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POBREZA INFANTIL<br />

E DISPARIDADES<br />

EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

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United Nations<br />

<strong>Mozambique</strong>


AGRADECIMENTOS<br />

O estudo Pobreza Infantil e Disparidades em<br />

Moçambique 2010 é uma iniciativa conjunta<br />

das Nações Unidas em Moçambique. Longo<br />

foi o processo de pesquisa e redacção para<br />

a elaboração do relatório, e muitas foram<br />

as pessoas que nele participaram. Embora<br />

demasiadas para mencionarmos cada uma<br />

delas em particular, queremos manifestar<br />

a nossa gratidão pelo seu forte empenho<br />

e dedicação para com as crianças de<br />

Moçambique.<br />

À equipe da Secção de Política Social,<br />

Planificação, Informação e Monitoria<br />

(SPPIM) da Representação do <strong>UNICEF</strong><br />

Moçambique coube a principal<br />

responsabilidade de coordenação e<br />

redacção do relatório. Realizou a pesquisa<br />

Brendan Kelly, em estreita colaboração com<br />

as secções da Representação do <strong>UNICEF</strong><br />

Moçambique, que preparou os documentos<br />

preliminares de base para os capítulos<br />

temáticos.<br />

O relatório beneficiou enormemente das<br />

generosas contribuições e orientação<br />

intelectual de um Comité Director<br />

multissectorial composto pelo Governo<br />

(MPD, MISAU, MINED, MMAS, MINJUS, INE<br />

e CNCS), a Sociedade Civil (Fórum Mulher,<br />

FDC, Aliança Save the Children, Rede da<br />

Criança e Grupo 20); Organizações Bilaterais<br />

(DFID, Banco Mundial e Embaixada da Suíça)<br />

e as Nações Unidas (ONUSIDA e <strong>UNICEF</strong>).<br />

Pelos seus proveitosos comentários e<br />

contributos, agradecemos especialmente<br />

a Carlo Azzari (Banco Mundial), Gabriel<br />

Dava (PNUD), Baiba Gaile (PNUD), Isabel<br />

Kreisler (PNUD), Pierre Martel, Wim Ulens<br />

(UE), Bridget Walker (Ajuda Irlandesa), Karin<br />

Metell (Embaixada da Suécia), António<br />

Nucifora (Banco Mundial) e Zainul Sajan<br />

Virgi (Universidade McGill).<br />

Pela sua liderança e visão no<br />

desenvolvimento de todo o relatório, Leila<br />

Gharagozloo-Pakkala, que desempenhou<br />

a função de Representante do <strong>UNICEF</strong><br />

Moçambique em fases cruciais da<br />

preparação deste estudo, merece também o<br />

nosso agradecimento especial.<br />

A reprodução de qualquer parte desta publicação não carece de autorização,<br />

excepto para fins comerciais. Exige-se, no entanto, a identicação da fonte.<br />

© <strong>UNICEF</strong>, Maputo, Moçambique, 2011


Prefácio<br />

O estudo Pobreza Infantil e Disparidades em<br />

Moçambique 2010 constitui uma oportunidade<br />

para se inventariarem os progressos alcançados<br />

na materialização dos direitos dos dez milhões de<br />

crianças moçambicanas desde o estudo A Pobreza<br />

na Infância em Moçambique: Uma Análise da<br />

Situação e das Tendências e os imensos desafios<br />

que persistem para os próximos anos.<br />

O Governo de Moçambique demonstrou o seu<br />

empenho na realização dos direitos das crianças<br />

moçambicanas ao ratificar, em 1994, a Convenção<br />

sobre os Direitos da Criança. Os direitos e<br />

necessidades das crianças são distintos dos direitos<br />

e necessidades dos adultos uma vez que enfrentar<br />

pobreza e privação quando se é ainda uma<br />

criança afecta, ao longo de toda a vida, a saúde, a<br />

produtividade e a capacidade de criar uma família e<br />

viver uma vida feliz. Sendo assim, é preciso que se<br />

invista hoje para garantir uma próxima geração de<br />

moçambicanos produtiva, saudável e realizada.<br />

Nos últimos seis anos a pobreza estagnou em<br />

Moçambique. Mais de metade da população, o<br />

que inclui mais crianças do que adultos, continua<br />

a viver com menos de meio dólar americano por<br />

dia. Um surpreendente número de crianças têm<br />

baixa altura para a idade – sofrem de desnutrição<br />

crónica –, cujos efeitos são irreversíveis. O número<br />

de crianças com acesso a água potável tem vindo<br />

a diminuir, sendo ainda inferior o de crianças com<br />

acesso a saneamento básico. A não satisfação<br />

dessas necessidades básicas das crianças torna-as<br />

mais fáceis vítimas das quatro principais causas de<br />

mortalidade infantil: malária, problemas neonatais,<br />

infecções respiratórias agudas e SIDA. Dada a<br />

grande desigualdade com que deparam no acesso<br />

a serviços já de si escassos, as meninas, os órfãos,<br />

as crianças portadoras de deficiência e a viver em<br />

áreas rurais e as famílias mais pobres encontramse<br />

em situação de vulnerabilidade ainda maior.<br />

Não quer isto dizer que nos últimos anos não<br />

se tenham registado progressos. A pobreza<br />

absoluta, medida pela privação de necessidades<br />

e serviços básicos, diminuiu significativamente<br />

em Moçambique, com mais crianças tendo<br />

acesso a serviços básicos como a saúde e a<br />

educação, como resultado directo do empenho<br />

do Governo nesse domínio. Nunca é de mais<br />

referir a importância da educação, pois uma<br />

mãe instruída é um factor determinante na<br />

saúde e bem-estar dos seus filhos. Eliminar a<br />

disparidade geográfica é igualmente crucial, pois<br />

as crianças das províncias do centro e do norte,<br />

como a Zambézia, estão a ser deixadas para<br />

trás, com mais baixas dotações orçamentais e a<br />

correspondente inacessibilidade aos serviços de<br />

que tanto necessitam para se equipararem às suas<br />

congéneres do sul.<br />

Restam-nos apenas quatro anos para 2015, a<br />

meta dos Objectivos de Desenvolvimento do<br />

Milénio (ODM). Não obstante ser cada vez mais<br />

evidente a improbabilidade de Moçambique<br />

alcançar todos esses objectivos, os próximos<br />

quatro anos são uma oportunidade para se<br />

ampliarem as intervenções visando reduzir<br />

o fardo resultante da pobreza, da fome, da<br />

mortalidade infantil, da desigualdade de género<br />

e das doenças que muitas crianças continuam<br />

a enfrentar. Cada meta dos ODM que vier a ser<br />

alcançada dever-se-á a esforços concertados e<br />

colaboração entre o Governo de Moçambique,<br />

a família das NU, a comunidade de doadores, a<br />

sociedade civil e o povo moçambicano.<br />

Os últimos anos têm demonstrado que se pode<br />

investir para melhorar a vida das crianças em<br />

Moçambique. Chegou a hora de se redobrarem<br />

esses esforços para que cada criança e cada<br />

moçambicano possam ansiar por uma vida<br />

longa, saudável, feliz e gratificante.<br />

Coordenadora Residente do Sistema das Nações Unidas,<br />

Jennifer Topping


Índice<br />

Lista de figuras .............................................................................................................................................................................................. XVII<br />

Lista de Tabelas ............................................................................................................................................................................................. XVII<br />

Siglas......................................................................................................................................................................................................................... XIX<br />

Mapa de Moçambique ............................................................................................................................................................................ XXII<br />

Sumário Executivo ..................................................................................................................................................................................... XXIII<br />

CAPÍTULO 1: POBREZA EM MOÇAMBIQUE<br />

1. Introdução ...................................................................................................................................................................................................... 3<br />

2. Medindo a pobreza ................................................................................................................................................................................ 4<br />

2.1. Pobreza baseada no consumo ...................................................................................................................................... 4<br />

2.2. Medidas de pobreza baseada em privações .................................................................................................... 9<br />

2.3. Comparação entre a medida de pobreza baseada em privações e a medida<br />

baseada no consumo ............................................................................................................................................................ 14<br />

3. Análise por privação ............................................................................................................................................................................. 15<br />

3.1. Privação severa de educação nas crianças .......................................................................................................... 15<br />

3.2. Privação severa de nutrição nas crianças ........................................................................................................... 16<br />

3.3. Privação severa de água nas crianças ................................................................................................................... 17<br />

3.4. Privação severa de saneamento nas crianças ................................................................................................ 18<br />

3.5. Privação severa de saúde nas crianças ................................................................................................................ 19<br />

3.6. Privação severa de abrigo nas crianças ............................................................................................................... 20<br />

3.7. Privação severa de informação nas crianças .................................................................................................. 20<br />

4. Conclusões ..................................................................................................................................................................................................... 21<br />

Referências ............................................................................................................................................................................................................. 23<br />

CAPÍTULO 2: O CONTEXTO DE DESENVOLVIMENTO<br />

1. Introdução ...................................................................................................................................................................................................... 27<br />

2. Transição para a paz, democracia e economia de mercado ............................................................................ 28<br />

2.1. Tendências demográficas .................................................................................................................................................. 29<br />

2.2. Crescimento económico e estabilidade macroeconómica ................................................................. 29<br />

2.3. Objectivois de Desenvolvimento do Milénio ................................................................................................... 30<br />

2.4. O processo de descentralização em Moçambique .................................................................................... 33<br />

3. Análise das políticas e institucional ......................................................................................................................................... 35<br />

3.1. Políticas e mecanismos de planificação ................................................................................................................ 35<br />

3.2. Monitorização e avaliação ................................................................................................................................................. 37<br />

3.3. Quadro legal para apoiar a realização dos direitos da criança ....................................................... 39<br />

VII


4. Ajuda externa ao desenvolvimento ........................................................................................................................................ 40<br />

4.1. Coordenação da assistência internacional ao desenvolvimento .................................................. 40<br />

4.2. Análise das implicações para as crianças .......................................................................................................... 41<br />

5. Conclusões ........................................................................................................................................................................................................ 43<br />

Referências .............................................................................................................................................................................................................. 45<br />

CAPÍTULO 3: SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

1. Introdução ...................................................................................................................................................................................................... 49<br />

2. Saúde e nutrição ....................................................................................................................................................................................... 51<br />

2.1. Sobrevivência infantil ............................................................................................................................................................ 51<br />

2.2. Nutrição infantil .......................................................................................................................................................................... 55<br />

2.3. Sobrevivência, saúde e nutrição materna............................................................................................................. 67<br />

2.4. Doenças da infância ................................................................................................................................................................. 73<br />

2.5. Malária ................................................................................................................................................................................................. 73<br />

2.6. Infecções respiratórias agudas ..................................................................................................................................... 76<br />

2.7. Doenças diarreicas ................................................................................................................................................................... 76<br />

2.8. Cólera ................................................................................................................................................................................................... 78<br />

2.9. Doenças preveníveis por vacinação e imunização .................................................................................... 78<br />

2.10. HIV e SIDA ........................................................................................................................................................................................ 81<br />

2.11. Financiamento e alocação orçamental ao sector da saúde ............................................................... 81<br />

3. Água e saneamento ................................................................................................................................................................................ 85<br />

3.1. Quadro Institucional ............................................................................................................................................................... 85<br />

3.2. Programa Nacional de Abastecimento de Água e Saneamento Rural ................................... 87<br />

3.3. Abastecimento de água ....................................................................................................................................................... 87<br />

3.4. Saneamento ...................................................................................................................................................................................... 91<br />

3.5. Sustentabilidade das infra-estruturas de ASH ............................................................................................... 93<br />

3.6. Água e saneamento nas escolas ................................................................................................................................. 93<br />

3.7. Financiamento do sector e dotações orçamentais .................................................................................... 97<br />

4. Conclusões ..................................................................................................................................................................................................... 99<br />

Referências ........................................................................................................................................................................................................ 101<br />

CAPÍTULO 4: A EDUCAÇÃO E O DIREITO DAS CRIANÇAS AO<br />

DESENVOLVIMENTO<br />

1. Introdução .................................................................................................................................................................................................... 109<br />

2. A actual situação e recentes tendências no sector da educação .......................................................... 110<br />

2.1 O sistema de educação em Moçambique ......................................................................................................... 110<br />

2.2. Crianças na escola ................................................................................................................................................................. 111<br />

2.3.Crianças fora da escola ...................................................................................................................................................... 112<br />

2.4. Atrasos no início da escolarização ...................................................................................................................... 113<br />

2.5. Conclusão do ensino primário e transição para o ensino secundário .............................. 114<br />

2.6. Progressão pelas classes ................................................................................................................................................ 115<br />

2.7. Equidade na Educação ...................................................................................................................................................... 116<br />

2.8. Alfabetização .............................................................................................................................................................................. 118<br />

2.9. Ensino superior ........................................................................................................................................................................ 118<br />

3. Barreiras à participação na educação ............................................................................................................................... 119<br />

3.1. Custos directos com a educação .......................................................................................................................... 119<br />

3.2. Custos de oportunidade para as comunidades ...................................................................................... 119<br />

3.3. Impacto de tradições e da cultura no direito das crianças à educação ............................ 119<br />

3.4. Impacto da violência e do abuso nas escolas ............................................................................................ 120<br />

3.5. Qualidade de ensino ............................................................................................................................................................ 120<br />

3.6. Infra-estruturas escolares ............................................................................................................................................... 123<br />

3.7. Disponibilidade de professores ............................................................................................................................. 124<br />

3.8. Formação pré-docência e formação contínua de professores ................................................... 125<br />

3.9. Gestão escolar ........................................................................................................................................................................... 127<br />

3.10. Falta de enfoque em saúde escolar .................................................................................................................... 127<br />

3.11. Impacto da língua nos resultados educacionais .................................................................................... 128<br />

4. Outras questões no sector da educação ......................................................................................................................... 129<br />

4.1. Estratégia de habilidades para a vida visando combater a SIDA .............................................. 129<br />

4.2. Participação das crianças ................................................................................................................................................ 129<br />

4.3. Educação para crianças com necessidades especiais ...................................................................... 130<br />

4.4. Financiamento e alocação orçamental do sector da educação ............................................... 130<br />

4.6. Programa Apoio Directo às Escolas ................................................................................................................... 132<br />

5. Conclusões .................................................................................................................................................................................................. 133<br />

Referências ........................................................................................................................................................................................................ 135<br />

VIII<br />

IX


CAPÍTULO 5: PROTECÇÃO DA CRIANÇA<br />

1. Introdução ................................................................................................................................................................................................. 141<br />

2. Reforma legislativa e das políticas ..................................................................................................................................... 143<br />

3. Violência, abuso e exploração ................................................................................................................................................. 146<br />

3.1. Violência e abuso sexual nas escolas .............................................................................................................. 146<br />

3.2. A violência doméstica ..................................................................................................................................................... 148<br />

3.3. Exploração e abuso sexual comercial .............................................................................................................. 150<br />

3.4. Tráfico de crianças e migração ............................................................................................................................... 150<br />

3.5. Trabalho infantil ..................................................................................................................................................................... 151<br />

3.6. Casamento infantil ............................................................................................................................................................... 154<br />

4. As crianças e o sector da justiça ............................................................................................................................................ 156<br />

4.1. Acesso das crianças a propriedade e herança .......................................................................................... 157<br />

4.2. Registo de nascimento .................................................................................................................................................... 158<br />

4.3. Crianças portadoras de deficiência ...................................................................................................................... 160<br />

4.4. Mecanismos de cuidados alternativos ............................................................................................................ 160<br />

4.5. Crianças órfãs e vulneráveis e outras crianças marginalizadas .............................................. 162<br />

4.6. Protecção Social Básica ................................................................................................................................................. 164<br />

4.7. Atestados de Pobreza ...................................................................................................................................................... 166<br />

4.8. Análise de capacidade .................................................................................................................................................... 166<br />

4.9. Parcerias da sociedade civil ....................................................................................................................................... 169<br />

4.10. Financiamento do sector e dotações orçamentais .............................................................................. 169<br />

5. Conclusões ................................................................................................................................................................................................ 171<br />

Referências ........................................................................................................................................................................................................ 173<br />

CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

1. Introdução ................................................................................................................................................................................................. 179<br />

2. Género ............................................................................................................................................................................................................ 180<br />

2.1. Aspectos de género da pobreza em Moçambique ................................................................................ 181<br />

2.2. Desenvolvimento ajustado ao género e empoderamento com base em género .... 182<br />

2.3. Disparidades de género .................................................................................................................................................. 184<br />

2.4. Questões de género na educação ........................................................................................................................ 184<br />

2.5. Violência, abuso e exploração .................................................................................................................................. 185<br />

2.6. Sistemas de Linhagem .................................................................................................................................................... 186<br />

2.7. HIV e género ............................................................................................................................................................................. 186<br />

2.8. Conclusões .................................................................................................................................................................................. 188<br />

3. Disparidades geográficas ............................................................................................................................................................ 189<br />

3.1. Disparidades nas dotações orçamentais ........................................................................................................ 191<br />

3.2. Disparidades na saúde ..................................................................................................................................................... 192<br />

3.3. Disparidades no acesso à educação ................................................................................................................... 194<br />

3.4. Disparidades na protecção da criança .............................................................................................................. 196<br />

3.5. Conclusões .................................................................................................................................................................................. 197<br />

4. HIV e SIDA ..................................................................................................................................................................................................... 199<br />

4.1. Perfil da epidemia do HIV em Moçambique ................................................................................................ 199<br />

4.2. Acções prioritárias em prol das crianças no âmbito do HIV e da SIDA ............................. 203<br />

4.3. P1 – Prevenção primária ................................................................................................................................................. 204<br />

4.4. P2 – Prevenção da transmissão vertical do HIV......................................................................................... 206<br />

4.5. P3 – SIDA Pediátrica ........................................................................................................................................................... 212<br />

4.6. P4 – Proteger as crianças órfãs e vulneráveis afectadas pela SIDA ..................................... 215<br />

4.7. Nutrição e HIV .......................................................................................................................................................................... 215<br />

4.8. Conclusões ................................................................................................................................................................................ 216<br />

5. Questões ambientais e mudança climática ................................................................................................................ 217<br />

5.1. Questões ambientais em Moçambique ........................................................................................................... 217<br />

5.2. O desenvolvimento sustentável em Moçambique ................................................................................ 218<br />

5.3. O impacto da degradação ambiental e das situações de emergência<br />

nas crianças em Moçambique................................................................................................................................... 219<br />

5.4. O contexto institucional .................................................................................................................................................. 225<br />

5.5. Conclusões .................................................................................................................................................................................. 225<br />

6. Comunicação para o Desenvolvimento .......................................................................................................................... 227<br />

6.1. Desenvolvimento dos órgãos de comunicação social em Moçambique ......................... 227<br />

6.2. O papel de mudança dos media: comunicação para o desenvolvimento<br />

e mobilização da comunidade .................................................................................................................................. 229<br />

6.3. Iniciativas promissoras nos media moçambicanos .............................................................................. 229<br />

6.4. Redes e parcerias amigas da criança ................................................................................................................. 230<br />

6.5. Privação de informação .................................................................................................................................................. 231<br />

6.6. Conclusões .................................................................................................................................................................................. 231<br />

Referências ........................................................................................................................................................................................................ 233<br />

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................................................................................. 243<br />

X<br />

XI


Lista de Figuras<br />

Figura 1.1:<br />

Percentagem de crianças com duas ou mais privações severas,<br />

2003 e 2008 ........................................................................................................................................................................ 12<br />

Figura 1.2: Percentagem de crianças que sofrem privações, 2003 e 2008............................................. 13<br />

Figura 1.3:<br />

Figura 1.4:<br />

Percentagem de crianças com duas ou mais privações severas por província,<br />

2003 e 2008 ........................................................................................................................................................................ 13<br />

Pobreza baseada em privações comparada com pobreza baseada<br />

no consumo nas crianças, 2008, percentagem ................................................................................ 14<br />

Figura 1.5: Níveis de privação severa de educação por província, 2003 e 2008 ........................... 15<br />

Figura 1.6: Privação nutricional severa nas crianças, por província, 2003 e 2008 ....................... 16<br />

Figura 1.7: Privação severa de água por quintil de riqueza, 2008 ............................................................... 18<br />

Figura 1.8: Privação severa de saneamento nas crianças, por província, 2008 ............................. 19<br />

Figura 1.9: Níveis de privação severa de saúde por província, 2003 e 2008 ..................................... 19<br />

Figura 1.10: Privação severa de abrigo por quintil de riqueza, 2008 ........................................................... 20<br />

Figura 2.1: Instrumentos de Planificação em Moçambique ............................................................................... 37<br />

Figura 3.1: Taxas de mortalidade em Moçambique por 1.000 nados vivos, de 2003 e 2008<br />

(média dos cinco anos precedentes ao inquérito) ........................................................................ 51<br />

Figura 3.2:<br />

Figura 3.3:<br />

Figura 3.4:<br />

Taxas de mortalidade infantil por 1.000 nados vivos em Moçambique,<br />

de 2003 e 2008 (média dos cinco anos que antecederam a pesquisa) ...................... 52<br />

Parcela de agregados familiares situados a menos de 45 minutos<br />

a pé de uma unidade de cuidados de saúde primários,<br />

2002/03 e 2008/09 (percentagem) .................................................................................................................. 53<br />

Probabilidade de sobrevivência das crianças (0-17 anos) nos últimos<br />

12 meses, por nível de escolaridade do chefe de família, 2008 ........................................ 54<br />

Figura 3.5: Causas da mortalidade infantil em Moçambique, 2008 ............................................................ 54<br />

Figura 3.6: Taxas de desnutrição crónica por país, 2009 ....................................................................................... 56<br />

Figura 3.7:<br />

Figura 3.8:<br />

Figura 3.9:<br />

Taxas de desnutrição (moderada) em crianças menores de cinco<br />

anos, 2003 e 2008 .......................................................................................................................................................... 57<br />

Percentagem de baixo peso para a altura em crianças menores<br />

de cinco anos por província, 2008 ................................................................................................................. 57<br />

Percentagem de baixo peso em crianças menores de cinco anos,<br />

por província, 2008 ...................................................................................................................................................... 58<br />

Figura 3.10: Percentagem de desnutrição crónica (baixa altura para a idade)<br />

em crianças menores de cinco anos, por província, 2008 ...................................................... 59<br />

Figura 3.11: O quadro conceptual da desnutrição Desnutrição infantil,<br />

morte e deficiência ...................................................................................................................................................... 61<br />

XIII


Figura 3.12: Percentagem de crianças com amamentação exclusiva: dados<br />

de diferentes grupos etários, 1997, 2003 e 2008............................................................................... 62<br />

Figure 3.13: Amamentação exclusiva em crianças com menos de 12 meses,<br />

1997, 2003 e 2008 .......................................................................................................................................................... 62<br />

Figura 3.14: Padrões alimentares de crianças menores de um ano<br />

de idade, 2008 .................................................................................................................................................................. 63<br />

Figura 3.15: Crianças com 6-11 meses alimentadas com leite materno e alimentos<br />

complementares pelo menos três vezes por dia, por província, 2008 ........................ 63<br />

Figura 3.16: Uso de sal iodado por província, 2008 ...................................................................................................... 65<br />

Figura 3.17: Uso de sal iodado por quintil de riqueza de 2008 .......................................................................... 66<br />

Figura 3.18: Cobertura da suplementação com vitamina A, 2003 e 2008 ............................................... 66<br />

Figura 3.19: Continuum de cuidados de saúde materna e neonatal ............................................................. 68<br />

Figura 3.20: Mulheres atendidas pelo menos uma vez por pessoal de saúde qualificado<br />

durante a gravidez, 1997, 2003 e 2008 ...................................................................................................... 71<br />

Figura 3.21: Percentagem de mulheres que beneficiaram de cuidados pré-natais<br />

e deram à luz em unidades sanitárias, por quintil de riqueza, 2008............................... 72<br />

Figura 3.22: Percentagem de crianças que receberam tratamento adequado<br />

para malária, 2003 e 2008 ..................................................................................................................................... 74<br />

Figura 3.23: Prevalência de infecções respiratórias agudas, por província,<br />

em 2008 .................................................................................................................................................................................. 77<br />

Figura 3.24: Percentagem de crianças menores de cinco anos que recebem tratamento<br />

adequado para infecções respiratórias agudas por província, 2008.............................. 77<br />

Figura 3.25: Vacinação de crianças de 12-23 meses por antígeno, em 1997,<br />

2003 e 2008 ......................................................................................................................................................................... 80<br />

Figura 3.26: Dotações per capita para a saúde por província (meticais), 2009 ................................... 82<br />

Figura 3.27: Dotações para o sector da saúde, CFMP 2010-2012 ..................................................................... 83<br />

Figura 3.28: Percentagem de agregados familiares com acesso a água potável,<br />

2004 e 2008 ......................................................................................................................................................................... 87<br />

Figura 3.29: Uso de fonte de água melhorada por província, 2008 ................................................................ 89<br />

Figura 3.30: Tempo médio gasto para se chegar a uma fonte de água<br />

(em minutos), 2008....................................................................................................................................................... 90<br />

Figura 3.31: Probabilidade de acesso a fonte de água melhorada, por classificação<br />

de riqueza 2008................................................................................................................................................................. 90<br />

Figura 3.32: Acesso a saneamento seguro por localização geográfica, 2004 e 2008 ..................... 91<br />

Figura 3.33: Acesso a instalações sanitárias melhoradas, 2008 ......................................................................... 92<br />

Figura 3.34: Probabilidade de acesso a fonte de saneamento melhorado .............................................. 92<br />

Figura 4.1: Taxas líquidas de frequência, 2003 e 2008 ........................................................................................... 111<br />

Figure 4.2: Probabilidade de não frequentar a escola primária, 2008 ..................................................... 112<br />

Figura 4.3:<br />

Figura 4.4:<br />

Figura 4.6:<br />

Figura 4.8:<br />

Percentagem de crianças de 6-12 e 13-17 anos fora da escola,<br />

por sexo, local de residência e condições socioeconómicas, 2008 .............................. 113<br />

Distribuição da população de acordo com a idade de entrada<br />

na escola, 2008 ................................................................................................................................................................ 114<br />

Percentagem dos que entram na primeira classe que chegam à última<br />

classe do ensino primário, por características seleccionadas<br />

de riqueza, 2003 e 2008............................................................................................................................................. 116<br />

Rácios líquidos de frequência no ensino secundário por quintil<br />

de riqueza, 2003 e 2008 ........................................................................................................................................... 117<br />

Figura 4.9: Taxas de alfabetização em mulheres de 15-24 anos por quintil<br />

de riqueza, 2008 .............................................................................................................................................................. 118<br />

Figura 4.10: Casamentos infantis e raparigas fora da escola secundária<br />

por província, 2008 ...................................................................................................................................................... 120<br />

Figura 4.11: Resultados dos alunos em leitura, 2000 e 2007 .............................................................................. 121<br />

Figura 4.12: Resultados dos alunos em matemática, 2000 e 2007 ................................................................. 121<br />

Figura 4.13: Rácio professor-aluno, 2004-2009 ................................................................................................................. 125<br />

Figura 4.14: Dotação orçamental para a educação em milhões de meticais,<br />

2009 e 2010 ......................................................................................................................................................................... 130<br />

Figura 5.1:<br />

Figura 5.2:<br />

Figura 5.3:<br />

Figura 5.4:<br />

Figura 5.5<br />

Percentagem de mulheres de 15-49 anos que acham que um marido<br />

pode bater na sua esposa, por motivo específico, 2008 .......................................................... 148<br />

Percentagem de mulheres (15-49 anos) que acreditam que bater<br />

na esposa se justifica em determinadas circunstâncias, 2008 ........................................... 149<br />

Probabilidade de aceitação da violência doméstica pelas<br />

mulheres, 2008 ................................................................................................................................................................ 149<br />

Percentagem de crianças de 5-14 anos que estão envolvidas<br />

em trabalho infantil, por província e sexo, 2008 ............................................................................. 152<br />

Prevalência de trabalho infantil por nível de escolaridade<br />

da mãe, 2008 ..................................................................................................................................................................... 152<br />

Figura 5.6: Trabalho infantil e frequência escolar, por área geográfica, 2008.................................... 153<br />

Figura 5.7: Mulheres de 20-24 anos que se casaram antes dos 15 e dos 18<br />

anos, 2003 e 2008 .......................................................................................................................................................... 154<br />

Figura 5.8: Razões para não registar os nascimentos, 2008 .............................................................................. 159<br />

Figura 5.9:<br />

Percentagem de crianças com menos de cinco anos com registo<br />

de nascimento, por província, 2008 ............................................................................................................. 159<br />

Figura 5.10: Percentagem de crianças (2-9 anos) com pelo menos uma deficiência<br />

relatada, 2008 .................................................................................................................................................................... 160<br />

XIV<br />

XV


Figura 5.11: Percentagem de crianças órfãs e vulneráveis devido à SIDA, 2008 .............................. 164<br />

Figura 6.1:<br />

Figura 6.2:<br />

Figura 6.3:<br />

Percentagem de agregados familiares chefiados por homens por<br />

quintil de riqueza, 2002, 2005 e 2008 .......................................................................................................... 182<br />

IDG baseado em diferentes métodos de determinação da<br />

diferença salarial, 2009 ............................................................................................................................................ 183<br />

Despesa per capita combinada para saúde, educação<br />

e justiça, 2005, 2006 e 2008 ............................................................................................................................... 191<br />

Figura 6.4: Despesa de saúde per capita, percentagem da média nacional, 2008 .................... 192<br />

Figura 6.5: Despesa per capita na saúde (2008) e sobrevivência da criança (1998-2008)..... 193<br />

Figura 6.6: Prevalência de HIV por província, 2009................................................................................................... 193<br />

Figura 6.7:<br />

Percentagem de mulheres que receberam informação sobre o HIV<br />

e fizeram teste em consultas de cuidados pré-natais, 2008 ................................................ 194<br />

Figura 6.8: Despesa per capita na educação, percentagem da média nacional, 2008.............. 195<br />

Figura 6.9: Despesa per capita na Educação e taxas de alfabetização, 2008..................................... 195<br />

Figura 6.10: Rácio líquido de escolarização no ensino primário<br />

(EP1 & EP2) por província, 2008 .................................................................................................................. 196<br />

Figura 6.11: Percentagem de mulheres com 15-49 anos casadas ou em união antes<br />

completarem os 15 anos, 2008........................................................................................................................ 196<br />

Figura 6.12: Distribuição de novas infecções por modo de exposição<br />

em Moçambique, 2008 ........................................................................................................................................... 201<br />

Figura 6.13: Incidência e prevalência de HIV estimada por região<br />

em Moçambique, 1998–2010 ............................................................................................................................ 203<br />

Figura 6.14: Identificação de concepções erróneas sobre o HIV, mulheres<br />

de 15-49 anos, 2008 ................................................................................................................................................. 204<br />

Figura 6.15: Probabilidade de não uso de preservativo em relação sexual,<br />

mulheres de 15-24 anos, 2008.......................................................................................................................... 205<br />

Figura 6.16: Tendências na cobertura de PTV entre 2002 e 2009 ................................................................... 207<br />

Figura 6.17: Testagem e aconselhamento em consultas pré-natais, 2003 e 2008 .......................... 208<br />

Figura 6.18: Testagem e aconselhamento de HIV em consultas pré-natais,<br />

por quintil de riqueza, 2008 .............................................................................................................................. 209<br />

Figura 6.19: Partos assistidos, 1997, 2003 e 2008 ........................................................................................................ 210<br />

Figura 6.20: Cascata de PTV pré-natal e pós-natal, 2009 ....................................................................................... 211<br />

Figura 6.21: Número estimado de crianças com menos de 15 anos vivendo com HIV,<br />

menores de 5 vivendo com HIV, número de novas infecções em menores<br />

de 15, e número de crianças com menos de 15 anos a necessitar<br />

de tratamento/terapia anti-retroviral, 2006–2010 .......................................................................... 212<br />

Figura 6.22: Custo da degradação ambiental por ano, 2009 .............................................................................. 219<br />

Lista de Tabelas<br />

Tabela 1.1: Privação em Moçambique, 2008 ..................................................................................................................................... 9<br />

Tabela 2.1: Indicadores Económicos, 2003-2009 ............................................................................................................................ 28<br />

Tabela 2.2: Evolução rumo aos ODM ...................................................................................................................................................... 31<br />

Tabela 2.3: Financiamento interno e externo no Orçamento do Estado, 2009-2012<br />

(pressupondo um crescimento do PIB de 6,1 por cento) .............................................................................. 41<br />

Tabela 3.1: Regressão linear multivariável de todas as variáveis explicativas relevantes<br />

sobre o Z-score do indicador altura/idade (height-for-health Z-zcore)<br />

em crianças menores de cinco anos incluídas no MICS, excluindo<br />

a classificação da riqueza, 2008 ....................................................................................................................................... 60<br />

Tabela 3.2: Casos de cólera em Moçambique, 2007-2010 ....................................................................................................... 78<br />

Tabela 3.3: Análise comparativa das dotações para a saúde, 2007 e 2008 ................................................................ 81<br />

Tabela 3.4: Número de alunos matriculados, por sexo, em cinco distritos de Escolas<br />

Amigas da Criança, 2006-2008 .......................................................................................................................................... 97<br />

Tabela 3.5: Financiamento do sector da água como percentagem do orçamento<br />

do estado, 2003-2010, anos seleccionados .............................................................................. 98<br />

Tabela 4.1: Relação professor-aluno por província, 2008 .......................................................................... 124<br />

Tabela 5.1: Transferências de dinheiro projectadas para agregados familiares chefiados<br />

por idosos, portadores de deficiência e doentes crónicos, 2010-2014 ................................................. 166<br />

Tabela 5.2: Transferências de dinheiro para famílias com crianças órfãs e vulneráveis, 2010-2014...... 166<br />

Tabela 6.1: Scorecard para a resposta do Governo de Moçambique à SIDA numa<br />

perspectiva de género................................................................................................................ 188<br />

Tabela 6.2: Percentagem de crianças que enfrentam duas ou mais privações severas,<br />

2003 e 2008.................................................................................................................................. 190<br />

Tabela 6.3: Metas relativas ao HIV pediátrico, 2009.................................................................................... 214<br />

Tabela 6.4: Estratégias para fazer face a dificuldades usadas anualmente na época<br />

seca no Moçambique rural, 2009, percentagem...................................................................... 221<br />

XVI<br />

XVII


Siglas<br />

ADE<br />

ADE-COV<br />

ADPP<br />

AIDI<br />

AIDNI<br />

AIM<br />

AMCOW<br />

APE<br />

ASH<br />

AZT<br />

C-AIDI<br />

C-AIDNI<br />

C-IMCI<br />

C-IMNCI<br />

C4D<br />

CEDAW<br />

CLTS<br />

CMC<br />

COV<br />

DNA<br />

DNRN<br />

DPI<br />

DPT<br />

EFA-FTI<br />

EP1<br />

EP2<br />

EPC<br />

EPE<br />

EPF<br />

ESG1<br />

ESG2<br />

FASE<br />

FORCOM<br />

FRELIMO<br />

Apoio Directo às Escolas<br />

Apoio Directo às Escolas - Crianças Órfãs e Vulneráveis<br />

Ajuda de Desenvolvimento de Povo para Povo<br />

Atenção Integrada às Doenças da Infância<br />

Atenção Integrada às Doenças Neonatais e da Infância<br />

Agência de Informação de Moçambique<br />

African Ministers’ Council on Water (Conselho de Ministros Africanos da Água)<br />

Agente Polivalente Elementar de Saúde<br />

Água, Saneamento e Higiene<br />

Zidovudine<br />

Atenção Comunitária Integrada às Doenças da Infância<br />

Atenção Comunitária Integrada às Doenças Neonatais e da InfânciaINCM<br />

Community-Integrated Management of Childhood Ilness (Atenção Comunitária<br />

Integrada às Doenças da Infância)<br />

Community-Integrated Management of Neonatal and Childhood Ilness (Atenção<br />

Comunitária Integrada às Doenças Neonatais e da Infância)<br />

Comunicação para o Desenvolvimento<br />

Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as<br />

Mulheres<br />

Community Led Total Sanitation (Saneamento Total Liderado pela Comunidade)<br />

Centro Multimédia Comunitário<br />

Crianças Órfãs e Vulneráveis<br />

Direcção Nacional de Águas<br />

Direcção Nacional dos Registos e Notariado<br />

Desenvolvimento na Primeira Infância<br />

Difteria-Tosse convulsa-Tétano<br />

Educação para Todos – Fast Track Initiative<br />

Ensino Primário do Primeiro Grau<br />

Ensino Primário do Segundo Grau<br />

Ensino Primário Completo<br />

Escolas Primárias Expandidas<br />

Escola de Professores do Futuro<br />

Ensino Secundário Geral do Primeiro Grau<br />

Ensino Secundário Geral do Segundo Grau<br />

Fundo de Apoio ao Sector Educação<br />

Fórum Nacional de Rádios Comunitárias<br />

Frente de Libertação de Moçambique<br />

XIX


GABINFO<br />

HAART<br />

HIV<br />

IAF<br />

ICS<br />

IDG<br />

IDS<br />

IFP<br />

Gabinete de Informação<br />

Hihgly Active Antiretroviral Therapy (terapia antiretroviral altamente activa)<br />

Vírus de Imunodeficiência Humana<br />

Inquérito aos Agregados Familiares<br />

Instituto de Comunicação Social<br />

Índice de Desenvolvimento Ajustado ao Género<br />

Inquérito Demográfico e de Saúde<br />

Instituto de Formação dos Professores<br />

IFTRAB Inquérito Integrado à Força de Trabalho (2004/05)<br />

INGC<br />

Instituto Nacional de Gestão de Calamidades<br />

INSIDA<br />

Inquérito Nacional de Prevalência. Riscos Comportamentais e Informação sobre o HIV e<br />

SIDA em Moçambique<br />

Instituto Nacional das Comunicações de Moçambique<br />

IOF<br />

Inquérito sobre o Orçamento Familiar<br />

IPAJ Instituto do Patrocínio e Assistência Jurídica<br />

IPG<br />

Índice de Paridade de Género<br />

IRA<br />

Infecção Respiratória Aguda<br />

LOLE Lei dos Órgãos Locais do Estado<br />

MICOA Ministério da Coordenação da Acção Ambiental<br />

MICS Inquérito de Indicadores Múltiplos<br />

MINED Ministério da Educação<br />

MMAS Ministério da Mulher e da Acção Social<br />

MPG Medida de Participação segundo o Género<br />

NVP Nevirapina<br />

ODM Objectivos de Desenvolvimento do Milénio<br />

OIM Organização Internacional para as Migrações<br />

OMS Organização Mundial de Saúde<br />

PACOV Plano de Acção para Crianças Órfãs e Vulneráveis<br />

PAP Parceiros de Apoio Programático<br />

PARP Plano de Acção para a Redução da Pobreza<br />

PARPA I Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta (2002-2005)<br />

PARPA II Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta (2006-2009)<br />

PASD Programa de Apoio Social Directo<br />

PES Plano Económico e Social<br />

PESA-ASR Plano Estratégico de Abastecimento de Água e Saneamento Rural<br />

PIB<br />

Produto Interno Bruto<br />

PIDOM Pulverização Residual Intra-domiciliar<br />

PRONASAR Programa Nacional de Abastecimento de Água e Saneamento Rural<br />

PSA<br />

PTV<br />

QFMP<br />

QUIBB<br />

RCP<br />

RED<br />

RENAMO<br />

RM<br />

RMM<br />

RMTILD<br />

SACMEQ<br />

SANTOLIC<br />

SETSAN<br />

SISTAFE<br />

TIC<br />

TVM<br />

UEM<br />

UP<br />

ZIP<br />

Programa de Subsídio de Alimentos<br />

Prevenção da Transmissão Vertical<br />

Quadro Fiscal de Médio Prazo<br />

Questionário de Indicadores Básicos de Bem-Estar<br />

Reacção em cadeia da polimerase<br />

Reaching Each District (Atingir Cada distrito)<br />

Resistência Nacional Moçambicana<br />

Rádio Moçambique<br />

Rácio de Mortalidade Materna<br />

Redes Mosquiteiras Tratadas com Insecticida de Longa Duração<br />

Southern and Eastern Africa Consortium for Monitoring Education Quality (Consórcio da<br />

África Austral e Oriental para a Monitorização da Qualidade Educacional)<br />

Saneamento Total Liderado pela Comunidade<br />

Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutricional<br />

Sistema de Administração Financeira do Estado<br />

Tecnologia de Informação e Comunicação<br />

Televisão de Moçambique<br />

Universidade Eduardo Mondlane<br />

Universidade Pedagógica<br />

Zona de Influência Pedagógica<br />

XX<br />

XXI


Zumbu<br />

ZÂMBIA<br />

Magoe<br />

ZIMBABWE<br />

ÁFRICA DO SUL<br />

SWAZILÂNDIA<br />

Mapa de Moçambique<br />

Palma<br />

Nangade<br />

Mocimboa<br />

MALAWI<br />

Mueda<br />

da praia<br />

Muidumbe<br />

Mecula<br />

Cabo<br />

Macomia<br />

Sanga Mavago<br />

Lago<br />

Delgado<br />

Meluco Quissanga<br />

Montepuez<br />

Muembe Niassa<br />

Pemba<br />

Ancuabe<br />

Marrupa<br />

Mecuti<br />

Lichinga<br />

Majune<br />

Balama<br />

Chiure<br />

N‘gauma<br />

Namuno<br />

Maua<br />

Erati Memba<br />

Nipepe<br />

Nacaroa<br />

Mandimba<br />

Metarica<br />

Lalaua Mecuburi<br />

Chifunde<br />

Nacala-a-Velha<br />

Cuamba<br />

Muecate<br />

Angonia<br />

Malema<br />

Monapo<br />

Macanga<br />

Ribaue Nampula Ilha<br />

Maravia<br />

Nampula<br />

Mecanhelas<br />

Morrupula<br />

Mossuril<br />

Tsangano<br />

Gurue<br />

Chiuta<br />

Tete<br />

Alto<br />

Mogincual<br />

Molocue<br />

Mogovolas<br />

Cahora<br />

Namarroi<br />

Moatize<br />

Bassa<br />

Gile<br />

Angoche<br />

Tete<br />

Milange<br />

Ile<br />

Lugela<br />

Changara<br />

Moma<br />

Mutarara<br />

Zambezia<br />

Tambara<br />

Pebane<br />

Guro<br />

Chemba<br />

Mocuba<br />

Morrumbala<br />

Maganja<br />

da costa<br />

Namacurra<br />

Caia<br />

Macossa Maringue<br />

Quelimane – Cap<br />

Mopeia Nicuadala<br />

Báruè<br />

Inhassunge<br />

Marromeu<br />

Manica<br />

Cheringoma<br />

Chinde<br />

Gorongosa<br />

Manica Sofala<br />

Muanza<br />

Gondola<br />

Nhamatanda<br />

Dondo<br />

Sussundenga<br />

Beira<br />

Buzi<br />

Chibabava<br />

Chicualacuala<br />

Massangena<br />

Mossurize<br />

Mabalane<br />

Morrumbene<br />

Maxixe<br />

Panda<br />

Homoine<br />

Guijá<br />

Jangamo<br />

Inharrime<br />

Magude<br />

Mandlakazi<br />

Xai-Xai<br />

Zavala<br />

Xai-Xai – Cap<br />

Maputo<br />

Bilene<br />

Moamba<br />

Manhiça<br />

Marracuene<br />

Massingir<br />

Gaza<br />

Maputo Cidade<br />

Boane<br />

Namaacha<br />

Matutuíne<br />

Machaze<br />

Chokwe<br />

Chigubo<br />

Chibuto<br />

Mabote<br />

Machanga<br />

Govuro<br />

Funhalouro<br />

Inhassoro<br />

Vilankulo<br />

Inhambane<br />

Massinga<br />

TANZÂNIA<br />

Canal de<br />

Moçambique<br />

Sumário Executivo<br />

A pobreza vivida na infância tem efeitos<br />

imediatos e de longo prazo nas crianças.<br />

Desnutrição crónica, por exemplo, nos dois<br />

primeiros anos de vida pode influenciar<br />

permanentemente o crescimento da criança,<br />

resultando em baixa altura para a idade<br />

e reduzido desenvolvimento mental. O<br />

impacto da pobreza intergeracional na<br />

infância e sua natureza cíclica também<br />

é evidenciado pelo comprovado papel<br />

da pobreza como obstáculo ao acesso a<br />

serviços sociais. As famílias pobres têm mais<br />

dificuldade em aceder a cuidados de saúde<br />

de qualidade, menor probabilidade de ter<br />

os seus filhos na escola e também menor<br />

probabilidade de aceder a água potável e<br />

instalações sanitárias adequadas. É elevado<br />

o risco que as crianças pobres correm de<br />

crescer para se tornarem adultos pobres e,<br />

por sua vez, terem filhos também pobres.<br />

Em 2008/2009, 12 milhões dos cerca de<br />

21,5 milhões de pessoas em Moçambique,<br />

ou seja, 55 por cento da população, vivia<br />

abaixo da linha de pobreza de 18,4 meticais<br />

(cerca de meio dólar americano) por dia.<br />

Comparativamente a 2002/03, a taxa de<br />

pobreza estagnou. Outros indicadores<br />

baseados no consumo incluem a quantidade<br />

de calorias consumidas diariamente. Mais<br />

de metade das crianças moçambicanas<br />

consomem diariamente calorias abaixo do<br />

considerado adequado pela Organização<br />

Mundial de Saúde. No entanto, entre 2002<br />

e 2008 as taxas de pobreza baseada no<br />

consumo estagnaram, principalmente devido<br />

a falta de progressos no sector agrícola.<br />

Moçambique tem registado, nos últimos<br />

anos, grandes progressos na redução da<br />

pobreza na infância baseada em privações e<br />

no aumento do acesso a serviços essenciais.<br />

O nível do rendimento familiar não nos dá<br />

uma imagem completa da saúde e bemestar<br />

da criança. A abordagem baseada<br />

em privações, centrada nas necessidades<br />

básicas e principais serviços públicos de<br />

que a criança está privada, permite uma<br />

compreensão mais multidimensional da<br />

pobreza. Recorrendo a esse indicador, 48<br />

por cento das crianças moçambicanas<br />

vivem em situação de pobreza absoluta -<br />

medida por uma metodologia baseada em<br />

privações – decaindo-se assim dos 59 por<br />

cento registados em 2008. A redução deveuse<br />

a significativas alterações nos sectores<br />

de saúde e educação. As crianças são<br />

particularmente vulneráveis a privações de<br />

água, saneamento e informação.<br />

Sobrevivência e Desenvolvimento<br />

Infantil<br />

A pobreza e a sobrevivência infantil estão<br />

intrinsecamente ligadas. Baixos níveis de<br />

sobrevivência infantil e estado de saúde<br />

deficiente são, simultaneamente, causa e<br />

sintoma de pobreza. O principal indicador<br />

utilizado para medir o nível de bem-estar<br />

da criança e sua taxa de mudança num país<br />

é a taxa de mortalidade de menores de<br />

cinco anos, que desceu de 153 mortes por<br />

1.000 nascidos vivos em 2003 para 141 em<br />

2008. A taxa de mortalidade de menores<br />

de cinco anos resulta de uma ampla<br />

gama de factores, nomeadamente estado<br />

nutricional e conhecimento das mães sobre<br />

a saúde, práticas relativas aos cuidados<br />

a dar, disponibilidade, uso e qualidade<br />

dos serviços de saúde materno-infantil,<br />

rendimento e disponibilidade de alimentos<br />

na família, disponibilidade de água limpa<br />

e saneamento seguro, e segurança global<br />

do ambiente da criança. Embora continue a<br />

haver disparidade, foram feitas melhorias<br />

na taxa de mortalidade de menores de cinco<br />

pelas áreas rurais.<br />

A malária, causas neonatais, infecções<br />

respiratórias agudas e a SIDA são as quatro<br />

principais causas imediatas de mortalidade<br />

nas crianças em Moçambique. A desnutrição<br />

é a principal causa subjacente. A baixa<br />

altura para a idade (ou desnutrição crónica)<br />

permanece muito elevada - 44 por cento<br />

XXII<br />

XXIII


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

SUMÁRIO EXECUTIVO<br />

das crianças menores de 5 anos têm baixa<br />

altura para a idade, um decréscimo de<br />

apenas 4 pontos percentuais desde 2003. A<br />

baixa altura para a idade afecta a criança,<br />

mas está também intimamente ligado ao<br />

desenvolvimento global do país, uma vez<br />

que a desnutrição afecta o desenvolvimento<br />

cognitivo e tem relação com os resultados<br />

educacionais futuros.<br />

A prevalência de malária (causa de um terço<br />

das mortes em crianças menores de cinco<br />

anos de idade) alterou-se muito pouco nos<br />

últimos anos. Em 2007, a prevalência global<br />

era de 51 por cento da população. Apesar<br />

das significativas melhorias, continuou<br />

a ser baixo o acesso a medicamentos<br />

antimaláricos; pouco mais de um terço das<br />

crianças com febre recebem tratamento, o<br />

que reflecte baixa consciência e procura de<br />

tratamento pelos encarregados de cuidar das<br />

crianças e baixo acesso a serviços de saúde.<br />

Infecções Respiratórias Agudas (IRA)<br />

são mais uma das principais causas de<br />

morbilidade e mortalidade nas crianças em<br />

Moçambique, sendo a pneumonia a infecção<br />

mais grave. Há uma grande disparidade<br />

entre a percentagem de crianças que<br />

recebem tratamento para IRA. As que vivem<br />

em áreas urbanas, as das famílias mais<br />

ricas e as crianças cujas mães são instruídas<br />

têm muito mais probabilidade de receber<br />

tratamento para sintomas de IRA.<br />

Água insalubre, saneamento precário e<br />

higiene inadequada também contribuem<br />

para a mortalidade e morbilidade infantil.<br />

Água, saneamento e higiene estão<br />

intimamente ligados a desnutrição infantil.<br />

O acesso a água potável tem também um<br />

efeito significativo sobre as taxas de pobreza<br />

por aumentar o tempo que as famílias (em<br />

particular as mulheres e meninas) podem<br />

despender em actividades mais produtivas.<br />

O acesso a água potável e saneamento<br />

básico continua a ser baixo, situando-se em<br />

43 e 19 por cento dos agregados familiares,<br />

respectivamente. É elevado o nível de<br />

desigualdades geográficas no que respeita a<br />

acesso a água potável e saneamento.<br />

Educação<br />

Uma população instruída é um dos<br />

requisitos fundamentais para uma ampla<br />

redução da pobreza. Moçambique teve,<br />

ao longo da sua história, um sistema<br />

educativo extremamente limitado. Apesar<br />

das significativas melhorias alcançadas,<br />

continuam a ser enormes os desafios no<br />

sector. Estão agora a frequentar a escola<br />

primária cerca de 3,3 dos 4,1 milhões<br />

de crianças de Moçambique com idades<br />

compreendidas entre os 6 e os 12 anos. As<br />

taxas líquidas de escolarização no ensino<br />

primário têm aumentado drasticamente.<br />

Foram também registadas melhorias em<br />

termos de paridade de género, mas justificase<br />

um foco contínuo sobre esta área uma<br />

vez que continuam a ficar fora do sistema<br />

educativo mais meninas do que rapazes.<br />

Foram reduzidas disparidades de longa data<br />

no sector. Se bem que as crianças urbanas e<br />

mais ricas ainda tenham mais probabilidade<br />

de participar no sistema educativo do que<br />

as suas congéneres rurais e mais pobres, foi<br />

nos dois últimos grupos que se registou um<br />

melhoramento mais significativo.<br />

Estar ‘acima da idade’ na escola é um<br />

fenómeno generalizado em Moçambique.<br />

Embora as crianças tendam a entrar para a<br />

escola mais cedo nos últimos anos, é mais<br />

provável que as de 13-17 anos de idade<br />

ainda se encontrem a frequentar o ensino<br />

primário do que o ensino secundário. O<br />

fenómeno ‘acima da idade’ no ensino básico<br />

tem significativas implicações para os<br />

resultados de aprendizagem das crianças,<br />

uma vez que é ministrado o mesmo currículo<br />

a alunos de diferentes idades e níveis de<br />

desenvolvimento cognitivo.<br />

É generalizado o fenómeno do ‘choque<br />

de acesso’. O aumento maciço do número<br />

de alunos tem colocado enorme pressão<br />

sobre o sistema de ensino, com efeitos<br />

danosos na qualidade de ensino. Dados<br />

recentes indicam que nos últimos anos as<br />

competências de leitura e aritmética das<br />

crianças moçambicanas se têm deteriorado.<br />

É necessário que se registem melhorias no<br />

número e na qualidade dos professores, nas<br />

infra-estruturas escolares e na protecção<br />

das crianças contra a violência física e<br />

sexual para se conseguir elevar o acesso e<br />

a qualidade, e para que o acesso se traduza<br />

em resultados de desenvolvimento.<br />

Protecção da criança<br />

Uma protecção efectiva da criança assegura<br />

que as mais vulneráveis sejam protegidas<br />

de práticas prejudiciais e não fiquem<br />

marginalizadas na redução da pobreza.<br />

Abuso e exploração sexual, tráfico, trabalho<br />

infantil, violência, deficiência, casamento<br />

infantil, entre outros, são questões a tratar<br />

no âmbito da protecção das crianças em<br />

Moçambique. Sistemas nacionais eficazes<br />

de protecção da criança têm como ponto<br />

de partida a existência de leis, políticas<br />

e regulamentos que visem defender os<br />

direitos da criança. Importantes progressos<br />

foram feitos nessas áreas nos últimos anos,<br />

mas continuam a existir muitos desafios.<br />

A violência contra as mulheres e crianças<br />

tem devastadoras consequências para<br />

a saúde física e mental a curto e longo<br />

prazo. A violência física e sexual é comum,<br />

chegando a 54 por cento as mulheres<br />

que foram espancadas e 23 por cento as<br />

submetidas a alguma forma de abuso<br />

sexual. É também muito comum nas<br />

escolas o abuso sexual cometido contra<br />

alunas. Um baixo nível de conhecimento,<br />

por parte das vítimas, dos seus direitos e,<br />

simultaneamente, uma cultura de silêncio<br />

e aceitação da violência são o principal<br />

obstáculo à resolução o problema.<br />

O trabalho infantil é outra forma comum<br />

e grave de abuso e exploração em<br />

Moçambique. As crianças trabalhadoras são<br />

muitas vezes acrescidamente exploradas<br />

com más condições de trabalho, incluindo<br />

abuso verbal e sexual, e salários pagos<br />

com atraso ou, inclusivamente, não pagos.<br />

Reduzir a carga de trabalho sobre as<br />

crianças depende tanto da aplicação de<br />

regulamentação laboral eficaz contra o<br />

trabalho infantil como de garantir às crianças<br />

e suas famílias, especialmente às mais<br />

pobres e mais vulneráveis, os benefícios<br />

resultantes da redução da pobreza.<br />

Os casamentos prematuros podem ter<br />

graves implicações para a saúde das<br />

meninas. Gravidez e parto na adolescência<br />

estão associados a problemas de saúde<br />

e fracos resultados nutricionais tanto da<br />

mãe como dos filhos. Mais de metade<br />

das raparigas moçambicanas casam-se<br />

antes dos 18 anos de idade. O casamento<br />

infantil é mais comum na região norte de<br />

Moçambique.<br />

O registo de nascimento tem impactos<br />

sobre a pobreza uma vez que possibilita<br />

às crianças um maior acesso a serviços<br />

sociais. Moçambique tem aumentado<br />

significativamente, em todo o país, o acesso<br />

a serviços de registo de nascimento, que, no<br />

entanto, continua baixo. A percentagem de<br />

crianças menores de cinco anos com registo<br />

de nascimento aumentou de 8 por cento em<br />

2003 para 31 por cento em 2008.<br />

Estima-se existirem 1,8 milhões de órfãos<br />

em Moçambique, dos quais 510.000 devido<br />

à SIDA, número este que deverá crescer nos<br />

próximos anos. As crianças órfãs podem<br />

enfrentar uma ampla gama de ameaças à<br />

sua protecção. Têm maior probabilidade<br />

do que os não órfãos de ter uma iniciação<br />

sexual precoce, sendo também mais<br />

propensos que os não órfãos a casar jovens.<br />

Embora a capacidade dos sistemas de<br />

justiça na prevenção e combate às diferentes<br />

formas de violência, abuso e exploração<br />

tenha sido reforçada, a resposta global<br />

continua a ser fragmentada, reactiva,<br />

fraca e insuficientemente financiada. É<br />

também necessário que se aperfeiçoem os<br />

mecanismos de recolha de dados, monitoria e<br />

apresentação de relatórios a todos os níveis.<br />

Questões transversais<br />

Em Moçambique, as mulheres têm maior<br />

probabilidade que os homens de viver em<br />

situação de pobreza. Em 2007, Moçambique,<br />

classificou-se, entre 155 países, na 145a<br />

posição no índice de desenvolvimento<br />

XXIV<br />

XXV


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

SUMÁRIO EXECUTIVO<br />

ajustado ao género baseado na esperança<br />

de vida, educação, alfabetização e PIB per<br />

capita, o que reflecte os desafios sociais,<br />

económicos e culturais enfrentados pelas<br />

mulheres. As mulheres são mais propensas<br />

que homens a participar na força de<br />

trabalho, mas têm menor acesso à educação,<br />

menos oportunidades de emprego formal,<br />

menor renda e menos oportunidade de<br />

diversificar os seus rendimentos. Estudantes<br />

do sexo feminino enfrentam barreiras de<br />

acesso à educação, incluindo abuso sexual<br />

nas escolas e casamento prematuro.<br />

Existem desigualdades entre as províncias<br />

em todas as áreas, tendo as crianças das<br />

províncias do norte e do centro menor<br />

acesso aos serviços de saúde, educação,<br />

água, saneamento e protecção. Províncias<br />

como a Zambézia têm mais baixas<br />

dotações orçamentais, menos serviços e<br />

menores resultados de desenvolvimento<br />

humano em termos de sobrevivência e<br />

mortalidade infantil. As províncias do sul<br />

têm maior prevalência de HIV/SIDA, bem<br />

como, de forma correspondente, mais<br />

elevados resultados nos serviços de saúde e<br />

tratamento.<br />

O HIV e a SIDA afectam a pobreza das<br />

famílias, incapacitando os que trabalham<br />

para as sustentar e elevando o nível de<br />

dependência na população. Através dos<br />

seus efeitos sobre o número de professores<br />

formados, profissionais de saúde e outros<br />

prestadores de serviços, a SIDA tem<br />

também impacto sobre a futura geração<br />

de capital humano. O Inquérito Nacional<br />

sobre o HIV/SIDA 2009 (INSIDA) mostra uma<br />

prevalência nacional de HIV no grupo etário<br />

de 15-49 anos de idade de 11,5 por cento.<br />

Os resultados desagregados por região<br />

confirmaram a maior prevalência no sul,<br />

seguindo-se a zona centro. A prevalência<br />

do HIV é significativamente mais elevada<br />

nas áreas urbanas do que nas áreas rurais<br />

em todas as regiões e entre as mulheres,<br />

especialmente entre as jovens. Há, contudo,<br />

alguma evidência de que a incidência do<br />

HIV tem vindo a diminuir. Os dados indicam<br />

também uma tendência global positiva no<br />

conhecimento e consciência da transmissão<br />

do HIV e sua prevenção.<br />

Situações de emergência como as secas<br />

e inundações, por exemplo, têm graves<br />

impactos sobre o bem-estar das crianças.<br />

A vulnerabilidade das crianças aumenta<br />

em situações de emergência, uma vez que<br />

elas ficam com menos acesso a serviços de<br />

saúde, ao mesmo tempo que aumentam<br />

as doenças transmitidas pela água, como<br />

a cólera. Há rotura na educação e na<br />

rotina, e as crianças têm menos protecção<br />

contra a exploração, por exemplo, contra<br />

o abuso sexual e sexo para sobrevivência.<br />

As emergências, paralelamente às<br />

vulnerabilidades que agravam, podem<br />

intensificar-se pois a mudança climática faz<br />

aumentar a ocorrência de ciclones no país.<br />

Há também factores ambientais<br />

relacionados com as principais causas de<br />

mortalidade infantil, como a malária e<br />

infecções respiratórias agudas. Degradação<br />

ambiental significa aumento de poluição,<br />

stress hídrico, desflorestação e degradação<br />

do solo, que se traduzem em pressão nas<br />

necessidades básicas de saúde e segurança<br />

alimentar das crianças.<br />

Comunicação e fortes órgãos de<br />

comunicação social são fundamentais<br />

para todos os cidadãos, inclusive crianças,<br />

terem uma palavra a dizer nas questões<br />

que afectam as suas vidas. São ainda uma<br />

forma de transmitir informações vitais para<br />

os pais em matéria de educação, saúde e<br />

questões de protecção, por exemplo, como<br />

proteger os seus filhos da malária ou quais<br />

os efeitos nocivos do abuso cometido contra<br />

crianças. Uma comunicação inovadora para<br />

estratégias de desenvolvimento, incluindo<br />

a Rádio Criança para Criança e Unidades<br />

Móveis Multimédia têm um enorme<br />

potencial para envolver mais pessoas,<br />

principalmente jovens, em actividades<br />

educativas, diálogo e debate públicos.<br />

XXVI<br />

XXVII


1CAPÍTULO<br />

1. Introdução<br />

A pobreza em<br />

Moçambique<br />

1CAPÍTULO<br />

A POBREZA EM MOÇAMBIQUE<br />

O Programa Quinquenal do Governo 2010-2014<br />

estabelece as prioridades estatais nacionais de<br />

Moçambique. Este plano e o respectivo plano<br />

operacional e quadro de monitoria e avaliação<br />

- o Plano de Acção para a Redução da Pobreza,<br />

ou PARP orientam, por sua vez, as contribuições<br />

das Nações Unidas (ONU), dos doadores e dos<br />

parceiros da sociedade civil em apoio a essas<br />

prioridades. O Sistema das NU em Moçambique<br />

vai preparar um novo Quadro de Assistência<br />

ao Desenvolvimento, para 2012-2015, e cada<br />

agência e parceiro desenvolverão os seus<br />

próprios Programas de Cooperação com o<br />

país, apoiando e obedecendo a prioridades e<br />

processos de planificação nacionais.<br />

Em 2006, o Sistema das Nações Unidas em<br />

Moçambique publicou A Pobreza na Infância<br />

em Moçambique: Uma Análise da Situação<br />

e das Tendências, 1 onde se descreve como<br />

a pobreza afecta a vida das crianças e a sua<br />

capacidade de usufruir dos seus direitos. Este<br />

estudo de 2010 centrar-se-á na avaliação da<br />

pobreza infantil em Moçambique e identificação<br />

dos obstáculos à realização dos direitos da<br />

criança. Trata-se de uma actualização onde<br />

se descreve detalhadamente a situação em<br />

que vivem os dez milhões de crianças em<br />

Moçambique, bem como as políticas públicas,<br />

o financiamento e o ambiente da prestação de<br />

serviços para as crianças. Funcionará como<br />

fonte de dados quantitativos e qualitativos<br />

para informar decisões políticas baseadas em<br />

evidências sobre as prioridades nacionais de<br />

desenvolvimento e intervenções nesse domínio.<br />

Desde a publicação de A Pobreza na Infância<br />

em Moçambique: Uma Análise da Situação<br />

e das Tendências - 2006, vieram a lume mais<br />

dados e análises da situação das crianças,<br />

principalmente através do Censo de 2007, 2<br />

da Pesquisa de Indicadores Múltiplos 2008<br />

(MICS), 3 do Inquérito aos Orçamentos<br />

Familiares (IOF) 2008/09, 4 do Estudo<br />

Nacional sobre a Mortalidade Infantil 2008, 5<br />

das Observações Finais do Comité para a<br />

Convenção sobre os Direitos da Criança 6 e da<br />

avaliação conjunta dos progressos alcançados<br />

rumo aos objectivos e metas do PARPA II (2006<br />

-2009) do Governo de Moçambique realizada<br />

em 2009. 7<br />

A pobreza na infância tem efeitos imediatos<br />

e de longo prazo nas crianças. Desnutrição<br />

crónica, por exemplo, nos dois primeiros anos<br />

de vida pode influenciar permanentemente o<br />

crescimento de uma criança, resultando em<br />

baixa altura para a idade e desenvolvimento<br />

mental reduzido. O impacto da pobreza<br />

intergeracional na infância e sua natureza cíclica<br />

também é evidenciado pelo seu comprovado<br />

papel como obstáculo ao acesso a serviços<br />

sociais. As famílias pobres têm mais dificuldade<br />

em aceder a cuidados de saúde de qualidade,<br />

têm menos probabilidade de ter os seus filhos<br />

na escola e igualmente menos probabilidade de<br />

aceder a água potável e instalações sanitárias<br />

adequadas. É elevado o risco que correm as<br />

crianças pobres de se tornarem adultos pobres<br />

e, por sua vez, virem a ter filhos pobres.<br />

Este capítulo analisa a pobreza na infância,<br />

debruçando-se, em primeiro lugar, sobre as<br />

tendências históricas da pobreza baseada no<br />

consumo e, em segundo lugar, da pobreza<br />

baseada em privações. Finalmente, esboçamse<br />

uma série de conclusões concernentes à<br />

pobreza infantil.<br />

3


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPITULO 1: A POBREZA EM MOÇAMBIQUE<br />

