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O fundamento da democracia em Benedictus de Spinoza - Uece

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encontrava estruturado como forma <strong>de</strong> raciocínio que dispensava limitações<br />

condiciona<strong>da</strong>s aos <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> ciência e especialmente ao t<strong>em</strong>po como fator<br />

necessário ao aperfeiçoamento <strong>de</strong>sse conhecimento. Quer dizer que o raciocínio,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que aten<strong>de</strong>sse a regras que não pecass<strong>em</strong> contra a lógica, bastava para<br />

atingir o que o conhecimento aspirava, estando tudo o mais apenas como aju<strong>da</strong><br />

compl<strong>em</strong>entar. O raciocínio, portanto, não pressupunha outro instrumento que<br />

não o seu próprio po<strong>de</strong>r criador <strong>em</strong> torno do qual tudo teria que acomo<strong>da</strong>r-se ou<br />

explicar-se. Neste sentido, Nogueira diz que <strong>Spinoza</strong> não se enquadra como um<br />

racionalista puro, para este autor cearense, o racionalismo <strong>de</strong> <strong>Spinoza</strong> é apenas<br />

um método, o uso <strong>da</strong> razão para alcançar o conhecimento, porém s<strong>em</strong> <strong>de</strong>sprezar a<br />

experiência. Isto está bastante claro no TP, on<strong>de</strong> <strong>Spinoza</strong> diz: “Resolvendo, pois,<br />

aplicar a minha atenção à política, não foi meu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong>scobrir na<strong>da</strong> <strong>de</strong> novo<br />

n<strong>em</strong> <strong>de</strong> extraordinário, mas somente d<strong>em</strong>onstrar, por argumentos certos e<br />

indiscutíveis, ou, noutros termos, <strong>de</strong>duzir <strong>da</strong> condição mesma do gênero humano,<br />

um certo número <strong>de</strong> princípios perfeitamente <strong>de</strong> acordo com a experiência.” (TP,<br />

Cap. 1, §4) Vale l<strong>em</strong>brar que, na carta a Simon <strong>de</strong> Vries (carta X), <strong>Spinoza</strong><br />

expressa os limites e alcances <strong>da</strong> experiência: segundo ele, não precisamos <strong>da</strong><br />

experiência para chegar ao conhecimento <strong>de</strong> essências necessárias; entretanto,<br />

precisamos <strong>de</strong>la para conhecer aquilo que não po<strong>de</strong> ser concluído <strong>da</strong> própria<br />

<strong>de</strong>finição <strong>da</strong> coisa, ou seja, para o conhecimento <strong>da</strong>s coisas singulares finitas.<br />

Mas para compreen<strong>de</strong>r o hom<strong>em</strong>, é preciso conhecê-lo <strong>em</strong> to<strong>da</strong> a sua extensão e<br />

uma <strong>de</strong>ssas extensões é a sua História, “porque é nesta que ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente ele<br />

se encontra, realizando-a e modificando-a”. 71 Para <strong>Spinoza</strong> este processo po<strong>de</strong> ser<br />

explicado <strong>da</strong> seguinte forma:<br />

As coisas se passam neste caso como com os instrumentos<br />

materiais: <strong>em</strong> referência a eles seria possível argumentar do<br />

mesmo modo. Assim para forjar o ferro é necessário um<br />

martelo e para ter um martelo, é necessário fabricá-lo, para o<br />

que são necessários outros martelos e outros instrumentos, os<br />

quais, por sua vez, para que os possuíss<strong>em</strong>os, exigiriam ain<strong>da</strong><br />

outros instrumentos e, assim ao infinito; e <strong>de</strong>sta maneira se<br />

po<strong>de</strong>ria, vã mente, querer provar que os homens não t<strong>em</strong><br />

nenhum po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> forjar o ferro. Mas do mesmo modo que os<br />

homens, <strong>de</strong> início, conseguiram, ain<strong>da</strong> que dificultosa e<br />

71<br />

Nogueira, A., O método racionalista-histórico <strong>em</strong> <strong>Spinoza</strong>, p,194.<br />

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