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renato russo em dose dupla na telona: somos tão ... - Roteiro Brasília

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RENATO RUSSO EM DOSE DUPLA NA TELONA: SOMOS TÃO JOVENS E FAROESTE CABOCLO<br />

Ano XII • nº 216<br />

Maio de 2013<br />

R$ 5,90


Guia<br />

D O T O R C E D O R<br />

Copa a pé<br />

Deixe o carro <strong>em</strong> casa. Utilize o transporte público e aproveite para fazer um passeio A pé com a<br />

família e os amigos, É mais saudável, e você ainda ajuda a melhorar o trânsito. Todos os<br />

principais pontos estão localizados num raio máximo de 3km, incluindo o Estádio Nacio<strong>na</strong>l de<br />

Brasília, a rodoviária, os principais pontos turísticos, hotéis, shoppings e bares da cidade.<br />

Serviços:<br />

tudo que você precisa saber<br />

para fazer bonito nos dias de jogo<br />

Boa parte do comércio estará aberta nos dias de jogo.<br />

• Antes de sair de casa, planeje a melhor forma de ir e voltar do estádio.<br />

• Para garantir a segurança de todos, serão realizadas 3 barreiras de revista.<br />

• Chegue com antecedência ao estádio. os portões estarão abertos 2h antes do início das partidas.<br />

Metrô<br />

RODOVIária<br />

interestadual<br />

Rodoferroviária<br />

Transporte<br />

Em dias de jogo, o trânsito de carros estará bloqueado<br />

<strong>na</strong>s proximidades do estádio. Por isso, prefira usar o<br />

transporte público. Os ônibus terão itinerários especiais,<br />

e o metrô funcio<strong>na</strong>rá <strong>em</strong> horários diferenciados.<br />

Consulte os horários com antecedência.<br />

AEROPORTO<br />

ASA SUL<br />

Parque<br />

da cidade<br />

ENCONTRE SEU ASSENTO<br />

procure o orientador mais próximo para<br />

auxiliá-lo a encontrar seu assento. Não é<br />

permitido mudar de lugar durante o jogo.<br />

para não atrapalhar a visão de qu<strong>em</strong> está<br />

atrás de você, Assista ao jogo sentado.<br />

ITINERÁRIOS ESPECIAIS DE ÔNIBUS<br />

ESTACIONAMENTO<br />

13<br />

108.5/108.6 Rodoviária do Plano Piloto<br />

Estádio Nacio<strong>na</strong>l Rodoferroviária<br />

0.104/104.2 Setor de Hotéis e Turismo Norte<br />

Rodoviária do Plano Piloto<br />

SETOR Hoteleiro SUL<br />

SETOR de rádio e tv SUL<br />

SETOR comercial SUL<br />

SETOR Hoteleiro Norte<br />

SETOR de rádio e tv norte<br />

SETOR comercial norte<br />

ACESSO<br />

RESTRITO<br />

a veículos<br />

credenciados<br />

ASA NORTE<br />

0.113/113.1 Aeroporto<br />

Setor Hoteleiro Norte Setor Hoteleiro Sul<br />

Circular Parque da Cidade<br />

Segurança<br />

Mais de 2 mil câmeras no estádio. evite<br />

brigas e confusões. jamais invada o campo.<br />

rodoviária do plano piloto<br />

ÁREAS DE ESTACIONAMENTO<br />

SETOR de hotéis<br />

e turismo norte<br />

O estacio<strong>na</strong>mento do estádio estará fechado. Serão reservadas<br />

vagas seguras para os torcedores <strong>em</strong> 7 áreas <strong>na</strong>s proximidades.<br />

Parque da cidade • Plataforma superior da rodoviária do plano piloto • Rodoferroviária •<br />

Setor comercial norte • Setor de rádio e TV sul • Setor de rádio e TV norte • Setor comercial sul<br />

As três primeirAs ÁREAS terão linhas diretas de ônibus para o Estádio.<br />

SETOR de hotéis<br />

e turismo norte<br />

Chegando junto<br />

i<br />

MAIS INFORMAÇÕES<br />

Acesse o guia completo: www.gdfdiaadia.df.gov.br


<strong>em</strong> poucas palavras<br />

Imagi<strong>na</strong>r até que imaginei, mas nunca acreditei que<br />

um dia pudesse ir a uma festa a céu aberto <strong>na</strong> nossa bela e<br />

única Praça dos Três Poderes. Até então, só havia assistido a<br />

algumas cerimônias mensais de troca da bandeira e passeado<br />

pelo chão de pedras portuguesas <strong>em</strong> companhia de amigos<br />

de outros Estados para qu<strong>em</strong> servira de guia turística.<br />

Pois <strong>na</strong> noite do último dia 30 pude me encantar com<br />

a inusitada festa de abertura do Brasil Sabor 2013 realizada<br />

<strong>em</strong> ple<strong>na</strong> praça-cartão-postal de Brasília. Chefs representando<br />

todas as regiões de nosso vasto país lá estiveram para oferecer<br />

aos convidados um pouco da rica gastronomia <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l,<br />

presente no festival promovido simultaneamente <strong>em</strong> todo<br />

o país pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes.<br />

Como defende o presidente da Abrasel/DF, Jaime<br />

Rece<strong>na</strong>, o sucesso da festa é argumento de força e eloquência<br />

capaz de convencer o mais céticos dos céticos de que a nossa<br />

praça pode e deve abrigar eventos s<strong>em</strong> nenhum dano ao<br />

patrimônio público. O Festival Brasil Sabor é o t<strong>em</strong>a da<br />

reportag<strong>em</strong> de capa desta edição de maio, um mês rico<br />

também <strong>em</strong> novidades cin<strong>em</strong>atográficas.<br />

Em Luz Câmera Ação (pági<strong>na</strong> 36) o leitor terá todos os<br />

detalhes a respeito de dois lançamentos inspirados <strong>na</strong> vida<br />

e no legado musical de Re<strong>na</strong>to Russo. O primeiro, Somos tão<br />

jovens, já está <strong>em</strong> cartaz nos cin<strong>em</strong>as de todo país e conta a<br />

vida do cantor e compositor desde sua chegada a Brasília até o<br />

momento <strong>em</strong> que forma a Legião Urba<strong>na</strong>. O segundo, Faroeste<br />

caboclo, estreia no próximo dia 30 e t<strong>em</strong> como desafio contar a<br />

história contida nos mais de 150 versos da música homônima<br />

gravada pela Legião <strong>em</strong> 1987 (no LP Que país é este).<br />

Não bastass<strong>em</strong> essas novidades da sétima arte, ainda há<br />

para se ver a Mostra do Filme Livre, <strong>em</strong> cartaz no CCBB, com<br />

233 produções de todos os gêneros cujo ponto <strong>em</strong> comum<br />

é o foco no inusitado (pági<strong>na</strong> 42), e a mostra Argenti<strong>na</strong> Shock-<br />

Vermelho, com clássicos do cin<strong>em</strong>a noir dos hermanos, parte<br />

da programação da série Cultura azul e branca (pági<strong>na</strong> 35).<br />

E <strong>na</strong> seção Dia e Noite (pági<strong>na</strong> 24) mais duas mostras<br />

interessantes: uma de cin<strong>em</strong>a húngaro e outra de cin<strong>em</strong>a<br />

iraniano. Difícil vai ser escolher entre tantas boas opções.<br />

Boa leitura e até junho.<br />

Maria Teresa Fer<strong>na</strong>ndes<br />

Editora<br />

36<br />

luzcâmeraação<br />

Ísis Valverde e Fabrício Boliveira são os progatonistas<br />

de Faroeste caboclo, que entra <strong>em</strong> cartaz no dia 30.<br />

4<br />

16<br />

18<br />

19<br />

20<br />

24<br />

27<br />

28<br />

30<br />

32<br />

35<br />

água<strong>na</strong>boca<br />

picadinho<br />

garfadas&goles<br />

pão&vinho<br />

doisespressoseaconta<br />

dia&noite<br />

verso&prosa<br />

graves&agudos<br />

brasiliensedecoração<br />

diáriodeviag<strong>em</strong><br />

avenidadas<strong>na</strong>ções<br />

Hugo Santarém<br />

ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora <strong>Roteiro</strong> Ltda. | Setor Hoteleiro Sul, Quadra 6, Bloco C, Sala 1612, Brasília-DF - CEP 70.316-109<br />

Endereço eletrônico revistaroteirobrasilia@gmail.com | Tel: 3961.6261 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Editora Maria Teresa Fer<strong>na</strong>ndes<br />

Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Capa Carlos Roberto Ferreira, sobre foto dos chefs André Ornelas e Ângela Sicília, de autoria de Rômulo<br />

Juracy | Colaboradores Adria<strong>na</strong> Nasser, Ak<strong>em</strong>i Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre dos Santos Franco, A<strong>na</strong> Cristi<strong>na</strong> Vilela, Beth Almeida, Cláudio<br />

Ferreira, Eduardo Oliveira, Elai<strong>na</strong> Daher, Heitor Menezes, Lúcia Leão, Luiz Rece<strong>na</strong>, Mariza de Macedo-Soares, Melissa Luz, Pedro Brandt, Sérgio<br />

Moriconi, Súsan Faria, Vicente Sá | Fotografia Gadelha Neto, Rodrigo Oliveira, Sérgio Amaral | Para anunciar 3961.6261| Impressão Editora Gráfica<br />

Ipiranga | Tirag<strong>em</strong>: 20.000 ex<strong>em</strong>plares.<br />

3<br />

www.roteirobrasilia.com.br facebook.com/roteirobrasilia @roteirobrasilia


água <strong>na</strong> boca<br />

Um festival<br />

de boas novidades<br />

Filetto alla rústica, do<br />

Villa Borghese (R$ 46)<br />

Por Beth Almeida<br />

4<br />

Jr. Ribs, do Outback (R$ 36)<br />

Costelinha São Jorge, do Bar do<br />

Ferreira de Águas Claras (R$ 36)<br />

Um estímulo aos chefs, para que<br />

cri<strong>em</strong> novos pratos, e um incentivo<br />

aos admiradores da gastronomia,<br />

para que conheçam novas casas e<br />

degust<strong>em</strong> diferentes sabores. Assim é o<br />

Festival Brasil Sabor, cuja oitava edição já<br />

tomou conta de Brasília e segue até 19<br />

de maio <strong>em</strong> 96 bares e restaurantes do<br />

Plano Piloto, Lagos Sul e Norte, Jardim<br />

Botânico, Sudoeste, Octogo<strong>na</strong>l, Águas<br />

Claras, Guará e Taguatinga. A expectativa<br />

é de que sejam consumidas este ano<br />

25 mil refeições.<br />

O festival acontece simultaneamente<br />

<strong>em</strong> 24 Estados, além do Distrito Federal.<br />

“É uma ótima oportunidade para que as<br />

pessoas saiam um pouco da roti<strong>na</strong> e descubram<br />

coisas novas <strong>na</strong> gastronomia brasiliense,<br />

porque t<strong>em</strong>os a tendência de<br />

frequentar s<strong>em</strong>pre os mesmo lugares”,<br />

afirma o presidente da Associação Brasileira<br />

de Bares e Restaurantes no Distrito<br />

Federal (Abrasel-DF), Jaime Rece<strong>na</strong>.<br />

Tendo como t<strong>em</strong>a “Comida do lugar<br />

<strong>em</strong> todos os lugares”, o festival quer valorizar<br />

a cultura, modos e costumes de cada<br />

região brasileira. Em Brasília, capital<br />

que é ponto de convergência de brasileiros<br />

de todas as partes, a festa de abertura<br />

espelhou essa pluralidade, com a participação<br />

de chefs convidados de todas as regiões,<br />

que dividiram caçarolas com brasilienses<br />

como A<strong>na</strong> Toscano, Rodrigo Cabral<br />

e Gil Guimarães, entre outros (leia<br />

<strong>na</strong> pági<strong>na</strong> 6).<br />

A tendência se repete no elenco de<br />

pratos selecio<strong>na</strong>dos pelos chefs brasilienses,<br />

com ingredientes de todas as regiões<br />

do país, inclusive do Pla<strong>na</strong>lto Central, e<br />

também com influências de cozinhas de<br />

outros países, como o camarão <strong>na</strong> moranga<br />

do Ares do Brasil, servido com arroz<br />

de castanhas brasileiras e precedido<br />

de salada ao molho de cajá, ou o risoto<br />

de jambu com pato no tucupi, do Oliver,


tendo como entrada uma bruscheta de<br />

camarão da Amazônia com tomates italianos,<br />

só para citar alguns ex<strong>em</strong>plos.<br />

O prato principal e a entrada têm<br />

preços fixos – R$ 26, R$ 36 e R$ 46, variando<br />

de casa a casa – e neste ano a<br />

clientela do festival volta a contar com o<br />

Circuito Gourmet, que a cada seis pratos<br />

consumidos dá ao cliente o direito de repetir<br />

gratuitamente aquele de que mais<br />

gostou. A Abrasel-DF também promete<br />

diversas promoções para qu<strong>em</strong> acompanhar<br />

as redes sociais da entidade, como<br />

sorteios de cortesias e brindes.<br />

Os clientes do Banco de Brasília<br />

(BRB) contam com algumas vantagens a<br />

mais, a começar pelo Circuito Gourmet,<br />

que será completado com ape<strong>na</strong>s quatro<br />

visitas às casas participantes, ao invés das<br />

seis regulamentares. Os que pagar<strong>em</strong> a<br />

conta com Cartão BRB, <strong>na</strong> modalidade<br />

crédito, vão ganhar também um par de<br />

talheres – garfo e faca – com a marca do<br />

festival, como aconteceu no ano passado.<br />

Esta edição contará ainda com as Cozinhas<br />

Shows, que acontec<strong>em</strong> até o dia<br />

18 no Terraço Shopping, com a presença<br />

confirmada dos chefs David Letchig, do<br />

El Paso Texas, Marilde Cavaletti, do Couvert,<br />

e Neide Daia, do Substância Gastronomia<br />

Light, entre outros. Participam<br />

ainda chefs do projeto Cozinha Brasil,<br />

desenvolvido pelo Serviço Social da Indústria<br />

(Sesi), e da escola de culinária Kaza<br />

Chique, ambos parceiros do festival.<br />

A parceria com o Sesi envolve não só<br />

o Cozinha Brasil – que desenvolve receitas<br />

com ingredientes antes descartados,<br />

como cascas de frutas – mas também o<br />

projeto Vira Vida, que oferece cursos de<br />

formação profissio<strong>na</strong>l e encaminhamento<br />

a <strong>em</strong>pregos para jovens e adolescentes<br />

vítimas de abuso sexual.<br />

Frango do Mestre, do Gordeixos (R$ 26)<br />

Risoto de jambu com pato<br />

no tucupi, do Oliver (R$ 46)<br />

Fraldinha Angus com aioli de<br />

mostarda, do Parrilla Madrid (R$ 36)<br />

Fotos: Divulgação<br />

Brasil Sabor 2013<br />

Até 19/5 <strong>em</strong> 96 bares e restaurantes<br />

da cidade. Mais informações:<br />

www.brasilsabor.com.br<br />

5<br />

Moelinha no caldo de panela, do<br />

Primeiro Cozinha de Bar (R$ 26)


água <strong>na</strong> boca<br />

Ricardo Guedes<br />

Cartão postal<br />

dos sabores<br />

6<br />

Jaime Rece<strong>na</strong> *<br />

A<br />

Praça dos Três Poderes é um dos<br />

mais bonitos e famosos cartões<br />

postais de Brasília. Nela, a capital<br />

de todos os brasileiros mostra três sólidos<br />

alicerces da d<strong>em</strong>ocracia do país: as<br />

sedes dos poderes Executivo, Legislativo<br />

e Judiciário. Muitas vezes as leis ali aprovadas<br />

são objeto de duras críticas e comentários<br />

irônicos e jocosos. E nosso belo<br />

cartão postal é massacrado por charges<br />

e desenhos que o deformam, mas não<br />

lhe roubam a importância monumental.<br />

Mas é inesgotável a capacidade que t<strong>em</strong><br />

esse espaço de se renovar <strong>em</strong> beleza e<br />

funcio<strong>na</strong>lidade.<br />

Foi o que pensamos, <strong>na</strong> Abrasel,<br />

quando decidimos propor a realização<br />

da festa de abertura de mais um Festival<br />

Brasil Sabor <strong>na</strong> nossa praça, local de turismo,<br />

aberto, amplo, igual à cidade, que<br />

<strong>em</strong> seu seio fecundo e farto recebeu todos<br />

e todas, brasileiros e brasileiras do<br />

Oiapoque ao Chuí, <strong>na</strong> materialização do<br />

sonho de Dom Bosco, <strong>na</strong> realização do<br />

ideal de Juscelino Kubitschek, <strong>na</strong> construção<br />

da Odisseia de Lúcio e Oscar.<br />

Costa e Ni<strong>em</strong>eyer, visionários, geniais,<br />

acalentavam <strong>em</strong> seus generosos regaços a<br />

vontade férrea, pétrea, de <strong>em</strong>balar e tor<strong>na</strong>r<br />

realidade a força <strong>em</strong>preendedora de<br />

um novo país que <strong>na</strong>scia. Foi o <strong>em</strong>preendedorismo<br />

de JK, e da geração que nele<br />

acreditou, o responsável maior pelo momento<br />

durável de desenvolvimento até<br />

hoje experimentado pelo Centro-Oeste,<br />

Nordeste, Norte e por todo o país.<br />

O sucesso da festa é argumento de<br />

força e eloquência capaz de convencer o<br />

mais céticos dos céticos, o mais crítico entre<br />

os críticos da capital e dos espaços brasilienses.<br />

Conseguimos d<strong>em</strong>onstrar que<br />

nossa Praça dos Três Poderes pode e deve<br />

abrigar eventos desse e de outros tipos. A<br />

área é ampla e <strong>em</strong>oldurada por um dos<br />

mais belos conjuntos de obras de Oscar<br />

Ni<strong>em</strong>eyer. É funcio<strong>na</strong>l, oferece grandes<br />

possibilidades de conforto, t<strong>em</strong> fácil acesso<br />

e farto estacio<strong>na</strong>mento. Ao fi<strong>na</strong>l, <strong>em</strong><br />

menos de duas horas tudo estava limpo e<br />

desmontado e o novo dia amanheceu<br />

s<strong>em</strong> vestígios do ocorrido. Ficaram só a<br />

alegria e a saudade de qu<strong>em</strong> participou.