2. Medindo a pobreza<br />

2.1. Pobreza baseada no<br />

consumo<br />

Após a assinatura do Acordo de Paz de<br />

1992, Moçambique fez progressos notáveis<br />

na redução da incidência da pobreza, de<br />

69 por cento em 1996 para 54 por cento<br />

em 2002, superando a meta do PARPA I de<br />

uma incidência de pobreza de 60 por cento<br />

até 2005. 8 Esta tendência não se manteve<br />

entre 2002 e 2008. De acordo com o IOF de<br />

2008/2009, 55 por cento dos moçambicanos<br />

vivem abaixo da linha de pobreza de 18,4<br />

meticais (cerca de meio dólar americano)<br />

por dia. O consumo e os rendimentos<br />

aumentaram e a pobreza decaiu para a<br />

maioria dos moçambicanos entre 1996 e<br />

2002, Seguiu-se estagnação entre 2002 e<br />

2008. 9<br />

As estimativas oficiais da pobreza nacional<br />

de Moçambique medem a capacidade<br />

de uma família, através do seu consumo,<br />

de satisfazer as suas necessidades mais<br />

elementares. A incidência da pobreza<br />

baseada no consumo tem por base o<br />

Inquérito aos Orçamentos Familiares<br />

(IOF), que é realizado de seis em<br />

seis anos pelo Instituto Nacional de<br />

Estatística e o Ministério de Planificação e<br />

Desenvolvimento. O terceiro e mais recente<br />

inquérito foi realizado em 2008/09.<br />

‘Consumo’ inclui tanto produtos alimentares<br />

como não alimentares, sendo ajustado para<br />

a sazonalidade dos primeiros, mas omite<br />

serviços públicos e serviços feitos em casa.<br />

Aplica-se uma metodologia de Custo de<br />

Necessidades Básicas, uma abordagem<br />

que consiste no desenvolvimento de uma<br />

cesta de alimentos consumidos pelos<br />

pobres, que é considerada suficiente para<br />

as necessidades básicas de calorias (o<br />

i<br />

conteúdo calórico de cada cesta depende<br />

da composição demográfica da região,<br />

mas, em média, ronda as 2.150 calorias por<br />

dia). O custo de tal cesta representa a linha<br />

de pobreza alimentar. A linha de pobreza<br />

não alimentar é obtida através da análise<br />

da parcela de despesa total atribuída a<br />

outros que não alimentos por famílias que<br />

se encontram próximo da linha de pobreza<br />

alimentar. A linha de pobreza global é então<br />

calculada como soma das linhas de pobreza<br />

alimentar e não alimentar. Note-se que a<br />

linha de pobreza representa um padrão de<br />

vida extremamente básico. i<br />

O indicador para medir a percentagem de<br />

pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza<br />

é conhecido como incidência da pobreza.<br />

Embora a incidência da pobreza a nível<br />

nacional se tenha mantido relativamente<br />

constante entre 2003 e 2008, foram estimadas<br />

grandes disparidades tanto nos níveis como<br />

na variação da pobreza a nível provincial.<br />

A maior redução nas taxas de pobreza<br />

ocorreu em Cabo Delgado (-26 pontos<br />

percentuais) e Inhambane (-23 pontos<br />

percentuais). Em contrapartida, a Zambézia<br />

(+26 pontos percentuais) e Sofala (+22 pontos<br />

percentuais) destacam-se como sendo as<br />

duas províncias que apresentam os maiores<br />

aumentos na incidência da pobreza desde<br />

2002/03. A estagnação na taxa de pobreza<br />

global desde 2002/03 é principalmente devida<br />

ao substancial aumento da pobreza medida<br />

na Zambézia e em Sofala, que contrabalançou<br />

a queda observada em cinco províncias.<br />

Estimativas indicam que a província da<br />

Zambézia tinha a maior incidência de pobreza<br />

em 2008/09: 70,5 por cento. 10<br />

A incidência da pobreza não informa<br />

sobre os níveis de bem-estar dos que se<br />

encontram abaixo da linha da pobreza. Para<br />

Para uma completa descrição da metodologia usada para estimar a taxa de pobreza de Moçambique, ver Ministério<br />

de Planificação e Desenvolvimento, ‘Pobreza e Bem-estar em Moçambique: Terceira Avaliação Nacional da Pobreza’,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, Setembro de 2010.<br />

medir a profundidade da pobreza, utilizase<br />

o índice de profundidade da pobreza .<br />

Trata-se de uma medida da distância média<br />

percentual que contempla o que falta ao<br />

agregado familiar médio pobre para escapar<br />

da pobreza e elevar-se acima da linha de<br />

pobreza. Para medir a desigualdade entre<br />

os pobres, recorre-se ao quadrado do<br />

índice de profundidade da pobreza. Este<br />

índice é o termo médio do quadrado das<br />

profundidades da pobreza, dando assim<br />

peso a ganhos obtidos pelos mais pobres<br />

dos pobres. A Terceira Avaliação Nacional da<br />

Pobreza não constatou qualquer mudança<br />

nas medidas de profundidade da pobreza e<br />

do quadrado da profundidade da pobreza<br />

entre 2002/03 e 2008/09, querendo isto<br />

dizer que o rendimento real dos pobres em<br />

relação à linha de pobreza foi relativamente<br />

constante entre 2002 e 2008. 11<br />

Os níveis de igualdade têm permanecido<br />

razoavelmente constantes entre 2002 e<br />

2008. O coeficiente de Gini, ii um indicador<br />

da desigualdade de rendimento, calculado<br />

a partir dos inquéritos do IOF, não registou<br />

alteração significativa entre 1997 e 2008.<br />

A desigualdade é significativamente mais<br />

elevada nas áreas urbanas do que nas áreas<br />

rurais. 12 Indícios há que apontam para uma<br />

maior desigualdade no interior das províncias<br />

e distritos do que entre estes. Segundo um<br />

estudo, 83 a 86 por cento da desigualdade<br />

total em Moçambique ocorre no interior dos<br />

distritos e não entre distritos. 13<br />

A redução da pobreza em Moçambique entre<br />

1996/97 e 2002/03 não beneficiou de igual<br />

modo todos os segmentos da população. A<br />

pobreza teve uma redução mais significativa<br />

nas famílias chefiadas por homens do que<br />

nas famílias chefiadas por mulheres, que<br />

representam cerca de 30 por cento do total<br />

de agregados familiares em Moçambique. 14<br />

Embora a pobreza tenha diminuído 26 por<br />

cento nos agregados familiares chefiados<br />

por homens (passando de cerca de 70<br />

por cento em 1996/97 para 52 por cento<br />

em 2002/03), registou um decréscimo de<br />

apenas 6 por cento nos agregados familiares<br />

chefiados por mulheres (de 67 para 63 por<br />

cento entre 1996/97 e 2002/03). iii<br />

Os agregados familiares em Moçambique<br />

são vulneráveis a choques que os podem<br />

fazer descer abaixo da linha de pobreza.<br />

Os níveis de pobreza entre as famílias<br />

variaram significativamente ao longo<br />

da última década, especialmente a nível<br />

provincial, o que realça a vulnerabilidade de<br />

grande parte da população. Os agregados<br />

familiares moçambicanos são extremamente<br />

vulneráveis a choques como a perda de<br />

um rendimento ou uma cultura fracassada<br />

devido a secas ou inundações. As flutuações<br />

sazonais podem levar temporariamente os<br />

agregados familiares para cima ou para<br />

baixo da linha de pobreza.<br />

O Ministério de Planificação e<br />

Desenvolvimento apontou os seguintes<br />

factores como subjacentes à pobreza entre<br />

2002 e 2008: 15<br />

• l Muito baixas taxas de crescimento da<br />

produtividade agrícola, especialmente<br />

no que respeita a culturas alimentares,<br />

registadas desde 2002;<br />

• l Choques climáticos que afectaram as<br />

colheitas de 2008, particularmente nas<br />

províncias do centro;<br />

• l Declínio dos termos de troca, devido<br />

a grandes aumentos nos preços dos<br />

alimentos e combustíveis. Os preços dos<br />

combustíveis, em particular, aumentaram<br />

substancialmente no período 2002/03 a<br />

2008/09.<br />

ii O coeficiente de Gini é uma medida de dispersão estatística comummente usada como medida de desigualdade de renda<br />

ou de riqueza. O coeficiente de Gini varia de 0 a 1. Um baixo coeficiente de Gini indica uma distribuição mais igualitária, em<br />

que 0 corresponde a uma perfeita igualdade, enquanto coeficientes de Gini mais elevados indicam uma distribuição mais<br />

desigual, correspondendo 1 a uma perfeita desigualdade. O coeficiente de Gini foi de 0,41 tanto em 2002 como em 2008.<br />

iii Ver Capítulo 6, Questões transversais, para uma discussão mais pormenorizada da feminização da pobreza em<br />

Moçambique.<br />

4<br />

5


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPITULO 1: A POBREZA EM MOÇAMBIQUE<br />

A medida de consumo utilizada em<br />

Moçambique é uma medida per capita,<br />

absolutamente sem se considerarem as<br />

diferenças entre as crianças e os adultos<br />

nas necessidades diárias de calorias para<br />

satisfazer as suas necessidades mínimas. À<br />

primeira vista, isso significa que a situação<br />

de pobreza nas crianças pode ser um pouco<br />

melhor do que o retratado, pois um adulto<br />

trabalhador necessita de mais calorias por<br />

dia, e, portanto, de mais despesas do que<br />

uma criança não trabalhadora. No entanto,<br />

como as crianças necessitam de ingerir<br />

mais micronutrientes do que os adultos,<br />

manter a necessidade de calorias dos adultos<br />

pode ser um razoável indicador indirecto<br />

para a formulação de uma linha de pobreza<br />

infantil baseada no consumo. 16 Além disso,<br />

a percentagem de crianças trabalhadoras é<br />

elevada, reportando os relatórios do MICS<br />

2008 que 22 por cento das crianças com<br />

idades entre os 5 e os 14 anos estiveram<br />

envolvidas em alguma forma de trabalho fora<br />

de casa (28 ou mais horas por semana). 17<br />

Todas as medidas de pobreza têm as suas<br />

limitações e a abordagem baseada no<br />

consumo não é excepção. Uma limitação<br />

importante é que a medida se aplica ao<br />

consumo de agregados familiares e não<br />

de indivíduos. Não é possível com os<br />

dados do IOF estimar-se o consumo de<br />

cada membro do agregado. A medida não<br />

captura, portanto, variações na distribuição<br />

entre os membros da família, incluindo as<br />

diferenças entre adultos e crianças. Este facto<br />

poderia significar que alguns membros de<br />

um agregado não pobre podem ser, de facto,<br />

pobres em termos de consumo, e o contrário.<br />

Há evidências de que ocorre de facto<br />

discriminação em Moçambique na alocação<br />

de recursos no seio dos agregados familiares.<br />

Por exemplo, um estudo de 2005 constatou<br />

que os descendentes não biológicos do chefe<br />

de família são discriminados na alocação<br />

intra-domiciliar de recursos em agregados<br />

familiares pobres. 18 Não é possível medir essa<br />

discriminação através dos dados do IOF. Além<br />

disso, é excluído o consumo de todos os<br />

serviços públicos. Não há nenhuma tentativa<br />

de cálculo do valor do consumo de serviços<br />

públicos como educação, saúde e infraestrutura<br />

económica. 19 Dado o significativo<br />

investimento em serviços públicos nos<br />

últimos anos, o consumo de bens públicos<br />

teve um significativo impacto no bem-estar<br />

das crianças em Moçambique.<br />

As crianças vivenciam a pobreza, a privação<br />

e a violação dos seus direitos de forma<br />

diferente de seus pais e outros adultos,<br />

no que respeita tanto ao tipo de privação<br />

Caixa 1.1 Metodologia e fontes de informação<br />

Metodologia da pesquisa<br />

A metodologia empregue na elaboração deste estudo Pobreza Infantil e Disparidades em Moçambique - 2010<br />

consiste principalmente em revisão documental de publicações, dados de pesquisas e relatórios já existentes. Para<br />

a análise, solicitaram-se contribuições do Governo, de parceiros doadores, agências das NU e uma série de outras<br />

partes interessadas, num processo que foi gerido por um comité director presidido pelo <strong>UNICEF</strong>. A estrutura e o<br />

conteúdo do estudo baseiam-se nos que foram utilizados em A Pobreza na Infância em Moçambique: Uma Análise<br />

da Situação e das Tendências - 2006, visando garantir coerência, facilitar comparações e avaliar o progresso.<br />

Adicionou-se um novo capítulo em que serão tratadas questões transversais.<br />

A análise documental foi complementada por consultas à sociedade civil e outras partes interessadas. As<br />

consultas foram de grande utilidade no desenvolvimento de análises de causalidade, de papéis/padrões e de<br />

capacidade adiante descritas. À semelhança do relatório de 2006, esta actualização serve-se de uma medida da<br />

pobreza infantil baseada em privações para complementar a medida de pobreza oficial baseada no consumo.<br />

A análise da pobreza baseada em privações examina o acesso das crianças a sete aspectos fundamentais do<br />

desenvolvimento: água, saneamento, habitação, educação, nutrição, saúde e informação. 20<br />

Fontes de dados e informações<br />

O estudo Pobreza Infantil e Disparidades em Moçambique - 2010 baseia-se em três pesquisas importantes,<br />

nomeadamente o Inquérito de Indicadores Múltiplos (MICS) 2008 21 , o Inquérito aos Orçamentos Familiares<br />

(IOF) de 2008/09 e o Estudo Nacional sobre a Mortalidade Infantil - 2009. 22 O MICS foi realizado e publicado<br />

pelo Instituto Nacional de Estatística, com apoio técnico e financeiro do <strong>UNICEF</strong>. O IOF 2008/09 foi realizado<br />

e publicado pelo Instituto Nacional de Estatística e o Ministério de Planificação e Desenvolvimento. O Estudo<br />

Nacional sobre a Mortalidade Infantil foi realizado pelo Instituto Nacional de Saúde de Moçambique, em<br />

colaboração com a Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres e o <strong>UNICEF</strong>. Os dados obtidos a partir<br />

destas fontes foram utilizados para actualizar as informações apresentadas no estudo sobre a pobreza na<br />

infância, 2006. Uma importante fonte de informações e análise foi a avaliação conjunta do impacto do PARPA II,<br />

incluindo os estudos em profundidade solicitados no âmbito do processo de avaliação do PARPA II. 23<br />

Pelo olhar de uma criança iv<br />

Seguiu-se a metodologia conhecida como foto-voz para compreender melhor as ideias, perspectivas e<br />

realidades projectadas pelas meninas. A foto-voz consiste em fazer perguntas às crianças sobre os problemas<br />

que enfrentam a que devem responder por meio de fotografias tiradas, seguindo-se debate e diálogo de grupo.<br />

Através deste processo, as meninas pareciam passar por uma transformação. No início da pesquisa, estavam<br />

envergonhadas e tímidas. Quando uma respondia, em voz muito baixa, a uma pergunta, as outras traduziam a<br />

resposta em mímica, mudando ligeiramente as palavras. A alguma pergunta que se seguisse, elas respondiam<br />

tranquilamente usando apenas uma ou duas palavras. As meninas confidenciaram que ninguém lhes pedia que<br />

apresentassem as suas ideias, pelo que estavam a viver uma experiência nova. Em breves instantes, usandose<br />

uma metodologia participativa, elas estavam ansiosas por compartilhar as suas próprias ideias. Na verdade,<br />

estavam a discutir umas com as outras e, confiantes, a exprimir os seus pensamentos. Tinham deixado de ser<br />

destinatárias passivas de conhecimento, passando a contribuintes activas para novo conhecimento, ideias e<br />

soluções. Elas compartilharam soluções práticas para os desafios enfrentados no seu dia-a-dia e, por meio<br />

das entrevistas à comunidade que realizaram e das fotos que tiraram, começaram a ver, pela primeira vez,<br />

semelhanças nas vidas das suas avós, mães e tias e em que medida queriam que as suas vidas fossem diferentes.<br />

O grupo produziu mais de 100 fotografias e exprimiu os seus pontos de vista sobre uma grande variedade de<br />

questões, incluindo pobreza, saúde, água e saneamento e questões de género. Estão contidas no presente<br />

relatório algumas das fotos que tiraram e das histórias que contaram.<br />

iv Zainul SajanVirgi, doutoranda na McGill Universidty, realizou uma pesquisa participativa para descobrir problemas enfrentados<br />

pelas crianças na Machava, nos arredores da Cidade de Maputo. A pesquisa envolveu consulta contínua de um grupo de meninas<br />

pré-adolescentes por um período de seis meses.<br />

6<br />

7


Pelo olhar<br />

de uma<br />

criança<br />

POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

“Nesta fotografia lembro-me muito bem que naquele dia eu tinha comido.”<br />

experimentada como ao grau relativo de<br />

privação. As crianças são proporcionalmente<br />

mais vulneráveis à pobreza extrema, sendo,<br />

por isso, fundamental que se determine<br />

se a situação de pobreza descrita numa<br />

perspectiva predominantemente de adulto<br />

é igualmente aplicável às crianças. 24<br />

Apresentam-se nesta secção estimativas de<br />

pobreza infantil, utilizando os indicadores<br />

de Bristol para uma medida baseada em<br />

privações, adaptados para Moçambique.<br />

Estimativas da incidência de pobreza infantil<br />

baseada no consumo, obtidas a partir do<br />

Inquérito aos Agregados Familiares (IAF) 2003,<br />

indicaram que o nível de pobreza nas crianças<br />

foi significativamente mais elevado do que<br />

nos adultos. Em 2002/2003, 58 por cento<br />

das crianças viviam em situação de pobreza,<br />

comparativamente a 49 por cento dos adultos.<br />

Embora a pobreza infantil baseada no<br />

consumo tenha diminuído significativamente<br />

entre o inquérito de 1997 e o de 2003, o fosso<br />

entre as crianças e os adultos não estreitou<br />

entre 1996/97 e 2002/03, com ambos os grupos<br />

registando uma redução de 22 por cento no<br />

seu nível de pobreza. A diminuição nos níveis<br />

de pobreza infantil foi mais acentuada nas<br />

zonas rurais (24 por cento) do que nas áreas<br />

urbanas (16 por cento).<br />

CAPITULO 1: A POBREZA EM MOÇAMBIQUE<br />

2.2. Medidas de pobreza<br />

baseada em privações<br />

O Plano de Acção para a Redução da Pobreza<br />

Absoluta, PARPA I (2001-2005), definiu<br />

pobreza absoluta como “incapacidade dos<br />

indivíduos de assegurar para si e os seus<br />

dependentes um conjunto de condições<br />

mínimas para a sua subsistência e bem-estar,<br />

segundo as normas da sociedade.” 25 Muitos<br />

observadores propuseram posteriormente<br />

que esta definição de pobreza fosse suportada<br />

por medidas mais multidimensionais, a fim<br />

de apresentar uma análise mais ampla, mais<br />

pluralista e baseada em direitos. 26 Esta opinião<br />

foi formalmente aprovada pelo Governo no<br />

Plano de Acção para a Redução da Pobreza<br />

Absoluta 2006-2010 (PARPA II).<br />

Embora reporte sobre a medida baseada<br />

no consumo na sua análise da pobreza, o<br />

PARPA II adoptou uma nova definição de<br />

pobreza: “Impossibilidade por incapacidade,<br />

ou por falta de oportunidade de indivíduos,<br />

famílias e comunidades de terem acesso<br />

a condições mínimas, segundo as normas<br />

básicas da sociedade.” O PARPA II reconhece<br />

expressamente que é importante não<br />

se ficar excessivamente dependente de<br />

qualquer medida de pobreza, afirmando<br />

que “Para efeitos de definição de políticas,<br />

”Nós nunca temos comida suficiente.<br />

Normalmente temos chá preto e pão para<br />

o pequeno almoço. Se temos ou não<br />

mais uma refeição depende dos adultos<br />

com que vivemos. Se as nossas mães<br />

e avós fizeram dinheiro naquele dia ou<br />

guardaram dinheiro que tenha restado<br />

do seu salário mensal, nós comemos.<br />

Perto do fim do mês, podemos já não ter<br />

dinheiro nem comida, e então vamos para<br />

a cama com fome. Muitas vezes ficamos<br />

um dia, mesmo dois, sem comer nada.<br />

Muitas vezes choramos, não só porque<br />

estamos com fome, mas porque nos<br />

sentimos sozinhos quando não temos<br />

comida, como se ninguém se preocupasse<br />

connosco.<br />

“Lembramo-nos dos dias em que comemos.<br />

Muitas vezes, quando acordamos a meio da<br />

noite, vemos as nossas mães preocupadas<br />

com o que nos vão dar de comer no dia<br />

seguinte. Mesmo quando as nossas mães e<br />

avós trabalham todos os dias, voltam muitas<br />

vezes para casa com muito pouco dinheiro.<br />

É triste para nós ver a vida difícil que levam<br />

as nossas mães e avós. Quando crescermos,<br />

vamos trabalhar muito para cuidar delas“.<br />

-Lina, 14 anos<br />

Fonte: SajanVirgi, Zainul, 2010.<br />

Tabela 1.1: Privação em Moçambique, 2008<br />

Privação<br />

Nutrição<br />

Água<br />

Saneamento<br />

Saúde<br />

Abrigo<br />

Educação<br />

Informação<br />

Percentagem de crianças com privações severas<br />

20 por cento das crianças menores de cinco anos de idade confronta-se com desnutrição<br />

grave. v<br />

39 por cento das crianças não têm acesso a água potável a menos de 30 minutos de sua<br />

casa.<br />

43 por cento das crianças não têm acesso a um sanitário de qualquer espécie nos<br />

arredores de sua casa.<br />

12 por cento das crianças menores de cinco anos de idade não são imunizadas ou<br />

tiveram alguma infecção respiratória aguda (IRA) que não foi tratada.<br />

5 por cento das crianças vivem numa casa com mais de cinco pessoas por quarto.<br />

12 por cento das crianças nunca frequentaram a escola.<br />

40 por cento das crianças não têm televisão, rádio ou jornal em casa<br />

Fonte: <strong>UNICEF</strong>, Child Poverty in <strong>Mozambique</strong>: A deprivations-based approach. Maputo, 2009.<br />

v Percentagem de crianças menores de cinco anos de idade cujo índice nutricional (peso para a altura, peso para a idade,<br />

altura para a idade) é igual ou encontra-se abaixo de -3 desvios-padrão da mediana do padrão da OMS 2006<br />

8<br />

9


Pelo olhar<br />

de uma<br />

criança<br />

POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

“A minha bisavó trabalhou no campo. A<br />

minha avó trabalha no campo. Eu não sei<br />

o que faz a minha mãe desde que ela foi<br />

morar para a África do Sul. A minha tia tem<br />

barracas de comida. Agora que vejo a vida<br />

da minha família, espero vir a fazer alguma<br />

coisa diferente”.<br />

– Aida, 12 anos<br />

Fonte: Virgi Sajan, Zainul, 2010.<br />

a pobreza foi inicialmente relacionada<br />

com a falta de rendimentos – dinheiro ou<br />

espécie – necessários para a satisfação das<br />

necessidades básicas. Porque esta definição<br />

monetarista não cobria todas as vertentes<br />

da pobreza, foi-se alargando o conceito para<br />

abarcar aspectos como falta de acesso à<br />

educação, saúde, água e saneamento, entre<br />

outros.” 27<br />

O <strong>UNICEF</strong>, tal como um crescente número<br />

de académicos e decisores políticos, optou<br />

por adoptar uma visão cada vez mais<br />

multidimensional do que significa estar a<br />

viver em situação de pobreza. Esta tem sido<br />

tradicionalmente medida estritamente a<br />

partir do consumo das famílias, mas o nível<br />

do rendimento familiar não dá uma imagem<br />

completa da saúde e bem-estar da criança.<br />

Os pais de uma criança podem ter um salário<br />

decente, mas viver muito longe de uma escola<br />

em que os seus filhos possam frequentar<br />

as aulas. A educação e outros serviços<br />

básicos como os de saúde, saneamento e<br />

água potável são investimentos necessários<br />

para uma criança crescer e se tornar um<br />

adulto produtivo. Focalizar as necessidades<br />

básicas e os principais serviços públicos de<br />

que uma criança está privada permite uma<br />

compreensão multidimensional da pobreza.<br />

Com a abordagem baseada em privações,<br />

torna-se muito mais explícita a ligação entre<br />

a alocação de recursos, as escolhas políticas<br />

e as mudanças resultantes da pobreza na<br />

infância.<br />

Na análise aqui apresentada usa-se uma<br />

medida de pobreza infantil absoluta<br />

baseada em privações. Para a quantificar<br />

foram utilizados indicadores originalmente<br />

desenvolvidos por uma equipe da<br />

Universidade de Bristol, frequentemente<br />

referidos como Indicadores de Bristol. 28<br />

Assentam na abordagem da pobreza<br />

baseada em privações, partindo da definição<br />

de pobreza absoluta acordada na Cimeira<br />

Mundial para o Desenvolvimento Social:<br />

condição caracterizada por severa privação<br />

de necessidades humanas básicas. 29<br />

Os indicadores compreendem sete medidas<br />

de privação severa: nutrição, água potável,<br />

CAPITULO 1: A POBREZA EM MOÇAMBIQUE<br />

saneamento, saúde, habitação, educação e<br />

informação. A abordagem dos Indicadores<br />

de Bristol define a percentagem de crianças<br />

em situação de pobreza absoluta como<br />

sendo a de crianças que enfrentam duas<br />

ou mais formas de privação severa. Os<br />

indicadores constituem, simultaneamente,<br />

causas e sintomas de pobreza. O acesso à<br />

água potável, por exemplo, é um sintoma<br />

de pobreza na medida em que as famílias<br />

pobres têm muito menos probabilidade de<br />

desfrutar de água segura. É também uma<br />

das causas da pobreza porque indivíduos<br />

que não têm acesso a água potável são mais<br />

propensos a sofrer de doenças transmitidas<br />

pela água, que os impedem de se envolver<br />

em actividades que proporcionem<br />

rendimento para as suas famílias.<br />

Um ponto forte inerente a uma abordagem<br />

baseada em privações é a inclusão do<br />

consumo de serviços públicos essenciais.<br />

Este aspecto é particularmente evidente<br />

quando se contrastam os resultados das<br />

medidas de pobreza baseada em privações<br />

e baseada no consumo das crianças de<br />

zonas rurais e urbanas. Em 2003, 22 por<br />

cento das crianças urbanas viviam em<br />

condições de pobreza absoluta, medida pela<br />

abordagem baseada em privações versus 55<br />

por cento, medida pela abordagem baseada<br />

no consumo, o que reflecte o aumento do<br />

acesso a serviços sociais em áreas urbanas.<br />

Com a abordagem baseada em privações, a<br />

ligação entre a alocação de recursos, acções<br />

políticas e mudanças resultantes da pobreza<br />

na infância torna-se muito mais explícita.<br />

Por exemplo, o incremento da alocação<br />

de fundos para expandir os programas<br />

de vacinação teria um impacto directo e<br />

imediato sobre a pobreza infantil com a<br />

medida baseada em privações (mostrando<br />

um maior número de crianças que haviam<br />

sido vacinadas), mas revelaria o efeito<br />

mais lentamente com a medida baseada no<br />

consumo.<br />

Utilizando a abordagem baseada em<br />

privações, centrada na capacidade de uma<br />

criança para aceder a serviços essenciais, a<br />

percentagem de crianças em condições de<br />

pobreza absoluta em Moçambique decaiu<br />

10<br />

11


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPITULO 1: A POBREZA EM MOÇAMBIQUE<br />

de 59 por cento em 2003 para 48 por cento<br />

em 2008. vi 30 A percentagem de crianças<br />

nas zonas rurais em situação de pobreza<br />

absoluta diminuiu significativamente, de<br />

72 por cento para 60 por cento (Figura 1.1).<br />

Em 2008, 22 por cento das crianças urbanas<br />

eram pobres, contra 60 por cento das rurais.<br />

A redução nos níveis de pobreza absoluta<br />

das crianças foi impulsionada por melhorias<br />

significativas nos sectores de saúde e<br />

educação. A percentagem de crianças com<br />

privação severa de educação reduziu para<br />

metade entre 2003 e 2008 (de 24 para 12 por<br />

cento), tendo-se reduzido em um terço (18 a<br />

12 por cento) 31 a privação severa de saúde. A<br />

percentagem de crianças que experimentam<br />

privações de nutrição e saneamento registou<br />

ligeiras melhorias entre 2003 e 2008, mas a<br />

percentagem de crianças vítimas de privação<br />

severa de água aumentou. As privações<br />

severas mais frequentemente vividas são<br />

as de água, saneamento e informação, que<br />

afectam 39 por cento, 43 por cento e 40 por<br />

cento das crianças, respectivamente. Apenas<br />

cinco por cento das crianças sofrem privação<br />

severa de abrigo (Figura 1.2).<br />

Em termos de províncias, a pobreza infantil<br />

entre 2003 e 2008 diminuiu em Niassa, Cabo<br />

Delgado, Zambézia, Sofala e Inhambane e<br />

Cidade de Maputo. Veja-se na Figura 1.3 a<br />

percentagem de crianças, por província, que<br />

sofreram duas ou mais privações severas em<br />

2003 e 2008.<br />

São significativas as disparidades existentes<br />

nas taxas de pobreza provinciais. A<br />

percentagem de crianças sofrendo duas ou<br />

mais privações severas foi mais elevada na<br />

província da Zambézia em 2003 e 2008 (80<br />

e 64 por cento, respectivamente). A Cidade<br />

de Maputo apresenta os mais baixos níveis<br />

de pobreza infantil absoluta, com apenas<br />

4 por cento das crianças a enfrentar duas<br />

ou mais privações severas, o que reflecte<br />

o nível relativamente elevado de acesso a<br />

serviços básicos na capital. A segunda maior<br />

redução na privação ocorreu na província<br />

do Niassa, onde a proporção caiu de 58 por<br />

cento em 2003 para 35 por cento em 2008.<br />

Curiosamente, tanto a Cidade de Maputo<br />

como Niassa registaram grandes reduções<br />

na medida de pobreza baseada no consumo<br />

entre 2002/03 e 2008/09. 32<br />

Para obter uma melhor compreensão da<br />

relação entre uma medida de pobreza<br />

baseada em privações, os indicadores<br />

de Bristol e outras variáveis pertinentes,<br />

individuais e a nível de agregado familiar,<br />

disponíveis nos dados do MICS 2008,<br />

realizou-se uma análise multivariada<br />

utilizando como resultado o número de<br />

privações severas nas crianças de 0 a 17<br />

anos de idade.<br />

Figura 1.2: Percentagem de crianças que sofrem privações, 2003 e 2008<br />

50%<br />

45%<br />

40%<br />

35%<br />

30%<br />

25%<br />

20%<br />

15%<br />

10%<br />

5%<br />

0%<br />

27%<br />

20%<br />

31%<br />

39%<br />

47% 43%<br />

18%<br />

A riqueza baseada em bens materiais é<br />

uma variável fundamental na previsão de<br />

privações. O modelo indica que a riqueza<br />

baseada em bens materiais está fortemente<br />

(e inversamente) relacionada com o número<br />

de privações; como seria de esperar, as<br />

crianças de famílias mais abastadas têm<br />

muito menos probabilidade de sofrer<br />

privações.<br />

12%<br />

6% 5%<br />

24%<br />

12%<br />

39% 40%<br />

Nutritição Água Saneamento Saúde Abrigo Educação Informação<br />

Figura 1.1: Percentagem de crianças com duas ou mais privações severas, 2003 e 2008<br />

2003 2008<br />

Fonte: <strong>UNICEF</strong>, Child Poverty in <strong>Mozambique</strong>: A deprivations-based approach, Ministério de Planificação e Desenvolvimento, Maputo, 2009.<br />

80%<br />

70%<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

72%<br />

59%<br />

60%<br />

48%<br />

30%<br />

22%<br />

Total Urbano Rural<br />

Figura 1.3: Percentagem de crianças com duas ou mais privações severas por província, 2003 e 2008<br />

90%<br />

80%<br />

70%<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

58%<br />

35%<br />

62%<br />

45%<br />

66%<br />

59%<br />

80%<br />

64% 65%<br />

60%<br />

58%<br />

52%<br />

68%<br />

53%<br />

48%<br />

37%<br />

53%<br />

39%<br />

2003 2008<br />

Fonte: <strong>UNICEF</strong>, Child Poverty in <strong>Mozambique</strong>: A deprivations-based approach, Ministério de Planificação e Desenvolvimento, Maputo, 2009.<br />

vi A cifra citada em A Pobreza na Infância em Moçambique: Uma Análise da Situação e das Tendências - 2006 para a<br />

percentagem de crianças em situação de pobreza absoluta em 2003 (49 por cento) difere da aqui utilizada devido a<br />

melhorias na metodologia seguida para calcular diversas privações nas áreas de água, saúde e nutrição. Os dados de<br />

2003 foram, portanto, recalculados para reflectir essas melhorias.<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

Niassa<br />

Cabo<br />

Delgado<br />

Nampula Zambézia Tete Manica Sofala Inhambane<br />

2003 2008<br />

Gaza<br />

24%<br />

18%<br />

Maputo<br />

Província<br />

11%<br />

4%<br />

Maputo<br />

Cidade<br />

Fonte: <strong>UNICEF</strong>, Child poverty in <strong>Mozambique</strong>: A deprivations-based approach, Ministério de Planificação e Desenvolvimento, Maputo, 2009<br />

12<br />

13


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPITULO 1: A POBREZA EM MOÇAMBIQUE<br />

No entanto, a análise sugere que outros<br />

factores também desempenham um<br />

importante papel, como o nível de<br />

escolaridade da mãe ou pessoa que tem a<br />

criança a seu cargo, o rácio de dependência<br />

a nível de agregado familiar, a área de<br />

residência e o estado de sobrevivência<br />

dos pais da criança. É provável que a área<br />

de residência seja um indicador indirecto<br />

de algumas variáveis não mensuráveis<br />

ligadas à situação das populações rurais<br />

desfavorecidas.<br />

Além do melhoramento da riqueza<br />

material, o modelo indica que a forma mais<br />

importante, e possivelmente a mais simples<br />

e directa de reduzir a pobreza infantil poderá<br />

ser melhorar a educação das futuras mães.<br />

2.3. Comparação entre a<br />

medida de pobreza baseada<br />

em privações e a medida<br />

baseada no consumo<br />

Em 2008, os níveis de pobreza foram<br />

significativamente mais baixos quando<br />

medidos pela abordagem baseada em<br />

privações do que medidos com base no<br />

consumo. Razão para isso foi o facto de se<br />

terem registado significativas melhorias nas<br />

medidas de pobreza não monetária entre<br />

2002 e 2008, mas não correspondentes<br />

melhoramentos no aumento do consumo.<br />

As taxas de pobreza eram relativamente<br />

semelhantes (por ambas as medidas), no<br />

centro e no norte do país, mas divergiam<br />

acentuadamente no sul. No caso da Cidade<br />

de Maputo, explica-o o facto de a abordagem<br />

baseada no consumo não considerar<br />

directamente o acesso a serviços sociais como<br />

saúde, educação, água e saneamento, que<br />

tendem a concentrar-se nas áreas urbanas. Por<br />

ambas as medidas, estima-se que a Zambézia<br />

tenha a mais elevada percentagem de pessoas<br />

a viver em pobreza absoluta. Conforme<br />

discutido no capítulo 6, têm sido atribuídos<br />

à Zambézia fundos consideravelmente<br />

abaixo da média per capita, encontrandose<br />

esta província entre as que apresentam<br />

pior desempenho nos indicadores de<br />

desenvolvimento humano. Reparar esta<br />

desigual distribuição de recursos deveria<br />

constituir uma prioridade para o Governo e<br />

seus parceiros de desenvolvimento.<br />

3. Análise por privação<br />

Apresenta-se em seguida uma análise de<br />

cada um dos sete indicadores de Bristol.<br />

3.1. Privação severa de<br />

educação nas crianças<br />

Entre 2003 e 2008, a privação severa de<br />

educação diminuiu para metade (24 versus<br />

12 por cento). O indicador de privação de<br />

educação é a percentagem de crianças entre<br />

os 7 e os 18 anos que nunca frequentaram<br />

a escola e que não estão a frequentá-la no<br />

momento. Os níveis de privação severa<br />

de educação são três vezes superiores em<br />

crianças do meio rural (15 por cento) do que<br />

em crianças urbanas (5 por cento), embora<br />

ambos os grupos tenham registado grandes<br />

melhorias. A privação severa de educação<br />

apresenta uma alta correlação com a<br />

riqueza do agregado familiar. As crianças de<br />

agregados mais pobres, assim considerados<br />

com base num índice de riqueza, têm uma<br />

probabilidade quase dez vezes superior de<br />

sofrer privação severa de educação do que<br />

as crianças de agregados mais abastados.<br />

A privação severa de educação foi reduzida<br />

em todas as províncias, como pode ser visto<br />

na Figura 1.5 adiante. Niassa, Zambézia,<br />

Inhambane e Gaza apresentaram grandes<br />

reduções. Em todas as quatro províncias<br />

verificou-se um declínio relativo de mais de<br />

60 por cento na percentagem de crianças<br />

vítimas de privação severa de educação.<br />

Apenas três por cento das crianças em Gaza<br />

estão severamente privadas de educação.<br />

Apesar dessas melhorias, a privação de<br />

educação continua a ser elevada nas<br />

províncias de Niassa e Zambézia (15 e 12<br />

por cento, respectivamente). A mais elevada<br />

regista-se em Tete (22 por cento), onde as<br />

crianças têm a mais baixa taxa de conclusão<br />

do ensino primário (5 por cento), dos mais<br />

baixos níveis de apoio familiar para a<br />

educação das crianças vii e o menor acesso a<br />

Figura 1.4: Pobreza baseada em privações comparada com pobreza baseada no consumo nas crianças, 2008,<br />

percentagem<br />

80%<br />

70%<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

Niassa<br />

Cabo<br />

Delgado<br />

Nampula<br />

Zambézia<br />

Privação severa 2008<br />

Tete Manica Sofala Inhambane<br />

Gaza<br />

Maputo<br />

Prov.<br />

Maputo<br />

Cdade<br />

Urbana Rural Total<br />

Consumo-baseado na pobreza 2008/09<br />

Fonte: <strong>UNICEF</strong>, Child poverty in <strong>Mozambique</strong>: A deprivations-based approach, Ministério de Planificação e Desenvolvimento, Maputo,<br />

2009 e Ministério de Planificação e Desenvolvimento. ‘Pobreza e bem-estar em Moçambique: Terceira Avaliação Nacional, Governo<br />

de Moçambique. Setembro de 2010.<br />

Figura 1.5: Níveis de privação severa de educação por província, 2003 e 2008<br />

40%<br />

35%<br />

30%<br />

25%<br />

20%<br />

15%<br />

10%<br />

5%<br />

0%<br />

37%<br />

15%<br />

Niassa<br />

26%<br />

14%<br />

34%<br />

17%<br />

Cabo Nampula<br />

Delgado<br />

33%<br />

30%<br />

22%<br />

18%<br />

24%<br />

12% 12% 11%<br />

9%<br />

Zambézia<br />

12%<br />

3%<br />

4%<br />

Tete Manica Sofala Inhambane<br />

Gaza<br />

2003 2008<br />

31%<br />

24%<br />

15%<br />

12%<br />

12%<br />

5%<br />

4%<br />

2% 3% 2%<br />

Maputo<br />

Prov.<br />

Maputo<br />

Cidade<br />

Urbana Rural Total<br />

Fonte: <strong>UNICEF</strong>, Child poverty in <strong>Mozambique</strong>: A deprivations-based approach, Ministério de Planificação e Desenvolvimento,<br />

Maputo, 2009.<br />

vii A pesquisa do MICS calcula o apoio da família à educação de uma criança através de cinco indicadores: a) Crianças de<br />

agregados familiares cujos membros estão envolvidos em quatro ou mais actividades que promovam a aprendizagem<br />

e facilitem a educação; b) Número médio de actividades em que membros adultos participam com a criança; c) crianças<br />

cujo pai está envolvido em uma ou mais actividades que promovam a aprendizagem e facilitem a educação; d) Número<br />

médio de acções em que o pai está envolvido; e e) Crianças que vivem num agregado sem o seu pai biológico.<br />

14<br />

15


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPITULO 1: A POBREZA EM MOÇAMBIQUE<br />

materiais pedagógicos em casa. 33 Tudo leva<br />

a crer que os maus resultados educacionais<br />

em Tete são mais complexos do que<br />

simplesmente falta de oportunidades<br />

educacionais. O problema também pode<br />

estar relacionado com o valor que os pais<br />

nessa província aplicam na aprendizagem<br />

das crianças.<br />

As raparigas têm uma maior probabilidade<br />

de experienciar privação severa de<br />

educação que os rapazes (13 e 10 por cento,<br />

respectivamente). 34 A província de Sofala<br />

tem a maior disparidade de género nas taxas<br />

de frequência do ensino primário, com 87<br />

por cento dos rapazes e 77 por cento das<br />

raparigas a frequentar a escola primária.<br />

Tete tem a maior disparidade de género<br />

no ensino secundário: 12 por cento dos<br />

rapazes frequentam a escola secundária,<br />

comparativamente a 6,5 por cento das<br />

raparigas. A nível nacional, a diferença de<br />

género na educação tem vindo a diminuir,<br />

assim como as disparidades entre as<br />

províncias. 35<br />

Figura 1.6: Privação nutricional severa nas crianças, por província, 2003 e 2008<br />

45%<br />

40%<br />

35%<br />

30%<br />

25%<br />

20%<br />

15%<br />

10%<br />

5%<br />

0%<br />

33%<br />

22%<br />

Niassa<br />

39%<br />

23%<br />

Cabo<br />

Delgado<br />

30%<br />

36%<br />

36%<br />

20%<br />

Nampula<br />

Zambézia<br />

27%<br />

21%<br />

24%<br />

17%<br />

29%<br />

15%<br />

3.2. Privação severa de nutrição<br />

nas crianças<br />

17%<br />

14%<br />

Tete Manica Sofala Inhambane<br />

2003 2008<br />

20%<br />

10%<br />

Gaza<br />

31%<br />

27%<br />

22%<br />

20%<br />

17% 15%<br />

10%<br />

8% 9% 8%<br />

Maputo<br />

Prov.<br />

Maputo<br />

Cidade<br />

Urbano Rural Total<br />

Fonte: <strong>UNICEF</strong>, Child poverty in <strong>Mozambique</strong>: A deprivations-based approach, Ministério de Planificação e Desenvolvimento, Maputo,<br />

2009.<br />

A desnutrição tem vastas repercussões<br />

na vida das mães e das crianças em<br />

Moçambique. O mais drástico desses<br />

impactos é a mortalidade infantil. A<br />

desnutrição é a causa subjacente que<br />

mais contribui para o elevado nível de<br />

mortalidade infantil em Moçambique. Uma<br />

nutrição adequada também é importante<br />

por si própria, uma vez que a desnutrição<br />

(em particular a desnutrição crónica<br />

ou a baixa altura para a idade) afecta o<br />

desenvolvimento físico e mental da criança,<br />

estando intimamente ligada à capacidade<br />

de ser bem sucedida na escola e tornarse<br />

um adulto produtivo. O indicador de<br />

privação nutricional é a percentagem de<br />

crianças menores de cinco anos cujo índice<br />

nutricional (com base num compósito<br />

constituído por peso para a altura, peso<br />

para a idade, altura para a idade igualmente<br />

ponderados) seja igual ou inferior a menos<br />

3 desvios-padrão da mediana da populaçãopadrão<br />

da OMS, ou seja, grave défice<br />

antropométrico.<br />

Houve uma redução na percentagem de<br />

crianças em Moçambique que enfrentam<br />

privação nutricional severa, viii de 27 por<br />

cento em 2003 para 20 por cento em 2008. 36<br />

A privação severa de nutrição é mais elevada<br />

nas crianças do meio rural (22 por cento) do<br />

que nas crianças urbanas (15 por cento). A<br />

mais elevada taxa de crianças da zona rural<br />

é basicamente explicada por diferenças na<br />

disponibilidade de alimentos, falta de uma<br />

dieta variada e menor acesso a serviços<br />

de saúde, 37 água potável e instalações<br />

sanitárias. As crianças rurais também podem<br />

ser mais propensas a, em algum momento,<br />

enfrentar défices alimentares razoavelmente<br />

prolongados.<br />

A redução na percentagem de crianças<br />

vítimas de privação nutricional grave foi<br />

impulsionada por melhorias nas crianças<br />

da zona rural. Trinta e um por cento das<br />

crianças das zonas rurais faziam face<br />

a privação nutricional severa em 2003,<br />

comparativamente a 22 por cento em 2008. A<br />

redução do nível de privação nutricional nas<br />

crianças urbanas não foi estatisticamente<br />

significativa. Portanto, a diferença entre as<br />

áreas rural e urbana diminuiu de 2003 a<br />

2008, embora persista disparidade.<br />

Há considerável desigualdade em termos<br />

de privação nutricional severa. As crianças<br />

das famílias mais pobres (25 por cento)<br />

são significativamente mais propensas a<br />

enfrentar privação nutricional severa do que<br />

as crianças dos agregados familiares mais<br />

abastados (9 por cento). Contudo, as famílias<br />

mais pobres tiveram uma melhoria mais<br />

significativa na percentagem de crianças que<br />

experimentam privação nutricional severa. 38<br />

3.3. Privação severa de água nas<br />

crianças<br />

O acesso a água limpa e segura é vital<br />

para a sobrevivência e o desenvolvimento<br />

saudável das crianças, reduzindo a doença<br />

e a morte por doenças diarreicas e outras<br />

importantes causas de mortalidade infantil.<br />

O uso de água potável diminui o risco de<br />

doenças transmitidas pela água em crianças<br />

enfraquecidas por desnutrição, reduzindo<br />

também o risco de infecções oportunistas<br />

em crianças vivendo com HIV/SIDA. Em<br />

Moçambique, a falta de acesso a água potável<br />

é directamente responsável por surtos<br />

regulares de cólera. O indicador de privação<br />

de água é a percentagem de crianças com<br />

menos de 18 anos de idade que só têm acesso<br />

a águas superficiais (rios, por exemplo) para<br />

beber, ou que vivem em agregados familiares<br />

cujas fontes de água mais próximas se<br />

localizam a 30 minutos ou mais.<br />

A privação severa de água nas crianças<br />

aumentou em Moçambique entre 2003 e<br />

2008 (31 versus 39 por cento). ix Existe uma<br />

grande disparidade entre as crianças urbanas<br />

e rurais; as crianças da zona rural estão<br />

mais de duas vezes e meia mais propensas<br />

a sofrer de privação severa de água do<br />

que as crianças urbanas (14 e 40 por cento,<br />

respectivamente). As crianças rurais viram<br />

aumentada a sua privação severa de água<br />

entre 2003 e 2008, enquanto nas crianças<br />

urbanas o nível de privação permaneceu<br />

razoavelmente constante. 39<br />

Na província de Gaza, mais de metade<br />

das crianças fazem face a privação severa<br />

de água (58 por cento). Gaza registou um<br />

aumento dessa privação nas crianças entre<br />

2003 e 2008 (39 versus 58 por cento). O<br />

tempo médio de caminhada para uma fonte<br />

viii A diferença entre este valor e o reportado em A Pobreza na Infância em Moçambique: Uma Análise da Situação e das<br />

Tendências deve-se a mudança nos padrões da OMS nos componentes do indicador nutricional. As estimativas no<br />

relatório do IDS de 2003 foram baseadas na população de referência NCHS, desenvolvida em 1975. As estimativas<br />

baseadas nos dados do IDS de 2003 foram recalculadas utilizando-se como base a população padrão da OMS de 2006.<br />

Ver WHO, Growth Standards, Methods and Development: http://who.int/childgrowth/standards/en.<br />

ix Cálculos anteriores da privação severa de água nas crianças utilizaram como indicador “tempo para ir e voltar de uma<br />

fonte de água superior a 30 minutos”. O indicador correcto, segundo Gordon et al. 2003, refere-se a crianças que vivem a<br />

mais de 30 minutos de uma fonte de água. Os dados de 2003 foram recalculados para reflectir essa mudança.<br />

16<br />

17


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPITULO 1: A POBREZA EM MOÇAMBIQUE<br />

de água na província de Gaza é de mais<br />

de uma hora e meia. 40 Não há nenhuma<br />

evidência de que qualquer província consiga<br />

uma redução estatisticamente significativa na<br />

privação severa de água nas crianças.<br />

Há considerável desigualdade no acesso a<br />

água potável. As crianças de famílias pobres<br />

estão em muito maior risco de privação severa<br />

de água. A privação severa de água é quase<br />

cinco vezes maior nas crianças que vivem nas<br />

famílias mais pobres do que nas que vivem<br />

nos agregados familiares mais abastados (54<br />

versus 11 por cento) (ver Figura 1.7).<br />

3.4. Privação severa de<br />

saneamento nas crianças<br />

Falta de saneamento e uma higiene<br />

inadequada são factores que contribuem<br />

para a mortalidade e morbilidade infantil. 41<br />

Água, saneamento e higiene estão também<br />

intimamente ligados a desnutrição infantil.<br />

O indicador de privação de saneamento<br />

é a percentagem de crianças menores de<br />

18 anos de idade que não têm acesso a<br />

instalações sanitárias de qualquer espécie,<br />

incluindo sanitários ou latrinas comunais,<br />

nos arredores da sua habitação.<br />

Figura 1.7: Privação severa de água por quintil de riqueza, 2008<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

54%<br />

46%<br />

40%<br />

A percentagem de crianças gravemente<br />

carenciadas de saneamento permaneceu<br />

razoavelmente constante entre 2003 e<br />

2008. Em 2008, 43 por cento das crianças<br />

sofriam privação severa nesse domínio,<br />

sendo grande a disparidade entre as zonas<br />

urbanas e rurais. Cinquenta e seis por cento<br />

das crianças rurais enfrentam privação<br />

severa de saneamento, em comparação<br />

com quinze por cento das crianças<br />

urbanas. 42<br />

Além das disparidades entre a situação<br />

urbana e a rural verificam-se também<br />

grandes diferenças entre as províncias. Na<br />

Zambézia, 73 por cento das crianças vivem<br />

severamente privadas de saneamento,<br />

comparativamente a menos de um por<br />

cento na Cidade de Maputo. É maior a<br />

percentagem de crianças nas províncias do<br />

centro e do norte comparativamente à do<br />

sul. (ver Figura 1.8).<br />

Há também uma grande disparidade em<br />

função da riqueza da família. Os dados<br />

mostram que 92 por cento das crianças<br />

nas famílias mais pobres enfrenta privação<br />

severa de saneamento, comparativamente<br />

a 3 por cento nos agregados familiares mais<br />

abastados.<br />

Mais baixo Segundo Médio Quarto Mais allto<br />

Fonte: <strong>UNICEF</strong>, Child poverty in <strong>Mozambique</strong>: A deprivations-based approach, Ministério da Planificação e Desenvolvimento,<br />

Maputo, 2009.<br />

* A pequena diferença entre o valor relatado aqui para 2003 e o valor reportado em 2006 do <strong>UNICEF</strong> é explicado pelo<br />

tratamento das crianças sem qualquer informação em saúde. Em consonância com a metodologia estabelecida do<br />

indicador de Bristol, crianças sem informações sobre os componentes do indicador de saúde foram excluídas do cálculo.<br />

38%<br />

11%<br />

Figura 1.8: Privação severa de saneamento nas crianças, por província, 2008<br />

80%<br />

60%<br />

40%<br />

20%<br />

0%<br />

23%<br />

Niassa<br />

30%<br />

Cabo<br />

Delgado<br />

45%<br />

73%<br />

Nampula<br />

Zambézia<br />

59%<br />

52%<br />

3.5. Privação severa de saúde<br />

nas crianças<br />

A privação severa de saúde nas crianças<br />

decaiu significativamente entre 2003 e<br />

2008, de 18 por cento* para 12 por cento. O<br />

indicador de privação severa de saúde é a<br />

percentagem de crianças menores de cinco<br />

anos que nunca foram vacinadas ou que<br />

sofreram um episódio grave de infecção<br />

respiratória aguda que não chegou a ser<br />

tratado. Como se pode ver na Figura 1.9<br />

abaixo, há desigualdade entre as crianças<br />

rurais e urbanas, tendo as rurais duas vezes<br />

mais probabilidade de sofrer de privação<br />

58%<br />

30%<br />

Tete Manica Sofala Inhambane<br />

20%<br />

Gaza<br />

13%<br />

Maputo<br />

Prov.<br />

0%<br />

15%<br />

56%<br />

43%<br />

Maputo Urbano Rural Total<br />

Cidade<br />

Fonte: <strong>UNICEF</strong>, Child poverty in <strong>Mozambique</strong>: A deprivations-based approach, Ministério de Planificação e Desenvolvimento,<br />

Maputo, 2009.<br />

Figura 1.9: Níveis de privação severa de saúde por província, 2003 e 2008<br />

40%<br />

35%<br />

30%<br />

32%<br />

35%<br />

severa de saúde (14 por cento contra 7 por<br />

cento). Os níveis de privação, no entanto,<br />

diminuíram significativamente nas crianças<br />

da zona rural, permanecendo relativamente<br />

constantes nas crianças urbanas. Há também<br />

disparidades entre as províncias, variando<br />

de cinco por cento na Cidade de Maputo a 19<br />

por cento na Zambézia e em Nampula.<br />

A desagregação do indicador nos seus<br />

componentes (Infecção Respiratória<br />

Aguda e vacinação) revela algumas das<br />

causas subjacentes aos altos níveis de<br />

privação severa de saúde nas províncias da<br />

Zambézia, Nampula e Tete.<br />

25%<br />

20%<br />

21%<br />

22%<br />

19%<br />

15%<br />

19%<br />

18%<br />

14%<br />

10%<br />

13%<br />

11%<br />

12% 12%<br />

13%<br />

11%<br />

12%<br />

9%<br />

10% 11%<br />

9%<br />

5%<br />

8%<br />

7% 7% 7%<br />

5%<br />

6% 7%<br />

4%<br />

0%<br />

Niassa Cabo Nampulbézibane<br />

Zam-<br />

Tete Manica Sofala Inham-<br />

Gaza Maputo Maputo Urbano Rural Total<br />

Delgado<br />

Prov. Cidade<br />

2003 2008<br />

Fonte: <strong>UNICEF</strong>, Child poverty in <strong>Mozambique</strong>: A deprivations-based approach, Ministério de Planificação e Desenvolvimento, Maputo, 2009.<br />

18<br />

19


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPITULO 1: A POBREZA EM MOÇAMBIQUE<br />

Nestas três províncias, as mães ou os<br />

que têm crianças a seu cargo são menos<br />

tendentes a reconhecer os sintomas de<br />

pneumonia do que a média nacional, o que<br />

indica que a privação severa de saúde pode<br />

estar associada ao nível de conhecimento<br />

que os que cuidam das crianças têm sobre<br />

as doenças. É de ressaltar o facto de apenas<br />

três por cento das crianças na Zambézia<br />

suspeitas de pneumonia terem recebido<br />

antibióticos. 43<br />

3.6. Privação severa de abrigo<br />

nas crianças<br />

Cinco por cento das crianças vivem<br />

com privações severas de abrigo em<br />

Moçambique. Este nível manteve-se<br />

relativamente constante entre 2003 e 2008.<br />

O indicador de abrigo é a percentagem<br />

de crianças com menos de 18 anos que<br />

vivem em habitações com mais de cinco<br />

pessoas por quarto (superlotação severa).<br />

Cabo Delgado tem experimentado uma<br />

grande redução da privação severa de<br />

abrigo nas crianças. Quase nenhuma criança<br />

(0,2 por cento) na província se encontra<br />

agora em situação de privação severa de<br />

abrigo, comparativamente a 3 por cento<br />

em 2003. A privação severa de abrigo tem<br />

aumentado em Gaza e Inhambane. Nenhuma<br />

outra província mostra evidências de uma<br />

variação estatisticamente significativa na<br />

percentagem de crianças com essa privação.<br />

Figura 1.10: Privação severa de abrigo por quintil de riqueza, 2008<br />

14%<br />

12%<br />

10%<br />

8%<br />

13%<br />

É forte a correlação entre a privação severa de<br />

abrigo e a riqueza. Treze por cento das crianças<br />

no quintil mais pobre têm tal privação, quando<br />

apenas 1 por cento das crianças nos agregados<br />

familiares mais abastados a enfrentam.<br />

3.7. Privação severa de<br />

informação nas crianças<br />

Não houve variação estatisticamente<br />

significativa na percentagem de crianças a<br />

sofrer de privação severa de informação entre<br />

2003 e 2008. Quarenta por cento das crianças<br />

sofriam-na em 2008. O indicador de privação<br />

de informação é a percentagem de crianças<br />

entre os 5 e os 18 anos que não possuem ou<br />

não têm acesso a uma televisão, rádio ou<br />

jornal em casa.<br />

O indicador de privação de informação não<br />

leva em conta a posse de telefone móvel.<br />

É provável que se tivesse sido incluído no<br />

cálculo da privação de informação o acesso<br />

a telemóveis, este tivesse causado uma<br />

redução na percentagem de crianças vítimas<br />

de privação severa de informação, dado o<br />

grande aumento da posse de celulares em<br />

Moçambique na última década (ver Capítulo<br />

6, Questões transversais). É também possível<br />

que a rápida expansão da posse de telemóvel<br />

esteja a reduzir a demanda de rádios e<br />

televisões entre as famílias mais pobres<br />

por estas darem prioridade a telemóveis<br />

comparativamente a outros artigos de<br />

comunicação.<br />

6%<br />

6%<br />

4%<br />

4%<br />

2%<br />

3%<br />

0% 1%<br />

Mais baixo Segundo Médio Quarto Mais alto<br />

4. Conclusões<br />

São significativas as melhorias que se têm<br />

registado nos níveis de pobreza absoluta nas<br />

crianças medida pela abordagem baseada<br />

em privações. Os avanços observados na<br />

pobreza baseada em privações estão em<br />

parte associados aos grandes esforços<br />

feitos pelo Governo na prestação de<br />

serviços sociais. O Governo tem investido<br />

fortemente em educação e saúde, o que se<br />

tem traduzido em melhorias significativas<br />

na percentagem de crianças severamente<br />

privadas de educação e saúde. Embora a<br />

percentagem de crianças com privações<br />

severas tenha diminuído nos últimos anos,<br />

quase metade das crianças moçambicanas<br />

continuam a enfrentá-las. As privações mais<br />

frequentes são as de acesso a água potável,<br />

saneamento e informação. Um investimento<br />

continuado em serviços essenciais significa<br />

um investimento continuado no futuro das<br />

crianças de Moçambique.<br />

A dicotomia urbano/rural é particularmente<br />

evidente com a análise baseada em<br />

privações. É também evidente a partir<br />

dos resultados que os níveis de privação<br />

são significativamente mais elevados nas<br />

províncias do centro e do norte do que nas<br />

províncias do sul. No entanto, se excluirmos<br />

a Cidade de Maputo, foram as províncias do<br />

norte que registaram a maior redução nos<br />

níveis de pobreza infantil. Da mesma forma,<br />

as estimativas de pobreza de consumo<br />

indicam uma tendência positiva no norte de<br />

Moçambique.<br />

As taxas de pobreza têm registado<br />

estagnação quando medidas pela<br />

abordagem baseada no consumo, havendo<br />

quase 12 milhões de moçambicanos a viver<br />

com menos de 18,4 meticais (cerca de meio<br />

dólar americano) por dia. Deve-se tal facto<br />

principalmente ao fraco desempenho do<br />

sector agrícola, do qual depende a maior<br />

parte da população para a sua subsistência.<br />

É inequívoca a relação entre a riqueza e<br />

o bem-estar das crianças. Não obstante a<br />

necessidade de investimentos continuados<br />

nos sectores sociais para que se reduzam<br />

os níveis de privação, é fundamental que o<br />

Governo e os seus parceiros reexaminem<br />

a sua abordagem para estimular o sector<br />

agrícola.<br />

Tanto a medida baseada no consumo como<br />

a medida baseada em privação realçam<br />

os elevados níveis de vulnerabilidade<br />

da população moçambicana, como<br />

demonstrado pela flutuação das taxas de<br />

pobreza provincial. Essas disparidades estão<br />

relacionadas com a desigual distribuição<br />

de recursos do Governo. As províncias com<br />

menor índice de desenvolvimento humano<br />

tendem a receber uma menor alocação de<br />

recursos. A capacidade das famílias para<br />

resistir a choques internos ou externos é<br />

extremamente limitada. Os choques mais<br />

comuns são a morte de um membro da<br />

família ou choques climatéricos como<br />

secas ou inundações. 44 Esses choques<br />

podem impor às crianças e suas famílias<br />

severas privações e pobreza absoluta, com<br />

consequências no bem-estar das crianças ao<br />

longo de toda a sua vida.<br />

Fonte: <strong>UNICEF</strong>, Child poverty in <strong>Mozambique</strong>: A deprivations-based approach, Ministério de Planificação e Desenvolvimento, Maputo, 2009.<br />

20<br />

21


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPITULO 1: A POBREZA EM MOÇAMBIQUE<br />

Referências<br />

1 Fundo das Nações Unidas para a Infância,<br />

A Pobreza na Infância em Moçambique:<br />

Uma Análise da Situação e das Tendências,<br />

<strong>UNICEF</strong>, Maputo, 2006.<br />

2 National Institute of Statistics, ‘Statistics of<br />

<strong>Mozambique</strong>’, Governo de Moçambique,<br />

Maputo, descarregado de http://www.ine.gov.<br />

mz, acedido a 30 de Outubro de 2010.<br />

3 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />

Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

4 Ministério de Planificação e Desenvolvimento<br />

‘Pobreza e Bem-estar em Moçambique:<br />

Terceira Avaliação Nacional da Pobreza,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, Setembro<br />

de 2010.<br />

5 <strong>Mozambique</strong> National Institute of Health,<br />

London School of Hygiene and Tropical<br />

Medicine, and <strong>UNICEF</strong>, <strong>Mozambique</strong> National<br />

Childhood Mortality Study 2009, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2009.<br />

6 United Nations Committee on the Rights of<br />

the Child, Consideration of Reports Submitted<br />

by States Parties Under Article 44 of the<br />

Convention: Concluding observations of<br />

the Committee on the Rights of the Child<br />

– <strong>Mozambique</strong>, CRC/C/MOZ/CO/2, Office of<br />

the High Commissioner on Human Rights,<br />

Genebra, Outubro de 2009.<br />

7 Ministério de Planificação e Desenvolvimento,<br />

‘Relatório de Avaliação de Impacto do PARPA<br />

II’, Governo de Moçambique, Maputo, 30 de<br />

Outubro de 2009.<br />

8 <strong>Mozambique</strong> Ministry of Planning and<br />

Finance, International Food Policy Research<br />

Institute, and Purdue University, Poverty<br />

and Well-Being in <strong>Mozambique</strong>: The second<br />

national assessment, 2002–2003, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2004.<br />

9 Ministério de Planificação e Desenvolvimento<br />

‘Pobreza e Bem-estar em Moçambique:<br />

Terceira Avaliação Nacional da Pobreza,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, Setembro<br />

de 2010<br />

10 Ibid.<br />

11 Ibid.<br />

12 Ibid<br />

13 Simler, Kenneth R., and Virgulino Nhate,<br />

V., ‘Poverty, Inequality, and Geographic<br />

Targeting: Evidence from Small-Area<br />

Estimates in <strong>Mozambique</strong>,’ Governo de<br />

Moçambique, Maputo, Março de 2005.<br />

14 Instituto Nacional de Estatística, ‘Inquérito<br />

Integrado à Força de Trabalho (IFTRAB)<br />

2004/05,’ Governo de Moçambique, Maputo,<br />

2006.<br />

15 Ministério de Planificação e Desenvolvimento<br />

‘Pobreza e Bem-estar em Moçambique:<br />

Terceira Avaliação Nacional da Pobreza,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, Setembro<br />

de 2010.<br />

16 Fundo das Nações Unidas para a Infância,<br />

A Pobreza na Infância em Moçambique:<br />

Uma Análise da Situação e das Tendências,<br />

<strong>UNICEF</strong>, Maputo, 2006.<br />

17 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />

Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010. Virgulino, Nhate, et al. Orphans<br />

and Discrimination in <strong>Mozambique</strong>: An<br />

Outlay Equivalence Analysis, Ministério de<br />

Planificação e Desenvolvimento, Maputo,<br />

Outubro de 2005.<br />

18 Virgulino, Nhate, et al. Orphans and<br />

Discrimination in <strong>Mozambique</strong>: An Outlay<br />

Equivalence Analysis, Ministério de<br />

Planificação e Desenvolvimento, Maputo,<br />

Outubro de 2005.<br />

19 Ministério de Planificação e Desenvolvimento<br />

‘Pobreza e Bem-estar em Moçambique:<br />

Terceira Avaliação Nacional da Pobreza,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, Setembro<br />

de 2010.<br />

20 Gordon, David, et al., ‘The Distribution of<br />

Child Poverty in the Developing World’,<br />

Centre for International Poverty Research,<br />

University of Bristol, e <strong>UNICEF</strong>, Bristol, Julho<br />

de 2003.<br />

21 Instituto Nacional de Estatística, ‘Inquérito<br />

de Indicadores Múltiplos 2008, Sumário’,<br />

Governo de Moçambique, Maputo,<br />

descarregado de: http://www.ine.gov.mz,<br />

acedido a 30 de Outubro de 2010.<br />

22<br />

23


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPITULO 1: A POBREZA EM MOÇAMBIQUE<br />

22 <strong>Mozambique</strong> National Institute of Health,<br />

London School of Hygiene and Tropical<br />

Medicine, and United Nations Children’s<br />

Fund, <strong>Mozambique</strong> National Childhood<br />

Mortality Study 2009, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2009.<br />

23 Ministério de Planificação e Desenvolvimento,<br />

‘Relatório de Avaliação de Impacto do PARPA<br />

II’, Governo de Moçambique, Maputo, 30 de<br />

Outubro de 2009.<br />

24 Fundo das Nações Unidas para a Infância,<br />

A Pobreza na Infância em Moçambique:<br />

Uma Análise da Situação e das Tendências,<br />

<strong>UNICEF</strong>, Maputo, 2006.<br />

25 Governo de Moçambique, ‘Plano de Acção<br />

para a Redução da Pobreza Absoluta (2001-<br />

2005),’ Governo de Moçambique, Maputo,<br />

2001.<br />

26 Grupo 20, ‘Annual Poverty Report 2004,’<br />

Grupo 20, Maputo, 2004.<br />

27 República de Moçambique, ‘Plano de Acção<br />

para a Redução da Pobreza Absoluta 2006-<br />

2009,’ República de Moçambique, Maputo,<br />

2006.<br />

28 Gordon, David, et al., The Distribution of<br />

Child Poverty in the Developing World,<br />

relatório para o <strong>UNICEF</strong>, Julho de 2003.<br />

29 United Nations, Report of the World Summit<br />

for Social Development, United Nations,<br />

Copenhaga, 1995.<br />

30 United Nations Children’s Fund, ‘Trends<br />

in Child Poverty in <strong>Mozambique</strong>: A<br />

deprivations-based approach,’ Ministério de<br />

Planificação e Desenvolvimento, Governo<br />

de Moçambique e <strong>UNICEF</strong> Moçambique,<br />

Maputo, 2009.<br />

31 Ibid<br />

32 Ministério de Planificação e Desenvolvimento<br />

‘Pobreza e Bem-estar em Moçambique:<br />

Terceira Avaliação Nacional da Pobreza,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, Setembro<br />

de 2010.<br />

33 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />

Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010<br />

34 United Nations Children’s Fund, ‘Trends in<br />

Child Poverty in <strong>Mozambique</strong>: A deprivationsbased<br />

approach,’ Ministério de Planificação e<br />

Desenvolvimento, Governo de Moçambique e<br />

<strong>UNICEF</strong> <strong>Mozambique</strong>, Maputo, 2009<br />

35 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />

Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

36 United Nations Children’s Fund, ‘Trends in<br />

Child Poverty in <strong>Mozambique</strong>: A deprivationsbased<br />

approach, ’Ministério de Planificação e<br />

Desenvolvimento, Governo de Moçambique e<br />

<strong>UNICEF</strong> Moçambique, Maputo, 2009<br />

37 Fundo das Nações Unidas para a Infância,<br />

A Pobreza na Infância em Moçambique:<br />

Uma Análise da Situação e das Tendências,<br />

<strong>UNICEF</strong>, Maputo, 2006.<br />

38 United Nations Children’s Fund, ‘Trends in<br />

Child Poverty in <strong>Mozambique</strong>: A deprivationsbased<br />

approach’, Mini stério de Planificação e<br />

Desenvolvimento, Governo de Moçambique e<br />

<strong>UNICEF</strong> Moçambique, Maputo, 2009<br />

39 Ibid<br />

40 Instituto Nacional de Estatística,‘MICS 2008,<br />

Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

41 World Health Organisation, ‘Turning the tide<br />

of malnutrition: responding to the challenge<br />

of the 21st century,’ Geneva, 2000<br />

42 United Nations Children’s Fund, ‘Trends in<br />

Child Poverty in <strong>Mozambique</strong>: A deprivationsbased<br />

approach,’ Ministério de Planificação e<br />

Desenvolvimento, Governo de Moçambique e<br />

Unicef Moçambique, Maputo, 2009<br />

43 Instituto Nacional de Estatística,‘MICS 2008,<br />

Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

44 Austral Cowi, Revisão de Literatura sobre<br />

os Determinantes da Vulnerabilidade e<br />

Tendências, United Kingdom Department for<br />

International Development, 2009.<br />

24<br />

25


2CAPÍTULO<br />

O contexto de<br />

desenvolvimento<br />

1. Introdução<br />

2CAPÍTULO<br />

Este capítulo descreve o contexto político,<br />

social e económico do desenvolvimento<br />

humano em Moçambique. Desde a<br />

assinatura do Acordo de Paz em 1992,<br />

Moçambique tem vivido um período de forte<br />

crescimento económico. Com uma forte<br />

estrutura legal e política baseada em direitos<br />

e orientada para o crescimento económico e<br />

redução da pobreza, Moçambique encontrase<br />

fortemente dependente da cooperação<br />

internacional e da Assistência Externa ao<br />

Desenvolvimento. A influência dos doadores<br />

tem levantado algumas preocupações<br />

relativamente à responsabilidade<br />

pública e ao potencial enfraquecimento<br />

do papel das instituições nacionais na<br />

governação. A descentralização orçamental<br />

e administrativa que está em curso pode<br />

garantir que os recursos sejam alocados às<br />

províncias de forma equitativa, tendo em<br />

conta os indicadores de desenvolvimento<br />

humano. Esta realocação não foi ainda,<br />

no entanto, alcançada, estando as<br />

províncias com os piores indicadores de<br />

desenvolvimento a receber, de uma maneira<br />

geral, verbas inferiores.<br />

O contexto de desenvolvimento<br />

27


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 2: O CONTEXTO DE DESENVOLVIMENTO<br />

