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O fundamento da democracia em Benedictus de Spinoza - Uece

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parec<strong>em</strong> sonhar acor<strong>da</strong>do; assim, ele procurou, <strong>em</strong> diferentes aspectos,<br />

compreen<strong>de</strong>r o hom<strong>em</strong> como ser social e não isolado. 73 Em sua política, <strong>Spinoza</strong><br />

parte do estudo <strong>da</strong> natureza humana, para a partir <strong>da</strong>í encontrar as causas e os<br />

<strong>fun<strong>da</strong>mento</strong>s naturais do po<strong>de</strong>r. Diz ele:<br />

Pois que, enfim, todos os homens bárbaros ou cultivados estabelec<strong>em</strong><br />

<strong>em</strong> to<strong>da</strong> parte costumes e se dão um estatuto civil (statum civil<strong>em</strong>),<br />

não é dos ensinamentos <strong>da</strong> razão, mas <strong>da</strong> natureza comum dos<br />

homens, isto é, <strong>de</strong> sua condição, que se há <strong>de</strong> <strong>de</strong>duzir as causas e os<br />

<strong>fun<strong>da</strong>mento</strong>s naturais do po<strong>de</strong>r (imperii causas et fun<strong>da</strong>menta<br />

naturalia) (TP, Cap. 1, §7)<br />

Ora, conhecer para <strong>Spinoza</strong> é conhecer pela causa, como, aliás, já dissera<br />

Aristóteles, e a mat<strong>em</strong>ática (que não se volta para os fins, mas para as essências<br />

<strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> figuras (EI, AP)) nos permite conhecer a idéia ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira, 74 ou<br />

seja, conhecer a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>mente a essência 75 <strong>de</strong> uma coisa. No campo político, a<br />

mat<strong>em</strong>ática é necessária para realizar o estudo <strong>da</strong> natureza humana, e conhecer a<br />

essência do ser singular, o seu conatus, a sua essência atual, que não é só ação,<br />

mas também paixão.<br />

Assim, o objeto <strong>da</strong> experiência política não é <strong>de</strong>duzido dos<br />

“ensinamentos <strong>da</strong> razão”, mas <strong>da</strong> “natureza comum dos homens”, <strong>de</strong> forma que o<br />

“direito natural <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> hom<strong>em</strong> não é <strong>de</strong>terminado pela reta razão, mas, pelo<br />

<strong>de</strong>sejo e pela potência”. (TTP, Cap. XIV) Para Nogueira, “[...] se o estado <strong>de</strong><br />

natureza não se <strong>de</strong>fine pela razão (como pretend<strong>em</strong> Hobbes, Locke e Rousseau),<br />

no estado civil verifica-se o mesmo, sendo que o direito do hom<strong>em</strong> será<br />

proporcional ao maior po<strong>de</strong>r que ele obtenha quando se associar aos outros<br />

homens e, portanto, maior será a sua força”. 76 Assim, o hom<strong>em</strong>, <strong>em</strong> <strong>Spinoza</strong>,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> ser sábio ou insensato, é s<strong>em</strong>pre uma parte <strong>da</strong> natureza 77 e tudo<br />

73 Nogueira, Po<strong>de</strong>r e Humanismo: o humanismo <strong>em</strong> B. <strong>de</strong> <strong>Spinoza</strong>, o humanismo <strong>em</strong> L.<br />

Feuerbach, o humanismo <strong>em</strong> K. Marx, p. 86.<br />

74<br />

Para <strong>Spinoza</strong> uma idéia é ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira quando se quer indicar seu acordo com o objeto, e é dita<br />

a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> quando o que se afirma é a natureza <strong>da</strong> própria idéia, portanto a mat<strong>em</strong>ática nos dá<br />

uma <strong>de</strong>dução completa, porque oferece a concatenação completa <strong>de</strong> uma idéia, ou seja, a parti<br />

<strong>de</strong>la se chega à idéia a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>.<br />

75<br />

Para <strong>Spinoza</strong> essência é aquilo s<strong>em</strong> o que a coisa não po<strong>de</strong> existir ser concebi<strong>da</strong>.<br />

76<br />

Nogueira, A., O método racionalista-histórico <strong>em</strong> <strong>Spinoza</strong>, p. 193.<br />

77<br />

Para Chauí, (A política <strong>em</strong> Epinosa, p. 224) <strong>em</strong> <strong>Spinoza</strong> “[...] é excluí<strong>da</strong> a suposição<br />

tradicional (grego-romana e escolástica) <strong>de</strong> que a política t<strong>em</strong> como causa e <strong>fun<strong>da</strong>mento</strong> a<br />

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