renato russo em dose dupla na telona: somos tão ... - Roteiro BrasÃlia
renato russo em dose dupla na telona: somos tão ... - Roteiro BrasÃlia
renato russo em dose dupla na telona: somos tão ... - Roteiro BrasÃlia
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
mais. Depois eu descobri que o que<br />
ele tocava era violão clássico. Esse<br />
menino era Ulisses Rocha, que viria<br />
a se tor<strong>na</strong>r um respeitadíssimo músico<br />
e professor de música da Unicamp”,<br />
conta Roberto.<br />
Somente aos 16 anos ele saiu de<br />
Campi<strong>na</strong> Verde para estudar <strong>em</strong> Belo<br />
Horizonte. Depois, de lá para Brasília.<br />
Aqui, passou no vestibular para Física,<br />
<strong>em</strong> 1976, morou numa pensão <strong>na</strong><br />
W3 Sul e travou relação com<br />
alunos de outros Estados, vivendo<br />
uma outra Brasília,<br />
feita só de estudantes e quase<br />
toda passada dentro da<br />
UnB. Por uma espécie de timidez<br />
conjunta, eles não<br />
participavam de quase<br />
<strong>na</strong>da que acontecia fora<br />
do campus. O grupo<br />
musical Olho D’Água,<br />
que Roberto e seus amigos<br />
criaram, por ex<strong>em</strong>plo,<br />
só se apresentava <strong>na</strong><br />
UnB. “Eu não conheci o movimento<br />
Cabeças e outras coisas,<br />
só vivia para estudos e campus”, confessa<br />
Roberto, que tocava violão e viola.<br />
Embora ainda não as mostrasse <strong>em</strong> público,<br />
já começava a compor suas músicas.<br />
A paixão pelo violão clássico continuava<br />
e ele passou a ter aulas com professores<br />
da UnB e outros músicos conhecidos<br />
<strong>na</strong> capital, como Eustáquio Grillo.<br />
Paralelo a isso, continuava estudando Física,<br />
mas ape<strong>na</strong>s o suficiente para entender<br />
as matérias e passar de ano.<br />
Dois momentos marcaram a entrada<br />
definitiva de Roberto Corrêa no mundo<br />
da música. “A primeira foi um trailer<br />
que eu assisti, antes de um filme, que<br />
mostrava o Milton Nascimento cantando<br />
e tocando ao violão Milagre dos peixes.<br />
A outra foi o Caetano Veloso cantando,<br />
no Fantástico, também ao violão, a música<br />
Lua, lua, lua. Aquilo me encantou de<br />
tudo. A partir daí eu me entreguei à música<br />
popular brasileira, e a viola já vinha<br />
<strong>em</strong>butida nisso”, l<strong>em</strong>bra.<br />
Nessa época, d<strong>em</strong>onstrando ousadia,<br />
Roberto pede a alguns músicos mais veteranos,<br />
entre eles o maestro Jorge Antunes,<br />
que componham peças para viola. Mas, se<br />
a ousadia era grande, o cuidado com a<br />
qualidade também, e essas peças, que<br />
eram de dificílima execução, só foram gravadas<br />
por ele agora, 30 anos depois.<br />
Ao se formar <strong>em</strong> Física, Roberto fez<br />
licenciatura, depois música, <strong>na</strong><br />
UnB, e continuou estudando violão<br />
e viola, compondo e tocando.<br />
Mas, não satisfeito com a quantidade<br />
de trabalho, solicitou e ganhou do<br />
CNPq uma bolsa para pesquisar viola<br />
caipira. “Naquela época não havia <strong>na</strong>da<br />
escrito sobre viola caipira. Somente<br />
um livro de partituras, mais <strong>na</strong>da.<br />
Aí eu me <strong>em</strong>penhei mais ainda”, conta.<br />
O estudo foi publicado pela Musimed<br />
e Roberto começou a trilhar<br />
seu próprio caminho,<br />
agora também como estudioso<br />
da música brasileira.<br />
Fez seu primeiro show fora<br />
da UnB <strong>em</strong> 1983 no Teatro<br />
Galpão – que considera o<br />
início da sua profissio<strong>na</strong>lização<br />
como músico – e aí<br />
sua carreira realmente começou.<br />
Na mesma época<br />
conheceu Zé Mulato e<br />
Cassiano e fez uma troca<br />
importante, segundo Wolmi<br />
Batista, presidente do Clube<br />
do Violeiro Caipira e produtor<br />
da <strong>dupla</strong>. “Roberto Corrêa passou seu<br />
conhecimento teórico para os dois e eles<br />
passaram a caipirice para ele”, l<strong>em</strong>bra<br />
Wolmi, salientando a importância de<br />
Roberto para a difusão da viola: “Ele foi<br />
essencial para a história desse instrumento<br />
e até criou a primeira escola de viola<br />
caipira no Brasil, levando a viola para<br />
dentro das salas de aula. E eu tive a honra<br />
de ser um de seus alunos”.<br />
Sua carreira decolou e ele passou a fazer<br />
shows <strong>em</strong> todo o Brasil, com músicos<br />
de todas as tendências, sozinho e até mesmo<br />
como solista de orquestras, elevando<br />
a viola a uma posição de destaque no cenário<br />
musical brasileiro. Antes que se desse<br />
conta, Roberto Corrêa se tornou o melhor<br />
“violeiro solteiro” do Brasil, aquele<br />
que não toca <strong>em</strong> <strong>dupla</strong>, mas sozinho.<br />
Graças aos estudos e ao talento como<br />
instrumentista de viola, começaram a surgir<br />
grupos de estudos, gente nova querendo<br />
aprender a tocar o instrumento. E o<br />
número de orquestras de violas cresceu<br />
<strong>em</strong> todo o país. A carreira de Roberto<br />
Corrêa ficou, então, dividida entre os<br />
dois polos: o erudito e o popular, que ele<br />
une, sendo ele mesmo o elo. Faz shows,<br />
grava discos, é t<strong>em</strong>a de filmes, produz e dirige<br />
filmes, tudo s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> torno da viola.<br />
Hoje é o principal nome do instrumento<br />
no Brasil e no exterior, já tendo feito<br />
mais de 30 shows <strong>em</strong> diversos países, s<strong>em</strong>pre<br />
com suas violas caipira e de cocho.<br />
Pai de dois filhos, Nara e Ramiro, casado<br />
com Julia<strong>na</strong>, que trabalha como sua<br />
assessora de imprensa, Roberto é um hom<strong>em</strong><br />
apaixo<strong>na</strong>do por Brasília, que t<strong>em</strong><br />
<strong>na</strong> Água Mineral seu recanto de meditação<br />
e encontro. Pouco afeito à noite,<br />
quase não sai de casa, vive estudando e<br />
prepara, para o segundo s<strong>em</strong>estre, o lançamento<br />
do CD com as gravações que<br />
ele encomendou há 30 anos e agora pode<br />
executar com maestria.<br />
Resta-nos esperar com os ouvidos<br />
atentos e a paciência de qu<strong>em</strong> afi<strong>na</strong> uma<br />
viola pelo show de lançamento, ainda<br />
s<strong>em</strong> data e local.<br />
31