2. Transição para a paz, democracia<br />

e economia de mercado<br />

Moçambique tornou-se independente de<br />

Portugal em 1975, mas quase imediatamente<br />

entrou num período de 16 anos de<br />

instabilidade, caracterizado por um conflito<br />

armado entre o Governo, liderado pela<br />

Frente de Libertação de Moçambique<br />

(FRELIMO), e a Resistência Nacional de<br />

Moçambique (RENAMO). Os efeitos sociais<br />

da guerra foram dramáticos, chegando a<br />

um milhão de mortos, entre os quais cerca<br />

de 600.000 crianças. Mais de um terço da<br />

população foi forçada a abandonar as suas<br />

casas e muitas infra-estruturas públicas<br />

foram destruídas, principalmente escolas.<br />

Milhares de cidadãos ficaram deficientes<br />

e foram muitos os que sofreram os efeitos<br />

da fome e traumas psicológicos 1 . Os dois<br />

partidos assinaram um Acordo Geral de<br />

Paz em Outubro de 1992, e em Outubro de<br />

1994 realizaram-se as primeiras eleições<br />

presidenciais e legislativas do país, que<br />

resultaram na eleição de Joaquim Chissano<br />

como Presidente da República e na criação<br />

do primeiro parlamento multipartidário de<br />

Moçambique, a Assembleia da República.<br />

Até agora foram realizadas quatro rondas<br />

sucessivas de eleições gerais e presidenciais<br />

em que a FRELIMO saiu vencedora, com<br />

maioria tanto nas presidenciais como nas<br />

parlamentares, tendo a RENAMO liderada<br />

uma união eleitoral de partidos da oposição.<br />

A quarta eleição presidencial, realizada em<br />

Tabela 2.1: Indicadores Económicos, 2003-2009<br />

Outubro de 2009, resultou em vitória do<br />

actual presidente Armando Guebuza, que<br />

obteve cerca de 75 por cento dos votos<br />

expressos. O recém-formado Movimento<br />

Democrático de Moçambique, liderado por<br />

Daviz Simango, Presidente do Conselho<br />

Municipal da Beira, conquistou, nesta<br />

cidade, a maioria dos votos. A Missão de<br />

Observação Eleitoral do Fórum Parlamentar<br />

da Comunidade de Desenvolvimento da<br />

África Austral concluiu que as eleições de<br />

2009 “reflectiram de facto a vontade do<br />

povo moçambicano” 2 . Embora o registo de<br />

votantes seja consistentemente elevada,<br />

situando-se em cerca de 80 por cento, o<br />

número de eleitores caiu de 88 por cento<br />

nas primeiras eleições nacionais para uma<br />

percentagem estimada em 42 por cento em<br />

2009 3 .<br />

Na altura em que o Acordo de Paz foi<br />

assinado em 1992, Moçambique encontravase<br />

entre os países mais pobres do mundo,<br />

de acordo com o Índice de Desenvolvimento<br />

Humano das Nações Unidas e com<br />

estimativas do Banco Mundial do Produto<br />

Interno Bruto per capita 4 . Apesar de<br />

quase duas décadas de paz, estabilidade<br />

política e um forte crescimento económico,<br />

Moçambique continua a ser um dos países<br />

mais pobres do mundo, ocupando o 165º<br />

lugar de entre 169 países em termos do<br />

Índice de Desenvolvimento Humano 5 .<br />

Indicador 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />

Crescimento real do PIB (%) 6,5 7,9 8,4 8,7 7,3 6,8 6,4<br />

Inflação (%) 13,5 12,6 6,4 13,2 8,2 10,3 3,3<br />

PIB per capita (USD) 256,9 301,6 334,5 352,8 398,7 476,9 453,9<br />

Fonte: República de Moçambique, Relatório sobre os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, Governo de Moçambique, Maputo,<br />

2010.<br />

2.1.Tendências demográficas<br />

Os dados e as projecções oficiais sobre a<br />

população são produzidos pelo Instituto<br />

Nacional de Estatística e baseiam-se em<br />

dados de censos nacionais 6 . O último<br />

recenseamento foi realizado em 2007, tendo<br />

os resultados revelado um crescimento da<br />

população total de Moçambique de 28 por<br />

cento entre 1997 e 2007, o que equivale a<br />

uma taxa de crescimento anual de 2,4 por<br />

cento. A província de Maputo registou o<br />

maior aumento populacional, 52 por cento,<br />

no período entre os censos de 1997 e 2007. A<br />

população da Cidade de Maputo aumentou<br />

apenas ligeiramente, uma vez que grande<br />

parte da migração foi para os subúrbios<br />

em desenvolvimento em torno da cidade,<br />

e não para a própria cidade. A maioria da<br />

população de Moçambique (quase 40 por<br />

cento) está concentrada nas duas províncias<br />

nortenhas de Nampula (cerca de 4 milhões<br />

de habitantes) e da Zambézia (3,9 milhões). 7<br />

A população de Moçambique é<br />

predominantemente jovem. Em 2007,<br />

de uma população total de 20,5 milhões,<br />

metade eram crianças com idade inferior<br />

a 18 anos (10 milhões). Pouco mais de<br />

metade da população é constituída por<br />

mulheres, com uma proporção entre<br />

homens e mulheres de 91:100. A densidade<br />

populacional é baixa, cerca de 26 habitantes<br />

por quilómetro quadrado, 8 e uma população<br />

predominantemente rural (69 por cento).<br />

Estima-se que um agregado familiar médio<br />

seja composto, nas áreas urbanas, por 4,7<br />

membros por família, em média, e nas<br />

zonas rurais, por 4,2, o que corresponde a<br />

uma média nacional de 4,3. 9 , 10 . Em 2006,<br />

estimavam-se em 72 e 92 por cento os rácios<br />

de dependência i nas áreas urbanas e rurais,<br />

respectivamente, com uma taxa global<br />

nacional de 85 por cento. 11<br />

i<br />

2.2. Crescimento económico<br />

e estabilidade<br />

macroeconómica<br />

Moçambique é uma economia de baixo<br />

rendimento, com um Produto Interno<br />

Bruto (PIB) per capita estimado em 453<br />

milhões de dólares americanos em 2009. 12<br />

O crescimento do PIB atingiu uma média<br />

anual impressionante de 8 por cento durante<br />

o período 1993-2009 (ver Figura 2.1). O forte<br />

crescimento real do PIB desde 2000 tem<br />

sido impulsionado por fortes investimentos<br />

em grandes projectos, especialmente<br />

nos sectores de minerais e mineração. O<br />

crescimento económico foi acompanhado<br />

pelo desenvolvimento de um ambiente<br />

macroeconómico razoavelmente estável e<br />

previsível. Apesar da recente crise financeira<br />

global e da correspondente crise dos custos<br />

dos combustíveis e alimentos, Moçambique<br />

continuou a mostrar um crescimento<br />

económico relativamente forte e uma<br />

robusta estrutura macroeconómica. Embora<br />

o crescimento do PIB em cada um dos<br />

últimos cinco anos tenha ultrapassado os 6,5<br />

por cento, o PIB per capita baixou entre 2008<br />

e 2009. 13<br />

Estima-se que os mega-projectos estejam a<br />

contribuir, actualmente, com mais de 70 por<br />

cento das exportações; no final dos anos 90<br />

a sua contribuição era praticamente nula.<br />

No entanto, dada a redução de impostos,<br />

os mega-projectos detidos por estrangeiros<br />

ainda não contribuem significativamente<br />

para as receitas públicas, o que limita as<br />

finanças públicas e transfere a carga fiscal<br />

para as pequenas e médias empresas. 14 A<br />

dependência de megaprojectos também<br />

levantou entre alguns observadores<br />

preocupações com uma possível economia<br />

de duas vertentes, onde “os sectores de<br />

exportação de capital intensivo continuam<br />

Os rácios de dependência dos agregados familiares são estimados somando o número de crianças dos 0 aos 14 anos<br />

com o de pessoas com idade igual ou superior a 65 anos, e dividindo a soma pelo número de pessoas “activas” com<br />

idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos.<br />

28<br />

29


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 2: O CONTEXTO DE DESENVOLVIMENTO<br />

a prosperar sem um suficiente trickle-down<br />

para o resto do sector privado [sem fazer<br />

com que os estratos inferiores do sector<br />

privado também beneficiem] e com pouco<br />

impacto na redução da pobreza.” 15<br />

Moçambique tem incentivado o investimento<br />

estrangeiro através da adopção de políticas<br />

de mercado aberto, o que criou um ambiente<br />

de investimento mais acolhedor para grandes<br />

investidores do que em muitos outros países<br />

africanos. No entanto, rígidas leis laborais<br />

e problemas de governação continuam a<br />

afectar a atractividade de Moçambique para<br />

os investidores, Esta situação está reflectida<br />

no relatório do Banco Mundial de 2011 ‘Doing<br />

Business’, que coloca Moçambique em 126º<br />

lugar de entre 183 economias na facilidade<br />

de fazer negócios. 16 O Banco Africano de<br />

Desenvolvimento também comentou o difícil<br />

ambiente de negócios no país, observando<br />

que os investidores nacionais se deparam<br />

com uma regulamentação asfixiante,<br />

corrupção e monopólios públicos de<br />

deficiente funcionamento. 17<br />

Moçambique é país que mais beneficia<br />

de doações em África em termos de<br />

percentagem do PIB, mais de 9 por cento<br />

em 2007. Estimativas do Governo de<br />

Moçambique indicam que os recursos<br />

externos cobriam 53 por cento do<br />

orçamento do Estado em 2010. 18 Para reduzir<br />

esta dependência da Assistência Externa ao<br />

Desenvolvimento, o país começou a fazer<br />

reformas na sua política fiscal, ampliando a<br />

sua base tributária e melhorando a cobrança<br />

de direitos aduaneiros. As receitas fiscais<br />

representavam 17,8 por cento do PIB em<br />

2009, contra 13,0 por cento registados em<br />

2003. 19<br />

2.3. Objectivos de Desenvolvimento<br />

do Milénio<br />

No seu quarto e mais recente relatório<br />

nacional de progresso sobre os Objectivos<br />

de Desenvolvimento do Milénio (ODM), de<br />

2010, o Governo de Moçambique reafirmou<br />

o seu compromisso de alcançar as metas. ii<br />

O Governo assinalou que o país “continuou<br />

a registar progressos significativos”,<br />

destacando a “expansão dos serviços de<br />

saúde e educação.” 20 De uma maneira geral,<br />

considera-se que Moçambique está capaz<br />

de atingir 4 das 21 metas e tem potencial<br />

para alcançar mais 9, mas é improvável que<br />

alcance uma. Por falta de dados, não foi<br />

possível avaliar o progresso relativamente<br />

a 7 metas. Os progressos alcançados<br />

encontram-se resumidos na Tabela 2.2.<br />

ii Na 55ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, realizada em 2000, 189 dos países do mundo e muitas das<br />

principais instituições de desenvolvimento assumiram o seu compromisso para com a Declaração do Milénio, uma<br />

reafirmação dos líderes mundiais da sua responsabilidade colectiva de apoiar os princípios de dignidade humana,<br />

igualdade e equidade a nível global. A Declaração do Milénio estabeleceu uma nova parceria global para reduzir a<br />

pobreza extrema, e definiu uma série de metas com limite temporal, a serem alcançadas até 2015. Tais metas tornaramse<br />

depois conhecidas como os oito Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), aos quais se encontram<br />

associadas 21 metas e 60 indicadores.<br />

Tabela 2.2: Evolução rumo aos ODM<br />

OBJECTIVOS/METAS<br />

ATINJIR-SE-Á O OBJECTIVO/A META?<br />

POBREZA EXTREMA E FOME É Provável Há possibilidade É improvável Não há dados<br />

Reduzir para metade, até 2015, a<br />

percentagem de pessoas que vivem em<br />

pobreza extrema<br />

Garantir, até 2015, trabalho decente<br />

para todos, incluindo mulheres como<br />

jovens<br />

Reduzir para metade, até 2015, a<br />

percentagem da população em situação<br />

de fome<br />

ENSINO PRIMÁRIO UNIVERSAL<br />

Garantir, até 2015, que todas as crianças<br />

de ambos os sexos completem todo um<br />

ciclo completo do ensino primário<br />

IGUALDADE DE GÉNERO<br />

Eliminar, de preferência até 2005, as<br />

disparidades de género no ensino<br />

primário e secundário, e, até 2015, em<br />

todos os níveis de ensino<br />

MORTALIDADE INFANTIL<br />

Reduzir em três quartos, até 2015, a taxa<br />

de mortalidade de menores de cinco<br />

anos<br />

MORTALIDADE MATERNA<br />

Reduzir em três quartos, até 2015, o<br />

rácio de mortalidade materna<br />

Alcançar, até 2015, o acesso universal a<br />

saúde reprodutiva.<br />

HIV/SIDA, MALÁRIA E OUTRAS DOENÇAS<br />

Reduzir para metade e começar a<br />

reverter, até 2015, a propagação do<br />

HIV/SIDA<br />

Alcançar, até 2010, o acesso universal<br />

a tratamento para HIV/SIDA para todos<br />

aqueles que dele necessitem<br />

Reduzir para metade, até 2016, e<br />

começar a reverter a incidência da<br />

malária e outras principais doenças<br />

SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL<br />

Integrar os princípios do<br />

desenvolvimento sustentável nas<br />

políticas e programas nacionais e<br />

reverter a perda de recursos ambientais<br />

É Provável<br />

É Provável<br />

É Provável<br />

Há possibilidade<br />

Há possibilidade<br />

Há possibilidade<br />

Há possibilidade<br />

Há possibilidade<br />

Há possibilidade<br />

Há possibilidade<br />

É improvável<br />

Não há dados<br />

Não há dados<br />

30<br />

31


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 2: O CONTEXTO DE DESENVOLVIMENTO<br />

Reduzir a perda de biodiversidade,<br />

atingindo, até 2010, um nível<br />

significativo<br />

Reduzir para metade, até 2015, a<br />

percentagem de população sem acesso a<br />

água potável e saneamento<br />

Até 2020, melhorar consideravelmente a<br />

qualidade de vida da população que vive<br />

em bairros pobres<br />

PARCERIA GLOBAL PARA O DESENVOLVIMENTO<br />

Continuar a desenvolver um sistema<br />

comercial e financeiro multilateral<br />

aberto, regulado, previsível,<br />

não discriminatório. Isto inclui<br />

comprometer-se a uma boa governação,<br />

desenvolvimento e redução da pobreza,<br />

tanto a nível nacional como internacional<br />

Procurar satisfazer as necessidades<br />

especiais dos países menos avançados<br />

Procurar satisfazer as necessidades<br />

especiais dos países sem acesso ao<br />

mar e dos pequenos estados insulares,<br />

e o resultado da 20ª sessão especial da<br />

Assembleia Geral das NU<br />

Tratar de uma maneira global os<br />

problemas da dívida dos países em<br />

desenvolvimento através de medidas<br />

nacionais e internacionais, a fim de tornar<br />

a sua dívida sustentável a longo prazo<br />

Em cooperação com empresas<br />

farmacêuticas, proporcionar acesso<br />

a medicamentos essenciais a<br />

preços acessíveis nos países em<br />

desenvolvimento<br />

Em cooperação com o sector privado,<br />

tornar acessíveis os benefícios das<br />

novas tecnologias, em particular<br />

das tecnologias de informação e<br />

comunicação<br />

É Provável<br />

Há possibilidade<br />

Há possibilidade<br />

Há possibilidade<br />

Não há dados<br />

Não há dados<br />

Não há dados<br />

Não há dados<br />

Não há dados<br />

Fonte: República de Moçambique, Relatório sobre os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, Governo de Moçambique, Maputo,<br />

2010.<br />

2.4. O processo de<br />

descentralização em<br />

Moçambique<br />

A descentralização é considerada uma<br />

força motriz para a redução da pobreza, já<br />

que favorece a democracia, a participação<br />

popular, a receptividade, a responsabilidade<br />

e a equidade a nível local. A descentralização<br />

pode dar voz aos cidadãos pobres e melhorar<br />

o seu acesso às estruturas do Governo.<br />

Além disso, parte-se do princípio de que as<br />

autoridades locais percebem melhor a sua<br />

situação e as massas populares do que as<br />

autoridades centrais, podendo assim, definir<br />

de forma mais eficaz para onde direccionar<br />

investimentos para a redução da pobreza. A<br />

descentralização é uma prioridade no Plano<br />

Quinquenal 2010-14.<br />

O processo de descentralização remonta, em<br />

Moçambique, à adopção da Constituição em<br />

1990, que estabelece os Órgãos Locais do<br />

Estado. A Lei 2/1997 institui os municípios<br />

como unidades territoriais dotadas de<br />

órgãos representativos (assembleias<br />

municipais) e órgãos executivos (conselho<br />

municipal) próprios. A assembleia municipal<br />

é composta por membros directamente<br />

eleitos, enquanto o conselho municipal<br />

compreende o Presidente do Conselho<br />

Municipal e os vereadores do município. O<br />

Decreto 15/2000 reconhece as autoridades<br />

comunitárias como sendo o elo de ligação<br />

entre a sociedade civil e os Órgãos Locais do<br />

Estado, e descreve as diversas obrigações<br />

das autoridades comunitárias reconhecidas,<br />

nomeadamente: (i) divulgação de leis e<br />

políticas governamentais aos membros<br />

da comunidade; (ii) cobrança de impostos;<br />

(iii) registo da população; (iv) aplicação<br />

da justiça; e (v) mobilização e organização<br />

das comunidades para actividades de<br />

desenvolvimento local. As autoridades<br />

comunitárias recebem um incentivo<br />

monetário pelos impostos que cobram.<br />

As directrizes nacionais para os planos de<br />

desenvolvimento distrital (aprovadas em<br />

2003) reforçam o papel dos municípios como<br />

unidades de planificação e orçamentação,<br />

e consideram a criação de conselhos<br />

consultivos locais para servir de interface<br />

entre a sociedade civil e as autoridades<br />

distritais no processo de planificação.<br />

A Lei 8 / 2003 iii define a estrutura e<br />

organização dos Órgãos Locais do Estado e<br />

institui o distrito como unidade orçamental,<br />

com poder para planificar e definir as suas<br />

prioridades. O plano de desenvolvimento<br />

distrital é legalmente reconhecido como<br />

principal instrumento de planificação e<br />

orçamentação. Incentiva-se a consulta e<br />

a participação comunitária por meio de<br />

conselhos consultivos distritais, a quem é<br />

atribuído um papel na elaboração, aprovação<br />

e execução dos planos a nível distrital. Os<br />

conselhos consultivos distritais oferecem um<br />

potencial caminho através do qual as vozes<br />

das crianças podem ser ouvidas e os seus<br />

direitos realizados.<br />

Desde 2006 que o Governo tem atribuído<br />

cerca de sete milhões de meticais a cada<br />

distrito, a serem investidos na criação de<br />

emprego e promoção do sector privado. Esta<br />

medida proporcionou um forte incentivo<br />

para o melhoramento de sistemas visando<br />

garantir que as verbas sejam efectivamente<br />

gastas em projectos de desenvolvimento<br />

local. Na sua 17ª Sessão Ordinária em<br />

2007, o Conselho de Ministros decidiu<br />

descentralizar o financiamento para estradas,<br />

água, agricultura, saúde e educação e<br />

infra-estruturas, como um passo para a<br />

implementação efectiva da Lei 8/2003 e<br />

consecução dos objectivos estratégicos do<br />

PARPA II e do Plano Quinquenal.<br />

Um estudo solicitado para a avaliação do<br />

PARPA II concluiu que “(1) a descentralização<br />

dos fundos sectoriais ainda não é eficaz;<br />

(2) o envolvimento de instituições de<br />

planificação e as consultas à comunidade<br />

são eficazes; (3) os sistemas de contabilidade<br />

são complexos, lentos e contraproducentes;<br />

(4) o sistema de monitorização e avaliação<br />

iii Lei dos Órgãos do Estado (LOLE)<br />

32<br />

33


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 2: O CONTEXTO DE DESENVOLVIMENTO<br />

a nível distrital carece de melhorias; (5) a<br />

capacidade de manutenção a nível distrital<br />

requer fortalecimento; (6) o sector privado<br />

está pouco envolvido na prestação de<br />

serviços; (7) há divergência institucional<br />

em relação à aplicação da legislação;<br />

(8) os critérios de atribuição de fundos<br />

sectoriais são inconsistentes e pouco<br />

conhecidos; e (9) falta uma perspectiva<br />

multissectorial a nível distrital, uma vez que<br />

se trata de um processo de planificação<br />

sistemático.” O estudo revelou também<br />

diferenças significativas entre os processos<br />

de descentralização nas duas províncias<br />

visitadas (Nampula e Gaza). Foram também<br />

observadas diferenças em relação aos<br />

critérios de planificação, definição de<br />

prioridades, alocação de recursos e fluxos<br />

financeiros. Estas diferenças podem ser<br />

explicadas, pelo menos em parte, por<br />

diferenças no nível de experiência na gestão<br />

de processos de descentralização entre as<br />

duas províncias. 21<br />

Grande parte das reformas do governo<br />

local realizadas até à data baseou-se na<br />

descentralização de funções administrativas<br />

(muitas vezes designada ‘desconcentração’),<br />

em alguns elementos fiscais do sector<br />

público, e com maior ênfase nos processos<br />

de planificação e orçamentação. A<br />

descentralização democrática continua<br />

a ser uma possibilidade distante e, além<br />

da planificação distrital participativa, a<br />

prestação de contas no distrito tende a fluir<br />

de baixo para cima, para o nível provincial e<br />

nacional, em vez de ser de cima para baixo,<br />

para a população local, através de eleições.<br />

3.Análise das políticas e institucional<br />

3.1. Políticas e mecanismos de<br />

planificação<br />

A planificação a nível nacional, em<br />

Moçambique, norteia-se pelo Programa<br />

Quinquenal do Governo. Cada novo<br />

governo que toma posse iv elabora um Plano<br />

Quinquenal e define as suas prioridades<br />

e agenda operacional até às eleições<br />

gerais seguintes. O Plano Quinquenal é<br />

o principal instrumento de planificação<br />

de longo prazo que define as prioridades<br />

e os objectivos centrais do Governo e<br />

descreve as estratégias específicas para a<br />

sua consecução. O actual Plano Quinquenal<br />

2010-2014 tem como objectivo central a<br />

redução da pobreza absoluta para melhorar<br />

as condições de vida do povo moçambicano<br />

num ambiente de paz, harmonia e<br />

tranquilidade. Aborda os seguintes temas:<br />

desenvolvimento humano e social, boa<br />

governação, desenvolvimento económico<br />

e fortalecimento da soberania nacional e<br />

da cooperação internacional, bem como<br />

as questões transversais de desminagem,<br />

meio ambiente, vulnerabilidade, HIV/SIDA,<br />

género, alimentação e segurança alimentar e<br />

desenvolvimento rural.<br />

O PARP é o instrumento-chave para a<br />

operacionalização do Plano Quinquenal<br />

do Governo. Moçambique, até à data,<br />

produziu dois Planos de Acção para a<br />

Redução da Pobreza Absoluta ou PARPA<br />

(PARPA I 2001-2005 22 e PARPA II 2006-<br />

2009 23 ). O PARPA II reflecte as metas e<br />

objectivos de acordos regionais, africanos<br />

e internacionais, incluindo os ODM, a Nova<br />

Parceria para o Desenvolvimento de África<br />

e a Comunidade para o Desenvolvimento<br />

da África Austral. Foi desenvolvido com<br />

a estrutura geral do documento de visão<br />

nacional Agenda 2025, compreendendo<br />

quatro pilares: macroeconomia e pobreza,<br />

governação, desenvolvimento económico e<br />

capital humano. As questões transversais,<br />

entre as quais género, HIV/SIDA, meio<br />

ambiente, segurança alimentar e nutricional<br />

e desastres naturais, foram integradas ao<br />

longo de todo o documento. O PARPA II<br />

foi consideravelmente mais favorável às<br />

crianças que o PARPA I, tendo definido<br />

metas obrigatórias e quantificáveis para a<br />

concretização dos direitos da criança, muitas<br />

das quais contribuem directamente para a<br />

consecução dos ODM.<br />

O PARPA II centrou-se nos sectores e<br />

estratégias chave para o crescimento<br />

económico e redução da pobreza,<br />

apresentando mais detalhes relativos à<br />

alocação de recursos e estabelecimento<br />

de metas obrigatórias para acompanhar<br />

e avaliar o desempenho. O PARPA II<br />

reafirmou o compromisso do Governo de<br />

proporcionar serviços sociais, mas priorizou<br />

também a promoção do desenvolvimento<br />

do sector privado como forma de manter o<br />

crescimento económico, reduzir a pobreza<br />

e, a longo prazo, gerar fontes domésticas<br />

de divisas, aumentar as receitas e reduzir a<br />

dependência da ajuda. Em Outubro de 2009,<br />

o Governo e os seus parceiros realizaram<br />

uma avaliação conjunta sobre o impacto<br />

do PARPA 24 , que concluiu que, apesar dos<br />

significativos progressos registados na<br />

concretização dos objectivos do pilar de<br />

capital humano, especialmente em termos<br />

de expansão do acesso a serviços básicos,<br />

nem todas as metas estabelecidas foram<br />

alcançadas. Foram áreas que registaram<br />

insuficiente progresso a cobertura dos<br />

serviços de saúde, a garantia de qualidade<br />

dos serviços de educação, a melhoria do<br />

uso dos serviços de água e saneamento<br />

e a disponibilização de programas de<br />

proteção social para os pobres. Espera-se<br />

que a terceira geração, em Moçambique, do<br />

iv Segundo estabelece o Artigo 198 da Constituição, o parlamento deve discutir o Plano Quinquenal no início da legislatura.<br />

34<br />

35


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 2: O CONTEXTO DE DESENVOLVIMENTO<br />

Documento da Estratégia para a Redução<br />

da Pobreza (o PARP) fique concluída no<br />

início de 2011.<br />

O Cenário Fiscal de Médio Prazo (CFMP)<br />

25 é um instrumento de planificação<br />

de médio prazo que estabelece os<br />

recursos financeiros necessários para a<br />

implementação dos objectivos do Plano<br />

Quinquenal e do PARPA. O CFMP contribui<br />

também para garantir a disciplina fiscal e<br />

orçamental, conjuntamente. O PARP e o<br />

CFMP, em conjunto, são os instrumentos<br />

de planificação e orçamentação em que<br />

se baseia a harmonização de políticas e<br />

prioridades nacionais e definem os recursos<br />

Caixa 2.1 Instrumentos de Planificação e Orçamentação em Moçambique<br />

necessários para a sua implementação<br />

a médio prazo. Os planos nacionais são<br />

complementados por planos sectoriais,<br />

provinciais e distritais (ver Figura 2.1), os<br />

quais, juntamente com o PARPA e o CFMP,<br />

constituem o quadro de planificação nacional<br />

de médio prazo. A elaboração de Planos<br />

Estratégicos Sectoriais não está sujeita<br />

a uma metodologia definida, usando os<br />

diferentes sectores abordagens distintas.<br />

O ciclo anual de planificação começa com a<br />

preparação do CFMP em Fevereiro, sendo<br />

a versão final apresentada em Abril/Maio<br />

como uma contribuição para a fase seguinte<br />

do ciclo: preparação do orçamento. Os<br />

1. O PRSP (PARPA ou PARP) baseia-se no Programa Quinquenal do Governo e nos Planos<br />

Estratégicos Sectoriais, apresentando as políticas, os objectivos, as metas e os resultados que<br />

se esperam para a redução da pobreza absoluta no país num período de cinco anos.<br />

2. Os Planos Estratégicos Sectoriais são instrumentos de planificação de médio prazo, destinados<br />

a harmonizar as políticas globais do Governo com as políticas sectoriais. Estes planos estão em<br />

sintonia com o Programa Quinquenal e detalham as estratégias que nortearão a realização dos<br />

objectivos do Governo.<br />

3. O CFMP é um instrumento de planificação a médio prazo usado para alocar os recursos<br />

financeiros disponíveis de acordo com as prioridades estabelecidas no PARPA e nos Planos<br />

Estratégicos Sectoriais.<br />

4. O Plano Económico e Social é o instrumento de planificação anual onde são estabelecidos os<br />

principais objectivos económicos e sociais e as metas para o ano fiscal.<br />

5. O Orçamento do Estado é a expressão financeira do Plano Económico e Social.<br />

6. O Plano Estratégico Provincial é um instrumento de planificação de médio prazo que<br />

descreve as estratégias de desenvolvimento a nível provincial, tomando como ponto de<br />

partida os objectivos nacionais apresentados no Programa Quinquenal. O Plano Estratégico<br />

Provincial é traduzido num Plano Económico e Social e um Orçamento Provincial, os quais<br />

são apresentados ao Ministério de Planificação e Desenvolvimento para aprovação final. O<br />

orçamento provincial é então incorporado no Orçamento do Estado.<br />

7. O Plano Estratégico de Desenvolvimento Distrital é um instrumento de planificação de médio<br />

prazo que descreve as estratégias de desenvolvimento a nível distrital. Estes planos são<br />

desenvolvidos pelos governos distritais com apoio técnico das províncias e participação das<br />

comunidades locais. Os Planos Estratégicos de Desenvolvimento Distrital são implementados<br />

por meio de Planos Económicos e Sociais e Orçamentos Distritais anuais.<br />

8. O Plano Económico e Social e Orçamento Distrital é o instrumento de planificação anual que<br />

operacionaliza o Plano Estratégico de Desenvolvimento Distrital e inclui uma estimativa das<br />

receitas e despesas distritais previstas para o ano.<br />

planos sectoriais, provinciais e distritais,<br />

bem como as propostas de orçamento,<br />

devem ser apresentados até finais de Julho.<br />

Estes planos são consolidados no Plano<br />

Económico Social nacional e no Orçamento<br />

do Estado, para serem submetidos ao<br />

Conselho de Ministros até 15 de Setembro,<br />

após o que passam para a Assembleia<br />

da República, até 30 de Setembro, para<br />

aprovação final até 15 de Dezembro.<br />

O Orçamento do Estado 26 e o Plano<br />

Económico e Social traduzem o PARP em<br />

planos anuais. O Plano Económico e Social é<br />

a materialização anual do Plano Quinquenal<br />

do Governo e do PARPA.<br />

3.2. Monitorização e avaliação<br />

Não existe uma fonte única explícita de<br />

orientação normativa sobre processos de<br />

planificação, monitorização e avaliação<br />

em Moçambique. Pelo contrário, essa<br />

orientação pode ser encontrada na<br />

Figura 2.1: Instrumentos de Planificação em Moçambique<br />

PARPA<br />

Instrumentos de Médio prazo<br />

Instruções<br />

sobre como<br />

afectar<br />

fundos a<br />

propriedades<br />

CFMP<br />

Planos<br />

Estratégicos<br />

Sectoriais e<br />

Provinciais<br />

Harmonização<br />

entre Políticas,<br />

estratégias e<br />

Objectivos<br />

Plano Quinquenal do Governo<br />

Constituição, na lei respeitante ao SISTAFE<br />

(Sistema de Administração Financeira do<br />

Estado) e no estatuto que criou o Ministério<br />

de Planificação e Desenvolvimento. A<br />

Constituição de Moçambique estabelece o<br />

Plano Económico e Social como principal<br />

instrumento de planificação, em sintonia<br />

com o Programa Quinquenal do Governo,<br />

estabelecendo que este plano deve ser<br />

desenvolvido por via de um processo de<br />

planificação descentralizada. O Orçamento<br />

do Estado é a expressão financeira do Plano<br />

Económico e Social e é aprovado pela<br />

Assembleia da República. A Lei do SISTAFE<br />

(n º 9/2002, de 12 de Fevereiro) requer que<br />

seja apresentada à Assembleia da República<br />

duas vezes por ano informação sobre a<br />

execução do Plano Económico e Social.<br />

Existe um sistema de monitorização e<br />

avaliação para o Orçamento do Estado, com<br />

relatórios trimestrais e anuais. O Orçamento<br />

do Estado é monitorado internamente pelo<br />

Ministério das Finanças através do Relatório<br />

Harmonização<br />

de Metas<br />

Sectorias e<br />

Provinciais<br />

Afectação<br />

de Fundos a<br />

Propriedades<br />

Instrumentos anuais<br />

Plano Económco e Social<br />

Definição Anual<br />

das Prioridades<br />

respeitantes a<br />

Políticas, acções<br />

e Medidas<br />

Orçamento do estado<br />

Fonte: Governo de Moçambique, ‘Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta 2006-2009’, República de Moçambique,<br />

Maputo, 2006.<br />

36<br />

37


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 2: O CONTEXTO DE DESENVOLVIMENTO<br />

de Execução do Orçamento do Estado, e<br />

externamente através de uma auditoria da<br />

Conta Geral do Estado feita pelo Tribunal<br />

Administrativo.<br />

A necessidade de acompanhar a<br />

implementação e o impacto do PARPA I<br />

exigiu o desenvolvimento de um Quadro<br />

de Monitorização e Avaliação. Foi adoptada<br />

uma versão resumida deste quadro,<br />

conhecida como Quadro de Avaliação<br />

do Desempenho, como instrumento de<br />

monitorização e avaliação anual do Apoio<br />

Geral ao Orçamento (ver adiante). A<br />

Estratégia de Monitorização e Avaliação do<br />

PARPA II tinha por finalidade desenvolver<br />

um sistema nacional integrado de<br />

monitorização e avaliação, operando como<br />

uma componente rotineira do processo de<br />

planificação. Este documento estabeleceu<br />

uma matriz de indicadores estratégicos<br />

mais ampla que a do Quadro de Avaliação<br />

do Desempenho, e é reportado no Plano<br />

Económico e Social e respectivo relatório<br />

de revisão. O PARPA II também introduziu<br />

uma distinção entre indicadores de médio<br />

prazo baseados em resultados e indicadores<br />

avaliados anualmente baseados em<br />

produtos finais. O Quadro de Avaliação e<br />

Monitorização do Plano Quinquenal 2010-14,<br />

o PARP, está a ser presentemente elaborado.<br />

O PARPA também é avaliado através de<br />

revisões semestrais e anuais conjuntas<br />

de doadores e de uma avaliação final<br />

de impacto (Relatório de Avaliação de<br />

Impacto), que avalia o progresso em cada<br />

um dos pilares e nas áreas temáticas<br />

transversais ao longo de toda a vigência do<br />

PARPA. A Revisão Conjunta é o mecanismo<br />

pelo qual o Governo, os doadores e a<br />

sociedade civil avaliam a implementação<br />

do PARPA, com ênfase no Plano Económico<br />

e Social, no Orçamento do Estado e<br />

instrumentos de monitorização relacionados<br />

(Balanço do PES e Relatório de Execução do<br />

Orçamento do Estado). A revisão conjunta<br />

do desempenho do Governo e dos doadores<br />

realiza-se em Abril de cada ano e analisa<br />

o desempenho ao longo do ano anterior,<br />

enquanto a Revisão Semestral (ou reunião<br />

de planificação) acontece em Setembro<br />

e centra-se no estabelecimento de metas<br />

para o ano seguinte, determinando se existe<br />

a possibilidade de se atingirem as metas<br />

fundamentais do Quadro de Avaliação<br />

de Desempenho. A reunião de revisão<br />

conjunta também avalia as contribuições<br />

dos Parceiros de Apoio Programático na<br />

obtenção de resultados em conformidade<br />

com os princípios da Declaração de Paris de<br />

2005 sobre a Eficácia da Ajuda. Os dados de<br />

monitorização do PARPA são principalmente<br />

recolhidos através de contribuições<br />

sectoriais que quantificam a contribuição<br />

dos sectores. Os inquéritos, entre os quais o<br />

Inquérito Demográfico e de Saúde, o MICS,<br />

o Inquérito aos Agregados Familiares, o<br />

Questionário de Indicadores Básicos de<br />

Bem-Estar e o Inquérito Integrado à Força<br />

de Trabalho [IFTRAB] são utilizados para<br />

quantificar o produto final e os resultados.<br />

A irregularidade dos inquéritos e a falta de<br />

coordenação entre o ciclo de planificação<br />

de médio prazo e os inquéritos relevantes<br />

dificultaram uma monitoria eficaz do PARPA.<br />

Segundo um estudo solicitado<br />

pelo Ministério de Planificação e<br />

Desenvolvimento em 2008, apesar do<br />

enorme progresso alcançado nos últimos<br />

anos em matéria de monitorização e<br />

avaliação em Moçambique, continuam<br />

a existir pontos fracos decorrentes da<br />

não consolidação de uma multiplicidade<br />

de processos e metodologias. 27 A nível<br />

central, existem três sistemas distintos de<br />

monitoria e avaliação do Plano Económico e<br />

Social, do PARPA e dos Planos Estratégicos<br />

Sectoriais. Estes sistemas nacionais são,<br />

por sua vez, apoiados por uma série de<br />

sistemas sectoriais e provinciais que não<br />

têm beneficiado de uma metodologia ou<br />

padronização consistente. Existem múltiplos<br />

pedidos de informação para monitorização<br />

e avaliação, tanto de fontes internas como<br />

externas, o que coloca uma significativa<br />

carga sobre os sistemas. Os instrumentos e<br />

processos de planificação distrital, entre os<br />

quais o Plano Económico e Social Distrital,<br />

os orçamentos distritais e a aprovação da<br />

Lei dos Órgãos Locais do Estado (LOLE),<br />

têm vindo a desenvolver-se a um ritmo<br />

regular, de acordo com estratégias de<br />

descentralização. No entanto, não houve<br />

o concomitante desenvolvimento de<br />

instrumentos e processos de monitoria e<br />

avaliação da execução destes planos. A<br />

utilização de processos participativos de<br />

monitorização e avaliação em Moçambique<br />

é relativamente nova e, de algum modo,<br />

subdesenvolvida.<br />

Grande parte das actividades de monitoria<br />

e avaliação realizadas em Moçambique<br />

parecem ser uma resposta a pedidos<br />

de informação de parceiros externos ou<br />

centros administrativos superiores, ao<br />

invés de fornecimento de subsídios para a<br />

formulação de políticas. Fazer o desembolso<br />

do Apoio Geral ao Orçamento depender do<br />

desempenho em função de indicadores do<br />

Quadro de Avaliação do Desempenho pode<br />

ter incentivado os sectores a definir metas<br />

conservadoras facilmente exequíveis e a dar<br />

prioridade a acções que satisfaçam o âmbito<br />

restrito desses indicadores, a fim de manter<br />

o financiamento externo.<br />

3.3. Quadro legal para apoiar a<br />

realização dos direitos da<br />

criança<br />

A Constituição de Moçambique foi aprovada<br />

e promulgada em Novembro de 1990, e<br />

revista em 2004. A Constituição funciona<br />

como lei fundamental para todas as<br />

organizações políticas e sociais no país.<br />

Nos termos do seu Artigo 62º, Moçambique<br />

aceita, observa e aplica os princípios da<br />

Carta das Nações Unidas e da Carta da<br />

Organização da Unidade Africana. 28<br />

Moçambique ratificou, sem reservas, a<br />

Convenção das Nações Unidas sobre<br />

os Direitos da Criança, que, depois de<br />

publicada no Boletim da República, em 23<br />

de Outubro de 1990, foi incorporada na<br />

estrutura legal interna do país. 29 Antes da<br />

sua ratificação, a Convenção foi analisada<br />

por instituições nacionais, entre as quais<br />

o Tribunal Supremo, a Procuradoria-Geral<br />

da República, os Ministérios da Justiça,<br />

Educação e Saúde e outros sectores<br />

relevantes, tendo-se concluído não existirem<br />

nenhuma incompatibilidade importante entre<br />

a Convenção e a ordem jurídica interna. Ao<br />

mesmo tempo, foi reconhecida a necessidade<br />

de se melhorarem os regulamentos internos<br />

relacionados com a criança.<br />

O Governo também aderiu aos dois<br />

Protocolos Adicionais à Convenção sobre<br />

os Direitos da Criança, relativos à venda de<br />

crianças, prostituição infantil e pornografia<br />

infantil, e sobre o envolvimento de crianças<br />

em conflitos armados, em 2003 e 2004,<br />

respectivamente. Além da Convenção<br />

sobre os Direitos da Criança, Moçambique<br />

ratificou igualmente a Carta Africana<br />

sobre os Direitos e Bem-Estar da Criança,<br />

bem como outros instrumentos jurídicos<br />

internacionais relativos ao desenvolvimento<br />

e bem-estar das crianças. Imediatamente<br />

após a independência nacional, e antes da<br />

Convenção sobre os Direitos da Criança,<br />

Moçambique tinha adoptado a sua própria<br />

Declaração sobre os Direitos da Criança<br />

Moçambicana, contendo um conjunto de<br />

12 direitos básicos. 30 A legislação nacional<br />

relativa aos direitos das crianças é discutida<br />

no Capítulo 5.<br />

38<br />

39


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 2: O CONTEXTO DE DESENVOLVIMENTO<br />

4. Ajuda externa ao desenvolvimento<br />

Moçambique é o maior destinatário da<br />

assistência internacional ao desenvolvimento<br />

em África, sendo o Reino Unido a maior<br />

fonte de ajuda bilateral ao país. 31 O aumento<br />

do volume de Assistência Externa ao<br />

Desenvolvimento a que se comprometeram os<br />

países desenvolvidos é, de uma maneira geral,<br />

considerado positivo, e as Nações Unidas<br />

defendem uma dotação de 0,7 por cento do<br />

PIB dos países desenvolvidos. No entanto, a<br />

concentração de grandes volumes de ajuda<br />

externa em alguns países levanta a questão da<br />

dependência na ajuda. O Comité dos Direitos<br />

da Criança, nas suas observações finais no<br />

Segundo Relatório Periódico de Moçambique, 32<br />

nota com preocupação que, apesar do<br />

notável crescimento económico mantido<br />

na última década, o Estado Parte continua a<br />

ser fortemente dependente da cooperação<br />

internacional, referindo que uma parte<br />

significativa do orçamento nacional provém<br />

da cooperação para o desenvolvimento. O<br />

Centro Internacional da Pobreza argumenta<br />

que um grande e contínuo fluxo da Assistência<br />

Externa ao Desenvolvimento num país pode<br />

fazer afastar o enfoque da responsabilidade do<br />

estado e da sociedade para o relacionamento<br />

entre o Governo e os doadores, enfraquecendo<br />

assim o papel das instituições nacionais na<br />

governação. 33 Outros comentários assumiram<br />

uma visão mais extrema, afirmando que,<br />

devido ao processo do apoio orçamental, os<br />

representantes dos doadores estão agora no<br />

centro do processo de tomada de decisão no<br />

governo. 34<br />

4.1. Coordenação da<br />

assistência internacional ao<br />

desenvolvimento<br />

Nos últimos anos, e no contexto da forte<br />

dependência externa, passou-se para uma<br />

maior harmonização e alinhamento da<br />

ajuda externa, sobretudo após o PARPA<br />

II e a Declaração de Paris de 2005 sobre<br />

Eficácia da Ajuda. 35 A ênfase está agora em<br />

Fundos Comuns sectoriais e mecanismos<br />

de Apoio Geral ao Orçamento, que dão<br />

maior flexibilidade ao Governo no que<br />

respeita à forma como este aloca os fundos<br />

recebidos. O Apoio Geral ao Orçamento<br />

deve também reduzir o fardo do Governo<br />

de monitoria, avaliação e apresentação de<br />

relatórios a várias fontes de financiamento<br />

externas. O PARPA II apoia a utilização de<br />

modalidades de financiamento mais flexíveis,<br />

em particular o Apoio Geral ao Orçamento,<br />

e afirma que, “embora o equilíbrio ideal<br />

entre as modalidades de ajuda possa conter,<br />

provavelmente, uma mistura de todas elas,<br />

o Governo pretende que haja um aumento<br />

da proporção de fundos canalizados através<br />

da Conta Pública do Tesouro, principalmente<br />

através do Apoio Geral ao Orçamento.” 36<br />

A mudança com vista à harmonização,<br />

alinhamento e uso de modalidades de ajuda<br />

cada vez mais flexíveis, em Moçambique tem<br />

sido conduzida pelo grupo de Parceiros de<br />

Apoio Programático. O Grupo de Parceiros<br />

de Apoio Programático (PAPs), também<br />

conhecido como Grupo dos 19 ou G19, é<br />

constituído por 19 doadores bilaterais e<br />

multilaterais v que proporcionam Apoio Geral<br />

ao Orçamento. O Governo de Moçambique e<br />

os PAPs assinaram primeiro um Memorando<br />

de Entendimento em 2004, onde foram<br />

definidos os princípios da parceria e os<br />

compromissos para melhorar a qualidade do<br />

Programa de Ajuda Humanitária. Um segundo<br />

Memorando de Entendimento foi assinado<br />

em Março de 2009. O objectivo geral do<br />

apoio dos PAP ao orçamento de Moçambique<br />

é contribuir para a redução da pobreza em<br />

todas as suas dimensões. Além disso, o<br />

Memorando de Entendimento estabelece que<br />

“o Apoio ao Orçamento dos PAPs deve ajudar<br />

v Os 19 parceiros são: Banco Africano de Desenvolvimento, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Comissão Europeia, Finlândia,<br />

França, Alemanha, Países Baixos, Irlanda, Itália, Noruega, Portugal, Espanha, Suécia, Suíça, Reino Unido, Banco Mundial<br />

e Áustria. Os Estados Unidos da América e as Nações Unidas aderiram como Membros Associados em 2009.<br />

a alcançar os objectivos comuns de redução<br />

da pobreza e os ODM em Moçambique,<br />

através de financiamento ao orçamento do<br />

sector público para redução da pobreza, em<br />

sintonia com os sistemas de Moçambique<br />

e associado, de forma clara e transparente,<br />

ao desempenho.” 37 O Apoio Directo ao<br />

Orçamento proporciona também uma<br />

importante via para um diálogo coordenado e<br />

harmonizado entre o Governo e os doadores<br />

sobre as políticas de desenvolvimento e<br />

opções da despesa pública.<br />

Os compromissos dos PAPs de Apoio Geral ao<br />

Orçamento totalizaram, em 2009, 485 milhões<br />

de dólares americanos, e, em 2010, 472<br />

milhões. 38 De acordo com o CFMP 2010-2012,<br />

o financiamento externo representa cerca de<br />

44 por cento do Orçamento do Estado total,<br />

aumentando para 47 por cento em 2010 e 48<br />

por cento em 2011 e 2012 (ver Tabela 2.3).<br />

4.2. Análise das implicações para<br />

as crianças<br />

É essencial conhecer todo o pacote de<br />

recursos disponíveis para garantir uma<br />

alocação de recursos públicos para crianças<br />

orientada pelas políticas. Financiamento fora<br />

do orçamento, ou financiamento que esteja<br />

total ou parcialmente fora do processo<br />

orçamental formal prejudica os esforços<br />

do Governo para definir prioridades,<br />

planear, orçamentar, monitorar e avaliar de<br />

forma eficaz. Os fundos extra-orçamentais<br />

prejudicam também a credibilidade do<br />

processo orçamental, levam a uma onerosa<br />

e desnecessária duplicação da apresentação<br />

de relatórios, acabando por enfraquecer a<br />

responsabilidade do executivo perante o<br />

Parlamento. O problema do financiamento<br />

fora do orçamento é mais grave nos sectores<br />

de serviços sociais e infra-estruturas, uma<br />

vez que são os maiores beneficiários da<br />

ajuda externa.<br />

O Comité dos Direitos da Criança, nas suas<br />

observações finais sobre Moçambique,<br />

recomenda ao Estado Parte que, ao negociar<br />

a cooperação para o desenvolvimento, e<br />

particularmente quaisquer incrementos,<br />

o financiamento seja direccionado para<br />

programas que possam proporcionar<br />

o maior e mais rápido impacto na<br />

implementação dos direitos da criança. 39 Em<br />

particular, deve ser dada prioridade a:<br />

• l Programas de grande escala que<br />

proporcionem claros benefícios para as<br />

crianças, como a distribuição alargada<br />

Tabela 2.3: Financiamento interno e externo no Orçamento do Estado, 2009-2012 (pressupondo um<br />

crescimento do PIB de 6,1 por cento)<br />

2009 (adjusted) 2010 2011 2012<br />

Recursos internos<br />

Receitas do Estado 43,100 49,981 56,826 64,230<br />

Privatização 1,044<br />

Crédito interno 5,721 2,449 -1,595 -2,923<br />

Total Interno 49,865 52,430 55,231 61,307<br />

Recursos externos<br />

Doações 31,991 34,770 37,488 40,368<br />

Créditos 7,148 11,673 14,171 17,304<br />

Total Externo 39,139 46,443 51,659 57,672<br />

Total Interno + Externo 89,004 98,873 106,890 118,979<br />

Recursos internos como % do total 0.56 0.53 0.52 0.52<br />

Recursos externos como % do total 0.44 0.47 0.48 0.48<br />

Fonte: Ministério de Planificação e Desenvolvimento e Ministério das Finanças, Cenário Fiscal de Médio Prazo 2010-2012, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, Setembro de 2009.<br />

40<br />

41


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 2: O CONTEXTO DE DESENVOLVIMENTO<br />

de redes mosquiteiras, de longa duração,<br />

tratadas com insecticida;<br />

• l Programas de saúde de larga escala<br />

junto das comunidades, incluindo o<br />

uso estruturado de Semanas de Saúde<br />

da Criança nacionais, para aumentar a<br />

cobertura da vacinação, suplementação<br />

com micronutrientes e cuidados<br />

preventivos ao nível da comunidade;<br />

• l Continuada e acelerada expansão da<br />

qualidade de e acesso a tratamento<br />

pediátrico, aconselhamento e testagem<br />

voluntária como parte de programas prénatais,<br />

e medicamentos para a prevenção<br />

da transmissão vertical do HIV;<br />

• l Uso de financiamento direccionado para<br />

programas relacionados com a SIDA<br />

como ponto de entrada para a afectação<br />

de recursos ao sector de saúde em<br />

geral, fortalecimento da expansão de<br />

estabelecimentos de saúde e melhoria da<br />

qualidade de assistência;<br />

• l Regimes de protecção social de grande<br />

escala e programas de transferência de<br />

dinheiro;<br />

• l Programas rurais e peri-urbanos<br />

alargados de água e saneamento,<br />

baseados em iniciativas relacionadas<br />

com água e saneamento rural, como, por<br />

exemplo, a ‘Iniciativa Um Milhão’; e<br />

• l Campanhas para expandir a construção<br />

de escolas em todos os distritos,<br />

utilizando tanto trabalho comunitário ou<br />

local como empreiteiros contratados.<br />

São amplamente reconhecidos pelos<br />

governos dos países desenvolvidos e em<br />

desenvolvimento os benefícios a longo<br />

prazo da reforma de como é prestada a<br />

assistência externa ao desenvolvimento,<br />

conforme evidenciado pela Declaração de<br />

Paris de 2005 sobre a Eficácia da Ajuda e<br />

pela Agenda de Acção de Accra, de 2008.<br />

No entanto, a plena implementação dos<br />

dois processos, tanto um afastamento dos<br />

mecanismos bilaterais existentes, que têm<br />

substanciais componentes de financiamento<br />

‘extra-orçamental’ e baseadas em projectos,<br />

como o desenvolvimento da capacidade dos<br />

governos nacionais, pode levar vários anos.<br />

O desenvolvimento de capacidades é uma<br />

área-chave que tem sido negligenciada nas<br />

reformas de harmonização e alinhamento.<br />

5. Conclusões<br />

Apesar de uma transição bem sucedida<br />

para a paz, de anos de crescimento<br />

económico estável e um conjunto de<br />

processos institucionais com enfoque no<br />

desenvolvimento, Moçambique continua a<br />

ser um dos países mais pobres do mundo,<br />

ocupando o 165º lugar de entre 169 no Índice<br />

de Desenvolvimento Humano 2010. Desde<br />

a assinatura do Acordo de Paz em 1992,<br />

Moçambique registou progressos numa série<br />

de indicadores relacionados com o bem-estar<br />

da criança em Moçambique. No entanto, são<br />

necessários novos investimentos para que o<br />

país alcance muitos dos ODM’s. Moçambique<br />

é actualmente considerado susceptível de<br />

atingir apenas quatro das 21 metas, com<br />

potencial para alcançar mais nove.<br />

O ambiente fiscal é caracterizado por<br />

uma forte dependência em ajuda externa.<br />

De acordo com o CFMP 2010-2012, o<br />

financiamento externo representa cerca<br />

de 44 por cento do total do Orçamento do<br />

Estado, aumentando para 47 por cento em<br />

2010 e 48 por cento em 2011 e 2012. Dentro<br />

do contexto da forte dependência em ajuda<br />

externa, houve, nos últimos anos, uma<br />

mudança para uma maior harmonização<br />

e alinhamento da assistência humanitária,<br />

sobretudo após o PARPA II e a Declaração<br />

de Paris de 2005 sobre a Eficácia da Ajuda.<br />

Uma dependência exagerada em ajuda pode<br />

afastar a responsabilização do Estado e da<br />

sociedade para se centrar nos doadores,<br />

enfraquecendo assim o papel de instituições<br />

nacionais, como o Parlamento.<br />

O Plano Quinquenal do Governo e o seu<br />

plano operacional, o PARP, estão centrados<br />

nas prioridades de desenvolvimento<br />

nacional para o desenvolvimento humano<br />

e social, juntamente com outras áreas do<br />

desenvolvimento económico e político. Para<br />

se obter mais progressos na consecução<br />

das metas estabelecidas na planificação<br />

do Governo e nos instrumentos de<br />

orçamentação, são necessários mais<br />

esforços para a consolidação dos quadros<br />

nacionais de planificação, monitorização e<br />

avaliação.<br />

42<br />

43


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 2: O CONTEXTO DE DESENVOLVIMENTO<br />

Referências<br />

1 United Nations Committee on the Rights of<br />

the Child, Consideration of Reports Submitted<br />

by States Parties<br />

Under Article 44 of the Convention, Initial<br />

report of States Parties due in 1996,<br />

<strong>Mozambique</strong>, CRC/C/41/Add.11, Nações<br />

Unidas, Genebra, 14 de Maio de 2001.<br />

2 <strong>Mozambique</strong> News Agency, ‘Guebuza and<br />

Frelimo win landslide victory,’ descarregado<br />

de: http://www.poptel.org.uk/mozambiquenews/newsletter/aim389.html,<br />

acedido a 9 de<br />

Novembro de 2009.<br />

3 Hanlon, Joseph, ‘<strong>Mozambique</strong>: ‘the war ended<br />

17 years ago, but we are still poor,’’ Conflict,<br />

Security & Development, 10: 1, 2010, pp. 77<br />

-102.<br />

4 World Bank, World Development Report 1997:<br />

The state in a changing world, World Bank,<br />

Washington, D.C., 1997.<br />

5 United Nations Development Programme,<br />

‘International Human Development Indicators,’<br />

descarregado de: http://hdr.undp.org/en/<br />

statistics, acedido a 21 de Novembro de 2010.<br />

6 National Institute of Statistics, ‘Statistics of<br />

<strong>Mozambique</strong>,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, descarregado de http://www.ine.gov.<br />

mz, acedido a 30 de Outubro de 2010.<br />

7 Ibid.<br />

8 Ibid.<br />

9 National Institute of Statistics, ‘Inquérito<br />

Integrado à Força de Trabalho (IFTRAB)<br />

2004/05’, Governo de Moçambique, Maputo,<br />

2006.<br />

10 National Institute of Statistics, ‘Statistics of<br />

<strong>Mozambique</strong>’, Governo de Moçambique,<br />

Maputo, descarregado de http://www.ine.gov.<br />

mz, acedido a 30 de Outubro de 2010.<br />

11 National Institute of Statistics, <strong>Mozambique</strong><br />

Third Population and Housing Census,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2007.<br />

12 Government of <strong>Mozambique</strong>. Report on the<br />

Millennium Development Goals, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2010.<br />

13 Ibid<br />

14 African Development Bank Group and the<br />

Development Centre of the Organisation for<br />

Economic Co-operation and Development,<br />

African Economic Outlook 2009, descarregado<br />

de http://africaneconomicoutlook.org, 2009.<br />

15 Standard & Poor’s, Ratings Direct,<br />

<strong>Mozambique</strong>, 4 de Fevereiro de<br />

2009, descarregado de: http://www.<br />

standardandpoors.com/ratingsdirect, 2009.<br />

16 The International Bank for Reconstruction<br />

and Development, Doing Business 2011,<br />

<strong>Mozambique</strong>: Making a difference for<br />

Entrepreneurs, Banco Mundial e International<br />

Finance Corporation, 2010<br />

17 African Development Bank Group<br />

and the Development Centre of the<br />

Organisation for Economic Co-operation<br />

and Development, African Economic<br />

Outlook 2009 , descarregado de http://<br />

africaneconomicoutlook.org, 2009.<br />

18 United Nations Children’s Fund, Cenário<br />

Fiscal de Médio Prazo 2010 – 2012. Como<br />

o CFMP responde aos desafios de redução<br />

da pobreza na infância em Moçambique?<br />

Maputo, 2010.<br />

19 USAID,PARPA II review. The tax system in<br />

<strong>Mozambique</strong> , Maputo, Setembro de 2009.<br />

20 Government of <strong>Mozambique</strong>, Report on the<br />

Millennium Development Goals, Maputo,<br />

2010.<br />

21 Kulipossa, Fidelx Pius, e Eduardo Jossias<br />

Nguenha, Relatório Final da Pesquisa<br />

sobre o Impacto da Descentralização dos<br />

Fundos Sectoriais de Estradas, Águas e de<br />

Construção Acelerada de Salas de Aulas nas<br />

Províncias, nos Distritos e nas Autarquias<br />

Locais, Governo de Moçambique, Maputo,<br />

2009.<br />

22 Governo de Moçambique, Plano de Acção<br />

para a Redução da Pobreza Absoluta (2001–<br />

2005), Governo de Moçambique, Maputo,<br />

2001.<br />

23 Governo de Moçambique, Plano de Acção para<br />

a Redução da Pobreza Absoluta (2006–2009),<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2006.<br />

44<br />

45


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 2: O CONTEXTO DE DESENVOLVIMENTO<br />

24 Ministry of Planning and Development,<br />

Relatório de Avaliação de Impacto do PARPA<br />

II, Governo de Moçambique, Maputo, 30 de<br />

Outubro de 2009.<br />

25 Ministry of Planning and Development and<br />

Ministry of Finance, Cenário Fiscal de Médio<br />

Prazo 2010–2012, Governo de Moçambique,<br />

Maputo, Setembro de 2009.<br />

26 Governo de Moçambique, Orçamento do<br />

Estado, Governo de Moçambique, Maputo,<br />

2009.<br />

27 Ministério de Planificação e Desenvolvimento<br />

e USEC Inc., Estudo sobre o Ciclo de<br />

Planeamento, Monitoria e Avaliação, Governo<br />

de Moçambique, Maputo, 2008.<br />

28 Governo de Moçambique, Constituição da<br />

República, Governo de Moçambique, Maputo,<br />

19 de Novembro de 2004.<br />

29 United Nations Committee on the Rights of<br />

the Child, Consideration of Reports Submitted<br />

by States Parties Under Article 44 of the<br />

Convention: Initial report of States Parties<br />

due in 1996 – <strong>Mozambique</strong>, CRC/C/41/Add.11,<br />

Office of the High Commissioner on Human<br />

Rights, Genebra, 2001.<br />

30 Ibid.<br />

31 Economist Intelligence Unit, Country Report<br />

<strong>Mozambique</strong>, Economist Intelligence Unit,<br />

Londres, Maio de 2009.<br />

32 United Nations Committee on the Rights of<br />

the Child, Consideration of Reports Submitted<br />

by States Parties Under Article 44 of the<br />

Convention: Concluding observations of<br />

the Committee on the Rights of the Child<br />

– <strong>Mozambique</strong>, CRC/C/MOZ/CO/2, Office of<br />

the High Commissioner on Human Rights,<br />

Genebra, Outubro de 2009.<br />

33 Virtanen, Pekka, and Dag Ehrenpreis, ‘Growth,<br />

Poverty and Inequality in <strong>Mozambique</strong>’,<br />

Country Study No. 10, International Poverty<br />

Centre, New York, September 2007.<br />

34 Hanlon, Joseph, ‘<strong>Mozambique</strong>: ‘the war<br />

ended 17 years ago, but we are still poor’’,<br />

Conflict,<br />

Security & Development, 10: 1, 2010, pp. 77-<br />

102.<br />

35 ‘High Level Forum on Aid Effectiveness,<br />

‘Paris Declaration on Aid Effectiveness,’<br />

Organisation for Economic Cooperation and<br />

Development, Paris, 2005.<br />

36 Governo de Moçambique, Plano de Acção<br />

para a Redução da Pobreza Absoluta (2006–<br />

2009), Governo de Moçambique, Maputo,<br />

2006.<br />

37 ‘Memorandum of Understanding between the<br />

Government of the Republic of <strong>Mozambique</strong><br />

and the Programme Aid Partners on the<br />

Provision of General Budget Support’,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, Março de<br />