Um público numeroso e qualificado<br />

participou do evento: autoridades, jor<strong>na</strong>listas<br />

especializados e profissio<strong>na</strong>is da<br />

área de bares e restaurantes, inclusive<br />

chefs de cozinha de todas as regiões do<br />

país, que intercambiaram receitas e produtos,<br />

ofertando um admirável e novo<br />

mundo gastronômico, <strong>em</strong> forma de variado<br />

leque de comidinhas com todos os<br />

sabores e tons da inesgotável fonte verdeamarela<br />

brasileira. Brasília é muito mais<br />

do que se imagi<strong>na</strong>. Obrigado a todos os<br />

que nos apoiaram e patroci<strong>na</strong>ram. Agora<br />

é hora de curtir o festival. Vamos lá!<br />

Fotos: Rômulo Juracy<br />

* Jaime Rece<strong>na</strong> é presidente da Associação<br />

Brasileira de Bares e Restaurantes <strong>em</strong> Brasília<br />

(Abrasel-DF), que promove o Festival Brasil Sabor<br />

7


Novo boteco <strong>na</strong> Vila<br />

Por Beth Almeida<br />

O<br />

polo gastronômico da Vila Pla<strong>na</strong>lto<br />

passou a contar <strong>em</strong> março<br />

com o reforço do Bar Vila 21,<br />

uma alter<strong>na</strong>tiva não só para o almoço,<br />

mas também para uma agradável happy<br />

hour, com grande variedade de petiscos<br />

para acompanhar o tradicio<strong>na</strong>l chope de<br />

fim de expediente. Entre os drinques do<br />

cardápio há cinco opções de coquetéis e<br />

seis de cachaças.<br />

A casa, do grupo <strong>em</strong>presarial Brasil<br />

21, busca atender não ape<strong>na</strong>s aqueles<br />

que gostam de frequentar o único bairro<br />

da capital federal a ter clima de cidade<br />

do interior, mas também a uma vizinhança<br />

cada vez maior que se estabeleceu<br />

<strong>em</strong> um dos muitos condomínios deste<br />

trecho do Setor de Clubes Norte, como<br />

o Life, o Ilhas do Lago e o Lakeside.<br />

A localização é privilegiada, com um<br />

pouco da vista do Lago Paranoá, imprimindo<br />

um certo ar praiano ao ambiente,<br />

que à noite é compl<strong>em</strong>entado pela música<br />

ao vivo – MPB às quartas e sextas, samba<br />

aos sábados.<br />

Para o almoço, um cardápio enxuto,<br />

com dez pratos, todos servidos <strong>em</strong> porções<br />

individuais ou para duas pessoas, inclusive<br />

a tradicio<strong>na</strong>l feijoada das sextas e sábados<br />

(R$ 29 ou R$ 49), a parmegia<strong>na</strong> de tilápia,<br />

acompanhada de arroz branco, pirão<br />

e farofa de dendê (R$ 27 ou R$ 46), e<br />

a picanha de sol com arroz, feijão tropeiro,<br />

batata frita e vi<strong>na</strong>grete (R$ 32 ou R$ 52).<br />

Para petiscar, o carro-chefe já eleito<br />

pela clientela é o cupim à moda do chef<br />

com mandioca cozida (R$ 28). São mais<br />

de 20 opções de petiscos, além de quatro<br />

tipos de linguiças, seis de brochetes, dois<br />

de caldos e quatro de tapas, entre elas<br />

um tartar de salmão com pesto de manjericão<br />

(R$ 20,90).<br />

Bar Vila 21<br />

Vila Pla<strong>na</strong>lto – Acampamento DFL<br />

Estrada Hotéis de Turismo (3264.8163)<br />

De 3ª a domingo, a partir das 11h.<br />

Fotos: Divulgação<br />

8


água <strong>na</strong> boca<br />

Perfumadas<br />

infusões<br />

Por Lúcia Leão<br />

Fotos Rodrigo Oliveira<br />

A<br />

ideia era criar uma casa de chá peque<strong>na</strong> e aconchegante,<br />

primorosa nos detalhes e nos sabores sutis e delicados<br />

dos chás e das comidinhas que tradicio<strong>na</strong>lmente o acompanham.<br />

E que não brindasse só o paladar, mas abraçasse outros<br />

sentidos: o olhar, com as cores de Van Gogh; o tato, com porcela<strong>na</strong>s<br />

delicadas; o olfato, com o aroma das ervas <strong>em</strong> infusão e das<br />

lavandas plantadas <strong>em</strong> jardineiras. E não é que tudo isso aconteceu?<br />

E por tudo isso a Vincent, uma casa de chá – qu<strong>em</strong> diria!<br />

– é uma das novas coqueluches da Asa Norte.<br />

Nas seis mesas da peque<strong>na</strong> loja de fundos da 409 Norte –<br />

rua agitada por muitos bares e de forte tradição boêmia – o ambiente<br />

é de uma serenidade<br />

provençal. Em<br />

contraste com o burburinho<br />

das casas vizinhas,<br />

fala-se baixo o suficiente<br />

para ouvir a voz<br />

de Ella Fitzgerald e outras<br />

joias do jazz e podese<br />

optar entre beber chá<br />

ou alguma coisa mais<br />

forte – chocolate ou café!<br />

Nada, absolutamente<br />

<strong>na</strong>da, alcoólico.<br />

São chás ingleses, indianos,<br />

chineses e japoneses,<br />

importados e misturados pela Talchá, produtora paulista<br />

de chás gourmet e que prepara blends exclusivos e aromatizados,<br />

mais afeitos ao paladar <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. “O brasileiro prefere os chás<br />

perfumados e saborosos”, atesta Sonia Zaghetto, proprietária do<br />

Vincent e amante confessa das folhas <strong>em</strong> infusão, especialmente<br />

as cultivadas <strong>na</strong> Índia por influência dos colonizadores ingleses.<br />

“É uma paixão antiga. Visito plantações, compro louças e acessórios<br />

por todo lugar que passo... foi assim que montei grande<br />

parte da loja”.<br />

Para acompanhar a carta de mais de 30 variedades de infusões,<br />

a Vincent serve bolos, cupcakes, cheesecackes individuais,<br />

pães de mel e macarons preparados pela Gourmet <strong>em</strong> Casa e outras<br />

reconhecidas quituteiras da cidade. Para salgar a boca, caldos,<br />

saladinhas e croissants. Todas as comidinhas são terceirizadas.<br />

Vincent Casa de Chá<br />

409 Norte – Bloco A (3201.1214). De 2ª a sábado, das 16h30 às 22h.<br />

9


água <strong>na</strong> boca<br />

Cucci<strong>na</strong> ítalo-caipira<br />

Assim foi batizada a mais recente invenção do<br />

chef Jefferson Rueda, do Attimo, uma das boas<br />

novidades do mercado gastronômico paulistano.<br />

10<br />

Por Mariza de Macedo-Soares<br />

I<strong>na</strong>ugurado <strong>em</strong> meados do ano passado,<br />

o paulistano Attimo é a prova de<br />

que, para dar certo desde o primeiro<br />

dia de funcio<strong>na</strong>mento, um restaurante<br />

precisa ter no comando da cozinha alguém<br />

que tenha talento e intimidade<br />

com algumas das mais ricas culinárias<br />

existentes por aí, como a francesa e a italia<strong>na</strong>.<br />

Se, além dessas, tal ‘comandante’<br />

domi<strong>na</strong>r a fasci<strong>na</strong>nte e rica cozinha caipira,<br />

aquela do velho e bom fogão à lenha,<br />

então, n<strong>em</strong> se fala – é sucesso garantido.<br />

Muito b<strong>em</strong>. Jefferson Rueda (ex-Pomodori)<br />

é o chef que inventou a “cucci<strong>na</strong><br />

ítalo-caipira” do Attimo, restaurante que<br />

abriu <strong>em</strong> sociedade com os irmãos Fer<strong>na</strong>ndes,<br />

Marcelo e Ernesto Carlos, <strong>na</strong><br />

Vila Nova Conceição, <strong>em</strong> São Paulo, numa<br />

casa da década de 50, um belo projeto<br />

assi<strong>na</strong>do por David Libeskind, <strong>na</strong> Rua<br />

Diogo Giacomi, 341.<br />

Para fazer funcio<strong>na</strong>r numa casa um<br />

restaurante, adaptações <strong>na</strong> sua arquitetura<br />

se faz<strong>em</strong> necessárias. Com a casa da<br />

Diogo Giacomi não foi diferente, mas o<br />

fantástico é que, <strong>na</strong> adaptação, as características<br />

foram mantidas, como a lareira<br />

com espelho de época do salão principal<br />

e o cobogó de cerâmica branca que assegura<br />

ao bar um aconchegante e envidraçado<br />

espaço só seu que deixa ver, <strong>na</strong> lateral<br />

do prédio, uma ‘calçada’ com um jardim<br />

s<strong>em</strong> grama ou flores, mas repleta de<br />

pés de tomilho, manjericão, pimenteiras,<br />

tomateiros , erva-doce, berinjela, beterraba,<br />

carqueja e boldo<br />

É a “horta” de que Jefferson cuida<br />

com carinho, usa para compor os pratos<br />

do cardápio e, generoso, permite que a vizinhança<br />

nela se esbalde <strong>em</strong> colheitas diárias.<br />

Coisas de um rapaz que t<strong>em</strong> profundo<br />

respeito pela culinária que chama<br />

de caipira, da qual tomou conhecimento<br />

aos sete anos de idade, no interior de São<br />

Paulo, <strong>em</strong> São José do Rio Pardo, ajudando<br />

o pai, que cozinhava por hobby, vez


Fotos: Mauro Holanda<br />

por outra, num fogão à lenha, certamente.<br />

Perto dos 18 anos, o jov<strong>em</strong> saiu de<br />

Rio Pardo e, já seguro de sua vocação,<br />

foi estudar gastronomia no Se<strong>na</strong>c de<br />

Águas de São Pedro. Aos 20, foi-se <strong>em</strong>bora<br />

para São Paulo e, por seis anos, fez<br />

parte da equipe de Laurent Suaudeau,<br />

chef a qu<strong>em</strong> se refere como “o grande<br />

mestre”. Irrequieto, o aluno de Suaudeau,<br />

depois dessa experiência toda, ganhou<br />

concurso da Fispal, i<strong>na</strong>ugurou o<br />

Madeleine, <strong>em</strong> São Paulo, foi estagiar <strong>na</strong><br />

França, no Apicius, e frequentou por<br />

três meses o Cordon Bleu.<br />

Os irmãos Fer<strong>na</strong>ndo e Ernesto Carlos<br />

Fer<strong>na</strong>ndes com o chef Jefferson Rueda.<br />

Voltou para o Brasil com grande bagag<strong>em</strong><br />

culinária e parou por algum t<strong>em</strong>po<br />

<strong>na</strong> cozinha do Madeleine. Enquanto<br />

prestava consultoria para a criação de<br />

mais um restaurante (o bistrô italiano<br />

Pomodori), treinou para competir <strong>na</strong> copa<br />

do mundo da gastronomia, a Bocuse<br />

D’Or, <strong>em</strong> Lyon, <strong>na</strong> França. Após competir,<br />

<strong>na</strong> volta a São Paulo, i<strong>na</strong>ugurou o Pomodori<br />

e, bien sûr, assumiu sua cozinha<br />

de italia<strong>na</strong>s iguarias.<br />

Quase uma década depois, descobrir<br />

a “cozinha ítalo-caipira. “Deixei correr<br />

solto meu lado também ítalo-caipira”,<br />

conta, “e enquanto aguardava que ficasse<br />

pronto o Attimo fui para a cozinha do<br />

Do<strong>na</strong> Onça me inspirar e dividir um<br />

pouco o fogão com minha mulher, a<br />

chef Ja<strong>na</strong>i<strong>na</strong> Rueda”. No dia 31 de julho<br />

do ano passado, o Attimo ficou pronto,<br />

ganhou o título de “<strong>em</strong>baixador da Dom<br />

Perignon” e abriu suas portas com cardápios<br />

de cachaça, de bar e de comida, que<br />

t<strong>em</strong> <strong>em</strong> anexo uma pági<strong>na</strong> chamada “Sugestão<br />

do Jeff” e uma caprichada e extensa<br />

carta de vinhos.<br />

O cardápio passa por mudanças s<strong>em</strong>pre,<br />

mas mantém firmes e seguros seus<br />

carros-chefe: pamonha com codeguim e<br />

fonduta de Taleggio D.O.P; ravióli surpresa<br />

de galinha caipira e quiabo ao molho do<br />

assado (incrível ravióli duplo, de um lado<br />

a galinha e do outro o quiabo); arroz<br />

agulhinha com galinha d’Angola, milho<br />

verde e queijo meia-cura; carne de porco<br />

à moda caipira <strong>em</strong> quatro versões (medalhão<br />

com bacon, linguiça da casa, pancetta<br />

e codeguim); galinha cozida lentamente<br />

ao molho de Rio Pardo (com<br />

morcila) e polenta italia<strong>na</strong> cr<strong>em</strong>osa; cabrito<br />

à caçadora “ferventa e frita” com<br />

nhoque de batata doce assada e paleta<br />

de cordeiro com tagliatelle fresco ao molho<br />

do assado e legumes da terra.<br />

A fusão da culinária italia<strong>na</strong> com a<br />

caipira está presente, ainda, nos pães<br />

(italiano, de torresmo, de batata-doce e<br />

de batata-baroa) e <strong>na</strong>s sobr<strong>em</strong>esas (cannoli<br />

e canudinho – recheio de ricota,<br />

doce de leite aerado e mousse de coco e<br />

o pudim de leite – que concorre ao prêmio<br />

de melhor pudim de São Paulo e<br />

v<strong>em</strong> servido com algodão doce e chantilly<br />

de caramelo).<br />

Os queijos servidos no Attimo são<br />

brasileiros e regio<strong>na</strong>is. O molho de pimenta<br />

e o vi<strong>na</strong>grete que acompanham os<br />

excepcio<strong>na</strong>is petiscos do bar (pasteizinhos,<br />

coxinhas, canudinhos de massa de<br />

pastel com recheio de cr<strong>em</strong>e de camarão,<br />

bolinhos de espi<strong>na</strong>fre, ca<strong>na</strong>pés de bife a<br />

cavalo, biscoitinhos de cebola, mini<br />

hambúrgueres de carne cozida <strong>em</strong> baixa<br />

t<strong>em</strong>peratura, ovos de codor<strong>na</strong> fritos,<br />

pães de queijo recheados com linguiça<br />

defumada), são feitos pelo chef Jeff, com<br />

perdão pelo trocadilho, que, porém, é<br />

do ‘gosto’ de Jefferson Rueda.<br />

Attimo<br />

Rua Diogo Jácome, 341m, Vila Nova<br />

Conceição, São Paulo – (61) 5054.9999.<br />

11


água <strong>na</strong> boca<br />

Divulgação<br />

A fotografia <strong>na</strong> gastronomia:<br />

das caver<strong>na</strong>s à era digital<br />

12<br />

Por Henrique Ferrera *<br />

Dia desses, eu estava folheando<br />

uma revista especializada <strong>em</strong> gastronomia<br />

quando me deparei<br />

com uma pintura rupestre num anúncio<br />

de turismo. Ao observar aquela imag<strong>em</strong>,<br />

me surpreendi pensando: caramba, minha<br />

profissão é muito antiga! Desde a préhistória<br />

o hom<strong>em</strong> v<strong>em</strong> registrando e contando<br />

sua história por meio das imagens.<br />

E a primeira manifestação artística da humanidade<br />

no campo das imagens foi a<br />

pintura rupestre que reproduzia, entre<br />

outras, ce<strong>na</strong>s de caçadas, de animais abatidos<br />

ou do próprio ato de se alimentar.<br />

Ao longo da história, imagens de comida<br />

s<strong>em</strong>pre foram registradas com paixão<br />

pela humanidade. De uma forma ou<br />

de outra, todas as civilizações tiveram re-<br />

gistros pictóricos que representass<strong>em</strong><br />

seus costumes alimentares. Em cada época<br />

os artistas interpretaram de forma diferente<br />

esses costumes, independent<strong>em</strong>ente<br />

da técnica utilizada. Ce<strong>na</strong>s de<br />

plantações, de arranjos com frutas ou de<br />

reuniões familiares nos davam uma noção<br />

de como era a relação entre o hom<strong>em</strong>,<br />

a arte e seu meio de vida <strong>na</strong> época<br />

daquele registro.<br />

Na era moder<strong>na</strong> não foi diferente.<br />

Todos os grandes mestres da pintura tiveram,<br />

entre suas obras, “fotografias” de<br />

comida. Muitas obras com esse t<strong>em</strong>a foram<br />

criadas no período da Re<strong>na</strong>scença,<br />

movimento <strong>na</strong>scido <strong>na</strong> Itália do Século<br />

XIV sob forte influência de mudanças<br />

sociais, culturais e religiosas, quando foram<br />

desenvolvidas técnicas e regras de<br />

proporção e composição que ainda hoje<br />

serv<strong>em</strong> de referência para fotógrafos,<br />

pintores e artistas visuais.<br />

Mas foi o Impressionismo um dos<br />

movimentos artísticos que mais recorreram<br />

à alimentação como t<strong>em</strong>ática. Nascido<br />

<strong>na</strong> Europa do Século XIX, o Impressionismo<br />

representou uma importante<br />

quebra de paradigmas no campo das artes,<br />

batendo de frente com outro movimento<br />

que ia <strong>em</strong> direção oposta, o Realismo,<br />

<strong>em</strong> que os artistas buscavam a representação<br />

fiel da realidade.<br />

Ainda nos dias atuais há artistas que<br />

recorr<strong>em</strong> a técnicas de pintura <strong>em</strong> que<br />

ce<strong>na</strong>s de alimentos são reproduzidas com<br />

tamanho realismo que as obras chegam a<br />

ser confundidas com fotografia. É o Hiperrealismo,<br />

rico <strong>em</strong> detalhes e texturas, como<br />

<strong>na</strong>s obras do al<strong>em</strong>ão Tjalf Spar<strong>na</strong>ay ou nos<br />

reflexos do italiano Luigi Benedicenti.


Fotografia de gastronomia, desenho rupestre,<br />

Impressionismo? Você deve estar se perguntando:<br />

qual a relação entre tudo isso? Total.<br />

Um foi base para o outro, que foi a base do<br />

outro e que foi referência para outros tantos.<br />

Desde a textura, o contraste e a luz do Impressionismo,<br />

a composição meticulosa da Re<strong>na</strong>scença<br />

e o olhar apurado de seus grandes mestres,<br />

até a observação sobre como é tratado o<br />

alimento <strong>na</strong> cultura oriental, onde não somente<br />

o sabor, mas também a estética <strong>na</strong> apresentação<br />

dos alimentos é levada muito a sério.<br />

Gastronomia é mais do que comida, é cultura,<br />

e todo esse conhecimento, quando b<strong>em</strong><br />

assimilado, cria parâmetros de produção, composição<br />

e ilumi<strong>na</strong>ção que são a base criativa, as<br />

referências para que profissio<strong>na</strong>is da fotografia<br />

gastronômica possam realizar um trabalho consistente.<br />

De um modo ou de outro, a gastronomia<br />

s<strong>em</strong>pre esteve ligada à história do hom<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />

sua busca incessante pelos prazeres dos sabores.<br />

Recent<strong>em</strong>ente a cultura da gastronomia experimentou<br />

um boom, e muito disso se deve à popularização<br />

das câmeras digitais e à enxurrada de<br />

fotos publicadas diariamente <strong>na</strong> rede mundial.<br />

Para se ter uma ideia, cerca de dez milhões de<br />

fotografias são postadas s<strong>em</strong>a<strong>na</strong>lmente <strong>na</strong> web<br />

com a hashtag food, e mais outras milhares são<br />

postadas pelos recentíssimos instagramers, ou<br />

foodstagramers, como preferir<strong>em</strong>, que não resist<strong>em</strong><br />

ao impulso de, mesmo estando com muita<br />

fome, fotografar seu prato antes de devorá-lo.<br />

B<strong>em</strong> ou mal, com maior ou menor qualidade,<br />

a popularização de fotos de comida aproxima<br />

as pessoas da gastronomia e esse conhecimento<br />

as tor<strong>na</strong> mais exigentes e, por consequência,<br />

aumenta muito a responsabilidade e o<br />

nível de qualidade exigidos do fotógrafo (profissio<strong>na</strong>l),<br />

cuja função é transmitir ao leitor a<br />

sensação de identificação com aquele produto<br />

ou marca, contextualizando-o cultural e socialmente<br />

por meio de imagens atraentes e b<strong>em</strong><br />

elaboradas, de modo que ele possa “sentir” o<br />

sabor, a textura e o cheiro daquele alimento.<br />

B<strong>em</strong>, lá se vão 50 mil anos desde os primeiros<br />

registros e cá estamos, humildes pintores da<br />

escola de Niépce, <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos pós Henry Tarbot,<br />

