br />
endêmicas em regiões de pobreza<br />
extrema – especialmente na África,<br />
na Ásia e na América Latina – e são<br />
pouco atraentes para a indústria farmacêutica,<br />
que prefere investir mais<br />
recursos em pesquisa e desenvolvimento<br />
de medicamentos para combater<br />
Aids, malária e tuberculose.<br />
A organização internacional de ajuda<br />
humanitária Médicos sem Fronteiras<br />
adotou o termo e passou a<br />
produzir relatórios sobre a situação<br />
das doenças negligenciadas<br />
no mundo. O mais recente chama-<br />
-se “Enfrentando a negligência”<br />
(Fighting neglect) e foi lançado no<br />
início de 2012. O documento aborda<br />
doenças tropicais como Chagas,<br />
leishmaniose visceral e tripanossomíase<br />
africana, porém não faz referência<br />
ao Brasil ou à ocorrência de<br />
esquistossomose.<br />
“Houve um interesse crescente em<br />
doenças tropicais negligenciadas<br />
nos últimos anos. São doenças de<br />
tratamento simples”, conta a consultora<br />
de MSF para Doenças Negligenciadas<br />
e coordenadora do<br />
relatório, Gemma Ortiz Genovese.<br />
“Queríamos mostrar claramente<br />
que não existem desculpas: vidas<br />
podem ser salvas com os recursos<br />
de que já dispomos, mesmo que<br />
ainda haja necessidade de investir<br />
no desenvolvimento de novas e<br />
melhores drogas e ferramentas de<br />
diagnóstico.”<br />
É necessário, segundo ela, romper<br />
o “ciclo de negligência”. Os pacientes<br />
que precisam de diagnóstico e<br />
tratamento não conseguem acesso<br />
porque são muito pobres. Os médicos,<br />
por sua vez, nem sempre compreendem<br />
ou conhecem a fundo essas<br />
doenças, por vezes excluídas do<br />
currículo ou abordadas superficialmente.<br />
“Como os próprios pacientes<br />
não têm conhecimento sobre<br />
essas doenças, o resultado é que<br />
não existe demanda pelo tratamento,<br />
o que significa que a indústria<br />
farmacêutica não vê esse mercado<br />
como proveitoso e, consequentemente,<br />
demonstra pouco interesse<br />
em desenvolver medicamentos para<br />
esse público”, explica.<br />
O “ciclo de negligência” só pode ser<br />
rompido com mudanças radicais<br />
nas políticas de saúde pública e investimento<br />
em pesquisa e desenvolvimento<br />
de medicamentos, em<br />
especial nos países endêmicos. “A<br />
erradicação da esquistossomose é<br />
uma tarefa difícil”, diz Miriam Tendler.<br />
“Afinal, a varíola foi, até hoje,<br />
a única doença que o homem conseguiu<br />
eliminar. Por outro lado, a<br />
ferramenta que permitiu e permite<br />
fazer isso é a vacina, porque age interrompendo<br />
a transmissão.”<br />
Essa conquista já estamos próximos<br />
de conseguir. Mas políticas públicas<br />
de universalização do saneamento<br />
básico ainda têm um longo<br />
caminho pela frente.<br />
A vacina foi testada em um grupo<br />
de voluntários<br />
Miriam Tendler<br />
Doenças<br />
negligenciadas<br />
A Organização Mundial da<br />
Saúde considera como negligenciadas<br />
as seguintes doenças<br />
tropicais: úlcera de Buruli,<br />
doença de Chagas, cisticercose,<br />
dengue e dengue hemorrágica,<br />
dracunculíase (doença do verme-da-guiné),<br />
equinococose,<br />
fasciolíase, tripanossomíase<br />
africana (doença do sono),<br />
leishmaniose, lepra, filaríase<br />
linfática, oncocercíase, raiva,<br />
esquistossomose, parasitoses<br />
(helmintíases) transmitidas<br />
pelo solo, tracoma e bouba.<br />
fotos: Gutemberg Brito/Fiocruz<br />
junho/dezembro 2012 33