2009.<br />

38 Programme and Partnership <strong>Mozambique</strong>,<br />

‘Financial Contributions’, descarregado<br />

de: http://www.pap.org.mz/financial_<br />

contributions.html, 2010.<br />

39 United Nations Committee on the Rights of<br />

the Child, Consideration of Reports Submitted<br />

by States Parties Under Article 44 of the<br />

Convention: Concluding observations of<br />

the Committee on the Rights of the Child<br />

– <strong>Mozambique</strong>, CRC/C/MOZ/CO/2, Office of<br />

the High Commissioner on Human Rights,<br />

Genebra, Outubro de 2009.<br />

46<br />

47


3CAPÍTULO<br />

SOBREVIVÊNCIA E<br />

DESENVOLVIMENTO<br />

INFANTIL<br />

1. Introdução<br />

3CAPÍTULO<br />

SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

Os direitos de cada criança à vida,<br />

sobrevivência e desenvolvimento estão<br />

consagrados na Convenção das Nações<br />

Unidas sobre os Direitos da Criança. Apesar<br />

dos compromissos de nações de todo<br />

o mundo, quase 10 milhões de crianças<br />

continuam a morrer todos os anos, ocorrendo<br />

a maioria dessas mortes em 60 países em<br />

desenvolvimento.1 Cerca de 40 por cento das<br />

mortes de crianças ocorrem no primeiro mês<br />

de vida, geralmente em casa e frequentemente<br />

por falta de acesso a serviços e produtos<br />

básicos de saúde. 2 Muitas crianças morrem<br />

devido a doenças e condições facilmente<br />

preveníveis ou tratáveis, como, por exemplo,<br />

infecções diarreicas, sarampo, malária<br />

e pneumonia, entre outras. Em cerca de<br />

metade das mortes de crianças menores de<br />

cinco anos, a desnutrição é uma das causas<br />

subjacentes, 3 mas o uso de água imprópria,<br />

saneamento precário e higiene inadequada<br />

também contribuem para a mortalidade<br />

e morbilidade infantil. Água, saneamento<br />

e higiene estão intimamente ligados a<br />

desnutrição infantil. 4 Pesquisas que remontam<br />

a 1968 confirmaram o efeito nocivo da diarreia<br />

sobre o estado nutricional das crianças. Oitenta<br />

e oito por cento dos casos de diarreia no<br />

mundo são atribuíveis a água, saneamento<br />

e higiene, 5 enquanto as infestações por<br />

lombrigas (ascaris), trichuria (trichuris) e<br />

filária são atribuíveis a deficientes condições<br />

de saneamento e higiene. 6 Evidências mais<br />

recentes proporcionaram directrizes para a<br />

prevenção e tratamento destas doenças (por<br />

exemplo, a promoção do aleitamento materno<br />

e a suplementação com micronutrientes). 7<br />

A sobrevivência infantil é uma importante<br />

prioridade de desenvolvimento, tanto a<br />

nível internacional como de cada país. O<br />

Objectivo de Desenvolvimento do Milénio 4<br />

tem como meta reduzir em dois terços a taxa<br />

de mortalidade de menores de cinco anos<br />

entre 1990 e 2015. Além da oportunidade<br />

que representa para o cumprimento das<br />

metas internacionais de desenvolvimento,<br />

melhorar a sobrevivência e a saúde das<br />

crianças é um investimento fundamental para<br />

o futuro desenvolvimento e prosperidade<br />

das nações. As crianças bem nutridas,<br />

bem cuidadas e saudáveis têm maior<br />

probabilidade de sobreviver e de se tornarem<br />

adultos saudáveis e produtivos, capazes de<br />

dar uma contribuição significativa para o<br />

desenvolvimento económico e social das<br />

suas famílias, comunidades e nações. O<br />

investimento na sobrevivência e boa saúde<br />

das crianças apresenta também uma boa<br />

relação custo-eficácia. As intervenções<br />

com maior impacto sobre a prevenção da<br />

mortalidade infantil são práticas adequadas<br />

de alimentação infantil e uso de materiais<br />

tratados com insecticida (com potencial<br />

para prevenir 19 e 7 por cento das mortes,<br />

respectivamente), enquanto as intervenções<br />

terapêuticas mais eficazes são o uso da<br />

terapia de reidratação oral (que, se aplicada<br />

universalmente, reduz em 15 por cento a<br />

mortalidade infantil) e o uso de antibióticos<br />

49


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 3: SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

para septicemia e pneumonia (cada uma<br />

prevenindo 6 por cento das mortes). 8<br />

Em 2010 morrerão aproximadamente<br />

207.000 crianças menores de cinco anos<br />

de malária, 42.000 de infecções do trato<br />

respiratório inferior e 64.000 de doenças<br />

diarreicas. 9 Há soluções com eficiência<br />

de custos que poderiam trazer rápidas<br />

melhorias, mas é necessário agir-se com<br />

urgência e empenho para as implementar e<br />

cumprir os Objectivos de Desenvolvimento<br />

do Milénio (ODM) relacionados com a<br />

saúde materna e infantil. 10 A mortalidade<br />

materna i sempre mereceu, de um modo<br />

geral, menos atenção dos governos<br />

nacionais e da comunidade internacional do<br />

que a mortalidade infantil, daí resultando<br />

que os sucessos sejam mais evasivos.<br />

No entanto, um conjunto cada vez maior<br />

de evidências de pesquisas sugere<br />

estarem já disponíveis os instrumentos<br />

necessários para criar impacto nesta área<br />

anteriormente negligenciada. Estima-se<br />

que 80 por cento das mortes maternas<br />

poderiam ser evitadas se as mulheres<br />

tivessem acesso a serviços essenciais de<br />

maternidade e cuidados básicos de saúde. 11<br />

É crescente o consenso de que a saúde<br />

e a sobrevivência da mãe e do recémnascido<br />

podem ser melhoradas através<br />

da criação de um ‘continuum de cuidados’<br />

para mães, recém-nascidos e crianças que<br />

integre programas e intervenções de saúde<br />

reprodutiva, maternidade segura, cuidados<br />

aos recém-nascidos, e sobrevivência,<br />

crescimento e desenvolvimento da criança,<br />

todos proporcionados num ambiente legal,<br />

institucional e comunitário e familiar que<br />

defenda e respeite os direitos das mulheres.<br />

As novas tendências da mortalidade de<br />

crianças menores de cinco anos, tal como<br />

outros indicadores sobre o bem-estar<br />

das crianças em Moçambique, mostram<br />

disparidades geográficas persistentes. A<br />

parte norte do país e as zonas rurais ainda se<br />

encontram muito aquém do sul e das áreas<br />

urbanas (apesar das melhorias significativas,<br />

tanto nas áreas urbanas como rurais).<br />

Embora se tenham registado melhorias<br />

em todos os segmentos da população, foi<br />

pequena a redução das diferenças entre<br />

os mais pobres e os que se encontram em<br />

melhor situação.<br />

Este capítulo está dividido em duas secções:<br />

saúde e nutrição e água e saneamento.<br />

2. Saúde e nutrição<br />

2.1. Sobrevivência infantil<br />

O principal indicador usado para medir o<br />

nível de bem-estar das crianças num país<br />

é a taxa de mortalidade de menores de<br />

cinco anos. A taxa de mortalidade neste<br />

grupo etário resulta de muitos factores: o<br />

estado nutricional e o conhecimento das<br />

mães em matéria de saúde; as práticas de<br />

cuidados infantis; a disponibilidade, o uso e<br />

a qualidade dos serviços de saúde maternoinfantis;<br />

o rendimento e a disponibilidade<br />

de alimentos na família; a disponibilidade<br />

de água potável e saneamento seguro; e a<br />

segurança geral do ambiente da criança. A<br />

taxa de mortalidade de menores de cinco<br />

anos pode ser considerada um indicador<br />

representativo do estado de saúde das<br />

crianças moçambicanas e da sociedade<br />

como um todo.<br />

Os resultados do Inquérito de Indicadores<br />

Múltiplos de 2008 revelam uma redução<br />

da taxa de mortalidade de menores<br />

de cinco anos de 153 mortes por cada<br />

1.000 nados vivos em 2003 para 141 em<br />

2008 (ver Figura 3.1). Isto representa um<br />

progresso significativo na melhoria da<br />

saúde e sobrevivência da criança e da mãe<br />

em Moçambique, embora esta taxa de<br />

redução tenha abrandado nos últimos anos<br />

e deva ser acelerada para que o país possa<br />

alcançar o ODM 4. 12 Apesar deste progresso,<br />

Moçambique possui o 22º mais elevado<br />

índice de mortalidade de menores de cinco<br />

anos do mundo. 13 Além disso, a melhoria nas<br />

taxas de sobrevivência infantil encontra-se<br />

distribuída de forma desigual pelo país fora,<br />

havendo crianças e mulheres em algumas<br />

províncias a beneficiarem menos do que as<br />

de outras províncias. A pandemia da SIDA<br />

está a fazer cada vez mais baixas em vidas<br />

de crianças, podendo afectar negativamente<br />

a encorajadora tendência recente.<br />

Além da taxa de mortalidade de menores<br />

de cinco anos, é também fundamental<br />

a medição das taxas de mortalidade<br />

neonatal (crianças com menos de um<br />

mês) e infantil (crianças com menos de<br />

um ano), pois estas taxas reconhecem<br />

a particular vulnerabilidade dos recémnascidos<br />

e das crianças no seu primeiro<br />

ano de vida. A mortalidade neonatal indica,<br />

especificamente, as circunstâncias de todo o<br />

período de gravidez e parto da criança, tais<br />

Figura 3.1: Taxas de mortalidade em Moçambique por 1.000 nados vivos, de 2003 e 2008 (média dos cinco anos<br />

precedentes ao inquérito)<br />

250<br />

200<br />

150<br />

100<br />

201<br />

153<br />

135 141<br />

101 95<br />

50<br />

0<br />

1997 2003 2008<br />

i<br />

A OMS define mortalidade materna como sendo a morte de uma mulher durante a gravidez ou até 42 dias após o termo<br />

desta, independentemente do local ou duração da gravidez, por qualquer causa relacionada com ou agravada pela<br />

gravidez ou sua gestão.<br />

Fonte: IDS 1997 e 2003, MICS 2008.<br />

Menores de 5 anos<br />

Menores de 1 ano<br />

50<br />

51


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 3: SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

como a saúde da mãe, as circunstâncias em<br />

que a criança nasceu e os cuidados que o<br />

recém-nascido recebeu nos primeiros dias<br />

de vida.<br />

As crianças fazem face a uma barreira<br />

de doenças, todas elas agravadas pela<br />

desnutrição. A maior parte das mortes de<br />

crianças menores de cinco anos deve-se a<br />

um pequeno número de doenças comuns,<br />

evitáveis e tratáveis, como a malária,<br />

problemas neonatais, infecções agudas do<br />

trato respiratório inferior, infecção por HIV,<br />

doenças intestinais infecciosas, meningite<br />

e desnutrição, que ocorrem isoladamente<br />

ou combinadas. O risco de uma criança<br />

morrer é muito alto no primeiro mês de vida<br />

(período neonatal); quase um quarto de todas<br />

as mortes nesta faixa etária ocorrem nesse<br />

período (38 por 1.000 nados vivos em 2008). 14<br />

A redução observada na mortalidade em<br />

Moçambique foi mais acentuada nas áreas<br />

rurais, onde a taxa média de mortalidade de<br />

237 mortes por mil nados vivos, registada<br />

de 1987 a 1997, baixou para 164 óbitos no<br />

período 1998-2008, o que equivale a uma<br />

redução de 32 por cento. Nas áreas urbanas,<br />

180<br />

160<br />

a taxa de mortalidade de menores de cinco<br />

anos diminuiu de 150 em 1987-1997 para<br />

138 no período 1998-2008, uma redução de<br />

cerca de 10 por cento. A acentuada melhoria<br />

nas zonas rurais pode estar associada a um<br />

maior acesso a estabelecimentos e serviços<br />

de saúde. As disparidades geográficas<br />

continuam agudas, estimando-se que uma<br />

criança na província de Cabo Delgado tem<br />

quase três vezes mais probabilidades de<br />

morrer antes de atingir os cinco anos de<br />

idade do que uma criança na Cidade de<br />

Maputo. Tendência semelhante pode ser<br />

observada na mortalidade infantil (ver<br />

figura 3.2), que também decaiu muito mais<br />

rapidamente nas áreas rurais.<br />

A acentuada melhoria nas taxas de<br />

mortalidade infantil verificada nas zonas<br />

rurais pode estar associada, pelo menos em<br />

parte, a um maior acesso a serviços de saúde<br />

nestas áreas. Foi grande o melhoramento<br />

registado nas zonas rurais em termos de<br />

distância para a unidade sanitária de cuidados<br />

primários mais próxima. Em 2008/09, nas<br />

zonas rurais do norte, por exemplo, 69,7 por<br />

cento das famílias já conseguia aceder a uma<br />

unidade sanitária a cerca de 45 minutos a pé,<br />

Figura 3.2: Taxas de mortalidade infantil por 1.000 nados vivos em Moçambique, de 2003 e 2008 (média dos cinco<br />

anos que antecederam a pesquisa).<br />

160<br />

em comparação com apenas 31,5 por cento<br />

em 2002/03. As zonas rurais no centro e no<br />

sul também registaram melhorias, mas não<br />

tão rapidamente.<br />

Nas áreas urbanas, o acesso a unidades<br />

sanitárias de cuidados primários parece<br />

ter piorado, uma vez que um número<br />

ligeiramente menor de agregados familiares<br />

referiu ser capaz de chegar a uma unidade<br />

hospitalar em 45 minutos a pé. Esta situação<br />

pode estar relacionada com uma série<br />

de factores, como a urbanização devido<br />

ao maior crescimento populacional na<br />

periferia das cidades, onde o acesso a<br />

estabelecimentos públicos é menor – e uma<br />

maior dependência de hospitais e outros<br />

estabelecimentos de saúde em áreas<br />

urbanas, o que reduz a procura de unidades<br />

de cuidados básicos. 15<br />

Há uma diferença significativa na<br />

mortalidade de crianças menores de cinco<br />

anos entre as províncias do centro e do<br />

norte e as do sul. As províncias da Zambézia<br />

e Cabo Delgado registaram as taxas mais<br />

elevadas (206 e 181 óbitos por 1.000<br />

nados vivos, respectivamente), enquanto<br />

a província de Tete apresenta a terceira<br />

mais elevada taxa de mortalidade nesta<br />

faixa etária, 174 por 1.000 nados vivos, e<br />

a província e a Cidade de Maputo as mais<br />

baixas (103 e 109, respectivamente). 16ii<br />

Foi realizada uma análise de regressão<br />

multivariada para melhor explorar quais os<br />

factores relacionados com a sobrevivência<br />

de crianças (0-17 anos) a nível dos<br />

agregados familiares, tomando a variável<br />

dependente no modelo como um indicador<br />

representativo de saúde infantil.<br />

Figura 3.3: Parcela de agregados familiares situados a menos de 45 minutos a pé de uma unidade de cuidados de<br />

saúde primários, 2002/03 e 2008/09 (percentagem)<br />

Norte – urbana<br />

IAF02<br />

Centro – urbana<br />

IOF08<br />

Sul – urbana<br />

IAF02<br />

IOF08<br />

IAF02<br />

IOF08<br />

75.4<br />

76.3<br />

78.7<br />

86.3<br />

88.8<br />

92.0<br />

140<br />

120<br />

100<br />

80<br />

101<br />

135<br />

95<br />

111<br />

95<br />

Norte – rural<br />

Centro – rural<br />

IAF02<br />

IOF08<br />

IAF02<br />

IOF08<br />

31.5<br />

35.0<br />

47.6<br />

69.7<br />

60<br />

40<br />

Sul – rural<br />

IAF02<br />

IOF08<br />

48.8<br />

53.6<br />

20<br />

0<br />

1997 2003 2008<br />

0% 20% 40%<br />

60% 80% 100%<br />

Agregados familiares<br />

Fonte: Ministry of Planning and Development. “Poverty and Welbeing in <strong>Mozambique</strong>: Third National Poverty Assessment”, Governo<br />

de Moçambique, Setembro de 2010.<br />

Urbana<br />

Rural<br />

Fonte: IDS 1997, IDS 2003, MICS 2008<br />

ii Média de dez anos antes da pesquisa.<br />

52<br />

53


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 3: SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

Os agregados familiares onde o chefe<br />

possuía o nível secundário ou superior<br />

apresentavam menor probabilidade de<br />

ocorrência de morte de crianças, como<br />

confirma a Figura 3.4, ao passo que a relação<br />

observada com a idade do chefe de família<br />

reflecte apenas a relação biológica entre<br />

a idade dos pais e a da criança. Todavia,<br />

o sexo do chefe de família não parece<br />

Figura 3.4: Probabilidade de sobrevivência das crianças (0-17 anos) nos últimos 12 meses, por nível de<br />

escolaridade do chefe de família, 2008<br />

Probabilidade de sobrevivência da criança<br />

. 96 . 9 7 . 9 8 . 9 9 1<br />

.95<br />

18 28 38 48 58 68<br />

primário<br />

Fonte: Cálculos do <strong>UNICEF</strong> baseados no MICS 2008<br />

Idade do chefe do agregado familiar<br />

Figura 3.5: Causas da mortalidade infantil em Moçambique, 2008<br />

10%<br />

Desnutrição<br />

4%<br />

HIV/SIDA<br />

10%<br />

Meningite<br />

2%<br />

Doenças<br />

infecciosas<br />

intestinais<br />

Infecções agudas<br />

do trato respiratório<br />

7%<br />

inferior<br />

Malária<br />

33%<br />

Outras doenças<br />

infecciosas<br />

5%<br />

Outras<br />

causas<br />

13%<br />

Neonatal<br />

16%<br />

estar estatisticamente correlacionado com<br />

a sobrevivência da criança, enquanto a<br />

pulverização contra o mosquito parece<br />

reduzir em 1% a mortalidade infantil no<br />

agregado. 17<br />

A malária, os problemas neonatais e as<br />

infecções respiratórias agudas são as três<br />

principais causas imediatas de mortalidade<br />

secundário<br />

Asfixia<br />

ao nascer<br />

5%<br />

Prematuridade<br />

8%<br />

superior<br />

Septicemia<br />

do recémnascido<br />

Fonte: National Institute of Health, London School of Hygiene and Tropical Medicine and <strong>UNICEF</strong>, <strong>Mozambique</strong> National Child<br />

Mortality Study, 2009, Maputo, 2009.<br />

3%<br />

nas crianças em Moçambique. 18iii A<br />

SIDA está também a emergir como um<br />

importante causador de morte, sendo<br />

responsável por 10 por cento das mortes de<br />

crianças menores de cinco anos, enquanto<br />

a desnutrição e as doenças diarreicas<br />

aparecem como duas das principais causas<br />

subjacentes. Muitas destas condições podem<br />

ser prevenidas com vacinação ou através de<br />

outras medidas profiláticas simples.<br />

O relatório nacional de progresso nos<br />

Objectivos de Desenvolvimento do Milénio<br />

de 2010 concluiu que, se as actuais<br />

tendências de redução da mortalidade<br />

infantil se continuarem a verificar, o país<br />

tem potencial para alcançar os ODM<br />

relativos à mortalidade infantil até 2015.<br />

No entanto, para atingir a meta de redução<br />

da mortalidade de crianças menores de<br />

cinco anos, que corresponde a uma taxa de<br />

mortalidade de 108 por 1.000 nados vivos<br />

em 2015, é necessário que haja uma redução<br />

anual de 4,3 por cento do número de mortes<br />

na taxa de mortalidade de menores de cinco,<br />

e de 3,7 por cento na taxa de mortalidade<br />

infantil. Isto representaria uma aceleração<br />

das taxas de redução verificadas nos últimos<br />

cinco anos, situadas em 3 por cento e<br />

ligeiramente abaixo dos 2 por cento ao ano,<br />

respectivamente.<br />

2.2. Nutrição infantil<br />

A desnutrição é a principal causa subjacente<br />

contribuinte para o elevado nível de<br />

mortalidade infantil em Moçambique. A<br />

desnutrição é também, ela própria, um factor<br />

importante, uma vez que a desnutrição (em<br />

especial a desnutrição crónica ou baixa altura<br />

para a idade) afecta o desenvolvimento<br />

cognitivo e está intimamente ligada ao<br />

desempenho educacional futuro. As<br />

principais manifestações da desnutrição são<br />

baixo peso para a idade, baixo peso para a<br />

altura, baixa altura para a idade e deficiências<br />

de micronutrientes.<br />

Estado nutricional das crianças<br />

De acordo com dados do MICS 2008, e<br />

usando o sistema de classificação da<br />

Organização Mundial de Saúde (OMS), as<br />

crianças moçambicanas apresentam uma<br />

prevalência muito elevada (44 por cento) de<br />

baixa altura para a idade, uma prevalência<br />

média de baixo peso (18 por cento) e uma<br />

prevalência baixa (4 por cento) de baixo<br />

peso para a idade, (ver Figura 3.6). 19 De<br />

1996/97 a 2008 observou-se uma tendência<br />

de ligeiro declínio em todos os indicadores<br />

de desnutrição. Moçambique possui uma<br />

das mais elevadas taxas de baixa altura para<br />

a idade em todo o mundo, com mais de 1,6<br />

milhões de crianças nessa situação.<br />

O Inquérito sobre o Orçamento Familiar (IOF)<br />

de 20008/09 apresenta níveis de desnutrição<br />

ligeiramente diferentes em relação ao<br />

MICS 2008 por exemplo, de acordo com<br />

o IOF de 2008/09, o índice de desnutrição<br />

crónica é de 46 por cento, contra os 44 por<br />

cento indicados no MICS de 2008. A análise<br />

realizada pelo Ministério de Planificação<br />

e Desenvolvimento restringiu a análise<br />

do MICS 2008 e do IOF 2008 a agregados<br />

familiares pesquisados durante o mesmo<br />

período desse ano (o MICS foi realizado entre<br />

Setembro e Novembro de 2008, enquanto<br />

que o IOF decorreu entre Setembro de 2008<br />

e Agosto de 2009). Esta análise mostrou não<br />

haver diferenças estatísticas entre as médias<br />

nacionais nos três indicadores. 20<br />

Desnutrição aguda (baixo peso para a<br />

altura)<br />

Não foi observada nenhuma diferença<br />

significativa nas taxas de desnutrição aguda<br />

em crianças menores de cinco anos entre<br />

iii Estas conclusões derivam do estudo sobre mortalidade infantil levado a cabo pelo Ministério da Saúde e <strong>UNICEF</strong>,<br />

em 2008, cujo objectivo era medir as taxas de mortalidade neonatal, de bebés e crianças menores de cinco anos em<br />

Moçambique em relação a todas as causas relevantes para o programa, usando dados recolhidos a nível da comunidade.<br />

Foram usadas autópsias verbais, i.e.,entrevistas com membros da família ou prestadores de cuidados, sobre as<br />

circunstâncias da morte, para determinar as causas da mortalidade infantil.<br />

54<br />

55


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 3: SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

Figura 3.6: Taxas de desnutrição crónica por país, 2009<br />

Tete Manica Sofala Inhambane<br />

Classificação<br />

País<br />

2003 iv e 2008, calculadas em 5 e 4 por cento,<br />

respectivamente. 21 O baixo peso para a<br />

altura, ou desnutrição aguda, é um tipo de<br />

desnutrição que resulta de uma recente<br />

perda excessiva de peso devido a doença<br />

grave ou falta de alimentos. Note-se que<br />

a instabilidade temporal e sazonal deste<br />

indicador coloca consideráveis desafios a<br />

comparações entre anos.<br />

Apesar de a prevalência de baixo peso<br />

para altura a nível nacional ser baixa (um<br />

valor inferior a 5 por cento é considerado<br />

Prevalência de<br />

baixa altura para a<br />

idade (%)<br />

Número de crianças com baixa<br />

altura para a idade (milhares,<br />

2008)<br />

1 Índia 48 60,788<br />

2 China 15 12,685<br />

3 NigÉria 41 10,158<br />

4 Paquistão 42 9,868<br />

5 Indonésia 37 7,688<br />

6 Bangladesh 43 7,219<br />

7 Etiópia 51 6,768<br />

8 República Unida da Tanzânia 46 5,382<br />

9 Filipinas 34 3,617<br />

10 United Republic of Tanzania 44 3,359<br />

11 Afeganistão 59 2,910<br />

12 Egipto 29 2,730<br />

13 Vietname 36 2,619<br />

14 Uganda 38 2,355<br />

15 Sudão 40 2,305<br />

16 Quénia 35 2,269<br />

17 Iémen 58 2,154<br />

18 Myanmar 41 1,880<br />

19 Nepal 49 1,743<br />

20 Moçambique 44 1,670<br />

21 Madagáscar 53 1,622<br />

22 México 16 1,594<br />

23 Níger 47 1,473<br />

24 África do Sul 51 1,425<br />

Fonte: <strong>UNICEF</strong>, Tracking Progress in Child and Maternal Nutrition: A survival and development priority, <strong>UNICEF</strong>, Novembro de 2009.<br />

baixo segundo a classificação da OMS), as<br />

diferenças provinciais são significativas,<br />

variando entre 9 por cento em Nampula<br />

e 1 por cento em Gaza (ver Figura 3.8). A<br />

prevalência de baixo peso para a altura está<br />

associada à riqueza, daí que as crianças dos<br />

agregados familiares mais pobres tenham<br />

três vezes mais probabilidade de sofrer de<br />

desnutrição aguda (6 por cento) do que<br />

as das famílias em melhores condições<br />

(2 por cento). As taxas de baixo peso<br />

para a altura são mais elevadas aos seis<br />

meses de idade (8 por cento), declinando,<br />

iv Os dados antropométricos do IDS de 2003 foram calculados com base na população-padrão da OMS.<br />

Figura 3.7: Taxas de desnutrição (moderada) em crianças menores de cinco anos, 2003 e 2008<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

48%<br />

Fonte: IDS 1997, MICS 2008.<br />

10%<br />

9%<br />

8%<br />

7%<br />

6%<br />

5%<br />

4%<br />

3%<br />

2%<br />

1%<br />

0%<br />

5%<br />

Niassa<br />

44%<br />

20%<br />

Baixa altura para a idade Baixo peso Baixo peso para a altura<br />

4%<br />

Cabo<br />

Delgado<br />

9%<br />

5%<br />

Nampula<br />

Zambézia<br />

3%<br />

18%<br />

2003 2008<br />

Figura 3.8: Percentagem de baixo peso para a altura em crianças menores de cinco anos por província, 2008<br />

Fonte: MICS 2008.<br />

depois, progressivamente. A prevalência<br />

de baixo peso para a altura é similar nas<br />

áreas rurais e urbanas (5 e 3 por cento,<br />

respectivamente). 22<br />

Baixo peso<br />

A prevalência de baixo peso em crianças<br />

menores de cinco anos reduziu de 22 por<br />

cento em 200323 para 18 por cento em<br />

2008. 24 O baixo peso, que é definido como<br />

4%<br />

3%<br />

4%<br />

5%<br />

1%<br />

Gaza<br />

4%<br />

2% 2%<br />

Maputo Maputo<br />

Província Cidade<br />

peso insuficiente para a idade, é uma<br />

consequência de deficiências em matéria<br />

de nutrição, saúde e outros cuidados,<br />

quer actuais, quer anteriores, sofridas por<br />

uma criança. As maiores melhorias neste<br />

indicador ocorreram em áreas rurais, onde<br />

a prevalência diminuiu de 25 por cento em<br />

2003 para 19 por cento em 2008. Durante<br />

o mesmo período, a prevalência nas áreas<br />

urbanas permaneceu estática, situando-se<br />

nos 13 por cento (ver Figura 3.9). Melhorias<br />

56<br />

57


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 3: SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

mais notáveis foram observadas entre os<br />

agregados familiares mais pobres, onde<br />

a prevalência de crianças com baixo peso<br />

decaiu de 29 por cento em 2003 para 23 por<br />

cento em 2008. 25<br />

A incidência de baixo peso é maior entre<br />

rapazes do que entre raparigas (20 contra<br />

15 por cento), ao passo que os níveis<br />

deste indicador por faixa etária são mais<br />

elevados entre os 6-11 meses (22 por cento),<br />

diminuindo ligeiramente à medida que as<br />

crianças vão crescendo, mas mantendo-se<br />

ainda em aproximadamente 15 por cento<br />

à medida que se vão aproximando do<br />

seu quinto aniversário. As disparidades<br />

provinciais são particularmente graves,<br />

com mais de uma em cada quatro crianças<br />

a apresentar baixo peso na província de<br />

Nampula, em comparação com uma em<br />

cada quinze na Cidade de Maputo (ver Figura<br />

3.9). 26<br />

O relatório nacional de progresso nos<br />

Objectivos de Desenvolvimento do Milénio<br />

de 2010 considera haver potencial para se<br />

cumprir a meta dos ODM de reduzir para<br />

metade a prevalência de baixo peso. 27<br />

Embora esta seja uma conquista importante,<br />

não pode haver condescendência uma vez<br />

que os níveis de baixa altura para a idade<br />

são superiores ao dobro dos níveis de baixo<br />

peso. Mesmo se Moçambique cumprir o<br />

Objectivo do Milénio relativo ao baixo peso,<br />

são necessárias medidas urgentes para<br />

enfrentar os elevados níveis de baixa altura<br />

para a idade.<br />

Desnutrição crónica (baixa altura para<br />

a idade)<br />

A percentagem de crianças de cinco anos<br />

com baixa altura para a idade, decresceu<br />

de 48 por cento em 2003 para 44 por<br />

cento em 2008. 28 A OMS ainda caracteriza<br />

a prevalência de desnutrição crónica em<br />

Moçambique como “muito elevada”. A<br />

desnutrição crónica, definida como baixa<br />

altura para a idade, apresenta a desnutrição<br />

resultante de deficiências cumulativas<br />

no estado nutricional e de saúde da mãe<br />

antes e durante a gravidez, e da criança<br />

nos dois primeiros anos de vida. A baixa<br />

altura para a idade é um bom indicador do<br />

bem-estar de uma população, uma vez que<br />

reflecte o contexto estrutural que envolve a<br />

desnutrição. As crianças com baixa altura<br />

para a idade têm o desenvolvimento físico<br />

e mental comprometido, o que significa<br />

que a oportunidade de crescimento está<br />

irreversivelmente perdida, não podendo ser<br />

recuperada, mesmo que as condições de<br />

nutrição melhorem e a criança ganhe peso.<br />

Figura 3.9: Percentagem de baixo peso em crianças menores de cinco anos, por província, 2008<br />

30%<br />

25%<br />

20%<br />

15%<br />

10%<br />

5%<br />

0%<br />

18%<br />

Niassa<br />

Fonte: MICS 2008.<br />

22%<br />

Cabo<br />

Delgado<br />

26%<br />

Tete Manica Sofala Inhambane<br />

Nampula<br />

21%<br />

Zam -<br />

bézia<br />

18% 19%<br />

16%<br />

12%<br />

Tete Manica Sofala Inhambane<br />

7% 7% 7%<br />

Gaza<br />

Maputo Maputo<br />

Província Cidade<br />

A percentagem de crianças com severa baixa<br />

altura para a idade reduziu de 23 por cento<br />

em 2003 para 18 por cento em 2008. Esta<br />

redução parece ter ocorrido principalmente<br />

nas zonas rurais, onde a taxa de prevalência<br />

passou de 52 para 47 por cento, 29 enquanto<br />

nas áreas urbanas, onde a prevalência de<br />

desnutrição crónica é mais baixa, a redução<br />

foi menos acentuada, com um decréscimo<br />

de apenas 0,4 pontos percentuais anuais<br />

alcançado entre 2003 (37 por cento) e 2008<br />

(35 por cento). 30<br />

Em Moçambique, a baixa altura para a<br />

idade é observada em crianças em muito<br />

tenra idade, mesmo antes dos seis meses,<br />

e aumenta até aos 24-36 meses. A elevada<br />

prevalência (ligeiramente acima dos 20<br />

por cento) de desnutrição em crianças com<br />

menos de seis meses de idade é motivo de<br />

preocupação, dado não ser espectável uma<br />

taxa de tal ordem nessa faixa etária. As taxas<br />

de baixa altura para a idade aumentam com<br />

a idade do nascimento até aos 24-36 meses,<br />

atingindo um pico de cerca de 54 por cento,<br />

após o que diminuem ligeiramente. 31<br />

Figura 3.10: Percentagem de desnutrição crónica (baixa altura para a idade) em crianças menores de cinco<br />

anos, por província, 2008<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

45%<br />

Niassa<br />

Fonte: MICS 2008.<br />

56%<br />

Cabo<br />

Delgado<br />

51%<br />

46%<br />

Nampula<br />

Zambézia<br />

48% 48%<br />

As disparidades provinciais em<br />

relação à baixa altura para a idade são<br />

particularmente impressionantes (ver Figura<br />

3.10), sendo a sua prevalência em crianças<br />

menores de cinco anos maior nas províncias<br />

de Cabo Delgado (56 por cento) e Nampula<br />

(51 por cento), e também superior a 40 por<br />

cento nas províncias da Zambézia, Niassa,<br />

Tete, Sofala e Manica. 32<br />

O sexo masculino, a idade (em meses), o<br />

baixo nível de escolaridade da mãe, o uso<br />

de água imprópria, as deficientes condições<br />

de saneamento e viver nas províncias do<br />

centro e norte têm um efeito negativo sobre<br />

a altura das crianças relativamente à idade.<br />

Estes resultados foram obtidos analisando<br />

alguns dos factores relacionados com<br />

desnutrição crónica por meio de regressão<br />

multivariada (ver Tabela 3.1), com base em<br />

dados do MICS 2008. O efeito da província<br />

de residência mantém-se, mesmo quando<br />

se consideram outras variáveis, tais como<br />

a pobreza e o acesso a água potável e<br />

saneamento melhorado.<br />

40%<br />

34%<br />

34%<br />

Gaza<br />

28%<br />

Maputo<br />

Província<br />

25%<br />

Maputo<br />

Cidade<br />

v A variável riqueza baseia-se num índice de riqueza que é construído com base em informações sobre a posse, por<br />

parte das famílias de bens duráveis, como, por exemplo, televisão, bicicleta ou carro, bem como nas características da<br />

habitação, incluindo electricidade, fonte de água potável, tipo de instalações sanitárias e material usado para cobertura.<br />

É um indicador do nível de riqueza que se mostrou estar correlacionado com medidas de despesas e rendimentos. Para<br />

uma discussão integral da metodologia e suas limitações, ver Gwatkins et al, Socio-economic differences in Health,<br />

Nutrition and Population in <strong>Mozambique</strong>, Banco Mundial, 2000.<br />

58<br />

59


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 3: SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

Tabela 3.1: Regressão linear multivariável de todas as variáveis explicativas relevantes sobre o Z-score<br />

do indicador altura/idade (height-for-health Z-zcore) em crianças menores de cinco anos incluídas no<br />

MICS, excluindo a classificação da riqueza, 2008<br />

Variáveis explicativas do indicador altura/<br />

idade em crianças de 0–59 meses<br />

Coeficiente de<br />

regressão linear (b)<br />

95% de intervalo<br />

confiança de (b)<br />

Valor 1 de p<br />

(P-value1)<br />

a) Sexo masculino -0,188 -0,253 a -0,122


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 3: SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

Alimentação de bebés e crianças<br />

pequenas<br />

As práticas apropriadas de alimentação<br />

infantil são cruciais para a sobrevivência e<br />

desenvolvimento da criança, recomendandose<br />

o aleitamento materno exclusivo para os<br />

primeiros seis meses de vida. Depois dessa<br />

idade, as crianças devem ingerir alimentos<br />

sólidos, semi-sólidos e moles, com<br />

frequência crescente, ao mesmo tempo que<br />

continua a ser amamentada. O aleitamento<br />

pode ser mantido até aos dois ou mais<br />

anos de idade. 35 A OMS recomenda que a<br />

amamentação seja iniciada imediatamente<br />

após o parto, altura em que é forte o reflexo<br />

de sucção do recém-nascido. O Ministério da<br />

Saúde aprovou, no início de 2009, um plano<br />

quinquenal abrangente de comunicação e<br />

mobilização social, para promover, proteger<br />

e apoiar o aleitamento materno.<br />

Em 2008, 63 por cento dos recém-nascidos<br />

começaram a ser postos ao peito uma<br />

hora após o parto, comparativamente aos<br />

65 por cento registados em 2003, e 88 por<br />

cento foram-no até um dia após o parto. 36<br />

As taxas de aleitamento materno exclusivo<br />

em crianças menores de seis meses, em<br />

Moçambique, aumentaram significativamente<br />

entre 2003 e 2008 (de 30 para 37 por cento),<br />

embora em termos absolutos o nível continue<br />

baixo (ver Figura 3.12). O aleitamento<br />

materno exclusivo diminui rapidamente com<br />

a idade, de 57 por cento para a faixa etária de<br />

zero a um mês, a 17 por cento entre os quatro<br />

e os cinco meses (ver Figura 3.13). 37<br />

Os principais alimentos dados aos<br />

recém-nascidos que interferem com<br />

a amamentação exclusiva são água e<br />

alimentos sólidos, semi-sólidos ou moles<br />

38 (ver Figura 3.14). Um estudo qualitativo<br />

realizado na Cidade de Maputo e nas<br />

províncias de Gaza, Tete, Zambézia e<br />

Nampula 39 mostrou que as mães acataram<br />

a recomendação de alimentarem os seus<br />

filhos exclusivamente com leite do peito,<br />

mas não se acham capazes de aplicar na<br />

prática os seus conhecimentos, já que outros<br />

membros da família insistem que devem dar<br />

água, remédios tradicionais e/ou alimentos<br />

sólidos, semi-sólidos ou moles ao bebé.<br />

Isto indica que os esforços de comunicação<br />

devem concentrar-se na eliminação desses<br />

alimentos da dieta e incluir familiares e as<br />

comunidades nos esforços para informar<br />

que o leite materno contém água e<br />

nutrientes suficientes para as crianças com<br />

menos de seis meses de idade, e que as<br />

mães precisam de apoio prático e emocional<br />

para amamentarem.<br />

A duração média do aleitamento materno<br />

em 2008 reduziu para 18 meses, em<br />

comparação com os 22 meses registados em<br />

2003. 40 Este facto é motivo de preocupação,<br />

pois o leite materno continua a fornecer<br />

Figura 3.14: Padrões alimentares de crianças menores de um ano de idade, 2008<br />

Fonte: MICS 2008.<br />

Aleitamento e alimentos<br />

sólidos, semi-líquidos<br />

ou moles<br />

56%<br />

2%<br />

Aleitamento materno<br />

e outro leite/preparado<br />

para bebés<br />

nutrientes essenciais e protege a criança<br />

contra doenças da infância entre os 12 e<br />

23 meses de idade. Uma amamentação<br />

continuada é de extrema importância<br />

quando as crianças estão doentes e perdem<br />

Aleitamento<br />

materno<br />

exclusivo<br />

20%<br />

Aleitamento<br />

materno exclusivo<br />

e água simples<br />

16%<br />

Desmame<br />

2%<br />

4%<br />

Aleitamento materno<br />

e líquidos que não leite<br />

o apetite para outros alimentos, mas<br />

continuam a ser amamentadas. 41<br />

Depois dos seis meses, devem ser<br />

introduzidos alimentos sólidos, semi-sólidos<br />

Figura 3.15: Crianças com 6-11 meses alimentadas com leite materno e alimentos complementares pelo menos<br />

três vezes por dia, por província, 2008<br />

Figura 3.12: Percentagem de crianças com<br />

amamentação exclusiva: dados de diferentes grupos<br />

etários, 1997, 2003 e 2008<br />

100%<br />

80%<br />

60%<br />

40%<br />

20%<br />

37.6<br />

38.3<br />

48.4<br />

30 36.8<br />

Figure 3.13: Amamentação exclusiva em crianças<br />

com menos de 12 meses, 1997, 2003 e 2008<br />

100%<br />

80%<br />

60%<br />

40%<br />

20%<br />

57.3<br />

53.1<br />

49.8<br />

80%<br />

70%<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

71%<br />

48%<br />

53%<br />

46%<br />

53%<br />

45%<br />

49%<br />

32%<br />

51% 51%<br />

63%<br />

51%<br />

0%<br />

1997 (IDS) 2003 (IDS) 2008 (MICS)<br />

0-3 meses<br />

0-6 meses<br />

0%<br />

0-1 2-3 4-5 6-7 8-9 10-11<br />

1997 (IDS) 2003 (IDS) 2008 (MICS)<br />

0%<br />

Niassa<br />

Cabo<br />

Delgado<br />

Nampula<br />

Zambézia<br />

Tete Manica Sofala Inhambane<br />

Gaza<br />

Maputo Maputo<br />

Província Cidade<br />

Total<br />

Fonte: IDS 1997, IDS 2003 e MICS 2008.<br />

Fonte: MICS 2008.<br />

62<br />

63


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 3: SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

ou moles na dieta das crianças, com uma<br />

frequência adequada: duas a três vezes por<br />

dia para bebés entre os seis e oito meses, e<br />

três vezes por dia para crianças dos nove aos<br />

onze meses, para além do leite materno. Em<br />

média, apenas metade das crianças de seis<br />

a onze meses receberam o número mínimo<br />

recomendado de refeições, conforme se<br />

pode ver na Figura 3.15. É considerável a<br />

variação entre as províncias, com setenta<br />

e um por cento das crianças nesta faixa<br />

etária a serem devidamente alimentadas no<br />

Niassa, em comparação com 32 por cento<br />

em Inhambane. 42<br />

Alimentação infantil e transmissão do<br />

HIV<br />

Uma das formas de transmissão de HIV da<br />

mãe para a criança (transmissão vertical)<br />

(para além de durante a gravidez e o parto)<br />

é através do aleitamento materno. Foi<br />

determinado que o risco total da transmissão<br />

vertical é de cerca de 30-45 por cento.<br />

Numerosos estudos têm documentado que<br />

o risco de as crianças não amamentadas<br />

morrerem por causas que podem ser evitadas<br />

pelo aleitamento materno, nomeadamente<br />

desnutrição, diarreia e infecções, é<br />

semelhante ao risco de as amamentadas<br />

serem infectadas com HIV. A chamada taxa de<br />

sobrevivência livre de HIV aos 18 meses ou<br />

dois anos de idade é semelhante para ambos<br />

os grupos. As orientações anteriores para as<br />

mães que vivem com HIV recomendavam o<br />

aleitamento materno exclusivo, a menos que<br />

a alimentação substituta fosse “aceitável,<br />

viável, acessível, sustentável e segura”. 43<br />

Em finais de 2009, a OMS actualizou as<br />

suas directrizes, recomendando o uso de<br />

medicamentos anti-retrovirais (para a mãe<br />

e para a criança) durante a amamentação. 44<br />

Desta forma, a criança tira proveito do leite<br />

materno, bem como da protecção contra a<br />

transmissão do HIV. O Ministério da Saúde<br />

de Moçambique, no âmbito do Programa de<br />

Prevenção da Transmissão Vertical, adoptou<br />

as recomendações mais recentes da OMS<br />

em meados de 2010. Isto significa que as<br />

mães seropositivas serão aconselhadas a<br />

seguir a amamentação exclusiva dos seus<br />

filhos durante os primeiros seis meses<br />

de vida, e a continuar a amamentar, com<br />

alimentos complementares adequados,<br />

até aos 12 meses ou acima dessa idade.<br />

Depois disso, a amamentação pode ser<br />

interrompida. Durante todo o período de<br />

amamentação e até uma semana depois, as<br />

crianças devem tomar uma dose diária do<br />

medicamento anti-retroviral Nevirapina. As<br />

novas orientações deverão ser introduzidas<br />

de forma faseada a partir de 2011.<br />

Deficiências em micro-nutrientes:<br />

Deficiência de iodo<br />

A deficiência de iodo é a maior causa<br />

individual evitável de dano cerebral<br />

e retardamento mental no mundo. 45<br />

A deficiência de iodo reduz também a<br />

sobrevivência infantil, o crescimento e o<br />

desenvolvimento. As mulheres grávidas com<br />

deficiência de iodo correm risco de aborto,<br />

nado-morto e outras complicações. As<br />

consequências visíveis e mais graves desta<br />

deficiência são bócio (aumento da glândula<br />

tiróide) e cretinismo. Nas suas formas mais<br />

moderadas, pode levar a uma redução do<br />

desenvolvimento mental.<br />

A estratégia com melhor relação custoeficácia<br />

para prevenir a deficiência de iodo<br />

é a iodização universal do sal, que consiste<br />

na fortificação, com iodo, do sal destinado<br />

a consumo humano e animal. Além disso,<br />

podem distribuir-se cápsulas de óleo iodado<br />

em áreas com uma elevada prevalência<br />

desta deficiência.<br />

Em Janeiro de 2000, o Ministério da Saúde<br />

e o Ministério da Indústria e Comércio<br />

emitiram o Diploma Ministerial conjunto<br />

n.º 7/2000, que estabelece que todo o sal<br />

produzido localmente ou importado para<br />

consumo humano e animal seja iodado.<br />

Contudo, até à data, a execução desta<br />

directiva tem sido relativamente fraca.<br />

O Ministério da Indústria e Comércio<br />

investiu na formação de produtores de sal<br />

e forneceu equipamento para iodização<br />

do sal e monitoria, enquanto o Ministério<br />

da Saúde tem vindo a apoiar actividades<br />

promocionais. A ONG PSI está também<br />

a apoiar o Governo na criação de maior<br />

procura de sal iodado.<br />

O uso do sal iodado aumentou ligeiramente,<br />

de 54 por cento em 2003 para 58 por cento<br />

em 2008. 46 O maior aumento proveio de um<br />

maior uso de sal iodado nas áreas urbanas;<br />

nas zonas rurais verificou-se uma ligeira<br />

diminuição. As diferenças no uso de sal<br />

iodado e nos níveis de sal adequadamente<br />

iodado entre as províncias são acentuadas.<br />

Em 2008, apenas 25 por cento das famílias<br />

utilizava sal adequadamente iodado (mais de<br />

15 partes por milhão), devendo-se esta baixa<br />

percentagem provavelmente a deficiências<br />

na iodização e práticas de embalagem na<br />

fábrica e/ou a inadequadas práticas de<br />

armazenamento.<br />

Curiosamente, Cabo Delgado, Nampula<br />

e Zambézia, províncias produtoras de sal<br />

iodado, têm os menores níveis de iodização<br />

do sal. Entre 2003 e 2008, os níveis de<br />

iodização diminuíram em todas as três<br />

províncias, o que pode dever-se ao facto<br />

Figura 3.16: Uso de sal iodado por província, 2008<br />

100%<br />

90%<br />

80%<br />

70%<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

29%<br />

45%<br />

Niassa<br />

Fonte: MICS 2008<br />

22%<br />

8%<br />

Cabo<br />

Delgado<br />

25%<br />

32%<br />

9%<br />

5%<br />

Nampula<br />

Zambézia<br />

49%<br />

18%<br />

52%<br />

29%<br />

de o sal não processado, não iodado, estar<br />

mais facilmente disponível nas áreas onde é<br />

extraído e mais facilmente poder ser levado<br />

para o mercado local.<br />

Os agregados familiares dos quintis em<br />

melhor situação usam com mais frequência<br />

sal iodado e também mais facilmente sal<br />

adequadamente iodado, o que se deve<br />

provavelmente ao facto de esses agregados<br />

terem mais possibilidades de adquirir sal<br />

iodado que, muitas vezes, custa o dobro<br />

ou mais que o sal não iodado, e ao facto<br />

de poderem estar melhor equipados para<br />

armazenar o sal de forma adequada.<br />

Em 2007, o Ministério da Saúde iniciou a<br />

distribuição de cápsulas de óleo iodado<br />

nas províncias com as mais elevadas taxas<br />

de deficiência de iodo, nomeadamente<br />

Niassa, Nampula, Zambézia e Tete, tendo<br />

como grupo-alvo da intervenção mulheres<br />

grávidas e crianças de 7-24 meses. Em<br />

2008, foram distribuídas cápsulas de iodo<br />

durante as Semanas de Saúde da Criança,<br />

alcançando 89 por cento de cobertura, mas<br />

em 2009 a intervenção foi descontinuada. 47<br />

46%<br />

35%<br />

52%<br />

36%<br />

Tete Manica Sofala Inhambane<br />

0 < 15 PPM 15 + PPM<br />

21%<br />

71%<br />

Gaza<br />

29%<br />

48%<br />

26%<br />

58%<br />

Maputo Maputo<br />

Província Cidade<br />

33%<br />

25%<br />

Total<br />

64<br />

65


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 3: SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

Figura 3.17: Uso de sal iodado por quintil de riqueza de 2008<br />

100<br />

80<br />

60<br />

40<br />

20<br />

0<br />

Fonte: MICS 2008.<br />

Figura 3.18: Cobertura da suplementação com vitamina A, 2003 e 2008<br />

90%<br />

80%<br />

70%<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

48%<br />

46%<br />

38%<br />

26%<br />

19%<br />

29%<br />

35%<br />

33%<br />

32%<br />

36%<br />

49%<br />

34%<br />

15%<br />

20%<br />

12%<br />

Mais baixo Segundo Médio Quarto Mais elevado<br />

15+PPP 0


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 3: SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

CAIXA 3.1: Semanas de Saúde da Criança<br />

Figura 3.19: Continuum de cuidados de saúde materna e neonatal<br />

Articulação de cuidados durante o ciclo de vida (A) e nos locais das pessoas com crianças<br />

a seu cargo (B). Adaptado de Partnership for Maternal, Newborn and Child Health, com<br />

autorização.<br />

Adolescência<br />

e antes de gravidez<br />

A<br />

B<br />

Idade reprodutiva<br />

Gravidez<br />

Morte<br />

Envelhecimento<br />

Maioridade<br />

(Idade adulta)<br />

Nascimento<br />

28 dias<br />

20 anos<br />

10 anos<br />

Adolescência<br />

Período neonatal<br />

Infância<br />

5 anos<br />

1 ano<br />

Gravidez Nascimento Pós-natal (mãe) Post-natal health<br />

Hospitais e unidades sanitárias<br />

Serviços ambulatórios de extensão<br />

e junto às comunidades<br />

Cuidados familiares e comunitários<br />

Appropriate<br />

Fonte: Kevbes, Kate J., et al., ‘Continuum of Care for maternal, Newborn and Child Health: From slogan to service deliver’,<br />

The Lancet, vol. 370, nº 9595, 13 de Outubro de 2007, p. 1360.<br />

Idade escolar<br />

Infância<br />

Idade pré-escolar<br />

Pós-natal (recém-nascido)<br />

follow-up<br />

referral and<br />

Infancy<br />

Childhood<br />

A oferta de um pacote integrado de intervenções preventivas e curativas relativamente baratas, quando<br />

realizada em escala, pode reduzir até 63 por cento a mortalidade de crianças menores de cinco anos.<br />

Infelizmente, em muitos países, as crianças que mais necessitam destas intervenções não têm acesso<br />

fácil a serviços de qualidade nas unidades de saúde. As Semanas de Saúde da Criança estão concebidas<br />

como medida principalmente temporária (para um determinado número de anos) para melhorar o<br />

acesso, oferecendo um pacote de intervenções de saúde e nutrição com uma boa relação custo-eficácia a<br />

crianças menores de cinco anos, utilizando uma abordagem de campanha que atinge até mesmo as áreas<br />

mais remotas do país. O uso deste tipo de abordagem não só expande o alcance dos serviços de saúde,<br />

como também pode reforçar a prestação de serviços de rotina e junto das comunidades, uma vez que os<br />

profissionais de saúde são frequentemente submetidos a formação adicional e as famílias recebem mais<br />

informações sobre os serviços. A disponibilidade de um pacote integrado de serviços de saúde eficazes e de<br />

qualidade, prestados ao mesmo tempo e num único lugar, evita que os que têm crianças a seu cargo tenham<br />

de fazer com elas várias (e dispendiosas) deslocações para as unidades sanitárias, além de promover a<br />

procura de outros serviços de saúde de rotina, especialmente quando se faz uma mobilização social efectiva.<br />

As Semanas de Saúde da Criança são normalmente constituídas por pelo menos duas intervenções<br />

complementares de saúde ou nutrição, podendo incluir um pouco mais. Os serviços e intervenções<br />

prestados em Moçambique são:<br />

Principais Intervenções:<br />

• l Suplementação com vitamina A para crianças dos 6 meses aos 5 anos;<br />

• l Vacinação de rotina ou para pôr as vacinas em dia contra sarampo, poliomielite, tétano, difteria e<br />

tosse convulsa, e tuberculose;<br />

• l Desparasitação de crianças de 1-4 anos.<br />

As outras intervenções que foram adicionadas em Moçambique foram as seguintes:<br />

Triagem de desnutrição (com o uso da Circunferência Braquial -- circunferência no ponto médio da<br />

parte superior do braço) e encaminhamento para gestão de desnutrição aguda;<br />

• l Promoção e distribuição de redes mosquiteiras tratadas com insecticida de longa duração;<br />

• l Promoção de práticas familiares e cuidados infantis saudáveis, como por exemplo aleitamento<br />

materno exclusivo;<br />

• l Vacinação contra o tétano de mulheres em idade fértil;<br />

• l Suplementação com Vitamina A para mães a amamentar durante as primeiras oito semanas após o<br />

parto.<br />

A chave para o sucesso das Semanas de Saúde da Criança é uma estratégia de mobilização social bem<br />

integrada, que vise a participação universal de famílias elegíveis cobertas pela campanha. Projectada e<br />

implementada a nível nacional, provincial e distrital, sob coordenação do Ministério da Saúde, a estratégia<br />

tem duas vertentes. Em primeiro lugar – e tendo início bem antes da Semana de Saúde da Criança a<br />

estratégia serve para consciencializar o público sobre a semana. A segunda componente da estratégia<br />

funciona em conjunto com a prestação do serviço, para garantir a promoção de importantes mensagens<br />

sobre os comportamentos de saúde e práticas de higiene complementares. A mobilização social para as<br />

Semanas de Saúde da Criança explora os media e os meios de comunicação locais para divulgar anúncios<br />

de serviços públicos e especialmente através das rádios comunitárias gerar discussão e participação da<br />

comunidade através de diálogo e debates comunitários. Os activistas locais penetram nos bastidores<br />

dos meios de comunicação para divulgar informação, utilizando materiais de comunicação produzidos<br />

especificamente para as campanhas e servindo-se das línguas locais para chegar às comunidades.<br />

Durante toda a semana, faz-se um uso estratégico de figuras influentes locais e nacionais líderes de<br />

opinião e decisores que têm a confiança e o respeito dos seus constituintes para reforçar a divulgação<br />

de mensagens e maximizar a participação. Através de reuniões comunitárias e comunicação<br />

interpessoal a nível das famílias, os líderes locais desempenham um papel crucial na mobilização de<br />

participação para estas campanhas de saúde da criança.<br />

68<br />

69


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 3: SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

e da Infância, com enfoque na assistência<br />

neonatal, estando presentemente 90 por<br />

cento das unidades sanitárias a implementar<br />

estes serviços, comparativamente a 50 por<br />

cento em 2005. 54<br />

Moçambique tem potencial real para<br />

cumprir as metas para 2015 do ODM 5:<br />

um Rácio de Mortalidade Materna de<br />

250/100.000 nados vivos e uma cobertura<br />

de 66 por cento de partos institucionais. A<br />

realização destes objectivos exigirá: melhoria<br />

da qualidade e cobertura dos serviços de<br />

saúde reprodutiva; expansão e manutenção<br />

de serviços de cuidados obstétricos de<br />

emergência e neonatais de qualidade;<br />

diagnóstico, tratamento e encaminhamento<br />

atempado de complicações obstétricas;<br />

melhoria da estrutura e funcionamento<br />

do sistema de referência; melhoria do<br />

Sistema de Informação de Saúde para<br />

melhor monitorar os cuidados obstétricos<br />

de emergência e neonatais; garantia<br />

de segurança dos produtos para saúde<br />

reprodutiva; e maior envolvimento da<br />

comunidade, especialmente dos homens,<br />

nas decisões sobre saúde reprodutiva.<br />

São cinco as causas directas da mortalidade<br />

materna: hemorragia (ocorrendo geralmente<br />

no pós-parto), septicemia, eclampsia,<br />

parto obstruído e complicações de aborto.<br />

Muitos destes factores podem ser facilmente<br />

resolvidos se houver profissionais de saúde<br />

qualificados prontamente disponíveis,<br />

medicamentos básicos, equipamento e<br />

instalações para referência. As mortes<br />

obstétricas indirectas ocorrem como<br />

resultado quer de condições previamente<br />

existentes quer de condições decorrentes da<br />

gravidez, que não estão relacionadas com<br />

as causas obstétricas directas mas podem<br />

ser agravadas pelos efeitos fisiológicos da<br />

gravidez. É o caso de SIDA, malária, anemia<br />

e doenças cardiovasculares. A gravidez na<br />

adolescência também aumenta o risco de<br />

mortes maternas. 55<br />

Um dos mais importantes factores que<br />

afectam a saúde das mulheres é uma boa<br />

nutrição. Segundo dados do Inquérito<br />

Demográfico e de Saúde de 2003, cerca<br />

de 9 por cento das mulheres em idade<br />

reprodutiva em Moçambique sofre de<br />

desnutrição (indicado por um baixo índice<br />

de massa corporal). x Em 2003, a prevalência<br />

de desnutrição era mais elevada entre as<br />

mulheres nas zonas rurais do que nas áreas<br />

urbanas, e duas vezes maior entre as mulheres<br />

mais pobres (10 por cento) do que entre<br />

as que se encontram em melhor situação<br />

(5 por cento). 56 De acordo com um estudo<br />

realizado em 2002, a anemia, que pode estar<br />

relacionada com um insuficiente consumo de<br />

alimentos ricos em ferro, parasitoses, malária<br />

ou outras infecções, afectou 70 por cento das<br />

mulheres grávidas, contra 48 por cento das<br />

não grávidas. 57 Apesar da prevalência desta<br />

doença, 39 por cento das mulheres grávidas<br />

não tomaram qualquer suplemento de ferro e<br />

ácido fólico durante a gravidez. 58<br />

Nos últimos anos, a cobertura de cuidados<br />

pré-natais em Moçambique melhorou<br />

significativamente, tendo-se verificado<br />

um aumento da percentagem de mulheres<br />

atendidas pelo menos uma vez por pessoal<br />

de saúde qualificado durante a gravidez, de<br />

85 por cento em 2003 para 92 por cento em<br />

2008 (ver Figura 3.20). 59 Os maiores ganhos<br />

foram registados nas áreas rurais, onde a<br />

percentagem de mulheres grávidas que<br />

relataram ter recebido cuidados pré-natais<br />

pelo menos uma vez subiu de 79 para 90 por<br />

cento entre 2003 em 2008, como resultado da<br />

expansão dos serviços de saúde nestas áreas.<br />

A cobertura de cuidados pré-natais nas áreas<br />

urbanas permaneceu praticamente estável,<br />

com um ligeiro aumento entre 2003 e 2008,<br />

de 97 para 99 por cento.<br />

A cobertura de cuidados pré-natais<br />

ultrapassou os 80 por cento em todas as<br />

províncias do país, oscilando entre 81 por<br />

cento, na Zambézia, e uma cobertura quase<br />

universal em Gaza e na Cidade de Maputo.<br />

Os serviços de cuidados pré-natais variam<br />

de acordo com o estatuto socioeconómico<br />

da mulher, com 86 por cento das mulheres<br />

no quintil mais pobre relatando ter assistido<br />

a pelo menos uma consulta pré-natal, em<br />

comparação com 99 por cento no quintil<br />

mais favorecido. Entre 2003 e 2008, o nível<br />

de cobertura entre as mulheres no quintil<br />

mais pobre subiu de 67 para 85 por cento.<br />

Segundo dados do MICS 2008, 58 por<br />

cento dos partos tiveram lugar em<br />

estabelecimentos de saúde. Nas áreas<br />

rurais, a cobertura chegou aos 49 por cento.<br />

A percentagem de partos institucionais<br />

entre 1997 e 2003 aumentou de 33 para<br />

34 por cento, ao passo que nas áreas<br />

urbanas permaneceu estável, em 81 por<br />

cento. O número relativamente elevado de<br />

partos que ocorrem fora de maternidades<br />

formais ou outros estabelecimentos<br />

de saúde é relevante, tanto em relação<br />

ao acesso das mulheres a serviços<br />

obstétricos de emergência e cuidados<br />

neonatais, como ao uso de intervenções<br />

de prevenção da transmissão vertical, que<br />

são proporcionados através de unidades<br />

sanitárias. Fora de unidades sanitárias<br />

100%<br />

90%<br />

80%<br />

70%<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

70%<br />

formais não existe nenhum sistema<br />

para garantir que as que não têm partos<br />

institucionais cumpram e, portanto,<br />

beneficiem, desta intervenção.<br />

As normas estabelecidas no programa<br />

nacional de assistência pré-natal<br />

recomendam que todas as mulheres<br />

grávidas recebam informação sobre<br />

possíveis problemas de saúde durante a<br />

gravidez, incluindo a infecção por HIV e o<br />

risco de sua transmissão vertical. Apesar de<br />

estas normas estabelecerem também que<br />

as mulheres grávidas sejam avaliadas em<br />

termos de peso, altura e pressão arterial e<br />

façam o teste de rastreio da sífilis, parece<br />

não haver cumprimento desta orientação. De<br />

acordo com o MICS 2008, embora a maior<br />

parte das mulheres grávidas atendidas nas<br />

consultas pré-natais tenham sido pesadas<br />

durante consultas, apenas 52 por cento<br />

foram informadas sobre os sintomas de<br />

complicações de saúde relacionadas com a<br />

gravidez, 48 por cento mediram a altura, 36<br />

por cento foram solicitadas a fornecer uma<br />

amostra de urina, e 47 por cento fizeram<br />

colheita de sangue para testes de HIV. Além<br />

disso, apenas pouco mais de metade das<br />

mulheres (59 por cento) foram aconselhadas<br />

Figura 3.20: Mulheres atendidas pelo menos uma vez por pessoal de saúde qualificado durante a gravidez,<br />

1997, 2003 e 2008<br />

85%<br />

86%<br />

x<br />

Considera-se que uma mulher está desnutrida quando o rácio altura-peso, usado para calcular o índice de massa<br />

corporal, é inferior a 18,5.<br />

0%<br />

Fonte: IDS 1997e 2003, MICS 2008.<br />

1997 2003 2008<br />

70<br />

71


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 3: SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

sobre o HIV e a SIDA. Estes resultados<br />

revelam a fraca qualidade geral dos cuidados<br />

de saúde primários em Moçambique, e a<br />

necessidade urgente de formação de pessoal<br />

de nível médio e básico, a fim de manter<br />

níveis aceitáveis de serviços de saúde<br />

materna.<br />

Em 2003, apenas 48 por cento dos partos<br />

foram assistidos por pessoal de saúde<br />

qualificado, 60 percentagem esta que<br />

aumentou para 55 por cento em 2008. 61<br />

As províncias com menor percentagem de<br />

partos assistidos por pessoal qualificado<br />

foram Manica (33 por cento) e Zambézia (38<br />

por cento). A grande maioria dos cuidados<br />

pré-natais é prestada por enfermeiras e<br />

parteiras (53 por cento em 2008), sendo<br />

os médicos responsáveis por apenas<br />

2 por cento dos cuidados pré-natais<br />

proporcionados globalmente. O acesso a<br />

profissionais de saúde qualificados durante<br />

o parto e a partos institucionais está<br />

correlacionado com a riqueza. Noventa por<br />

cento das mulheres no quintil mais elevado<br />

de riqueza deu à luz numa unidade sanitária,<br />

contra 30 por cento das mulheres no quintil<br />

mais baixo (Figura 3.21). 62<br />

O nível de cuidados pós-parto também<br />

continua baixo. Cerca de 60 por cento<br />

das mulheres que tiveram partos não<br />

institucionais não receberam qualquer<br />

tipo de cuidados pós-parto, e apenas 12<br />

por cento foram a algum tipo de unidade<br />

sanitária até dois dias após o parto. 63<br />

Considerando a necessidade de intervenções<br />

comunitárias para atingir estas mães, foi<br />

incluída, a partir de 2008, uma componente<br />

de cuidados neonatais nos pacotes de<br />

Atenção Integrada às Doenças da Infância<br />

(AIDI) e Atenção Comunitária Integrada às<br />

Doenças da Infância (C-AIDI), alterando as<br />

siglas para Atenção Integrada às Doenças<br />

Neonatais e da Infância (AIDNI) e Atenção<br />

Comunitária Integrada às Doenças Neonatais<br />

e da Infância (C-AIDNI), respectivamente.<br />

Para expandir os serviços comunitários de<br />

saúde preventiva e curativa, o Ministério<br />

da Saúde, em colaboração com os seus<br />

parceiros, desenvolveu manuais de formação<br />

para implementar um modelo adequado de<br />

cuidados para recém-nascidos, abrangentes<br />

e baseados na comunidade, que inclui<br />

visitas domiciliárias a serem efectuadas em<br />

dias-chave durante o primeiro mês de vida<br />

(dias 3, 7, 14 e 28), para identificar sinais<br />

Figura 3.21: Percentagem de mulheres que beneficiaram de cuidados pré-natais e deram à luz em unidades<br />

sanitárias, por quintil de riqueza, 2008<br />

100%<br />

80%<br />

60%<br />

40%<br />

20%<br />

0%<br />

82%<br />

Fonte: MICS 2008.<br />

38%<br />

85%<br />

48%<br />

89%<br />

57%<br />

Recebe apoio pré-natal de pessoal habilitado<br />

95%<br />

68%<br />

98%<br />

90%<br />

Mais baixo Segundo Médio Quarto Mais elevado Total<br />

89%<br />

58%<br />

Deu à luz num estabelecimento de saúde<br />

de perigo e providenciar encaminhamento<br />

atempado. A formação de formadores foi<br />

realizada nas três regiões do país em 2008,<br />

enquanto a de agentes comunitários de<br />

saúde na implementação de AIDNI a nível<br />

da comunidade iniciou em alguns distritos<br />

abrangidos pela estratégia “Atingir Cada<br />

Distrito” (RED – Reach each District). Em<br />

2009, perto de 450 agentes comunitários<br />

de saúde foram treinados em C-AIDNI, em<br />

resultado do que mais de quatro mil recémnascidos<br />

(3 por cento dos partos previstos)<br />

em 21 distritos de 7 províncias receberam<br />

visitas domiciliárias no seu primeiro mês<br />

de vida. Entre eles, mais de 1.100 (28 por<br />

cento) foram encaminhados para centros de<br />

saúde em 2009. 64 A revitalização em curso do<br />

programa de agentes de saúde comunitários<br />

com trabalhadores remunerados vai reforçar<br />

e ampliar ainda mais estas intervenções com<br />

Cuidados Domiciliários Maternos, Infantis e<br />

para o Recém-nascido abrangentes.<br />

A anemia e a deficiência de vitamina A estão<br />

entre os principais problemas nutricionais<br />

que afectam as mulheres, particularmente<br />

as grávidas e a amamentar. A pesquisa<br />

nacional de 2002 sobre deficiência de<br />

vitamina A e anemia e malária em crianças<br />

menores de cinco anos e suas mães, revelou<br />

que 70 por cento das mulheres grávidas<br />

sofria de anemia, contra 48 por cento de<br />

mulheres não grávidas, 65 e que apenas 61<br />

por cento das mulheres grávidas tomaram<br />

ferro e suplementos de ácido fólico durante<br />

a gravidez. 66 Estes resultados ilustram os<br />

baixos níveis de cumprimento da actual<br />

política nacional de suplementação de ferro<br />

e ácido fólico para mulheres grávidas.<br />

2.4. Doenças da infância<br />

Uma importante intervenção de saúde<br />

pública para abordar as doenças da infância<br />

foi o desenvolvimento do programa de<br />

AIDI (Atenção Integrada às Doenças da<br />

Infância), que tem três componentes: a<br />

capacitação de profissionais de saúde,<br />

o fortalecimento do sistema de saúde e<br />

o melhoramento das práticas de saúde<br />

da família e da comunidade. A AIDI foi<br />

introduzida em Moçambique em 1998,<br />

quando o Ministério da Saúde iniciou a<br />

implementação gradual, começando em<br />

29 distritos. Desde então, a cobertura do<br />

programa de AIDI tem aumentado. Segundo<br />

revela a Avaliação Anual Conjunta de 2008<br />

sobre o desempenho do sistema de saúde,<br />

cerca de 90 por cento dos serviços de saúde<br />

em todo o país estavam a implementar a<br />

Atenção Integrada às Doenças Neonatais e<br />

da Infância, em comparação com cerca de 50<br />

por cento em 2005. 67<br />

A AIDNI é um dos pilares fundamentais<br />

da estratégia de Sobrevivência e<br />

Desenvolvimento Acelerados da Criança,<br />

com potencial, se aplicado na íntegra e<br />

incluindo uma componente comunitária,<br />

para evitar até um terço do total de mortes<br />

de crianças.<br />

Apesar do importante progresso registado<br />

na redução de doenças da infância, a<br />

situação global continua assustadora.<br />

Apresentam-se em seguida, mais<br />

pormenorizadamente, os sucessos e<br />

desafios particulares na luta contra doenças<br />

da infância em Moçambique, nas áreas da<br />

malária, infecções respiratórias agudas,<br />

diarreia e doenças preveníveis por vacina.<br />

2.5. Malária<br />

O Estudo Nacional sobre Mortalidade<br />

Infantil 2008, confirma a malária como a<br />

principal causa de morte de crianças em<br />

Moçambique. 68 Trinta e três por cento das<br />

mortes de crianças menores de cinco anos<br />

são atribuídas à malária. Entre as crianças<br />

de 1-5 anos, as mortes atribuídas à malária<br />

chegam a 46 por cento. Para além de ser<br />

a principal causa de morte de crianças de<br />

tenra idade, a malária é também responsável<br />

por 40 por cento de todas as consultas<br />

externas, e aproximadamente 60 por cento<br />

dos doentes internados em enfermarias<br />

pediátricas necessitam de tratamento<br />

para malária grave, colocando um peso<br />

significativo sobre os recursos da saúde.<br />

72<br />

73


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 3: SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

A prevalência de malária pouco mudou<br />

durante o período entre uma pesquisa<br />

nacional realizada em 2002 e o Inquérito<br />

Indicador de Malária (Malaria Indicator<br />

Survey), de 2007, 69 que registou uma<br />

prevalência global de 51 por cento (27 por<br />

cento nas zonas urbanas e 58 por cento<br />

nas zonas rurais). xi Apesar dos níveis<br />

semelhantes de prevalência global, foram<br />

observadas importantes reduções em áreas<br />

do país onde se verificou uma expansão<br />

das intervenções contra a malária, como a<br />

província de Maputo.<br />

Trinta e seis por cento das crianças<br />

com febre receberam medicamentos<br />

antimaláricos em 2008, comparativamente<br />

a 15 por cento de 2003 (ver Figura 3.22). 70<br />

Embora esta taxa esteja ainda aquém das<br />

metas revistas do programa “Fazer Recuar<br />

a Malária” xii , 71 representa uma melhoria<br />

significativa. Foram observadas grandes<br />

reduções em casos de infecção em áreas do<br />

país onde houve expansão das intervenções<br />

da prevenção e controlo da malária, como,<br />

por exemplo, na província de Maputo,<br />

onde a prevalência da malária diminuiu<br />

drasticamente.<br />

As baixas taxas de tratamento adequado<br />

relatadas indicam, por um lado, deficiente<br />

conhecimento e procura de tratamento nos<br />

prestadores de cuidados (apenas 60 por<br />

cento das crianças com febre foram levadas<br />

a um centro de saúde, de acordo com o<br />

Inquérito Indicador de Malária 2007) e, por<br />

outro, o baixo acesso aos serviços de saúde.<br />

Fora do sistema formal de saúde, somente<br />

as farmácias registadas e algumas lojas<br />

especificamente registadas podem fornecer<br />

medicamentos antimaláricos, tornando<br />

assim difícil o acesso a tratamento rápido,<br />

especialmente em áreas rurais carentes.<br />

O tratamento da malária está igualmente<br />

Figura 3.22: Percentagem de crianças que receberam tratamento adequado para malária, 2003 e 2008<br />