armados com nossas velhas, ou novas, daguerreótipas<br />

guerreiras digitalíssimas, inspirados <strong>na</strong>s<br />

coloridas composições de Paul Gauguin, <strong>na</strong> luz<br />

de Édouard Manet e <strong>na</strong>s cores fortes de Paul<br />

Cézanne, colorindo retângulos <strong>em</strong> branco com<br />

a mesma paixão dos artistas pré-históricos, fazendo<br />

da fotografia de gastronomia a mais pura<br />

arte de provocar os sentidos e encantar.<br />

Cook with food, do belga Frans Snyders (1630)<br />

Salmon, do pintor modernista francês Édouard Manet (1868)<br />

Fotos: Divulgação<br />

* Fotógrafo e artista plástico.<br />

Camarão à moranga, do restaurante Ares do Brasil (2013)<br />

13


água <strong>na</strong> boca<br />

Fotos: Divulgação<br />

Recanto italiano<br />

14<br />

Por Lúcia Leão<br />

Pergunte ao Google e ele responde:<br />

Barolo é uma comunidade da Província<br />

de Cuneo, região do Pi<strong>em</strong>onte,<br />

no noroeste da Itália, onde se<br />

produz “o rei dos vinhos e o vinho dos<br />

reis”: intenso, vermelho profundo, com<br />

perfume complexo, grande corpo e taninos<br />

bastante persistentes... elegante e de<br />

grande perso<strong>na</strong>lidade.<br />

Isso lá no Velho Mundo. Aqui, <strong>na</strong><br />

novíssima Brasília, Barolo é um pequeno<br />

recanto no Lago Sul, também elegante e<br />

de grande perso<strong>na</strong>lidade, onde não se<br />

produz, mas consome-se aquele, especialíssimo,<br />

e outros tantos vinhos das melhores<br />

cepas das principais regiões vinícolas<br />

ao redor do mundo. Come-se a boa<br />

e tradicio<strong>na</strong>l comida italia<strong>na</strong>, suavizada<br />

<strong>em</strong> gorduras e carboidratos – como exig<strong>em</strong><br />

os t<strong>em</strong>pos modernos – e brinda-se<br />

ao que a vida pode ter de melhor.<br />

O restaurante se chama Barolo Cuci<strong>na</strong><br />

e Vino e funcio<strong>na</strong> desde o fim do<br />

ano passado onde, por muito t<strong>em</strong>po, foi<br />

o Ciello. Os novos proprietários assumiram<br />

o local com a proposta de oferecer o<br />

melhor custo-benefício da cidade, apostando<br />

cada um <strong>em</strong> sua expertise: Rogério<br />

Aguiar, a de gastrônomo, com dez anos<br />

de estudos <strong>na</strong> Espanha e experiências de<br />

trabalho <strong>em</strong> algumas das melhores cozinhas<br />

dos Estados Unidos, como as do<br />

Olive Garden e do Ruby Tuesday, de<br />

Boston; Evandro Alves, a de enólogo, formado<br />

ao longo de 20 anos de trabalho <strong>na</strong><br />

Portofino, primeira importadora e distribuidora<br />

de bebidas de Brasília, reconhecida<br />

como uma das grandes propulsoras<br />

do consumo do bom vinho <strong>na</strong> cidade.<br />

“A gente diz que ainda não sabe se<br />

<strong>somos</strong> um bom restaurante com uma<br />

grande adega ou o contrário, uma boa<br />

adega que também serve comida”, brinca<br />

Rogério. O fato é que a carta de vinhos<br />

oferece mais de 100 rótulos das<br />

melhores procedências, capaz de harmonizar<br />

qualquer cardápio e atender a todos<br />

os gostos, com preços que variam de<br />

modestos R$ 9 pela taça (moscatel Falernia,<br />

do Chile, indicado para acompanhar<br />

sobr<strong>em</strong>esas) a faustosos R$ 4.900<br />

pela garrafa do francês Château Mouton<br />

Rotschild, um Bordeaux de Pauillac,<br />

safra 1988. Mas a média dos clientes –<br />

entre eles muitos políticos e juristas hoje<br />

içados à condição de perso<strong>na</strong>lidades públicas<br />

– opta pelos intermediários e, talvez<br />

inspirados pelo nome da casa, dão<br />

preferência aos italianos. Entre eles o<br />

Citto, da Tosca<strong>na</strong>, produto orgânico e<br />

com indicação geográfica, oferecido a<br />

b<strong>em</strong> razoáveis R$ 77.<br />

Ah, sim, a cozinha! De lá v<strong>em</strong> o cardápio<br />

herdado basicamente do Ciello e<br />

ainda sob responsabilidade da mesma<br />

chef Enilde Fagundes. Só que hoje ela divide<br />

a função com Joelson Pereira, que<br />

trabalhou oito anos no restaurante Universal<br />

com a chef Mara Alckmin e agora<br />

ajuda Enilde a “atualizar” as receitas tradicio<strong>na</strong>is<br />

de massas, risotos, grelhados e<br />

pescados, especialmente reduzindo a<br />

quantidade de calorias dos pratos. “Essa<br />

é uma preocupação geral e uma exigência<br />

dos consumidores, mesmo dos que<br />

não quer<strong>em</strong> se privar do prazer da boa<br />

mesa”, explica Rogério Aguiar.<br />

Para unir cozinha e adega, o Barolo<br />

elaborou um menu-degustação com entrada,<br />

dois pratos quentes e sobr<strong>em</strong>esa,<br />

harmonizados com quatro tipos de vinhos,<br />

oferecido ao preço de R$ 100. E<br />

criou dois menus especiais para o Dia das<br />

Mães: filé mignon com risoto de funghi<br />

porcini e filé de linguado com musseline<br />

de batata baroa, ambos ao preço de R$ 55<br />

e com direito a uma taça de champanhe.<br />

Mas atenção, porque a casa é peque<strong>na</strong><br />

(70 lugares). Por isso, é recomendável<br />

fazer reservas!<br />

Barolo Cuci<strong>na</strong> e Vino<br />

QI 9/11 do Lago Sul – Bloco B – Loja 18<br />

(3364.5655). De 3ª a sábado, das 12 às 16h<br />

e das 19 às 24h; domingo, das 12 às 16h.


PICADINHO<br />

Divulgação<br />

ovelha; foie gras com sorbet de manga e<br />

redução de cabernet e mix de alcaparras<br />

e milho salgado; ojo de bife com batatas<br />

confitadas e redução de morcilla e<br />

chimichurri; pre post sorbet de erva mate<br />

e limão; arroz com leite tostato e sorvete<br />

de doce de leite. Como não poderia<br />

deixar de ser, Buquero sugere a harmonização<br />

dos pratos com vinhos argentinos.<br />

Divulgação<br />

No clima da Copa<br />

A pizzaria Vila Milagro, da 116 Norte,<br />

acaba de lançar um cardápio de pizzas<br />

(acima) feitas com ingredientes típicos<br />

dos países que vão disputar a Copa das<br />

Confederações a partir de 15 de junho. A<br />

brasileira t<strong>em</strong> como principal ingrediente<br />

a carne seca. A do nosso adversário no<br />

jogo de abertura da Copa – o Japão –<br />

leva shimeji, salmão e molho teriaki.<br />

A italia<strong>na</strong>, escarola, gorgonzola e<br />

parmesão. E por aí afora. Os preços<br />

variam de R$ 29 a R$ 61.<br />

Nova cozinha argenti<strong>na</strong><br />

O BierFass do Pontão do Lago Sul realiza,<br />

de 22 a 25 de maio, o Festival Gastronômico<br />

Sabores da Nova Cozinha Argenti<strong>na</strong>.<br />

Qu<strong>em</strong> v<strong>em</strong> pilotar as caçarolas é um<br />

dos mais renomados chefs portenhos,<br />

Martin Baquero (foto), que criou um<br />

menu de sete etapas: salmão d<strong>em</strong>i cuit<br />

com notas cítricas; trilhas do atlântico<br />

(uma espécie de peixe) mari<strong>na</strong>das <strong>em</strong><br />

azeite de oliva com pimentões Calahorra;<br />

mollejas de cordeiro caramelizado,<br />

melaço, quinoa cr<strong>em</strong>osa e queijo de<br />

Divulgação<br />

Sandubas portugueses...<br />

Bifa<strong>na</strong>, Prego, Francesinha e Sanduíche<br />

da Vovó. Assim foram batizadas as quatro<br />

versões de sanduíches à moda portuguesa<br />

que passaram a figurar no cardápio do<br />

Antiquarius Grill (Espaço Gourmet do<br />

ParkShopping). “Trabalhamos <strong>em</strong> cima<br />

de receitas origi<strong>na</strong>is de Portugal, com<br />

pequenos toques autorais para deixar<br />

os sanduíches mais próximos ao paladar<br />

brasileiro”, explica o restaurateur Manuel<br />

Pires, o Manuelzinho. Ao preço de R$ 27<br />

cada, os sanduíches pod<strong>em</strong> ser degustados<br />

com espumantes, vinhos, chope ou<br />

sucos.<br />

... e sandubas <strong>na</strong>turais<br />

Além do tradicio<strong>na</strong>l bufê de comida<br />

<strong>na</strong>tural, o Green’s (302 Norte e 202 Sul)<br />

oferece <strong>em</strong> seu cardápio sanduíches<br />

saudáveis como o Indiano (fatias de tofu<br />

grelhado com shoyu, cebolas caramelizadas,<br />

pasta de grão de bico e mix de folhas<br />

<strong>na</strong> baguete) e o Campesino (fatias de<br />

abobrinha grelhadas no azeite, azeito<strong>na</strong>s<br />

pretas, lâmi<strong>na</strong>s de queijo e pasta especial<br />

também <strong>na</strong> baguete). Para acompanhar,<br />

uma grande variedade de sucos <strong>na</strong>turais<br />

e smoothies.<br />

Divulgação<br />

da italia<strong>na</strong> Talenti, que produz o famoso<br />

Brunello di Montalcino. A partir das 19<br />

horas <strong>na</strong> loja da Grand Cru no Lago Sul<br />

(QI 9/11, Conjunto L). Preço: R$ 220.<br />

Sob nova direção<br />

Não foi só de donos que mudou o<br />

Chiquita Baca<strong>na</strong>. Agora sob o comando<br />

dos <strong>em</strong>presários Braulio Diniz, Henrique<br />

Andrade, Gustavo Albuquerque e Paulo<br />

Benite, o badalado boteco da 209 Sul<br />

ganhou nova decoração, assi<strong>na</strong>da pelos<br />

arquitetos Tony Malheiros e Álvaro Abreu<br />

e pelo paisagista Daniel Mendes, e dois<br />

novos drinques <strong>em</strong> seu cardápio,<br />

adaptados aos rigores da Lei Seca, ambos<br />

a R$ 13,90. Um leva suco de manga,<br />

laranja, maracujá, leite condensado e<br />

cr<strong>em</strong>e de leite; outro, sucos de pêssego<br />

e maracujá, sorvete de cr<strong>em</strong>e, leite<br />

condensado e cr<strong>em</strong>e de leite. Para qu<strong>em</strong><br />

persistir nos alcoólicos está disponível<br />

uma van que busca e deixa o cliente<br />

<strong>em</strong> casa. Outro atrativo são os drinques<br />

para mulheres: o Cura TPM da foto<br />

abaixo (vodka, licor de chocolate e<br />

chantily) custa R$ 14,90 e o Beijo <strong>na</strong><br />

Boca (champagne, suco de morango<br />

e vodka) sai por R$ 16,90.<br />

Rômulo Juracy<br />

16<br />

Tasting Grand Cru<br />

Será neste 16 de maio a segunda edição<br />

da Tasting Grand Cru Brasília, com a<br />

participação das vinícolas chile<strong>na</strong>s Altair<br />

e Matetic (pioneira <strong>na</strong> produção de vinho<br />

orgânico no Chile), da argenti<strong>na</strong> Cobos e


GARFADAS & GOLES<br />

Luiz Rece<strong>na</strong><br />

lrece<strong>na</strong>@hotmail.com<br />

Sobre carnes<br />

e paixões<br />

A carne talvez seja a mais fasci<strong>na</strong>nte das paixões. Dentre todas elas, as paixões, a carne sobressai por matreira, ardilosa, de<br />

muitas faces e múltiplos sabores. É atraente e sedutora. Nas pradarias do mundo, <strong>na</strong>s coxilhas do Rio Grande, nos novos<br />

mercados do Centro-Oeste brasileiro, num restaurante de Brasília ou numa churrasqueira do Lago Norte. Ela seduz pelo<br />

pedaço ou pelo inteiro. Sai do simples para o sofisticado, do mundo animal para o mesmo mundo animal, pois o bicho,<br />

zoom, se transforma <strong>em</strong> gente, o zoom politikom, o animal bípede que pensa ou acha que isso faz. E assim vamos vivendo<br />

de amor, nós e todas as carnes, nós e todas as nossas paixões. Os amigos, por ex<strong>em</strong>plo. Sabores do Brasil e da saudade<br />

levaram o colunista até a capital de todos os Brasis. Nela, e ao sabor primeiro dos reencontros, velhos abraços l<strong>em</strong>braram<br />

car<strong>na</strong>vais id<strong>em</strong>. Na ressaca do feriado, o retorno a uma <strong>dupla</strong> alegria: amigos e carnes.<br />

Lago diferente<br />

Dos muitos lugares que conheci e vivi <strong>em</strong> Brasília, o Lago<br />

Norte s<strong>em</strong>pre me pareceu um “primus inter paris”. O colunista<br />

não é advogado, mas adora uma citação <strong>em</strong> latim. Quero<br />

dizer que o Lago Norte é o primeiro, o diferente, único <strong>em</strong><br />

seu estilo, plural e d<strong>em</strong>ocrático. E onde mora uma plêiade de<br />

amigos velhos e novos. Então nos encontramos <strong>na</strong> QI-10, as<br />

carnes, as paixões e eu. O colunista armou a própria cafua, ou<br />

armadilha, para os mais novos: por onde começar, por quais<br />

carnes ou paixões?<br />

Sábia voz<br />

Da experiência e do t<strong>em</strong>po veio o conselho de iniciar pelo alimento.<br />

Beef Passion é o nome da <strong>em</strong>presa de Ricardo Sacris,<br />

que produz o Kobe Passion, um boi fruto do cruzamento entre<br />

o Vaguil japonês e o Red Angus do reino inglês. Carnes<br />

e paixão por elas. Desfilaram, pela ord<strong>em</strong>: asado de tira e ojo<br />

de bife, cortes de nome argentino encontrados no restaurante<br />

Madrid. Supimpas! “De cortar com colher”, no dizer que<br />

aprend<strong>em</strong>os muito cedo <strong>na</strong> fronteira gaúcha. Um vacío/<br />

fraldinha, de Black Angus e também do Madrid, fechou<br />

o festim. Acompanhado pela maionese do Ar<strong>na</strong>ldo, da<br />

Galeteria Gaúcha. Dois craques, ele e a maionese.<br />

As paixões<br />

A paixão pelos amigos começa com Débora e Márcio, anfitriões,<br />

faz home<strong>na</strong>g<strong>em</strong> ao doutor Nenê, nosso convidado<br />

especial; passa por Nástia e Carlos, um casal <strong>russo</strong>-brasileiro,<br />

e Maria e Kátia, duas filhas princesas deles. E também por<br />

Rozane, Priscila, Bruno, Flávio e o primogênito articulador<br />

de tudo o que executamos. Sim: o doutor Nenê t<strong>em</strong> a ver<br />

com c<strong>em</strong> por cento disso e mais um pouco, pois é o maior<br />

especialista <strong>em</strong> carne/carnes que conheço, além de atender<br />

pelo sobrenome Paixão. Os trocadilhos e os bons e maus<br />

pensamentos daí derivados têm raízes profundas no t<strong>em</strong>a<br />

carne, carnes e as paixões por elas...<br />

Goles e amigos<br />

Os goles do nosso festim foram de Stella e Skol, precedidas<br />

por cáipis de lima com Smirnoff. Tequilas, 43 e conhaque<br />

passaram igualmente no pedaço. Antes, porém, mais um<br />

registro de saudade, alegria e sólida amizade: os primeiros<br />

goles do dia foram com a Turma do Futebol, que, ociosa e<br />

quase toda aposentada, home<strong>na</strong>geava o Dia do Trabalhador<br />

com um bom churrasco. Do<strong>na</strong> Lu e Paulo comandando o<br />

espetáculo. Como é bom voltar um pouquinho e rever a todos,<br />

dos dois filhos aos muitos amigos. Gracias a la vida! Salud!<br />

18


PÃO & VINHO<br />

ALEXANDRE FRANCO<br />

pao&vinho@agenciaalo.com.br<br />

Olé!<br />

A expressão é certamente uma marca registrada das<br />

paragens espanholas. Lá estive, pela primeira vez, nestas<br />

últimas duas s<strong>em</strong>a<strong>na</strong>s e, é claro, entre outros passeios,<br />

visitando a principal região vinícola do país e duas bodegas<br />

extraordinárias no coração de Ribera del Duero. E posso<br />

garantir que, se não pude aplicar o famoso “olé” às<br />

tradicio<strong>na</strong>is touradas, pois nestas não tive a oportunidade<br />

de estar, muito o fiz ao degustar os seus maravilhosos<br />

caldos, não só da fantástica Ribera del Duero, mas também<br />

de Rioja, Bierzo, Rias Baixas e tantas outras.<br />

Iniciei os trabalhos, logo no dia de minha chegada, com<br />

um almoço no melhor e mais antigo restaurante de Segóvia,<br />

uma cidade com construções roma<strong>na</strong>s, <strong>em</strong> especial um<br />

belíssimo aqueduto, ao pé do qual ficava o Meson Casa<br />

Cândido. Foi onde comi um tradicio<strong>na</strong>l Cocinillo, um leitão<br />

de leite assado de modo s<strong>em</strong>elhante ao da Bairrada, <strong>em</strong><br />

Portugal, muito saboroso e ótimo para acompanhar a<br />

garrafa de Viña Ardanza Reserva, um dos melhores Rioja Alta<br />

que conheço. Estava tudo excelente, e aí foi o primeiro olé!<br />

Os dias seguintes foram <strong>em</strong> Valladolid, a capital de<br />

Castella y Leon, aliás a primeira capital de Espanha, onde<br />

os reis católicos realizaram sua unificação. O coração de<br />

Ribera Del Duero, já pelo que representa, <strong>em</strong>polga qualquer<br />

enófilo que por lá passe. Rodar por suas estradas é observar<br />

por toda sua extensão vinhedos e bodegas a prometer<br />

muitos e ótimos vinhos. Foram três as bodegas visitadas:<br />

Arzuaga, Aalto e Cepa 21. Todas de alta qualidade, com<br />

instalações novas ou renovadas, com toda a tecnologia<br />

necessária para a perfeita vinificação das suas melhores<br />

uvas, <strong>na</strong> sua grande maioria T<strong>em</strong>pranillo.<br />

A Aalto t<strong>em</strong> sua bodega recém-construída nos melhores<br />

padrões definidos pelo seu enólogo, que por muito anos<br />

vinificou <strong>na</strong> Vega Sicília, certamente o maior nome do<br />

mundo do vinho espanhol. Produz ape<strong>na</strong>s dois vinhos,<br />

ambos excelentes: o Aalto e seu top, o Aalto PS. Ambos<br />

100% T<strong>em</strong>pranillo de vinhedos de mais de 80 anos<br />

localizados a uns 100 km dali, enquanto aguardam a<br />

produção de seus novos vinhedos plantados no local. O<br />

Aalto já mais pronto e o PS pedindo mais t<strong>em</strong>po de garrafa,<br />

ambos da safra 2010, pois a vinícola comercializa 100% das<br />

suas safras e não dispõe, portanto, de garrafas de safras<br />

anteriores. Ambos de cor ruby intenso com reflexos violetas,<br />

<strong>na</strong>riz de frutas negras maduras com toques de baunilha,<br />

chocolate e café e boca b<strong>em</strong> estruturada de bons taninos<br />

e acidez gastronômica. No PS acrescenta-se notas de coco,<br />

um elegante tostado, húmus e uma certa mineralidade.<br />

Na Cepa 21, moderníssima bodega à qual se integra um<br />

restaurante de primeiríssimo nível, preferimos degustar seu<br />

vinho top, o Malabrigo 2009, junto ao menu degustación.<br />

100% T<strong>em</strong>pranillo, de cor ruby intenso e notas de frutas<br />

negras confitadas com notas de torrefação e uma boca<br />

b<strong>em</strong> estruturada e já bastante redonda.<br />

Fi<strong>na</strong>lmente, <strong>na</strong> Arzuaga fiz<strong>em</strong>os a festa. Olé <strong>em</strong> dobro<br />

por ali. Visitamos seus vinhedos <strong>em</strong> altitude superior aos<br />

900 metros, seus campos de caça com criação de javalis e<br />

cervos, sua casa-sede, habitada pelos proprietários, <strong>na</strong> qual<br />

se preserva uma árvore de mais de 1.000 anos no jardim,<br />

além da bodega <strong>em</strong> sí, do hotel e do restaurante.<br />

Degustamos por lá mais de dez vinhos, todos muito bons,<br />

dos quais realço um magnífico Chardon<strong>na</strong>y e seu Gran<br />

Reserva 2001. Este último exuberante, digno de seu título<br />

de Gran Reserva. S<strong>em</strong> ostentar o título de top da casa,<br />

é, <strong>na</strong> minha opinião, seu melhor caldo. Neste, além da<br />

T<strong>em</strong>pranillo cab<strong>em</strong> 10% de Cabernet Sauvignon. De cor<br />

ruby profundo, mas já com leves toques acastanhados,<br />

<strong>na</strong>riz complexo com certa mineralidade, frutas negras<br />

maduras, toque amadeirado e nuances de tabaco,<br />

chocolate e baunilha. Na boca explode os sentidos<br />

com maciez e elegância. Vinho extraordinário.<br />

De fato, para fechar sou obrigado a repetir: olé!<br />

19


DOIS ESPRESSOS E A CONTA<br />

cláudio ferreira<br />

claudioferreira_64@hotmail.com<br />

Ceilândia ferve dia e noite!<br />

Descobrir lugares novos para comer é s<strong>em</strong>pre<br />

agradável. A partir de dicas de amigos que trabalham <strong>em</strong><br />

Ceilândia, desvendei, <strong>na</strong>s últimas s<strong>em</strong>a<strong>na</strong>s, uma área da<br />

