O fundamento da democracia em Benedictus de Spinoza - Uece
O fundamento da democracia em Benedictus de Spinoza - Uece
O fundamento da democracia em Benedictus de Spinoza - Uece
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>da</strong> natureza humana. Afirma ele que os homens se vê<strong>em</strong> submetidos às <strong>em</strong>oções,<br />
mas pod<strong>em</strong> contê-las pela razão, o que para <strong>Spinoza</strong> é muito difícil, tanto para<br />
qualquer um na multidão, como para homens públicos. Segundo <strong>Spinoza</strong>:<br />
N<strong>em</strong> todos, com efeito, estão naturalmente <strong>de</strong>terminados a agir<br />
segundo as regras e as leis <strong>da</strong> razão; pelo contrário, todos nasc<strong>em</strong> para<br />
ignorar tudo e, antes que possam conhecer o ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro modo <strong>de</strong> viver<br />
e adquirir o hábito <strong>da</strong> virtu<strong>de</strong>, vai-se a maior parte <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong>, ain<strong>da</strong><br />
quando tenham sido b<strong>em</strong> educados. (TTP, cap. XVI)<br />
É a história e a experiência que nos mostra que, <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as épocas e<br />
lugares, os homens viveram <strong>em</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e sob a influência <strong>da</strong>s paixões. Pois, se<br />
os homens foss<strong>em</strong> conduzidos só pela razão, não teríamos necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> do<br />
Estado, n<strong>em</strong> dos meios que este <strong>em</strong>prega para nos persuadir a obe<strong>de</strong>cer as leis,<br />
“n<strong>em</strong> mesma a figura <strong>da</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong> seria prescindível”(Vala<strong>da</strong>res). 57 No entanto,<br />
os homens viv<strong>em</strong> entre a esperança e o medo, e este último, é a “causa que<br />
origina, conserva e alimenta a superstição” (TTP, Pref.), e se os homens<br />
transfer<strong>em</strong> parte <strong>de</strong> seu direito, ou <strong>de</strong> seu po<strong>de</strong>r, para o Estado, o faz<strong>em</strong>, <strong>em</strong><br />
acordo com a natureza humana, que man<strong>da</strong> que ninguém <strong>de</strong>spreze o que<br />
consi<strong>de</strong>ra ser bom, a não ser na esperança <strong>de</strong> um b<strong>em</strong> maior, ou por receio <strong>de</strong> um<br />
maior <strong>da</strong>no. Como diz Aurélio, “Longe <strong>de</strong> ser o resultado <strong>de</strong> um cálculo<br />
<strong>de</strong>dutivo, como <strong>em</strong> Hobbes, o contrato é apenas o recurso naturalmente<br />
encontrado para a preservação do ser humano.” 58 Portanto, o esforço <strong>de</strong> <strong>Spinoza</strong><br />
<strong>em</strong> compreen<strong>de</strong>r racionalmente aquilo que a experiência mostra, e assim, instituir<br />
uma política a partir <strong>da</strong> condição natural dos homens.<br />
De forma que na Ética, <strong>Spinoza</strong> afirma que ca<strong>da</strong> um existe <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> do<br />
direito supr<strong>em</strong>o <strong>da</strong> natureza e, consequent<strong>em</strong>ente, é <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste que ca<strong>da</strong><br />
um faz o que segue a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sua natureza. Quando alguém julga o que<br />
lhe é bom ou mau, aten<strong>de</strong>ndo a utili<strong>da</strong><strong>de</strong> que melhor lhe convém, quando este se<br />
vinga ou se esforça para conservar o que ama, e <strong>de</strong>struir aquilo que t<strong>em</strong> ódio, faz<br />
57<br />
Vala<strong>da</strong>res, A. Imagens e analogias do corpo e <strong>da</strong> mente na política <strong>de</strong> <strong>Spinoza</strong>, p. 121. Para<br />
este, se os homens foss<strong>em</strong> conduzidos apenas pela razão “[...] comporiam uns com os outros<br />
suas potências, engajando-se nas relações <strong>de</strong> produção que constitu<strong>em</strong> a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>terminados<br />
pela noção comum <strong>de</strong> sua utili<strong>da</strong><strong>de</strong> recíproca, s<strong>em</strong> se <strong>de</strong>ixar<strong>em</strong> inimizar por efeito <strong>da</strong>s paixões.”<br />
58<br />
Aurélio, 2003, p. C.<br />
36