40%<br />

35%<br />

30%<br />

25%<br />

20%<br />

15%<br />

10%<br />

5%<br />

0%<br />

15%<br />

8%<br />

Crianças com febre que receberam<br />

anti-maláricos<br />

37%<br />

2003 2008<br />

36%<br />

Crianças com febre que receberam<br />

anti-maláricos (no prazo de 24 horas)<br />

disponível a nível comunitário em partes<br />

seleccionadas do país, onde é administrado<br />

por agentes comunitários de saúde,<br />

conhecidos como Agentes Polivalentes<br />

Elementares. Os trabalhadores de saúde das<br />

aldeias, designados Socorristas e formados<br />

pela World Relief, estão também autorizados<br />

a tratar a malária a nível da comunidade em<br />

Gaza. Espera-se que a revitalização em curso<br />

do programa dos APEs que está a ser levada<br />

a cabo pelo Governo melhore a situação.<br />

A situação respeitante a prevenção e<br />

controlo da malária é mais positiva do que<br />

a relativa ao tratamento rápido e eficaz. O<br />

Governo de Moçambique promove o uso<br />

de dois instrumentos igualmente eficazes<br />

para o controlo e prevenção da malária: a<br />

pulverização residual de superfícies interiores<br />

das casas (PIDOM) com insecticidas de<br />

longa duração e o uso de redes mosquiteiras<br />

tratadas com insecticida de longa duração.<br />

O Governo identificou a PIDOM como uma<br />

estratégia fundamental para o controlo<br />

e prevenção da malária no PARPA II,<br />

estabelecendo uma meta de cobertura de 50<br />

por cento desta intervenção até 2009, contra<br />

os cerca de 18 por cento registados em<br />

2005. Esta meta do PARPA já foi alcançada,<br />

com mais de 50 por cento da população a<br />

ser coberta com acções de PIDOM, embora<br />

subsistam perguntas a respeito da qualidade<br />

da pulverização realizada e da precisão dos<br />

dados de cobertura.<br />

Em 2000, foram introduzidos pela<br />

primeira vez no sistema de saúde pública,<br />

nas províncias da Zambézia e Gaza,<br />

dois importantes programas de redes<br />

mosquiteiras tratadas com insecticida.<br />

Até meados de 2009, havia programas de<br />

distribuição de redes mosquiteiras tratadas<br />

com insecticida de longa duração em todas<br />

as dez províncias e na Cidade de Maputo.<br />

As redes mosquiteiras são distribuídas a<br />

mulheres grávidas através dos serviços de<br />

cuidados pré-natais e a crianças menores<br />

de cinco anos através de campanhas, como<br />

as Semanas de Saúde da Criança. A partir<br />

de 2009, o Governo introduziu uma política<br />

de acesso universal a redes mosquiteiras<br />

tratadas com insecticida de longa duração.<br />

A cobertura de crianças com menos de cinco<br />

após as actividades da campanha em 2009<br />

é estimada em cerca de 93 por cento nos<br />

distritos não pulverizados, e cerca de 54 por<br />

cento a nível nacional. 72<br />

A posse de redes mosquiteiras à escala<br />

nacional passou de 18 por cento de famílias<br />

que possuíam pelo menos uma rede<br />

mosquiteira em 2003 para 65 por cento em<br />

2008. 73 No entanto, apenas 31 por cento<br />

dos agregados familiares relataram possuir<br />

uma rede tratada com insecticida. xiii A<br />

percentagem de crianças que reportaram ter<br />

dormido sob uma rede mosquiteira na noite<br />

anterior à pesquisa aumentou de 10 por<br />

cento em 2003 para 42 por cento em 2008.<br />

Destes 42 por cento, 23 por cento usaram<br />

uma rede tratada. 74 Em 2008, 74 por cento<br />

das mulheres grávidas em todo o país havia<br />

recebido uma rede mosquiteira tratada com<br />

insecticida de longa duração, contra apenas<br />

46 por cento em 2007. 75<br />

Devido à expansão da cobertura de redes<br />

mosquiteiras tratadas com insecticida e da<br />

pulverização residual de interiores, foram<br />

cumpridas as metas de prevenção do<br />

“Fazer Recuar a Malária” para 2010. xiv No<br />

entanto, apesar dos sinais encorajadores<br />

de progresso, a cobertura com redes<br />

mosquiteiras tratadas, que são duas vezes<br />

mais eficazes que as redes sem tratamento,<br />

continua muito abaixo das metas nacionais e<br />

Fonte: IDS 2003, MICS 2008.<br />

xi O Inquérito Indicador de Malária usou os recentemente desenvolvidos Testes de Diagnóstico Rápido para avaliar a<br />

presença de parasitas da malária.<br />

xii A Cimeira de Abuja sobre o Fazer Recuar a Malária, de 2000, estabeleceu uma meta de, até 2005, 60 por cento dos<br />

doentes de malária poderem ter acesso a e usar medicamentos correctos, acessíveis e apropriados no prazo de 24 horas.<br />

xiii Antes da introdução de redes mosquiteiras tratadas com insecticida de longa duração, que não requerem tratamento<br />

durante o seu tempo de vida útil de três a cinco anos, as redes tinham de ser submetidas a novo tratamento com<br />

insecticida de seis em seis meses, para garantir a sua eficácia contínua. Todas as redes mosquiteiras distribuídas depois<br />

de 2006 são de longa duração.<br />

xiv As metas do programa “Fazer Recuar a Malária” para 2010 são as seguintes: 80 por cento da população protegida da<br />

malária através de PIDOM ou Redes Mosquiteiras Tratadas com Insecticida de Longa Duração, 80 por cento de pessoas<br />

capazes de receber tratamento efectivo num prazo de 24 horas, e 80 por cento de mulheres grávidas capazes de receber<br />

Tratamento Preventivo Intermitente contra a malária durante a gravidez.<br />

74<br />

75


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 3: SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

internacionais. Além disso, a posse familiar<br />

de redes mosquiteiras não se traduz num<br />

uso efectivo das redes por crianças menores<br />

de cinco anos e mulheres grávidas, os dois<br />

grupos populacionais de maior risco de<br />

doença grave e morte por malária.<br />

Considera-se que, anualmente, chegam a um<br />

milhão as gravidezes na África subsaariana<br />

que têm complicações devido a co-infecção<br />

de malária e HIV. 76 Tanto a infecção com<br />

malária como por HIV durante a gravidez<br />

estão associadas a anemia materna, baixo<br />

peso à nascença e mortalidade materna e<br />

infantil, apresentando a infecção por HIV um<br />

maior risco de malária. Em presença de coinfecção,<br />

a prevalência de anemia e baixo<br />

peso à nascença pode ultrapassar os 35<br />

por cento. 77 A OMS agora recomenda o uso<br />

de tratamento preventivo intermitente xv e<br />

redes mosquiteiras tratadas com insecticida<br />

para todas as mulheres grávidas que<br />

vivam em áreas de alto risco de malária.<br />

De forma correspondente, o Ministério da<br />

Saúde em Moçambique também reforçou<br />

o tratamento preventivo e introduziu o<br />

tratamento preventivo intermitente em 2006.<br />

Em 2008, o MICS registou que 67 por cento<br />

das mulheres grávidas tinham recebido<br />

tratamento preventivo intermitente, o que<br />

não está muito longe da meta de 2010.<br />

2.6. Infecções respiratórias<br />

agudas<br />

Tal como a malária, as infecções<br />

respiratórias agudas (IRA) constituem<br />

uma das principais causas de morbilidade<br />

e mortalidade entre as crianças em<br />

Moçambique, sendo a pneumonia a mais<br />

grave de entre elas. Segundo estimativas<br />

da OMS, 60 por cento das mortes causadas<br />

por IRA poderiam ser evitadas com o uso<br />

selectivo de antibióticos, mas o sucesso do<br />

tratamento depende de detecção precoce e<br />

do acesso a unidades médicas.<br />

A percentagem de crianças menores de<br />

cinco anos com sintomas de pneumonia<br />

reduziu de 10 por cento em 2003 para 5 por<br />

cento em 2008. Em 2008, cerca de 65 por<br />

cento das crianças com sintomas de IRA<br />

foram levadas a uma unidade sanitária. 78<br />

A prevalência de sintomas de IRA em crianças<br />

que vivem em áreas urbanas era maior do<br />

que nas que vivem em áreas rurais (12 e 9 por<br />

cento, respectivamente). A percentagem de<br />

crianças com sintomas na Cidade de Maputo<br />

era cinco vezes superior à de Tete (ver Figura<br />

3.23) 79 , o que poderia ser explicado pela<br />

maior densidade populacional da Cidade<br />

de Maputo, uma vez que as IRA podem<br />

propagar-se ou agravar-se com superlotação<br />

das habitações, ambientes de vida de má<br />

qualidade ou poluição. A menor prevalência<br />

em crianças de famílias mais pobres ou<br />

menos escolarizadas pode ser explicada<br />

pelo facto de a maioria das pessoas mais<br />

escolarizadas viver em áreas urbanas.<br />

Existe uma grande disparidade na<br />

percentagem de crianças que recebem<br />

tratamento para as IRA (ver Figura 3.24).<br />

As crianças das famílias em melhores<br />

condições e aquelas cujas mães tinham pelo<br />

menos o ensino primário têm muito mais<br />

probabilidade de receber tratamento para<br />

sintomas de IRA do que as de áreas rurais,<br />

de famílias pobres e aquelas cujas mães não<br />

tinham escolarização. Não foi observada<br />

nenhuma relação entre o nível educacional<br />

da mãe e a sua capacidade de reconhecer os<br />

sintomas de pneumonia, o que indica que o<br />

sistema de ensino deve incidir mais sobre<br />

questões de saúde familiar. 80<br />

2.7. Doenças diarreicas<br />

A diarreia é outra importante causa de<br />

morbilidade e mortalidade infantil em<br />

Moçambique. Torna-se mais frequente em<br />

crianças com seis ou mais meses de idade,<br />

quando começam a gatinhar e a comer<br />

alimentos complementares, e estimativas<br />

globais recentes indicam que é causa de<br />

morte, anualmente, de 1,5 milhões de<br />

crianças. 83 A Organização Mundial de Saúde<br />

estimou que em 2007, em Moçambique,<br />

26.900 mortes por ano se deviam a<br />

doenças diarreicas relacionadas com água,<br />

saneamento e higiene. 84<br />

Os dados do MICS de 2008 indicam que<br />

doenças diarreicas são a quinta maior causa<br />

de mortalidade de crianças menores de<br />

cinco. Esta estimativa é apoiada pelo Estudo<br />

Nacional sobre a Mortalidade Infantil 2009,<br />

segundo o qual as doenças gastro-intestinais<br />

infecciosas contribuem com quase sete<br />

Figura 3.23: Prevalência de infecções respiratórias agudas, por província, em 2008<br />

12%<br />

10%<br />

8%<br />

6%<br />

4%<br />

6%<br />

2%<br />

3%<br />

2%<br />

0%<br />

Niassa Manica Cabo<br />

Delgado<br />

Fonte: MICS, 2008.<br />

3% 3%<br />

6%<br />

por cento do número total de óbitos. 85 As<br />

doenças diarreicas são responsáveis por uma<br />

percentagem relativamente mais elevada<br />

do total de óbitos de menores de cinco<br />

anos em Inhambane (12 por cento) e Cabo<br />

Delgado (11 por cento) e uma percentagem<br />

ligeiramente maior de mortes de rapazes do<br />

que de raparigas em todas as faixas etárias,<br />

desde pós-neonatais até menores de cinco<br />

anos. O MICS 2008, também indica ter havido<br />

um aumento na prevalência de doenças<br />

diarreicas em crianças menores de cinco<br />

anos, de 14 por cento em 2003 para 18 por<br />

cento em 2008. A mais elevada prevalência<br />

de diarreia foi registada em Nampula (23<br />

por cento), e a mais baixa na província do<br />

Tete Sofala Maputo Maputo Zambézia<br />

Cidade Província<br />

Nampula<br />

Inhambane<br />

Figura 3.24: Percentagem de crianças menores de cinco anos que recebem tratamento adequado para infecções<br />

respiratórias agudas por província, 2008<br />

80%<br />

70%<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

69%<br />

78%<br />

71%<br />

62%<br />

45%<br />

74%<br />

5%<br />

59%<br />

2%<br />

70%<br />

7%<br />

56%<br />

6%<br />

71%<br />

10%<br />

Gaza<br />

47%<br />

5%<br />

Total<br />

65%<br />

xv Definido como a provisão de, pelo menos, duas doses de tratamento de sulfadoxina+pirimetamina durante as as<br />

consultas pré-natais de rotina.<br />

0%<br />

Niassa Cabo<br />

Delgado<br />

Fonte: MICS 2008.<br />

Nampula<br />

Zambézia<br />

Tete Manica Sofala Inhambane<br />

Gaza<br />

Maputo Maputo<br />

Província Cidade<br />

Total<br />

76<br />

77


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

Tabela 3.2: Casos de cólera em Moçambique, 2007-2010<br />

Ano<br />

Nº de casos<br />

de cólera<br />

Número<br />

de óbitos<br />

Taxa de<br />

letalidade<br />

2007 1073 16 1,4% A partir da 41ª semana (Outubro-Dezembro de 2007)<br />

2008 12306 157 1,3% Dezembro-Janeiro de 2008<br />

2009 19088 150 0,8% Janeiro-Dezembro 2009<br />

2010 4129 56 1,4% Referente à 21ª semana epidemiológica<br />

Pelo olhar<br />

de uma<br />

criança<br />

CAPÍTULO 3: SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

Fonte: Ministério da Saúde, Manual de Prevenção e Controlo da Cólera e de Outras Diarreias Agudas, Governo de Moçambique,<br />

Maputo.<br />

Niassa (13 por cento). As crianças com baixa<br />

altura para a idade parecem ter diarreia mais<br />

frequentemente do que as crianças sem esse<br />

défice, tendo-se verificado que 51 por cento<br />

das que apresentavam baixa altura para a<br />

idade tiveram diarreia nas duas semanas<br />

anteriores à pesquisa, em comparação com<br />

37 por cento das crianças sem tal défice. 86<br />

Quase metade (47 por cento) das crianças<br />

(com idades entre 0-5 anos) com diarreia<br />

foram submetidas a terapia de reidratação<br />

oral e continuaram com o aleitamento<br />

materno normal. O zinco ainda não está a ser<br />

usado sistematicamente para tratar a diarreia<br />

em Moçambique. A introdução de zinco e da<br />

gestão de casos a nível da comunidade por<br />

agentes de saúde comunitários treinados<br />

melhorará ainda mais os resultados e<br />

acelerará a redução da mortalidade infantil de<br />

menores de cinco anos.<br />

2.8. Cólera<br />

Devido aos baixos níveis de cobertura de<br />

saneamento, tem-se registado um elevado<br />

número de casos de cólera ao longo dos<br />

anos em Moçambique (ver Tabela 3.2).<br />

De 1992 a 2004, os casos de cólera em<br />

Moçambique representavam entre um terço<br />

e um quinto de todos os casos africanos. 87<br />

Em 1997/98, um surto de cólera resultou em<br />

50.000 casos e 1.353 óbitos, com uma taxa<br />

de letalidade de 3,2 por cento.88 Os factores<br />

que contribuem para surtos de cólera em<br />

Moçambique são: falta de saneamento<br />

básico e condições de higiene precárias,<br />

escassez e falta de acesso a água potável,<br />

inadequada eliminação de resíduos, fracas<br />

condições económicas das comunidades;<br />

secas e inundações recorrentes; alta<br />

densidade populacional e urbanização<br />

deficientemente planeada.<br />

Para resolver a fraca situação de saneamento<br />

no país, o Governo de Moçambique lançou<br />

uma campanha de saneamento em 2008 que<br />

incidiu sobre a lavagem das mãos, construção<br />

e utilização de latrinas, fornecimento de<br />

água potável e eliminação de lixo, e está<br />

a ser finalizado um plano multissectorial e<br />

multianual de prevenção da cólera.<br />

2.9. Doenças preveníveis por<br />

vacinação e imunização<br />

O Programa Alargado de Vacinação nacional<br />

registou substanciais progressos nos<br />

últimos anos. Moçambique aumentou as<br />

suas taxas de vacinação contra sarampo<br />

e difteria-tétano-tosse convulsa (DPT3) de<br />

cerca de 50 por cento em 1991 para 70-80<br />

por cento em 2007.89 Foram introduzidas<br />

duas novas vacinas, as de hepatite B e<br />

Haemophilus influenzae, havendo planos<br />

para a introdução de vacinas contra rotavírus<br />

e pneumococcus.<br />

Para tentar ultrapassar a baixa cobertura e<br />

as desigualdades na cobertura entre áreas<br />

rurais e urbanas, entre províncias e entre<br />

quintis de riqueza, o Ministério da Saúde<br />

introduziu a abordagem Atingir Cada Distrito,<br />

que incide sobre a capacitação dos distritos,<br />

profissionais de saúde e comunidades para<br />

melhorar a vacinação e outros serviços<br />

de sobrevivência materna e infantil. A<br />

abordagem “Atingir Cada Distrito está a ser<br />

“Esta imagem mostra de onde acarretamos<br />

água. É um lugar cheio de lixo, matope e<br />

água suja. Isto não é bom, pois podemos<br />

acabar por apanhar cólera e outras doenças.<br />

Os miúdos brincam nesta água porque não<br />

temos jardins infantis e parques. As crianças<br />

ficam doentes.”<br />

“Uma pessoa recebe melhor tratamento<br />

quando tem algum familiar a trabalhar num<br />

hospital”.<br />

“A maioria de nós não tem nenhum hospital<br />

na comunidade; os mais próximos ficam a<br />

aproximadamente 3,5-5 km das nossas casas.<br />

Muitos temos de ir a pé para o hospital.<br />

Andar a pé quando estamos doentes cansa<br />

muito. Às vezes, conseguimos ir ao hospital,<br />

outras vezes não conseguimos pagar as<br />

taxas. Muitos de nós temos marcas nos<br />

braços, não sabemos por quê, mas não temos<br />

condições para ir ao médico ver o que é.”<br />

“No hospital, pedem dinheiro por cada<br />

coisa pequena. Até onde podemos pagar?<br />

E quando estamos doentes e nos pedem<br />

dinheiro, ficamos tristes e aborrecidos.<br />

Quando crescermos, e se viermos a ser<br />

médicos, vamos sempre cuidar dos pobres<br />

em primeiro lugar, porque sabemos como<br />

uma pessoa se sente quando alguém não lhe<br />

presta atenção só porque não tem dinheiro.<br />

-Argentina, 16 anos<br />

Fonte: Virgi Sajan, Zainul, 2010.<br />

78<br />

79


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 3: SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

Figura 3.25: Vacinação de crianças de 12-23 meses por antígeno, em 1997, 2003 e 2008<br />

100%<br />

90%<br />

80%<br />

70%<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

86% 87%<br />

78%<br />

71%<br />

67%<br />

58%<br />

54%<br />

BCG DTP3 Pólio 3 Sarampo Todos Nenhum<br />

1997 2003 2008<br />

Fonte: IDS 1997 e 2003, MICS 2008.<br />

actualmente usada pelo Ministério da Saúde<br />

como plataforma para atingir os ODM 4 e 5.<br />

70%<br />

65%<br />

Em 2008, oitenta e sete por cento das<br />

crianças com menos de um ano tinham<br />

sido vacinadas contra a tuberculose, e 71<br />

e 70 tinham recebido as vacinas de DPT3 e<br />

poliomielite 3, respectivamente. Sessenta<br />

e quatro por cento das crianças estavam<br />

vacinadas contra o sarampo. As crianças a<br />

residir em áreas urbanas ainda têm mais<br />

probabilidade de ser vacinadas do que as<br />

das áreas rurais. Cinquenta e cinco por cento<br />

das crianças entre os 12 e os 23 meses de<br />

idade nas zonas rurais receberam todas as<br />

vacinas, contra 74 por cento das residentes<br />

em áreas urbanas. Onze por cento das<br />

crianças em áreas rurais não receberam<br />

nenhuma vacina, comparativamente a<br />

quatro por cento das zonas urbanas. 90<br />

A cobertura da vacinação contra o<br />

sarampo em Moçambique melhorou<br />

substancialmente em 2005, após a realização<br />

de uma campanha nacional de vacinação<br />

que atingiu 95 por cento das crianças com<br />

idades compreendidas entre os 9 meses e os<br />

55%<br />

70%<br />

63%<br />

53%<br />

48%<br />

44%<br />

20%<br />

11% 9%<br />

14 anos. Uma continuação desta campanha<br />

de vacinação contra o sarampo durante a<br />

segunda fase das Semanas de Saúde da<br />

Criança, em 2008, chegou a 99 por cento das<br />

crianças de 9-59 meses. 91 Como resultado<br />

destas campanhas e dos serviços de rotina<br />

reforçados através da abordagem “Atingir<br />

Cada Distrito”, houve uma diminuição<br />

substancial do número de casos de sarampo<br />

notificados no país. Está prevista uma outra<br />

campanha subsequente para 2011.<br />

Desde 2008 que o Governo de Moçambique<br />

tem vindo a implementar, duas vezes por<br />

ano, Semanas Nacionais de Saúde da<br />

Criança, para proporcionar a cada criança<br />

elegível uma oportunidade de usufruir<br />

de um pacote básico de intervenções de<br />

sobrevivência infantil. O objectivo específico<br />

deste programa nacional bianual de<br />

Semanas de Saúde da Criança é atingir pelo<br />

menos 80 por cento das crianças elegíveis<br />

menores de cinco anos com suplementação<br />

de vitamina A, além de outras intervenções<br />

de sobrevivência infantil. A partir de 2010<br />

o pacote foi alargado de forma a incluir<br />

elementos de saúde materna.<br />

2.10. HIV e SIDA<br />

A vulnerabilidade de um país aos efeitos<br />

de doenças infecciosas, incluindo a SIDA,<br />

depende, em grande medida, do nível de<br />

desenvolvimento humano alcançado por<br />

esse país. Nos países desenvolvidos, os<br />

indivíduos e a sociedade como um todo<br />

estão mais capazes de se proteger contra<br />

o impacto das doenças. Isto porque os<br />

países em desenvolvimento enfrentam<br />

limitações de recursos financeiros a nível<br />

nacional e dos agregados familiares, bem<br />

como reduzido capital humano decorrente<br />

da falta de oportunidades educativas e de<br />

acesso a outros serviços sociais básicos.<br />

Em Moçambique, o HIV e a SIDA afectam<br />

negativamente o desenvolvimento e<br />

dificultam o cumprimento dos direitos<br />

humanos, conforme se pode verificar em<br />

indicadores-chave, tais como esperança<br />

de vida à nascença, mortalidade infantil,<br />

frequência escolar, alfabetização e<br />

rendimento familiar, entre outros. 92<br />

Devido à natureza transversal da SIDA em<br />

Moçambique, esta doença é abordada no<br />

Capítulo 6, “Questões transversais”.<br />

Tabela 3.3: Análise comparativa das dotações para a saúde, 2007 e 2008<br />

2.11. Financiamento e alocação<br />

orçamental ao sector da<br />

saúde<br />

A percentagem do total de recursos<br />

financeiros à disposição do Governo que<br />

são alocados ao sector da saúde, incluindo<br />

financiamento externo, mostrou uma clara<br />

redução no período 2006-2010, passando<br />

de 13,4 por cento em 200693 para 8,4 por<br />

cento em 2010 94 . Este nível de financiamento<br />

está abaixo da meta de Abuja de atribuição<br />

de pelo menos 15 por cento do Orçamento<br />

do Estado ao sector de saúde. 95 Este<br />

sector continua a depender fortemente de<br />

financiamento externo; a percentagem do<br />

montante de recursos sectoriais financiados<br />

por fontes externas diminuiu de cerca de<br />

65 por cento em 2008 para perto de 39 por<br />

cento na proposta orçamental para 2010. 96<br />

Uma análise dos dados de 2008-2010 revela<br />

que tanto a componente de financiamento<br />

interno como a de financiamento externo do<br />

orçamento do sector da saúde diminuíram<br />

em termos reais.<br />

Do total do orçamento alocado ao Sistema<br />

Nacional de Saúde em 2010, 60 por cento<br />

Descrição Dotação Anual ($US) Variação<br />

2007 2008<br />

Orçamento do Estado (componente interna) 112.730.067 120.847.887 7%<br />

Fundos correntes 107.166.049 115.039.479 7%<br />

Fundos de investimento 5.564.018 5.808.408 4%<br />

Orçamento do Estado (componente externa) 111.788.250 90.610.103 -19%<br />

Fundo Global 49.384.580 64.794.092 31%<br />

Fundo Comum 96.750.494 93.956.010 -3%<br />

Prosaúde - Central 24.979.244 30.675.029 23%<br />

Prosaúde - Medicamentos 45.000.000 35.890.754 -20%<br />

Prosaúde - Provincial 26.771.250 27.390.229 20%<br />

Total 370.653.391 370.208.092 0%<br />

Fonte: Ministério da Saúde, Direcção de Administração e Finanças, Relatórios Financeiros (dados não publicados), 2007, 2008.<br />

80<br />

81


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 3: SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

destinava-se ao Ministério da Saúde e 40 por<br />

cento às Direcções Provinciais de Saúde. Em<br />

termos de fundos de investimento, o nível<br />

provincial do Sistema Nacional de Saúde<br />

recebeu apenas 22 por cento do montante<br />

total. 97<br />

As disparidades no financiamento<br />

entre os níveis primário e terciário ou<br />

quaternário do sistema de saúde são<br />

de especial importância para a saúde e<br />

desenvolvimento das crianças, uma vez<br />

que os estabelecimentos de cuidados<br />

terciários e de nível superior tendem a estar<br />

concentrados nas zonas urbanas, enquanto<br />

muitas das doenças e condições que afectam<br />

as crianças (por exemplo, malária e doenças<br />

diarreicas) são mais comuns em áreas rurais<br />

e melhor geridas no nível primário de saúde.<br />

Além disso, os níveis terciário e superior<br />

do sistema de saúde tendem a centrar-se<br />

em cuidados curativos com mais baixa<br />

relação custo-eficácia, ao invés de cuidados<br />

preventivos.<br />

Figura 3.26: Dotações per capita para a saúde por província (meticais), 2009<br />

Meticais<br />

1000<br />

900<br />

800<br />

700<br />

600<br />

500<br />

400<br />

300<br />

200<br />

100<br />

0<br />

902<br />

Niassa<br />

878<br />

764<br />

Maputo Maputo<br />

Província Cidade<br />

711<br />

677<br />

O financiamento do orçamento do estado<br />

proposto para 2009 equivale a cerca de<br />

10,00 dólares americanos per capita. Se se<br />

considerar o financiamento total disponível<br />

para o sector da saúde, tanto do Orçamento<br />

de Estado como de outras fontes fora do<br />

orçamento, a despesa aumenta para cerca<br />

de 17,7 dólares por pessoa, dos quais 10,4<br />

foram realmente gastos em 2008 (embora<br />

o Relatório de Execução Orçamental não<br />

capture o financiamento vertical, reduzindo<br />

a despesa per capita registada, conforme<br />

adiante se apresenta). 98 Esta dotação para<br />

a saúde está em conformidade com o<br />

objectivo definido no PARPA II de aumentar<br />

a despesa de saúde para 15 dólares<br />

americanos per capita até 2009. 99 Apesar das<br />

melhorias demonstradas ao longo do tempo,<br />

a despesa de saúde per capita continua<br />

abaixo do mínimo recomendado para<br />

atender às necessidades básicas de saúde<br />

em países de baixo rendimento, conforme<br />

proposto pelo Banco Mundial e pela OMS,<br />

e também abaixo da média da África<br />

610<br />

599<br />

Tete<br />

579 562<br />

Cabo<br />

Delgado<br />

Sofala<br />

249 248<br />

Fonte: FDC e <strong>UNICEF</strong>, “O Que Diz a Proposta de Orçamento do Estado 2010 Sobre a Previsão de Recursos no Sector de Saúde?,<br />

Budget Brief 3, <strong>UNICEF</strong>, Maputo, 2010.<br />

Gaza Manica Inhambane<br />

Zambézia<br />

Nampula<br />

Subsaariana, estimada em 31,9 dólares<br />

americanos em 2002. xvi<br />

Em 2010, as dotações per capita para as<br />

províncias variaram entre 266 meticais por<br />

pessoa no Niassa a 74 Meticais por pessoa<br />

na Zambézia e 73 em Nampula (ver Figura<br />

3.26). O Comité dos Direitos da Criança<br />

levantou preocupações “sobre a repartição<br />

desigual dos recursos entre as províncias,<br />

com as mais baixas despesas atribuídas às<br />

províncias onde os indicadores de bem-estar<br />

das crianças, incluindo a pobreza infantil,<br />

se situam entre os piores do país”. 100 Igual<br />

preocupação foi também manifestada pelo<br />

grupo de doadores do G19, que continua a<br />

defender veementemente que o Governo<br />

deve introduzir uma fórmula ou um<br />

mecanismo de distribuição de financiamento<br />

provincial que leve em conta os diferentes<br />

Figura 3.27: Dotações para o sector da saúde, CFMP 2010-2012<br />

Milhões de Meticais<br />

8<br />

7<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

8%<br />

36%<br />

29%<br />

27%<br />

níveis de indicadores de desenvolvimento<br />

social. 101<br />

Nem todo o financiamento de doadores<br />

e todas as receitas internas do sector<br />

da saúde são capturados no Orçamento<br />

do Estado. Uma grande percentagem<br />

do financiamento de alguns parceiros é<br />

direccionada para projectos, continuando<br />

a ficar “fora do orçamento” (off budget).<br />

De acordo com o Relatório de Execução<br />

do Orçamento do Estado de 2008, cerca<br />

de 56 por cento do orçamento total do<br />

sector de saúde de 2008 consistiu em<br />

financiamento vertical, executado fora do<br />

controlo directo do Governo. O elevado<br />

grau de financiamento fora do orçamento<br />

prejudica a planificação sectorial, tendo<br />

levado o Ministério de Planificação e<br />

Desenvolvimento e o Ministério das<br />

2009 2010 2011 2012<br />

Central<br />

2%<br />

35%<br />

35%<br />

28%<br />

Provincial<br />

Ano<br />

PROSAÚDE<br />

HIV/SIDA<br />

Fonte: Ministério de Planificação e Desenvolvimento e Ministério das Finanças, Cenário Fiscal de Médio Prazo 2010-2012,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, Setembro de 2009.<br />

xvi O Relatório do Desenvolvimento Mundial de 1993 recomendou um pacote mínimo de 12,00 dólares americanos per<br />

capita para países de baixo rendimento. Outras estimativas são: 9,24 dólares standard ao abrigo do programa “Melhor<br />

Saúde em África” (Banco Mundial, 1994) e 35,00 dólares americanos prescritos pela Comissão para Macroeconomia<br />

e Saúde da OMS (OMS, 2002) para atender às necessidades básicas de saúde até 2007. Os dados para a África<br />

Subsaariana foram obtidos do Banco Mundial (2005).<br />

2%<br />

32%<br />

37%<br />

29%<br />

1%<br />

30%<br />

40%<br />

30%<br />

82<br />

83


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 3: SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

Finanças a tentarem melhorar a medida em<br />

que a ajuda externa se reflecte nos sistemas<br />

de gestão das finanças públicas do Governo.<br />

Esta iniciativa pode explicar parte do recente<br />

aumento registado na ajuda externa ao<br />

sector.<br />

No âmbito da introdução de uma<br />

Abordagem Sectorial Integrada (SWAp) na<br />

saúde em 2001, foram criados mecanismos<br />

de financiamento comum, que culminaram<br />

com a assinatura de um Memorando<br />

de Entendimento para o fundo comum<br />

PROSAÚDE, em 2003. Seguiu-se, em 2004,<br />

a criação do Fundo Comum Provincial e do<br />

Fundo Comum de Medicamentos. Em 2008,<br />

o Memorando PROSAÚDE foi actualizado, e<br />

os três Fundos Comuns foram fundidos num<br />

único Fundo Comum desligando PROSAÚDE<br />

II. O Fundo Comum PROSAUDE está dentro<br />

do orçamento (on-budget) e no tesouro<br />

(on-treasury). Os fundos “verticais” para<br />

doenças específicas estão a ser cada vez<br />

mais canalizados através do Fundo Comum<br />

PROSAÚDE II, o que torna significativamente<br />

mais fácil a quantificação do pacote de todos<br />

os recursos à disposição do Governo.<br />

O Relatório de Execução do Orçamento do<br />

Estado de 2009 constatou que a execução<br />

do orçamento do sector da saúde (menos<br />

HIV) aumentou nos últimos anos, tendo<br />

passado de 69 por cento em 2008 para 75<br />

por cento em 2009. A execução no domínio<br />

do HIV registou uma drástica redução no<br />

mesmo período, de 79 para 55 por cento. 102<br />

A execução orçamental no sector de saúde<br />

continua mais baixa que a maioria dos<br />

outros sectores, sendo uma das razões<br />

invocadas para esta diminuição o facto<br />

de o sector beneficiar mais do que outros<br />

de financiamento vertical. Por falta de<br />

informação sobre as despesas destes fundos,<br />

eles são registados como execução zero nos<br />

relatórios orçamentais, reduzindo assim os<br />

níveis gerais de execução do orçamento.<br />

3. Água e saneamento<br />

Nos últimos anos, Moçambique registou<br />

avanços significativos no abastecimento<br />

de água e no saneamento e higiene (ASH).<br />

Essas melhorias foram realizadas no<br />

quadro institucional e de políticas, tendo<br />

sido também criada uma estrutura de<br />

regulamentação que integra o Governo, o<br />

sector privado e os consumidores. Também<br />

se progrediu na descentralização da gestão.<br />

A maioria das reformas e dos investimentos,<br />

destinou-se, no entanto, ao abastecimento<br />

de água e saneamento nos grandes centros<br />

urbanos. 103 Os serviços de água rurais e<br />

peri-urbanos continuam frágeis e o acesso<br />

a saneamento e promoção da higiene,<br />

estão, em grande medida, estagnados,<br />

especialmente em áreas peri-urbanas. A<br />

capacidade institucional continua limitada,<br />

especialmente a nível local.<br />

O A Pobreza na Infância em Moçambique:<br />

Uma Análise da Situação e das Tendências<br />

2006 observou que a cobertura do<br />

abastecimento de água rural não tinha<br />

melhorado devido aos custos relativamente<br />

elevados envolvidos em Moçambique, em<br />

comparação com outros países da região. 104<br />

A partir de 2006, o Governo de Moçambique,<br />

com o apoio de parceiros, uniformizou<br />

os seus procedimentos de procurement e<br />

celebração de contratos e promoveu uma<br />

forte participação do sector privado, o que<br />

teve como consequência uma redução,<br />

na ordem dos 30 por cento, dos custos de<br />

construção de pontos de abastecimento de<br />

água rural. 105<br />

A Convenção sobre os Direitos da Criança<br />

obriga os Estados Membros a tomarem<br />

medidas adequadas para combater doenças<br />

e a desnutrição no âmbito dos cuidados<br />

de saúde primários, através, inter alia,<br />

da aplicação de tecnologias prontamente<br />

disponíveis e do fornecimento de alimentos<br />

nutritivos apropriados e água potável. A<br />

higiene e o saneamento estão também<br />

cobertos: a Convenção estabelece que os<br />

Estados Membros devem “garantir que todos<br />

os segmentos da sociedade, em especial<br />

os pais e as crianças, sejam informados,<br />

tenham acesso a educação e sejam apoiados<br />

na utilização de conhecimentos básicos<br />

de nutrição e saúde infantil, vantagens da<br />

amamentação, higiene e saneamento do<br />

meio, e prevenção de acidentes.”<br />

O principal quadro internacional para<br />

o sector de água e saneamento são os<br />

ODM, especificamente o Objectivo 7:<br />

Garantir a sustentabilidade ambiental. A<br />

meta específica relacionada com água e<br />

saneamento é a Meta 7c: “até 2015, reduzir<br />

a metade a percentagem de pessoas sem<br />

acesso a água potável e saneamento<br />

básico.” Os indicadores para avaliar o<br />

progresso na consecução desta meta<br />

incluem: a percentagem da população<br />

que utiliza uma fonte melhorada de água<br />

potável e a percentagem da população que<br />

usa instalações sanitárias melhoradas. 106 A<br />

melhoria do acesso a água e saneamento<br />

constitui uma prioridade-chave do governo<br />

no âmbito do pilar do capital humano do<br />

PARPA II, que reconhece a importância<br />

do aumento do acesso a fontes de água<br />

melhoradas e instalações sanitárias para a<br />

redução da pobreza.<br />

3.1. Quadro Institucional<br />

A Política Nacional da Água revista incide<br />

sobre descentralização, sustentabilidade,<br />

participação efectiva dos utentes, mudança<br />

dos papéis e responsabilidades do Governo,<br />

de implementador para facilitador, e<br />

maior envolvimento do sector privado,<br />

de organizações não governamentais e<br />

organizações comunitárias. Esta Política<br />

Nacional da Água tem como principais<br />

objectivos os seguintes:<br />

• l Satisfação das necessidades básicas de<br />

consumo humano de água. O objectivo a<br />

médio prazo está em conformidade com<br />

84<br />

85


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 3: SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

a meta dos ODM de reduzir para metade<br />

o número de pessoas sem acesso a um<br />

abastecimento de água seguro e fiável.<br />

O objectivo a longo prazo é garantir o<br />

acesso universal a abastecimento de água<br />

segura e aumentar os níveis de serviço;<br />

• l Melhoria do saneamento como<br />

instrumento essencial para a redução de<br />

doenças transmitidas através da água<br />

(tais como cólera, malária e diarreia),<br />

melhoria da qualidade de vida e da<br />

conservação ambiental. Foram definidas<br />

metas separadas para áreas urbanas e<br />

áreas rurais, sendo o objectivo a longo<br />

prazo contribuir para o alcance do acesso<br />

universal a serviços de saneamento;<br />

• l Uso eficiente da água para<br />

desenvolvimento económico;<br />

• l Uso da água para conservação<br />

ambiental. A Política da Água promove<br />

a conservação da água como parte da<br />

gestão dos recursos hídricos;<br />

• l Redução da vulnerabilidade a cheias e<br />

secas através de melhor coordenação<br />

e planeamento, bem como prontidão e<br />

preparação de indivíduos, comunidades e<br />

instituições nas áreas afectadas;<br />

• l Gestão conjunta das bacias hidrográficas<br />

partilhadas para promover a paz e a<br />

integração regional.<br />

Através da Política Nacional da Água, o<br />

Governo reafirmou o seu compromisso<br />

político de alcançar as metas dos ODM<br />

relacionadas com água e saneamento, o que<br />

implica a provisão de serviços melhorados<br />

de água e saneamento para mais de sete<br />

milhões de moçambicanos nas zonas rurais,<br />

e três milhões em áreas urbanas, antes de<br />

2015.<br />

O Programa Nacional de Abastecimento<br />

de Água e Saneamento Rural, de 2009, 107<br />

é o quadro para a operacionalização e<br />

implementação do Plano Estratégico de<br />

Abastecimento de Água Rural (PESA-ASR)<br />

2006-2015 com vista à consecução da meta<br />

dos ODM de atingir, a nível nacional, 70<br />

por cento de cobertura de abastecimento<br />

de água rural e 50 por cento de cobertura<br />

de saneamento rural. O objectivo de<br />

desenvolvimento do programa é contribuir<br />

para a satisfação das necessidades<br />

humanas básicas, melhorar o bem-estar e<br />

contribuir para a redução da pobreza rural<br />

em Moçambique, através da melhoria do<br />

acesso a serviços de abastecimento de água<br />

e saneamento. O programa consiste em<br />

quatro componentes:<br />

• l Apoio ao aumento sustentável da<br />

cobertura de abastecimento de água e<br />

saneamento rural;<br />

• l Desenvolvimento de tecnologias<br />

apropriadas e modelos de gestão de<br />

abastecimento de água e saneamento<br />

rural;<br />

• l Capacitação e desenvolvimento de<br />

recursos humanos no subsector de<br />

abastecimento de água e saneamento<br />

rural;<br />

• l Apoio à planificação, gestão, monitorização<br />

e financiamento descentralizados de<br />

actividades de abastecimento de água e<br />

saneamento rural.<br />

O Programa Nacional de Abastecimento<br />

de Água e Saneamento Rural reconhece<br />

a necessidade de um quadro jurídico<br />

para a participação da comunidade,<br />

para permitir que as organizações<br />

comunitárias representem os membros<br />

da comunidade e ajam em seu nome<br />

no estabelecimento de compromissos<br />

vinculativos perante autoridades públicas<br />

e entidades privadas, na recolha e gestão<br />

de fundos, movimentação de contas<br />

bancárias, compras, pagamentos e<br />

celebração de acordos com governos locais,<br />

comerciantes, fornecedores, empreiteiros<br />

e outros. Duas leis, a Lei 15/2000, de 20<br />

de Junho de 2000, sobre a definição de<br />

autoridades comunitárias e sua relação<br />

com entidades estatais, e a Lei 8/91, de 18<br />

de Julho de 1991, que define as condições<br />

para a criação de associações legalmente<br />

reconhecidas, constituem o quadro jurídico<br />

para o funcionamento de organizações<br />

comunitárias. Tais leis podem ser aplicadas<br />

isoladamente ou em conjunto para constituir<br />

uma base jurídica para o funcionamento dos<br />

Comités de Água e Saneamento.<br />

3.2. Programa Nacional de<br />

Abastecimento de Água e<br />

Saneamento Rural<br />

Em 2010, foi criada uma nova Abordagem<br />

Sectorial Integrada (PRONASAR - Programa<br />

Nacional de Abastecimento de Água e<br />

Saneamento Rural) para o sector de água<br />

e saneamento, tendo como objectivos<br />

satisfazer necessidades humanas básicas,<br />

melhorar o bem-estar e contribuir para a<br />

redução da pobreza através de crescente<br />

uso e acesso a abastecimento de água<br />

e saneamento. O PRONASAR fornece<br />

o quadro para a operacionalização e<br />

implementação do Plano Estratégico da<br />

ARSA (PESA-ASR) e tem como objectivo<br />

corrigir os desequilíbrios nas taxas de<br />

acesso e utilização nas províncias e distritos,<br />

e promover a harmonização da ajuda e<br />

reforma institucional no subsector, com<br />

especial enfoque no desenvolvimento de<br />

capacidades a nível distrital, provincial e<br />

local. A implementação do PRONASAR,<br />

iniciada em 2010, será feita em duas<br />

fases, a saber, Fase I (2010-2012) e Fase<br />

II (2013-2015). Em 2008, foi criado um<br />

código de conduta para o sector da água,<br />

assinado pelo Governo e nove parceiros de<br />

desenvolvimento, que aplica os princípios<br />

da Declaração de Paris sobre a Eficácia<br />

da Ajuda, de 2005, ao sector da água<br />

em Moçambique. O <strong>UNICEF</strong> co-preside<br />

actualmente à Abordagem Sectorial<br />

Integrada PRONASAR.<br />

3.3. Abastecimento de água<br />

A percentagem de agregados familiares em<br />

Moçambique com acesso a água potável<br />

aumentou de 36 por cento em 2003 para 43<br />

em 2008, 108 sendo um poço não protegido a<br />

fonte de água mais comum. Ainda persistem<br />

grandes disparidades no acesso a água<br />

potável entre as áreas urbanas e rurais e<br />

entre as províncias. Quase todas as casas na<br />

Cidade de Maputo (94 por cento) têm acesso<br />

a água potável, em comparação com apenas<br />

24 por cento dos agregados familiares nas<br />

províncias da Zambézia e 30 por cento em<br />

Cabo Delgado. O acesso a água potável<br />

também varia consideravelmente entre os<br />

quintis de riqueza das famílias, com apenas<br />

13 por cento dos agregados familiares<br />

no quintil mais pobre com acesso a água<br />

Figura 3.28: Percentagem de agregados familiares com acesso a água potável, 2004 e 2008<br />

80%<br />

70%<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

66%<br />

36%<br />

23%<br />

2003 2008<br />

Urbana<br />

Rural<br />

Total<br />

Fonte: Instituto Nacional de Estatística, “Inquérito Integrado à Força de Trabalho (IFTRAB) 2004/05”, Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2006 e MICS 2008.<br />

70%<br />

43%<br />

30%<br />

86<br />

87


Pelo olhar<br />

de uma<br />

criança<br />

POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

“Acordo, todas as manhãs, às 5 horas para<br />

ir buscar água. Carrego pelo menos 20<br />

recipientes grandes de água, como se vê<br />

na foto. Quando acabo, estou muito, muito<br />

cansada.”<br />

“Não temos água canalizada em casa.<br />

É principalmente responsabilidade das<br />

crianças, especialmente meninas, acarretar<br />

água. Alguns de nós temos de fazer 20<br />

viagens por dia até ao poço. Algumas fontes<br />

de água ficam ainda mais longe, algumas<br />

mesmo a 60 minutos a pé. A água pesa<br />

muito na cabeça e os braços doem-nos de<br />

tanto carregar recipientes de 20 litros de<br />

água, sobretudo se não tivermos comido<br />

nada desde a noite anterior.<br />

Começamos a acarretar água todos os dias<br />

entre as 4 e as 5 horas, incluindo finais de<br />

semana. É difícil desviar de carros e camiões<br />

com recipientes de água à cabeça, enquanto<br />

tentamos atravessar as ruas movimentadas.<br />

Quando voltamos do poço depois de cartar<br />

água estamos sempre muito cansadas.<br />

Quando está calor lá fora e não temos água<br />

suficiente para beber, ficamos com fortes<br />

dores de cabeça.<br />

Não é seguro as meninas irem buscar água<br />

sozinhas. Mesmo quando estamos juntas,<br />

temos de tomar cuidado. No ano passado,<br />

mataram uma senhora que foi sozinha<br />

buscar a água às 3 horas da manhã, e uma<br />

rapariga caiu no poço de água e morreu<br />

logo. Isto assusta-nos, e por isso é que é<br />

importante irmos ao poço com alguém.”<br />

potável, contra os 85 por cento das famílias<br />

no quintil mais rico. 109 Além disso, apenas<br />

22 por cento dos domicílios sem acesso a<br />

água potável usam um método adequado<br />

de tratamento da água (por exemplo, fervêla),<br />

aumentando assim o risco de doenças<br />

transmitidas através da água. 110<br />

Existe uma grande disparidade entre as<br />

zonas urbanas e rurais: 77 por cento dos<br />

agregados familiares urbanos têm acesso a<br />

água potável, comparativamente a apenas<br />

34 por cento dos habitantes rurais. 111 Apesar<br />

das melhorias verificadas nas áreas urbanas,<br />

há um número significativo de habitantes<br />

das áreas peri-urbanas que carece de água<br />

potável e instalações sanitárias adequadas.<br />

As estimativas da cobertura de água e<br />

saneamento em algumas zonas periurbanas<br />

em Moçambique são de apenas<br />

10 por cento. 112 Dada a falta de saneamento<br />

adequado, sistemas de drenagem, gestão<br />

de resíduos e dadas precárias práticas<br />

de higiene, as áreas peri-urbanas são<br />

frequentemente um excelente local de<br />

proliferação de doenças gastro-intestinais<br />

e malária. As pessoas que vivem em áreas<br />

peri-urbanas em Moçambique encontramse,<br />

muitas vezes, entre as mais pobres<br />

e mais vulneráveis da sociedade, uma<br />

vez que não têm um rendimento estável<br />

nem terra arável para assegurar o seu<br />

próprio consumo alimentar. A densidade<br />

Figura 3.29: Uso de fonte de água melhorada por província, 2008<br />

120%<br />

100%<br />

80%<br />

60%<br />

40%<br />

20%<br />

49%<br />

36%<br />

46%<br />

26%<br />

CAPÍTULO 3: SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

36% 37%<br />

populacional é elevada e, muitas vezes,<br />

as autoridades municipais não possuem<br />

recursos suficientes para prestar serviços<br />

para as zonas peri-urbanas. As epidemias<br />

de cólera e malária são mais comuns em<br />

assentamentos populacionais informais<br />

peri-urbanos do que em quaisquer outras<br />

áreas de Moçambique. 113 Devido à condições<br />

geográficas e climáticas – grande parte das<br />

áreas peri-urbanas seleccionadas encontrase<br />

em planícies aluviais, situadas abaixo do<br />

nível do mar – anualmente há inundações<br />

recorrentes e águas estagnadas após as<br />

chuvas que, combinadas com a prática de<br />

fecalismo a céu aberto e uso de latrinas<br />

não melhoradas vazando o seu conteúdo<br />

para o ambiente, constituem as principais<br />

causas de doença. Contrariamente ao<br />

abastecimento de água e saneamento<br />

rural, onde foi introduzida uma Abordagem<br />

Sectorial Integrada (SWAp), o saneamento<br />

nas zonas peri-urbanas ainda não tem sido<br />

matéria de prioridade.<br />

Estima-se que 5 por cento da população<br />

esteja a ser abastecida de água por um<br />

pequeno sistema canalizado. 114 Apesar de<br />

não se ter realizado nenhuma avaliação da<br />

situação, considera-se, de um modo geral,<br />

que uma grande parte destes sistemas não<br />

está operacional ou é deficiente, fornecendo<br />

água de forma irregular a apenas uma<br />

pequena percentagem de potenciais utentes.<br />

50%<br />

46%<br />

69%<br />

80%<br />

98%<br />

- Enya, 12 anos<br />

0%<br />

Niassa<br />

Cabo<br />

Delgado<br />

Nampula<br />

Zambézia<br />

Tete Manica Sofala Inhambane<br />

Gaza<br />

Maputo Maputo<br />

Província Cidade<br />

Fonte: Virgi Sajan, Zainul, 2010.<br />

Fonte: MICS 2008.<br />

88<br />

89


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 3: SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

A maioria destes sistemas é gerida pelo<br />

governo local e só funciona se as taxas de<br />

água forem subsidiadas.<br />

Para a grande maioria das famílias (95 por<br />

cento) que não têm qualquer acesso a água<br />

potável, são normalmente as mulheres<br />

adultas que acarretam água. O tempo<br />

médio para chegar a uma fonte de água é de<br />

pouco menos de uma hora (49 minutos), e<br />

são geralmente necessárias várias viagens<br />

por dia. Nos agregados familiares onde as<br />

crianças acarretam água, é muito maior a<br />

probabilidade de essa tarefa ser realizada<br />

por raparigas do que por rapazes. Os dados<br />

indicam que as raparigas acarretam água<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

22<br />

71<br />

52<br />

36 32<br />

54 55<br />

em 11 por cento das famílias nas províncias<br />

de Nampula e Gaza, com um percurso<br />

médio de 52 e 96 minutos, respectivamente,<br />

por viagem. Os homens das famílias em<br />

melhor situação têm cinco vezes mais<br />

probabilidades de acarretar água do que os<br />

homens das famílias mais pobres. 115<br />

Foi realizada uma análise de regressão<br />

multivariada para examinar mais<br />

profundamente os factores que influenciam<br />

o acesso de uma família a uma fonte de<br />

água melhorada, definida como sendo<br />

água proveniente de fontes que não sejam<br />

poços desprotegidos, lagos, rios ou lagoas<br />

(ver Figura 3.31). Os resultados mostram<br />

Figura 3.30: Tempo médio gasto para se chegar a uma fonte de água (em minutos), 2008<br />

Minutos<br />

Fonte: MICS 2008.<br />

Niassa Cabo<br />

Delgado<br />

Nampula<br />

Zambezia<br />

Tete<br />

65<br />

Manica Sofala Inhambane<br />

96<br />

Gaza<br />

28<br />

15<br />

37<br />

Maputo Maputo Urban Rural Total<br />

Província Cidade<br />

Figura 3.31: Probabilidade de acesso a fonte de água melhorada, por classificação de riqueza 2008<br />

probabilidade de acesso a fonte<br />

de água melhorada<br />

0 . 2 . 4 . 6 . 8 1<br />

-1 -.5 0 .5 1 1.5 2 2.5 3<br />

Classificação da riqueza<br />

Urbana<br />

Rural<br />

53<br />

49<br />

que, para além das características do<br />

local, a riqueza das famílias é a variável<br />

explicativa mais importante no modelo, o<br />

que não constitui surpresa. Considerou-se,<br />

no entanto, que também outros factores<br />

desempenhavam um papel importante,<br />

como o facto de as famílias chefiadas por<br />

mulheres serem significativamente mais<br />

propensas a ter acesso a água potável do<br />

que as chefiadas por homens. O nível de<br />

escolaridade do chefe de família (nível<br />

secundário ou superior) está também<br />

significativamente correlacionado com o<br />

acesso a água potável. 116<br />

É interessante notar como as características<br />

do local, ou seja, a infra-estrutura deste,<br />

jogam o principal papel na explicação da<br />

qualidade da água. As famílias rurais têm<br />

significativamente menos probabilidades<br />

de acesso a uma fonte de água melhorada<br />

do que as de zonas urbanas (17 por cento),<br />

tal como todas as famílias que vivem fora<br />

da Cidade de Maputo, especialmente nas<br />

províncias do norte.<br />

3.4. Saneamento<br />

Figura 3.32: Acesso a saneamento seguro por localização geográfica, 2004 e 2008<br />

50%<br />

45%<br />

40%<br />

35%<br />

30%<br />

25%<br />

20%<br />

15%<br />

10%<br />

5%<br />

0%<br />

34%<br />

12%<br />

4%<br />

O acesso a instalações sanitárias melhoradas<br />

continua baixo, particularmente nas áreas<br />

rurais e nas províncias do norte e centro.<br />

O acesso a saneamento seguro aumentou<br />

de 12 por cento dos agregados familiares<br />

em 2004 para 19 por cento em 2008. 117<br />

Há uma grande discrepância entre os<br />

agregados urbanos e os rurais, 47 e 6 por<br />

cento, respectivamente (ver Figura 3.32),<br />

registando-se uma taxa muito mais baixa de<br />

melhoria nos agregados rurais.<br />

O Programa de Monitorização Conjunta<br />

OMS/<strong>UNICEF</strong> constatou que 74 por cento<br />

dos 11,7 milhões de pessoas que vivem<br />

nas zonas rurais em Moçambique praticam<br />

fecalismo a céu aberto. 118 Apenas 5 por cento<br />

da população tinha acesso a instalações<br />

sanitárias melhoradas e 21 por cento a<br />

instalações não melhoradas. No entanto, a<br />

melhoria do acesso a saneamento continua<br />

a ser um dos principais objectivos do<br />

governo. Reflectindo este compromisso, o<br />

Ministério das Obras Públicas e Habitação<br />

2003 2008<br />

Urbano Rural Total<br />

Fonte: Instituto Nacional de Estatística, “Inquérito Integrado à Força de Trabalho (IFTRAB) 2004/05”, Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2006 e MICS 2008.<br />

47%<br />

19%<br />

6%<br />

Fonte: Cálculos do <strong>UNICEF</strong> baseados em MICS 2008<br />

90<br />

91


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 3: SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

e o Ministério da Saúde foram agraciados<br />

com o Prémio AfricaSan do Conselho<br />

Africano de Ministros da Água (AMCOW<br />

– African Ministers’ Council on Water), pela<br />

sua liderança fazendo com que 185 aldeias<br />

atingissem o estatuto de Livres de Fecalismo<br />

a Céu Aberto em 2009. 119 O AMCOW foi<br />

fundado em 2002, em Abuja, na Nigéria,<br />

principalmente para promover cooperação,<br />

segurança, desenvolvimento social e<br />

económico e erradicação da pobreza entre<br />

os estados membros, através da gestão de<br />

recursos hídricos e prestação de serviços<br />

Figura 3.33: Acesso a instalações sanitárias melhoradas, 2008<br />

90%<br />

80%<br />

70%<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

15%<br />

6%<br />

Niassa Cabo<br />

Delgado<br />

Fonte: MICS 2008.<br />

15%<br />

Nam -<br />

pula<br />

8% 3%<br />

Zambézia<br />

14%<br />

22%<br />

de abastecimento de água. Os Prémios<br />

AfricaSan do AMCOW são especificamente<br />

para reconhecer notáveis esforços e<br />

conquistas em matéria de saneamento e<br />

higiene em África, com impacto tangível<br />

na melhoria do saneamento e higiene e em<br />

mudanças de comportamento sustentáveis<br />

em grande escala. Eles visam melhorar o<br />

perfil de saneamento e higiene chamando<br />

a atenção para abordagens bem sucedidas,<br />

promovendo a excelência na liderança,<br />

inovação e saneamento, bem como<br />

melhorias na higiene em África.<br />

16%<br />

Tete Manica Sofala Inham -<br />

bane<br />

Figura 3.34: Probabilidade de acesso a fonte de saneamento melhorado<br />

Probabilidade de acesso a fonte de saneamento melhorado<br />

0 . 2 . 4 . 6 . 8 1<br />

24%<br />

Gaza<br />

47%<br />

85%<br />

Maputo Maputo<br />

Província Cidade<br />

47%<br />

19%<br />

6%<br />

Urban Rural Total<br />

-1 -.5 0 .5 1 1.5 2 2.5 3<br />

Classificação de riqueza<br />

Urbano<br />

Rural<br />

Fonte: Cálculos do <strong>UNICEF</strong> baseados no MICS 2008<br />

Foi realizada uma análise de regressão para<br />

examinar mais profundamente os factores<br />

que afectam o acesso dos agregados<br />

familiares a serviços de saneamento<br />

adequados, definidos como sendo a posse<br />

ou utilização de um sanitário não tradicional.<br />

Tal como acontece com as fontes de água<br />

melhoradas, há três factores que são<br />

positiva e estatisticamente significativos<br />

para um saneamento melhorado: a riqueza<br />

do agregado familiar, a escolaridade do<br />

chefe de família e a localização. Além disso,<br />

viver num agregado familiar chefiado por<br />

uma mulher implica maior probabilidade de<br />

acesso a saneamento melhorado, embora<br />

o efeito seja menor do que em relação à<br />

escolaridade (2,5 por cento contra 24 por<br />

cento para níveis superiores de ensino). 120<br />

A infra-estrutura do local desempenha um<br />

papel importante, com todas as províncias<br />

a apresentarem menor probabilidade de<br />

acesso do que a Cidade de Maputo, embora<br />

os efeitos sejam menores do que no acesso<br />

a fonte de água melhorada (ver Figura 3.34).<br />

3.5. Sustentabilidade das infraestruturas<br />

de ASH<br />

Estudos recentes realizados pela Fundação<br />

de Água e Saneamento (Fairwater)<br />

indicaram existirem 50.000 sistemas de<br />

abastecimento de água não funcionais<br />

em toda a África, o que representa uma<br />

perda de investimento de cerca de 215-360<br />

milhões de dólares americanos. 121 Com o<br />

aumento da participação do sector privado e<br />

da sociedade civil na construção de pontos<br />

de abastecimento de água e instalações<br />

sanitárias domiciliares, o Governo de<br />

Moçambique está a mudar o seu enfoque<br />

para a garantia de sustentabilidade e<br />

qualidade de infra-estruturas.<br />

A sustentabilidade do abastecimento<br />

de água rural exige que se dê especial<br />

atenção ao controlo de qualidade durante<br />

todo o ciclo do projecto de abastecimento<br />

de água rural, nomeadamente durante a<br />

preparação dos documentos de licitação e<br />

especificações técnicas; durante a construção<br />

de pontos de abastecimento de água;<br />

durante o processo de aquisição de todos<br />

os materiais e equipamentos; e durante a<br />

capacitação das comunidades. As recentes<br />

verificações de sustentabilidade realizadas<br />

por auditores externos a instalações de<br />

água rural e saneamento nas províncias de<br />

Tete, Manica, Sofala e Zambézia indicam<br />

que aproximadamente 30 por cento de<br />

todas as fontes de água rural se encontram<br />

inoperacionais devido à falta de sentido de<br />

posse comunitária das instalações, uma fraca<br />

cadeia de reposição de peças sobressalentes<br />

e falta de mecânicos qualificados. 122<br />

Em 2010, o <strong>UNICEF</strong> realizou a Avaliação do<br />

Impacto de Meio Termo e de Verificação da<br />

Sustentabilidade do Programa “Iniciativa<br />

Um Milhão” nas províncias de Tete, Manica<br />

e Sofala. 123 A Avaliação de Impacto de<br />

Meio Termo consistiu num case controlled<br />

panel study(– Nota do Editor: quadro de<br />

monitoramento que avalia o impacto das<br />

intervenções no início, a meio termo e no<br />

fim do programa, consistindo na análise de<br />

uma amostra de várias famílias –)realizado<br />

em 80 aldeias e escolas de controlo e<br />

80 aldeias e escolas de tratamento ou<br />

intervenção. Os resultados dos 1.600<br />

inquéritos domiciliares revelaram um<br />

aumento de 27 e 9 por cento de utilização de<br />

fontes de água e saneamento melhoradas,<br />

respectivamente, na zona do programa (18<br />

distritos), entre 2008 e 2010, e uma redução<br />

de 6 por cento nos níveis de doenças<br />

diarreicas auto-reportadas. Além disso, a<br />

avaliação da sustentabilidade observou um<br />

aumento nos níveis de sustentabilidade quer<br />

institucional quer das infra-estruturas, no<br />

programa.<br />

3.6. Água e saneamento nas<br />

escolas<br />

O acesso a água potável e saneamento nas<br />

escolas, em Moçambique, ainda não está<br />

bem definido devido à falta de indicadores<br />

e ferramentas de pesquisa acordados.<br />

No entanto, num estudo de base recente<br />

realizado em cinco distritos, constatou-se<br />

que apenas 28 por cento das escolas tinha<br />

92<br />

93


Pelo olhar<br />

de uma<br />

criança<br />

POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 3: SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

Caixa 3.3. Dados do governo sobre acesso versus dados dos agregados familiares sobre o uso<br />

Existem duas fontes principais de informação sobre acesso e uso de água e saneamento: os<br />

sistemas de monitoria de rotina da Direcção Nacional de Águas (DNA) e os inquéritos aos<br />

agregados familiares realizados pelo Instituto Nacional de Estatística. Estas duas fontes usam<br />

indicadores diferentes, bem como diferentes definições de áreas urbanas e rurais. xvii<br />

Abastecimento de Água<br />

Segundo a DNA, em 2009, 52 por cento da população em áreas rurais tinha acesso a água<br />

proveniente de uma fonte melhorada, em comparação com os 30 por cento relatados no MICS<br />

2008. Os dados sobre acesso foram calculados com base no pressuposto de que um ponto de<br />

abastecimento de água serve, em média, 500 pessoas. Análises recentes do Governo indicam<br />

que a média de utentes por cada ponto de água melhorada é de cerca de 287 pessoas, valor este<br />

considerado como estando amplamente de acordo com a capacidade sustentável das bombas de<br />

água manuais utilizadas no país e com as normas aplicadas noutros países africanos. Em 2010, o<br />

Governo, com o apoio de parceiros de desenvolvimento, concordou em adoptar um novo padrão<br />

de planificação de 300 pessoas por cada ponto de abastecimento de água, a uma distância de<br />

um quilómetro a pé, com capacidade para fornecer 20 litros por pessoa por dia. Além disso, a<br />

estimativa de cobertura de abastecimento de água rural será baseada em dados de inquéritos aos<br />

agregados familiares realizados pelo Instituto Nacional de Estatística ou outros inquéritos nacionais<br />

representativos, relacionados com o acesso e uso de abastecimento de água e saneamento.<br />

Saneamento<br />

Relativamente à população com acesso a saneamento melhorado nas áreas rurais, o número<br />

apresentado pela DNA é de 40 por cento, enquanto o valor reportado no MICS 2008 é de apenas<br />

6 por cento. Esta discrepância deve-se ao fraco uso das instalações sanitárias existentes pelas<br />

pessoas, decorrente do baixo nível de conhecimento sobre saneamento, e de ambiguidades<br />

quanto à classificação de instalações sanitárias nos inquéritos aos agregados familiares. Prevê-se<br />

incluir melhores definições de instalações sanitárias em posteriores inquéritos.<br />

“Esta imagem mostra a casa de banho.<br />

A água escorre da casa de banho, por<br />

isso a área cheira muito mal. As crianças<br />

brincam aqui porque não há lugares para<br />

elas brincarem. Mas não é saudável para as<br />

crianças brincar em áreas que não estejam<br />

limpas.”<br />

“O que está a escorrer da casa de banho<br />

provoca problemas de saúde”<br />

“Temos casas de banho nos nossos quintais,<br />

mas não estão muito bem construídas. São<br />

feitas com chapas de zinco onduladas ou<br />

caniço e não têm electricidade. Muitas delas<br />

têm uma capulana em vez de porta. Quando<br />

o vento abana a capulana, todos conseguem<br />

ver-nos lá dentro. Eu fico tão envergonhada!<br />

Como a casa de banho não tem luz, alguns<br />

já caímos na bacia de banho e magoámo-<br />

nos. Às vezes temos medo de lá ir durante a<br />

noite e procuramos sempre alguém para nos<br />

acompanhar.<br />

Quando chove, a água provoca muitos<br />

problemas. Atrai moscas que podem<br />

provocar cólera, e o cheiro é insuportável.<br />

As casas de banho ficam com lama e sujas<br />

com a água que escorre, tanto dentro<br />

como fora. Como resultado, o lixo e a água<br />

suja escorrem para o quintal. As crianças<br />

geralmente brincam ali perto por falta de<br />

espaço para brincar. Assim, acabam por ficar<br />

doentes por causa da água contaminada que<br />

se mistura com a lama.”<br />

- Marta, 10 anos<br />

Fonte: Virgi Sajan, Zainul, 2010.<br />

acesso a água potável, e menos de 28 por<br />

cento a saneamento.<br />

Para acelerar o progresso rumo aos ODM, o<br />

Governo de Moçambique está a promover<br />

um programa denominado “Escolas Amigas<br />

da Criança”, com o objectivo de fornecer<br />

um pacote mínimo de qualidade a todas<br />

as escolas em distritos-alvo. Entre outras<br />

intervenções, o programa fornece água<br />

potável e instalações sanitárias adequadas a<br />

todas as escolas nos distritos seleccionados,<br />

tendo este esforço, até 2008, resultado num<br />

aumento da percentagem de escolas com<br />

água, de 28 para 80 por cento nos cinco<br />

distritos do programa. A introdução de<br />

SANTOLIC nas escolas e na formação das<br />

principais organizações não governamentais<br />

de implementação e funcionários públicos<br />

levou a um aumento do acesso a saneamento<br />

nas escolas.<br />

O Relatório da Avaliação Anual de Campo<br />

do projecto Escolas Amigas da Criança,<br />

do <strong>UNICEF</strong>, 124 mostra terem-se registado<br />

progressos consideráveis na matrícula, na<br />

retenção e no desempenho escolar das<br />

crianças em Moçambique, tendo o rácio<br />

líquido de matrículas no ensino primário<br />

aumentado de 69 por cento em 2003 para<br />

95 por cento em 2007. A Tabela 3.4 ilustra<br />

o progresso no aumento de matrículas nas<br />

escolas dos cinco distritos seleccionados, onde<br />

as actividades estão a ser implementadas.<br />

xvii O sector da água considera que as áreas urbanas incluem apenas as 13 principais cidades, enquanto a definição de<br />

áreas urbanas usada pelo Instituto Nacional de Estatística no IDS de 2003 incluía 13 cidades e 68 vilas secundárias.<br />

94<br />

95


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 3: SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

Caixa de texto 3.4 : Saneamento Total Liderado pela Comunidade<br />

A Iniciativa Um Milhão é uma parceria programática de seis anos entre o governo dos Países<br />

Baixos e o <strong>UNICEF</strong>, que visa apoiar os esforços do Governo de Moçambique na garantia de um<br />

fornecimento adequado de água e saneamento e a adopção de melhores práticas de higiene para<br />

um milhão de pessoas em 18 distritos rurais, dos quais 6 na província de Tete, 6 em Sofala e 6 em<br />

Manica.<br />

Depois de a utilização da metodologia de Transformação Participativa de Higiene e Saneamento,<br />

através de organizações não-governamentais contratadas pelos municípios, não ter conseguido<br />

alcançar os resultados desejados nas actividades do programa de promoção da higiene e<br />

saneamento básico, decidiu-se introduzir a Abordagem Comunitária ao Saneamento Total. Em<br />