Avenida Hélio Prates, no centro da cidade, que poderia ser<br />

chamada “quadrilátero da fast food”. Além dos já<br />

conhecidos Subway e Giraffas, encontrei dois achados: o<br />

Rhelk’s e o QG. Os concorrentes são separados por ape<strong>na</strong>s<br />

dois blocos de loja e oferec<strong>em</strong> combi<strong>na</strong>ções para qu<strong>em</strong><br />

está apressado, mas não quer necessariamente trocar o<br />

almoço por um sanduíche.<br />

A avenida t<strong>em</strong> movimento intenso e barulho –<br />

inclusive dos carros de som que anunciam as iguarias dos<br />

fast food. Habitantes de outras cidades pod<strong>em</strong> usar o<br />

metrô para chegar ao local: o quadrilátero fica b<strong>em</strong> perto<br />

da estação Ceilândia Centro. Para qu<strong>em</strong> for de carro, t<strong>em</strong><br />

estacio<strong>na</strong>mento <strong>na</strong> porta.<br />

O logotipo com um simpático avião me atraiu para o<br />

Rhelk’s. É um fast food t<strong>em</strong>ático. O avião está presente,<br />

por ex<strong>em</strong>plo, no uniforme dos atendentes, que se vest<strong>em</strong><br />

de pilotos de aero<strong>na</strong>ves. O cardápio está recheado de<br />

alusões ao mundo “aéreo”. Os sanduíches se chamam<br />

Turbi<strong>na</strong>, Hércules, 14 Bis, Galeão e por aí vai. A<br />

criatividade atrai um público diversificado: dos alunos e<br />

professores do campus da UnB <strong>na</strong> Ceilândia aos<br />

comerciantes e comerciários das redondezas, todos com<br />

os uniformes das lojas <strong>em</strong> que trabalham.<br />

O texto de apresentação do Rhelk’s no cardápio se<br />

gaba do binômio qualidade + quantidade. E a comida é<br />

farta mesmo. Conheço mulheres adultas que prefer<strong>em</strong> o<br />

menu kids do local com medo de desperdiçar comida. O<br />

restaurante inova ao investir também <strong>na</strong> comunidade<br />

nordesti<strong>na</strong> da Ceilândia. T<strong>em</strong> uma pági<strong>na</strong> dedicada à<br />

carne seca, que pode virar recheio de crepe ou de pizza.<br />

Boa estratégia de marketing!<br />

O QG (que t<strong>em</strong> o subtítulo Jeitinho Caseiro colado à<br />

sigla) <strong>na</strong>sceu há mais de 30 anos <strong>em</strong> Goiás, primeiro<br />

como Quitanda Goia<strong>na</strong> (daí as duas letras), depois<br />

especializado <strong>em</strong> pastéis, até apostar no fast food variado.<br />

Ambiente com ar condicio<strong>na</strong>do e várias TVs de tela grande<br />

ligadas (graças a Deus com a legenda oculta no lugar do<br />

volume alto de outros estabelecimentos) compet<strong>em</strong> de<br />

igual para igual com o Rhelk’s.<br />

O diferencial? A comida. A quantidade não é<br />

gigantesca como a do concorrente, mas a qualidade é<br />

muito boa e a diversidade também. Os pastéis da orig<strong>em</strong><br />

do QG continuam no cardápio – uma porção de três mini<br />

pastéis doces é uma sobr<strong>em</strong>esa irresistível. O bom<br />

atendimento fideliza os clientes e o público não para de<br />

entrar <strong>na</strong> hora do almoço.<br />

Não são somente os estabelecimentos de grande porte<br />

que faz<strong>em</strong> sucesso <strong>na</strong>s redondezas. Um morador vizinho<br />

da área comercial dá a dica: a pedida da noite é chegar<br />

<strong>em</strong> frente ao Relk’s e procurar uma barraquinha de<br />

cachorro-quente. A pièce de résistance é um cachorroquente<br />

de estrogonofe que, diz<strong>em</strong> as boas línguas, é uma<br />

bomba alimentar. Qu<strong>em</strong> tiver disposição e estômago que<br />

se habilite!<br />

Ceilândia é um mundo, 400 mil habitantes que<br />

d<strong>em</strong>andam muitos bares e restaurantes. Meus amigos<br />

moradores do pedaço são cheios de sugestões: do Beer<br />

House, bar que fica a poucos metros do QG, até a Feira da<br />

Ceilândia, para qu<strong>em</strong> curte as comidas nordesti<strong>na</strong>s. Ainda<br />

tenho muito chão para desvendar e, com certeza, vale<br />

outras incursões por lá!<br />

20


dia & noite<br />

alegrecortejo<br />

O Cirque de Soleil volta a Brasília <strong>em</strong> 2 de agosto para apresentar<br />

Corteo, espetáculo já visto por mais de 6,5 milhões de pessoas <strong>em</strong><br />

40 cidades de oito países. A megaprodução se desenrola durante<br />

o funeral de um palhaço e t<strong>em</strong> direção do italiano Daniele Pasca,<br />

que já morou no México e se impressionou com os funerais de lá –<br />

grandes encontros de família que acabam virando festa. Duzentos<br />

profissioo<strong>na</strong>is de 25 <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lidades compõ<strong>em</strong> a trupe do circo<br />

ca<strong>na</strong>dense, sendo cinco brasileiros – quatro técnicos e a gi<strong>na</strong>sta<br />

paulista Camila Comin, no papel do anjo que está ao lado do palhaço<br />

no funeral. A tenda do circo será montada <strong>na</strong> área exter<strong>na</strong> do Ginásio<br />

Nilson Nelson e os ingressos custam entre R$ 95 e R$ 440 (já à venda<br />

<strong>em</strong> www.corteobrasil.com.br e no ParkShopping (piso superior).<br />

Divulgação<br />

24<br />

acordeoneclarineta<br />

Daniel Mille é um acordeonista<br />

apontado pela crítica como “um<br />

monstro sagrado que precisa ser<br />

visto no palco”. Há alguns anos,<br />

Mille se apresenta também ao<br />

lado de Stéphane Chausse,<br />

clarinetista mais jov<strong>em</strong>. Os dois<br />

farão turnê no Brasil – e começam<br />

por aqui, neste 16 de maio, às 20<br />

horas, <strong>na</strong> Sala Martins Pe<strong>na</strong> do<br />

Teatro Nacio<strong>na</strong>l. O show faz parte<br />

da programação da S<strong>em</strong>a<strong>na</strong> da<br />

Europa, organizada pela rede<br />

das Alianças Francesas. Mille é<br />

considerado também “um amante<br />

das melodias,” por seu poder de<br />

<strong>em</strong>ocio<strong>na</strong>r a plateia, de fazê-la<br />

viajar no pensamento através<br />

da música. Depois de Brasília, o<br />

show segue para Belo Horizonte,<br />

Porto Alegre, Florianópolis, Rio<br />

de Janeiro, Curitiba, Recife, João<br />

Pessoa e Fortaleza, entre outras<br />

capitais brasileiras. Entrada<br />

franca, sujeita à lotação da sala<br />

(os ingressos dev<strong>em</strong> ser retirados<br />

uma hora antes do início do show).<br />

Divulgação<br />

Caroline Bittencourt<br />

ottonoccbb<br />

O cantor, compositor e percussionista per<strong>na</strong>mbucano i<strong>na</strong>ugura o projeto Todos os sons,<br />

dia 26, no gramado do CCBB, a partir das 17 horas. Autor<br />

de sucessos como Crua e Filha, Otto lançará seu quinto<br />

álbum, The moon 1111. O repertório é inspirado no cin<strong>em</strong>a<br />

francês, especificamente <strong>em</strong> Guy Montag, perso<strong>na</strong>g<strong>em</strong><br />

de Farenheit 451 (1966), filme de François Truffaut, e faz<br />

referências ao clássico The dark side of the moon, do Pink<br />

Floyd, e ao nigeriano Fela Kuti, criador do afrobeat. Mesmo<br />

assim, o trabalho transborda brasilidade. Otto fala sobre<br />

o futuro e sobre o amor <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos virtuais. Antes dele,<br />

sob<strong>em</strong> ao palco Ulia<strong>na</strong> Dias e Fábio Miranda. Ela se<br />

apresenta com Lucas de Campos e canta repertório de<br />

seu mais recente CD, Pra querer ser feliz. Em seguida,<br />

o violeiro Fábio Miranda mostra músicas do CD Carava<strong>na</strong> Solidão, <strong>em</strong> show que<br />

contará com a participação especial do mestre violeiro Roberto Corrêa, perso<strong>na</strong>g<strong>em</strong><br />

de nossa seção Brasiliense de coração (pági<strong>na</strong> 30).<br />

ce<strong>na</strong>brasileira<br />

Uma exposição de trabalhos de grupos que desenvolv<strong>em</strong> uma pesquisa continuada <strong>em</strong><br />

teatro, circo e dança, com a realização de espetáculos, ofici<strong>na</strong>s e bate-papos, ampliando<br />

ainda mais o diálogo entre Brasília e produções artísticas de outras regiões do Brasil.<br />

De maio a nov<strong>em</strong>bro, a Rosa dos Ventos Artes do Imaginário apresenta o projeto Artes<br />

Cênicas – Pesquisa e Diversidade, que vai trazer um recorte do que se t<strong>em</strong> produzido<br />

<strong>na</strong>s artes cênicas no Brasil. “Nossa responsabilidade não é com o espetaculoso, mas sim<br />

com a linguag<strong>em</strong>, o estudo, a pesquisa e o desenvolvimento da linguag<strong>em</strong>, possibilitando<br />

que artistas e público se encontr<strong>em</strong> para<br />

além dos ditames do mercado”, explica<br />

Cláudio Chi<strong>na</strong>ski, produtor cultural e<br />

curador da Ocupação Fu<strong>na</strong>rte 2013. Sete<br />

grupos representarão a ce<strong>na</strong> brasiliense<br />

<strong>em</strong> apresentações cujo palco será a Sala<br />

Plínio Marcos. Na programação estão a<br />

Trupe de Argo<strong>na</strong>utas (foto), com dois<br />

espetáculos que mesclam dança, teatro<br />

e linguagens circenses, o grupo Virtù -<br />

Confraria Teatral, com dois espetáculos<br />

e o grupo Mirabolantes. Programação<br />

<strong>em</strong> http://www.fu<strong>na</strong>rte.gov.br.<br />

Hermínio Oliveira


Divulgação<br />

athos<strong>em</strong>portugal<br />

Uma exposição que integra o Ano do Brasil<br />

<strong>em</strong> Lisboa apresentará a obra do artista plástico<br />

Athos Bulcão no Museu Nacio<strong>na</strong>l do Azulejo.<br />

Com curadoria de Marília Panitz e projeto<br />

expográfico de Caetano Albuquerque, estará <strong>em</strong><br />

cartaz de 29 de maio a 28 de julho. O principal<br />

representante da azulejaria brasileira conviveu, Painel de azulejos da residência de Regi<strong>na</strong> Célia Borges (Acervo da Fundação Athos Bulcão)<br />

aprendeu e foi influenciado por mestres do modernismo, da arquitetura e do urbanismo. Suas peças reverberam e compl<strong>em</strong>entam a<br />

genética de criações de Oscar Ni<strong>em</strong>eyer, Cândido Porti<strong>na</strong>ri, Burle Marx, Lúcio Costa e Hélio Uchôa, entre outros. A mostra lisboense<br />

traça um paralelo entre obras brasileiras e portuguesas <strong>em</strong> características diversas: as s<strong>em</strong>elhanças compositivas, as paletas de cores, as<br />

evocações aproximativas entre imagens, a lógica do processo de montag<strong>em</strong>. O trabalho de Athos Bulcão conferiu alma a Brasília, com sua<br />

exímia capacidade de intervenção da arte <strong>na</strong> arquitetura. Nascido no Rio, <strong>em</strong> 1918, Athos morreu <strong>em</strong> Brasília, <strong>em</strong> 2008, aos 90 anos.<br />

rappa<strong>em</strong>taguatinga<br />

O grupo carioca está de volta com a turnê<br />

do disco Rappa – Ao vivo e se apresenta<br />

no dia 25 <strong>em</strong> Taguatinga. O álbum marca<br />

uma etapa importante da história do<br />

Rappa. Após discos de sucesso, hits como<br />

A feira, Minha alma e covers explosivos<br />

como Hey Joe, a banda se instalou <strong>em</strong><br />

uma garag<strong>em</strong> desativada para capturar<br />

a força que poucas bandas consegu<strong>em</strong><br />

colocar sobre um palco. O show será<br />

realizado <strong>em</strong> espaço revitalizado da Feira da Indústria e Comércio de Taguatinga. De<br />

acordo com o organizador, Cristiano Porfírio, marcará a volta da Facita como referência<br />

para a realização de eventos e pontos de encontro para moradores e famílias da região.<br />

“A cultura t<strong>em</strong> o poder transformador, e <strong>na</strong>da melhor que estimulá-la com um show<br />

d’O Rappa, uma banda que t<strong>em</strong> uma filosofia pelo fim do preconceito e da mudança<br />

justamente pela cultura, o que irá atrair um público diferente e pacífico, pronto ape<strong>na</strong>s<br />

para curtir uma grande apresentação e fazer história <strong>em</strong> Taguatinga”, explica. Dia 25,<br />

sábado, <strong>na</strong> QI 25, Área Especial de Taguatinga Norte, a partir das 20h. Ingressos a<br />

partir de R$ 40, <strong>em</strong> www.bilheteriadigital.com.<br />

Divulgação<br />

ahistóriadovoto<br />

Em 1532, quando se votou pela primeira vez no Brasil, votar não era um<br />

direito, muito menos um dever. Era si<strong>na</strong>l de status. De lá pra cá, muita coisa<br />

mudou e essa evolução está registrada <strong>na</strong> mostra Voto no Brasil: Uma história<br />

de exclusões e inclusões. Entre as raridades presentes no acervo de 175 objetos,<br />

documentos e reproduções de obras de arte estão alguns modelos de título<br />

de eleitor a partir de 1881; um ex<strong>em</strong>plar de uma ur<strong>na</strong> eleitoral do Brasil<br />

Império, confeccio<strong>na</strong>da <strong>em</strong> madeira; e uma carta de um candidato pedindo<br />

voto (século 19). Realizada pelo Museu de Arte Brasileira da Fundação<br />

Armando Álvares Penteado (MAB-FAAP) e pelo Tribu<strong>na</strong>l Superior Eleitoral<br />

(TSE), t<strong>em</strong> curadoria de Ane Cajado que explica: “O foco da exposição, que<br />

reúne arte, cultura e história, é contar a história das eleições a partir das<br />

estratégias de inclusões e exclusões de pessoas, evidenciando os grupos que<br />

ficavam à marg<strong>em</strong> desse processo, como as mulheres, os negros, os índios,<br />

os comerciantes e os judeus”. Até 19 de dez<strong>em</strong>bro, de segunda a sexta, das 12<br />

às 19h; às segundas e quartas, das 17 às 19h, com visita guiada. Entrada franca.<br />

teatroacéuaberto<br />

De maio a set<strong>em</strong>bro o Eixão será palco<br />

de vários espetáculos a céu aberto. Serão<br />

oito as apresentações do projeto Farra<br />

da Comunidade, formado por grupos de<br />

moradores de quatro cidades do DF que<br />

participarão das ofici<strong>na</strong>s gratuitas ministradas<br />

pelo diretor Thiago<br />

Jorge. A primeira será<br />

<strong>em</strong> Pla<strong>na</strong>lti<strong>na</strong>, com<br />

apresentação no Eixão<br />

Cultural <strong>em</strong> 26 de maio.<br />

O espetáculo de três<br />

horas de duração vai<br />

abordar t<strong>em</strong>as fortes<br />

extraídos das experiências<br />

pessoais dos participantes,<br />

atores e não-atores.<br />

Também participarão do<br />

Farra da Comunidade<br />

moradores de São<br />

Sebastião, Taguatinga,<br />

Varjão e Plano Piloto, com apresentações<br />

s<strong>em</strong>pre aos domingos, no Eixão do Lazer.<br />

Essa edição do projeto é inspirada no teatrodança<br />

da diretora al<strong>em</strong>ã Pi<strong>na</strong> Bauch, falecida<br />

<strong>em</strong> 2009. A Farra da Comunidade teve início<br />

<strong>em</strong> 2012, por iniciativa do articulador de<br />

artes cênicas do Coletivo Palavra, diretor e<br />

preparador de elenco Thiago Jorge, a partir de<br />

outro projeto s<strong>em</strong>elhante, a Farra do Teatro,<br />

montada pelo grupo Depósito de Teatro, no<br />

Fórum Social Mundial, <strong>em</strong> Porto Alegre, <strong>em</strong><br />

2005, com forte influência do Teatro Físico,<br />

cuja característica é criar o espetáculo<br />

a partir da exaustão dos participantes <strong>na</strong><br />

criação de movimentos e ce<strong>na</strong>s. A primeira<br />

apresentação será no domingo, 26, a partir<br />

das 9h, <strong>na</strong> altura da 113 Norte.<br />

Acervo Coletivo Palavra/A<strong>na</strong> Rabelo<br />

25


dia & noite<br />

morteartística<br />

Em dez<strong>em</strong>bro de 2010, os cineastas iranianos Mohammad<br />

Rasoulof e Jafar Pa<strong>na</strong>hi foram julgados e conde<strong>na</strong>dos a seis<br />

anos de prisão – pe<strong>na</strong> acrescida, no caso de Pa<strong>na</strong>hi, da<br />

proibição de escrever ou realizar filmes, dar entrevistas<br />

à imprensa, deixar o território ou se comunicar com<br />

organizações culturais estrangeiras por 20 anos. O crime:<br />

ter<strong>em</strong> feito, segundo as autoridades irania<strong>na</strong>s, “propaganda<br />

contra o Estado”. Desde então, artistas e instituições<br />

culturais de todo o mundo têm se manifestado contra essa<br />

conde<strong>na</strong>ção a uma “morte artística”. A Caixa Cultural faz sua<br />

home<strong>na</strong>g<strong>em</strong> à <strong>dupla</strong> apresentando a mostra Mohammad<br />

Rasoulof e Jafar Pa<strong>na</strong>hi: Cineastas iranianos, de 18 a 26 de maio. Com produção de A<strong>na</strong> Alice de Morais e curadoria de Tatia<strong>na</strong><br />

Mo<strong>na</strong>ssa, terá como destaques Adeus, último filme de Mohammad Rasoulof, que aponta o exílio do Irã como a saída para encontrar a<br />

liberdade individual, e O círculo, de Jafar Pa<strong>na</strong>hi, que trata da prostituição f<strong>em</strong>ini<strong>na</strong>, abordando não ape<strong>na</strong>s um tabu como tratando<br />

frontalmente da situação da mulher <strong>na</strong> sociedade irania<strong>na</strong>. Ingressos a R$ 2 e R$ 1. Programação <strong>em</strong> www.caixacultural.com.br.<br />

