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Sexualidade e desenvolvimento: a política brasileira de ... - Abia

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Análise <strong>de</strong> contexto 25 •<br />

gestores/as e ativistas, pois, diante do aumento <strong>de</strong> casos entre mulheres (feminização da<br />

epi<strong>de</strong>mia), os programas estaduais <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> priorizar ações exclusivamente voltadas<br />

para HSH. Na realida<strong>de</strong>, não se <strong>de</strong>veria ter priorizado uma população em <strong>de</strong>trimento da<br />

outra, mas sim centrado esforços na ampliação do acesso das mulheres – principalmente<br />

as mais jovens – aos serviços e insumos, mantendo as ações voltadas para HSH.<br />

O processo <strong>de</strong> reconfiguração da política pública <strong>de</strong> resposta ao HIV que aqui se<br />

<strong>de</strong>screve foi, sem dúvida, <strong>de</strong>terminado por fatores, atores/atrizes e processos peculiares<br />

ao contexto brasileiro. Mas ele também espelha a dinâmica internacional e o <strong>de</strong>bate<br />

que acontecia, concomitantemente, no âmbito das agências internacionais, em especial<br />

a UNAIDS e o Fundo Global.<br />

A implementação dos dois planos (Plano Integrado <strong>de</strong> Enfrentamento da Feminização<br />

da Epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> DST e AIDS e Plano Nacional <strong>de</strong> Enfrentamento da Epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> AIDS<br />

e DSTs entre Gays, HSH e Travestis) teve início no mesmo período em que se realizava<br />

o trabalho <strong>de</strong> campo para o presente estudo. É preciso ressaltar que não existe, pelo<br />

menos disponível, uma avaliação sistemática da implementação <strong>de</strong>sses novos parâmetros 20 .<br />

Gestores/as entrevistados/as mencionaram o Plano Integrado <strong>de</strong> Enfrentamento da<br />

Feminização da Epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> DST e AIDS como sendo referência para políticas locais <strong>de</strong><br />

prevenção do HIV entre prostitutas. Mas esse entendimento não se verifica, plenamente,<br />

na percepção e prática dos/as profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> atuando no nível local.<br />

É importante observar que, em <strong>de</strong>bates recentes, têm sido levantadas questões sobre<br />

a lógica binária que marca esta etapa da política <strong>de</strong> resposta ao HIV/AIDS no Brasil. Ou<br />

seja: mulheres, prostitutas e transexuais, <strong>de</strong> um lado; e gays, HSH e travestis, <strong>de</strong> outro. Esta<br />

lógica ten<strong>de</strong> a cristalizar “diferenças” entre travestis e transexuais, ou entre prostitutas e<br />

outras pessoas envolvidas com o trabalho sexual, suscitando tensões entre esses grupos e<br />

entre i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s sexuais 21 . Há também a preocupação <strong>de</strong> que essa divisão binária venha<br />

a dificultar a implementação das ações, especialmente no campo da prevenção 22 .<br />

Conexões transnacionais<br />

Des<strong>de</strong> seus primeiros momentos o movimento brasileiro <strong>de</strong> prostitutas estabeleceu vínculos com<br />

ativistas <strong>de</strong> outros países. Na década <strong>de</strong> 1980, essas conexões se davam sobretudo com lí<strong>de</strong>res<br />

do movimento <strong>de</strong> trabalhadoras do sexo europeias e norteamericanas. Na década <strong>de</strong> 1990, novas<br />

conexões foram estabelecidas, especialmente na América Latina, região em que foi criada, em 1997,<br />

20<br />

Há indícios <strong>de</strong> que a implementação do Plano Integrado <strong>de</strong> Enfrentamento da Feminização encontra sérios<br />

obstáculos e uma avaliação está em curso.<br />

21<br />

Essa crítica foi, por exemplo, explicitada no Seminário “Transexualida<strong>de</strong>, Travestilida<strong>de</strong>, Saú<strong>de</strong> e Direitos Humanos”,<br />

organizado pela Comissão <strong>de</strong> Cidadania e Reprodução em parceria com o Ministério da Saú<strong>de</strong> e em colaboração<br />

com o Observatório <strong>de</strong> <strong>Sexualida<strong>de</strong></strong> e Política (São Paulo, 24 e 25 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2010).<br />

22<br />

A avaliação da nova estratégia da política <strong>brasileira</strong>, hoje em curso, é especialmente bemvinda porque permitirá<br />

dimensionar a efetivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa nova lógica <strong>de</strong> focalização. Seus resultados po<strong>de</strong>rão, eventualmente, informar <strong>de</strong>bates<br />

globais, já que hoje uma lógica binária similar foi adotada nos marcos da política da UNAIDS e do Fundo Global.

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