Moçambique, esta iniciativa assumiu a forma de uma combinação de Saneamento Total Liderado<br />

pela Comunidade (SANTOLIC) com um sistema de recompensas/prémios. O SANTOLIC é uma<br />

metodologia inovadora para mobilização das comunidades para a eliminação completa do<br />

fecalismo a céu aberto. As comunidades são orientadas para a realização da sua própria avaliação<br />

e análise do fecalismo a céu aberto e a tomarem as suas próprias medidas para se livrarem desta<br />

prática. No cerne do programa de SANTOLIC está o reconhecimento de que fornecer simplesmente<br />

as casas de banho não garante o seu uso nem resulta em melhores condições sanitárias e de<br />

higiene. As abordagens anteriores ao saneamento prescreviam altos padrões iniciais e ofereciam<br />

subsídios como incentivo, mas estas medidas levaram, muitas vezes, a uma adopção irregular,<br />

a problemas de sustentabilidade a longo prazo e uso apenas parcial, além de terem criado uma<br />

cultura de dependência de subsídios. O fecalismo a céu aberto e o ciclo de contaminação fecal-oral<br />

continuaram a propagar doença.<br />

Pelo contrário, o SANTOLIC centra-se na mudança de comportamento necessária para garantir<br />

melhorias reais e sustentáveis investindo na mobilização da comunidade em vez de no<br />

equipamento, e mudando o enfoque da construção de sanitários de cada agregado familiar para<br />

a criação de comunidades livres de fecalismo a céu aberto. Ao consciencializar as pessoas<br />

para o facto de, enquanto continuarem a defecar ao ar livre, mesmo que seja uma minoria,<br />

estão todos em risco de contrair doenças, o SANTOLIC promove e despoleta na comunidade<br />

o desejo de mudança, impulsiona-a para a acção e encoraja a inovação, o apoio mútuo e a<br />

procura de soluções locais adequadas, levando assim a uma maior apropriação (ownership) e<br />

sustentabilidade.<br />

3.7. Financiamento do sector e<br />

dotações orçamentais<br />

Aproximadamente 85% dos investimentos<br />

do sector nos últimos três anos<br />

vieram por via da assistência oficial<br />

ao desenvolvimento. Os orçamentos<br />

reais do sector para o período 2006-<br />

2008 aumentaram em 150 por cento em<br />

comparação com o período 2003-2005 (de<br />

cerca de 46 milhões para 116 milhões de<br />

dólares americanos). De igual modo, os<br />

desembolsos aumentaram em 155 por cento<br />

durante o mesmo período 125 , apesar de a<br />

taxa global de desembolso ter permanecido<br />

relativamente constante, em cerca de 60 por<br />

cento. O financiamento “no tesouro” (ontreasury)<br />

é desembolsado a uma taxa de<br />

82 por cento, contrariamente aos projectos<br />

geridos por doadores, cujos desembolsos<br />

são efectuados a uma taxa média de 58 por<br />

cento. 126 A melhoria da taxa de desembolso<br />

do Governo de Moçambique deveu-se a uma<br />

combinação de factores, entre os quais a<br />

Tabela 3.4: Número de alunos matriculados, por sexo, em cinco distritos de Escolas Amigas da Criança,<br />

2006-2008<br />

Distritos<br />

Maganja da<br />

Costa<br />

2006 2008 Aumento %<br />

Rapazes Raparigas Total Rapazes Raparigas Total Total<br />

31,579 18,335 49,914 41,485 26,707 68,192 36,6%<br />

Buzi 17,448 13,007 30,455 19,779 16,260 36,039 18.3%<br />

Mossurize 16,226 11,786 28,012 22,987 17,840 40,827 45.7%<br />

Changara 20,706 17,836 38,542 22,240 20,045 42,285 9.7%<br />

Chibuto 22,645 22,387 45,032 23,337 23,257 46,594 3.5%<br />

Fonte: <strong>UNICEF</strong>, “Assessment: Child-Friendly Schools Initiative in <strong>Mozambique</strong> Annual Field Assessment Report”, <strong>UNICEF</strong><br />

Moçambique, Maputo, 2009.<br />

A WaterAid e o <strong>UNICEF</strong> tornaram-se importantes divulgadores e defensores do SANTOLIC,<br />

estando hoje esta iniciativa presente em mais de 20 países da Ásia, África, América Latina e<br />

Médio Oriente. O SANTOLIC tem um grande potencial para contribuir para a consecução dos<br />

ODM, quer directamente, influenciando os resultados relacionados com água e saneamento<br />

(meta 7), quer indirectamente, através de impactos indirectos de um melhor saneamento na luta<br />

contra doenças relevantes, especialmente diarreia (meta 6), melhoramento da saúde materna<br />

(meta 5) e redução da mortalidade infantil (meta 4).<br />

Além de criar uma cultura de bom saneamento, o SANTOLIC também pode ser um ponto de<br />

apoio eficaz para outras actividades de subsistência, mobilizando os membros da comunidade<br />

para acção colectiva e capacitando-os a empreender futuramente outras acções. Os resultados<br />

do SANTOLIC ilustram o que as comunidades podem alcançar através da realização de novas<br />

iniciativas para o seu próprio desenvolvimento.<br />

96<br />

97


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 3: SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

eliminação do antigo sistema duodecimal,<br />

de atribuição do orçamento, a introdução<br />

do novo sistema de gestão financeira do<br />

Estado (SISTAFE), o melhoramento dos<br />

processos de procurement, os desembolsos<br />

mais pontuais dos doadores, melhores<br />

estimativas das datas de arranque de<br />

projectos, e a permissão, por parte de alguns<br />

doadores, de o Governo de Moçambique<br />

pagar as suas contribuições de contrapartida<br />

ou impostos usando os mesmos créditos ou<br />

subvenções dos projectos.<br />

O investimento médio anual necessário<br />

para cumprir as metas dos ODM nas<br />

zonas rurais foi estimado em 70 milhões<br />

de dólares americanos. 127 A primeira fase<br />

do Programa Nacional de Abastecimento<br />

de Água e Saneamento Rural (2009-2011)<br />

vai requerer cerca de 200 milhões de<br />

dólares americanos. Embora as despesas<br />

previstas para água urbana ultrapassem o<br />

investimento estimado necessário, há um<br />

défice de aproximadamente 35 por cento<br />

em relação ao sector de água rural. 128 Os<br />

compromissos orçamentais actuais para o<br />

saneamento indicam que foram prometidos<br />

cerca de 5 por cento dos fundos necessários<br />

para o saneamento rural, 3 milhões de<br />

dólares americanos por ano, contra os cerca<br />

de 22 milhões necessários. No saneamento<br />

urbano, foi prometido cerca de metade do<br />

montante necessário. 129 Dado o considerável<br />

défice, é pouco provável que se alcancem os<br />

ODM relacionados com água e saneamento.<br />

Estão, no entanto, a ser mobilizados recursos<br />

para preencher o défice de financiamento,<br />

quer através da criação de um fundo comum,<br />

quer melhorando a coordenação dos fundos<br />

do programa.<br />

O Governo de Moçambique reportou em 2010<br />

que 7,6 por cento (241 milhões de dólares<br />

e 8.464 milhões de meticais) do orçamento<br />

total do Estado foram atribuídos ao sector<br />

da água, 130 o que representa um aumento<br />

significativo comparativamente aos 2,8 por<br />

cento registados em 2003 (ver Tabela 3.5).<br />

Numa tentativa para reduzir as disparidades<br />

geográficas, o Programa Nacional de<br />

Abastecimento de Água e Saneamento Rural<br />

será implementado em carácter prioritário em<br />

províncias e distritos que reúnam os critérios<br />

acordados, que incluem a cobertura de água<br />

e saneamento actual, o nível de pobreza,<br />

compromissos escritos e colocação adequada<br />

de pessoal, entre outros.<br />

Apesar deste aumento na percentagem do<br />

orçamento total atribuída ao sector da água<br />

e saneamento, a contribuição do governo<br />

sofreu um grande retrocesso. Em 2006, 66 por<br />

cento das despesas para água e saneamento<br />

foram cobertas com financiamento externo. 131<br />

De acordo com uma análise sobre o<br />

investimento total do sector em 2010, 85<br />

por cento do financiamento provém agora<br />

de recursos externos, embora esta situação<br />

tenha conhecido uma ligeira diminuição a<br />

partir de 2009. 132 , 133<br />

Tabela 3.5: Financiamento do sector da água como percentagem do orçamento do estado, 2003-2010, anos<br />

seleccionados<br />

2003 2004 2005 2008 2009 2010<br />

3% 2% 2,5% 5% 4,5% 8%<br />

Fonte: Ministério das Finanças, 2008, 2010.<br />

4. Conclusões<br />

Há várias causas subjacentes às elevadas<br />

taxas de mortalidade e condições de saúde<br />

precárias das crianças moçambicanas, bem<br />

como substanciais barreiras à melhoria da<br />

sua sobrevivência e desenvolvimento.<br />

Uma das principais causas subjacentes<br />

da morbilidade e mortalidade infantil em<br />

Moçambique é a falta de acesso a serviços<br />

públicos, tanto em termos de acesso físico<br />

como económico, e a má qualidade destes<br />

serviços. As barreiras ao acesso e uso de<br />

serviços são particularmente graves para<br />

os agreados familiares mais pobres, para as<br />

pessoas que vivem em áreas rurais e para<br />

as que têm menos escolaridade, o que tem<br />

directamente que ver com maior índice de<br />

mortalidade nas crianças desses agregados.<br />

Existem disparidades significativas na<br />

alocação de recursos do nível central a<br />

determinadas províncias e áreas rurais, o<br />

que se pode em parte atribuir a insuficientes<br />

ligações entre instrumentos da política de<br />

saúde, que enfatizam a redução da pobreza<br />

e a necessidade de ter como alvo grupos<br />

vulneráveis, e a planificação e sistemas de<br />

alocação de recursos do sector.<br />

A pobreza continua a ser uma das principais<br />

causas subjacentes da mortalidade infantil.<br />

As taxas de mortalidade nas crianças das<br />

famílias mais pobres são significativamente<br />

mais elevadas do que as das famílias em<br />

melhor situação. Dados do inquérito MICS<br />

2008 mostram que os níveis de mortalidade<br />

infantil começam a diminuir de forma<br />

significativa apenas no quarto quintil de<br />

riqueza. A pobreza contribui para as altas<br />

taxas de mortalidade infantil não só devido<br />

às desvantagens que as famílias mais<br />

pobres enfrentam, tais como menor acesso<br />

a serviços, mais baixos níveis educacionais<br />

e ambientes de vida menos saudáveis, mas<br />

também devido à falta imediata de dinheiro<br />

para pagar por serviços ou medicação.<br />

As práticas de prestação de cuidados,<br />

entre as quais as práticas de alimentação<br />

infantil, higiene e saneamento, e a gestão<br />

de doenças da infância desempenham<br />

um papel importante na sobrevivência e<br />

desenvolvimento saudável das crianças.<br />

As práticas de prestação de cuidados<br />

não só têm um impacto directo na saúde<br />

das crianças, como também moldam o<br />

comportamento e tratamento dos seus<br />

próprios filhos mais tarde na vida. Devido<br />

aos baixos níveis educacionais, ao limitado<br />

acesso a informação sobre prevenção e<br />

tratamento de doenças e ao ambiente pouco<br />

saudável de muitas famílias, as práticas dos<br />

provedores de cuidados são, muitas vezes,<br />

inadequadas ou mesmo prejudiciais à saúde<br />

das crianças.<br />

O acesso a água potável e, particularmente,<br />

a saneamento, continua baixo. Água potável<br />

e saneamento são essenciais para melhorar<br />

a saúde das crianças e das famílias, devido à<br />

elevada prevalência de doenças transmitidas<br />

pela água. A falta de acesso a água potável<br />

retira também tempo das actividades<br />

produtivas, uma vez que o tempo médio<br />

gasto até uma fonte de água é de quase uma<br />

hora, uma deslocação mais frequentemente<br />

feita por mulheres e raparigas.<br />

Apesar dos progressos realizados na<br />

criação de um ambiente propício (quadro<br />

institucional sectorial e directrizes e<br />

abordagens de implementação conexas),<br />

a capacidade para implementar as<br />

intervenções na escala necessária e com<br />

a qualidade exigida nem sempre está<br />

presente a nível subnacional. Além disso, as<br />

avaliações do sector recentemente levadas<br />

a cabo mostraram que, apesar dos avanços<br />

nas áreas urbanas, um número significativo<br />

de pessoas a viver em áreas peri-urbanas<br />

carece de água potável e instalações<br />

sanitárias adequadas.<br />

98<br />

99


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 3: SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

A melhoria das práticas de higiene e<br />

saneamento, particularmente em áreas<br />

rurais e peri-urbanas, deverá ser uma<br />

prioridade nacional, e exige uma forte<br />

colaboração multissectorial para que se<br />

tratem todas as causas subjacentes. Embora<br />

estejam a ser empreendidas acções para<br />

o melhoramento das condições sanitárias<br />

(através de campanhas de saneamento), são<br />

ainda necessários esforços suplementares<br />

a todos os níveis, com um forte enfoque<br />

de abordagem comunitária. O SANTOLIC é<br />

uma metodologia inovadora para mobilizar<br />

as comunidades no sentido de fazerem<br />

a sua auto-avaliação e análise do seu<br />

próprio saneamento, e tomarem medidas<br />

para melhorar a sua situação de forma<br />

sustentável.<br />

Referências<br />

1 Black, Robert E., et al., ‘Child Survival’, The<br />

Lancet, vol. 362, no. 9387, 13 de Setembro de<br />

2003, pp. 2226.<br />

2 World Health Organization, ‘Children:<br />

reducing mortality’, descarregado de: http://<br />

www.who.int/mediacentre/factsheets/fs178/<br />

en/index.html, consultado em 9 Dezembro de<br />

2010.<br />

3 United Nations Children’s Fund, ‘The State<br />

of the World’s Children 2008,’ <strong>UNICEF</strong>, Nova<br />

Iorque, 2009.<br />

4 World Health Organization, ‘Turning the tide<br />

of malnutrition: responding to the challenge<br />

of the 21st century.’ Genebra, 2000.<br />

5 World Health Organization, ‘Environmental<br />

burden of disease: Country profiles’, Genebra,<br />

2007.<br />

6 Prüss-Üstün A, Bos R, Gore F, Bartram J.,<br />

‘Safer water, better health: costs, benefits and<br />

sustainability of interventions to protect and<br />

promote health.’ OMS, Genebra, 2004.<br />

7 Brown, K.H., ‘Diarrhoea and malnutrition’.<br />

Journal of Nutrition, 133, 328S-332S, 2003.<br />

8 Black, Robert E., et al., ‘Child Survival’, The<br />

Lancet , vol. 362, no. 9387, 13 de Setembro de<br />

2003, pp. 915–916.<br />

9 Cálculos dos autores baseados em:<br />

<strong>Mozambique</strong> National Institute of Health,<br />

London School of Hygiene and Tropical<br />

Medicine, e <strong>UNICEF</strong>, <strong>Mozambique</strong> National<br />

Childhood Mortality Study 2009, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2009.<br />

10 United Nations Children’s Fund, The State<br />

of the World’s Children 2009, <strong>UNICEF</strong>, Nova<br />

Iorque, 2009.<br />

11 Ibid.<br />

12 Governo de Moçambique e Nações Unidas,<br />

Report on the Millenium Development Goals,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2010.<br />

13 United Nations Children’s Fund, The State<br />

of the World’s Children 2009, <strong>UNICEF</strong>, Nova<br />

Iorque, 2009.<br />

14 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />

Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

15 Ministério da Planificação e Desenvolvimento,<br />

“Pobreza e Bem-estar em Moçambique:<br />

Terceira Avaliação Nacional da Pobreza”,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, Setembro<br />

2010.<br />

16 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />

Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

17 Cálculos do <strong>UNICEF</strong> baseados em: Instituto<br />

Nacional de Estatística, ‘MICS 2008, Relatório<br />

Final,’ Governo de Moçambique, Maputo,<br />

2010.<br />

18 <strong>Mozambique</strong> National Institute of Health,<br />

London School of Hygiene and Tropical<br />

Medicine, <strong>Mozambique</strong> National Childhood<br />

Mortality Study 2009, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2009.<br />

19 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />

Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

20 Ministério da Planificação e Desenvolvimento,<br />

“Pobreza e Bem-estar em Moçambique:<br />

Terceira Avaliação Nacional da Pobreza”,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, Setembro<br />

de 2010.<br />

21 Instituto Nacional de Estatística,‘MICS 2008,<br />

Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

22 Ibid.<br />

23 Instituto Nacional de Estatística, Inquérito<br />

Demográfico e de Saúde 2003, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, Junho de 2005.<br />

24 Instituto Nacional de Estatística, Inquérito<br />

de Indicadores Múltiplos 2008, Sumário,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2008.<br />

25 Instituto Nacional de Estatística,‘MICS 2008,<br />

Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

26 Ibid.<br />

100<br />

101


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 3: SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

27 Government of <strong>Mozambique</strong>, Report on<br />

the Millenium Development Goals 2010,<br />

Moçambique, Maputo, 2010.<br />

42 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />

Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

56 Instituto Nacional de Estatística, Inquérito<br />

Demográfico e de Saúde 2003, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, Junho de 2005.<br />

70 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />

Relatório Final’, Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

28 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />

Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

29 Ibid.<br />

30 Cálculos do <strong>UNICEF</strong> baseados em: Instituto<br />

Nacional de Estatística, ‘MICS 2008, Relatório<br />

Final,’ Governo de Moçambique, Maputo,<br />

2010.<br />

31 Instituto Nacional de Estatística,‘MICS 2008,<br />

Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

32 Ibid.<br />

33 Ministério da Planificação e Desenvolvimento,<br />

“Pobreza e Bem-estar em Moçambique:<br />

Terceira Avaliação Nacional da Pobreza”,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, Setembro<br />

2010.<br />

34 Shrimpton, Roger, et al., ‘Worldwide Timing of<br />

Growth Faltering: Implications for nutritional<br />

interventions’, Pediatrics, vol. 107, no. 5, Maio<br />

de 2001.<br />

35 World Health Organization, Global Strategy<br />

for Infant and Young Child Feeding, OMS,<br />

Genebra, 2003.<br />

36 Instituto Nacional de Estatística,‘MICS 2008,<br />

Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

37 Ibid.<br />

38 Instituto Nacional de Estatística, Inquérito<br />

de Indicadores Múltiplos 2008, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2010.<br />

39 Pedro, A., et al., Levantamento das Barreiras<br />

para o Aleitamento Materno Exclusivo,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2009.<br />

40 Instituto Nacional de Estatística, Inquérito<br />

de Indicadores Múltiplos 2008, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2010.<br />

41 Pan American Health Organization e World<br />

Health Organization, Guiding principles of<br />

complementary feeding of the breastfed<br />

child, Organização Pan-Americana de Saúde,<br />

Washington, D.C., 2002.<br />

43 World Health Organization, HIV and Infant<br />

Feeding: New evidence and programmatic<br />

experience – Report of a technical consultation<br />

held on behalf of the Inter-agency Task Team<br />

(IATT) on Prevention of HIV Infections in<br />

Pregnant Women, Mothers and their Infants,<br />

OMS, Genebra, Outubro de 2006.<br />

44 World Health Organization, HIV and<br />

Infant Feeding: Revised principles and<br />

recommendations – Rapid advice, OMS,<br />

Genebra, Novembro de 2009.<br />

45 World Health Organization, The World Health<br />

Report: Mental and neurological disorders,<br />

OMS, 2001.<br />

46 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />

Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

47 Ministério da Saúde, Semana Nacional de<br />

Saúde da Criança Relatório Final,Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 11 de Junho de 2008.<br />

48 Ministério da Saúde, Direcção Nacional de<br />

Saúde , Inquérito nacional sobre a deficiência<br />

de vitamina A, prevalência de anemia e<br />

malária em crianças dos 6-59 meses e<br />

respectivas mães, Instituto Nacional de<br />

Saúde, Maputo, 2003.<br />

49 Ibid.<br />

50 Instituto Nacional de Estatística,‘MICS 2008,<br />

Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

51 Ibid.<br />

52 United Nations Children’s Fund, The State<br />

of the World’s Children 2009, <strong>UNICEF</strong>, Nova<br />

Iorque, 2009.<br />

53 Ibid.<br />

54 Ministério da Saúde, Desempenho do Sector<br />

da Saúde, Oitava Avaliação Conjunta Anual<br />

ACA VIII, Governo de Moçambique, Maputo,<br />

2009.<br />

55 Save the Children, State of the World’s<br />

Mothers 2004, Westport, Connecticut, Maio de<br />

2004.<br />

57 Ministério da Saúde, Inquérito nacional sobre<br />

a deficiência de vitamina A, prevalência de<br />

anemia e malária em crianças dos 6-59 meses<br />

e respectivas mães, Instituto Nacional de<br />

Saúde, Maputo, 2003.<br />

58 Instituto Nacional de Estatística, Inquérito<br />

Demográfico e de Saúde 2003, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, June 2005.<br />

59 Instituto Nacional de Estatística, Inquérito<br />

de Indicadores Múltiplos 2008, Sumário,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2008.<br />

60 Instituto Nacional de Estatística, Inquérito<br />

Demográfico e de Saúde 2003, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, Junho de 2005.<br />

61 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />

Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

62 Ibid.<br />

63 Ibid.<br />

64 Ministério da Saúde e Save the Children,<br />

‘Routine annual and semester reports,’ (dados<br />

não publicados), 2009.<br />

65 Ministério da Saúde, Inquérito nacional sobre<br />

a deficiência de vitamina A, prevalência de<br />

anemia e malária em crianças dos 6-59 meses<br />

e respectivas mães, Instituto Nacional de<br />

Saúde, Maputo, 2003.<br />

66 Instituto Nacional de Estatística, Inquérito<br />

Demográfico e de Saúde 2003, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, Junho 2005.<br />

67 Ministério da Saúde “Desempenho do Sector<br />

da Saúde Oitava Avaliação Conjunta Anual<br />

ACA VIII,” Ministério da Saúde, Maputo, 2009.<br />

68 <strong>Mozambique</strong> National Institute of Health,<br />

London School of Hygiene and Tropical<br />

Medicine and <strong>UNICEF</strong>, <strong>Mozambique</strong> National<br />

Childhood Mortality Study 2009, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2009.<br />

69 Ministry of Health, National Malaria<br />

Control Programme, Malaria Indicator<br />

Survey, <strong>Mozambique</strong> 2007, p, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2008.<br />

71 World Health Organization and Roll Back<br />

Malaria partnership, Global Malaria Action<br />

Plan, OMS, Genebra, 2008, disponível em<br />

www.rollbackmalaria.org/gmap/2-2.html.<br />

72 Ministério da Saúde, ‘Relatórios da<br />

Campanha Provincial’; (não publicado), 2009.<br />

73 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />

Relatório Final’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

74 Ibid.<br />

75 Ministério da Saúde, Relatório do Programa<br />

do MISAU (não publicado)<br />

76 Feiko O, et al, “The Burden of Co-infection<br />

with Human Immunodeficiency Virus Type<br />

I and Malaria in Pregnant Women in Sub-<br />

Saharan Africa’, American Society of Tropical,<br />

2004.Medicine and Hygiene, 2004<br />

77 Brentlinger, Paula E., C.B. Behrens and<br />

M.A. Micek, ‘Challenges in the concurrent<br />

management of malaria and HIV in pregnancy<br />

in sub-Saharan Africa”, Lancet Infectious<br />

Diseases, vol. 6, no. 2, Fevereiro de 2006, pp.<br />

100–111.<br />

78 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />

Relatório Final’, Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

79 Ibid.<br />

80 Ibid.<br />

81 Radio Moçambique, ‘Programas da criança.<br />

Pesquisa de opinão aos ouvintes da Rádio<br />

Moçambqiue’, Escola Superior de Altos<br />

Estudos e Negócios, Gabinete de Estudos e<br />

Projectos, Universidade Politécnica, 2008.<br />

82 Fórum das Rádios Comunitárias, ‘Documento<br />

Analítico sobre os Programas de Rádio de<br />

Criança para Crianças’, FORCOM, 2008<br />

83 United Nations Children’s Fund e World<br />

Health Organisation, Diarrhoea: Why children<br />

are still dying and what can be done, <strong>UNICEF</strong>,<br />

New York, and WHO, Geneva, 2009.<br />

84 World Health Organisation, Country profile<br />

of environmental burden of disease, WHO,<br />

Geneva, 2007.<br />

102<br />

103


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 3: SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

85 <strong>Mozambique</strong> National Institute of Health,<br />

London School of Hygiene and Tropical<br />

Medicine and <strong>UNICEF</strong>, <strong>Mozambique</strong> National<br />

Childhood Mortality Study 2009, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2009.<br />

86 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />

Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

87 World Health Organization Global Task Force<br />

on Cholera Control, Cholera Country Profile:<br />

<strong>Mozambique</strong>, OMS, Genebra, 2006.<br />

88 Ministério da Saúde, Manual de Prevenção<br />

e Controlo da Cólera e de Outras Diarreias<br />

Agudas, Governo de Moçambique, Maputo,<br />

2009.<br />

89 United Nations Children’s Fund, The State<br />

of the World’s Children 2009, <strong>UNICEF</strong>, Nova<br />

Iorque, 2009.<br />

90 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />

Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

91 Ministério da Saúde, Relatório da Semana<br />

Nacional de Saúde da Criança, Segunda Fase,<br />

Maputo, 27 Novembro 2008.<br />

92 Centro de Pesquisa e Documentação para<br />

a África Austral, Instituto Superior de<br />

Relações Internacionais, Instituto Nacional<br />

de Estatística e Programa das Nações<br />

Unidas para o Desenvolvimento, Relatório<br />

Nacional do Desenvolvimento Humano de<br />

Moçambique 2007, PNUD Moçambique,<br />

Maputo, 2007.<br />

93 Ministério das Finanças, ‘Relatório de<br />

Execução do Orçamento do Estado 2008,’<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2009<br />

94 Fundação para o Desenvolvimento da<br />

Comunidade e Fundo das Nações Unidas<br />

para a Infância “O Que Diz a Proposta de<br />

Orçamento do Estado 2010 Sobre a Previsão<br />

de Recursos no Sector de Saúde?” Budget<br />

Brief , <strong>UNICEF</strong> Moçambique, Maputo, 2010.<br />

95 Organisation for African Unity, African<br />

Summit on HIV/AIDS, Tuberculosis and<br />

other Related Infectious Diseases, OAU/SPS/<br />

ABUJA/3Organização da Unidade Africana,<br />

Abuja, 2001<br />

96 Fundação para o Desenvolvimento da<br />

Comunidade e Fundo das Nações Unidas<br />

para a Infância, O Que Diz a Proposta de<br />

Orçamento do Estado 2010 Sobre sobre os<br />

chamados Sectores Prioritários?, Budget Brief<br />

, <strong>UNICEF</strong> Moçambique, Maputo, 2010.<br />

97 Ibid.<br />

98 Ministério das Finanças, ‘Relatório de<br />

Execução do Orçamento do Estado 2009,’<br />

Governo de Moçambique, 2010<br />

99 Governo de Moçambique, Plano de Acção<br />

para a Redução da Pobreza Absoluta (2006-<br />

2009), Maputo, 2006.<br />

100 United Nations Committee on the Right<br />

of the Child, Considerations of Reports<br />

Submitted by State Parties Under Article 44<br />

of the Convention: Concluding observations<br />

of the Committee on the Rights of the Child<br />

– <strong>Mozambique</strong>, CRC/C/MOZ/CO/2, Gabinete<br />

do Alto Comissário para os Direitos Humanos,<br />

Genebra, Outubro de 2009.<br />

101 Fundação para o Desenvolvimento da<br />

Comunidade e Fundo das Nações Unidas<br />

para a Infância, O Que Diz a Proposta de<br />

Orçamento do Estado 2009 Sobre a Previsão<br />

de Recursos no Sector de Saúde?, Budget<br />

Brief 3, <strong>UNICEF</strong> Moçambique, Maputo,<br />

Novembro de 2008.<br />

102 Ministério das Finanças, ‘Relatório de<br />

Execução do Orçamento do Estado 2009,’<br />

Governo de Moçambique, 2010<br />

103 Water and Sanitation Programme/World Bank,<br />

Water and Sanitation in <strong>Mozambique</strong>: Turning<br />

finance into services for 2015 and beyond. An<br />

AMCOW Country Status Overview, Programa<br />

de Água e Saneamento, Banco Mundial, 2010.<br />

104 Fundo das Nações Unidas para a Infância, A<br />

Pobreza na Infância em Moçambique: Uma<br />

análise da situação e das tendências, <strong>UNICEF</strong><br />

Moçambique, Maputo, 2006.<br />

105 <strong>UNICEF</strong>, “One Million Initiative”, document on<br />

cost analysis of boreholes 2008-2010, <strong>UNICEF</strong><br />

Moçambique, Maputo, 2010.<br />

106 United Nations Development Group, Indicators<br />

for Monitoring the Millennium Development<br />

Goals (MDGs): Definitions, rationale, concepts<br />

and sources, UNDG, Nova Iorque, 2003.<br />

107 Ministério das Obras Públicas e Habitação,<br />

Direcção Nacional de Águas, ‘Programa<br />

Nacional de Abastecimento de Água e<br />

Saneamento Rural,’ Maputo, Março de 2009.<br />

108 Instituto Nacional de Estatística, Inquérito<br />

de Indicadores Múltiplos 2008, Sumário,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2008<br />

109 Ibid.<br />

110 Ibid.<br />

111 Ibid.<br />

112 Fundo de Investimento e Património de<br />

Abastecimento de Água e Município da Beira,<br />

(dados não publicados), Maputo/Beira. 2009<br />

113 Ministério da Saúde, Informe anual sobre a<br />

epidemia de cólera em Moçambique 2008-<br />

2009, Ministério da Saúde, Maputo, 2010<br />

114 Water and Sanitation Programme/World Bank,<br />

Water Supply and Sanitation in <strong>Mozambique</strong>:<br />

turning finance into services for 2015<br />

and beyond. An AMCOW Country Status<br />

Overview, Water and Sanitation Programme,<br />

World Bank, 2010.<br />

115 Ibid.<br />

116 Cálculos do <strong>UNICEF</strong> baseados em: Instituto<br />

Nacional de Estatística, ‘MICS 2008, Relatório<br />

Final,’ Governo de Moçambique, Maputo,<br />

2010.<br />

117 Ibid.<br />

118 World Health Organisation and United<br />

Nations Children’s Fund, Joint Monitoring<br />

Programme Report, OMS, Genebra, e <strong>UNICEF</strong>,<br />

Nova Iorque, 2009.<br />

119 WASH News Africa, ‘AMCOW AfricaSan<br />

Awards 2010 Winners: Feliciano dos<br />

Santos, Takiso Achame and David Kuria,’<br />

descarregado de: http://washafrica.wordpress.<br />

com/2010/11/24/amcow-africasan-awards-<br />

2010-winners-feliciano-dos-santos-takisoachame-and-david-kuria<br />

, acedido em<br />

Dezembro de 2010<br />

120 Cálculos do <strong>UNICEF</strong> baseados em: Instituto<br />

Nacional de Estatística, ‘MICS 2008, Relatório<br />

Final,’ Governo de Moçambique, Maputo,<br />

2010.<br />

121 Skinner, Jamie, and International Institute for<br />

Environment and Development, Where Every<br />

Drop Counts: Tackling rural Africa’s water<br />

crisis, Instituto Internacional para o Ambiente<br />

e Desenvolvimento, Londres, 2009.<br />

122 Ernst and Young, Sustainability of Rural Water<br />

and Sanitation Infrastructure in Tete, Manica<br />

and Sofala Provinces, Maputo, 2008.<br />

123 WE Consult, Data Collection for Mid-term<br />

Impact Assessment. <strong>UNICEF</strong>, Maputo, 2010.<br />

124 <strong>UNICEF</strong>, ‘Assessment: Child-Friendly Schools<br />

initiative in <strong>Mozambique</strong> Annual Field<br />

Assessment Report’ <strong>UNICEF</strong> Moçambique,<br />

Maputo, 2009.<br />

125 Water and Sanitation Programme/World<br />

Bank,Water Supply and Sanitation in<br />

<strong>Mozambique</strong>: turning finance into services for<br />

2015 and beyond. An AMCOW Country Status<br />

Overview, Programa de Água e Saneamento,<br />

Banco Mundial, 2010<br />

126 Santos, C., Análise do Relatório de Execução<br />

do Orçamento do Estado do 2008, Sector de<br />

Águas, Maputo, 2009<br />

127 Ministério das Obras Públicas e Habitação,<br />

Direcção Nacional de Águas, ‘Programa<br />

Nacional de Abastecimento de Água e<br />

Saneamento Rural,’ Maputo, Março de 2009.<br />

128 Water and Sanitation Programme/World Bank,<br />

Water Supply and Sanitation in <strong>Mozambique</strong>:<br />

turning finance into services for 2015<br />

and beyond. An AMCOW Country Status<br />

Overview, Water and Sanitation Programme,<br />

Banco Mundial, 2010<br />

129 Ibid.<br />

130 Fundação para o Desenvolvimento da<br />

Comunidade e <strong>UNICEF</strong>, O Que Diz a Proposta<br />

de Orçamento do Estado 2010 Sobre a<br />

Previsão de Recursos no Sector de águas<br />

e saneamento?, Budget Brief, <strong>UNICEF</strong><br />

<strong>Mozambique</strong>, Maputo, 2010.<br />

131 Fundo das Nações Unidas para a Infância,<br />

Pobreza Infantil em Moçambique: uma<br />

análise da situação e tendências, <strong>UNICEF</strong><br />

Moçambique, Maputo, 2006.<br />

104<br />

105


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 3: SOBREVIVÊNCIA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL<br />

132 Fundação para o Desenvolvimento da<br />

Comunidade e <strong>UNICEF</strong>, O Que Diz a Proposta<br />

de Orçamento do Estado 2010 Sobre a<br />

Previsão de Recursos no Sector de águas<br />

e saneamento?, Budget Brief, <strong>UNICEF</strong><br />

Moçambique, Maputo, 2009.<br />

133 Fundação para o Desenvolvimento da<br />

Comunidade e <strong>UNICEF</strong>, O Que Diz a Proposta<br />

de Orçamento do Estado 2010 Sobre a<br />

Previsão de Recursos no Sector de águas<br />

e saneamento?, Budget Brief, <strong>UNICEF</strong><br />

<strong>Mozambique</strong>, Maputo, 2010.<br />

106<br />

107


4CAPÍTULO<br />

A educação e<br />

o direito das<br />

crianças ao<br />

desenvolvimento<br />

4CAPÍTULO<br />

1. Introdução<br />

A educação é um direito fundamental<br />

de todas as crianças. É garantido pela<br />

constituição de Moçambique, segundo a<br />

qual “a educação constitui direito e dever de<br />

cada cidadão.” De acordo com a Convenção<br />

sobre os Direitos da Criança, o direito à<br />

educação abrange a obrigação não apenas<br />

de proporcionar acesso a educação, mas<br />

também de eliminar a discriminação a<br />

todos os níveis, definir padrões mínimos<br />

e melhorar a qualidade. Além disso,<br />

a educação constitui uma importante<br />

prioridade do desenvolvimento global. Os<br />

Objectivos de Desenvolvimento do Milénio<br />

(ODM) 2 e 3 visam, respectivamente,<br />

alcançar a educação primária universal e<br />

promover a igualdade de género, incluindo a<br />

paridade na educação.<br />

Além de necessária para a materialização<br />

dos direitos civis, políticos, económicos<br />

e sociais, a educação é um dos mais<br />

poderosos instrumentos para a promoção<br />

do desenvolvimento económico e social<br />

e na redução da pobreza, especialmente<br />

da pobreza infantil, e da desigualdade.<br />

Como observado no Capítulo 3 do presente<br />

estudo Pobreza Infantil e Disparidades em<br />

Moçambique – 2010, a educação também<br />

desempenha um papel essencial na<br />

sobrevivência e desenvolvimento da criança.<br />

Este é particularmente o caso da educação<br />

da rapariga, altamente correlacionada com<br />

a redução da mortalidade infantil e uma<br />

melhor saúde e nutrição para as próximas<br />

gerações de crianças.<br />

Este capítulo analisa o sector da educação<br />

em Moçambique. A primeira parte debruçase<br />

sobre a situação actual e tendências<br />

recentes na participação no sistema de<br />

ensino. A parte seguinte centra-se nas<br />

barreiras à participação, descrevendo as<br />

tendências recentes no financiamento do<br />

sector, e tirando algumas conclusões com<br />

base nas análises apresentadas.<br />

A educação e o direito das<br />

crianças ao desenvolvimento<br />

109


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 4: A EDUCAÇÃO E O DIREITO DAS CRIANÇAS AO DESENVOLVIMENTO<br />

2. A actual situação e recentes tendências<br />

no sector da educação<br />

2.1 O sistema de educação em<br />

Moçambique<br />

A base jurídica do Sistema Nacional de<br />

Educação de Moçambique, que define os<br />

princípios, funções e objectivos de cada<br />

subsistema de ensino, incluindo o primário,<br />

foi definida por lei em 1992 (Lei n º 6/92).<br />

Em 2004 aboliram-se as tarifas escolares no<br />

ensino primário, que, todavia, permanecem<br />

em outros níveis de ensino.<br />

O Ministério da Mulher e da Acção Social é o<br />

principal responsável pela implementação do<br />

Desenvolvimento na Primeira Infância, que,<br />

no entanto, tem sido assegurado sobretudo<br />

por operadores privados e algumas<br />

instituições públicas. Tem uma cobertura<br />

muito limitada que se traduz em cerca de<br />

61.400 crianças. 1<br />

O sistema geral de ensino em Moçambique<br />

está dividido em ensino primário e ensino<br />

secundário. O ensino primário é composto<br />

por sete anos de escolaridade, repartidos<br />

por dois níveis. O primeiro nível do ensino<br />

primário vai da primeira à quinta classe<br />

(ensino primário do primeiro grau, ou EP1)<br />

devendo ser frequentado por crianças dos<br />

6 aos 10 anos de idade. O segundo nível<br />

do ensino primário compreende a sexta e a<br />

sétima classes (ensino primário do segundo<br />

grau, ou EP2), devendo ser frequentado por<br />

crianças com 11 a 12 anos de idade. Em<br />

2004, o Ministério da Educação (MINED)<br />

introduziu um novo currículo para o ensino<br />

básico e reformou alguns pontos críticos<br />

do sistema, incluindo a obrigatoriedade de<br />

sete anos completos e integrados de ensino<br />

primário, e as passagens semi-automáticas.<br />

Assim, os dois níveis do ensino básico estão<br />

a ser actualmente fundidos numa única série<br />

(ensino primário completo, ou EPC), que<br />

compreende um ciclo de sete anos de ensino<br />

primário.<br />

O ensino secundário é constituído por<br />

cinco anos de escolaridade, sendo também<br />

dividido em dois níveis: o primeiro nível<br />

inclui as classes 8ª a 10ª (Ensino Secundário<br />

Geral do Primeiro Grau, ou ESG1) e o<br />

segundo compreende a 11ª e a 12ª classes<br />

(Ensino Secundário Geral do Segundo<br />

Grau, ou ESG2). O primeiro nível deve ser<br />

frequentado por crianças com 13 a 15 anos<br />

de idade, e o segundo por crianças com<br />

idades entre os 16 e os 17 anos. O processo<br />

de reforma curricular do ensino secundário,<br />

introduzida em 2007, tal como a Estratégia<br />

para o Ensino Secundário elaborada em<br />

2008, pretende tornar o ensino secundário<br />

mais acessível e prático e visa desenvolver<br />

nos alunos competências para a vida.<br />

A educação técnica e profissional no sistema<br />

de ensino público é composta por três<br />

níveis: elementar, básico e médio. Esses<br />

níveis são equivalentes ao EP2, ESG1 e ESG2<br />

e decorrem em dois, três e quatro anos,<br />

respectivamente. Nos níveis básico e médio,<br />

é possível especializar-se em agricultura ou<br />

indústria e comércio.<br />

No nível superior, há mais de 30 instituições<br />

em Moçambique, duas das quais são<br />

as principais universidades públicas<br />

– a Universidade Pedagógica (UP) e a<br />

Universidade Eduardo Mondlane (UEM)<br />

– bem como uma série de outras pequenas<br />

instituições de ensino superior. Os requisitos<br />

para o ingresso nessas instituições são<br />

a conclusão da ESG2 (12ª classe) e a<br />

submissão a exames de admissão.<br />

Pretende-se que a educação especial seja<br />

sistemicamente integrada por via de uma<br />

educação inclusiva, de acordo com o<br />

objectivo definido pelo Plano Estratégico de<br />

Educação e Cultura. A educação especial tem<br />

sido oferecida principalmente em algumas<br />

escolas especiais, que são geridas pelo<br />

Ministério da Mulher e da Acção Social,<br />

servindo um número limitado de crianças<br />

com necessidades especiais nas áreas de<br />

deficiência auditiva, visual, mental ou física.<br />

A Educação de Adultos, que cessou durante<br />

a guerra, tem vindo a ganhar um novo<br />

impulso nos últimos anos, com novos<br />

programas, como, por exemplo, o ensino<br />

à distância pela rádio e televisão, que foi<br />

introduzido para proporcionar educação<br />

básica a adultos, particularmente a mulheres<br />

nas zonas rurais.<br />

No ensino primário as disparidades têm<br />

vindo a diminuir, mas no ensino secundário<br />

os progressos foram lentos. Cerca de 3,3<br />

milhões de 4,1 milhões de crianças em<br />

Moçambique de 6-12 anos de idade estão<br />

agora a frequentar a escola primária, 2 o que<br />

equivale a uma taxa líquida de 81 por cento<br />

em 2008. 3 A taxa líquida de frequência no<br />

ensino secundário continua baixa; apenas<br />

20 por cento das crianças com idades entre<br />

os 13 e os 17 anos estavam a frequentar o<br />

ensino secundário em 2008. Quase metade<br />

das crianças dessa idade ainda se encontram<br />

a frequentar a escola primária. 4<br />

Figura 4.1: Taxas líquidas de frequência, 2003 e 2008<br />

90%<br />

80%<br />

70%<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

60%<br />

81%<br />

Total<br />

Primário<br />

Fonte: IDS 2003 e MICS 2008.<br />

i<br />

8%<br />

20%<br />

Total<br />

Secundário<br />

63%<br />

82%<br />

Rapazes<br />

Primário<br />

Não há diferença significativa na frequência<br />

do ensino primário e secundário entre<br />

raparigas e rapazes. As disparidades de<br />

género no ensino primário, medidas pelo<br />

índice líquido de paridade de género (IPG),<br />

diminuíram de 0,90 em 2003 para 0,97 em<br />

2008. i No secundário, o IPG melhorou de<br />

0,80 em 2003 para 0,97 em 2008.<br />

Também foram reduzidas discrepâncias<br />

de longa data na frequência escolar das<br />

crianças das áreas urbana e rural e das<br />

famílias mais pobres e mais ricas. Apesar<br />

de continuar a haver diferenças, as crianças<br />

rurais e mais pobres registaram um maior<br />

aumento das taxas líquidas de frequência<br />

nos últimos anos do que as crianças urbanas<br />

e mais abastadas, tanto a nível primário<br />

como secundário.<br />

2.2. Crianças na escola<br />

Hoje estão a frequentar a escola mais<br />

crianças do que há cinco anos. As taxas<br />

líquidas de frequência do ensino primário<br />

aumentaram entre 2003 e 2008, de 60 para<br />

81 por cento. No ensino secundário as taxas<br />

8%<br />

21%<br />

Rapazes<br />

Secundário<br />

2003 2008<br />

57%<br />

80%<br />

Raparigas<br />

Primário<br />

7%<br />

20%<br />

Raparigas<br />

Secundário<br />

O IPG é calculado dividindo-se a taxa líquida de escolarização feminina pela taxa líquida de escolarização masculina<br />

para um dado nível de ensino. Um IPG de 0,96 a 1,04 indica que as percentagens de rapazes e raparigas na escola<br />

são aproximadamente iguais. Um valor inferior a 0,96 indica uma menor percentagem de raparigas na escola<br />

comparativamente à dos rapazes.<br />

110<br />

111


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 4: A EDUCAÇÃO E O DIREITO DAS CRIANÇAS AO DESENVOLVIMENTO<br />

líquidas de frequência também aumentaram<br />

entre 2003 e 2008, embora de uma base<br />

extremamente baixa, de 8 para 20 por cento.<br />

Foi realizada uma análise de regressão para<br />

examinar os factores que influenciam a<br />

frequência do ensino primário de crianças de<br />

6-12 anos, com base no conjunto de dados<br />

do MICS 2008, onde a variável dependente<br />

é se a criança está a frequentar a escola<br />

primária. Pelos resultados, a escolaridade<br />

da mãe parece ser um dos mais importantes<br />

factores que afectam a frequência do ensino<br />

primário. A riqueza familiar ii tem também<br />

uma correlação positiva com a frequência.<br />

Além disso, as crianças em agregados<br />

familiares chefiados por mulheres e com<br />

um pai presente têm mais probabilidade<br />

de frequentar a escola. A idade do chefe da<br />

família e o tamanho da família não parecem<br />

tem relação com a frequência.<br />

Dada a percentagem relativamente<br />

elevada de crianças que iniciam a escola<br />

tardiamente, a idade da criança tem uma<br />

relação positiva com o frequentar a escola<br />

primária, embora se registe abandono<br />

Figure 4.2: Probabilidade de não frequentar a escola primária, 2008<br />

Probabilidade de não frequentar<br />

a escola primária<br />

0 .1 .2 .3 .4 .5<br />

a partir dos 10 anos de idade (ver figura<br />

4.2). O modelo também indica que uma<br />

criança portadora de deficiência tem uma<br />

probabilidade 40 por cento inferior de<br />

frequentar a escola primária que uma<br />

criança sem deficiência. O sexo da criança<br />

não tem qualquer relação estatisticamente<br />

significativa com a frequência escolar, como<br />

é também confirmado pela Figura 4.2.<br />

Em termos de diferenças geográficas, as<br />

crianças rurais têm uma probabilidade<br />

ligeiramente menor de frequentar a escola<br />

primária do que as crianças urbanas. As<br />

crianças que residem nas províncias do<br />

Norte revelam uma maior probabilidade<br />

de abandono escolar do que as crianças da<br />

Cidade de Maputo.<br />

2.3.Crianças fora da escola<br />

Em 2003, não frequentavam a escola<br />

primária 1,5 milhões de crianças. Cinco<br />

anos depois, esse número desceu para<br />

metade: 764.000 (ver Figura 4.3). Em<br />

números absolutos, porém, as disparidades<br />

de género persistem. Não estão a usufruir<br />

6 8 10 12<br />

Idade<br />

Fonte: Cálculos do <strong>UNICEF</strong> baseados em MICS 2008.<br />

Masculino<br />

Feminino<br />

2 Medida através de um índice de pontuação de bens com base na metodologia de Filmer e Pritchett, 2001.<br />

do seu direito à educação primária mais<br />

raparigas do que rapazes: 399.000 raparigas<br />

comparativamente a 364.000 rapazes. 5<br />

Nas crianças em idade de frequentar o ensino<br />

secundário que estão fora da escola, pode<br />

observar-se uma tendência oposta. O número<br />

das crianças de 13 a 17 anos de idade fora da<br />

escola parece ter aumentado ligeiramente<br />

entre 2003 e 2008, de 31 para 36 por cento. 6<br />

Mais raparigas do que rapazes (tanto do<br />

ensino primário como secundário) estão fora<br />

da escola. Isto explica-se, em parte, porque<br />

mais rapazes em idade de frequentar o ensino<br />

secundário estão matriculados em escolas<br />

primárias, isto é, estão ‘acima da idade’<br />

(49 por cento de rapazes para 38 por cento<br />

de raparigas), enquanto as raparigas estão<br />

mais fora do sistema de ensino em geral (41<br />

por cento de raparigas para 30 por cento de<br />

rapazes). 7<br />

Embora as crianças urbanas tenham taxas<br />

mais elevada que as suas congéneres rurais,<br />

as áreas rurais apresentaram um maior<br />

progresso geral nos indicadores de educação<br />

entre 2003 e 2008. As taxas líquidas de<br />

frequência primária aumentaram nas crianças<br />

rurais de 53 por cento em 2003 para 79 por<br />

cento em 2008, comparativamente a um<br />

aumento de 76 por cento para 89 por cento<br />

nas crianças urbanas no mesmo período. 8<br />

50%<br />

45%<br />

40%<br />

35%<br />

30%<br />

25%<br />

20%<br />

15%<br />

10%<br />

5%<br />

0%<br />

11%<br />

25%<br />

22%<br />

42%<br />

18%<br />

30%<br />

Urbana Rural Rapazes Raparigas Mais ricos Mais pobres<br />

Primário<br />

2.4. Atrasos no início da<br />

escolarização<br />

Estar acima da idade na escola é um<br />

fenómeno generalizado em Moçambique,<br />

influenciado por muitos factores. Embora<br />

o Ministério da Educação tenha vindo a<br />

promover a ideia de que as crianças devem<br />

entrar para a escola na idade certa, a<br />

concretização da entrada da criança depende<br />

de vários factores, entre os quais a sua<br />

área de residência. As crianças das zonas<br />

rurais entram na escola mais tarde que as<br />

crianças das áreas urbanas. Aos seis anos,<br />

61 por cento das crianças em áreas rurais<br />

estavam a frequentar a escola primária em<br />

2008, comparativamente a 73 por cento das<br />

crianças urbanas. A entrada para a escola no<br />

momento certo é influenciada pelo nível de<br />

escolaridade da mãe e pelo nível de riqueza<br />

do agregado familiar da criança. Em 2010,<br />

com base em estatísticas do MINED, 68,8 por<br />

cento das raparigas começaram a escola na<br />

idade certa.<br />

Embora se tenha registado progresso ao<br />

longo do tempo, mais crianças com 13-17<br />

anos estão a frequentar a escola primária do<br />

que a secundária. Em 2008, 44 por cento da<br />

população total em idade escolar secundária<br />

estava na escola primária, em comparação<br />

Figura 4.3: Percentagem de crianças de 6-12 e 13-17 anos fora da escola, por sexo, local de residência e<br />

condições socioeconómicas, 2008<br />

Fonte: MICS 2008.<br />

20%<br />

42%<br />

Secondário<br />

5%<br />

20%<br />

28%<br />

49%<br />

112<br />

113


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 4: A EDUCAÇÃO E O DIREITO DAS CRIANÇAS AO DESENVOLVIMENTO<br />

com 61 por cento em 2003. As disparidades<br />

de género são evidentes: entre as crianças<br />

de 17 anos, 21 por cento dos rapazes contra<br />

12 por cento das raparigas frequentavam a<br />

escola primária em 2008. 9<br />

A idade com que uma criança entra para<br />

a escola afecta claramente a percentagem<br />

de crianças acima da idade na escola. Nos<br />

últimos anos as crianças tenderam a iniciar<br />

os seus estudos mais cedo. A Figura 4.4<br />

mostra como as gerações mais jovens são<br />

mais propensas a iniciar a escola primária<br />

aos seis anos do que os grupos de mais<br />

idade.<br />

O fenómeno ‘acima da idade’ no ensino<br />

básico tem implicações significativas para<br />

os resultados de aprendizagem das crianças,<br />

uma vez que é ensinado o mesmo currículo,<br />

ao mesmo ritmo, a alunos de idades e<br />

níveis de desenvolvimento cognitivo muito<br />

diversos. Coloca também sérios desafios<br />

a programas de prevenção de HIV/SIDA<br />

direccionados para crianças de 10-14 anos<br />

nas classes 5ª a 8ª (consideradas a Janela de<br />

Esperança, pois a maior parte das crianças<br />

ainda não são sexualmente activas, ou<br />

acabam de se tornar sexualmente activas).<br />

As crianças acima da idade mais maduras<br />

requerem uma abordagem diferente nesses<br />

programas.<br />

2.5. Conclusão do ensino<br />

primário e transição para o<br />

ensino secundário<br />

A participação na escola secundária<br />

depende da conclusão da escola primária.<br />

As taxas de conclusão do ensino primário<br />

são baixas, situando-se nos 15 por cento. É<br />

significativa a disparidade existente entre<br />

as taxas urbana e rural de conclusão do<br />

ensino primário (30 por cento contra 7 por<br />

cento, respectivamente, em 2008). 10 Embora<br />

as taxas de conclusão estejam a aumentar<br />

tanto em áreas urbanas como rurais,<br />

agravou-se o fosso entre as duas, com<br />

um aumento de cinco vezes nas crianças<br />

urbanas comparativamente a duas vezes<br />

e meia nas crianças das zonas rurais. É<br />

possível que os recentes aumentos nas taxas<br />

de frequência relativas a crianças das zonas<br />

rurais se traduzam em mais elevadas taxas<br />

de conclusão nos próximos anos. Embora<br />

a maioria das crianças (73 por cento) que<br />

completam o ensino primário prossigam<br />

para o ensino secundário, as taxas de<br />

conclusão neste nível são ainda mais baixas.<br />

O Ministério da Educação estima que a taxa<br />

bruta de conclusão do ensino secundário<br />

foi de 6,5 por cento em 2009. Os rapazes<br />

têm uma maior tendência de completar o<br />

ensino secundário do que as raparigas (8 por<br />

cento contra 5 por cento, respectivamente) 11 .<br />

O ensino secundário não é grátis e não há<br />

escolas secundárias em número suficiente,<br />

especialmente nas áreas rurais.<br />

Embora tenha havido um aumento de<br />

100 por cento no número de escolas<br />

secundárias desde 2004, esse aumento<br />

ocorreu principalmente em áreas urbanas<br />

e peri-urbanas. 12 Para a grande maioria das<br />

crianças das zonas rurais que concluem<br />

o ensino básico, o acesso ao ensino<br />

secundário constitui ainda um desafio. É<br />

interessante notar, no entanto, que uma<br />

redução das taxas de matrícula cobradas<br />

às raparigas que se matriculam nas escolas<br />

secundárias fez aumentar a matrícula<br />

de raparigas no ensino secundário, não<br />

obstante as matrículas destas continuarem<br />

inferiores às dos rapazes na maioria das<br />

províncias.<br />

A conclusão do ensino primário é<br />

directamente influenciada por uma série de<br />

factores, incluindo os níveis de escolaridade<br />

das mães, a riqueza do agregado familiar<br />

e a província. iii As crianças cujas mães<br />

têm o ensino secundário ou superior<br />

têm maior probabilidade de completar o<br />

ensino na idade devida do que as crianças<br />

cujas mães não têm escolaridade (ver<br />

Figura 4.5). Quarenta e quatro por cento<br />

das crianças dos quintis mais abastados<br />

completam o ensino primário aos 12<br />

anos, comparativamente a 1 por cento do<br />

quintil mais pobre. Também persistem as<br />

desigualdades rural/urbano, pois as crianças<br />

das áreas urbanas têm quatro vezes mais<br />

probabilidade de completar a escola primária<br />

do que as crianças das áreas rurais (30 por<br />

cento contra 7 por cento). 13<br />

2.6. Progressão pelas classes<br />

As baixas taxas de conclusão do ensino<br />

primário devem-se, pelo menos em parte,<br />

à persistente incapacidade das crianças<br />

de transitar regularmente de uma classe<br />

para a seguinte. Em média, cerca de oito<br />

por cento das crianças não conseguem<br />

passar de classe cada ano, facto que se<br />

regista com considerável regularidade ao<br />

longo do ciclo primário. 14 Como a política de<br />

passagens semi-automáticas do MINED só<br />

permite que as crianças repitam a segunda,<br />

a quinta e a sétima classes, era de esperar<br />

que a não transição fosse mais acentuada<br />

a partir dessas classes. Os dados do MICS<br />

2008 mostram não ser isso o que acontece.<br />

Deve-se notar, contudo, que as taxas de<br />

reprovação registaram uma diminuição<br />

Figura 4.5: Taxas de conclusão do ensino primário e transição para o ensino secundário, 2008<br />

Figura 4.4: Distribuição da população de acordo com a idade de entrada na escola, 2008<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

41%<br />

3%<br />

Urbano<br />

5-9 anos<br />

25% 28% 18%<br />

Rural<br />

10-14 anos<br />

39%<br />

Rapazes<br />

15-19 anos<br />

17%<br />

37%<br />

Raparigas<br />

20-24 anos<br />

13%<br />

45%<br />

Mais ricos<br />

25-29 anos<br />

9%<br />

50%<br />

Mais pobres<br />

30-34 anos<br />

90%<br />

80%<br />

78%<br />

70%<br />

75%<br />

75%<br />

70%<br />

70%<br />

69%<br />

60%<br />

73%<br />

50%<br />

40%<br />

44%<br />

30%<br />

30%<br />

20%<br />

10% 14%<br />

17%<br />

15%<br />

0%<br />

7%<br />

1%<br />

Masculino Feminino Urbano Rural Mais pobre Mais rico Total<br />

Taxas de conclusão do ensino primário Taxa de transição para o ensino secundário<br />

Fonte: MICS 2008.<br />

Fonte: MICS 2008.<br />

Entraram na escola aos 6 anos<br />

Entraram na escola aos 10 anos ou mais<br />

iii Note-se que a educação da mãe, a riqueza familiar e a localização da residência (urbana/rural) podem ter alguma<br />

correlação entre si.<br />

114<br />

115


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 4: A EDUCAÇÃO E O DIREITO DAS CRIANÇAS AO DESENVOLVIMENTO<br />

muito acentuada a partir de 2003.<br />

Apenas 60 por cento das crianças chegam à<br />

última classe do ensino primário (ver Figura<br />

4.6). 15 Para alguns grupos de crianças, a taxa<br />

de transição é significativamente mais baixa:<br />

as raparigas, as crianças rurais e as mais<br />

pobres são mais propensas a não progredir<br />

através do sistema de ensino primário. As<br />

crianças que não transitam tanto podem<br />

repetir uma classe (na terceira, quinta ou<br />

sétima classe) como abandonar o sistema de<br />

ensino, pelo menos temporariamente.<br />

Figura 4.6: Percentagem dos que entram na primeira classe que chegam à última classe do ensino primário, por<br />

características seleccionadas, 2008<br />

90%<br />

80%<br />

70%<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

64%<br />

56%<br />

71%<br />

53%<br />

2.7. Equidade na Educação<br />

A desigualdade no ensino primário diminuiu<br />

entre 2003 e 2008. Como pode ser observado<br />

na Figura 4.7, os rácios de frequência escolar<br />

primária aumentaram em todos os quintis de<br />

riqueza. O aumento foi maior nas crianças<br />

mais pobres do que crianças mais ricas,<br />

reduzindo-se a diferença relativa a equidade.<br />

Os três últimos quintis de riqueza tiveram,<br />

todos eles, aumentos absolutos de cerca de<br />

27 pontos percentuais. A diferença entre os<br />

Masculino Feminino Urbano Rural Mais pobre Mais rico Total<br />

47%<br />

85%<br />

60%<br />

quintis mais elevado e mais baixo baixou<br />

de 43 pontos percentuais em 2003 para 23<br />

pontos percentuais em 2008.<br />

A desigualdade é mais acentuada no nível<br />

secundário e tem aumentado nos últimos<br />

anos. Em 2003, a grande maioria das crianças<br />

na escola secundária era das famílias mais<br />

abastadas. A maioria das crianças dos quatro<br />

quintis de riqueza inferiores não frequentava<br />

a escola secundária. Em 2008, registou-se<br />

um considerável aumento nos dois primeiros<br />

quintis, mas o acesso para crianças dos três<br />

quintis inferiores continua extremamente<br />

baixo (ver Figura 4.8). Os aumentos em<br />

termos absolutos foram significativamente<br />

superiores nas crianças mais ricas. A<br />

frequência das crianças no quintil mais pobre<br />

aumentou somente 2 pontos percentuais<br />

entre 2003 e 2008, enquanto a frequência das<br />

crianças no quintil mais rico subiu 27 pontos<br />

percentuais. O fosso entre os rácios líquidos<br />

de frequência no ensino secundário das<br />

crianças mais ricas e mais pobres aumentou<br />

de 21 pontos percentuais em 2003 para 46<br />

pontos percentuais em 2008. 16iv<br />

Devido à falta de escolas suficientes para<br />

absorver o aumento da demanda, mais<br />

graduados da 7ª classe não puderam<br />

dar continuidade aos seus estudos no<br />

ensino secundário ou primeiro ciclo do<br />

Ensino Secundário Geral (8ª classe).<br />

São de igual modo insuficientes tanto o<br />

número de professores com formação<br />

como o equipamento, obrigando as<br />

famílias a colocar as crianças em escolas<br />

particulares caso tenham meios para<br />

tal. Entretanto, uma grande maioria de<br />

crianças, e particularmente as que vivem<br />

em áreas rurais, é forçada a não prosseguir<br />

na sua escolarização. Como solução<br />

para o problema de espaço, têm surgido<br />

Escolas Primárias Expandidas (EPE), que<br />

oferecem ensino secundário mas onde<br />

são frequentemente os professores da<br />

escola primária que, apesar de não terem<br />

as qualificações necessárias, dão as aulas<br />

do Ensino Secundário Geral. Além disso, o<br />

afluxo de estudantes do ensino secundário<br />

coloca mais pressão sobre o espaço<br />

disponível nas escolas primárias. 17<br />

Figura 4.8: Rácios líquidos de frequência no ensino secundário por quintil de riqueza, 2003 e 2008<br />

Fonte: MICS 2008.<br />

Figura 4.7: Rácios líquidos de frequência escolar primária por quintil de riqueza, 2003 e 2008<br />

100%<br />

90%<br />

80%<br />

88%<br />

87%<br />

70%<br />

72% 74% 80%<br />

70%<br />

60%<br />

40%<br />

45%<br />

50%<br />

48% 53%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

2003<br />

2008<br />

Mais baixo Segundo Médio Quarto Mais alto<br />

Fonte: IDS 2003 e MICS 2008.<br />

95%<br />

50%<br />

45%<br />

40%<br />

35%<br />

30%<br />

25%<br />

20%<br />

15%<br />

10%<br />

5%<br />

0%<br />

1% 2%<br />

Fonte: IDS 2003 e MICS 2008.<br />

22%<br />

8%<br />

5%<br />

6%<br />

2%<br />

3%<br />

2003 2008<br />

Mais baixo Segundo Médio Quarto Mais alto<br />

iv As comparações entre os dados de alfabetização do IDS 2003 e do MICS 2008 devem ser interpretadas com cautela uma<br />

vez que as metodologias usadas nas duas pesquisas não são compatíveis.<br />

21%<br />

49%<br />

116<br />

117


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 4: A EDUCAÇÃO E O DIREITO DAS CRIANÇAS AO DESENVOLVIMENTO<br />

2.8. Alfabetização<br />

Na altura da independência, em 1975,<br />

Moçambique tinha uma taxa de analfabetos<br />

superior a 93 por cento, com taxas ainda<br />

mais elevadas nas mulheres, o que<br />

representou um enorme desafio para o<br />

desenvolvimento do país. Os esforços<br />

do governo e das comunidades nos anos<br />

seguintes foram bem sucedidos na redução<br />

da taxa de analfabetismo para 72 por cento<br />

em 1980. Este progresso foi, no entanto,<br />

prejudicado pelo início da guerra e da crise<br />

económica na década de 1980 e inícios de<br />

1990, tendo ficado praticamente paralisado.<br />

O trabalho foi retomado após a guerra,<br />

resultando numa redução da taxa de<br />

analfabetismo em adultos de 61 por cento<br />

em 1999 para 54 por cento em 2005. 18<br />

As taxas de alfabetização continuam baixas<br />

no respeitante a mulheres. Em 2008, apenas<br />

47 por cento das mulheres sabiam ler e<br />

escrever. É todavia maior a percentagem de<br />

mulheres jovens que sabem ler e escrever:<br />

41 por cento das de 20 a 24 anos de idade<br />

em comparação com 53 por cento das de 15<br />

a 19 anos. Não houve alteração significativa<br />

nas taxas de alfabetização de mulheres<br />

entre 2003 e 2008. 19<br />

Figura 4.9: Taxas de alfabetização em mulheres de 15-24 anos por quintil de riqueza, 2008<br />

90%<br />

80%<br />

70%<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

11%<br />

24%<br />

32%<br />

O nível de riqueza das famílias está<br />

fortemente correlacionado com o nível de<br />

alfabetização, principalmente nas mulheres.<br />

Entre as mulheres de 15-24 anos, apenas<br />

11 por cento dos agregados familiares no<br />

quintil mais pobre sabiam ler e escrever,<br />

comparativamente a 84 por cento dos<br />

agregados familiares no quintil em melhor<br />

situação (ver Figura 4.9).<br />

2.9. Ensino superior<br />

O número de instituições de ensino superior<br />

aumentou de 9 para 38, entre 2000 e 2009.<br />

Entre elas encontram-se as duas principais<br />

universidades públicas: a Universidade<br />

Pedagógica (UP) e a Universidade Eduardo<br />

Mondlane (UEM). Os requisitos para o<br />

ingresso nessas instituições são a conclusão<br />

do ESG2 (12ª classe) e a aprovação em<br />

exames de admissão.<br />

As matrículas em instituições de ensino<br />

superior também têm vindo a aumentar. O<br />

número de instituições desse nível aumentou<br />

de 9 para 38 entre 2000 e 2009, tendo o<br />

número de estudantes que o frequentam<br />

passado de 13,592 para cerca de 80,000 em<br />

2009. 20 Houve também melhorias em termos<br />

de equidade geográfica, ora com toda uma<br />

instituição de ensino ora com a abertura de<br />

delegações em todas as províncias.<br />

Mais baixo Segundo Médio Quarto Mais alto<br />

60%<br />

84%<br />

3. Barreiras à participação na educação<br />

3.1. Custos directos com a<br />

educação<br />

Os custos directos do ensino primário têm<br />

sido referidos como um dos principais<br />

obstáculos ao ingresso das crianças e sua<br />

permanência na escola. 21 , 22 A abolição das<br />

tarifas escolares, introduzida em 2004,<br />

juntamente com a introdução de um novo<br />

currículo e a provisão gratuita de livros e<br />

algum material escolar básico através do<br />

programa Apoio Directo às Escolas (ADE)<br />

reduziram os obstáculos relacionados com<br />

os custos directos com o ensino primário.<br />

No entanto, o custo dos uniformes e outros<br />

materiais escolares continua a restringir<br />

o acesso no caso das famílias mais<br />

vulneráveis. Assim, para as famílias muito<br />

pobres, especialmente nas zonas rurais, a<br />

soma de todos os custos directos continua<br />

a ser um importante factor ao decidirem<br />

se, quem ou quantos filhos podem pôr na<br />

escola, sobretudo a nível secundário. 23<br />

3.2. Custos de oportunidade<br />

para as comunidades<br />

Num quadro de pobreza, o investimento em<br />

educação é uma das escolhas que as famílias<br />

devem fazer em relação a outras prioridades<br />

que afectam as suas vidas e meios de<br />

subsistência. A pobreza das famílias muitas<br />

vezes requer que as crianças ajudem nas<br />

tarefas domésticas ou que trabalhem para<br />

ganhar dinheiro para sustentar a família ou<br />

para comprar material escolar. Dados do<br />

MICS 2008 mostram que 22 por cento das<br />

crianças de 5-14 anos estão envolvidas no<br />

trabalho infantil, v mas que a maior parte<br />

delas (78 por cento) andam na escola. 24<br />

Quando as crianças não têm bom<br />

desempenho escolar, os pais podem não<br />

ver benefícios da educação em termos de<br />

retorno do seu investimento, o que pode<br />

fazer com que tirem as crianças da escola.<br />

A percepção dos benefícios da educação<br />

é também geralmente associada a outros<br />

factores, incluindo a qualidade do ensino que<br />

é ministrado às crianças, oportunidades de<br />

trabalho depois do período de escolarização,<br />

distância para a escola secundária mais<br />

próxima, disponibilidade de lugares nas<br />

escolas secundárias, competências adquiridas<br />

na escola e disponibilidade de professores<br />

qualificados. O grande aumento no número<br />

de matrículas em Moçambique indica uma<br />

demanda de educação, sem dúvida no nível<br />

primário e, de forma crescente, no nível<br />

secundário. Para além do lado da demanda,<br />

as restrições do lado da oferta agravam as<br />

barreiras à educação.<br />

3.3. Impacto de tradições e<br />

da cultura no direito das<br />

crianças à educação<br />

As tradições culturais podem funcionar<br />

como barreiras à educação. O casamento<br />

precoce das raparigas e os ritos de iniciação<br />

de rapazes e raparigas tendem a influenciar<br />

negativamente as taxas de frequência<br />

do ensino primário. Ainda ocorrem ritos<br />

de iniciação em algumas partes do país,<br />

principalmente rurais. O casamento infantil<br />

prejudica o acesso à escola, bem como a<br />

retenção e conclusão. Respondentes de um<br />

estudo do Banco Mundial realizado em 2007<br />

referiram o casamento infantil como uma<br />

razão para o não ingresso das raparigas<br />

no ensino secundário, ou para posterior<br />

abandono. 25<br />

Há uma forte correlação entre a<br />

percentagem de raparigas fora da escola<br />

secundária e a prevalência do casamento<br />

Fonte: 2008 MICS.<br />

v A definição de trabalho infantil inclui crianças envolvidas em trabalho remunerado, trabalho não remunerado, trabalho<br />

para algum negócio familiar ou tarefas domésticas por 28 ou mais horas por semana.<br />