Divulgação<br />

26<br />

cin<strong>em</strong>ahúngaro<br />

O termo Geração Praça Moscou foi utilizado<br />

pela crítica para definir o trabalho de um<br />

grupo de jovens cineastas que participaram<br />

do Festival de Cannes <strong>em</strong> 2010, ano <strong>em</strong> que<br />

houve forte representatividade do cin<strong>em</strong>a<br />

do húngaro. Suas obras têm circulado<br />

nos principais festivais inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is,<br />

apresentando um olhar característico da<br />

geração pós-comunista do Leste Europeu.<br />

Um dos filmes precursores desse movimento<br />

é Praça Moscou, sobre um grupo de<br />

adolescentes que vive <strong>em</strong> Budapeste <strong>em</strong> 1989,<br />

ano <strong>em</strong> que termi<strong>na</strong> a Guerra Fria e o país<br />

é libertado. Mais interessados <strong>em</strong> se divertir<br />

do que <strong>em</strong> política, eles pouco prestam<br />

atenção à nova fase da história do país que<br />

começa a ser escrita <strong>em</strong> volta deles. A chance<br />

de conhecer mais produções do cin<strong>em</strong>a<br />

cont<strong>em</strong>porâneo húngaro estará <strong>na</strong> mostra<br />

Geração Praça Moscou, que acontecerá no<br />

CCBB de 28 de maio a 9 de junho. Entrada<br />

franca, com senhas distribuídas a partir de<br />

uma hora antes de cada sessão. Programação<br />

<strong>em</strong> www.bb.com.br/cultura e também <strong>em</strong><br />

facebook.com/ccbb.brasília<br />

Divulgação<br />

patonolagodegelo<br />

Um hilariante, curioso e rico debate sobre<br />

as escolhas que faz<strong>em</strong>os, as frustrações<br />

adolescentes que carregamos por toda a vida<br />

e as boas posturas que pod<strong>em</strong> representar a<br />

centelha de luz a nos guiar <strong>na</strong>quilo que deve<br />

prevalecer: o amor. Assim se define a peça Pato<br />

no lago de gelo – o que você vai ser quando<br />

crescer?, uma livre adaptação dos livros<br />

O apanhador no campo de centeio e Vivendo<br />

no mundo dos espíritos, do prêmio Nobel de<br />

Literatura J.D. Salinger. Ence<strong>na</strong>do pelo grupo<br />

Teatro do Sim e dirigido por Carlos Fernírahk,<br />

a peça t<strong>em</strong> censura livre e entrada franca.<br />

Dias 30 e 31 de maio e 1º de junho no<br />

SESC Paulo Autran, <strong>em</strong> Taguatinga Norte.<br />

festivaldebrasília<br />

Até 21 de junho estão abertas as inscrições para o 46º Festival de<br />

Brasília do Cin<strong>em</strong>a Brasileiro. Os prêmios para as produções<br />

vencedoras totalizam R$ 700 mil, R$ 65 mil a mais do que no<br />

ano passado. O melhor filme receberá R$ 250 mil, o melhor<br />

diretor R$ 20 mil, o melhor ator R$ 10 mil, valor desti<strong>na</strong>do<br />

também à melhor atriz. Serão selecio<strong>na</strong>dos seis filmes de<br />

longa-metrag<strong>em</strong> de ficção, seis de documentário, seis curtasmetragens<br />

de ficção, seis de documentário e seis de animação,<br />

num total de 30 produções. Entre as ofici<strong>na</strong>s já confirmadas<br />

para o festival que se realiza <strong>em</strong> set<strong>em</strong>bro está a de roteiro,<br />

com o escritor, cineasta e roteirista José Roberto Torero; de<br />

direção, com o cineasta Jorge Bodanzky; de trilha sonora para<br />

cin<strong>em</strong>a, com o compositor, arranjador e professor David<br />

Tygel; e de fi<strong>na</strong>lização digital, com o montador e diretor<br />

Rubens Hirsch. As inscrições para as mostras competitivas<br />

poderão ser feitas <strong>em</strong> www.festbrasilia.com.br.<br />

Bruno Lehx


verso & prosa<br />

Livros<br />

entre cachoeiras<br />

Tradicio<strong>na</strong>l cidade de Pirenópolis<br />

realiza sua quinta festa literária<br />

Por Alexandre Marino<br />

Pirenópolis é conhecida pelas cachoeiras,<br />

pelo charme de suas ruas, pela<br />

simpatia de seu povo. Mas a cidade<br />

goia<strong>na</strong>, localizada a 150 quilômetros<br />

de Brasília e a 120 de Goiânia, quer mais.<br />

Para isso, de 27 de maio a 1º de junho<br />

abrirá suas portas para a literatura, realizando<br />

a quinta edição de um evento que<br />

enriquece ainda mais o calendário turístico<br />

local: a Festa Literária de Pirenópolis,<br />

ou simplesmente Flipiri. Promovida pelo<br />

Instituto Cultural Casa de Autores e pela<br />

prefeitura do município, sob coorde<strong>na</strong>ção<br />

de Íris Borges, a Flipiri deste ano terá<br />

como t<strong>em</strong>a Literatura e Imag<strong>em</strong>.<br />

A festa home<strong>na</strong>geará o ilustrador, capista<br />

e escritor Roger Mello e o artista<br />

plástico Pérsio Forzani, de Pirenópolis, e<br />

simultaneamente será realizado o I Encontro<br />

Flipiri de Ilustradores. Roger<br />

Mello, <strong>na</strong>scido <strong>em</strong> Brasília <strong>em</strong> 1965, vive<br />

no Rio de Janeiro e já ilustrou mais de<br />

100 livros. Recebeu importantes pr<strong>em</strong>iações<br />

<strong>em</strong> literatura e artes plásticas. Pérsio<br />

Forzani, 82 anos, pinta desde os oito<br />

anos e já produziu mais de três mil telas<br />

com a técnica arte <strong>na</strong>ïf, s<strong>em</strong>pre retratando<br />

a cidade.<br />

Na quinta-feira, dia 30, a festa literária<br />

se mistura à festa religiosa de Corpus<br />

Christi, quando as centenárias ruas da cidade<br />

são cobertas de tapetes feitos com<br />

serrag<strong>em</strong> e flores. Uma perfeita união<br />

entre literatura e imag<strong>em</strong>.<br />

Apesar de ser chamado de festa, o<br />

evento é coisa séria. Para começar, levará<br />

a arte literária a aproximadamente 5.500<br />

José Miguel Wisnik: boa conversa, poesia e música.<br />

Alessandra Fratus<br />

estudantes de todas as escolas do município,<br />

do jardim de infância ao ensino médio.<br />

Participarão as 11 escolas públicas e<br />

particulares da cidade e outras dez situadas<br />

nos povoados vizinhos e <strong>na</strong> zo<strong>na</strong> rural.<br />

A festa envolverá 260 professores e<br />

cerca de 5 mil visitantes, esperados principalmente<br />

entre os dias 30 de maio,<br />

quinta, e 1º de junho, sábado.<br />

O encerramento da festa contará<br />

com a presença do escritor, compositor e<br />

professor de literatura José Miguel Wisnik,<br />

que fará uma aula-show no Teatro<br />

de Pirenópolis, a partir das 20h30 do sábado.<br />

Wisnik, especialista <strong>na</strong> obra de<br />

Chico Buarque e autor de estudos importantes<br />

sobre escritores como Guimarães<br />

Rosa, Machado de Assis e Mário de<br />

Andrade, deve encantar a plateia com<br />

boa conversa, poesia e música.<br />

Antes disso, nos dias 28 e 29 de<br />

maio, a festa se realiza <strong>na</strong>s escolas, com a<br />

Itinerância, que promoverá 37 encontros<br />

entre escritores e leitores. Vinte escritores<br />

de Brasília, entre eles Lourenço Cazarré,<br />

Margarida Patriota, Alexandre Lobão,<br />

Clara Arreguy e Lucília Garcez, conversarão<br />

com os estudantes sobre suas<br />

obras. Seus livros já foram distribuídos<br />

<strong>na</strong>s escolas e quando eles chegar<strong>em</strong> os<br />

alunos já os terão lido, sob a orientação<br />

dos professores.<br />

“Desde o início, s<strong>em</strong>pre tiv<strong>em</strong>os a intenção<br />

de contribuir para que Pirenópolis<br />

se torne uma cidade de leitores”, diz a<br />

escritora e educadora Iris Borges. “Para<br />

isso, achamos importante levar a literatura<br />

às escolas, com o projeto Itinerância.<br />

Hoje, depois das várias edições, o resultado<br />

é visível. Até as perguntas que as<br />

crianças faz<strong>em</strong> durante os encontros<br />

com os autores são mais profundas e inteligentes”,<br />

observa.<br />

Assim, além de atrair visitantes a<br />

uma cidade que já t<strong>em</strong> no turismo seu<br />

ponto forte, a Flipiri oferece ao próprio<br />

povo da região, especialmente os estudantes<br />

de ensino médio, a oportunidade<br />

do contato com a literatura e os artistas<br />

que a faz<strong>em</strong>. Dessa forma, abre novos<br />

horizontes a uma comunidade já privilegiada<br />

pela <strong>na</strong>tureza.<br />

5ª Flipiri – Festa Literária de Pirenópolis<br />

De 27/5 1/6 <strong>em</strong> Pirenópolis, Goiás.<br />

27


Graves & Agudos<br />

Divulgação<br />

Cópia fiel<br />

28<br />

Por Heitor Menezes<br />

Nossa carência de Beatles é tão<br />

plausível que estamos s<strong>em</strong>pre à<br />

procura de algo que nos console<br />

e nos preencha. Basta que qualquer canção<br />

dos cabeludos de Liverpool toque<br />

aqui, ali e <strong>em</strong> qualquer lugar e será dada<br />

a senha de que tudo o que precisamos é<br />

amor etc.<br />

S<strong>em</strong>pre t<strong>em</strong> aqueles descrentes, para<br />

qu<strong>em</strong> os Beatles <strong>na</strong>da significam. Deix<strong>em</strong>os<br />

de lado essa gente s<strong>em</strong> alma. Vamos<br />

nos ater ao legado de John, Paul, George<br />

e Ringo, a mensag<strong>em</strong> superior de b<strong>em</strong>estar,<br />

de comunhão, paz e amor no sentido<br />

mais amplo, tudo o que precisamos.<br />

E se não t<strong>em</strong>os mais Beatles, e se Sir<br />

Paul McCartney é um cara que comeu<br />

pastel de gueroba <strong>em</strong> Goiânia, mas não<br />

provou o da Viçosa da Rodoviária, fiqu<strong>em</strong>os<br />

com as home<strong>na</strong>gens autênticas, como<br />

a dos argentinos The Beats, que se<br />

apresentam pela primeira vez <strong>em</strong> Brasília<br />

no sábado, 25, no Ópera Hall, ali pros<br />

lados da Vila Pla<strong>na</strong>lto.<br />

The Beats, ao que consta, é uma das<br />

melhores bandas cover dos Beatles do<br />

mundo. O detalhe do grupo formado<br />

por Patrício Perez (George Harrison),<br />

Diego Perez (John Lennon), Eloy<br />

Fernández (Paul McCartney), Martín<br />

Alvarez Pizzo (Ringo Starr) e o tecladista<br />

Esteban Za<strong>na</strong>rdi é o preciosismo da home<strong>na</strong>g<strong>em</strong><br />

que levam adiante desde 1987.<br />

Da música, fielmente arranjada e executada,<br />

passando pelos cabelos e figurinos,<br />

tudo t<strong>em</strong> aquele toque Beatle inconfundível,<br />

com o diferencial de estar sendo<br />

executado ao vivo e <strong>em</strong> cores.<br />

Na história do The Beats constam<br />

títulos como The best Beatle band in the<br />

world (precisa traduzir?), conferida <strong>em</strong><br />

1996 <strong>na</strong> convenção anual dos Beatles,<br />

de Londres e Liverpool. Elogios de gente<br />

que foi ligada ao quarteto origi<strong>na</strong>l,<br />

como Allan Williams, o primeiro ma<strong>na</strong>ger,<br />

e até George Martin, o mítico produtor<br />

e “quinto Beatle”. Gravações <strong>em</strong><br />

Abbey Road e turnês por onde passaram<br />

os origi<strong>na</strong>is completam a obsessão dos<br />

muchachos.<br />

The Beats, diz<strong>em</strong>, não são ape<strong>na</strong>s<br />

quatro (<strong>na</strong> verdade cinco) caras imitando<br />

os origi<strong>na</strong>is. Nas apresentações, os argentinos<br />

ence<strong>na</strong>m as diferentes fases do<br />

quarteto, trocando de instrumentos e<br />

roupas, tais quais os usados ao longo do<br />

período de existência Beatle, entre os<br />

anos de 1962 e 1970.<br />

Na Argenti<strong>na</strong>, The Beats já tocaram<br />

até <strong>em</strong> telhado, como os meninos origi<strong>na</strong>is<br />

fizeram <strong>na</strong> última apresentação<br />

documentada no filme Let it be (1970).<br />

Estranho, porém verdadeiro. Se o amigo<br />

leitor não se incomodar com a questão<br />

de clones e similitudes, é diversão garantida.<br />

Ou, como dizia Belchior, “agora ficou<br />

fácil, todo mundo compreende aquele<br />

toque Beatle I wan<strong>na</strong> hold your hand”.<br />

The Beats<br />

25/5, às 22h, no Ópera Hall (antigo Mari<strong>na</strong><br />

Hall, ao lado do Bay Park). Ingressos:<br />

mesa para até 6 pessoas, com open bar<br />

de água, refrigerante e cerveja, R$ 1.200;<br />

pista (meia), R$ 80 (à venda <strong>na</strong> Central<br />

de Ingressos do Brasília Shopping).<br />

Classificação indicativa: 16 anos.<br />

Mais informações: 8267.0949


O Yes de s<strong>em</strong>pre<br />

Por Heitor Menezes<br />

No t<strong>em</strong>po de Barrabás, qu<strong>em</strong> curtia<br />

Yes eram uns bichos cabeludos,<br />

invariavelmente envolvidos<br />

<strong>em</strong> algum tipo de delírio ca<strong>na</strong>biano. Pois<br />

foram-se os cabelos, cresceram as barrigas,<br />

mas permanec<strong>em</strong> o delírio e a certeza<br />

de que o rock progressivo – do qual o<br />

Yes é bastião – é gênero mais amado do<br />

que odiado, gol contra do punk rock que<br />

um dia pretendeu que o Pink Floyd e<br />

afins foss<strong>em</strong> para s<strong>em</strong>pre odiados, quiçá<br />

riscados da face da Terra.<br />

Dúvidas sobre o parágrafo acima? Então<br />

compareçam <strong>na</strong> noite de domingo,<br />

19 de maio, ao Ginásio Nilson Nelson,<br />

para test<strong>em</strong>unhar essa rara aparição dos<br />

lendários ingleses do Yes <strong>em</strong> nossas paragens.<br />

O grupo passa por aqui <strong>na</strong> fase sulamerica<strong>na</strong><br />

de sua turnê 2013, mostrando<br />

que segue firme e forte, apesar das lamentáveis<br />

ausências do vocalista Jon Anderson<br />

e do não menos notável tecladista<br />

Rick Wak<strong>em</strong>an, m<strong>em</strong>bros da formação<br />

clássica, a qual muitos acham que é o<br />

“verdadeiro” Yes.<br />

Liderados pelo baixista Chris Squire,<br />

o único presente <strong>em</strong> todas as formações<br />

ao longo de uma história de mais de 45<br />

anos de estrada, a <strong>na</strong>ve Yes chega trazendo<br />

a bordo o i<strong>na</strong>creditável guitarrista Steve<br />

Howe (um senhor nome à altura de um<br />

David Gilmour ou de um Jimmy Page)<br />

e o baterista Alan White (que tocou com<br />

John Lennon no disco Imagine). Completam<br />

a trupe o tecladista Geoff Downes,<br />

que retor<strong>na</strong> depois de 30 anos fazendo<br />

outras coisas, e o vocalista substituto, o<br />

novato Jon Davidson, este a grande novidade<br />

da atual encar<strong>na</strong>ção do Yes.<br />

E se não bastasse o Yes vir a Brasília<br />

pela primeira vez, o grupo avisa que <strong>na</strong> recente<br />

turnê vai tocar <strong>na</strong> íntegra três<br />

discos clássicos, a saber: os monumentais<br />

The Yes album (1971), Close to the edge<br />

(1972) e Going for the one (1977), todos<br />

da fase de ouro. É a chance de ficar <strong>em</strong>basbacado<br />

com as performances tridimencio<strong>na</strong>is<br />

de Starship trooper, Your move/<br />

I’ve seen all good people, And you and I, Siberian<br />

Khatru, Turn of the century, Parallels<br />

e Awaken.<br />

Para qu<strong>em</strong> se l<strong>em</strong>bra da banda ape<strong>na</strong>s<br />

da fase Rock In Rio I – de fato a de<br />

maior sucesso, mas n<strong>em</strong> por isso a de<br />

maior prestígio – é preciso avisar que faz<br />

um t<strong>em</strong>po que o Yes voltou a ser o Yes<br />

de todos os t<strong>em</strong>pos, ou seja, aquele do<br />

som clássico e não o dos sucessos radiofônicos,<br />

calcados no som eletrônico.<br />

Nesse sentido, o baixista Chris Squire<br />

merece aplausos, não só por ter permanecido<br />

firme ao longo de todos esses<br />

anos, mas por estar convicto de que a<br />

música do Yes precisa resistir ao t<strong>em</strong>po.<br />

Diferente de grupos que s<strong>em</strong>pre se apoiaram<br />

<strong>em</strong> m<strong>em</strong>bros fixos (caso do Pink<br />

Floyd), o Yes, ao longo de sua trajetória,<br />

s<strong>em</strong>pre mudou de formação, com músicos<br />

que entraram, saíram e voltaram.<br />

Squire previu que daqui a 200 anos a<br />

música do Yes permanecerá, óbvio, com<br />

novos m<strong>em</strong>bros e novas plateias.<br />

Enquanto isso, aproveit<strong>em</strong>os o que<br />

os velhinhos ainda têm a oferecer. São<br />

praticamente três horas de rock progressivo,<br />

momentos ideais e afirmativos para<br />

espantar as modorrentas e provincia<strong>na</strong>s<br />

noites de domingo desta capital.<br />

Spring Tour 2013 do Yes<br />

19/5, às 20h, no Ginásio Nilson Nelson.<br />

Ingressos (meia, primeiro lote): camarote e<br />

cadeira <strong>em</strong> frente ao palco, R$ 200; cadeira<br />

pr<strong>em</strong>ium, R$ 160; cadeira lateral, R$ 140:<br />

setor 1, R$ 100; setor superior, R$ 60<br />

(à venda <strong>na</strong> Central de Ingressos e Free<br />

Corner do Brasília Shopping e <strong>na</strong> FNAC<br />

do Parkshopping). Classificação indicativa:<br />

16 anos. Mais informações: 3364.0000.<br />

Fotos: Divulgação<br />

29


BRASILIENSE dE CORAÇÃO<br />

O rei da<br />

viola caipira<br />

30<br />

Por Vicente Sá<br />

FOTOS GADELHA NETO<br />

Ele é casado, mas é considerado o<br />

maior “violeiro solteiro” do Brasil.<br />

Pós-graduado <strong>em</strong> Física, é professor<br />

de viola caipira <strong>na</strong> Escola de Música.<br />

T<strong>em</strong> um jeitão meio tímido, mas vive <strong>em</strong><br />

cima de um palco a encantar plateias do<br />

mundo inteiro. Um poço de contradições?<br />

Não. Talvez uma estrada cheia de<br />

surpresas. Este é o brasiliense de coração<br />

da vez: Roberto Corrêa, um mineiro apaixo<strong>na</strong>do<br />

por Brasília e por viola caipira.<br />

Nascido <strong>em</strong> 1957, <strong>em</strong> Campi<strong>na</strong> Verde,<br />

