14.10.2014 Views

O fundamento da democracia em Benedictus de Spinoza - Uece

O fundamento da democracia em Benedictus de Spinoza - Uece

O fundamento da democracia em Benedictus de Spinoza - Uece

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

anomalia selvag<strong>em</strong>, diz que é <strong>de</strong> uma “extraordinária mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>” colocar o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> constituição política do real por <strong>Spinoza</strong> como coroamento<br />

<strong>de</strong> todo o seu pensamento. Continua ele: “Negri lê o TTP, não <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> Ética ou<br />

ao lado <strong>de</strong>sta, mas na Ética, ou seja, no intervalo cavado nela, pela<br />

‘<strong>de</strong>sproporção’ <strong>de</strong> seu raciocínio <strong>de</strong> seus conceitos”. 45<br />

Para Macherey, Negri<br />

d<strong>em</strong>onstra que a teoria política t<strong>em</strong> um papel <strong>de</strong> operador metafísico, pois é ao<br />

mesmo t<strong>em</strong>po sintoma e agente <strong>de</strong> sua transformação. Para terminar, cit<strong>em</strong>os o<br />

próprio Negri:<br />

Medi<strong>da</strong> e <strong>de</strong>smedia <strong>da</strong> exigência spinozista: a teoria política absorve e<br />

projeta essa anomalia no pensamento metafísico. A metafísica, leva<strong>da</strong><br />

às primeiras linhas <strong>da</strong> luta política, engloba a proporção<br />

<strong>de</strong>sproporciona<strong>da</strong>, a medi<strong>da</strong> <strong>de</strong>smedi<strong>da</strong> própria ao conjunto <strong>da</strong> obra <strong>de</strong><br />

<strong>Spinoza</strong>. 46<br />

De qualquer forma, no De Deo <strong>Spinoza</strong> consoli<strong>da</strong> sua ontologia como<br />

ontologia do necessário (diferente <strong>da</strong> teoria imaginária <strong>da</strong> contingência<br />

combati<strong>da</strong> no TTP) e, com isso, abala como nunca as imagens teológicas <strong>de</strong><br />

Deus, com to<strong>da</strong> sua implicação política. Isso significa que, ao recusar a imag<strong>em</strong><br />

<strong>da</strong> contingência, <strong>Spinoza</strong> realiza um “processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>santropomorfização, <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>spersonalização <strong>de</strong> Deus” 47 . A afirmação <strong>da</strong> ontologia do necessário t<strong>em</strong><br />

implicação política bastante clara: ao criticar o imaginário finalista, como<br />

também o imaginário <strong>da</strong> transcendência e <strong>da</strong> personali<strong>da</strong><strong>de</strong> divinas, <strong>Spinoza</strong> tira<br />

do campo político a imag<strong>em</strong> do bom governante, do bom governo or<strong>de</strong>nado por<br />

Deus. 48<br />

ele, “já que [...] o essencial do TP são os <strong>fun<strong>da</strong>mento</strong>s, tais como são expostos nos cinco<br />

primeiros capítulos. E como esses <strong>fun<strong>da</strong>mento</strong>s seriam incompreensíveis para qu<strong>em</strong> não<br />

tivesse lido a Ética, Negri t<strong>em</strong> inteira razão <strong>em</strong> dizer que a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira política <strong>de</strong> <strong>Spinoza</strong> é<br />

sua metafísica, que é ela mesma política <strong>de</strong> um lado a outro” (p. 18).<br />

45<br />

Negri, A. Anomalia selvag<strong>em</strong>, p.11.<br />

46<br />

Negri. A. Ibid., p. 173.<br />

47<br />

Chauí, A política <strong>em</strong> Espinosa, p. 101. A este respeito, a filosofa brasileira conclui com<br />

<strong>Spinoza</strong> que Deus não é pessoa transcen<strong>de</strong>nte, dota<strong>da</strong> <strong>de</strong> intelecto onisciente e vonta<strong>de</strong><br />

onipotente, consequent<strong>em</strong>ente não é artífice, legislador, monarca ou juiz do universo.<br />

48<br />

Ibid., p. 107.<br />

32

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!