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O fundamento da democracia em Benedictus de Spinoza - Uece

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<strong>Spinoza</strong> não só se racionalizou através <strong>de</strong> continuado progresso, como quase que<br />

se confundiu com a elaboração <strong>de</strong> sua filosofia. Talvez nenhum outro filósofo<br />

haja construído, como ele, a sua i<strong>de</strong>ologia, colocando a perquirição do espírito<br />

<strong>em</strong> consonância com a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> social <strong>de</strong> seu t<strong>em</strong>po, <strong>em</strong> plena marcha para o<br />

futuro que, muita vez iria confirmá-la”. 29<br />

Desse modo, ao fazer uma análise do <strong>de</strong>sejo, <strong>Spinoza</strong> está na ver<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

averiguando se nossa potência é aumenta<strong>da</strong> ou diminuí<strong>da</strong> diante <strong>de</strong> seus objetos.<br />

Quando a potência é aumenta<strong>da</strong>, passamos <strong>de</strong> uma perfeição menor para uma<br />

maior (t<strong>em</strong>os nesse caso alegria, laetitia); quando ela é diminuí<strong>da</strong>, dá-se o oposto<br />

(tristeza, tristitia). 30 Dessa maneira, nós ajustamos o “b<strong>em</strong>” e o “mal” <strong>de</strong> acordo<br />

com as variações <strong>de</strong> potência <strong>de</strong> que somos capazes. “O <strong>de</strong>sejo é a própria<br />

essência do hom<strong>em</strong>, enquanto esta é concebi<strong>da</strong> como <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>, <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

uma <strong>da</strong><strong>da</strong> afecção qualquer <strong>de</strong> si própria, a agir <strong>de</strong> alguma maneira.” (EIII,<br />

Definições dos afetos 1). Neste sentido, Paulo Oneto diz: “o objetivo <strong>da</strong> filosofia<br />

é como o que convém à nossa essência, o ‘b<strong>em</strong>’ como útil, <strong>de</strong>senvolvendo uma<br />

habili<strong>da</strong><strong>de</strong> espontânea para selecionarmos os bons afetos, as paixões alegres”. 31<br />

<strong>Spinoza</strong> estabelece duas consequências <strong>da</strong> injunção <strong>da</strong> ignorância e do<br />

<strong>de</strong>sejo no hom<strong>em</strong>. Em primeiro, todos os homens acreditam que são livres por<br />

estar<strong>em</strong>, <strong>em</strong> seus <strong>de</strong>sejos, conscientes <strong>de</strong> seus apetites, e n<strong>em</strong> por sonhos lhes<br />

passa pela cabeça as causas que os dispõ<strong>em</strong> a apetecer e <strong>de</strong>sejar, pois as ignora.<br />

Segundo, os homens ag<strong>em</strong> <strong>em</strong> vista <strong>de</strong> um fim, ou seja, ag<strong>em</strong> <strong>em</strong> vista <strong>da</strong>quilo<br />

que lhes é útil. De fato, quanto mais livre, mais o hom<strong>em</strong> se esforça para se<br />

conservar. O hom<strong>em</strong> livre, conhecendo as leis <strong>da</strong> natureza humana, sabe dominar<br />

29<br />

Nogueira, A., O método racionalista-histórico <strong>em</strong> <strong>Spinoza</strong>, p. 43<br />

30<br />

Cf. EIII, P11, Esc. Para <strong>Spinoza</strong> a mente po<strong>de</strong> pa<strong>de</strong>cer gran<strong>de</strong>s mu<strong>da</strong>nças, o que faz com ela<br />

passe ora a uma perfeição maior, ora a uma menor, é <strong>de</strong>ssa forma que ele enten<strong>de</strong> alegria<br />

como uma paixão pela qual a mente passa a uma perfeição maior, e por tristeza, uma paixão<br />

pelo qual a mente passa a uma perfeição menor. Além disso, ele consi<strong>de</strong>ra o afeto <strong>de</strong> alegria,<br />

quando este se refere simultaneamente à mente e ao corpo, <strong>de</strong> excitação (titillation<strong>em</strong>) ou<br />

contentamento (hilaritat<strong>em</strong>), ao contrário, o <strong>da</strong> tristeza, chama <strong>de</strong> dor (dolor<strong>em</strong>) ou<br />

melancolia (melancholiam), sendo que tanto a excitação como a dor, estão referidos ao<br />

hom<strong>em</strong> quando uma <strong>de</strong> suas partes é mais afeta<strong>da</strong> do que as restantes, já o contentamento e a<br />

melancolia, to<strong>da</strong>s as partes são igualmente afeta<strong>da</strong>s.<br />

31<br />

Oneto, P. D. <strong>Spinoza</strong> e a passag<strong>em</strong> ao político. Conatus – filosofia <strong>de</strong> <strong>Spinoza</strong>, nº 1, v. I<br />

(2007), p.76.<br />

24

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