Mi<strong>na</strong>s Gerais, primeiro de quatro filhos,<br />

Roberto herdou do pai fazendeiro<br />

o respeito pela terra e pela língua tupi<br />

que seu Avai falava <strong>em</strong> ocasiões especiais.<br />

Da mãe, Eleusa, funcionária da coletoria,<br />

a persistência que s<strong>em</strong>pre o ajudou<br />

<strong>na</strong>s muitas horas de estudo que teve<br />

<strong>na</strong> vida. Ainda menino, apaixonou-se pela<br />

música da bandinha da cidade e, <strong>na</strong><br />

ausência de um instrumento, subia no<br />

telhado de casa para tocar a mangueira<br />

de regar plantas como se fosse um trompete.<br />

Tirava um som tão bonito que um<br />

tio chamou o maestro para vê-lo tocar,<br />

mas a audição foi complicada pela timidez<br />

do garoto de oito anos, que exigiu<br />

que a plateia – àquela altura já acrescida<br />

de alguns curiosos – não pudesse vê-lo.<br />

Assim, sua primeira apresentação foi escondido<br />

<strong>em</strong> cima do telhado.<br />

Os tios eram muito presentes <strong>na</strong> vida<br />

das pessoas <strong>na</strong>quela época, pelo menos<br />

<strong>na</strong> de Roberto. Sua tia Nali, ao visitar a<br />

família, o encontrou tocando o violão da<br />

irmã e insistiu para que a mãe o colocasse<br />

para estudar o instrumento. E o pequeno<br />

Roberto teve a sorte de uma ótima iniciação<br />

musical com o seresteiro José da Conceição,<br />

que tinha acabado de voltar de<br />

São Paulo, depois de tentar a carreira artística<br />

e gravar dois LPs. Com as aulas,<br />

Roberto ganhou técnica, confiança e, da<br />

avó, um violão que o acompanhou por<br />

muitos anos. Por essa época, chega a<br />

Campi<strong>na</strong> Verde, de férias, um garoto<br />

bom de violão. Mais novo que Roberto,<br />

mas dono de uma técnica especial. “Ele<br />

tocava diferente de todo mundo que eu<br />

conhecia. Era outra forma, bonita de-


mais. Depois eu descobri que o que<br />

ele tocava era violão clássico. Esse<br />

menino era Ulisses Rocha, que viria<br />

a se tor<strong>na</strong>r um respeitadíssimo músico<br />

e professor de música da Unicamp”,<br />

conta Roberto.<br />

Somente aos 16 anos ele saiu de<br />

Campi<strong>na</strong> Verde para estudar <strong>em</strong> Belo<br />

Horizonte. Depois, de lá para Brasília.<br />

Aqui, passou no vestibular para Física,<br />

<strong>em</strong> 1976, morou numa pensão <strong>na</strong><br />

W3 Sul e travou relação com<br />

alunos de outros Estados, vivendo<br />

uma outra Brasília,<br />

feita só de estudantes e quase<br />

toda passada dentro da<br />

UnB. Por uma espécie de timidez<br />

conjunta, eles não<br />

participavam de quase<br />

<strong>na</strong>da que acontecia fora<br />

do campus. O grupo<br />

musical Olho D’Água,<br />

que Roberto e seus amigos<br />

criaram, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

só se apresentava <strong>na</strong><br />

UnB. “Eu não conheci o movimento<br />

Cabeças e outras coisas,<br />

só vivia para estudos e campus”, confessa<br />

Roberto, que tocava violão e viola.<br />

Embora ainda não as mostrasse <strong>em</strong> público,<br />

já começava a compor suas músicas.<br />

A paixão pelo violão clássico continuava<br />

e ele passou a ter aulas com professores<br />

da UnB e outros músicos conhecidos<br />

<strong>na</strong> capital, como Eustáquio Grillo.<br />

Paralelo a isso, continuava estudando Física,<br />

mas ape<strong>na</strong>s o suficiente para entender<br />

as matérias e passar de ano.<br />

Dois momentos marcaram a entrada<br />

definitiva de Roberto Corrêa no mundo<br />

da música. “A primeira foi um trailer<br />

que eu assisti, antes de um filme, que<br />

mostrava o Milton Nascimento cantando<br />

e tocando ao violão Milagre dos peixes.<br />

A outra foi o Caetano Veloso cantando,<br />

no Fantástico, também ao violão, a música<br />

Lua, lua, lua. Aquilo me encantou de<br />

tudo. A partir daí eu me entreguei à música<br />

popular brasileira, e a viola já vinha<br />

<strong>em</strong>butida nisso”, l<strong>em</strong>bra.<br />

Nessa época, d<strong>em</strong>onstrando ousadia,<br />

Roberto pede a alguns músicos mais veteranos,<br />

entre eles o maestro Jorge Antunes,<br />

que componham peças para viola. Mas, se<br />

a ousadia era grande, o cuidado com a<br />

qualidade também, e essas peças, que<br />

eram de dificílima execução, só foram gravadas<br />

por ele agora, 30 anos depois.<br />

Ao se formar <strong>em</strong> Física, Roberto fez<br />

licenciatura, depois música, <strong>na</strong><br />

UnB, e continuou estudando violão<br />

e viola, compondo e tocando.<br />

Mas, não satisfeito com a quantidade<br />

de trabalho, solicitou e ganhou do<br />

CNPq uma bolsa para pesquisar viola<br />

caipira. “Naquela época não havia <strong>na</strong>da<br />

escrito sobre viola caipira. Somente<br />

um livro de partituras, mais <strong>na</strong>da.<br />

Aí eu me <strong>em</strong>penhei mais ainda”, conta.<br />

O estudo foi publicado pela Musimed<br />

e Roberto começou a trilhar<br />

seu próprio caminho,<br />

agora também como estudioso<br />

da música brasileira.<br />

Fez seu primeiro show fora<br />

da UnB <strong>em</strong> 1983 no Teatro<br />

Galpão – que considera o<br />

início da sua profissio<strong>na</strong>lização<br />

como músico – e aí<br />

sua carreira realmente começou.<br />

Na mesma época<br />

conheceu Zé Mulato e<br />

Cassiano e fez uma troca<br />

importante, segundo Wolmi<br />

Batista, presidente do Clube<br />

do Violeiro Caipira e produtor<br />

da <strong>dupla</strong>. “Roberto Corrêa passou seu<br />

conhecimento teórico para os dois e eles<br />

passaram a caipirice para ele”, l<strong>em</strong>bra<br />

Wolmi, salientando a importância de<br />

Roberto para a difusão da viola: “Ele foi<br />

essencial para a história desse instrumento<br />

e até criou a primeira escola de viola<br />

caipira no Brasil, levando a viola para<br />

dentro das salas de aula. E eu tive a honra<br />

de ser um de seus alunos”.<br />

Sua carreira decolou e ele passou a fazer<br />

shows <strong>em</strong> todo o Brasil, com músicos<br />

de todas as tendências, sozinho e até mesmo<br />

como solista de orquestras, elevando<br />

a viola a uma posição de destaque no cenário<br />

musical brasileiro. Antes que se desse<br />

conta, Roberto Corrêa se tornou o melhor<br />

“violeiro solteiro” do Brasil, aquele<br />

que não toca <strong>em</strong> <strong>dupla</strong>, mas sozinho.<br />

Graças aos estudos e ao talento como<br />

instrumentista de viola, começaram a surgir<br />

grupos de estudos, gente nova querendo<br />

aprender a tocar o instrumento. E o<br />

número de orquestras de violas cresceu<br />

<strong>em</strong> todo o país. A carreira de Roberto<br />

Corrêa ficou, então, dividida entre os<br />

dois polos: o erudito e o popular, que ele<br />

une, sendo ele mesmo o elo. Faz shows,<br />

grava discos, é t<strong>em</strong>a de filmes, produz e dirige<br />

filmes, tudo s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> torno da viola.<br />

Hoje é o principal nome do instrumento<br />

no Brasil e no exterior, já tendo feito<br />

mais de 30 shows <strong>em</strong> diversos países, s<strong>em</strong>pre<br />

com suas violas caipira e de cocho.<br />

Pai de dois filhos, Nara e Ramiro, casado<br />

com Julia<strong>na</strong>, que trabalha como sua<br />

assessora de imprensa, Roberto é um hom<strong>em</strong><br />

apaixo<strong>na</strong>do por Brasília, que t<strong>em</strong><br />

<strong>na</strong> Água Mineral seu recanto de meditação<br />

e encontro. Pouco afeito à noite,<br />

quase não sai de casa, vive estudando e<br />

prepara, para o segundo s<strong>em</strong>estre, o lançamento<br />

do CD com as gravações que<br />

ele encomendou há 30 anos e agora pode<br />

executar com maestria.<br />

Resta-nos esperar com os ouvidos<br />

atentos e a paciência de qu<strong>em</strong> afi<strong>na</strong> uma<br />

viola pelo show de lançamento, ainda<br />

s<strong>em</strong> data e local.<br />

31


diário de viag<strong>em</strong><br />

Paraíso nevado<br />

Gamla Stan, o<br />

centro antigo<br />

de Estocolmo.<br />

32<br />

Texto e fotos Cláudio Ferreira<br />

A<br />

Escandinávia não é um roteiro<br />

turístico muito comum entre os<br />

brasileiros. No inverno, as t<strong>em</strong>peraturas<br />

abaixo de zero assustam. No<br />

verão, a preferência é pelas metrópoles<br />

europeias ou norte-america<strong>na</strong>s – ou então<br />

os destinos mais exóticos, principalmente<br />

<strong>na</strong> Ásia. Mas vale a pe<strong>na</strong> prestar<br />

atenção nessa península que é a última<br />

escala antes do Polo Norte. A beleza das<br />

paisagens, a calma das cidades e a sensação<br />

de que tudo funcio<strong>na</strong> perfeitamente<br />

pod<strong>em</strong> proporcio<strong>na</strong>r surpresas a qu<strong>em</strong><br />

não se arrisca a sair do circuito padrão.<br />

Minha aventura foi no inverno, com<br />

as cidades cobertas de neve. O frio não<br />

impede os passeios ao ar livre – é só, de<br />

vez <strong>em</strong> quando, entrar <strong>em</strong> um café para<br />

tomar algo quente. Vale prestar atenção<br />

<strong>na</strong>s calçadas para não escorregar no gelo<br />

acumulado. Vale também l<strong>em</strong>brar que,<br />

nessa época, os dias são mais curtos: <strong>em</strong><br />

janeiro, 17h é noite fechada; <strong>em</strong> março,<br />

o escuro só começa às 18h30. Muitas<br />

atrações turísticas, como passeios de barco<br />

e até museus, funcio<strong>na</strong>m preferencialmente<br />

de maio a outubro. Mas o inverno<br />

t<strong>em</strong> uma cor especial, rios e mares congelados,<br />

dias ensolarados que escond<strong>em</strong><br />

ventos frios e paisagens que nunca ver<strong>em</strong>os<br />

por aqui.<br />

Suécia<br />

A Suécia é a melhor porta de entrada,<br />

já que Estocolmo, a capital, se considera<br />

a capital também da região. Não há<br />

Drottningholm Palace and Theater, <strong>em</strong> Estocolmo.<br />

voos diretos da Escandinávia para o Brasil,<br />

mas é possível escolher uma companhia<br />

aérea que faça só uma escala antes<br />

de chegar a Estocolmo. A cidade n<strong>em</strong> parece<br />

ter o milhão de habitantes que está<br />

registrado nos números oficiais – é uma<br />

metrópole tranquila, com trânsito civilizado<br />

e transporte público eficiente. Mesmo<br />

a área central não t<strong>em</strong> paredões de


arranha-céus e calçadões tumultuados.<br />

Nos bairros mais residenciais, a tranquilidade<br />

é ainda maior. Dá para conhecer<br />

quase todos os pontos turísticos a pé.<br />

Quando não dá, o metrô é o meio de<br />

transporte mais eficiente.<br />

Gamla Stan, o centro velho de Estocolmo,<br />

é a parte mais charmosa da cidade.<br />

Vale uma tarde de fotos da arquitetura<br />

peculiar e o percurso às lojas de souvenirs.<br />

O Museu Nobel fica numa praça<br />

movimentada, mas é uma decepção: só<br />

paineis com explicações sobre todos os<br />

ganhadores do prêmio. Se você não for<br />

preconceituoso, entre numa chocolateria<br />

gay que t<strong>em</strong> <strong>na</strong> praça e que, segundo os<br />

guias turísticos, serve o melhor chocolate<br />

quente da cidade. O melhor não sei, mas<br />

um dos maiores, com certeza.<br />

Entrar e sair de igrejas é um esporte<br />

muito saudável <strong>em</strong> Estocolmo. Na Escandinávia,<br />

a religião predomi<strong>na</strong>nte é a lutera<strong>na</strong>.<br />

As igrejas são maravilhosas e cada<br />

uma t<strong>em</strong> pelo menos um órgão de tubo<br />

– muitas têm dois, um menor, <strong>na</strong> frente<br />

e um gigantesco, no fundo. São joias da<br />

arquitetura no meio da cidade moder<strong>na</strong>.<br />

Alguns passeios merec<strong>em</strong> preferência.<br />

O Museu Skansen é a céu aberto e retrata<br />

a vida <strong>na</strong> Suécia <strong>em</strong> várias épocas. O<br />

Vasamuseet é impressio<strong>na</strong>nte: um museu<br />

que abriga um barco do Século XVII. O<br />

transporte público pode levar ao Drottningholm<br />

Palace and Theater, um palácio<br />

de arquitetura inigualável e um jardim<br />

gigante – que, fora do inverno, deve<br />

ter seus encantos mais b<strong>em</strong> revelados.<br />

Procure não ficar só <strong>na</strong>s capitais: o interior<br />

da Suécia, da Noruega e da Finlândia<br />

guarda tesouros atraentes. Uppsala,<br />

por ex<strong>em</strong>plo, é uma cidade universitária<br />

a 40 minutos de tr<strong>em</strong> de Estocolmo. A<br />

viag<strong>em</strong> é linda e a cidade muito interessante,<br />

porque, além da universidade, t<strong>em</strong><br />

uma casa-museu dedicada ao Linneu.<br />

Não, não se trata do patriarca do seriado<br />

A grande família, mas do zoólogo e botânico<br />

que se destacou por criar um sist<strong>em</strong>a<br />

de classificação científica dos seres vivos.<br />

Noruega<br />

O povo sueco é amistoso, mas reservado.<br />

Já os noruegueses são mais barulhentos,<br />

falam alto, dão gargalhadas. Aqui há<br />

também várias cidades bonitas para se conhecer,<br />

além da capital, Oslo. Bergen, a<br />

capital dos fiordes, é um destino tentador,<br />

mesmo que os passeios aos maiores fiordes<br />

sejam interditados no inverno.<br />

Mercado de peixe <strong>em</strong> Bergen.<br />

Vigeland's Park, <strong>em</strong> Oslo.<br />

A combi<strong>na</strong>ção mar recortado + frio<br />

parece incomum a um brasileiro. Mar e<br />

sol nos l<strong>em</strong>bram muito mais o verão.<br />

Aos europeus também, e eles lotam Bergen<br />

nos meses mais quentes. Os turistas<br />

se admiram com as casas g<strong>em</strong>i<strong>na</strong>das <strong>em</strong><br />

cores vibrantes, com os calçadões à beiramar<br />

e com o Fløibanen, o teleférico de<br />

onde se pode ver todo o relevo montanhoso<br />

do local.<br />

Em Bergen, os amantes da música erudita<br />

têm a chance de conhecer a terra de<br />

Edward Grieg, o mais importante compositor<br />

norueguês (1843-1907), e o enorme<br />

espaço cultural dedicado a ele. Os amantes<br />

da comida do mar têm um mercado à<br />

disposição, com peixes e crustáceos de<br />

aparência atraente e tamanhos variados.<br />

Foi nesse mercado que derrapei no politicamente<br />

correto, ao aceitar um triângulo<br />

pequeno de uma carne escura, que era<br />

baleia defumada. Não valeu a pe<strong>na</strong>.<br />

Passeios de barco são uma boa pedida<br />

para aproveitar as belas paisagens. Se<br />

você quiser esquecer o mundo globalizado,<br />

vá a uma cidadezinha peque<strong>na</strong> como<br />

Rosendal, onde não há pressa para <strong>na</strong>da<br />

e todo mundo é gentil, como acontece<br />

frequent<strong>em</strong>ente <strong>na</strong>s nossas cidades do<br />

interior. De quebra, pão feito <strong>na</strong> hora e<br />

camarões frescos.<br />

A capital norueguesa do país é menor<br />

do que Estocolmo, mas igualmente charmosa.<br />

Da área central, vale a pe<strong>na</strong> descer<br />

a Avenida Karl Johans, que é um calçadão<br />

de pedestres até certo ponto e uma<br />

rua larga depois. De dia e à noite, é o<br />

ponto de encontro da cidade. A pé, dá<br />

para chegar até o porto, passear, parar<br />

nos cafés e ver o prédio onde é entregue<br />

33


diário de viag<strong>em</strong><br />

34<br />

o Prêmio Nobel da Paz (o único que não<br />

é <strong>em</strong> Estocolmo). Também à beira-mar<br />

fica o prédio da Ópera, uma construção<br />

intrigante que vale ser vista n<strong>em</strong> que seja<br />

só por fora.<br />

Gosta de museus? O dedicado ao<br />

pintor expressionista Edward Munch<br />

(1863-1944), autor do famoso O grito, é<br />

visita obrigatória. Mas obras importantes<br />

do artista também ocupam uma sala do<br />

Museu Nacio<strong>na</strong>l. Gosta de arte ao ar livre?<br />

O Vigeland’s Park é impressio<strong>na</strong>nte.<br />

As esculturas de Gustav Vigeland (1869-<br />

1943)estão espalhadas por esse parque,<br />

nus masculinos e f<strong>em</strong>ininos, de crianças,<br />

jovens e velhos.<br />

No inverno, uma dica é conhecer<br />

Holmenkollen, uma pista de esqui gigante.<br />

A viag<strong>em</strong> de metrô (nessa área é <strong>na</strong><br />

superfície) já vale o passeio. O lugar impressio<strong>na</strong><br />

pelas dimensões da rampa, a<br />

altura da pista e a visão das arquibancadas,<br />

que ench<strong>em</strong> <strong>em</strong> dias de competição.<br />

E a qualquer momento qu<strong>em</strong> gosta de<br />

teatro deve passar pelo museu do dramaturgo<br />

Henrik Ibsen (1828-1906), autor<br />

de Casa de bonecas: além de um acervo<br />

muito b<strong>em</strong> cuidado, t<strong>em</strong> o apartamento<br />

do teatrólogo, cuja decoração reproduz<br />

fielmente a origi<strong>na</strong>l.<br />

O segredo é não se deixar limitar somente<br />

pelos pontos turísticos. Cada esqui<strong>na</strong><br />

t<strong>em</strong> um prédio diferente, um restaurante<br />

atraente – eu, por ex<strong>em</strong>plo, provei<br />

comida india<strong>na</strong> <strong>em</strong> Oslo. Escolha entre<br />

ônibus, metrô e bonde para percorrer<br />

a cidade: é possível esquecer, por alguns<br />

dias, nossa dependência do carro.<br />

Finlândia<br />

À primeira vista, parece o mais exótico<br />

dos três países, mas o exotismo para<br />

no idioma cheio de vogais repetidas e que<br />

não se parece com o sueco ou o norueguês.<br />

A capital, Helsinque, repete o binômio<br />

frio-mar com muito charme. O porto<br />

é também um ponto turístico a se conhecer,<br />

com feirinhas de artesa<strong>na</strong>to e<br />

prédios antigos.<br />

Atenção especial deve ser dada às igrejas.<br />

Em épocas como a S<strong>em</strong>a<strong>na</strong> Santa, a<br />

programação musical – corais, orquestras<br />

de câmara etc. – é de dar inveja. A catedral<br />

lutera<strong>na</strong> é majestosa. A catedral ortodoxa,<br />

plantada <strong>em</strong> cima de uma grande<br />

pedra, impressio<strong>na</strong>. Outra igreja lutera<strong>na</strong><br />

fica dentro de uma pedra, com um teto<br />

que aproveita a luz solar e folhetos de boas<br />

vindas <strong>em</strong> mais de 40 línguas.<br />

Área central de Helsinque.<br />

Pista de pati<strong>na</strong>ção no centro de Helsinque.<br />

Comércio movimentado e o trinômio<br />

metrô-ônibus-bonde tor<strong>na</strong>m tudo<br />

mais agradável. Re<strong>na</strong>s e o Papai Noel estão<br />

s<strong>em</strong>pre presentes <strong>na</strong>s lojas de l<strong>em</strong>brancinhas.<br />

