Sexualidade e desenvolvimento: a polÃtica brasileira de ... - Abia
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6 • <strong>Sexualida<strong>de</strong></strong> e <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong>: a política <strong>brasileira</strong> <strong>de</strong> resposta ao HIV/AIDS entre profissionais do sexo<br />
b) Sobre a interrupção do financiamento da USAID em 2005, as pessoas<br />
entrevistadas se mostraram francamente favoráveis à <strong>de</strong>cisão do governo<br />
brasileiro <strong>de</strong> suspen<strong>de</strong>r o acordo. Muitas sublinharam seu apoio à primazia da<br />
soberania nacional sobre imposições <strong>de</strong> outro país que sejam contrárias aos<br />
princípios <strong>de</strong> direitos humanos e à legislação vigente no Brasil. Entretanto,<br />
é preciso dizer que a maior parte <strong>de</strong>ssas pessoas não dispunha <strong>de</strong> informação<br />
e clareza suficiente sobre os problemas causados pela interrupção do<br />
financiamento.<br />
c) A observação dos serviços realizada por esta pesquisa não foi exaustiva, mas<br />
mostrou que tanto em Porto Alegre quanto no Rio <strong>de</strong> Janeiro permanece muito<br />
limitada e precária a resposta da saú<strong>de</strong> pública às necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> profissionais<br />
do sexo em termos <strong>de</strong> prevenção e assistência médica. Quando perguntados/<br />
as sobre o escopo e a qualida<strong>de</strong> dos serviços oferecidos a prostitutas, gestores/<br />
as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> disseram que, em geral, estão restritos à promoção da saú<strong>de</strong>.<br />
d) Preconceito, estigma e discriminação foram temas recorrentes nas entrevistas<br />
com profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> em Porto Alegre e no Rio <strong>de</strong> Janeiro. Embora<br />
gestores/as e profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> entrevistados/as <strong>de</strong>monstrassem gran<strong>de</strong><br />
sensibilida<strong>de</strong> para as questões <strong>de</strong> estigma, preconceito e discriminação, muitos<br />
vieses persistem no tratamento recebido por profissionais do sexo nos serviços<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />
e) Um tema constante nas entrevistas foi a tensão entre universalida<strong>de</strong> do SUS<br />
versus tratamento diferenciado para grupos específicos. Vários/as gestoras/es<br />
e profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> entrevistados/as também avaliaram que a política <strong>de</strong><br />
HIV/AIDS vem per<strong>de</strong>ndo vigor.<br />
f) Finalmente, em relação aos impactos da interrupção do financiamento da<br />
USAID em 2005, é preciso consi<strong>de</strong>rar que a suspensão dos fundos não afetou<br />
diretamente os orçamentos públicos para o programa <strong>de</strong> HIV/AIDS, mas afetou<br />
a sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ONGs <strong>de</strong>dicadas a projetos <strong>de</strong> prevenção. Mesmo que<br />
gestores/as públicos/as do programa não tenham mencionado essa questão, na<br />
comunida<strong>de</strong> das ONGs que atuam em AIDS o episódio teve efeitos negativos.<br />
Algumas citações extraídas das entrevistas com profissionais do sexo em Porto<br />
Alegre e no Rio <strong>de</strong> Janeiro ilustram questões relacionadas aos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>:<br />
“Eu sempre doei sangue... mas, da última vez que fui, a enfermeira chefe <strong>de</strong> lá<br />
começou a me perguntar sobre a minha vida sexual, e aí eu terminei dizendo que<br />
era garota <strong>de</strong> programa e ela me disse: ‘Aí então não! não po<strong>de</strong> doar...’” (Prostituta<br />
<strong>de</strong> rua <strong>de</strong> Porto Alegre).