118<br />

119


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 4: A EDUCAÇÃO E O DIREITO DAS CRIANÇAS AO DESENVOLVIMENTO<br />

infantil numa província. A Figura 4.10<br />

mostra como o casamento infantil é mais<br />

comum nas províncias do norte e centro do<br />

que no sul do país. O casamento infantil tem<br />

também uma forte relação com a riqueza<br />

das famílias. As raparigas das famílias mais<br />

pobres são muito mais propensas a casar-se<br />

do que as raparigas oriundas de meios mais<br />

ricos.<br />

3.4. Impacto da violência e do<br />

abuso nas escolas<br />

A prevalência de violência, abuso e assédio<br />

sexual nas escolas afecta a frequência dos<br />

alunos, especialmente das raparigas, tendo<br />

sido identificada pelos pais como factor que<br />

influencia a decisão de retirar os seus filhos<br />

da escola. Um estudo realizado pelo MINED<br />

em 2008, de crianças, membros do conselho<br />

da escola e membros de unidades de género<br />

de direcções provinciais de educação avaliou<br />

a prevalência de todos os tipos de violência,<br />

assédio e abuso sexual nas escolas. Setenta<br />

por cento das raparigas entrevistadas<br />

afirmaram que alguns professores exigem<br />

relações sexuais para passar os alunos e<br />

que as escolas não oferecem segurança<br />

nesse aspecto, pois o acto é cometido com<br />

o conhecimento cúmplice das autoridades<br />

escolares. O estudo também observou<br />

que as vítimas e tutores não sabem que<br />

o abuso sexual é punível por lei. O medo<br />

de represálias impele frequentemente as<br />

vítimas ao silêncio. 26<br />

Em 2003, o MINED emitiu um decreto<br />

proibindo explicitamente os professores de<br />

terem relações sexuais com estudantes. O<br />

MINED declarou também uma política de<br />

‘tolerância zero’ para abusos sexuais, e no<br />

Plano Económico e Social anual de 2010 foi<br />

reforçada a capacidade dos pontos focais<br />

provinciais de género para monitorar e<br />

relatar casos de abuso sexual nas escolas.<br />

No entanto, continuam fracos tanto o<br />

seguimento do abuso nas escolas como a<br />

aplicação rigorosa do decreto e da política<br />

de tolerância zero. O Comité dos Direitos da<br />

Criança exprimiu a sua preocupação com a<br />

prevalência de abuso e assédio sexual nas<br />

escolas.<br />

3.5. Qualidade de ensino<br />

A qualidade de ensino continua a ser<br />

uma área de grande preocupação em<br />

Moçambique. Dados recentes do Consórcio<br />

da África Austral e Oriental para a Monitoria<br />

da Qualidade de Ensino (SACMEQ)<br />

indicam que entre 2000 e 2007 os níveis de<br />

Moçambique registaram uma deterioração<br />

significativa no desempenho em leitura<br />

e matemática. 27 O SACMEQ conclui que<br />

Figura 4.11: Resultados dos alunos em leitura,<br />

2000 e 2007<br />

SACMEQ<br />

Zimbábuè<br />

Zanzibar<br />

Zâmbia<br />

Uganda<br />

Tanzânia<br />

Swazilândia<br />

África do Sul<br />

Seicheles<br />

Namíbia<br />

Moçambique<br />

511,8<br />

500<br />

507,7<br />

504,7<br />

533,9<br />

478,2<br />

434,4<br />

440,1<br />

478,7<br />

482,4<br />

577,8<br />

545,9<br />

549,4<br />

529,6<br />

494,9<br />

492,3<br />

575,1<br />

582<br />

496,9<br />

448,8<br />

476<br />

516,7<br />

Figura 4.12: Resultados dos alunos em matemática,<br />

2000 e 2007<br />

SACMEQ<br />

Zimbábuè<br />

Zanzibar<br />

Zâmbia<br />

Uganda<br />

Tanzânia<br />

Swazilândia<br />

África do Sul<br />

Seicheles<br />

Namíbia<br />

Moçambique<br />

509,5<br />

500<br />

519,8<br />

486,2<br />

478,1<br />

435,2<br />

435,2<br />

481,9<br />

506,3<br />

552,7<br />

522,4<br />

540,8<br />

516,5<br />

494,8<br />

486,1<br />

550,7<br />

554,3<br />

471<br />

430,9<br />

483,8<br />

530<br />

Figura 4.10: Casamentos infantis e raparigas fora da escola secundária por província, 2008<br />

Maurícias<br />

573,5<br />

536,4<br />

Maurícias<br />

623,3<br />

584,6<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

42%<br />

24%<br />

Niassa<br />

Fonte: MICS 2008.<br />

50%<br />

30%<br />

Cabo<br />

Delgado<br />

46%<br />

21%<br />

Nampula<br />

42%<br />

22%<br />

Zambezia<br />

56%<br />

19%<br />

21%<br />

52%<br />

19%<br />

45%<br />

34%<br />

Tete Manica Sofala Inhambane<br />

9% 9%<br />

Gaza<br />

33%<br />

Girls out of secondary school Percentage married before age 15<br />

6%<br />

27%<br />

Maputo<br />

Province<br />

19%<br />

4%<br />

Malawi<br />

Lesoto<br />

Quénia<br />

Botsuana<br />

433,5<br />

428,9<br />

467,9<br />

451,2<br />

543,1<br />

546,5<br />

534,6<br />

521,1<br />

Botsuana<br />

0 200 400 600 800<br />

0 200 400 600 800<br />

Maputo<br />

City 2007 2000<br />

2007 2000<br />

Source: Makuwa, D.,‘What are the levels and trends in reading and mathematics achievement?’ Southern and Eastern Africa<br />

Consortium for Monitoring Education Quality, 2010.<br />

Malawi<br />

Lesoto<br />

Quénia<br />

447<br />

432,9<br />

476,9<br />

447,2<br />

557<br />

563,3<br />

520,5<br />

512,9<br />

120<br />

121


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 4: A EDUCAÇÃO E O DIREITO DAS CRIANÇAS AO DESENVOLVIMENTO<br />

o declínio de Moçambique de mais de<br />

40 pontos em leitura e matemática foi<br />

associado às rápidas mudanças estruturais<br />

no sistema de ensino no período em análise<br />

que resultaram em aumentos maciços das<br />

matrículas na 6ª classe sem que houvesse<br />

um correspondente aumento dos recursos<br />

humanos e materiais.<br />

Só se poderá alcançar qualidade de ensino<br />

quando os ambientes de aprendizagem<br />

forem amigos da criança e promoverem uma<br />

abordagem holística ao desenvolvimento da<br />

criança. Quer isto dizer que esses ambientes<br />

procuram dar resposta aos múltiplos direitos<br />

das crianças e estabelecem ligações entre<br />

a escola, a família e a comunidade. Os<br />

ambientes amigos da criança garantem às<br />

crianças espaços de aprendizagem seguros<br />

e adequados, acesso a instalações de água e<br />

saneamento, controlos de saúde regulares.<br />

A capacidade das crianças de aprender<br />

é prejudicada quando os ambientes de<br />

aprendizagem não são centrados na criança,<br />

sensíveis ao género, inclusivos, de protecção<br />

e livres de discriminação. 28<br />

Até o momento, a abordagem à garantia<br />

de qualidade na educação em Moçambique<br />

tem sido um tanto fragmentada, com<br />

investimentos direccionados principalmente<br />

para despesas correntes e para o<br />

desenvolvimento de melhores infraestruturas.<br />

Tende a ficar para trás uma maior<br />

atenção ao melhoramento do ambiente<br />

escolar.<br />

O ambiente nas escolas de Moçambique<br />

continua a não ser suficientemente<br />

favorável à promoção de uma abordagem à<br />

educação baseada em direitos que valorize<br />

as opiniões das crianças e promova o seu<br />

pensamento crítico e as suas faculdades<br />

criativas. O ensino é muitas vezes realizado<br />

em dois ou mais turnos por dia. As turmas<br />

chegam muitas vezes a ter 75 alunos<br />

(ver Disponibilidade de professores), a<br />

maioria sentados no chão, sem de livros,<br />

mesas e materiais de aprendizagem<br />

suficientes. Em muitas escolas, as aulas<br />

são ministradas debaixo de árvores ou em<br />

pátios abertos, sem acesso a instalações<br />

de água ou saneamento. Não havendo um<br />

ambiente físico de qualidade, propício à<br />

aprendizagem e um processo de ensinoaprendizagem<br />

em sala de aula centrado na<br />

criança, pouca possibilidade há de os alunos<br />

desenvolverem o seu potencial, habilidades<br />

para a vida ou as atitudes adequadas.<br />

Moçambique tem um forte currículo, que<br />

descreve as competências (conhecimentos,<br />

habilidades, atitudes e práticas para a vida<br />

diária) que os alunos devem desenvolver,<br />

que se insere num quadro baseado em<br />

direitos. No entanto, o tipo de aprendizagem<br />

que de facto se verifica nas escolas<br />

nem sempre coincide com a visão ou as<br />

expectativas estabelecidas no currículo.<br />

A aprendizagem é predominantemente<br />

orientada para a memorização, e a interacção<br />

em sala de aula não corresponde à visão ou<br />

expectativas do currículo, o que contribuiu<br />

para elevadas taxas de abandono, baixos<br />

níveis de desempenho e baixas taxas de<br />

conclusão escolar. Outros factores, tais como<br />

a falta de cuidados de saúde e nutrição,<br />

diminuem ainda mais a capacidade das<br />

crianças em Moçambique de iniciar e<br />

prosseguir os seus estudos. Um conjunto<br />

consolidado de padrões básicos e mínimos<br />

pode funcionar como normas para as escolas<br />

garantirem que se ofereça às crianças um<br />

ambiente de aprendizagem propício.<br />

É muito limitado o material didáctico<br />

disponível para o ensino. O MINED fornece<br />

gratuitamente livros às crianças da 1ª à 7ª<br />

classe com base na projecção do número<br />

de matrículas. Em 2007, 53 por cento das<br />

crianças da 6ª classe tinham uso exclusivo<br />

de um livro de leitura. Catorze por cento<br />

partilhavam um livro com um colega de<br />

turma, enquanto 25 partilhavam um livro<br />

com dois ou mais colegas. Não havia<br />

livros disponíveis em 8 por cento das<br />

salas de aula da sexta classe. 29 Embora se<br />

tenham verificado avanços na distribuição<br />

de grandes quantidades de livros após a<br />

introdução do novo currículo do ensino<br />

primário em 2004, permanecem vários<br />

desafios. Os livros escolares fornecidos pelo<br />

governo tendem a chegar muito tarde, e<br />

são frequentes os desvios para o mercado<br />

informal.<br />

Em média a escola em Moçambique tem<br />

um grande número de professores sem<br />

formação e instalações que precisam<br />

de ser melhoradas. A falta de fortes<br />

programas de formação de professores<br />

e formadores de professores, tanto para<br />

a formação pré-docência como para a<br />

formação em exercício, tem perpetuado<br />

uma baixa qualidade nesses profissionais.<br />

A falta de preparação dos professores<br />

para leccionarem o novo currículo, e para<br />

prepararem os alunos para a aquisição de<br />

competências básicas de aprendizagem<br />

está a contribuir para elevados níveis de<br />

abandono escolar precoce, baixos níveis de<br />

desempenho e conclusão escolar, e exclusão<br />

dos mais vulneráveis.<br />

Poucas escolas em Moçambique oferecem<br />

presentemente um rácio professor-aluno ou<br />

um espaço adequados para proporcionar e<br />

manter a aprendizagem. 30 O fenómeno do<br />

‘choque de acesso’ é generalizado, tendo<br />

um aumento maciço do número de alunos<br />

conduzido a um sistema sobrecarregado<br />

que simplesmente não satisfaz. 31 Em<br />

2008/09, mais de 40 por cento do total de<br />

adultos e crianças (não contando bebés)<br />

em áreas urbanas estavam envolvidos em<br />

algum estudo, enquanto nas zonas rurais<br />

a percentagem rondava os 33 por cento. 32<br />

Mais de 1,2 milhões de pessoas estavam<br />

no sistema de ensino em 2008/09 em<br />

comparação com 2002/03. 33 Se isto constitui<br />

um significativo aumento no acesso à<br />

educação, coloca também grande pressão<br />

sobre o sistema de ensino.<br />

O choque de acesso agrava o problema das<br />

baixas taxas de conclusão, principalmente<br />

por estar incompleta a construção de<br />

escolas, e, consequentemente, estas não<br />

estarem capazes de oferecer vagas para<br />

todos os alunos em condições de transitar<br />

para o EP2 cada ano escolar. Segundo dados<br />

do MINED, cerca de 7,000 escolas do EP1<br />

não conseguiram oferecer vagas no EP2 para<br />

todos os estudantes elegíveis em 2009 (ver<br />

Infra-estruturas escolares).<br />

Não existe um quadro básico de padrões<br />

de qualidade do ensino. Embora existam<br />

vários regulamentos procurando estabelecer<br />

um ensino de qualidade, a falta de um<br />

sistema consolidado que defina requisitos<br />

mínimos para o ensino significa que nem os<br />

professores nem a comunidade estão claros<br />

quanto aos objectivos a serem alcançados<br />

relativamente às escolas. Não existem<br />

pontos de referência ou indicadores claros<br />

para monitoria do ensino, nem é medido<br />

o progresso nem são identificadas lacunas<br />

para que se possa fazer um planeamento<br />

adequado e definir sistematicamente metas<br />

a níveis descentralizados.<br />

3.6. Infra-estruturas escolares<br />

As infra-estruturas escolares são importantes<br />

para garantir qualidade do ambiente<br />

de aprendizagem. A superlotação é um<br />

problema sério nas escolas moçambicanas.<br />

O grande aumento no número de alunos no<br />

sistema de ensino nos últimos anos agravou<br />

a superlotação nas escolas e salas de aula. A<br />

falta de mobiliário escolar adequado (mesas,<br />

cadeiras, etc.) pode afectar a capacidade dos<br />

alunos de escrever correctamente e, a longo<br />

prazo, até a sua postura e saúde física. Sendo<br />

assim, as crianças enfrentam condições<br />

não saudáveis e em que a aprendizagem<br />

se torna difícil. Além disso, a falta de<br />

instalações de água e saneamento prejudica<br />

a frequência dos alunos, nomeadamente a<br />

das raparigas (ver Capítulo 3, Sobrevivência e<br />

desenvolvimento da criança).<br />

Existem em Moçambique três tipos de<br />

espaços de ensino: a escola convencional,<br />

escolas melhoradas e escolas de construção<br />

precária (de colmo, caniço). As escolas<br />

construídas com tijolos e cobertas com<br />

chapas de zinco são do tipo convencional,<br />

construídas pelo Governo. No entanto,<br />

devido ao lento ritmo de construção, muitas<br />

escolas são construídas pelas comunidades<br />

usando materiais localmente disponíveis;<br />

são estruturas basicamente temporárias,<br />

inadequadas para a aprendizagem das<br />

crianças. Todas as escolas secundárias<br />

existentes são do tipo convencional, embora<br />

em número manifestamente insuficiente.<br />

122<br />

123


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 4: A EDUCAÇÃO E O DIREITO DAS CRIANÇAS AO DESENVOLVIMENTO<br />

Em 2005, foi lançado um programa de<br />

construção acelerada de escolas de baixo<br />

custo, com participação das comunidades.<br />

Em Junho de 2010, tinham sido construídas<br />

4,601 salas de aula do ensino primário. 34<br />

Embora em 2010 se vá aplicar uma nova<br />

abordagem em regime experimental para<br />

a construção de escolas, a qualidade e a<br />

adequação das infra-estruturas escolares<br />

em Moçambique continua a ser um desafio,<br />

encontrando-se aquém das metas planeadas.<br />

Há uma situação de escassez de escolas<br />

secundárias. De acordo com as projecções<br />

para 2010, o número de crianças que<br />

completam a 7 ª classe deverá ultrapassar<br />

a entrada estimada para o ESG1 em quase<br />

185,000. 35 Para lidar com a falta de escolas<br />

secundárias, estão a ser ampliadas escolas<br />

primárias em algumas áreas. No entanto,<br />

como já se referiu neste relatório as aulas do<br />

ensino secundário são, por vezes, leccionadas<br />

por professores primários que não têm a<br />

formação exigida para o ensino secundário.<br />

Estão a ser construídas novas escolas<br />

secundárias, mas o ritmo de construção não<br />

tem acompanhando a demanda. Cortes no<br />

financiamento externo poderão vir a agravar<br />

este problema nos próximos anos.<br />

3.7. Disponibilidade de<br />

professores<br />

Moçambique enfrenta uma grave escassez<br />

de professores, e o rápido aumento das<br />

matrículas no ensino primário tem colocado<br />

significativa pressão sobre os professores<br />

no sistema de educação. A relação alunoprofessor<br />

deteriorou-se entre 2004 e 2006<br />

devido ao significativo aumento de alunos<br />

no sistema (ver Figura 4.13), mas melhorou<br />

entre 2006 e 2009. Não se registou melhoria<br />

do número de alunos por professor<br />

no ensino primário como resultado do<br />

número de novos professores contratados,<br />

principalmente devido a atrasos na<br />

substituição de funcionários que deixam o<br />

sector (mesmo por morte, despedimento<br />

e abandono de postos de trabalho), o que<br />

reflecte problemas na gestão de recursos<br />

humanos. 36 Em 2009, havia uma média<br />

de 68 alunos por professor na escola<br />

primária, superior a 65:1 em 2000. 37 O valor<br />

de referência internacional estabelecido<br />

pela Fast Track Initiative é de 40 alunos<br />

por professor. Existem significativas<br />

disparidades nas relações professor-aluno<br />

entre as diferentes províncias, variando de<br />

55:1 em Gaza a 91:1 na Zambézia.<br />

Apesar de um considerável aumento<br />

no número de professoras do ensino<br />

primário, de 16,922 em 2005 para 25,947<br />

em 2008, continua baixa a percentagem<br />

de professores do sexo feminino: em 2008,<br />

apenas 37 por cento dos professores do EP1<br />

e 29 por cento dos professores do EP2 eram<br />

mulheres. Também existem significativas<br />

disparidades entre as províncias: em<br />

Cabo Delgado, apenas 17 por cento dos<br />

professores a nível do EP2 eram mulheres,<br />

contra 38 por cento na Cidade de Maputo. 38<br />

As professoras servem de modelo para as<br />

raparigas, e, ao mesmo tempo, de bom<br />

exemplo para os rapazes verem as mulheres<br />

num papel profissional. É igualmente<br />

evidente que a presença de professoras<br />

diminui a probabilidade de violência e abuso<br />

sexual nas escolas.<br />

É comum o absentismo de professores,<br />

em parte por causa do HIV e SIDA, por um<br />

lado, e, por outro, baixo moral. Os salários<br />

dos professores são muitas vezes pagos<br />

com meses de atraso, especialmente os<br />

dos professores recém-contratados, o que<br />

os leva a abandonar os seus postos ou a<br />

privilegiar actividades não docentes.<br />

3.8. Formação pré-docência<br />

e formação contínua de<br />

professores<br />

Em 2009, estavam formados e qualificados<br />

para o ensino 68 por cento dos professores<br />

do EP1 e 79 por cento dos professores<br />

do EP2. No entanto, quase 32 por cento<br />

da força de formadores de professores<br />

primários em Moçambique não tinha<br />

formação pré-docência. 39 Há dois principais<br />

tipos de instituição de formação de docentes<br />

para o ensino primário em Moçambique:<br />

os Institutos de Formação dos Professores<br />

(IFPs), administrados pelo MINED, e as<br />

Escolas de Professores do Futuro (EPF),<br />

geridas pela organização não governamental<br />

ADPP (Ajuda de Desenvolvimento de Povo<br />

para Povo).<br />

Na província da Zambézia, apenas 58<br />

por cento dos professores do EP1 eram<br />

professores qualificados. 40 O MINED está a<br />

formar um crescente número de professores<br />

por ano, chegando a 10,000 professores em<br />

2009. 41 A diminuição da percentagem de<br />

professores qualificados constitui um desafio<br />

particularmente para o nível secundário,<br />

Tabela 4.1: Relação professor-aluno por província, 2008<br />

Província Rácio Professor-Aluno no EP1 Rácio professor-aluno no EP2<br />

Cidade de Maputo 62 59<br />

Cabo Delgado 71 37<br />

Gaza 55 44<br />

Inhambane 56 48<br />

Manica 63 45<br />

Maputo 56 48<br />

Nampula 83 45<br />

Niassa 68 41<br />

Sofala 75 58<br />

Tete 75 45<br />

Zambezia 91 44<br />

Figura 4.13: Rácio professor-aluno, 2004-2009<br />

78<br />

76<br />

74<br />

72<br />

70<br />

68<br />

66<br />

64<br />

62<br />

60<br />

2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />

Fonte: Ministério da Educação e Cultura, Contribuição do Sector para a Reunião de Planificação do QAD, Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2009.<br />

As quatro melhores<br />

As quatro médias<br />

As quatro piores<br />

Fonte: Cálculos do <strong>UNICEF</strong> com base em MEC 2008.<br />

124<br />

125


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 4: A EDUCAÇÃO E O DIREITO DAS CRIANÇAS AO DESENVOLVIMENTO<br />

onde 30 por cento do total de professores<br />

do primeiro ciclo do ensino não tinham<br />

formação em 2009, comparativamente<br />

a apenas oito por cento em 1992. 42 43 O<br />

sector deixou efectivamente de contratar<br />

professores sem formação a partir de 2008. 44<br />

Os números dos dois tipos de instituição<br />

de formação foram registando um aumento<br />

gradual, havendo pelo menos uma<br />

instituição de cada tipo em cada província<br />

do país. Para acelerar o recrutamento de<br />

professores com formação nas escolas<br />

primárias, o Governo, em 2007, reduziu<br />

a duração do curso de formação de<br />

professores pré-docência de dois anos para<br />

apenas um. Ambos os tipos de centro de<br />

formação estão agora a implementar cursos<br />

de formação pré-docência de um ano. Os<br />

IFPs também implementam programas de<br />

formação em exercício.<br />

O requisito de admissão ao IFPs/EPFs é<br />

um certificado de conclusão da 10ª classe.<br />

Devido à má qualidade do ensino secundário<br />

no país, muitos dos professores estagiários<br />

têm fracas competências de leitura e<br />

escrita. Um estudo realizado pelo Instituto<br />

de Formação da Matola, na província de<br />

Maputo, mostrou que quase 40 por cento<br />

dos formandos tinham adquirido a sua<br />

qualificação de 10 ª classe mais de seis<br />

anos antes da sua inscrição no programa e,<br />

consequentemente, tinham perdido a maior<br />

parte das suas competências académicas<br />

básicas e achavam difícil lidar com o<br />

conteúdo do curso, pesado, orientado para o<br />

conhecimento e altamente teórico.<br />

A mudança para um programa de um ano<br />

deu origem a problemas de qualidade<br />

e gestão dos cursos. O curso do IFP é<br />

operado de cima para baixo, com apenas<br />

uma semana estipulada para a prática<br />

docente. Como resultado, os graduados dos<br />

IFP não adquirem a experiência de ensino<br />

e as competências de gestão de aulas<br />

necessárias. Devido à falta de transporte,<br />

os formandos devem servir-se de escolas<br />

próximas dos centros de formação para sua<br />

prática docente. Isto faz com que um grande<br />

número de estagiários tente praticar as<br />

suas competências num pequeno número<br />

de escolas, reduzindo ainda mais o tempo<br />

disponível para a aquisição de experiência<br />

docente. As EPF, que foram obrigadas a<br />

encurtar as estruturas dos seus cursos de<br />

dois para um ano para se adequarem às<br />

directrizes nacionais, são comparativamente<br />

mais bem geridos, dedicando 50 por<br />

cento do curso de um ano à prática de<br />

ensino. Os formandos aprendem através<br />

de um sistema assistido por computador,<br />

de auto-aprendizagem com tutores à<br />

disposição para resolver problemas. São<br />

atribuídas aos alunos responsabilidades<br />

de gestão de determinadas funções do<br />

centro de formação, o que lhes proporciona<br />

experiência prática em gestão institucional.<br />

Apenas alguns membros do corpo docente<br />

dos IFP tem experiência como formadores<br />

de professores, pois são geralmente<br />

recrutados da área administrativa do MINED.<br />

Há também falta de formadores no sistema<br />

dos IFP, e o conteúdo dos seus cursos tem<br />

sido constantemente alterado ao longo dos<br />

últimos três anos para acomodar novas<br />

áreas. Estas mudanças resultaram num<br />

curso pré-docência muito pesado. Muitas<br />

vezes não há tempo suficiente para cobrir<br />

os temas de forma adequada. O MINED está<br />

a planear uma revisão da estrutura e do<br />

conteúdo do curso dos IFP.<br />

Para orientar os formadores dos IFP para a<br />

estrutura evolutiva do curso, os membros<br />

da equipe técnica do Departamento<br />

de Recursos Humanos do MINED são<br />

destacados para formar os formadores,<br />

apesar de muitos deles não serem<br />

necessariamente formadores de professores<br />

profissionalmente qualificados ou<br />

equipados com metodologias de formação<br />

de professores. Além disso, a afectação<br />

de recursos aos IFPs continua a ser muito<br />

desigual entre as diferentes províncias,<br />

e não são claros os critérios utilizados.<br />

Todos esses factores contribuem para uma<br />

situação crítica no sistema de formação de<br />

professores do país.<br />

Um curso em Ensino Básico, com a duração<br />

de dois anos, gerido pela Universidade<br />

Pedagógica destina-se principalmente a<br />

preparar os formadores de professores. Tal<br />

curso continua, no entanto, a ser teórico<br />

e a carecer de conhecimento prático e<br />

competências de formação.<br />

O principal órgão encarregado de fazer<br />

monitoria pedagógica e apoiar professores<br />

na formação em exercício é a Zona de<br />

Influência Pedagógica (ZIP). As escolas<br />

também têm tido a responsabilidade de<br />

prestar apoio em exercício a professores<br />

a nível de agrupamento. Não existe<br />

nenhum sistema estruturado ou política de<br />

formação de professores em exercício em<br />

Moçambique. A formação em exercício é<br />

geralmente executada em regime ad hoc<br />

nos IFPs, principalmente impulsionada<br />

por exigências centrais e não com base na<br />

avaliação das necessidades locais. Como<br />

resultado, há várias intervenções de formação<br />

de professores em exercício de curto prazo a<br />

serem apoiadas por parceiros, que decorrem<br />

em paralelo. Estas intervenções continuam<br />

descoordenadas e insustentáveis e têm pouco<br />

impacto institucional ou pouco impacto<br />

duradouro no desenvolvimento profissional<br />

dos professores.<br />

A ZIP é a escola principal duma localidade<br />

encarregada de fazer supervisão pedagógica<br />

de professores e directores de escola.<br />

A autoridade educacional do distrito<br />

também realiza uma ou duas visitas de<br />

supervisão por ano a um número limitado<br />

de escolas. Vários aspectos limitam o<br />

funcionamento eficaz do coordenador da<br />

ZIP, que é também o director da escola<br />

principal, com responsabilidades docentes<br />

e administrativas que limitam o tempo<br />

disponível para visitar outras escolas do<br />

grupo correspondente à ZIP. Pode haver<br />

mais de 20 escolas num grupo, podendo<br />

estas localizar-se a 25 km ou mais da escola<br />

principal. As excessivas demandas não<br />

académicas que se fazem sentir sobre os<br />

coordenadores das ZIPs têm impedido<br />

o desenvolvimento de um sistema mais<br />

estruturado de apoio aos professores a<br />

esse nível. Experiências de outros países<br />

mostram uma utilização bem sucedida<br />

das ZIPs como canal para a realização de<br />

sessões regulares de aprendizagem mútua<br />

para desenvolvimento dos professores,<br />

planificação conjunta de aulas e resolução<br />

de problemas.<br />

Ao mesmo tempo, as condições actuais de<br />

trabalho dos professores (baixos salários,<br />

falta de habitações nas zonas rurais, falta<br />

de transporte) terão de ser melhoradas<br />

para se conseguir chegar a um sistema de<br />

supervisão e apoio ao professor a nível local<br />

que funcione.<br />

3.9. Gestão escolar<br />

As deficiências no sistema de formação<br />

de professores e a fraca qualidade dos<br />

professores no país que daí resulta tornam<br />

a gestão escolar ainda mais importante na<br />

obtenção de resultados. A gestão não é,<br />

no entanto, uma área isenta de problemas.<br />

Em primeiro lugar, não há nenhum curso<br />

de formação de directores de escola em<br />

Moçambique e, portanto, todos os directores<br />

de escola são apenas professores que foram<br />

considerados aptos para desempenhar essa<br />

função. Muitos directores de escola não têm,<br />

inclusivamente, formação docente. Além<br />

disso, todos os directores de escola são<br />

obrigados a leccionar, dando, muitas vezes,<br />

aulas em dois turnos ou fazendo horas<br />

extras (no EP2), o que reduz o tempo de que<br />

dispõem para realizar a gestão e supervisão<br />

escolar.<br />

3.10. Falta de enfoque em saúde<br />

escolar<br />

Os programas de saúde escolar e nutrição<br />

são formas de baixo custo de manter<br />

as crianças na escola e promover uma<br />

educação de qualidade. Moçambique tem<br />

um programa de saúde escolar que faz<br />

parte do programa nacional integrado<br />

do sector da saúde, o qual principiou no<br />

início de 1980. O Ministério da Saúde e o<br />

MINED implementaram conjuntamente o<br />

programa de saúde escolar no âmbito de<br />

um memorando de entendimento que define<br />

os papéis e as responsabilidades de ambos<br />

os sectores e estabelece o mecanismo<br />

126<br />

127


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 4: A EDUCAÇÃO E O DIREITO DAS CRIANÇAS AO DESENVOLVIMENTO<br />

de coordenação. É, no entanto, grande<br />

o fosso existente entre a política e a sua<br />

implementação.<br />

Problemas de saúde crónicos continuam<br />

a ser um grande desafio, podendo minar<br />

as conquistas obtidas no aumento do<br />

acesso à educação. Uma saúde deficiente<br />

- especialmente devido a malária - a<br />

desnutrição e a cólera são os factores<br />

subjacentes ao absentismo, ao fraco<br />

desempenho escolar e ao abandono escolar.<br />

Consulte o Capítulo 3 para mais informações<br />

sobre os desafios de saúde enfrentados por<br />

crianças moçambicanas.<br />

3.11. Impacto da língua nos<br />

resultados educacionais<br />

A língua de ensino em todo o país é o<br />

Português, a língua oficial de Moçambique.<br />

No entanto, Moçambique tem 19 línguas<br />

locais. A maioria das comunidades fala<br />

na sua língua local, ou uma mistura de<br />

português e uma língua local, em casa.<br />

O primeiro contacto da criança com o<br />

português geralmente ocorre quando a<br />

criança começa a frequentar a escola. Isso<br />

pode afectar negativamente a aprendizagem<br />

das crianças. 45 Alguns professores nunca<br />

ficam plenamente qualificados para o<br />

ensino de português, porque o português<br />

é para eles uma segunda língua. O uso do<br />

português como meio predominante de<br />

ensino pode atrasar a entrada na escola de<br />

crianças que provêm de subgrupos culturais<br />

e falam línguas diferentes, podendo conduzir<br />

a mais baixos resultados educacionais,<br />

como, por exemplo, baixos níveis de literacia<br />

em português.<br />

Com a reforma do ensino, foi incorporado<br />

ao novo currículo o ensino bilingue, estando<br />

a ser actualmente aplicadas em regime<br />

experimental, num pequeno número de<br />

escolas, duas abordagens alternativas. Na<br />

primeira, o Português é a língua principal<br />

de ensino, e o idioma local é usado como<br />

recurso adicional de ensino e aprendizagem;<br />

no segundo, a língua local é usada como<br />

língua de ensino até à segunda classe,<br />

enquanto o português é estudado como<br />

uma disciplina formal independente.<br />

Esta iniciativa ainda se encontra numa<br />

fase piloto e está a ser implementada em<br />

apenas algumas escolas em todo o país. Há<br />

indicações de que, embora extremamente<br />

limitada, a iniciativa começa a apresentar<br />

resultados positivos, pelo que o Ministério<br />

pretende expandi-la gradualmente ao resto<br />

do país a partir de 2011. A produção de<br />

material escolar para acomodar todas as<br />

línguas locais constitui um desafio.<br />

4. Outras questões no sector da educação<br />

4.1. Estratégia de habilidades<br />

para a vida visando<br />

combater a SIDA<br />

Desde 2002 que o MINED tem vindo a<br />

implementar programas educacionais de<br />

combate ao HIV. Esses programas estão<br />

em sintonia com o plano estratégico<br />

nacional de combate ao HIV e SIDA e<br />

guiam-se pela estratégia do sector para o<br />

HIV, 46 que tem em vista reduzir o impacto<br />

do HIV e SIDA nos trabalhadores através<br />

de políticas para locais de trabalho e, nos<br />

estudantes, através do desenvolvimento<br />

de programas de habilidades para a vida<br />

nas escolas, da integração de HIV e saúde<br />

sexual e reprodutiva no currículo escolar,<br />

e proporcionando kits de informação<br />

sobre o HIV e SIDA. Com a ajuda de vários<br />

parceiros, o programa Geração Biz, apoiado<br />

pelo FNUAP e agora pelo MINED como um<br />

programa nacional, promove a educação<br />

para a vida através do seu pacote básico<br />

para a faixa etária 15-18 anos. O <strong>UNICEF</strong><br />

promove um programa de habilidades para<br />

a vida que combina conhecimento com<br />

estratégias de comunicação para a faixa<br />

etária Janela de Esperança (10 a 14 anos de<br />

idade). O programa, que foi implementado<br />

em 86 distritos em todas as províncias<br />

de Moçambique, ajuda as crianças a<br />

melhorarem as suas habilidades para a vida<br />

e a adquirirem conhecimentos e informações<br />

para se protegerem de comportamentos de<br />

risco. O programa também inclui a criação<br />

de um sistema de apoio à comunidade<br />

através de programas de rádio.<br />

Importantes desafios destas abordagens<br />

são a sustentabilidade no desenvolvimento<br />

de parcerias com organizações não<br />

governamentais, a capacitação de<br />

professores para difundir a educação<br />

baseada em habilidades para a vida e a<br />

alocação de recursos, pois estes programas<br />

continuam a ser financiados com ajuda<br />

externa.<br />

O MINED adoptou uma política de local<br />

de trabalho para reduzir o impacto do<br />

HIV e SIDA nos trabalhadores. Em 2009,<br />

o Ministério iniciou a implementação de<br />

um programa para monitorar e reduzir<br />

gradualmente a prevalência de infecções<br />

de transmissão sexual nos funcionários.<br />

O programa também inclui controlos<br />

periódicos de saúde dos trabalhadores.<br />

4.2. Participação das crianças<br />

O sistema educativo, ao invés de centrado<br />

na criança, continua a ser centrado no<br />

professor. As crianças só falam em resposta<br />

a questões colocadas pelos professores e<br />

são incentivadas a responder em uníssono.<br />

Estão a ser feitos esforços para incentivar<br />

a participação das crianças na escola. Uma<br />

dessas iniciativas é a sua participação no<br />

sistema dos conselhos da escola. Estes<br />

são compostos por representantes de<br />

estudantes, pais, professores e outros<br />

membros da comunidade. Os representantes<br />

dos alunos são eleitos pelos seus pares. Os<br />

conselhos da escola discutem e promovem<br />

soluções para os problemas que afectam<br />

as suas escolas. O desafio desta iniciativa é<br />

assegurar que a participação das crianças<br />

não seja unicamente simbólica e darlhes<br />

uma voz activa na gestão da escola.<br />

Em suas observações finais no segundo<br />

relatório periódico de Moçambique, o<br />

Comité dos Direitos da Criança expressou<br />

a sua preocupação por “as opiniões da<br />

criança em Moçambique por vezes não<br />

serem solicitadas nem consideradas em<br />

vários ambientes que lhe dizem respeito...<br />

inclusivamente em matéria de administração<br />

escolar e educação...”. 47<br />

Desporto e actividades recreativas são<br />

direitos da criança, como prevê o artigo 31<br />

da Convenção sobre os Direitos da Criança.<br />

Embora o desporto seja uma componente<br />

vital do bem-estar da criança e a educação<br />

física parte integrante do currículo do ensino<br />

128<br />

129


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 4: A EDUCAÇÃO E O DIREITO DAS CRIANÇAS AO DESENVOLVIMENTO<br />

primário, as escolas em Moçambique,<br />

sobretudo a nível primário, não têm<br />

qualquer actividade recreativa organizada<br />

ou actividades em equipa. A maior parte dos<br />

professores das escolas não têm formação<br />

formal em educação física e gestão<br />

desportiva. Nem sempre se pode dispor de<br />

equipamento ou instalações recreativas,<br />

especialmente em escolas em áreas rurais.<br />

Há no entanto no país uma forte cultura<br />

desportiva informal a nível da comunidade,<br />

mas não é muito comum a participação<br />

de raparigas e crianças portadoras de<br />

deficiência.<br />

4.3. Educação para crianças<br />

com necessidades especiais<br />

De acordo com o plano estratégico nacional<br />

do sector da educação, a educação especial<br />

está integrada na educação inclusiva. As<br />

escolas especiais geridas pelo Ministério da<br />

Mulher e da Acção Social são as instituições<br />

de educação especial predominantes. Em<br />

2009, havia cerca de 62,000 crianças com<br />

necessidades especiais matriculadas em<br />

escolas normais. Em 2008, foram formados<br />

apenas 3,127 professores para servir<br />

crianças com necessidades especiais, e<br />

havia apenas 98 escolas a oferecer educação<br />

inclusiva. 48<br />

4.4. Financiamento e alocação<br />

orçamental do sector da<br />

educação<br />

593 milhões de dólares americanos foram<br />

afectados ao sector da educação em 2010,<br />

o que representa um aumento de 10 por<br />

cento em 2009 (ver Figura 4.14). A despesa<br />

total com a educação do sector público<br />

aumentou substancialmente entre 2005 e<br />

2009 (20-37 por cento ao ano). 49 A execução<br />

orçamental no sector da educação é muitas<br />

vezes superior à dotação orçamental, pois<br />

durante o ano são feitos frequentes top-ups<br />

ao orçamento.<br />

Nos últimos anos, foram atribuídos ao<br />

sector da educação 18 a 22 por cento do<br />

orçamento. Em termos de despesa efectiva,<br />

a percentagem tem sido sistematicamente<br />

acima da marca dos 20 por cento (em 2009,<br />

a parcela da educação foi de cerca de 22<br />

por cento). A meta do PARPA II é 19 por<br />

cento. O sector da educação aumentou os<br />

seus gastos em cerca de 68 por cento entre<br />

2004 e 2008. Em geral, a taxa de execução<br />

do sector da educação tem sido razoável<br />

(90 por cento) em comparação com outros<br />

sectores, o que poderia explicar a maior<br />

parcela percentual na execução em relação à<br />

dotação orçamental. 50<br />

O financiamento externo directo destinado<br />

ao sector tem sido 35-40 por cento da<br />

despesa total (cerca de 230 milhões de<br />

dólares em 2009). Cerca de 60 por cento do<br />

financiamento externo é canalizado através<br />

do fundo comum do sector da educação. O<br />

financiamento externo financia a maior parte<br />

dos custos de investimento e correntes não<br />

relacionados com salários. 51<br />

Embora a estrutura do orçamento actual<br />

não desagregue a informação por nível de<br />

ensino, estima-se que o ensino primário<br />

(EP1 e EP2) recebeu a maior parcela de<br />

fundos, cerca de 48-54 por cento da despesa<br />

total. Prevê-se que o ensino secundário<br />

receba cerca de 20 por cento do orçamento<br />

(ES1 e ES2). 52 Salários e remunerações<br />

representaram cerca de metade do<br />

orçamento total em 2010. 53<br />

Os fundos são alocados às províncias com<br />

base em tendências históricas directamente<br />

relacionadas com a estrutura da educação a<br />

nível provincial. Estão a ser tomadas algumas<br />

medidas correctivas para combater as<br />

desigualdades entre as províncias, como, por<br />

exemplo, a afectação de novos professores<br />

com base no rácio professor/aluno. No<br />

Caixa 4.1: Educação para Todos – Fast Track Initiative<br />

entanto, os fundos atribuídos por aluno em<br />

Nampula são pouco mais de um quarto dos<br />

atribuídos por aluno na província de Niassa, e<br />

um terço dos fundos atribuídos per capita na<br />

Cidade de Maputo. 54<br />

Apesar dos ganhos de eficiência resultantes<br />

da existência de um plano estratégico<br />

nacional do sector, é necessário que, com a<br />

crescente procura de lugares, se mantenham<br />

investimentos acrescidos no sistema de<br />

ensino pós-primário (isto é, nas escolas<br />

secundárias e técnicas). Também é necessário<br />

investimento nos níveis de ensino secundário<br />

e superior para que se consiga produzir um<br />

número suficiente de professores qualificados<br />

para munir o crescente número de escolas<br />

primárias e secundárias.<br />

4.5. Financiamento externo<br />

A crise financeira global e o Código de<br />

Conduta da UE sobre a Divisão de Trabalho<br />

podem ter efeitos negativos sobre o<br />

financiamento externo para o sector da<br />

educação nos próximos anos. Para 2010,<br />

os compromissos externos foram menos<br />

22 por cento que em 2009. Embora o<br />

orçamento geral da educação para 2010 tenha<br />

Figura 4.14: Dotação orçamental para a educação em milhões de meticais, 2009 e 2010<br />

25,000<br />

20,000<br />

15,000<br />

10,000<br />

5,000<br />

0<br />

6,734<br />

9,433<br />

2009<br />

16,167<br />

7,051<br />

13,720<br />

2010<br />

Componente Investimento Componente Recorrente Total<br />

Fonte: FDC e <strong>UNICEF</strong>, O Que Diz A Proposta de Orçamento do Estado 2010 Sobre a Previsão de Recursos no Sector da Educação?,<br />

Resumo do Orçamento, <strong>UNICEF</strong> Moçambique, Maputo, 2010.<br />

20,771<br />

A Educação para Todos – Fast Track Initiative (EFA-FTI) foi lançada em 2002 como parceria<br />

global entre doadores e países em desenvolvimento para assegurar um progresso acelerado<br />

na prossecução dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio de educação primária universal<br />

até 2015. Todos os países de baixo rendimento que demonstrem um compromisso sério na<br />

materialização do ensino primário universal podem receber apoio da FTI.<br />

A FTI assenta em compromissos mútuos. Os países parceiros têm colocado o ensino primário<br />

na vanguarda dos esforços nacionais e desenvolvido fortes planos nacionais de educação,<br />

enquanto os doadores fornecem apoio financeiro e técnico coordenado e acrescido de<br />

forma transparente e previsível. A Fast Track Initiative administra dois fundos que podem<br />

conceder apoio financeiro para os objectivos de educação nos países de baixa renda: o Fundo<br />

Catalítico para a Educação, com um total de US$ 1,5 mil milhões de dólares americanos em<br />

compromissos (2003-2009), e o Fundo de Desenvolvimento do Programa de Educação, EUA,<br />

com 92 milhões de dólares em compromissos (2005-2009).<br />

Os recursos internos do sector têm sido prioritariamente canalizados para: (i) manutenção do<br />

sistema de apoio existente, (ii) melhoramento da qualidade da educação primária, e (iii) reforço<br />

da capacidade de implementação a nível distrital. 56 É a expansão do ensino pós-primário que<br />

mais afectada fica com a redução dos recursos externos para 2010.<br />

130<br />

131


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 4: A EDUCAÇÃO E O DIREITO DAS CRIANÇAS AO DESENVOLVIMENTO<br />

aumentado em cerca de 10 por cento, devido<br />

a um financiamento interno acrescido em 36<br />

por cento, a perda de financiamento externo<br />

tem afectado directamente o financiamento<br />

das actividades do programa do sector,<br />

uma vez que o aumento do financiamento<br />

interno é principalmente orientado para<br />

o financiamento de novos contratos de<br />

professores e a reforma salarial. Moçambique<br />

tem, no entanto, solicitado fundos adicionais<br />

ao abrigo do Fundo Catalítico da Fast Track<br />

Initiative (ver Caixa 4.1) após o termo da fase<br />

I em 2010, e conseguiu obter 90 milhões de<br />

dólares para o período 2011-2013. 55<br />

4.6. Programa Apoio Directo às<br />

Escolas<br />

O Apoio Directo às Escolas (ADE) transfere<br />

fundos directamente para as escolas<br />

de acordo com o número de alunos<br />

matriculados para superar barreiras de custo<br />

através de um processo de descentralização.<br />

O ADE aumentou a sua assistência financeira<br />

às escolas cinco vezes entre 2003 e 2009. 57<br />

58 De acordo com um estudo de avaliação<br />

realizado em 2007/08, foi sentimento geral<br />

das partes interessadas que o ADE contribui<br />

para a redução de problemas nas escolas<br />

(através do fornecimento de materiais<br />

necessários e melhor funcionamento das<br />

escolas), melhora o processo de ensino e<br />

aprendizagem e, portanto, a qualidade da<br />

educação, e apoia crianças carentes. 59 No<br />

entanto, apesar de serem fornecidos alguns<br />

materiais escolares através do ADE, são<br />

muitas vezes insuficientes em quantidade,<br />

fazendo com que os pais tenham de comprar<br />

consumíveis adicionais.<br />

Em Março de 2006, foi criado um programa<br />

piloto - Apoio Directo às Escolas - Crianças<br />

Órfãs e Vulneráveis (ADE-COV) - para<br />

apoiar a matrícula escolar e a retenção<br />

de crianças órfãs e vulneráveis em quatro<br />

distritos, aumentando para 12. vi Duplicou<br />

os fundos disponíveis de ADE por criança<br />

para o fornecimento de materiais e reduziu<br />

as principais barreiras à escolarização<br />

e retenção associadas a custos de<br />

oportunidade. Em dois distritos, este regime<br />

experimental foi também complementado<br />

por medidas de redução de outras barreiras<br />

dentro e fora da escola. vii Dados disponíveis viii<br />

indicam que o número de crianças órfãs<br />

e vulneráveis matriculadas aumentou nos<br />

distritos-alvo do ADE-COV em 56 por cento,<br />

quando o aumento médio nacional foi de 21<br />

por cento.<br />

vi Os quatro distritos foram: Angónia, província de Tete, Búzi, província de Sofala, Chókwè, província de Gaza, e Mocímboa<br />

da Praia, província de Cabo Delgado. Foram escolhidos com base nas taxas de prevalência do HIV, taxas de matrícula<br />

escolar, densidade populacional, meios de vida e vulnerabilidade, e sua situação geral de governação e administrativa.<br />

vii Ou seja, o fornecimento de registo de nascimento, um programa de extensão para identificar crianças órfãs e<br />

vulneráveis fora da escola e monitorar a sua participação, e prestação de apoio psicossocial às crianças órfãs e<br />

vulneráveis, consoante as necessidades. O Ministério da Mulher e da Acção Social e a Direcção Nacional dos Registos e<br />

Notariado orientam-nos na colaboração com os conselhos da escola.<br />

viii A província de Sofala, de que faz parte o distrito do Búzi, não tinha dados oficiais sobre as crianças órfãs e vulneráveis<br />

relativos a 2007.<br />

5. Conclusões<br />

Nos últimos anos registou-se um<br />

significativo progresso na expansão da<br />

participação no ensino primário. No entanto,<br />

continuam baixas as taxas de conclusão<br />

do ensino primário, bem como as taxas<br />

de frequência no nível secundário. Apesar<br />

de subsistirem diferenças, também foram<br />

reduzidas discrepâncias de longa data na<br />

frequência escolar das crianças entre as<br />

áreas urbana e rural e entre as famílias mais<br />

pobres e mais ricas. Têm sido eliminadas as<br />

disparidades entre rapazes e raparigas nas<br />

taxas líquidas de frequência.<br />

A qualidade da educação é um desafio<br />

fundamental para o sector, indicando<br />

dados recentes do SACMEQ que têm<br />

vindo a agravar-se nos últimos anos. É<br />

necessária uma abordagem abrangente<br />

para melhorar a qualidade de ensino<br />

através de: (i) desenvolvimento de padrões<br />

de qualidade escolar, (ii) criação de um<br />

quadro nacional de avaliação dos resultados<br />

da aprendizagem, e (iii) integração de<br />

vários esforços de formação, motivação e<br />

supervisão de professores, especialmente<br />

para supervisão pedagógica em exercício<br />

e apoio aos professores. A implementação<br />

da nova política de livros escolares deverá<br />

ter um impacto positivo na qualidade do<br />

ensino. Uma política nacional de expansão<br />

do ensino bilingue deverá também contribuir<br />

para a melhoria de qualidade.<br />

Num quadro de redução do financiamento<br />

externo, é necessária uma alocação<br />

estratégica de recursos para evitar que se<br />

percam ganhos já alcançados, como o apoio<br />

à iniciativa Apoio Directo a Crianças Órfãs<br />

e Vulneráveis (ADE-COV). Para garantir<br />

equidade, é necessário reconsiderar-se o uso<br />

do ADE para diferentes níveis de ensino.<br />

É necessário um significativo e sustentado<br />

investimento para fortalecer a capacidade<br />

institucional do Governo aos níveis<br />

nacional e subnacional. Deveriam ser<br />

implementados em regime experimental<br />

mecanismos que fossem projectados para<br />

proporcionar incentivos visando a redução<br />

de determinados constrangimentos-chave<br />

(inclusive relacionados com a colocação em<br />

locais remotos) e reforçar mecanismos de<br />

responsabilização. É ainda necessário que<br />

se realize e implemente um amplo processo<br />

de revisão e reforma salarial em que se dê<br />

prioridade à concessão de apoio adequado a<br />

trabalhadores da ‘linha da frente’.<br />

Para se efectuarem melhorias na qualidade<br />

de ensino, será necessário que se<br />

profissionalize o programa de formação<br />

de professores, tanto na componente prédocência<br />

como na componente em exercício<br />

a todos os níveis. Uma área que requer<br />

muita atenção é a do desenvolvimento de<br />

metodologias de formação e ensino que<br />

deixem de ser autoritárias e orientadas<br />

para a exposição para se tornarem práticas<br />

centradas no aluno e de aprendizagem<br />

independente que favoreçam as faculdades<br />

de pensamento crítico e criatividade. Uma<br />

racionalização do processo de selecção<br />

de formandos pré-docência garantirá a<br />

qualidade dos recursos humanos na profissão<br />

docente.<br />

É necessário que se descentralizem os<br />

programas de formação em exercício<br />

concebidos com base na avaliação<br />

das necessidades em professores.<br />

Isto promoverá o desenvolvimento de<br />

profissionalismo, confiança e motivação do<br />

professor. O desenvolvimento de um sistema<br />

estruturado e não ameaçador de apoio e<br />

supervisão ao professor tendo as ZIPS como<br />

os centros de recursos locais irá garantir o<br />

apoio necessário e contínuo, crucial para o<br />

desenvolvimento do professor.<br />

É necessário um sistema de identificação<br />

das competências essenciais do aprendiz e o<br />

acompanhamento do progresso das crianças<br />

através de avaliação contínua. Monitorar o<br />

nível e a aquisição de competências pelas<br />

crianças é uma componente integrante do<br />

132<br />

133


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 4: A EDUCAÇÃO E O DIREITO DAS CRIANÇAS AO DESENVOLVIMENTO<br />

sistema de passagens semi-automáticas.<br />

Isso exigirá o desenvolvimento de<br />

programas de formação de professores,<br />

tanto pré-docência como em exercício, que<br />

incidam sobre metodologias de ensino em<br />

torno de competências básicas e avaliação<br />

dessas competências por meio de métodos<br />

não ameaçadores. O desenvolvimento de um<br />

sistema nacional de avaliação (que o INDE<br />

tem presentemente em vista) terá de ser<br />

feito através de um processo consultivo que<br />

assegure apropriação e responsabilização.<br />

Deverão ser reforçadas as unidades de<br />

género a nível nacional e descentralizado<br />

para sensibilizar todas as autoridades<br />

escolares e membros de conselhos da escola<br />

sobre a prevenção e denúncia de abuso<br />

sexual; que o Ministério do Interior, em<br />

colaboração com o M inistério da Mulher<br />

e da Acção Social, reveja o seu Despacho<br />

39/GM/2003 para garantir que se puna quem<br />

cometa actos de abuso e violência.<br />

A sociedade civil continuará a<br />

desempenhar um importante papel não<br />

só na criação de procura, promovendo<br />

mudança de comportamento, mas também<br />

apoiando a expansão do acesso e da<br />

qualidade dos serviços básicos. Como<br />

muitas organizações da sociedade civil<br />

estão estabelecidas a nível da comunidade,<br />

elas estão também frequentemente em<br />

boas condições para garantir que os<br />

programas de desenvolvimento atinjam<br />

as populações mais vulneráveis e para<br />

defender a materialização dos direitos<br />

humanos. Deverão ser reforçadas<br />

as capacidades das organizações<br />

da sociedade civil a todos os níveis,<br />

devendo implementar-se mecanismos de<br />

coordenação para promover coerência e<br />

partilha de informação em abordagens<br />

lideradas e globalmente dirigidas por<br />

contrapartes governamentais de nível<br />

nacional e subnacional.<br />

Referências<br />

1 Da Costa, Maria Raquel ‘Relatório da<br />

Assistência Técnica na Área da Primeira<br />

Infância’ (inédito), 2009.<br />

2 Cálculos dos autores com base em ‘MICS<br />

2008, Relatório Final’, Instituto Nacional de<br />

Estatística, Governo de Moçambique, Maputo,<br />

2010, e no Censo de 2007.<br />

3 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />

Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

4 Ibid.<br />

5 Cálculos dos autores com base em ‘MICS<br />

2008, Relatório Final’, Instituto Nacional de<br />

Estatística, Governo de Moçambique, Maputo,<br />

2010, e no Censo de 2007.<br />

6 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />

Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

7 Ibid<br />

8 Ibid<br />

9 Ibid<br />

10 Ibid<br />

11 Ministério da Educação, Reunião<br />

de planificação, 2010. Balanço do<br />

aproveitamento escolar, 2009. Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2010.<br />

12 Ministry of Education and Culture, Education<br />

Statistics: Annual school results, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2008.<br />

13 Instituto Nacional de Estatística,’MICS 2008,<br />

Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

14 Cálculos dos autores com base em Instituto<br />

Nacional de Estatística, ‘MICS 2008, Relatório<br />

Final,’ Governo de Moçambique, Maputo,<br />

2010<br />

15 Ibid<br />

16 Ibid<br />

18 Ministério de Educação e Cultura, ‘Plano<br />

Estratégico de Educação e Cultura 2006-2011,’<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2006.<br />

19 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />

Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

20 Ministério da Educação e Cultura, Balanço<br />

do Plano Quinquenal do Governo Educação<br />

e Cultura, Governo de Moçambique, Maputo,<br />

2009.<br />

21 Instituto Nacional de Estatística, ‘Inquérito<br />

aos Agregados Familiares sobre o Orçamento<br />

Familiar 2002/3,’ Relatório Final, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2003.<br />

22 Justiniano, M., et al., ‘Multifaceted Challenges:<br />

A study on the barriers to girls´ education,<br />

Zambézia province’, <strong>UNICEF</strong> <strong>Mozambique</strong>,<br />

Maputo, 2005.<br />

23 World Bank, ‘PSIA II – Follow up Study of<br />

Primary Education and Baseline Study of<br />

Secondary Education, <strong>Mozambique</strong>’, World<br />

Bank, Maputo, 2007.<br />

24 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />

Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

25 World Bank, ‘PSIA II – Follow up Study of<br />

Primary Education and Baseline Study of<br />

Secondary Education, <strong>Mozambique</strong>’, World<br />

Bank, Maputo, 2007.<br />

26 Ministério da Educação e Cultura, Relatório<br />

da Auscultação Através das Unidades de<br />

Género, dos Conselhos das Escolas, e Jovens<br />

Raparigas sobre Que Mecanismo a Adoptar<br />

para Prevenção, Combate, Denúncia e<br />

Encaminhamento de Casos de Assédio e Todo<br />

o Tipo de Abuso, Incluindo o Abuso Sexual na<br />

Escola, Governo de Moçambique, Maputo, 2008.<br />

27 Makuwa, D. ‘What are the levels and trends<br />

in reading and mathematics achievement?’<br />

Southern and Eastern Africa Consortium for<br />

Monitoring Education Quality, 2010.<br />

17 World Bank, ‘PSIA II – Follow up Study of<br />

Primary Education and Baseline Study of<br />

Secondary Education, <strong>Mozambique</strong>’, Maputo,<br />

2007.<br />

28 United Nations Educational, Scientific and<br />

Cultural Organisation, ‘Booklet 5: Effective<br />

Learning. Good Policy and Practice in HIV &<br />

AIDS and Education (booklet series),’ UNESCO,<br />

Paris, 2008.<br />

134<br />

135


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 4: A EDUCAÇÃO E O DIREITO DAS CRIANÇAS AO DESENVOLVIMENTO<br />

29 Ross, K., ‘How successful are textbook<br />

provision programmes?’ Southern and<br />

Eastern Africa Consortium for Monitoring<br />

Education Quality, 2010.<br />

30 Swedish Development Agency, ‘Education<br />

Sector in <strong>Mozambique</strong>’, (inédito), Setembro<br />

de 2004.<br />

31 Ministério de Educação e Cultura, ‘Plano<br />

Estratégica de Educação e Cultura 2006–2011’,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2006.<br />

32 Ministry of Planning and Development.<br />

‘Poverty and Wellbeing in <strong>Mozambique</strong>: Third<br />

National Poverty Assessment.’ Governo de<br />

Moçambique, Maputo, Setembro de 2010.<br />

33 Authors calculations based on: Ministry<br />

of Planning and Development. ‘Poverty<br />

and Wellbeing in <strong>Mozambique</strong>: Third<br />

National Poverty Assessment. ’ Governo de<br />

Moçambique, Maputo, Setembro de 2010 e<br />

Censo 2007<br />

34 Ministério da Educação, ‘Programme<br />

Document for the funding request to the<br />

Catalytic Fund-FTI’, Governo de Moçambique,<br />

Maputo, Setembro de 2010.<br />

35 Cálculos do <strong>UNICEF</strong> baseados em: Ministério<br />

da Educação “Plano de efectivos escolares”,<br />

2010 e Ministry of Education, ‘Programme<br />

Document for the funding request to the<br />

Catalytic Fund-FTI’, Governo de Moçambique,<br />

Maputo, Setembro de 2010.<br />

36 Ministério da Educação e Cultura,<br />

‘Contribuição do Sector Para a Reunião<br />

de Planificação do QAD’, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2009.<br />

37 Ibid<br />

38 Ministry of Education and Culture, ‘Education<br />

Statistics: Annual school results’, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2008.<br />

39 Ibid<br />

40 Ibid<br />

41 Ministry of Education, ‘Programme Document<br />

for the funding request to the Catalytic Fund-<br />

FTI’, Governo de Moçambique, Maputo,<br />

Setembro de 2010.<br />

42 Ministry of Education and Culture, ‘Education<br />

Statistics: Annual school results’, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2008.<br />

43 Arndt, Channing, Sam Jones and Finn Tarp,<br />

‘Aid and Development: The Mozambican<br />

case’, University of Copenhagen, Discussion<br />

Paper series no. 06-13, 2006.<br />

44 Ministério da Educação e Cultura,<br />

Contribuição do Sector Para a Reunião<br />

de Planificação do QAD, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2009.<br />

45 Instituto Nacional do Desenvolvimento da<br />

Educação, Avaliação do Impacto do Ensino<br />

Bilingue no Novo Currículo do Ensino Básico,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2007.<br />

46 <strong>Mozambique</strong> National AIDS Council,<br />

Universal Declaration of Commitment on HIV<br />

and AIDS: <strong>Mozambique</strong> progress report for<br />

the United Nations General Assembly Special<br />

Session on HIV and AIDS, 2006–200’, Maputo,<br />

January 2008.<br />

47 Ministério da Educação e Cultura, Balanço do<br />

Plano Quinquenal do Governo - Educação e<br />

Cultura, Maputo, 2009<br />

48 United Nations Childrens Fund, O Que<br />

Diz a Proposta de Orçamento do Estado<br />

2010 Sobre a Previsão de Recursos no<br />

Sector de Educação?, Budget Brief, <strong>UNICEF</strong><br />

<strong>Mozambique</strong>, Maputo, 2010.<br />

49 Sal e Caldeira e Ximango Consultores,<br />

‘Análise do Impacto da Estrutura das<br />

Despesas sobre o Desenvolvimento<br />

Económico e as Condições de Vida em<br />

Moçambique.’ Agência Suíça para o<br />

desenvolvimento e Cooperação, Maputo,<br />

2009.<br />

50 Fundo das Nações Unidas para a Infância, O<br />

Que Diz a Proposta de Orçamento do Estado<br />

2010 sobre a Previsão de Recursos no Sector<br />

de Educação?, Resumo do Orçamento,<br />

<strong>UNICEF</strong> Moçambique, Maputo, 2010.<br />

51 Bartholomew, Ann, T. Takala and Z. Ahmed,<br />

‘Mid-Term Evaluation of the EFA Fast Track<br />

Initiative Country Case Study: <strong>Mozambique</strong>’,<br />

Cambridge Education, Mokoro Ltd., e Oxford<br />

Policy Management, Cambridge/Oxford, UK,<br />

versão preliminar, Setembro de 2009.<br />

52 Fundo das Nações Unidas para a Infância, O<br />

Que Diz a Proposta de Orçamento do Estado<br />

2010 sobre a Previsão de Recursos no Sector<br />

de Educação?, Resumo do Orçamento,<br />

<strong>UNICEF</strong> Moçambique, Maputo, 2010.<br />

53 Fundo das Nações Unidas para a Infância, O<br />

Que Diz a Proposta de Orçamento do Estado<br />

2010 sobre a Previsão de Recursos no Sector<br />

de Educação?, Resumo do Orçamento,<br />

<strong>UNICEF</strong> Moçambique, Maputo, 2010.<br />

54 Fast Track Initiative Secretariat, ‘News release:<br />

Education Fast Track Initiative Announces<br />

US$ 180 Million to Educate Children Around<br />

the World,’ retrieved from: http://www.<br />

educationfasttrack.org/news/171/177/EFA-<br />

FTI-Announces-US-180-Million-to-Educate-<br />

Children-Around-the-World/d,Whats%20New,<br />

2010.<br />

55 Ministry of Education and Culture, Financing<br />

Education in <strong>Mozambique</strong>: Analysis 2009–<br />

2010, Governo de Moçambique, Maputo,<br />

Setembro de 2009.<br />

56 Ministério da Educação e Cultura, Apoio<br />

Directo às Escolas: Situação actual e<br />

perspectivas, Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2007<br />

57 Ministério da Educação e Cultura, Programa<br />

de Actividades, Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2009.<br />

58 Ministério da Educação e Cultura, Avaliação<br />

do Programa de Apoio Directo às Escolas (7ª<br />

e 8ª fase), Governo de Moçambique, Maputo,<br />

2009.<br />

136<br />

137


5CAPÍTULO<br />

Protecção<br />

da criança<br />

5CAPÍTULO<br />

1. Introdução<br />

PROTECÇÃO DA CRIANÇA<br />

A Convenção sobre os Direitos da Criança,<br />

a Carta Africana sobre os Direitos e Bemestar<br />

da Criança e outros instrumentos a<br />

nível internacional e regional apresentam<br />

uma ampla análise da necessidade de<br />

protecção da criança. Esses ordenamentos<br />

jurídicos reconhecem que as crianças são<br />

vulneráveis a violações dos seus direitos<br />

humanos básicos, e, consequentemente,<br />

concedem-lhes o direito fundamental a<br />

protecção jurídica e social, antes e após<br />

o nascimento. O dever de protecção das<br />

crianças recai tanto sobre entidades públicas<br />

como privadas, que têm a responsabilidade<br />

de proteger meninos e meninas de violência,<br />

abuso, exploração e negligência, incluindo<br />

separação desnecessária do seu ambiente<br />

familiar, e dos efeitos de situações de<br />

emergência. Através de sistemas e serviços<br />

legislativos, sociais e administrativos<br />

apropriados, entre os quais programas<br />

de protecção social, podem ser tratados<br />

os riscos de violação dos direitos das<br />

crianças conhecidos, o que poderá reduzir<br />

a vulnerabilidade das crianças e fortalecer a<br />

sua resistência.<br />

Entre as várias formas de maus tratos e<br />

abuso que ameaçam as crianças encontramse<br />

o abuso e a exploração sexual, o tráfico,<br />

trabalho perigoso, violência, viver ou<br />

trabalhar nas ruas, deficiência, SIDA, e<br />

práticas prejudiciais como o casamento<br />

prematuro, a falta de acesso a uma<br />

justiça amiga da criança, a separação e a<br />

institucionalização desnecessárias, entre<br />

outros. Uma protecção efectiva da criança<br />

mitiga os riscos e vulnerabilidades que<br />

contribuem para estes abusos. Um ambiente<br />

protector para as crianças apoiado por<br />

um sólido sistema e infra-estruturas de<br />

protecção é uma abordagem baseada em<br />

direitos para impulsionar o progresso do<br />

desenvolvimento humano e económico,<br />

melhorando a saúde, a educação e o bemestar<br />

das crianças bem como as capacidades<br />

que estão a desenvolver para serem<br />

pais, cidadãos e membros produtivos da<br />

sociedade. Pelo contrário, um sistema de<br />

protecção da criança difuso e fragmentado<br />

agrava a pobreza, a exclusão social e<br />

a susceptibilidade a infecção pelo HIV,<br />

aumentando também a probabilidade de<br />

sucessivas gerações virem a enfrentar riscos<br />

semelhantes.<br />

Os principais ministérios de Moçambique<br />

responsáveis pela educação, fortalecimento<br />

e manutenção de um sistema de protecção<br />

da criança são o Ministério da Mulher e<br />

da Acção Social, o Ministério da Justiça, o<br />

Ministério do Interior e os tribunais judiciais.<br />

Todos os ramos do governo, a sociedade<br />

civil e as organizações internacionais,<br />

juntamente com os sistemas informais,<br />

como as famílias e as comunidades, têm a<br />

responsabilidade de cooperar, coordenar e<br />

colaborar para nutrir e sustentar os esforços<br />

de protecção dos direitos das crianças.<br />

141


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 5: PROTECÇÃO DA CRIANÇA<br />