Quer provar um pouco da<br />

cultura viking, mesmo que seja fake? O<br />

restaurante Harald, no centro da cidade,<br />

t<strong>em</strong> garçons e garçonetes vestidos a caráter<br />

e a comida é servida <strong>em</strong> pratos de ferro<br />

(com a bebida <strong>em</strong> canecas).<br />

A comida, aliás, é outro fator que<br />

une os três países. Destaque para o que<br />

v<strong>em</strong> do mar: salmão e camarão <strong>em</strong> deze<strong>na</strong>s<br />

de modalidades. As cervejas locais<br />

também merec<strong>em</strong> ser degustadas. Há<br />

itens para paladares exóticos: além da baleia,<br />

também a re<strong>na</strong> está nos cardápios,<br />

mas a imag<strong>em</strong> do trenó de Papai Noel<br />

me é mais forte do que qualquer apetite<br />

para exotismos.<br />

Para sair da cidade grande, uma das<br />

alter<strong>na</strong>tivas é Turku, uma antiga capital<br />

do país que já foi território da Suécia e<br />

da Rússia. Rua comercial com vitrines<br />

tentadoras e cafés com bebida quente<br />

são atrações garantidas. É <strong>em</strong> Turku que<br />

o visitante vai encontrar um museu<br />

curioso, dedicado ao compositor clássico<br />

Jean Sibelius (1865-1957), um patrimônio<br />

da Finlândia. Além da ala dedicada à<br />

vida do músico, há uma exposição permanente<br />

de instrumentos do mundo todo,<br />

que guarda, inclusive, uma cuíca.<br />

Enfim, esqueça os estereótipos que<br />

nos distanciam dos nórdicos. Frio, <strong>na</strong> Escandinávia,<br />

é só o clima. Os finlandeses,<br />

por ex<strong>em</strong>plo, são muito prestativos: não<br />

abri um mapa <strong>na</strong> viag<strong>em</strong> s<strong>em</strong> que alguém<br />

viesse, espontaneamente, oferecer ajuda.<br />

E a palavra mágica, nos três países, é brasileiro:<br />

basta revelar nossa orig<strong>em</strong> e ganhamos<br />

um sorriso, perguntas pertinentes<br />

(s<strong>em</strong> os estereótipos) e um convite para<br />

explorar melhor esse paraíso nevado.


avenida das <strong>na</strong>ções<br />

Celebração <strong>em</strong> azul e branco<br />

Eventos culturais apresentam ao brasiliense um pouco da cultura<br />

da Argenti<strong>na</strong> no mês <strong>em</strong> que o país celebra sua data <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l<br />

A<br />

proximidade entre Brasil e Argenti<strong>na</strong><br />

é inversamente proporcio<strong>na</strong>l<br />

à intensidade do intercâmbio<br />

cultural entre as duas <strong>na</strong>ções.<br />

Mas o interessado <strong>em</strong> conhecer mais sobre<br />

o país vizinho terá a oportunidade,<br />

até o começo de junho, de conferir uma<br />

vasta programação gratuita que mostrará<br />

ao brasiliense parte da produção argenti<strong>na</strong><br />

de artes plásticas, cin<strong>em</strong>a, fotografia e<br />

literatura.<br />

Realizada pela Embaixada da Argenti<strong>na</strong><br />

como parte da com<strong>em</strong>oração da data<br />

<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l do país (25 de maio), a série de<br />

eventos Cultura azul e branca estreou <strong>em</strong><br />

10 de abril com as exposições Tondos (gravuras<br />

de Carlos Pampara<strong>na</strong>), no foyer da<br />

Sala Villa-Lobos, e Brasil/Argenti<strong>na</strong>/Gráfica<br />

(140 gravuras de artistas brasileiros e<br />

argentinos), <strong>na</strong> Sala Rubens Valentin do<br />

Espaço Cultural Re<strong>na</strong>to Russo (508 Sul).<br />

Conceituada artista plástica argenti<strong>na</strong>,<br />

reconhecida por combi<strong>na</strong>r arte e m<strong>em</strong>ória,<br />

Vivia<strong>na</strong> Poneiman esteve <strong>em</strong> Brasília<br />

especialmente para montar a instalação<br />

Brasília: Ponte da m<strong>em</strong>ória – Escrito <strong>na</strong>s<br />

águas, que ocupa a fachada da Embaixada<br />

da Argenti<strong>na</strong> desde 30 de abril. Essa<br />

intervenção artística é uma releitura dos<br />

siluetazos, protesto artístico e político<br />

ocorrido <strong>em</strong> 1983, no fi<strong>na</strong>l da ditadura<br />

militar, <strong>na</strong> qual milhares de silhuetas, representando<br />

os desaparecidos políticos,<br />

Daniel Garcia<br />

Suando frio, de Adriano Garcia Bogliano, está <strong>na</strong> mostra cin<strong>em</strong>atográfica Argenti<strong>na</strong> Shock-Vermelho.<br />

de Carlos Hugo Christensen, e longas<br />

cont<strong>em</strong>porâneos, caso de Perdido por perdido<br />

(1993), de Alberto Lecchi, e Suando<br />

frio (2011), de Adrián García Bogliano, a<br />

mostra será exibida <strong>na</strong> Sala Multimídia<br />

da Caixa Cultural (Setor Bancário Sul)<br />

entre 28 de maio e 9 de junho. Os filmes<br />

têm classificação indicativa 18 anos.<br />

A programação completa da série Cultura<br />

azul e branca pode ser conferida <strong>em</strong><br />

www.facebook.com/<strong>em</strong>baixadaargenti<strong>na</strong>.<br />

foram espalhadas por Buenos Aires.<br />

Também <strong>na</strong> <strong>em</strong>baixada o visitante<br />

poderá conferir uma exposição fotográfica<br />

que com<strong>em</strong>ora os 35 anos das Avós da<br />

Praça de Maio, grupo de mulheres argenti<strong>na</strong>s<br />

que lutam para encontrar seus netos,<br />

sequestrados <strong>na</strong> última ditadura militar<br />

do país. Os eventos <strong>na</strong> <strong>em</strong>baixada<br />

segu<strong>em</strong> até 19 de maio.<br />

As primeiras décadas do século 20 foram<br />

profícuas no avanço das linguagens e<br />

do fazer artístico <strong>em</strong> diversas áreas. A Argenti<strong>na</strong><br />

não ficou longe dessa influência.<br />

O reflexo disso <strong>na</strong> produção literária do<br />

país é o t<strong>em</strong>a da exposição Vanguardas literárias<br />

argenti<strong>na</strong>s: 1920-1940, que apresenta<br />

fotos de época, documentos, primeiras<br />

edições de livros, gravuras e outros itens<br />

que ajudam a apresentar esse rico período<br />

criativo. A exposição ocupa o Museu<br />

Nacio<strong>na</strong>l da República até 29 de maio.<br />

Pouco conhecida no Brasil, a produção<br />

argenti<strong>na</strong> de filmes policiais é o t<strong>em</strong>a<br />

da mostra Argenti<strong>na</strong> Shock-Vermelho.<br />

Com clássicos do cin<strong>em</strong>a noir rio-platense,<br />

como Captura recomendada (1950), de<br />

Clara Jurado, uma das avós da Praça de Maio. Don Napy, Nunca abras essa porta (1952), A famosa Calle Florida, de Buenos Aires, <strong>em</strong> 1925.<br />

Divulgação<br />

Divulgação<br />

35


luz câmera ação<br />

O faroeste<br />

de René<br />

Segundo longa-metrag<strong>em</strong> a estrear este mês inspirado no<br />

legado musical de Re<strong>na</strong>to Russo t<strong>em</strong> como desafio criar <strong>em</strong><br />

imagens uma das mais conhecidas músicas do rock brasileiro<br />

36<br />

Por Pedro Brandt<br />

O<br />

punk rock mudou a vida de Re<strong>na</strong>to<br />

Russo, mas a discoteca do<br />

vocalista da Legião Urba<strong>na</strong><br />

s<strong>em</strong>pre foi eclética. Alguns de seus ídolos<br />

<strong>na</strong> música passavam longe das guitarras<br />

distorcidas do punk – eram músicos<br />

de uma geração anterior, que fez a própria<br />

revolução com violões dedilhados e<br />

melodias harmoniosas. O folk rock representou<br />

para a juventude do fi<strong>na</strong>l dos<br />

anos 60 o mesmo que o punk para a garotada<br />

de uma década depois. E Re<strong>na</strong>to<br />

curtiu os dois estilos s<strong>em</strong> distinção, tanto<br />

que interpretou – com a Legião ou solo<br />

– músicas de Neil Young, Joni Mitchell<br />

e Bob Dylan.<br />

Foi sob a influência deste último que<br />

Re<strong>na</strong>to compôs, <strong>em</strong> 1979, uma de suas<br />

canções mais <strong>em</strong>bl<strong>em</strong>áticas: Faroeste caboclo.<br />

A ex<strong>em</strong>plo de Hurricane, <strong>na</strong> qual<br />

Dylan conta ao longo de oito minutos a<br />

história de um boxeador acusado injustamente<br />

de assassi<strong>na</strong>to, Re<strong>na</strong>to <strong>na</strong>rra a vi-<br />

da e a morte de João de Santo Cristo, os<br />

altos e baixos do perso<strong>na</strong>g<strong>em</strong>, seus amores<br />

e inimigos.<br />

A música, gravada pela Legião <strong>em</strong><br />

1987 (para o LP Que país é este), foi um<br />

estrondoso e inusitado sucesso, com seus<br />

mais de 150 versos distribuídos <strong>em</strong> nove<br />

minutos de duração. Qu<strong>em</strong> ouviu a canção<br />

sabe: está ali um roteiro de cin<strong>em</strong>a<br />

pronto para ser filmado. O então adolescente<br />

René Sampaio foi um dos que se<br />

apaixo<strong>na</strong>ram pelo enredo criado por<br />

Re<strong>na</strong>to Russo. Quase 20 anos depois,<br />

Faroeste caboclo tornou-se o projeto do<br />

primeiro longa-metrag<strong>em</strong> desse cineasta<br />

brasiliense de 38 anos conhecido pelo<br />

trabalho com publicidade e com curtasmetragens<br />

(entre eles, Sinistro, ganhador<br />

de sete prêmios no Festival de Brasília<br />

<strong>em</strong> 2000). O diretor também passou por<br />

uma saga particular para conseguir dar<br />

vida a Jer<strong>em</strong>ias, Maria Lúcia e João de<br />

Santo Cristo. Mas, resolvidas as questões<br />

de direitos autorais, o longa-metrag<strong>em</strong><br />

começou a ser rodado <strong>em</strong> 2011.<br />

Faroeste caboclo chega ao circuito comercial<br />

no próximo dia 30. Orçado <strong>em</strong><br />

R$ 6 milhões, o filme t<strong>em</strong> Ísis Valverde<br />

como Maria Lúcia, Fabrício Boliveira como<br />

João de Santo Cristo e Felipe Abib<br />

como Jer<strong>em</strong>ias. Antônio Calloni e Marcos<br />

Paulo (falecido <strong>em</strong> nov<strong>em</strong>bro do<br />

ano passado) também estão no elenco.<br />

Faroeste caboclo estreia no mesmo mês<br />

que Somos tão jovens, cinebiografia que<br />

conta a adolescência de Re<strong>na</strong>to Russo<br />

(leia comentário de Sérgio Moriconi a<br />

partir da pági<strong>na</strong> 39).<br />

Levando <strong>em</strong> consideração que a Legião<br />

continua uma das mais populares<br />

bandas brasileiras, é possível imagi<strong>na</strong>r<br />

um grande público interessado <strong>na</strong> estreia<br />

de René <strong>na</strong> direção de longas-metragens.<br />

A curiosidade, paradoxalmente, parte<br />

principalmente do fato de a trama ser conhecida,<br />

do início ao fim, de milhares de<br />

brasileiros. Como lidar com o desafio de<br />

transformar a letra de Re<strong>na</strong>to Russo <strong>em</strong><br />

imagens é um dos assuntos que o diretor<br />

comenta nesta entrevista à <strong>Roteiro</strong>.


Como era sua relação com a música da<br />

Legião <strong>na</strong> adolescência? Chegou a ir <strong>em</strong><br />

algum show da banda? Por acaso você<br />

foi ao fatídico show de 1988 no Mané<br />

Garrincha?<br />

Conheci a Legião com o disco Dois, <strong>em</strong><br />

1986, quando tinha 12 anos. Quando<br />

ouvi Faroeste, tinha uns 13 anos e foi minha<br />

música predileta do LP Que país é este.<br />

Sonhei imediatamente <strong>em</strong> fazer esse<br />

filme e, anos depois, estamos aqui falando<br />

sobre o assunto. Não fui ao show de<br />

1988. Era uma noite fria e eu estava trabalhando<br />

numa barraca de festa juni<strong>na</strong><br />

do colégio, tomando um chocolate quente<br />

e pensando “putz, deve estar massa<br />

lá”. De repente, alguns amigos que foram<br />

voltaram super assustados e contaram<br />

o que tinha acontecido. A Legião<br />

nunca mais voltou a tocar <strong>em</strong> Brasília.<br />

Eu tive que ir a Santos, anos depois, pra<br />

conseguir ver um show da banda. Aliás,<br />

foi o último show deles.<br />

Como foi equilibrar inovação e fidelidade<br />

no caso de uma canção tão conhecida?<br />

A trilha (feita por Philippe Seabra, da<br />

Plebe Rude) e o filme são origi<strong>na</strong>is como<br />

dev<strong>em</strong> ser obras artísticas. Principalmente<br />

nesse caso, <strong>em</strong> que se trata de um filme<br />

inspirado numa obra de um dos mais<br />

autênticos e inventivos autores da música<br />

brasileira. Faroeste caboclo dura nove<br />

minutos e respeita a métrica. O filme<br />

t<strong>em</strong> quase duas horas e respeita o drama.<br />

Acho que qu<strong>em</strong> for ver o filme vai perceber<br />

que t<strong>em</strong>os nele os principais eventos,<br />

a essência e os sentimentos que a música<br />

desperta. Faroeste caboclo – o filme – é uma<br />

obra de ficção, e não um clipe da música.<br />

Você acha que Brasília t<strong>em</strong> sido b<strong>em</strong><br />

apresentada no cin<strong>em</strong>a nos últimos<br />

anos? Acredita que a Brasília do seu filme<br />

é uma Brasília que ainda não apareceu<br />

<strong>na</strong> tela de cin<strong>em</strong>a?<br />

Acho que o Belmonte, o Mauro Giuntini,<br />

o Vladimir Carvalho, entre tantos<br />

outros diretores da cidade, já fizeram excelentes<br />

obras que nos orgulham muito<br />

como brasilienses. Cada um a seu modo<br />

representa b<strong>em</strong> a capital. Vejo também o<br />

florescimento de novos talentos como<br />

Denilson Félix e Iberê Carvalho. Este último<br />

vai rodar um longa interessantíssimo<br />

sobre o Cine Drive-In que também<br />

é mais um olhar particular sobre a cidade.<br />

T<strong>em</strong>os um cin<strong>em</strong>a local forte, com<br />

um jeito de olhar a realidade que vai<br />

O diretor Renê<br />

Sampaio <strong>em</strong> ação:<br />

acima, ao lado da<br />

atriz Ísis Valverde,<br />

que faz o papel da<br />

principal perso<strong>na</strong>g<strong>em</strong><br />

f<strong>em</strong>ini<strong>na</strong> do filme,<br />

Maria Lúcia; abaixo,<br />

com Fabrício Boliveira,<br />

intérprete de João<br />

de Santo Cristo.<br />

Fotos: Hugo Santarém<br />

37


luz câmera ação<br />

Fotos: Hugo Santarém<br />

além dos cartões postais e – <strong>em</strong> particular<br />

no nosso caso – além do noticiário político<br />

que <strong>em</strong> geral nos envergonha. Então,<br />

Faroeste caboclo é singular, pois é o meu<br />

recorte, mas certamente não sou o único<br />

que busca um outro olhar sobre Brasília.<br />

É muito importante que as pessoas vejam<br />

o filme logo <strong>na</strong> primeira s<strong>em</strong>a<strong>na</strong>, a partir<br />

de 30 de maio, para que tenhamos possibilidade<br />

de ficar mais t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> cartaz.<br />

Qual o sotaque de Faroeste caboclo? Você<br />

acredita num sotaque brasiliense?<br />

Acredito muito num sotaque brasiliense.<br />

Diz<strong>em</strong> que t<strong>em</strong>os um sotaque limpo,<br />

mas sinto <strong>na</strong>s ruas um jeito de falar e<br />

uma melodia que mescla os sons de diversas<br />

partes do Brasil. Talvez seja mais<br />

fácil identificar as raízes goia<strong>na</strong>s, cariocas<br />

e nordesti<strong>na</strong>s – cada uma <strong>em</strong> diferentes<br />

intensidades e nuances. Porém, no fi<strong>na</strong>l<br />

dos anos 70 e início dos 80 não era assim.<br />

Fora as crianças, quase todos eram<br />

de outros Estados. Mesmo hoje se escu-<br />

tam diversos termos e sons tipicamente<br />

regio<strong>na</strong>is numa mesa de bar <strong>em</strong> Brasília,<br />

pois as pessoas chegam de todas as partes<br />

pra morar aqui. Faroeste, então, faz uma<br />

boa mescla de sotaques, com as particularidades<br />

de cada perso<strong>na</strong>g<strong>em</strong>, s<strong>em</strong>pre<br />

com uma pitada dessa melodia e termos<br />

candangos <strong>na</strong>s vozes do filme.<br />

Você já pensa num próximo projeto<br />

cin<strong>em</strong>atográfico?<br />

No cin<strong>em</strong>a, estou desenvolvendo um<br />

drama, uma comédia, além de uma história<br />

que t<strong>em</strong> como pano de fundo a<br />

Guerrilha do Araguaia. Em breve vamos<br />

ter novidades para anunciar. As minhas<br />

produtoras, Fulano Filmes e Fogo Cerrado<br />

Filmes, estão também desenvolvendo<br />

séries pra TV. Quero, além de dirigir o<br />

próximo longa, produzir outros diretores<br />

e conteúdos. Estamos abrindo frentes<br />

tanto no cin<strong>em</strong>a quanto <strong>na</strong> televisão,<br />

além de algumas importantes parcerias<br />

inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is. Sou também diretor de<br />

comerciais e estou focado <strong>em</strong> filmes que<br />

cont<strong>em</strong> histórias, que sejam visuais e que<br />

tenham <strong>em</strong>oções e humor com perso<strong>na</strong>lidade.<br />

Não costumo falar sobre mim.<br />

Acho que é mais interessante falar sobre<br />

os outros. Por isso faço filmes. Gosto da<br />

história que o outro t<strong>em</strong> pra contar, dos<br />

segredos, dos casos que ouço <strong>na</strong> rua. É isso<br />

que me move. Gosto do bom cin<strong>em</strong>a,<br />

daquele que mexe com as <strong>em</strong>oções ou<br />

com a razão, mas de maneira profunda e<br />

impactante. Por outro lado, também sei<br />

me divertir com filmes menos elaborados<br />

que ape<strong>na</strong>s se propõ<strong>em</strong> a divertir.<br />

Vou numa boa do comercial ao autoral.<br />

Faroeste caboclo<br />

Brasil/2013, 100min. Direção: René<br />

Sampaio. <strong>Roteiro</strong>: Marcos Bernstein e<br />

Victor Atherino. Com Fabrício Boliveira,<br />

Ísis Valverde, Felipe Abib, Antonio Calloni,<br />

César Trancoso, Marcos Paulo, Flávio<br />

Bauraqui, Lica Oliveira , Ci<strong>na</strong>ra Leal, Julia<strong>na</strong><br />

Lohmann , Rodrigo Pandolfo, Leo<strong>na</strong>rdo<br />

Rosa, Tulio Starling, Romulo Augusto,<br />

Andrade Junior, Caco Monteiro<br />

38<br />

Divulgação MTV<br />

Uma trilha origi<strong>na</strong>l<br />

“A trilha sonora do filme não é tão inspirada <strong>na</strong> música origi<strong>na</strong>l. Eu mantive uma<br />

distância dela”, comenta Philippe Seabra, vocalista e guitarrista da banda brasiliense<br />

Plebe Rude, responsável pela música incidental de Faroeste caboclo. “Não quero que as<br />

pessoas vejam o filme achando que encontrarão a música quadro a quadro”, pontua.<br />

Philippe conta que a trilha t<strong>em</strong> momentos de barulho e delicadeza, com muito uso<br />

de guitarras, violões e violas. “As pessoas sab<strong>em</strong> que o filme é uma tragédia anunciada.<br />

E eu quis passar isso”. O músico l<strong>em</strong>bra que foi uma das primeiras pessoas a ouvir a<br />

versão origi<strong>na</strong>l de Faroeste, gravada por Re<strong>na</strong>to Russo <strong>em</strong> fita cassete no período <strong>em</strong><br />

que o cantor atuou <strong>em</strong> bares de Brasília como Trovador Solitário, entre o fim do Aborto<br />

Elétrico e o <strong>na</strong>scimento da Legião.<br />

Além das composições instrumentais do plebeu, alguns clássicos do punk rock<br />

aparec<strong>em</strong> <strong>em</strong> ce<strong>na</strong>s de Faroeste caboclo: Staring at the rude boys, do The Ruts,<br />

Ever falling in love, dos Buzzcocks, e Dancing with myself, da banda Generation X.


