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Sexualidade e desenvolvimento: a política brasileira de ... - Abia

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<strong>Sexualida<strong>de</strong></strong> e <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong>: a política <strong>brasileira</strong> <strong>de</strong> resposta ao HIV/AIDS entre profissionais do sexo<br />

16 •<br />

populacionais foram i<strong>de</strong>ntificados no Brasil como “grupos <strong>de</strong> risco” e principais vetores<br />

<strong>de</strong> expansão da epi<strong>de</strong>mia: pessoas submetidas à transfusão <strong>de</strong> sangue (particularmente<br />

hemofílicos), homossexuais, prostitutas e usuários/as <strong>de</strong> drogas injetáveis.<br />

Sem dúvida, o pânico moral <strong>de</strong>corrente da AIDS agravou, num primeiro momento,<br />

o perfil <strong>de</strong> discriminação e preconceito já existente. Mas, rapidamente, a atmosfera <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>mocratização presente no país, que comportava um <strong>de</strong>bate intenso sobre cidadania e<br />

direitos, permitiu que as visões e os discursos negativos e estigmatizantes com relação<br />

a gays, profissionais do sexo e seus clientes fossem fortemente contestados. Outro<br />

aspecto a ser levado em conta é a emergência <strong>de</strong> um <strong>de</strong>bate público sobre a condição<br />

e a discriminação das mulheres, e sobre a sexualida<strong>de</strong> feminina. Esses novos discursos<br />

também tiveram um efeito importante no <strong>de</strong>bate sobre a discriminação das prostitutas.<br />

Foram dinâmicas políticas e culturais que abriram caminho para a construção <strong>de</strong> uma<br />

política pública sobre HIV/AIDS baseada em princípios não-discriminatórios que<br />

contou, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o final dos anos 1980, com a participação <strong>de</strong> organizações da socieda<strong>de</strong><br />

civil, numa lógica que sempre combinou colaboração e conflito às instâncias estatais.<br />

Em outras palavras, a trajetória da política <strong>brasileira</strong> <strong>de</strong> resposta ao HIV entre<br />

profissionais do sexo assume um caráter peculiar se comparada à experiência <strong>de</strong> outros<br />

países do mundo em <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong>. Essa trajetória combinou capacida<strong>de</strong> técnica,<br />

vigilância epi<strong>de</strong>miológica, prevenção e tratamento, no interior <strong>de</strong> uma moldura mais<br />

ampla <strong>de</strong> respeito aos direitos humanos. Deve-se ressaltar, entretanto, que para um país<br />

continental como o Brasil, foi e continua sendo um enorme <strong>de</strong>safio traduzir diretrizes<br />

nacional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> para as realida<strong>de</strong>s nacionais <strong>de</strong> uma política local. Sobretudo em<br />

anos recentes, a política <strong>brasileira</strong> <strong>de</strong> HIV/AIDS tem sido afetada negativamente<br />

por processos e dinâmicas em curso no sistema público <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Particularmente, a<br />

<strong>de</strong>scentralização e as novas lógicas <strong>de</strong> gestão nos níveis locais têm comprometido a<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resposta à epi<strong>de</strong>mia, inclusive nos dois municípios pesquisados.<br />

Além disso, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os anos 1990, o Brasil adotou políticas públicas no campo da<br />

exploração sexual <strong>de</strong> crianças e adolescentes e do tráfico <strong>de</strong> pessoas que, em vários<br />

aspectos, fazem interseção com a resposta ao HIV/AIDS entre profissionais do sexo. Em<br />

1990, foi aprovado o Estatuto da Criança e do Adolescente, que consolida os direitos<br />

das crianças e adolescentes no país. Des<strong>de</strong> então, a questão do abuso sexual <strong>de</strong> crianças<br />

e adolescentes, inclusive a prostituição, tem sido uma preocupação central da socieda<strong>de</strong><br />

e do estado brasileiro. Ao final da década <strong>de</strong> 1990, as questões do turismo sexual e do<br />

tráfico para fins sexuais, especialmente na Região Nor<strong>de</strong>ste, ganharam gran<strong>de</strong> visibilida<strong>de</strong><br />

no <strong>de</strong>bate público. Em 2003, o Brasil assinou o Protocolo Adicional à Convenção<br />

das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção,<br />

Repressão e Punição do Tráfico <strong>de</strong> Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças. Em 2004,<br />

o Congresso Brasileiro ratificou este protocolo, <strong>de</strong>sdobrando-se a partir daí em uma<br />

série <strong>de</strong> iniciativas institucionais e legislativas. Um exemplo foi a criação, pela Secretaria

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