renato russo em dose dupla na telona: somos tÃ£o ... - Roteiro BrasÃlia

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Laila Zaid, Thiago Mendonça e o brasiliense Bruno Torres (abaixo) interpretam os principais personagens. pervisão do jornalista Carlos Marcelo, autor do livro Renato Russo – O filho da revolução. A julgar pelo que vemos, o papel de Bernstein se sobrepôs ao de Marcelo no que diz respeito à contextualização de época. Se no livro ela está bem colocada, no filme deixa a desejar. Não se trata de um pecado mortal, afinal de contas – ainda que timidamente – há referências à ditadura militar, à repressão policial e ao vazio cultural da capital. Timidamente porque o provincianismo, o isolamento da cidade – chegavam a dizer que a única saída para quem quisesse fazer alguma coisa de relevante era o aeroporto – atingia o pico da mais profunda melancolia nos anos 70/80, justamente quando a família Manfredini desembarca no Planalto Central do país. Não vamos nos esquecer do Golpe de 1964 e da posterior promulgação do Ato Institucional nº 5, em 1968, infortúnios que transformaram a princesa (a cidade utópica) em Gata Borralheira (a sede de uma ditadura militar). A geração de Renato vive o vazio cultural dos “filhos da revolução”. O refluxo de uma época dourada, quando o país imaginava ter encontrado o caminho das pedras para vencer o atraso herdado do pesado passado colonial. O filme mostra a dificuldade de Renato e seus companheiros para conseguirem exemplares da Melody Maker, revista que trazia as novidades do rock internacional. Quem cresceu na Brasília pioneira, nos primeiros anos dos 60, sabe que a Melody Maker (se é que existia nessa época) e todos os tipos de publicações internacionais (acredite se quiser) podiam ser facilmente encontrados na banca de jornais do aeroporto, quando ele ainda não passava de um modesto barracão de madeira. Os Manfredini se instalam por aqui em 1973. No episódio inicial do filme, vemos o sofrimento de Renato Russo, diagnosticado com epifisiólise, uma raríssima doença óssea. Sua convalescência é amenizada com leitura e música. Muita literatura, poesia. Idolatria de astros do rock: John Lennon, Jim Morrison e... punk rock! Os punks seriam o antídoto para a pasmaceira geral, o contraveneno para a ignomínia política reinante. O lema dos punks, “faça você mesmo”, também era mais do que conveniente para quem queria começar uma banda de rock sem saber tocar direito. Quem cresceu em Brasília igualmente conhece a “cultura do pilotis”. Filhos de professores universitários, economistas (caso do pai de Renato) e diplomatas, os futuros protagonistas da cena roqueira de Brasília introjetavam debaixo dos blocos das superquadras e nas reuniões em seus apartamentos a rotina de prisões, perseguições, fazendo inconscientemente a triste crônica da ditadura, sobretudo no que se referia à ausência de liberdade de expressão. Somos tão jovens dramatiza ocasiões importantes da vida de Renato (a descoberta da homossexualidade, principalmente) e do Aborto Elétrico, grupo de influência punk, antecessor da Legião. Entre essas ocasiões está o encontro com Ian Bruce, professor da Cultura Inglesa que apresenta os Sex Pistols a Renato. Descoberta mais do que conveniente: os ingleses eram banidos dos lugares respeitáveis por falarem mal da rainha, o Aborto então só tinha que substituir a monarca e mirar no calcanhar de Aquiles de algum general. O filme dramatiza os encontros no barzinho da comercial da 103 Sul, onde Renato encontraria pela primeira o sul-africano André Pretorius (no filme, Petrus), dois metros de altura, 40
olhos verdes, punk até os ossos. Vendo- -o solitário com seu copo de rum, Renato aborda-o, sem jamais tê-lo visto antes: “Hi, man. Do you like Sex Pistols?” – como se já esperasse a pergunta: “Sex Pistols, joia!” Só se separariam quando Pretorius (já falecido), filho do Embaixador da África do Sul, parte para seu país, convocado pelo exército e pela guerra. O filme dramatiza apresentações do Aborto Elétrico no estacionamento da lanchonete Food’s (na galeria do extinto Cine Karin), o episódio da “Rockonha”, em Sobradinho, festa regada a ... (vocês sabem, não é mesmo?), entre outros lances da trajetória inicial de Renato Russo. Aparentemente, todos eles devem ter diferentes impactos sobre plateias da cidade de Brasília e de fora. Brasilienses que viveram as efervescentes tardes de sábado em frente ao Food’s, ou que testemunharam os alucinados happenings do Aborto Elétrico na ala norte do Minhocão, na UnB, certamente ficarão desapontados com as desenxabidas e insossas cenas do filme. Plateias de outros Estados nem sequer vão ter noção do verdadeiro impacto desses acontecimentos e locais específicos. Pessoas que conheceram Renato Russo de perto talvez tenham muitas outras curiosas passagens da vida desse angustiado, contraditório e rico personagem para contar. Sua experiência como repórter do Jornal da Feira, programa radiofônico do Ministério da Agricultura, é uma delas. Certa vez (eram os tempos de inflação descontrolada), interpelando o ministro Delfim Neto, titular da pasta, desferiu: “Ministro, o senhor sabe o preço do quilo de feijão”? Somos tão jovens Brasil/2013, 104 min. Direção: Antonio Carlos da Fontoura. Roteiro: Marcos Bernstein. Com Thiago Mendonça, Laila Zaid, Bruno Torres, Daniel Passi, Conrado Godoy, Nicolau Villa-Lobos, Ibsem Perucci Sandra Corvelone, Marcos Breda, Bianca Comparato, Olívia Torres, Sérgio Dalcin e Henrique Pires. Fotos: Divulgação 41
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