Divulgação<br />

Éramos<br />

tão jovens<br />

Cinebiografia de Re<strong>na</strong>to Russo relata o período anterior<br />

à fama com a Legião Urba<strong>na</strong>, quando o líder da banda<br />

ainda dava os primeiros passos à frente do Aborto Elétrico<br />

Por Sérgio Moriconi<br />

Diretor de filmes importantes como<br />

Copacaba<strong>na</strong> me enga<strong>na</strong><br />

(1968) e A rainha diaba (1974),<br />

Antônio Carlos Fontoura resolveu encarar<br />

o desafio de fazer o filme sobre Re<strong>na</strong>to<br />

Russo meio que por acaso. Embora <strong>na</strong><br />

pré-estreia <strong>em</strong> Brasília ele tenha dito ter<br />

sido um grande fã da Legião Urba<strong>na</strong>, foi<br />

um encontro fortuito com o produtor<br />

Luiz Fer<strong>na</strong>ndo Borges (um amigo muito<br />

próximo de Re<strong>na</strong>to) que o levou a assumir,<br />

como diretor, o projeto. Borges havia<br />

recebido da família Manfredini a responsabilidade<br />

de tentar levar adiante a<br />

possibilidade de fazer chegar às telas de<br />

cin<strong>em</strong>a uma biografia do cantor e compositor,<br />

ídolo de toda uma geração que<br />

cresceu <strong>em</strong>balada <strong>na</strong> onda do rock <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l<br />

dos anos 80. Borges e Fontoura se<br />

encontraram numa calçada do bairro do<br />

Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. Eles<br />

não se viam há mais de duas décadas,<br />

desde a época <strong>em</strong> que participaram de<br />

um mesmo grupo de terapia.<br />

E então, quer dirigir? Os desafios para<br />

Fontoura eram enormes. Encontrar<br />

atores críveis para os papéis de perso<strong>na</strong>gens<br />

conhecidíssimos e carismáticos, por<br />

ex<strong>em</strong>plo. Atores que, ainda por cima,<br />

soubess<strong>em</strong> tocar instrumentos. Esta segunda<br />

questão foi resolvida com o convite<br />

feito a Carlos Trilha para fazer a trilha<br />

sonora do filme e adestrar os atores <strong>na</strong><br />

lida com os instrumentos. No que se refere<br />

ao elenco, de um modo geral, as escolhas<br />

foram ótimas, especialmente a de<br />

Thiago Mendonça (Re<strong>na</strong>to Russo). Seus<br />

companheiros de geração (vivendo os<br />

componentes de outras bandas, como<br />

Capital Inicial e Plebe Rude) também estão<br />

b<strong>em</strong>. Bruno Torres (Fê L<strong>em</strong>os), Daniel<br />

Passi (Flávio L<strong>em</strong>os), Conrado Go-<br />

doy (Marcelo Bonfá), Nicolau Villa-Lobos<br />

(Dado Villa-Lobos) e mesmo Ibs<strong>em</strong><br />

Perucci (Dinho Ouro Preto) contribu<strong>em</strong><br />

para a credibilidade das perso<strong>na</strong>gens que<br />

interpretam, da mesma maneira que<br />

Sandra Corvelone (Carminha, a mãe de<br />

Re<strong>na</strong>to), Marcos Breda (o pai), Bianca<br />

Comparato (a irmã) e, principalmente, a<br />

charmosa e eficaz Laila Zaid, no papel de<br />

A<strong>na</strong>, a melhor amiga de Re<strong>na</strong>to.<br />

Somos tão jovens abarca a etapa da vida<br />

de Re<strong>na</strong>to imediatamente posterior à<br />

chegada de sua família a Brasília, até a<br />

formação da Legião, incluindo a viag<strong>em</strong><br />

ao Rio de Janeiro para se apresentar no<br />

Circo Voador, palco mítico, início da ascensão<br />

meteórica da banda ao estrelato<br />

<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. Para amarrar a <strong>na</strong>rrativa, Fontoura<br />

chamou Marcos Bernstein, conhecido<br />

roteirista (Terra estrangeira/Central<br />

do Brasil) e também diretor (O outro lado<br />

da rua/Meu pé de laranja lima), sob a su-<br />

39


Laila Zaid, Thiago Mendonça e o brasiliense Bruno Torres (abaixo) interpretam os principais perso<strong>na</strong>gens.<br />

pervisão do jor<strong>na</strong>lista Carlos Marcelo,<br />

autor do livro Re<strong>na</strong>to Russo – O filho da<br />

revolução. A julgar pelo que v<strong>em</strong>os, o papel<br />

de Bernstein se sobrepôs ao de Marcelo<br />

no que diz respeito à contextualização<br />

de época. Se no livro ela está b<strong>em</strong> colocada,<br />

no filme deixa a desejar. Não se<br />

trata de um pecado mortal, afi<strong>na</strong>l de contas<br />

– ainda que timidamente – há referências<br />

à ditadura militar, à repressão policial<br />

e ao vazio cultural da capital.<br />

Timidamente porque o provincianismo,<br />

o isolamento da cidade – chegavam<br />

a dizer que a única saída para qu<strong>em</strong> quisesse<br />

fazer alguma coisa de relevante era<br />

o aeroporto – atingia o pico da mais profunda<br />

melancolia nos anos 70/80, justamente<br />

quando a família Manfredini des<strong>em</strong>barca<br />

no Pla<strong>na</strong>lto Central do país.<br />

Não vamos nos esquecer do Golpe de<br />

1964 e da posterior promulgação do Ato<br />

Institucio<strong>na</strong>l nº 5, <strong>em</strong> 1968, infortúnios<br />

que transformaram a princesa (a cidade<br />

utópica) <strong>em</strong> Gata Borralheira (a sede de<br />

uma ditadura militar). A geração de Re<strong>na</strong>to<br />

vive o vazio cultural dos “filhos da<br />

revolução”. O refluxo de uma época<br />

dourada, quando o país imagi<strong>na</strong>va ter<br />

encontrado o caminho das pedras para<br />

vencer o atraso herdado do pesado passado<br />

colonial. O filme mostra a dificuldade<br />

de Re<strong>na</strong>to e seus companheiros para<br />

conseguir<strong>em</strong> ex<strong>em</strong>plares da Melody Maker,<br />

revista que trazia as novidades do rock<br />

inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. Qu<strong>em</strong> cresceu <strong>na</strong> Brasília<br />

pioneira, nos primeiros anos dos 60, sabe<br />

que a Melody Maker (se é que existia<br />

nessa época) e todos os tipos de publicações<br />

inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is (acredite se quiser)<br />

podiam ser facilmente encontrados <strong>na</strong><br />

banca de jor<strong>na</strong>is do aeroporto, quando<br />

ele ainda não passava de um modesto<br />

barracão de madeira.<br />

Os Manfredini se instalam por aqui<br />

<strong>em</strong> 1973. No episódio inicial do filme,<br />

v<strong>em</strong>os o sofrimento de Re<strong>na</strong>to Russo,<br />

diagnosticado com epifisiólise, uma raríssima<br />

doença óssea. Sua convalescência<br />

é amenizada com leitura e música. Muita<br />

literatura, poesia. Idolatria de astros do<br />

rock: John Lennon, Jim Morrison e...<br />

punk rock! Os punks seriam o antídoto<br />

para a pasmaceira geral, o contraveneno<br />

para a ignomínia política rei<strong>na</strong>nte. O l<strong>em</strong>a<br />

dos punks, “faça você mesmo”, também<br />

era mais do que conveniente para<br />

qu<strong>em</strong> queria começar uma banda de rock<br />

s<strong>em</strong> saber tocar direito. Qu<strong>em</strong> cresceu <strong>em</strong><br />

Brasília igualmente conhece a “cultura do<br />

pilotis”. Filhos de professores universitários,<br />

economistas (caso do pai de Re<strong>na</strong>to)<br />

e diplomatas, os futuros protagonistas da<br />

ce<strong>na</strong> roqueira de Brasília introjetavam debaixo<br />

dos blocos das superquadras e <strong>na</strong>s<br />

reuniões <strong>em</strong> seus apartamentos a roti<strong>na</strong><br />

de prisões, perseguições, fazendo inconscient<strong>em</strong>ente<br />

a triste crônica da ditadura,<br />

sobretudo no que se referia à ausência de<br />

liberdade de expressão.<br />

Somos tão jovens dramatiza ocasiões<br />

importantes da vida de Re<strong>na</strong>to (a descoberta<br />

da homossexualidade, principalmente)<br />

e do Aborto Elétrico, grupo de<br />

influência punk, antecessor da Legião.<br />

Entre essas ocasiões está o encontro com<br />

Ian Bruce, professor da Cultura Inglesa<br />

que apresenta os Sex Pistols a Re<strong>na</strong>to.<br />

Descoberta mais do que conveniente: os<br />

ingleses eram banidos dos lugares respeitáveis<br />

por falar<strong>em</strong> mal da rainha, o Aborto<br />

então só tinha que substituir a mo<strong>na</strong>rca<br />

e mirar no calcanhar de Aquiles de algum<br />

general. O filme dramatiza os encontros<br />

no barzinho da comercial da 103<br />

Sul, onde Re<strong>na</strong>to encontraria pela primeira<br />

o sul-africano André Pretorius (no<br />

filme, Petrus), dois metros de altura,<br />

40


olhos verdes, punk até os ossos. Vendo-<br />

-o solitário com seu copo de rum, Re<strong>na</strong>to<br />

aborda-o, s<strong>em</strong> jamais tê-lo visto antes:<br />

“Hi, man. Do you like Sex Pistols?” – como<br />

se já esperasse a pergunta: “Sex Pistols,<br />

joia!” Só se separariam quando Pretorius<br />

(já falecido), filho do Embaixador<br />

da África do Sul, parte para seu país,<br />

convocado pelo exército e pela guerra.<br />

O filme dramatiza apresentações do<br />

Aborto Elétrico no estacio<strong>na</strong>mento da<br />

lanchonete Food’s (<strong>na</strong> galeria do extinto<br />

Cine Karin), o episódio da “Rockonha”,<br />

<strong>em</strong> Sobradinho, festa regada a ... (vocês<br />

sab<strong>em</strong>, não é mesmo?), entre outros lances<br />

da trajetória inicial de Re<strong>na</strong>to Russo.<br />

Aparent<strong>em</strong>ente, todos eles dev<strong>em</strong> ter diferentes<br />

impactos sobre plateias da cidade<br />

de Brasília e de fora. Brasilienses que<br />

viveram as efervescentes tardes de sábado<br />

<strong>em</strong> frente ao Food’s, ou que test<strong>em</strong>unharam<br />

os aluci<strong>na</strong>dos happenings do<br />

Aborto Elétrico <strong>na</strong> ala norte do Minhocão,<br />

<strong>na</strong> UnB, certamente ficarão desapontados<br />

com as desenxabidas e insossas<br />

ce<strong>na</strong>s do filme. Plateias de outros Estados<br />

n<strong>em</strong> sequer vão ter noção do verdadeiro<br />

impacto desses acontecimentos e<br />

locais específicos. Pessoas que conheceram<br />

Re<strong>na</strong>to Russo de perto talvez tenham<br />

muitas outras curiosas passagens<br />

da vida desse angustiado, contraditório<br />

e rico perso<strong>na</strong>g<strong>em</strong> para contar. Sua experiência<br />

como repórter do Jor<strong>na</strong>l da Feira,<br />

programa radiofônico do Ministério da<br />

Agricultura, é uma delas. Certa vez (eram<br />

os t<strong>em</strong>pos de inflação descontrolada), interpelando<br />

o ministro Delfim Neto, titular<br />

da pasta, desferiu: “Ministro, o senhor<br />

sabe o preço do quilo de feijão”?<br />

Somos tão jovens<br />

Brasil/2013, 104 min. Direção: Antonio<br />

Carlos da Fontoura. <strong>Roteiro</strong>: Marcos<br />

Bernstein. Com Thiago Mendonça, Laila<br />

Zaid, Bruno Torres, Daniel Passi, Conrado<br />

Godoy, Nicolau Villa-Lobos, Ibs<strong>em</strong> Perucci<br />

Sandra Corvelone, Marcos Breda, Bianca<br />

Comparato, Olívia Torres, Sérgio Dalcin e<br />

Henrique Pires.<br />

Fotos: Divulgação<br />

41


luz câmera ação<br />

Cin<strong>em</strong>a inusitado<br />

Mostra do Filme Livre movimenta o CCBB até 26 de maio<br />

Fotos: Divulgação<br />

A cidade é uma só Ofici<strong>na</strong> de Efeitos Especiais <strong>em</strong> Maquiag<strong>em</strong> Noites do sertão<br />

42<br />

s<strong>em</strong>pre <strong>somos</strong> um espaço<br />

para filmes que buscam<br />

revirar a cada vez mais “Desde<br />

popular linguag<strong>em</strong> audiovisual. São produções<br />

que, muitas vezes, não passam<br />

<strong>em</strong> outros lugares justamente por ser<strong>em</strong><br />

diferentes d<strong>em</strong>ais, além de não precisar<strong>em</strong><br />

ter atores famosos, n<strong>em</strong> de muita<br />

gra<strong>na</strong> para ser<strong>em</strong> feitos. A maioria foi feita<br />

por amor, caseiramente”. A explicação<br />

é de Guilherme Whitaker, criador da<br />

Mostra do Filme Livre, cuja 12ª edição<br />

apresenta 233 títulos de todos os gêneros,<br />

formato e durações, s<strong>em</strong>pre com foco<br />

no inusitado.<br />

Com patrocínio do Banco do Brasil e<br />

do Ministério da Cultura, a MFL é realizada<br />

desde 2002, mas está <strong>em</strong> Brasília pela<br />

segunda vez. Para este ano recebeu<br />

742 inscrições de filmes, sendo que 165<br />

foram selecio<strong>na</strong>dos pelos curadores Marcelo<br />

Ikeda, Chico Serra, Christian Caselli,<br />

Gabriel San<strong>na</strong>, Manu Sobral, Cristia<strong>na</strong><br />

Miranda e pelo próprio Guilherme<br />

Whitaker. Além dos filmes selecio<strong>na</strong>dos,<br />

a programação inclui 60 obras convidadas,<br />

compondo um panorama do que há<br />

de mais ousado <strong>na</strong> produção audiovisual<br />

independente <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.<br />

Um dos destaques da Mostra do Filme<br />

Livre <strong>em</strong> Brasília é a exibição do longa<br />

A Cidade é uma só, de Adirley Queiróz.<br />

O documentário, que mostra o drama<br />

de pessoas que viv<strong>em</strong> no entorno do Distrito<br />

Federal, ganhou o Prêmio Aurora<br />

de melhor filme pelo júri da crítica <strong>na</strong><br />

15ª Mostra de Cin<strong>em</strong>a de Tiradentes, no<br />

ano passado.<br />

A MFL talvez seja a única mostra brasileira<br />

<strong>na</strong> qual a própria curadoria, que<br />

assiste a todos os filmes inscritos, decide<br />

quais destaques dev<strong>em</strong> receber o troféu<br />

Filme Livre. Os realizadores pr<strong>em</strong>iados<br />

são convidados a ir à mostra durante sua<br />

passag<strong>em</strong> pelo Rio de Janeiro para receber<br />

o troféu e conversar com o público<br />

após a exibição de seus filmes. Em 2012<br />

foram pr<strong>em</strong>iados o longa-metrag<strong>em</strong> Esse<br />

amor que nos consome, de Allan Ribeiro<br />

(que estará <strong>em</strong> Brasília para comentar seu<br />

filme), e os curtas Fim de férias, de Camille<br />

Entratice, Filme para poeta cego, de<br />

Gustavo Vi<strong>na</strong>gre, Djinn, de Eliane Lima,<br />

O universo segundo Edgar A. Poe, de Alexandre<br />

Rudáh, A onda traz, o vento leva, de<br />

Gabriel Mascaro, Buracos negros, de Na<strong>na</strong><br />

Maiolini, e Crisálida, de Thiago César.<br />

Uma das novidades da edição brasiliense<br />

da MFL é a Cabine Livre. Sucesso<br />

no ano passado no Rio de Janeiro, será<br />

montada <strong>na</strong> Galeria 3 do CCBB para<br />

exibir durante todo o dia filmes de linguag<strong>em</strong><br />

mais experimental, trabalhos<br />

cont<strong>em</strong>plativos ou radicais. A ideia é<br />

criar um ambiente <strong>em</strong> que o público possa<br />

apreciar obras que fog<strong>em</strong> dos esqu<strong>em</strong>as<br />

tradicio<strong>na</strong>is da sala de cin<strong>em</strong>a comum.<br />

Serão exibidas das 13 às 21h <strong>em</strong><br />

loop, ou seja, o mesmo filme ou a mesma<br />

sequência, s<strong>em</strong> intervalos.<br />

A cada edição a MFL celebra um<br />

grande nome do cin<strong>em</strong>a alter<strong>na</strong>tivo. Este<br />

ano a home<strong>na</strong>g<strong>em</strong> será ao cineasta mineiro<br />

Carlos Alberto Prates, com a exibição<br />

de seus seis longas. Prates é diretor<br />

de filmes pr<strong>em</strong>iados como Cabaré mineiro<br />

(1979) e Noites do sertão (1983). Haverá<br />

também uma sessão especial <strong>em</strong> home<strong>na</strong>g<strong>em</strong><br />

a Carlos Reichenbach (morto <strong>em</strong><br />

2012), com a exibição de seu curta Murilo<br />

lendo, <strong>em</strong> home<strong>na</strong>g<strong>em</strong> ao poeta Murilo<br />

Sales, e do longa Augustas, de Francisco<br />

Cesar Filho.<br />

A edição deste ano promove a Ofici<strong>na</strong><br />

de Efeitos Especiais <strong>em</strong> Maquiag<strong>em</strong>,<br />

de 14 a 16 de maio, sob orientação de<br />

Rodrigo Aragão, que já criou efeitos especiais<br />

para 25 peças e 15 curtas-metragens.<br />

Também cineasta, ele terá exibidos<br />

<strong>na</strong> mostra seus longas-metragens, inclusive<br />

o mais recente, Mar negro, no dia 17.<br />

A seguir participará do debate sobre o<br />

t<strong>em</strong>a “Ser ou não ser trash?”<br />

12ª Mostra do Filme Livre<br />

Até 26/5 no CCBB, com entrada franca<br />

(senhas distribuídas a partir de uma hora<br />

antes do início de cada sessão).<br />

Programação <strong>em</strong> www.bb.com.br/cultura e<br />

http://mostradofilmelivre.com/13/

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