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POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />
CAPÍTULO 2: O CONTEXTO DE DESENVOLVIMENTO<br />
4. Ajuda externa ao desenvolvimento<br />
Moçambique é o maior destinatário da<br />
assistência internacional ao desenvolvimento<br />
em África, sendo o Reino Unido a maior<br />
fonte de ajuda bilateral ao país. 31 O aumento<br />
do volume de Assistência Externa ao<br />
Desenvolvimento a que se comprometeram os<br />
países desenvolvidos é, de uma maneira geral,<br />
considerado positivo, e as Nações Unidas<br />
defendem uma dotação de 0,7 por cento do<br />
PIB dos países desenvolvidos. No entanto, a<br />
concentração de grandes volumes de ajuda<br />
externa em alguns países levanta a questão da<br />
dependência na ajuda. O Comité dos Direitos<br />
da Criança, nas suas observações finais no<br />
Segundo Relatório Periódico de Moçambique, 32<br />
nota com preocupação que, apesar do<br />
notável crescimento económico mantido<br />
na última década, o Estado Parte continua a<br />
ser fortemente dependente da cooperação<br />
internacional, referindo que uma parte<br />
significativa do orçamento nacional provém<br />
da cooperação para o desenvolvimento. O<br />
Centro Internacional da Pobreza argumenta<br />
que um grande e contínuo fluxo da Assistência<br />
Externa ao Desenvolvimento num país pode<br />
fazer afastar o enfoque da responsabilidade do<br />
estado e da sociedade para o relacionamento<br />
entre o Governo e os doadores, enfraquecendo<br />
assim o papel das instituições nacionais na<br />
governação. 33 Outros comentários assumiram<br />
uma visão mais extrema, afirmando que,<br />
devido ao processo do apoio orçamental, os<br />
representantes dos doadores estão agora no<br />
centro do processo de tomada de decisão no<br />
governo. 34<br />
4.1. Coordenação da<br />
assistência internacional ao<br />
desenvolvimento<br />
Nos últimos anos, e no contexto da forte<br />
dependência externa, passou-se para uma<br />
maior harmonização e alinhamento da<br />
ajuda externa, sobretudo após o PARPA<br />
II e a Declaração de Paris de 2005 sobre<br />
Eficácia da Ajuda. 35 A ênfase está agora em<br />
Fundos Comuns sectoriais e mecanismos<br />
de Apoio Geral ao Orçamento, que dão<br />
maior flexibilidade ao Governo no que<br />
respeita à forma como este aloca os fundos<br />
recebidos. O Apoio Geral ao Orçamento<br />
deve também reduzir o fardo do Governo<br />
de monitoria, avaliação e apresentação de<br />
relatórios a várias fontes de financiamento<br />
externas. O PARPA II apoia a utilização de<br />
modalidades de financiamento mais flexíveis,<br />
em particular o Apoio Geral ao Orçamento,<br />
e afirma que, “embora o equilíbrio ideal<br />
entre as modalidades de ajuda possa conter,<br />
provavelmente, uma mistura de todas elas,<br />
o Governo pretende que haja um aumento<br />
da proporção de fundos canalizados através<br />
da Conta Pública do Tesouro, principalmente<br />
através do Apoio Geral ao Orçamento.” 36<br />
A mudança com vista à harmonização,<br />
alinhamento e uso de modalidades de ajuda<br />
cada vez mais flexíveis, em Moçambique tem<br />
sido conduzida pelo grupo de Parceiros de<br />
Apoio Programático. O Grupo de Parceiros<br />
de Apoio Programático (PAPs), também<br />
conhecido como Grupo dos 19 ou G19, é<br />
constituído por 19 doadores bilaterais e<br />
multilaterais v que proporcionam Apoio Geral<br />
ao Orçamento. O Governo de Moçambique e<br />
os PAPs assinaram primeiro um Memorando<br />
de Entendimento em 2004, onde foram<br />
definidos os princípios da parceria e os<br />
compromissos para melhorar a qualidade do<br />
Programa de Ajuda Humanitária. Um segundo<br />
Memorando de Entendimento foi assinado<br />
em Março de 2009. O objectivo geral do<br />
apoio dos PAP ao orçamento de Moçambique<br />
é contribuir para a redução da pobreza em<br />
