O fundamento da democracia em Benedictus de Spinoza - Uece
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O corpo age <strong>de</strong> acordo com as leis <strong>da</strong> natureza, pelo qual está<br />
<strong>de</strong>terminado a agir; e, como coisa pensante, a mente pensa <strong>de</strong> acordo com o<br />
pensamento <strong>de</strong> Deus. Esta mistura <strong>de</strong> extensão e pensamento, evi<strong>de</strong>ncia<strong>da</strong> pelo<br />
paralelismo <strong>de</strong> <strong>Spinoza</strong>, nos leva a reconhecer a mente como parte do<br />
entendimento <strong>de</strong> Deus, e o corpo como parte <strong>da</strong> extensão infinita. Como<br />
conseqüência, o hom<strong>em</strong> t<strong>em</strong> tanto idéias ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iras e a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s, como também<br />
falsas e ina<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s. As primeiras têm sua causa na razão e as segun<strong>da</strong>s, na<br />
imaginação. Como sab<strong>em</strong>os, <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> graus <strong>de</strong> conhecimento, <strong>Spinoza</strong><br />
consi<strong>de</strong>ra o conhecimento sensível ou imaginativo como conhecimento do<br />
primeiro gênero (EII,P1,S); este se opõe ao conhecimento racional, consi<strong>de</strong>rado<br />
por ele como conhecimento do segundo gênero (EII,P40,S2), que conhece<br />
a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>mente as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s comuns a todos os corpos, mas s<strong>em</strong> apreen<strong>de</strong>r a<br />
essência <strong>da</strong>s coisas singulares, já que esta tarefa pertence ao conhecimento mais<br />
superior, ou seja, o do terceiro gênero, chamado por <strong>Spinoza</strong> <strong>de</strong> intuição (EII,<br />
P40, S2). De forma que, quando levado pela razão, a agir, o hom<strong>em</strong> se<br />
autolegisla, ou seja, quando conhece as causas <strong>de</strong> suas afecções, é livre, pois t<strong>em</strong><br />
<strong>de</strong>las idéias claras e distintas (e ag<strong>em</strong> <strong>em</strong> conformi<strong>da</strong><strong>de</strong> com esse conhecimento).<br />
É por isso que, segundo <strong>Spinoza</strong>, os homens enganam-se quando se julgam<br />
livres, quando apenas têm consciência <strong>da</strong>s ações e ignora as causas pelas quais<br />
elas são <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s. (EII, P35, S2). De forma que, as idéias falsas,<br />
ina<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s, expressam a impotência do hom<strong>em</strong> e este só po<strong>de</strong> agir no sentido<br />
<strong>de</strong> perseverar no ser, quando o fizer livr<strong>em</strong>ente, isto é, baseado no conhecimento<br />
<strong>da</strong>s causas <strong>de</strong> suas afecções, a parti do conhecimento do segundo gênero. Para<br />
<strong>Spinoza</strong>, essa condição <strong>da</strong> ação finita livre, é uma experiência ética do<br />
paralelismo dos atributos, <strong>de</strong> modo que:<br />
[...] a razão não pe<strong>de</strong> na<strong>da</strong> que seja contra a Natureza, ela pe<strong>de</strong>, por<br />
conseguinte, que ca<strong>da</strong> um se ame a si mesmo; procure o que lhe é útil,<br />
mas o que lhe é útil <strong>de</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>; <strong>de</strong>seje tudo o que conduz, <strong>de</strong> fato, o<br />
hom<strong>em</strong> a uma maior perfeição; e, <strong>de</strong> uma maneira geral, que ca<strong>da</strong> um<br />
se esforce por conservar o seu ser, tanto quanto lhe é possível. (EIV,<br />
P19, S1).<br />
Assim, ca<strong>da</strong> indivíduo obe<strong>de</strong>ce à atração do prazer que procura e não<br />
está no po<strong>de</strong>r n<strong>em</strong> do sábio n<strong>em</strong> do insensato ser conduzido só pela razão;<br />
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