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Sexualidade e desenvolvimento: a política brasileira de ... - Abia

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Achados da pesquisa 35 •<br />

Mais <strong>de</strong> 70% das mulheres entrevistadas fazem o teste <strong>de</strong> HIV a cada três meses, e as<br />

<strong>de</strong>mais a cada seis meses. Não foi possível, porém, aprofundar a análise <strong>de</strong>ste padrão <strong>de</strong><br />

comportamento para verificar se a periodicida<strong>de</strong> é induzida pela política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, está<br />

relacionada a práticas concretas <strong>de</strong> risco, ou simplesmente reflete um hábito incorporado<br />

a suas vidas. Especificamente no caso das profissionais do Rio <strong>de</strong> Janeiro que trabalham na<br />

terma, a busca por serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e a realização <strong>de</strong> exames é, <strong>de</strong> fato, <strong>de</strong>terminada por<br />

regras sanitárias estritas <strong>de</strong>finidas pelo estabelecimento, que paga uma clínica ginecológica<br />

e um laboratório para examinar e testar periodicamente suas trabalhadoras. Uma vez<br />

que a regra faz parte do regime <strong>de</strong> trabalho, quem se recusa a fazer o teste e os exames<br />

médicos periódicos, ou quem obtém um resultado positivo para o HIV, terá seu contrato<br />

suspenso. Entretanto, é preciso ressaltar que, no grupo estudado, essas normas sanitárias são<br />

bem vistas tanto pelas mulheres, como pela gerência. As mulheres dizem que tais medidas<br />

preservam o “nome da casa” e facilitam os próprios cuidados com a saú<strong>de</strong> e o bem estar 34 .<br />

Outros estabelecimentos do mesmo tipo não foram pesquisados, mas é razoável supor<br />

que as mesmas regras sejam aplicadas em outras termas e casas, tanto no Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

como em Porto Alegre. Isto sugere que os controles <strong>de</strong> DSTs, no passado <strong>de</strong> certa forma<br />

impostos, hoje são parte <strong>de</strong> uma rotina do setor privado envolvido no mercado sexual.<br />

A maior parte das mulheres entrevistadas em Porto Alegre, diferentemente das do<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, conhece e acessa serviços do sistema público <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, como os Centros<br />

<strong>de</strong> Testagem e Aconselhamento (CTAs), ou hospitais (como o Hospital Presi<strong>de</strong>nte Vargas,<br />

a Re<strong>de</strong> Conceição e o Hospital Fêmina). Com poucas exceções, elas são testadas para<br />

o HIV nos CTAs e buscam cuidados gerais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> na re<strong>de</strong> pública. Apenas duas das<br />

entrevistadas, ambas mais jovens (em torno <strong>de</strong> 25 anos), <strong>de</strong>sconheciam a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

realizar testes pelo SUS. No caso do Hospital Presi<strong>de</strong>nte Vargas, é importante dizer que<br />

há um convênio com o NEP que facilita o acesso das profissionais do sexo vinculadas<br />

à ONG, aos serviços oferecidos pelo hospital.<br />

Já no Rio <strong>de</strong> Janeiro, apenas três mulheres disseram ter usado recentemente os<br />

serviços da re<strong>de</strong> pública para fazer testes <strong>de</strong> HIV, sendo que duas tiveram este acesso<br />

por fazer parte da pesquisa Corrente da Saú<strong>de</strong> (ver item 4.2.2.3). Outras duas mulheres<br />

<strong>de</strong>clararam ter recorrido a postos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ou hospitais públicos para cuidado com a<br />

saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> modo geral, inclusive a ginecológica. As <strong>de</strong>mais recorrem a serviços privados,<br />

já que a maior parte tem plano privado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, e quase todas informaram que,<br />

quando necessário, pagam diretamente por serviços médicos. Conforme mencionado,<br />

as profissionais que trabalham em termas contam com serviços <strong>de</strong> testagem e revisão<br />

ginecológica contratados pelo estabelecimento. As mulheres entrevistadas no Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, <strong>de</strong> maneira geral, <strong>de</strong>sconheciam a existência <strong>de</strong> serviços públicos para teste e<br />

tratamento do HIV/AIDS. Muitas sequer tinham ouvido falar <strong>de</strong> CTAs. Algumas vezes,<br />

34<br />

É importante referir que a gerente esteve presente durante as entrevistas, o que po<strong>de</strong> ter coibido <strong>de</strong> algum modo<br />

a fala das profissionais do sexo ouvidas.

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