O fundamento da democracia em Benedictus de Spinoza - Uece
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<strong>Spinoza</strong><br />
No Prefácio do TTP, <strong>Spinoza</strong> especifica o <strong>de</strong>stinatário <strong>da</strong>s idéias<br />
propostas por ele: o leitor filósofo ou aquele não filósofo que pensa livr<strong>em</strong>ente,<br />
s<strong>em</strong> a submissão aos dogmas teológicos. Para <strong>Spinoza</strong>, os <strong>de</strong>stinatários do TTP<br />
são aqueles que pensam e ag<strong>em</strong> s<strong>em</strong> obediência a idéias, preceitos, man<strong>da</strong>mentos<br />
e <strong>de</strong>cretos transcen<strong>de</strong>ntes. Perceb<strong>em</strong>os que não só o filósofo se inclui aqui como<br />
leitor <strong>de</strong> <strong>Spinoza</strong>, mas, sim, todo aquele que <strong>de</strong>sejar e for capaz <strong>de</strong> pensar<br />
livr<strong>em</strong>ente. Ora, com essa pr<strong>em</strong>issa <strong>Spinoza</strong> coloca a liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> pensar e falar<br />
livr<strong>em</strong>ente como condição essencial para a República, <strong>de</strong> forma que, um po<strong>de</strong>r é<br />
violento quando nega essa liber<strong>da</strong><strong>de</strong> aos seus ci<strong>da</strong>dãos. Assim, o pensamento<br />
vulgar, ao se encontrar sob o a influência dos teólogos, muitas vezes age s<strong>em</strong>,<br />
com preconceitos.<br />
Ao i<strong>de</strong>ntificar o <strong>de</strong>stinatário <strong>de</strong> suas i<strong>de</strong>ias, <strong>Spinoza</strong> também i<strong>de</strong>ntifica o<br />
obstáculo para o pensar e o agir livre: a obediência gera<strong>da</strong> pelo medo <strong>de</strong> males e<br />
pela esperança <strong>de</strong> bens, ambos igualmente incertos, que levam a imaginar um<br />
po<strong>de</strong>r transcen<strong>de</strong>nte e caprichoso que possui representantes humanos,<br />
conhecedores <strong>de</strong> sua vonta<strong>de</strong> secreta e aos quais é preciso submeter-se. Com esta<br />
reflexão, <strong>Spinoza</strong> coloca a teologia, segundo a expressão <strong>de</strong> Marilena Chauí,<br />
como uma teoria “imaginária <strong>da</strong> contingência”, 41 que t<strong>em</strong> na imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> uma<br />
vonta<strong>de</strong> onipotente e transcen<strong>de</strong>nte que cria e governa o mundo, os el<strong>em</strong>entos<br />
<strong>de</strong>terminantes para propor códigos <strong>de</strong> condutas que submetam a vonta<strong>de</strong> humana<br />
à divina, tendo o teólogo como mediador. O resultado disso tudo é a conservação<br />
do medo e <strong>da</strong> esperança, que leva o ser humano a abandonar-se aos <strong>de</strong>sígnios<br />
imprevisíveis <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>r altíssimo.<br />
Dessa forma, <strong>Spinoza</strong> afirma que a teologia t<strong>em</strong> um único objetivo:<br />
“ensinar a obediência”. Aqui encontramos a distinção entre filosofia e teologia. 42<br />
41<br />
Com esta expressão, Chauí, M. evi<strong>de</strong>ncia que os homens, na tentativa <strong>de</strong> “[...] compreen<strong>de</strong>r a<br />
orig<strong>em</strong> <strong>da</strong> contingência dos bens e dos males imaginam, então, que coisas boas e más lhes<br />
acontec<strong>em</strong> por vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> entes superiores e po<strong>de</strong>rosos nos quais passa a crer e aos quais<br />
passa a adorar e a dirigir preces” (Chauí, M. A política <strong>em</strong> Espinosa, p. 11).<br />
42<br />
Como observa Chauí, “[...] a teologia exige obediência e submissão intelectual; a filosofia é<br />
exercício livre do pensamento”. (Ibid., p. 12).<br />
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