todas as suas dimensões. Além disso, o<br />
Memorando de Entendimento estabelece que<br />
“o Apoio ao Orçamento dos PAPs deve ajudar<br />
v Os 19 parceiros são: Banco Africano de Desenvolvimento, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Comissão Europeia, Finlândia,<br />
França, Alemanha, Países Baixos, Irlanda, Itália, Noruega, Portugal, Espanha, Suécia, Suíça, Reino Unido, Banco Mundial<br />
e Áustria. Os Estados Unidos da América e as Nações Unidas aderiram como Membros Associados em 2009.<br />
a alcançar os objectivos comuns de redução<br />
da pobreza e os ODM em Moçambique,<br />
através de financiamento ao orçamento do<br />
sector público para redução da pobreza, em<br />
sintonia com os sistemas de Moçambique<br />
e associado, de forma clara e transparente,<br />
ao desempenho.” 37 O Apoio Directo ao<br />
Orçamento proporciona também uma<br />
importante via para um diálogo coordenado e<br />
harmonizado entre o Governo e os doadores<br />
sobre as políticas de desenvolvimento e<br />
opções da despesa pública.<br />
Os compromissos dos PAPs de Apoio Geral ao<br />
Orçamento totalizaram, em 2009, 485 milhões<br />
de dólares americanos, e, em 2010, 472<br />
milhões. 38 De acordo com o CFMP 2010-2012,<br />
o financiamento externo representa cerca de<br />
44 por cento do Orçamento do Estado total,<br />
aumentando para 47 por cento em 2010 e 48<br />
por cento em 2011 e 2012 (ver Tabela 2.3).<br />
4.2. Análise das implicações para<br />
as crianças<br />
É essencial conhecer todo o pacote de<br />
recursos disponíveis para garantir uma<br />
alocação de recursos públicos para crianças<br />
orientada pelas políticas. Financiamento fora<br />
do orçamento, ou financiamento que esteja<br />
total ou parcialmente fora do processo<br />
orçamental formal prejudica os esforços<br />
do Governo para definir prioridades,<br />
planear, orçamentar, monitorar e avaliar de<br />
forma eficaz. Os fundos extra-orçamentais<br />
prejudicam também a credibilidade do<br />
processo orçamental, levam a uma onerosa<br />
e desnecessária duplicação da apresentação<br />
de relatórios, acabando por enfraquecer a<br />
responsabilidade do executivo perante o<br />
Parlamento. O problema do financiamento<br />
fora do orçamento é mais grave nos sectores<br />
de serviços sociais e infra-estruturas, uma<br />
vez que são os maiores beneficiários da<br />
ajuda externa.<br />
O Comité dos Direitos da Criança, nas suas<br />
observações finais sobre Moçambique,<br />
recomenda ao Estado Parte que, ao negociar<br />
a cooperação para o desenvolvimento, e<br />
particularmente quaisquer incrementos,<br />
o financiamento seja direccionado para<br />
programas que possam proporcionar<br />
o maior e mais rápido impacto na<br />
implementação dos direitos da criança. 39 Em<br />
particular, deve ser dada prioridade a:<br />
• l Programas de grande escala que<br />
proporcionem claros benefícios para as<br />
crianças, como a distribuição alargada<br />
Tabela 2.3: Financiamento interno e externo no Orçamento do Estado, 2009-2012 (pressupondo um<br />
crescimento do PIB de 6,1 por cento)<br />
2009 (adjusted) 2010 2011 2012<br />
Recursos internos<br />
Receitas do Estado 43,100 49,981 56,826 64,230<br />
Privatização 1,044<br />
Crédito interno 5,721 2,449 -1,595 -2,923<br />
Total Interno 49,865 52,430 55,231 61,307<br />
Recursos externos<br />
Doações 31,991 34,770 37,488 40,368<br />
Créditos 7,148 11,673 14,171 17,304<br />
Total Externo 39,139 46,443 51,659 57,672<br />
Total Interno + Externo 89,004 98,873 106,890 118,979<br />
Recursos internos como % do total 0.56 0.53 0.52 0.52<br />
Recursos externos como % do total 0.44 0.47 0.48 0.48<br />
Fonte: Ministério de Planificação e Desenvolvimento e Ministério das Finanças, Cenário Fiscal de Médio Prazo 2010-2012, Governo de<br />
Moçambique, Maputo, Setembro de 2009.<br />
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