Sexualidade e desenvolvimento: a polÃtica brasileira de ... - Abia
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Achados da pesquisa 37 •<br />
feito o teste porque só muito recentemente havia se tornado profissional do sexo, mas sabia que,<br />
a partir <strong>de</strong> então, precisava se testar e fazer revisões ginecológicas periódicas. Isto significa que<br />
ela percebe a prostituição como fator <strong>de</strong> risco, mas as relações sexuais no casamento lhe parecem<br />
automaticamente seguras. Este padrão <strong>de</strong> percepção é confirmado pelos achados <strong>de</strong> outros surveys<br />
sobre prostituição e HIV realizados no Brasil (Araújo, 2006; Chacham e Maia, 2000; e Pasini, 2000) 35 .<br />
4.1.3 Prevenção: mãos visíveis e invisíveis<br />
Nas duas cida<strong>de</strong>s, Porto Alegre e Rio <strong>de</strong> Janeiro, foram i<strong>de</strong>ntificadas limitações<br />
significativas na oferta <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> prevenção com boa qualida<strong>de</strong>. As mulheres<br />
entrevistadas não têm acesso sistemático à informação nos serviços públicos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />
e nesses serviços, muitas vezes, nem mesmo as camisinhas estão disponíveis. Uma das<br />
mulheres entrevistadas em Porto Alegre contou que a melhor fonte <strong>de</strong> informação sobre<br />
prevenção é a televisão. Embora as profissionais do sexo ouvidas em Porto Alegre tenham<br />
acesso mais fácil e sistemático aos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, elas consi<strong>de</strong>ram os programas <strong>de</strong><br />
prevenção muito precários nas unida<strong>de</strong>s do SUS, on<strong>de</strong> há filas enormes, listas <strong>de</strong> espera<br />
e quase sempre faltam preservativos. De maneira geral, a distribuição <strong>de</strong> camisinhas para<br />
profissionais do sexo é muito limitada na re<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços do SUS. A maior parte das<br />
unida<strong>de</strong>s básicas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> não disponibiliza preservativos. Uma das entrevistadas disse<br />
que, na clínica por ela frequentada, as camisinhas só são disponibilizadas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma<br />
consulta médica.<br />
Supõe-se que a ausência <strong>de</strong> prevenção na re<strong>de</strong> SUS é compensada pelo trabalho<br />
<strong>de</strong> prevenção <strong>de</strong>senvolvido por ONGs. No caso <strong>de</strong> Porto Alegre, o GAPA, o SOMOS,<br />
o Nuances, o Igualda<strong>de</strong> e o próprio NEP distribuem camisinhas nas áreas <strong>de</strong> trabalho<br />
e sociabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> michês, travestis e prostitutas. Contudo, a cota <strong>de</strong> camisinhas recebidas<br />
pelas ONGs foi drasticamente reduzida nos últimos anos. Até dois anos atrás, o NEP<br />
recebia 100 preservativos ao mês por mulher, mas hoje esta cota está limitada a 30<br />
preservativos/mês/mulher. Sobretudo, é preciso consi<strong>de</strong>rar que o trabalho <strong>de</strong> prevenção<br />
<strong>de</strong>senvolvido pelas ONGs, mesmo em seus melhores momentos, não conseguia atingir<br />
a totalida<strong>de</strong> da população envolvida com o trabalho sexual.<br />
No Rio <strong>de</strong> Janeiro, a situação é ainda mais problemática, pois as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
prevenção realizadas pelas organizações <strong>de</strong> prostitutas e outras ONGs são mais débeis e<br />
35<br />
ARAÚJO, R. Prostituição: artes e manhas do ofício. Goiânia: Cânone Editorial, 2006.<br />
CHACHAM, A. S.; MAIA, M. B. Práticas Sexuais e Reprodutivas <strong>de</strong> Prostitutas da Zona Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> Belo Horizonte,<br />
1999. In: XII Encontro Nacional <strong>de</strong> Estudos Populacionais, 2000, Caxambu. Anais do XII Encontro Nacional <strong>de</strong><br />
Estudos Populacionais. Recife: ABEP, 2000.<br />
PASINI, E. O uso do preservativo no cotidiano <strong>de</strong> prostitutas em ruas centrais <strong>de</strong> Porto Alegre. In: FÁBREGAS-MARTÍNEZ,<br />
A. I. e BENEDETTI, M. R. (org). Na Batalha: sexualida<strong>de</strong>, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e po<strong>de</strong>r no Universo da Prostituição. Porto<br />
Alegre: Decasa/Palmarinca/GAPA-RS, 2000, 31-46.