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Sexualidade e desenvolvimento: a política brasileira de ... - Abia

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56 • <strong>Sexualida<strong>de</strong></strong> e <strong><strong>de</strong>senvolvimento</strong>: a política <strong>brasileira</strong> <strong>de</strong> resposta ao HIV/AIDS entre profissionais do sexo<br />

Embora profissionais e gestoras/es entrevistadas/os tenham <strong>de</strong>monstrado gran<strong>de</strong><br />

sensibilida<strong>de</strong> em relação a questões <strong>de</strong> estigma, preconceito e discriminação, vieses<br />

são i<strong>de</strong>ntificados nas formas como representam a prostituição. O mais frequente se<br />

revela nas percepções sobre as condições <strong>de</strong> trabalho na prostituição, como sendo<br />

sistematicamente <strong>de</strong> muita exploração e violência, envolvendo o uso <strong>de</strong> droga, e<br />

resultando em recorrentes problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Não houve espaço, nesses discursos,<br />

para <strong>de</strong>scrições menos dramáticas da prostituição, ou para o reconhecimento <strong>de</strong> que<br />

trabalhadoras do sexo se cuidam e investem na própria saú<strong>de</strong> como parte da vida<br />

profissional. É uma visão que contrasta fortemente com o relato das mulheres investigadas<br />

neste estudo, que falam bastante a respeito do autocuidado e das revisões médicas. As<br />

percepções i<strong>de</strong>ntificadas entre profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> acerca do trabalho sexual po<strong>de</strong>m<br />

ser explicadas tanto pelo imaginário social dominante sobre prostituição, quanto pelo<br />

perfil da clientela que chega aos serviços públicos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, que parece correspon<strong>de</strong>r<br />

aos grupos mais pobres e mais sujeitos a violência e outras formas <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong>.<br />

Finalmente, é preciso dizer que muitos/as profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, seja no Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, seja em Porto Alegre, questionaram a representativida<strong>de</strong> das organizações <strong>de</strong><br />

prostitutas e sua capacida<strong>de</strong> para efetivamente i<strong>de</strong>ntificar e traduzir as <strong>de</strong>mandas das<br />

profissionais do sexo. Este é um tema amplo e complexo que não foi completamente<br />

investigado. Mas consi<strong>de</strong>ramos importante mencionar essa percepção, pois ela difere<br />

radicalmente da percepção captada entre gestores/as fe<strong>de</strong>rais da política nacional <strong>de</strong><br />

AIDS e, sobretudo, influencia diretamente o perfil e qualida<strong>de</strong> das parcerias entre as<br />

instituições locais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e o movimento organizado <strong>de</strong> prostitutas.<br />

4.4 Conclusões<br />

4.4.1 Política “expressiva” versus realida<strong>de</strong> da assistência à saú<strong>de</strong><br />

Sem dúvida, as políticas nacionais adotadas no Brasil, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o final dos anos 1980,<br />

foram muito significativas e positivas, no sentido <strong>de</strong> abrir espaço para a participação<br />

cidadã das prostitutas, dar visibilida<strong>de</strong>, às suas experiências e promover seus direitos<br />

humanos, contribuindo, assim, para a superação do estigma e da discriminação. Este<br />

marco conceitual explica a posição adotada pelo governo brasileiro em 2005, quando se<br />

recusou a assinar a cláusula antiprostituição incluída no acordo Brasil-USAID. Ou seja,<br />

a dimensão “expressiva” das políticas estatais em relação à prostituição teve inequívocos<br />

efeitos positivos.<br />

Além disso, os esforços sistemáticos <strong>de</strong> sensibilização e educação pública via<br />

campanhas e projetos <strong>de</strong> prevenção e direitos humanos para populações específicas

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