Sexualidade e desenvolvimento: a polÃtica brasileira de ... - Abia
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Análise <strong>de</strong> contexto 17 •<br />
Nacional <strong>de</strong> Justiça do Ministério da Justiça, <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> trabalho para <strong>de</strong>senvolver<br />
o Programa <strong>de</strong> Combate ao Tráfico <strong>de</strong> Pessoas. Outro exemplo foi a formulação do<br />
Plano Nacional <strong>de</strong> Combate ao Tráfico <strong>de</strong> Seres Humanos. A partir <strong>de</strong> 2005, foram<br />
aprovadas leis específicas sobre crimes sexuais – pornografia, abuso sexual e tráfico – que<br />
foram incorporadas ao Código Penal em agosto <strong>de</strong> 2009, sob a Lei 12.015/2009.<br />
Merecem <strong>de</strong>staque nessa nova legislação os seguintes aspectos: agravamento da<br />
pena para a exploração sexual <strong>de</strong> pessoas entre 14 e 18 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>; adoção do termo<br />
“tráfico <strong>de</strong> pessoas”, e não apenas “tráfico <strong>de</strong> mulheres e meninas” para fins sexuais; e<br />
introdução <strong>de</strong> um novo artigo relativo ao tráfico doméstico para fins sexuais, ou seja,<br />
<strong>de</strong>slocamentos no território nacional 9 .<br />
Vale notar que, entre 2003 e 2008, as políticas <strong>de</strong> combate ao tráfico <strong>de</strong> pessoas, e<br />
mais especialmente o tráfico para fins sexuais, receberam generosos financiamentos <strong>de</strong><br />
diferentes doadores, inclusive USAID e agências europeias (Oliveira, 2008; Piscitelli,<br />
2008) 10, 11 . Essas políticas e a legislação vigente são implementadas em parceria com<br />
uma re<strong>de</strong> ampla e complexa <strong>de</strong> organizações da socieda<strong>de</strong> civil: ONGs <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa dos<br />
direitos <strong>de</strong> crianças e adolescentes, instituições religiosas (como a Pastoral da Mulher<br />
Marginalizada) e organizações feministas.<br />
É exagerado afirmar que uma onda abolicionista esteja em curso no país, mas há<br />
sinais <strong>de</strong> que posições e visões radicalmente contrárias ao exercício da prostituição<br />
como trabalho vêm ganhando espaço e legitimida<strong>de</strong>. Inevitavelmente esta agenda se<br />
cruza com a política <strong>de</strong> resposta ao HIV. Por exemplo, nos anos recentes e nos níveis<br />
locais, as ações <strong>de</strong> prevenção do HIV entre profissionais do sexo foram implementadas<br />
em articulação com as medidas para coibir a exploração sexual comercial <strong>de</strong> crianças<br />
e adolescentes e, em alguns casos, com projetos <strong>de</strong> resgate <strong>de</strong> pessoas adultas da<br />
prostituição ou oferta <strong>de</strong> treinamento para outro tipo <strong>de</strong> trabalho. Não foi possível,<br />
no contexto <strong>de</strong>sse estudo, examinar o impacto sobre a resposta ao HIV/AIDS no<br />
Brasil que tiveram as medidas anti-tráfico e as visões potencialmente abolicionistas.<br />
Entretanto, no período examinado, registram-se contradições e conflitos, tais como a<br />
emergência <strong>de</strong> diferentes visões no interior do movimento <strong>de</strong> trabalhadoras do sexo<br />
9<br />
A mudança na ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> consentimento se aplica a vários crimes incluídos neste capítulo, inclusive estupro. Segundo<br />
Adriana Piscitelli, reconhecida pesquisadora da questão da prostituição, a instituição do crime <strong>de</strong> tráfico interno é<br />
particularmente problemática, pois, como não há fronteiras a cruzar, a <strong>de</strong>finição é vaga. Uma vez que a prostituição<br />
é uma ativida<strong>de</strong> com gran<strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong>, os <strong>de</strong>slocamentos são utilizados pela polícia e outras instituições como<br />
“prova” <strong>de</strong> que profissionais do sexo vivendo fora <strong>de</strong> seus lugares <strong>de</strong> origem são vítimas <strong>de</strong> tráfico.<br />
10<br />
PISCITELLI, A. Entre as ‘máfias’ e a ‘ajuda’: a construção <strong>de</strong> conhecimento sobre tráfico <strong>de</strong> pessoas. Ca<strong>de</strong>rnos<br />
PAGU (31), julho-<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2008: 29-64. OLIVEIRA, M. P. Sobre armadilhas e cascas <strong>de</strong> banana: uma análise<br />
crítica da administração <strong>de</strong> Justiça em temas associados a Direitos Humanos. Ca<strong>de</strong>rnos PAGU (31), julho-<strong>de</strong>zembro<br />
<strong>de</strong> 2008: 125-150.<br />
11<br />
Esses recursos foram canalizados diretamente pela embaixada e consulados ou através da UNODOC, agência da<br />
ONU <strong>de</strong> combate às drogas.