O fundamento da democracia em Benedictus de Spinoza - Uece
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1.1.1 A orig<strong>em</strong> do preconceito e <strong>da</strong> superstição<br />
Mostre um hom<strong>em</strong> que não é escravo; um é escravo do sexo, outro do<br />
dinheiro, outro <strong>da</strong> ambição; todos são escravos <strong>da</strong> esperança e do<br />
medo.<br />
Sêneca<br />
A <strong>de</strong>núncia do sist<strong>em</strong>a supersticioso é mais b<strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> na Ética,<br />
mais precisamente no Apêndice <strong>da</strong> primeira parte, on<strong>de</strong> <strong>Spinoza</strong> chama ao exame<br />
<strong>da</strong> razão alguns preconceitos que po<strong>de</strong>riam impedir a a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> compreensão <strong>da</strong>s<br />
teses d<strong>em</strong>onstra<strong>da</strong>s ao longo <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a primeira parte. O objetivo central <strong>de</strong>sse<br />
Apêndice está justamente <strong>em</strong> mostrar o quanto a concepção finalista é infun<strong>da</strong><strong>da</strong>,<br />
e <strong>em</strong> especial na sua forma provi<strong>de</strong>ncialista. Para <strong>Spinoza</strong>, todos os preconceitos<br />
pod<strong>em</strong> ser reduzidos a um: a concepção finalista <strong>de</strong> mundo, ou seja, os homens<br />
normalmente imaginam que to<strong>da</strong>s as coisas <strong>da</strong> Natureza ag<strong>em</strong> como eles<br />
mesmos, <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração a um fim, e estão convencidos <strong>de</strong> que até mesmo Deus<br />
dirige to<strong>da</strong>s as coisas para <strong>de</strong>terminado fim. Chegam ao ponto <strong>de</strong> afirmar<strong>em</strong> que<br />
Deus fez to<strong>da</strong>s as coisas <strong>em</strong> função do hom<strong>em</strong>, e que criou o hom<strong>em</strong> para este<br />
lhe prestar culto.<br />
Com o intuito <strong>de</strong> analisar este preconceito único, ain<strong>da</strong> no Apêndice<br />
<strong>Spinoza</strong> evi<strong>de</strong>ncia, <strong>em</strong> primeiro lugar, a sua compreensão <strong>da</strong> gênese <strong>de</strong>sse único<br />
preconceito que se transforma <strong>em</strong> superstição. Ora, para <strong>Spinoza</strong>, “todos os<br />
homens nasc<strong>em</strong> ignorantes <strong>da</strong>s causas <strong>da</strong>s coisas”(EI, AP) Estando submetidos à<br />
ignorância <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o nascimento, “todos têm o apetite <strong>de</strong> buscar o que lhes é útil,<br />
sendo disso conscientes” (id<strong>em</strong>). Para <strong>Spinoza</strong>, esse apetite (appetitus) pelo útil,<br />
<strong>de</strong> que todo hom<strong>em</strong> t<strong>em</strong> consciência, é o esforço <strong>de</strong> preservação no seu ser, o<br />
conatus, consi<strong>de</strong>rado como essência atual <strong>da</strong> própria coisa, 18 o qual, no hom<strong>em</strong>,<br />
na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que nele é consciente, é entendido por <strong>de</strong>sejo (cupiditat<strong>em</strong>). Diz<br />
ele:<br />
18<br />
Segundo <strong>Spinoza</strong>, (EIII, P6 e 7) ca<strong>da</strong> coisa esforça-se, tanto quanto está <strong>em</strong> si, por perseverar<br />
<strong>em</strong> seu ser.<br />
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