O fundamento da democracia em Benedictus de Spinoza - Uece
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A instituição do campo político<br />
1.1 Ética e TTP: A crítica do preconceito e <strong>da</strong> superstição e a passag<strong>em</strong><br />
<strong>da</strong> ontologia ao político<br />
Antes <strong>de</strong> a<strong>de</strong>ntrarmos na concepção política <strong>de</strong> <strong>Spinoza</strong> faz-se necessário<br />
<strong>de</strong>terminar o lugar <strong>de</strong>sta no conjunto <strong>de</strong> sua obra. Sab<strong>em</strong>os que durante muito<br />
t<strong>em</strong>po seus escritos políticos ficaram obscurecidos diante <strong>de</strong> sua obra maior (a<br />
Ética), o que abriu espaço para as mais diversas interpretações. Ao se referir<strong>em</strong><br />
ao seu pensamento político, por vezes foi chamado <strong>de</strong> simples seguidor <strong>de</strong><br />
Hobbes, outras <strong>de</strong> pre<strong>de</strong>cessor do i<strong>de</strong>al d<strong>em</strong>ocrático <strong>de</strong> Rousseau, ou mesmo,<br />
antecipador <strong>da</strong>s teses liberais. 2<br />
Fato é que sua primeira obra política, por<br />
precaução, foi publica<strong>da</strong> anonimamente <strong>em</strong> 1670. 3 Os pensamentos expressos<br />
nessa obra tiveram suas consequências, pois não se d<strong>em</strong>orou <strong>em</strong> adivinhar a sua<br />
procedência, levando-o a receber ataques violentos <strong>de</strong> teólogos fanáticos e<br />
religiosos.<br />
Durante muito t<strong>em</strong>po o Tratado Teológico-político (TTP) 4 foi alvo <strong>de</strong><br />
várias contestações. 5 Mesmo no último meio século, diz Diogo Pires Aurélio na<br />
apresentação <strong>da</strong> edição brasileira do Tratado Teológico-Político, esta obra teve<br />
sua compreensão <strong>da</strong>s mais equivoca<strong>da</strong>s e redutoras. Para este autor, o TTP trata<br />
<strong>de</strong> religião e política, como sugere o título; entretanto, o alcance <strong>de</strong> seu conteúdo<br />
vai mais além. Para Aurélio, comete-se um erro interpretar o TTP como um<br />
sobressalto momentâneo que teria feito o filósofo abandonar a elaboração <strong>de</strong> seu<br />
2<br />
Segundo Maria José Villaver<strong>de</strong> (<strong>Spinoza</strong>, Rousseau: dos concepciones <strong>de</strong> <strong>d<strong>em</strong>ocracia</strong>, p. 85),<br />
<strong>Spinoza</strong> é autor maldito por excelência. Diz ele: “<strong>Spinoza</strong> ha sido durante largo ti<strong>em</strong>po un<br />
pensador mal conocido en su faceta política, oscureci<strong>da</strong> por su reputación <strong>de</strong> filósofo<br />
<strong>em</strong>inente”.<br />
3<br />
Das duas obras publica<strong>da</strong>s <strong>em</strong> vi<strong>da</strong>, Principia philosophiae cartesianae foi a única com seu<br />
nome, já que o Tratactus Theologicu-políticus foi, por precauções, publica<strong>da</strong> com falsas<br />
indicações sobre o impressor e a respectiva ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
4<br />
Com relação ao Tratado Teológico-Político (TTP), a edição trabalha<strong>da</strong> nesta dissertação foi a<br />
<strong>de</strong> Martins Fontes, traduzi<strong>da</strong> por Diogo Pires Aurélio, 2003.<br />
5<br />
Em 1674, um <strong>de</strong>creto promulgado pelas cortes holan<strong>de</strong>sas proibiu a circulação do TTP,<br />
juntamente com outras obras, entre elas as duas publicações, <strong>em</strong> Holandês e <strong>em</strong> latim, do<br />
Leviathan. (Aurélio, 2003, p. XVIII).<br />
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