Embora se tenham registado importantes<br />

avanços na protecção dos direitos das<br />

crianças em Moçambique, muito ainda há<br />

a alcançar: aumentar o acesso das crianças<br />

a serviços sociais básicos de protecção<br />

e outros, harmonizar as ferramentas<br />

de monitoria para melhorar a recolha e<br />

análise de dados para o acompanhamento<br />

e planificação efectiva do bem-estar das<br />

crianças ao longo do tempo, e fortalecer<br />

as capacidades dos ministérios relevantes.<br />

O objectivo é o desenvolvimento de uma<br />

abordagem sistémica e robusta à protecção<br />

das crianças que torne os ministérios mais<br />

responsáveis e melhore a coordenação entre<br />

eles nos diversos níveis administrativos<br />

para proteger eficazmente as crianças. É<br />

necessário que se concentrem também<br />

esforços na sensibilização a todos os<br />

níveis da sociedade, incluindo crianças,<br />

famílias e comunidades, para os direitos<br />

das crianças e a obrigação de todos os<br />

intervenientes de promover a protecção da<br />

criança. Este capítulo descreve a situação<br />

da protecção da criança em Moçambique,<br />

analisa os progressos realizados e apresenta<br />

uma análise das lacunas e problemas no<br />

ambiente de protecção da criança.<br />

2. Reforma legislativa e das políticas<br />

O amplo pacote de legislação aprovado em<br />

2008 demonstra o compromisso do Governo<br />

de Moçambique para com a protecção dos<br />

direitos da criança e o melhoramento da<br />

situação das crianças e mulheres vítimas<br />

de violência, abuso e exploração. Para<br />

além disso, foram criados quatro tribunais<br />

especializados para menores visando reduzir<br />

o atraso de decisões judiciais pendentes e<br />

melhorar as capacidades do sistema judicial<br />

para gerir eficazmente os casos de crianças<br />

em conflito com a lei e melhorar a protecção<br />

dos direitos da criança.<br />

Também o Ministério do Interior, no âmbito<br />

dos serviços policiais para proteger os<br />

direitos das crianças e mulheres, tem vindo<br />

a criar e racionalizar procedimentos-padrão<br />

bem como a aplicar abordagens mais<br />

sistemáticas. Foi ainda criado pelo Ministério<br />

da Mulher e da Acção Social, em 2009,<br />

um grupo de trabalho multissectorial para<br />

prevenção da violência contra as crianças,<br />

na sequência do Estudo das Nações Unidas<br />

sobre a Violência e do III Congresso Mundial<br />

contra a Exploração Sexual de Crianças e<br />

Adolescentes, onde o Governo reconheceu<br />

a necessidade urgente de uma abordagem<br />

multissectorial de prevenção e resposta<br />

à violência contra crianças e da criação<br />

de um sistema de encaminhamento para<br />

assistência às vítimas. 1<br />

Os sistemas nacionais de protecção<br />

da criança eficazes começam por leis,<br />

políticas e regulamentos concebidos para<br />

defender os direitos da criança em todas<br />

as circunstâncias. A falta de um quadro de<br />

políticas adequado agrava a vulnerabilidade<br />

da criança e aumenta a probabilidade de lhe<br />

ser negada uma série de direitos que vão<br />

para além dos estritamente associados à<br />

protecção. A responsabilidade de respeitar,<br />

proteger e cumprir direitos é compartilhada<br />

por vários actores, mas é o Estado o<br />

primeiro garante de direitos seja nos termos<br />

do direito internacional seja nos termos da<br />

Constituição moçambicana. O Estado deve,<br />

e tanto quanto possível, garantir que exista<br />

protecção na lei, criar e fortalecer instituições<br />

eficazes para fazer cumprir a lei e trabalhar<br />

com a sociedade civil e o sector privado na<br />

promoção de valores e práticas positivas<br />

para melhorar a eficácia da protecção legal.<br />

Com a aprovação de três instrumentos - a<br />

Lei da Criança, a Lei da Justiça Juvenil e a<br />

Lei sobre a Violência Doméstica – promoveuse<br />

um Sistema de Protecção da Criança<br />

nacional efectivo, cujo quadro tem vindo<br />

a ser desenvolvido. Outras medidas que<br />

vêm sendo adoptadas pelo governo são a<br />

criação do Conselho Nacional da Criança<br />

e da Comissão de Direitos Humanos<br />

e do Parlamento Infantil, bem como a<br />

sensibilização para as questões de direitos<br />

da criança nos media. Foram criados em<br />

cinco províncias tribunais de menores para<br />

fortalecer a protecção das crianças em<br />

conflito e em contacto com a lei.<br />

Moçambique ratificou diversos importantes<br />

instrumentos internacionais e regionais<br />

de direitos humanos sobre a protecção<br />

da criança, o que reflecte o compromisso<br />

do Governo para com a harmonização<br />

da legislação nacional com as normas<br />

internacionais. A Constituição de 2004<br />

estabelece claramente que todas as acções<br />

relativas às crianças, empreendidas tanto<br />

por entidades públicas como por instituições<br />

privadas, devem considerar o melhor<br />

interesse da criança, em conformidade com<br />

a Convenção sobre os Direitos da Criança.<br />

A Constituição define os contornos do<br />

quadro jurídico e de políticas concernente às<br />

crianças, como abaixo descrito. Ver Caixa 5.1<br />

para desenvolvimentos recentes e futuros no<br />

quadro jurídico de protecção das crianças.<br />

As políticas e os programas de protecção<br />

social têm-se revelado eficazes na resposta<br />

às necessidades das famílias e crianças<br />

vulneráveis uma vez que a protecção social<br />

desempenha um papel fundamental na<br />

redução da pobreza, superação da exclusão<br />

142<br />

143


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 5: PROTECÇÃO DA CRIANÇA<br />

social e constituição de capital humano<br />

para se atenuarem os riscos enfrentados<br />

por grupos vulneráveis, particularmente<br />

crianças e suas famílias. Várias formas de<br />

política de protecção social existiram em<br />

Moçambique desde 1975, variando ao longo<br />

dos anos o papel pretendido para o Estado,<br />

desde o de ambicioso provedor de todos os<br />

serviços (após a independência) até ao de<br />

fornecedor marginal de regimes de pensões<br />

extremamente limitados, ajuda de resposta<br />

a situações de emergência e subsídios<br />

alimentares para idosos (na sequência de<br />

programas de ajustamento estrutural).<br />

Nos últimos anos, no entanto, tem-se dado<br />

uma atenção mais centrada no reforço da<br />

protecção social em todo o país, começando<br />

a reconhecer-se a importância da protecção<br />

das crianças vulneráveis no diálogo sobre<br />

políticas nacionais. Além disso, os sectores de<br />

Saúde e Educação têm programas específicos<br />

para crianças com necessidades específicas<br />

(serviços de saúde gratuitos para crianças<br />

menores de cinco anos e crianças padecendo<br />

de desnutrição, e apoio em material educativo<br />

para crianças vulneráveis).<br />

A Lei sobre a Protecção Social, aprovada<br />

em 2007, exige que se ofereça segurança<br />

social básica a pessoas e crianças pobres<br />

em situações difíceis. Nela se define<br />

protecção social como “um conjunto de<br />

medidas que visam mitigar, em sintonia<br />

com as condições económicas do país, a<br />

pobreza absoluta da população, garantindo a<br />

subsistência dos trabalhadores em situações<br />

de privação ou diminuição de capacidade<br />

para o trabalho, bem como a sobrevivência<br />

de outros membros da família caso o<br />

dito trabalhador tenha falecido, e garantir<br />

condições para a sua sobrevivência.” 2 A<br />

lei reparte ainda a protecção social por<br />

três pilares: protecção social obrigatória<br />

(seguro social sob tutela dos Ministérios<br />

do Trabalho e das Finanças para os que<br />

se encontram no mercado de trabalho<br />

formal); protecção social complementar<br />

(iniciativas adicionais através dos sectores<br />

privado e de voluntariado) e protecção<br />

social básica, o que tem maior potencial<br />

para chegar às crianças vulneráveis. A<br />

protecção social básica abrange os cidadãos<br />

que estão impossibilitados de trabalhar ou<br />

que não têm meios para satisfazer as suas<br />

necessidades básicas, a saber:<br />

• l Pessoas em situação de pobreza absoluta;<br />

• l Crianças em difíceis circunstâncias;<br />

• l Idosos em situação de pobreza;<br />

• l Pessoas portadoras de deficiência em<br />

situação de pobreza absoluta;<br />

• l Pessoas com doenças crónicas ou<br />

doenças degenerativas.<br />

As Normas da Estratégia se Segurança Social<br />

Básica aprovadas em 2009, subdividem a<br />

segurança social básica em acção social<br />

directa, acção social relacionada com a saúde,<br />

acção social relacionada com a educação e<br />

rede de segurança produtiva. A Estratégia<br />

de Segurança Social Básica multissectorial,<br />

que foi aprovada pelo Conselho de Ministros<br />

em 2010, identifica quatro programas<br />

constituintes do pacote de segurança social<br />

básico: dois programas de transferência de<br />

dinheiro (o actual Programa Subsídio de<br />

Alimentos [PSA] e um novo programa de<br />

subsídios para a criança destinado a famílias<br />

com crianças órfãs e vulneráveis a seu cargo);<br />

o actual Programa de Apoio Social Directo<br />

(PASD) e um novo programa da rede de<br />

segurança produtiva. Planeia-se expandir o<br />

PSA para que dê maior enfoque a crianças<br />

órfãs e vulneráveis como beneficiários<br />

indirectos. A operacionalização do programa<br />

de subsídios para crianças proposto depende<br />

das conclusões da avaliação contínua do<br />

impacto do PSA e de outros estudos de<br />

viabilidade. O alcance actualmente limitado<br />

do PASD inclui ainda uma percentagem<br />

relativamente elevada de crianças<br />

beneficiárias. Prevê-se a instauração de um<br />

mecanismo para garantir que as famílias<br />

vulneráveis tenham acesso a um conjunto de<br />

serviços básicos e protecção, possivelmente<br />

partindo da experiência do atestado de<br />

pobreza actual. Deverá ser finalizado até<br />

ao final de 2010 um plano operacional para<br />

complementar a estratégia, o qual constituirá<br />

um importante instrumento para procurar<br />

influenciar no sentido de maiores fundos do<br />

governo para implementar esses programas.<br />

Caixa 5.1: Legislação e políticas de protecção social recentemente aprovadas<br />

2010<br />

2009<br />

2008<br />

2006<br />

2005<br />

2004<br />

A Estratégia de Protecção Social Básica inclui, como parte integrante, subsídios para<br />

crianças.<br />

A Lei da Violência Doméstica tem por objectivo aumentar a protecção das mulheres e das<br />

crianças contra o abuso e a exploração sexual em casa e nas comunidades. Criminaliza<br />

pela primeira vez a violência doméstica em Moçambique, requer penalizações acrescidas<br />

para os infractores e atribui ao Estado a obrigação de assistir as vítimas oferecendo<br />

serviços como investigação policial e tratamento médico.<br />

A Lei da Criança e a Lei da Justiça Juvenil, ambas aprovadas em 2008, traduzem a<br />

Convenção sobre os Direitos da Criança na legislação nacional de direitos da criança, um<br />

passo importante para a criação de um quadro jurídico e político concernente à criança.<br />

A Lei sobre o Tráfico de Pessoas, Especialmente Mulheres e Crianças define o tráfico de<br />

pessoas em consonância com os instrumentos jurídicos internacionais (nomeadamente o<br />

Protocolo de Palermo, ratificado em 2006) e criminaliza o tráfico, sobretudo de crianças e<br />

mulheres. Tem de ser elaborado e aprovado o regulamento desta lei.<br />

A Lei do Trabalho proíbe explicitamente as piores formas de trabalho infantil para crianças<br />

menores de 18 anos. Estabelece que as crianças entre os 15 e os 18 anos só podem<br />

trabalhar um máximo de 38 horas por semana ou 7 horas por dia. Em reconhecimento da<br />

realidade económica do país, permite que as crianças de 12 a 15 anos trabalhem, desde<br />

que o façam com a permissão de um dos seus progenitores ou outro responsável legal.<br />

A Lei de Protecção Social exige a provisão de segurança social básica a pessoas pobres<br />

e crianças em situações difíceis. A lei define protecção social como “um conjunto de<br />

medidas que visam mitigar ... a pobreza absoluta da população, garantindo a subsistência<br />

dos trabalhadores em situações de privação ou capacidade para o trabalho diminuída,<br />

bem como a de familiares sobrevivos em caso de morte do referido trabalhador, e garantir<br />

condições para a sua sobrevivência.”<br />

O Plano Nacional para Crianças Órfãs e Vulneráveis identifica seis serviços essenciais<br />

para atender às principais necessidades das crianças: saúde, educação, apoio nutricional e<br />

alimentar, apoio financeiro, apoio jurídico e apoio psicológico. O Governo de Moçambique<br />

comprometeu-se a garantir que as crianças tenham acesso a pelo menos três desses seis<br />

serviços, com particular incidência sobre as crianças que vivem abaixo da linha de pobreza<br />

absoluta, incluindo órfãos e crianças a viver com e afectadas pela SIDA. A implementação<br />

do plano é coordenada pelo Ministério da Mulher e Acção Social com o apoio de um grupo<br />

de trabalho técnico multissectorial e do Grupo de Trabalho Técnico para Crianças Órfãs e<br />

Vulneráveis.<br />

O Plano Nacional de Acção para a Criança 2006-2010 visa proteger os direitos civis e<br />

humanos e a segurança de todas as crianças desenvolvendo e coordenando actividades<br />

das principais partes interessadas.<br />

A Lei da Família articula novas normas jurídicas para responsabilidades parentais, guarda,<br />

adopção e herança, e eleva a idade de casamento de 16 para 18 anos tanto para rapazes<br />

como para raparigas.<br />

O Código do Registo Civil alarga o período de registo de nascimento gratuito de 30 para<br />

120 dias a contar do nascimento da criança.<br />

144<br />

145


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 5: PROTECÇÃO DA CRIANÇA<br />

3. Violência, abuso e exploração<br />

A violência contra as crianças é uma<br />

grave violação dos direitos humanos com<br />

devastadoras consequências para a saúde<br />

física e mental a curto e longo prazo.<br />

Crianças vítimas de violência incluem<br />

crianças que foram abusadas sexualmente<br />

ou submetidas a violência como punição;<br />

crianças forçadas a trabalhar em condições<br />

deploráveis ou traficadas em condições<br />

de trabalho exploratórias, ou crianças<br />

forçadas a casamento prematuro. Tal<br />

violência ultrapassa fronteiras geográficas,<br />

atravessando culturas, classes, raças e<br />

religiões. Pode ser expressa como agressão<br />

ou abuso físico ou sexual, maus tratos<br />

psicológicos ou emocionais, privação ou<br />

negligência. O risco de violência é agravado<br />

pela pobreza, que muitas vezes anda de<br />

mãos dadas com a falta de protecção<br />

adequada por parte dos cuidadores e<br />

limitado acesso a serviços essenciais.<br />

Estatísticas do Ministério do Interior revelam<br />

terem sido reportados à polícia mais de<br />

3.500 casos de violência infantil em 2009. 3 É<br />

possível que o número de crianças vítimas<br />

de violência, abuso e exploração supere em<br />

muito o número de casos notificados.<br />

O Estudo das Nações Unidas sobre a<br />

Violência constata que a violência contra<br />

as crianças é importante em termos de<br />

escala, alcance e subnotificação, três<br />

aspectos agravados pela aceitação social<br />

do fenómeno. 4 Algumas formas de violência<br />

estão enraizadas em dinâmicas de género<br />

discriminatórias e desiguais e práticas<br />

nocivas, e Moçambique não constitui<br />

excepção. Estudos e dados disponíveis<br />

constituem uma base para se afirmar que é<br />

excepcionalmente forte em Moçambique a<br />

cultura patriarcal existente e ordem social<br />

dominada pelo sexo masculino. 5 O baixo<br />

nível de conhecimento que as vítimas<br />

possuem dos seus direitos e uma cultura<br />

de silêncio e aceitação da violência são os<br />

principais obstáculos ao lidar-se com esta<br />

questão.<br />

São limitados os dados quantitativos recentes,<br />

mas pesquisas anteriores relataram uma alta<br />

incidência de exploração e abuso sexual de<br />

crianças e mulheres no lar, no trabalho e na<br />

escola. O abuso sexual de crianças e mulheres<br />

continua a ser uma grande preocupação<br />

em Moçambique. Em 2001, o Inquérito<br />

Nacional de saúde sexual e reprodutiva e<br />

comportamento sexual dos jovens indicou que<br />

30 por cento das mulheres e 37 por cento dos<br />

homens, quando crianças ou adolescentes,<br />

tinham testemunhado directamente violência<br />

entre os seus pais, e que 15 por cento das<br />

mulheres e 20 por cento dos homens sofreram<br />

abuso físico de um parente na sua juventude. 6<br />

Um estudo realizado pelo Ministério da Mulher<br />

e da Acção Social em 2004 indicou que mais<br />

de 54 por cento das mulheres pesquisadas<br />

relataram ter sido espancadas, e 23 por cento<br />

dos inquiridos reportaram ter sido submetidos<br />

a alguma forma de abuso sexual. 7 A maioria<br />

dos infractores é conhecida das vítimas e,<br />

muitas vezes, familiares próximos e amigos.<br />

As leis para proteger crianças e adolescentes<br />

contra o abuso sexual deixam considerável<br />

margem de manobra para o sistema judiciário<br />

interpretar se uma criança foi vítima de abuso<br />

sexual. Por exemplo, apenas com crianças<br />

menores de 12 são proibidas relações sexuais<br />

em qualquer circunstância (inclusive se se<br />

tiver estabelecido consenso) e as penas<br />

criminais podem ser em qualquer lugar, de<br />

dois a oito anos. No que respeita a crianças<br />

com mais de doze anos, é conferida ao juiz<br />

autoridade para determinar se ocorreu abuso<br />

sexual, mesmo no caso de adolescentes<br />

vítimas de abuso cometido por adultos.<br />

3.1. Violência e abuso sexual nas<br />

escolas<br />

O abuso sexual nas escolas constitui uma<br />

área de particular preocupação, como<br />

observou o Comité dos Direitos da Criança. 8<br />

Um inquérito do Ministério da Educação<br />

(MINED) de 2008 revelou que 70 por cento<br />

das meninas inquiridas relataram que<br />

alguns professores usam a relação sexual<br />

como condição para passar de classe,<br />

tendo 50 por cento afirmado que não são<br />

unicamente os professores que delas<br />

abusam sexualmente, mas também rapazes<br />

do seu grupo de colegas. Além disso, 80 por<br />

cento das raparigas reconheceram que o<br />

abuso e o assédio sexuais ocorrem não só<br />

nas escolas mas também nas comunidades.<br />

Muitas meninas não sabiam se esses actos<br />

eram proibidos por lei nem onde reportá-los<br />

quando ocorrem. 9<br />

A resposta institucional aos abusos sexuais<br />

nas escolas é limitada. O estudo também<br />

analisou o nível de consciencialização dos<br />

funcionários do MINED sobre o assunto.<br />

70 por cento dos funcionários provinciais<br />

de unidades provinciais de género e 65<br />

por cento dos coordenadores distritais de<br />

género reconheceram que o abuso sexual<br />

contra meninas e a gravidez precoce eram<br />

as principais preocupações e importantes<br />

obstáculos à provisão de um ambiente<br />

de aprendizagem seguro para a rapariga.<br />

Os membros dos Conselhos da Escola<br />

mostraram também preocupação com<br />

o abuso e assédio sexual nas escolas e<br />

tentaram medidas disciplinares estritas<br />

contra os professores que abusam de<br />

meninas na escola.<br />

O MINED tem uma política de ‘tolerância<br />

zero’ para o abuso sexual nas escolas, mas<br />

a continua fraca a sua aplicação. Em 2003,<br />

o MINED emitiu um decreto (Despacho<br />

39/GM/2003) proibindo os professores de<br />

terem relações sexuais com estudantes do<br />

sexo feminino e declarou ‘tolerância zero’ ao<br />

abuso sexual nas escolas. A Lei da Criança<br />

moçambicana de 2008 reafirma a obrigação<br />

da direcção da escola de comunicar às<br />

autoridades competentes os casos de<br />

maus tratos a alunos. No entanto, tanto o<br />

acompanhamento de actos de violência<br />

nas escolas como a implementação do<br />

decreto permanecem fracos. A revisão<br />

da estratégia de género e do decreto<br />

39/GM/2003 para enfatizar a notificação<br />

de violência e abuso sexual faz parte do<br />

plano de trabalho do MINED para 2010. A<br />

integração de questões de abuso sexual<br />

nas directrizes de planificação de 2010 é um<br />

avanço significativo que está a conduzir ao<br />

desenvolvimento de acções definidas para<br />

reforçar a capacidade dos pontos focais de<br />

género provinciais em matéria de monitoria<br />

e notificação de casos de abuso sexual nas<br />

escolas.<br />

Continuam a ser permitidos os castigos<br />

corporais em casa e na escola, sendo<br />

muitas vezes considerados a única forma<br />

de disciplinar as crianças. O Comité dos<br />

Direitos da Criança expressou preocupação<br />

pelo facto de “a Lei de Protecção dos<br />

Direitos da Criança (de Moçambique) não<br />

proibir explicitamente os castigos corporais<br />

em casa e nas escolas... que, apesar de<br />

os regulamentos internos do MINED, que<br />

proíbe os castigos corporais, continuam a ser<br />

infligidos às crianças por pais e professores.”<br />

O Estudo das Nações Unidas sobre Violência<br />

contra Crianças considera essencial haver<br />

sensibilização para influenciar as normas<br />

sociais, não só para as comunidades,<br />

incluindo as escolas, mas também para os<br />

profissionais em contacto com crianças.<br />

Uma adequada atenção dos media também<br />

consciencializa, promove discussão aberta<br />

e encoraja as comunidades a reagirem em<br />

casos de abuso e exploração. Tornar os<br />

serviços de apoio e reabilitação disponíveis é<br />

outro aspecto fundamental. Essas respostas<br />

tornam-se significativamente mais eficazes<br />

pela existência de um mecanismo de<br />

coordenação eficaz. Em 2009, o Ministério<br />

da Mulher e da Acção Social criou um grupo<br />

de trabalho multissectorial para questões<br />

de prevenção da violência contra crianças<br />

na sequência do Estudo das Nações Unidas<br />

para a Violência e do III Congresso Mundial<br />

contra a Exploração Sexual de Crianças e<br />

Adolescentes. Embora o processo de reforma<br />

legal tenha progredido, a tradução da nova<br />

legislação em regulamentação e programas<br />

eficazes continua a constituir, em virtude da<br />

falta de fundos, um desafio.<br />

O Plano de Acção para Prevenção da<br />

Violência Contra as Crianças está agora<br />

em fase de conclusão. O plano delineia<br />

146<br />

147


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 5: PROTECÇÃO DA CRIANÇA<br />

actividades relativas à protecção das<br />

crianças contra violência, negligência e<br />

exploração sexual estejam a ter lugar. 10<br />

A promulgação da Lei sobre a Violência<br />

Doméstica de 2009 pode impulsionar o<br />

fortalecimento de mecanismos para proteger<br />

as mulheres e as crianças de abuso sexual.<br />

Parceiros da sociedade civil prestaram<br />

acções de sensibilização a nível da<br />

comunidade, entre as quais uma campanha<br />

da Action Aid contra o abuso sexual de<br />

raparigas na escola.<br />

3.2. A violência doméstica<br />

Cinquenta e quatro por cento das<br />

mulheres que participaram num estudo<br />

do Ministério da Mulher e da Acção Social<br />

de 2004 informaram ter sido espancadas.<br />

A aceitação cultural da violência é um<br />

importante factor que muito contribui para a<br />

violência doméstica. 11 O perpetrador foi mais<br />

frequentemente o marido ou um parente<br />

Figura 5.1: Percentagem de mulheres de 15-49 anos que acham que um marido pode bater na sua esposa, por<br />

motivo específico, 2008<br />

40%<br />

35%<br />

30%<br />

25%<br />

20%<br />

15%<br />

10%<br />

5%<br />

0%<br />

Quando ela<br />

sai de casa<br />

sem informar<br />

Fonte: MICS 2008.<br />

21%<br />

19%<br />

18%<br />

19%<br />

Quando é<br />

negligente<br />

com as crianças<br />

Quando<br />

discute<br />

com ele<br />

próximo ou um conhecido. Dez por cento<br />

das respondentes relataram ter sido vítimas<br />

de algum tipo de abuso sexual. Nas áreas<br />

rurais foram reportados mais elevados níveis<br />

de violência contra as mulheres do que nas<br />

áreas urbanas. I<br />

A percentagem de mulheres que consideram<br />

que os homens têm o direito de lhes bater<br />

em certas circunstâncias desceu de 54<br />

por cento em 2003 para 36 por cento em<br />

2008. II,III Embora a redução seja positiva,<br />

continua muito elevada a aceitação da<br />

violência contra as mulheres. A razão<br />

mais comummente citada no Inquérito de<br />

Indicadores Múltiplos (MICS) de 2008 para<br />

bater na esposa é o marido aperceber-se de<br />

que a esposa está a ser negligente com as<br />

crianças. Este motivo foi citado por 21 por<br />

cento dos inquiridos (ver Figura 5.1).<br />

Há disparidades regionais nas atitudes<br />

de violência doméstica. A educação dos<br />

Quando<br />

recusa fazer<br />

sexo com ele<br />

Quando<br />

deixa a comida<br />

queimar-se<br />

Por qualquer<br />

destas razões<br />

I O estudo, realizado em 2004 para o Ministério pela Universidade Eduardo Mondlane, Centro de Estudos da População,<br />

incluiu 2052 mulheres com idades compreendidas entre os 18 e os 45 anos na Cidade de Maputo, Província de Maputo,<br />

Sofala, Manica, Zambézia e Nampula (Universidade Eduardo Mondlane, 2004).<br />

II Este valor é significativamente mais baixo que a média dos países da África Austral, onde 65 por cento das raparigas<br />

e mulheres com 15-49 anos pensam que se justifica um marido espancar ou bater na mulher em determinadas<br />

circunstâncias. Fonte : <strong>UNICEF</strong>, Progress for Children – A Report Card on Child Protecction, Número 8, <strong>UNICEF</strong>, Nova<br />

Iorque, Setembro de 2009.<br />

III O Indicador do IDS é a percentagem de mulheres com 15 e 49 anos que afirma justificar-se que um marido bata na mulher<br />

por uma das seguintes razões: roubar comida, discutir com o marido, sair de casa sem informar o marido, recusar sexo<br />

com o marido, e não cuidar das crianças.<br />

13%<br />

36%<br />

homens e das mulheres é o factor-chave<br />

na redução da violência contra crianças e<br />

mulheres. A percentagem de mulheres que<br />

acreditam que bater na esposa se justifica<br />

em certas circunstâncias varia de 10 por<br />

cento na Cidade de Maputo para perto de<br />

70 por cento em Niassa (ver Figura 5.2). 12<br />

O MICS 2008 também assinala que 24 por<br />

cento das mulheres que frequentavam o<br />

ensino secundário e superior aceitam a<br />

violência, em comparação com 38 por cento<br />

das mulheres que nunca frequentaram a<br />

escola. O estudo do Ministério da Mulher e<br />

Figura 5.2: Percentagem de mulheres (15-49 anos) que acreditam que bater na esposa se justifica em determinadas<br />

circunstâncias, 2008<br />

80%<br />

70%<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

69%<br />

Niassa<br />

Fonte: MICS 2008.<br />

48%<br />

Cabo<br />

Delgado<br />

42%<br />

35%<br />

Nampula<br />

Zambézia<br />

26% 27%<br />

35%<br />

26%<br />

Tete Manica Sofala Inhambane<br />

Probabilidade de a mulher aceitar que o<br />

Figura 5.3: Probabilidade de aceitação da violência doméstica pelas mulheres, 2008<br />

marido lhe bata 15-49<br />

probabilidade de a mulher aceitar<br />

que o marido lhe bata<br />

0 .1 .2 .3 .4<br />

Fonte: Cálculos do <strong>UNICEF</strong> baseados no MICS 2008<br />

da Acção Social de 2004 concluiu que essas<br />

diferenças estão fortemente relacionadas<br />

com as normas e práticas socioculturais,<br />

bem como com a falta de educação e<br />

conhecimento dos direitos das mulheres e<br />

crianças na sociedade. 13<br />

Foi realizada uma análise de regressão<br />

probabilística multivariada para examinar<br />

os factores correlacionados com a aceitação<br />

de violência doméstica pelas mulheres<br />

(ver Figura 5.3). A variável dependente<br />

é se uma mulher (15-49 anos) aceita ser<br />

51%<br />

Gaza<br />

20%<br />

Maputo<br />

Província<br />

10%<br />

Maputo<br />

Cidade<br />

-1 0 1 2<br />

3<br />

Classificação da riqueza<br />

Primário Secundário Superior<br />

148<br />

149


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 5: PROTECÇÃO DA CRIANÇA<br />

espancada pelo marido. A análise revelou<br />

que as mulheres com ensino secundário<br />

ou superior são muito menos propensas<br />

a considerar aceitável bater na mulher do<br />

que mulheres sem qualquer instrução. Ter<br />

o ensino primário, no entanto, não parece<br />

influenciar as atitudes das mulheres. A<br />

riqueza é estatisticamente relacionada com<br />

a protecção das mulheres apenas em níveis<br />

muito elevados (ver Figura 5.3), que muito<br />

poucos agregados familiares alcançam.<br />

Dados os enormes desafios na promoção<br />

da riqueza da mulher a este nível, promover<br />

o acesso à educação pode ser a resposta<br />

política mais viável para corresponder à<br />

atitude das mulheres para com a violência<br />

doméstica.<br />

O modelo não apresenta diferenças<br />

estatisticamente fiáveis nas atitudes para<br />

com a violência doméstica de mulheres em<br />

relações poligâmicas versus monogâmicas.<br />

O mesmo acontece com a idade das<br />

mulheres, ou a diferença de idades entre<br />

marido e mulher. Em termos de geografia,<br />

todas as mulheres que vivem em províncias<br />

que não Maputo (especialmente no norte)<br />

têm uma maior probabilidade de aceitar a<br />

violência, não parecendo haver diferença de<br />

atitudes entre as mulheres rurais e urbanas.<br />

Quebrar a cultura do silêncio sobre o abuso<br />

de crianças e mulheres exige um diálogo<br />

aberto, uma maior sensibilização e sistemas<br />

externos de protecção para intervir quando<br />

se identificam casos de abuso. Não é fácil<br />

fazê-lo onde a violência baseada no género<br />

e o abuso sexual, especialmente de crianças,<br />

são admitidos por algumas comunidades<br />

e indivíduos. Apesar dos progressos<br />

realizados no reforço do Governo e no<br />

desenvolvimento de um quadro jurídico e<br />

político para proteger as crianças contra a<br />

violência, o abuso e exploração, a limitada<br />

capacidade do Governo para fazer cumprir<br />

essas leis e o pouco conhecimento dos<br />

membros da comunidade sobre as questões<br />

permite que essas práticas continuem<br />

inabaláveis. Além disso, é frequente<br />

prevalecer o direito consuetudinário em<br />

muitas áreas rurais do país, particularmente<br />

no que respeita a casamento e herança.<br />

Enfrentar as convenções e normas sociais<br />

que contribuem para a violência, a<br />

exploração e o abuso é o primeiro passo<br />

para travar tais práticas em Moçambique.<br />

3.3. Exploração e abuso sexual<br />

comercial<br />

Embora os dados sejam extremamente<br />

limitados, há evidências de que ocorre em<br />

Moçambique exploração e abuso sexual<br />

de crianças. As crianças são muitas vezes<br />

forçadas a participar em actos sexuais<br />

comerciais para obter ajuda de adultos<br />

para fazer face às suas despesas ou<br />

como estratégia para enfrentar pobreza<br />

extrema. As vítimas de exploração sexual<br />

comercial são geralmente pobres e<br />

sofreram anteriormente algum grau de<br />

violência ou abuso. Embora a exploração<br />

sexual comercial se verifique com rapazes<br />

e raparigas, estas são consideradas mais<br />

comummente vítimas. Um estudo também<br />

mostra que a pressão de pares é um factor<br />

importante na introdução de meninas na<br />

indústria de exploração sexual comercial<br />

infantil. 14 Esse mesmo estudo constatou que<br />

as meninas que são vítimas de exploração<br />

sexual correm um risco acrescido por<br />

praticarem sexo sem preservativo para<br />

maiores benefícios económicos. Muitas<br />

crianças que são exploradas em sexo<br />

comercial servem-se da droga para lidar<br />

com a situação, o que também afecta o<br />

uso do preservativo. 15 Os perpetradores de<br />

exploração comercial de crianças provêm<br />

de todas as esferas da vida: membros da<br />

comunidade local, turistas nacionais e<br />

estrangeiros em resorts de Moçambique<br />

e motoristas de transportes em centros<br />

populacionais por onde passam as principais<br />

estradas.<br />

3.4. Tráfico de crianças e<br />

migração<br />

Num relatório publicado em 2002/03<br />

pela Organização Internacional para<br />

as Migrações (OIM), foi estimado que<br />

aproximadamente mil crianças e mulheres<br />

são traficadas anualmente para a África<br />

do Sul para exploração da sua força de<br />

trabalho e exploração sexual comercial. 16<br />

O tráfico de crianças não só as retira do<br />

ambiente protector da família, como também<br />

aumenta a sua vulnerabilidade à violência,<br />

exploração e abuso. iv Indica o relatório que<br />

o tráfico de pessoas está ainda relacionado<br />

com a extracção de órgãos humanos<br />

para fins rituais, embora esta questão<br />

ainda seja contestada por organismos<br />

governamentais. 17<br />

Num estudo publicado pela Save the<br />

Children em 2009, as respostas das crianças<br />

parecem indicar que o tráfico e a exploração<br />

internos em Moçambique geralmente<br />

ocorrem por ‘trapaça’, fraude ou engano,<br />

em grande parte cometido por familiares<br />

das crianças e pares. 18 O tráfico de crianças<br />

ocorre geralmente num contexto regional<br />

mais amplo, só podendo ser combatido de<br />

forma eficaz fortalecendo-se os mecanismos<br />

regionais e transfronteiriços para uma<br />

resposta multifacetada e coordenada<br />

adaptada às diferenças regionais e<br />

nacionais. Por exemplo, a Cooperação<br />

Regional dos Chefes de Polícia da África<br />

Austral tem trabalhado com a Comunidade<br />

de Desenvolvimento da África Austral em<br />

medidas comunitárias de combate ao tráfico,<br />

entre as quais formação da polícia regional.<br />

A migração infantil voluntária é muitas<br />

vezes decorrente da pobreza ou do facto de<br />

a criança ser órfã ou ter sido abandonada.<br />

Em Moçambique as crianças deslocamse<br />

das aldeias para as cidades ou, por<br />

vezes, atravessam a fronteira ilegalmente<br />

e desacompanhadas para países vizinhos,<br />

principalmente para a África do Sul, numa<br />

tentativa de melhorar a sua vida ou a<br />

vida de suas famílias. Esses padrões de<br />

migração tornam os meninos e meninas<br />

vulneráveis ao abuso e à exploração tanto<br />

durante as viagens como no seu lugar de<br />

destino. Um relatório da Save the Children<br />

de 2008 19 compila as experiências das<br />

crianças migrantes na sub-região, e indica<br />

que as meninas, em particular, viajam<br />

de Moçambique para a África do Sul em<br />

busca de trabalho, mas acabam por ser<br />

vítimas de abuso sexual e exploradas. As<br />

que não conseguem arranjar emprego e<br />

não conseguem ou não querem regressar a<br />

Moçambique, recorrem, por vezes, à falta de<br />

alternativas, a trabalho sexual.<br />

3.5. Trabalho infantil<br />

O trabalho infantil é outra grave forma<br />

de abuso e exploração em Moçambique.<br />

Os dados revelam que 22 por cento das<br />

crianças de 5-14 anos estão envolvidas<br />

em trabalho infantil, registando-se uma<br />

grande disparidade entre as zonas urbanas<br />

e as rurais (15 por cento e 25 por cento,<br />

respectivamente). 20 v A proporção de crianças<br />

envolvidas em trabalho infantil também<br />

varia de acordo com a idade da criança: uma<br />

em cada cinco de 5 a 11 anos de idade está<br />

envolvida em trabalho infantil, chegando a<br />

uma em cada quatro as crianças com 12 a 14<br />

anos. São visíveis as disparidades entre as<br />

províncias; quase 40 por cento das crianças<br />

em Inhambane estão envolvidas em trabalho<br />

infantil, em comparação com menos de 10<br />

por cento das crianças em Niassa.<br />

A prevalência de trabalho infantil está<br />

relacionada com o nível de escolaridade<br />

da mãe. Vinte e quatro por cento das<br />

crianças cujas mães não têm nenhuma<br />

escolaridade estão envolvidas em trabalho<br />

infantil, em comparação com 10 por<br />

cento das crianças cujas mães têm, pelo<br />

menos, ensino secundário. A prevalência<br />

de trabalho infantil é ligeiramente maior<br />

nas meninas (24 por cento) que nos<br />

iv Tráfico designa o transporte ilegal de seres humanos, em particular mulheres e crianças, para os vender ou para explorar<br />

a sua força de trabalho.<br />

v Uma criança é considerada envolvida em trabalho infantil se durante a semana que antecedeu a pesquisa tiver estado<br />

envolvida em: (i) pelo menos uma hora de trabalho económico ou 28 horas de trabalho doméstico por semana, se a<br />

criança tiver 5 a 11 anos de idade, (ii) pelo menos 14 horas de trabalho económico ou 28 horas de trabalho doméstico<br />

por semana, se a criança tiver 12 a 14 anos de idade.<br />

150<br />

151


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 5: PROTECÇÃO DA CRIANÇA<br />

Figura 5.4: Percentagem de crianças de 5-14 anos que estão envolvidas em trabalho infantil, por província e<br />

sexo, 2008<br />

45%<br />

40%<br />

35%<br />

30%<br />

25%<br />

20%<br />

15%<br />

10%<br />

5%<br />

0%<br />

9%<br />

Niassa<br />

Fonte: MICS 2008.<br />

26%<br />

Cabo<br />

Delgado<br />

16%<br />

25%<br />

Nampula<br />

Zambézia<br />

24%<br />

26%<br />

30%<br />

39%<br />

Tete Manica Sofala Inhambane<br />

27%<br />

Gaza<br />

10% 11%<br />

Maputo<br />

Província<br />

Maputo<br />

Cidade<br />

22%<br />

Total<br />

Figura 5.6: Trabalho infantil e frequência escolar, por área geográfica, 2008<br />

100%<br />

90%<br />

80%<br />

70%<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

15%<br />

25%<br />

Percentagem de crianças em trabalho infantil<br />

Urbana<br />

Rural<br />

86%<br />

76%<br />

Percentagem de crianças trabalhadoras<br />

que estão a frequentar a escola<br />

Fonte: MICS 2008.<br />

rapazes (21 por cento). Além disso, as<br />

meninas trabalham mais que os rapazes<br />

apoiando as tarefas domésticas (8 por cento<br />

contra 5 por cento, respectivamente). A<br />

percentagem de crianças que trabalham<br />

para apoiar negócios familiares é a mesma<br />

para ambos os sexos (16 por cento). Não<br />

há grande correlação entre riqueza e<br />

trabalho infantil. A prevalência de trabalho<br />

infantil é relativamente estável para os<br />

quatro quintis inferiores, só reduzindo nas<br />

famílias em melhor situação. Um estudo de<br />

2009 indica que as crianças trabalhadoras<br />

Figura 5.5: Prevalência de trabalho infantil por nível de escolaridade da mãe, 2008<br />

30%<br />

25%<br />

20%<br />

15%<br />

10%<br />

5%<br />

0%<br />

Fonte: MICS 2008.<br />

24%<br />

são acrescidamente exploradas por más<br />

condições de trabalho, incluindo abuso<br />

verbal e sexual, e ainda salários pagos com<br />

atraso ou não pagos na totalidade. 21<br />

O MICS de 2008 revela que 86 por cento<br />

das crianças que trabalham em áreas<br />

urbanas também frequentam a escola, em<br />

comparação com 76 por cento nas zonas<br />

rurais. Quase 30 por cento dos estudantes<br />

das zonas rurais estão envolvidos em algum<br />

tipo de trabalho infantil, antes ou depois das<br />

aulas.<br />

Nunca frequentou a escola Primário Secundário+<br />

22%<br />

10%<br />

Em Moçambique, o Ministério do Trabalho<br />

é responsável por orientar e coordenar<br />

as acções relacionadas com o trabalho<br />

infantil. As respostas nacionais ao trabalho<br />

infantil incidem sobre quatro áreas:<br />

desenvolvimento de uma legislação nacional<br />

que reflicta os padrões internacionais que<br />

Moçambique ratificou; desenvolvimento<br />

de mecanismos eficazes para fazer cumprir<br />

a legislação existente e complementar,<br />

incluindo a legislação sobre o ensino<br />

obrigatório; melhoramento da capacidade<br />

das instituições governamentais e outros<br />

actores para identificar e agir sobre a<br />

questão do trabalho infantil; e, finalmente,<br />

sensibilização do público em geral para<br />

a questão. A eficácia das iniciativas será<br />

reforçada por um maior compromisso<br />

para com a recolha de dados sobre a<br />

natureza (incluindo a dimensão do género)<br />

e as dinâmicas do trabalho infantil em<br />

Moçambique.<br />

A Lei da Criança de 2008 proíbe o trabalho<br />

infantil e qualquer forma de trabalho a<br />

menores de 15 anos, prevendo medidas<br />

punitivas a serem tomadas contra o<br />

empregador. A Lei da Criança define<br />

também formas de trabalho proibidas,<br />

incluindo a exploração sexual comercial e<br />

trabalho que possa ser prejudicial à saúde<br />

e bem-estar da criança. Contudo, uma<br />

aplicação eficaz exige a divulgação da lei<br />

a todos os interessados, bem como um<br />

considerável reforço da capacidade de todas<br />

as autoridades encarregadas da aplicação<br />

das suas disposições. Finalmente, as<br />

pressões económicas e sociais que obrigam<br />

os pais a impelir os seus filhos para trabalho<br />

infantil exploratório devem ser tratadas por<br />

via de uma protecção social mais eficaz.<br />

Reduzir a carga de trabalho sobre as<br />

crianças depende da garantia de que as<br />

crianças e suas famílias, especialmente as<br />

mais pobres e mais vulneráveis, beneficiem<br />

de programas de redução da pobreza.<br />

Enquanto o trabalho infantil continuar<br />

a ser uma necessidade económica de<br />

determinadas famílias, o Governo deverá<br />

concentrar a sua acção no garantir que<br />

qualquer actividade económica empreendida<br />

seja adequada à idade e capacidade da<br />

criança e que em nada comprometa a<br />

sua sobrevivência, saúde, educação,<br />

desenvolvimento ou bem-estar geral.<br />

152<br />

153


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 5: PROTECÇÃO DA CRIANÇA<br />

3.6. Casamento infantil<br />

Em Moçambique, é ilegal o casamento<br />

antes dos 16 anos. Pela Lei de Família de<br />

2004, o Governo de Moçambique elevou a<br />

idade legal de casamento não carecendo de<br />

consentimento dos pais dos 16 para os 18<br />

anos. A idade mínima em que o casamento<br />

pode ocorrer com o consentimento dos<br />

pais foi elevada de 14 para 16. No entanto,<br />

é limitada a capacidade de aplicar a lei, e os<br />

casamentos tradicionais ao abrigo do direito<br />

consuetudinário continuam a constituir<br />

um desafio ao estabelecimento dos 18<br />

anos como idade mínima de casamento.<br />

Em muitas comunidades, as meninas são<br />

consideradas prontas para casar ao atingir a<br />

puberdade. 22<br />

Dados recentes revelam que 18 por cento<br />

das raparigas entre os 20 e os 24 anos se<br />

casaram antes de fazerem 15 anos, e 52<br />

antes dos 18 anos. 23 A percentagem de<br />

meninas que se envolve em casamento<br />

infantil decaiu ligeiramente desde 2003.<br />

Há diferenças significativas nas taxas de<br />

casamento infantil entre as regiões sul,<br />

centro e norte de Moçambique: as províncias<br />

do sul, designadamente Gaza, Inhambane,<br />

Maputo e Cidade de Maputo, têm uma taxa<br />

de casamento infantil inferior a 10 por cento;<br />

as províncias do centro têm uma taxa média<br />

de 20 por cento, enquanto Niassa e Cabo<br />

Delgado, no norte, têm índices de 24 e 30<br />

por cento, respectivamente.<br />

O casamento infantil não só é uma grave<br />

violação dos direitos da criança em si,<br />

mas também compromete seriamente<br />

a materialização de uma série de outros<br />

direitos. Por exemplo, o casamento na<br />

adolescência pode ter graves implicações<br />

para a saúde das meninas. A gravidez e o<br />

parto na adolescência estão associados a<br />

problemas de saúde e fracos resultados<br />

nutricionais para a mãe e seus filhos. Isto<br />

acontece particularmente com raparigas que<br />

são mães pela primeira vez muito jovens. 24<br />

Adolescentes casadas muitas vezes recebem<br />

menos informações sobre saúde reprodutiva<br />

que seus pares não casados. 25 As meninas<br />

casadas têm muito menor probabilidade que<br />

seus pares casados de frequentar a escola,<br />

e são muitas vezes retiradas da escola para<br />

se casarem ou por estarem grávidas, o que<br />

às vezes pode estar relacionado com abuso<br />

sexual. 26<br />

O casamento infantil é influenciado pelas<br />

relações de género tradicionais e pelos<br />

valores que a sociedade atribui às mulheres e<br />

meninas. O casamento pode reflectir o valor<br />

atribuído à virgindade de uma menina e ser<br />

visto pelos pais como um meio para evitar<br />

as relações sexuais antes do casamento e da<br />

gravidez. Nas comunidades, muitas meninas<br />

vítimas não denunciam às autoridades os<br />

casos de abuso sexual, em parte devido ao<br />

estigma e mitos em torno da questão do<br />

abuso sexual. Mesmo quando a polícia ou<br />

outras autoridades querem avançar com os<br />

casos de abuso sexual, é frequente os pais<br />

interromperem o processo por consideraremno<br />

um problema a ser resolvido no seio da<br />

família ou entre as famílias. A falta de um<br />

instrumento legal rígido para punir casos de<br />

abuso sexual agrava o problema.<br />

Em muitos casos, o casamento infantil,<br />

tanto de rapazes como de meninas, tem<br />

uma motivação económica. O casamento<br />

infantil é uma estratégia de sobrevivência<br />

para aliviar a família do que consideram<br />

ser, face à pobreza extrema, um encargo<br />

financeiro. Embora a situação económica<br />

seja uma causa do casamento infantil,<br />

não é a única motivação. A prevalência<br />

de casamento infantil está também ligada<br />

a práticas culturais de grupos étnicos<br />

específicos. 27 Apesar de serem realizadas<br />

nas escolas campanhas de sensibilização<br />

sobre saúde sexual e gravidez, o uso do<br />

preservativo ainda é baixo em crianças. O<br />

casamento é, por vezes, organizado numa<br />

idade precoce, com as meninas começando<br />

a viver com o marido na puberdade. Um<br />

mapeamento efectivo do casamento infantil<br />

em Moçambique por grupo étnico apoiaria<br />

os esforços do programa e aumentaria a<br />

eficácia das campanhas de prevenção.<br />

São também comuns em Moçambique<br />

relações poligâmicas, encontrando-se quase<br />

um quarto das mulheres de 15-49 anos num<br />

relacionamento poligâmico. 28 Embora a<br />

poligamia não seja legal em Moçambique,<br />

é muito frequente nas províncias do centro,<br />

em particular, encontrando-se um terço<br />

das mulheres de Manica, Tete e Sofala, em<br />

uniões desse tipo.<br />

Figura 5.7: Mulheres de 20-24 anos que se casaram antes dos 15 e dos 18 anos, 2003 e 2008<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

56%<br />

51%<br />

30%<br />

42%<br />

20%<br />

10%<br />

11%<br />

21%<br />

18%<br />

0%<br />

Urbana Rural Total<br />

Percentagem de casadas antes dos 15 anos<br />

Percentagem de casadas antes dos 18 anos<br />

Fonte: IDS 2003 e MICS 2008.<br />

154<br />

155


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 5: PROTECÇÃO DA CRIANÇA<br />

4. As crianças e o sector da justiça<br />

Foi reconhecida, tanto pelo Governo como<br />

pela sociedade civil em Moçambique, a<br />

necessidade de se melhorar o sector da<br />

justiça como uma prioridade fundamental<br />

para melhorar os sistemas de protecção<br />

infantil. Isto inclui a protecção de crianças<br />

que entram em contacto com o sistema<br />

de justiça como vítimas, testemunhas ou<br />

infractoras visando pôr fim à impunidade<br />

de crimes contra as crianças. Importantes<br />

progressos foram feitos, incluindo a criação<br />

de uma secção para menores no tribunal<br />

em três províncias e a criação de mais de<br />

200 centros policiais de apoio à vítima<br />

(Gabinetes de Atendimento da Mulher<br />

e da Criança) em todas as províncias. A<br />

criação destas novas estruturas de apoio<br />

tem ajudado a garantir que os direitos da<br />

criança sejam protegidos e que esta receba<br />

um tratamento amigo da criança e sensível,<br />

em conformidade com normas e padrões<br />

internacionais, quando entra em contacto<br />

com o sistema de justiça.<br />

Os sistemas de justiça ainda não são eficazes<br />

para a maioria das crianças. Observações<br />

finais do Comité dos Direitos da Criança<br />

referiram, no segundo relatório periódico<br />

de Moçambique, por exemplo, que os<br />

perpetradores de violência e abuso raramente<br />

são levados à justiça, que o encarceramento<br />

de crianças em conflito com a lei não é usado<br />

como medida de último recurso, e que é<br />

frequente a prisão preventiva. 29<br />

O Ministério da Justiça e o Ministério do<br />

Interior carecem de recursos financeiros<br />

e humanos para melhorar a eficácia do<br />

sistema para as crianças. As dotações<br />

orçamentais do estado em 2008 destinadas<br />

ao Ministério da Justiça e ao Ministério do<br />

Interior, que inclui a polícia, foram de dois<br />

e três por cento, respectivamente, com<br />

limitados recursos destinados a crianças e<br />

programas de justiça juvenil.<br />

Grandes têm sido os progressos de<br />

Moçambique na área da reforma legislativa<br />

para fazer com que a legislação nacional<br />

fique em consonância com a Convenção<br />

sobre os Direitos da Criança. Continuam<br />

a ser tratadas algumas inconsistências<br />

internas, devendo reforçar-se iniciativas e<br />

medidas preventivas, especialmente em<br />

relação às crianças em conflito com a lei,<br />

incluindo a aplicação de medidas correctivas<br />

alternativas que estejam em conformidade<br />

com as normas internacionais. As crianças<br />

em conflito com a lei em Moçambique<br />

muitas vezes não beneficiam da protecção<br />

estipulada nos instrumentos internacionais,<br />

incluindo os Artigos 37 e 40 da Convenção<br />

sobre os Direitos da Criança, as Regras de<br />

Beijing para a Administração da Justiça<br />

Juvenil (1985), e as Directrizes de Riade para<br />

a Prevenção da Delinquência Juvenil (1998).<br />

As crianças em conflito com a lei são<br />

frequentemente colocadas em prisões<br />

para adultos, embora a lei estabeleça que<br />

devem ser mantidas em celas separadas. A<br />

polícia tem autoridade para deter menores<br />

que supostamente tenham cometido<br />

uma infracção por um período máximo<br />

de 30 dias, após o que a criança deve ser<br />

apresentada em Tribunal de Menores ou<br />

Secções Civis. O ideal seria um centro de<br />

transição ou instalação intermédia e que se<br />

tivessem atenções particulares para garantir<br />

que esses casos fossem levados a tribunal<br />

de forma expedita. Essa não é, no entanto, a<br />

prática comum em Moçambique.<br />

É frequente não se cumprirem políticas<br />

prisionais que exigem que os presos sejam<br />

separados por sexo e idade, e fiquem, de<br />

preferência, em instalações separadas, e<br />

as condições de segurança e sanitárias<br />

nas prisões são um problema. 30 O Serviço<br />

Nacional de Prisões reporta que nenhum<br />

centro para crianças em conflito com a<br />

lei está operacional neste momento; foi<br />

reabilitado um (Centro de Reabilitação de<br />

Chiango), mas não está a funcionar por falta<br />

de recursos. Estão previstos ou operacionais<br />

três centros de detenção juvenil para menores<br />

com 16 a 18 anos (assim como jovens até<br />

aos 21 anos, e excepcionalmente até aos 25).<br />

Estas instalações estão situadas em Nampula,<br />

em Matutuíne, na província de Maputo (ainda<br />

em construção), e na Beira (prevista).<br />

Trinta e cinco por cento do total da<br />

população prisional em Moçambique tem<br />

16-21 anos de idade. Dados divulgados pelo<br />

Serviço Nacional de Prisões de menores<br />

com 16 a 18 anos de idade em conflito com<br />

a lei revelam que 898 do sexo masculino<br />

e 8 do sexo feminino estão actualmente<br />

em prisões em todo o país. Existe apenas<br />

uma prisão para mulheres, localizada em<br />

Ndlavela, em Maputo, com capacidade<br />

para albergar cerca de 300 presidiárias,<br />

mas existem secções femininas em todas<br />

as prisões provinciais. Em 2008, havia 297<br />

presos do sexo feminino numa população<br />

prisional total de 14.309 pessoas. O Estudo<br />

sobre o Acesso à Justiça realizado no âmbito<br />

da avaliação do PARPA II (2009) relata que<br />

o governo está a empreender esforços para<br />

conferir tratamento especial a mulheres e<br />

menores; esses esforços, no entanto, ainda<br />

não se traduzem em prática correspondente<br />

aos objectivos da política prisional e às<br />

regras e padrões mínimos dos instrumentos<br />

internacionais. 31<br />

4.1.<br />

Para proteger as mulheres e crianças<br />

vulneráveis e promover o acesso à justiça, o<br />

Governo decidiu aumentar a capacidade do<br />

sector da justiça, definindo como prioridade<br />

o direito constitucional a representação.<br />

Para isso, aumentaram os fundos atribuídos<br />

ao Instituto de Patrocínio e Assistência<br />

Jurídica [IPAJ], que foi incluído em 2008,<br />

pela primeira vez, no orçamento do Estado.<br />

O recrutamento de profissionais em 2007 e<br />

2008 elevou o número de funcionários que<br />

recebem um salário do Estado de 10 em<br />

2002 32 para 138 no primeiro semestre de<br />

2008. 33 No mesmo período, o número total<br />

de funcionários do IPAJ subiu de 360 para<br />

700. A cobertura dos serviços prestados pelo<br />

IPAJ aumentou de 41 filiais em 2005 para<br />

57 no primeiro semestre de 2008. O número<br />

de pessoas que beneficiam destes serviços<br />

aumentou de 7.327 em 2007 para 9.615 na<br />

primeira metade de 2008. 34, 35<br />

Acesso das crianças a<br />

propriedade e herança<br />

Os direitos das mulheres e crianças à<br />

propriedade e herança estão ameaçados<br />

pela pandemia da SIDA, pois são cada<br />

vez mais as viúvas e os órfãos que se<br />

confrontam com apropriação cobiçosa<br />

de propriedade. Em Moçambique,<br />

as leis de sucessão estabelecidas no<br />

Livro de Sucessão do Código Civil<br />

de 1966 conferem iguais direitos a<br />

herdeiros do sexo feminino e do sexo<br />

masculino. Todavia, nos termos do direito<br />

consuetudinário, os homens estão mais<br />

protegidos, encontrando-se as viúvas<br />

vulneráveis a apropriação cobiçosa de<br />

propriedade.<br />

Um estudo realizado em quatro províncias<br />

de Moçambique revelou que as viúvas e<br />

os órfãos tendem a sofrer, após a morte<br />

de seu marido ou pai, algum tipo de perda<br />

de material. 36 Como a herança é encarada<br />

como assunto privado da família, os<br />

outros membros da comunidade em geral<br />

optam por não interferir nesses casos.<br />

Um estudo de seguimento realizado em<br />

2009 observa que a maioria das pesquisas<br />

abordando a questão da apropriação<br />

cobiçosa de propriedade incide sobre os<br />

aspectos legais da sucessão, e observa<br />

haver falta de dados quantitativos sobre a<br />

situação dos direitos de propriedade das<br />

crianças e mulheres. 37 O estudo destaca a<br />

necessidade de: (i) uma avaliação do grau<br />

de apropriação cobiçosa de propriedade<br />

de crianças e viúvas em Moçambique,<br />

(ii) prevenção de apropriação cobiçosa<br />

de propriedade, (iii) garantia de que as<br />

viúvas e seus filhos beneficiam de justiça,<br />

seja através de mecanismos locais de<br />

resolução de conflitos seja no quadro do<br />

sistema jurídico formal. Para atender a<br />

essas necessidades, é necessário fazeremse<br />

acções para defesa e promoção de<br />

mudanças na legislação e nas políticas<br />

do governo, bem como para melhorar<br />

a monitoria e o apoio e promover<br />

mudança comportamental ao nível das<br />

comunidades.<br />

156<br />

157


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 5: PROTECÇÃO DA CRIANÇA<br />

4.2. Registo de nascimento<br />

O registo de nascimento dá à criança<br />

existência legal e autoridade para<br />

reivindicar cidadania, bem como os direitos,<br />

benefícios e obrigações resultantes dessa<br />

cidadania. Assim, o registo de nascimento<br />

é reconhecido como um direito tanto pela<br />

Convenção sobre os Direitos da Criança<br />

(Artigo 7) como pela Carta Africana sobre<br />

os Direitos e Bem-estar da Criança (Artigo<br />

6). A obrigação de Moçambique de se<br />

registarem as crianças imediatamente após<br />

o nascimento está legalmente reconhecida<br />

no Código do Registo Civil. A falta de registo<br />

de nascimento viola o direito humano<br />

inalienável da criança a uma identidade<br />

e coloca em situação de risco o seu<br />

desenvolvimento e protecção.<br />

O registo de nascimento é especialmente<br />

importante numa altura em que a pandemia<br />

da SIDA está a privar cada vez mais crianças<br />

de cuidados parentais. A falta de uma certidão<br />

de nascimento pode resultar em problemas<br />

na determinação de relações familiares,<br />

relações legais e direitos de herança, bem<br />

como trazer dificuldades no acesso a serviços<br />

sociais básicos, como a matrícula escolar<br />

e a assistência social. Embora o uso de um<br />

registo de nascimento para crianças esteja<br />

ainda numa fase rudimentar em Moçambique,<br />

o processo de modernização e a instauração<br />

do distrito como pólo de desenvolvimento<br />

está a tornar um documento de identificação<br />

legal cada vez mais importante para<br />

protecção jurídica e prevenção de exclusão<br />

socioeconómica, especialmente dos mais<br />

vulneráveis na sociedade.<br />

Moçambique tem aumentado<br />

significativamente o acesso a serviços de<br />

registo de nascimento em todo o país. Foi<br />

desenvolvido em 2004 um plano nacional<br />

de acção para o registo de nascimento, e o<br />

registo de nascimento é parte integrante do<br />

plano nacional de acção para a criança 2006-<br />

2010. Foi lançada em 2006, pela Direcção<br />

Nacional dos Registos e Notariado, do<br />

Ministério da Justiça, uma campanha de<br />

registo de nascimento de longa duração. Os<br />

objectivos da campanha são dar resposta ao<br />

grande acumular de crianças por registar,<br />

sensibilizar para a importância do registo<br />

(precoce) e melhorar o acesso do público aos<br />

serviços de registo de nascimento levandoos<br />

para mais perto das populações.<br />

Desde a adopção do plano nacional de<br />

acção para o registo de nascimento e o<br />

lançamento da campanha, cerca de 4,2<br />

milhões de crianças menores de 18 anos<br />

foram registadas, o que representa 40 por<br />

cento de todas as crianças em Moçambique.<br />

A percentagem de crianças menores de<br />

cinco anos que tiveram o seu registo de<br />

nascimento [aumentou] de 8 por cento<br />

em 2003 38 para 31 por cento em 2008.<br />

vi Há grandes disparidades geográficas<br />

no registo: 39 por cento das crianças com<br />

menos de cinco anos tiveram os seus<br />

nascimentos registados em áreas urbanas,<br />

em comparação com 28 por cento nas<br />

zonas rurais, e enquanto 47 por cento<br />

das crianças menores de cinco anos são<br />

registadas na Cidade de Maputo, apenas<br />

11 por cento são registadas na província de<br />

Tete. A pesquisa também constatou que os<br />

entrevistados citaram as principais barreiras<br />

ao registo como sendo a complexidade dos<br />

procedimentos envolvidos (25 por cento),<br />

a distância para os serviços de registo (22<br />

por cento) e os custos (20 por cento), com<br />

apenas uma parte relativamente pequena<br />

citando a falta de conhecimento do serviço<br />

(9 por cento) ou não reconhecendo a<br />

importância do registo de nascimento (6 por<br />

cento). (Ver Figura 5.8).<br />

Num país com baixos índices de<br />

alfabetização (com índices de analfabetismo<br />

mais elevados e mais baixas taxas<br />

de registo nas áreas rurais), as rádios<br />

comunitárias desempenharam um papelchave<br />

na mobilização das famílias para<br />

matricularem as suas crianças. Spots<br />

vi Nem todos os distritos da pesquisa tinham realizado actividades de registo de nascimento na altura da pesquisa, pelo<br />

que os dados podem estar a subestimar a média nacional.<br />

Figura 5.8: Razões para não registar os nascimentos, 2008<br />

Não é<br />

importante<br />

6%<br />

Figura 5.9: Percentagem de crianças com menos de cinco anos com registo de nascimento, por província, 2008<br />

50%<br />

45%<br />

40%<br />

35%<br />

30%<br />

25%<br />

20%<br />

15%<br />

10%<br />

5%<br />

0%<br />

15%<br />

Niassa<br />

Fonte: MICS 2008.<br />

É complicado<br />

25%<br />

Fonte: MICS 2008.<br />

28%<br />

Cabo<br />

Delgado<br />

Outras<br />

17%<br />

34%<br />

Custo<br />

20%<br />

24%<br />

Nampula<br />

Zambézia<br />

Distância<br />

23%<br />

produzidos e difundidos em línguas locais<br />

proporcionam fortes canais de comunicação<br />

aos activistas locais, os quais não só<br />

divulgam informações básicas sobre o<br />

registo de nascimento, como também<br />

ajudam as famílias a superar algumas das<br />

barreiras socioculturais para registarem<br />

os recém-nascidos em tempo oportuno.<br />

Em algumas comunidades, por exemplo,<br />

práticas tradicionais na escolha do nome<br />

podem estender-se para além do prazo de<br />

120 dias durante o qual os nascimentos<br />

11%<br />

podem ser registados gratuitamente. O<br />

impedimento cultural de as mães registarem<br />

uma criança sem a presença do pai é outro<br />

desafio, especialmente nos casos em que o<br />

pai fica ausente de casa por longos períodos,<br />

devido, por exemplo, a trabalho migratório.<br />

As actividades da campanha de registo<br />

de nascimento vêm dar um impulso<br />

fundamental à introdução de serviços<br />

de registo de nascimento de rotina que<br />

aproximam o registo das comunidades e<br />

evitam um futuro acumular de registos,<br />

criando uma cultura de registo (precoce)<br />

das crianças. Soluções de longo prazo,<br />

sustentáveis e de rotina, estão a ser<br />

desenvolvidas com a participação dos<br />

Ministérios da Saúde, da Educação, da<br />

Administração Estatal e da Mulher e da<br />

Acção Social. Será importante uma estreita<br />

cooperação com estes organismos do Estado<br />

para estabelecer um sistema eficaz, eficiente<br />

e sustentável, centrado especificamente<br />

no registo de nascimento. Para curto<br />

a médio prazo, até que os ministérios<br />

acima mencionados tenham capacidade<br />

institucional para conduzir o processo de<br />

registo, estão a ser oferecidos por agentes<br />

de serviços de registo alternativos que ligam<br />

as comunidades e o Governo e facilitam o<br />

estabelecimento de uma cultura de registo<br />

precoce da criança.<br />

34%<br />

36%<br />

40%<br />

Tete Manica Sofala Inhambane<br />

45% 46% 47%<br />

Gaza<br />

Maputo<br />

Província<br />

Maputo<br />

Cidade<br />

158<br />

159


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 5: PROTECÇÃO DA CRIANÇA<br />

4.3. Crianças portadoras de<br />

deficiência<br />

Moçambique não é signatário da Convenção<br />

das Nações Unidas sobre os Direitos das<br />

Pessoas Portadoras de Deficiência e seu<br />

Protocolo Facultativo. A política nacional<br />

para pessoas com deficiência responsabiliza<br />

o Ministério da Mulher e da Acção Social<br />

pela promoção da integração efectiva das<br />

crianças portadoras de deficiência em<br />

actividades pré-escolares e por garantir a<br />

protecção social das pessoas com deficiência<br />

e suas famílias por meio de medidas<br />

destinadas a promover a sua autonomia e<br />

integração na comunidade.<br />

O programa estatal Subsídio de Alimentos<br />

(um pequeno valor mensal em dinheiro<br />

para pessoas especialmente vulneráveis)<br />

está disponível unicamente para cidadãos<br />

maiores de 18 anos e, portanto, exclui<br />

crianças portadoras de deficiência. 39 A<br />

política nacional de educação prevê a<br />

possibilidade de as crianças com deficiências<br />

moderadas frequentarem escolas regulares<br />

e as crianças com deficiências mais graves<br />

frequentarem escolas especiais. Conforme<br />

descrito no Capítulo 4, “Educação e<br />

desenvolvimento da criança”, as crianças<br />

portadoras de deficiência têm menos 40<br />

por cento de probabilidade de frequentar<br />

a escola primária do que as crianças sem<br />

deficiência. Dados indicam que 13 por cento<br />

das crianças com idades compreendidas<br />

entre os 2 e os 9 anos vivem com pelo<br />

menos uma deficiência (ver Figura 5.10). 40<br />

25%<br />

20%<br />

15%<br />

10%<br />

5%<br />

0%<br />

9%<br />

Niassa<br />

Fonte: MICS 2008.<br />

17%<br />

Cabo<br />

Delgado<br />

14%<br />

15%<br />

Nampula<br />

Zambézia<br />

12%<br />

8%<br />

A deficiência mais comum foi a demora<br />

em sentar-se, pôr-se em pé ou andar (6 por<br />

cento das crianças).<br />

4.4. Mecanismos de cuidados<br />

alternativos<br />

Na prática, Moçambique tem dois tipos de<br />

sistemas alternativos de cuidados: formal<br />

e informal. O Governo de Moçambique<br />

incentiva o fortalecimento do papel protector<br />

das famílias como primeiro passo para a<br />

realização dos direitos das crianças. No<br />

entanto, são necessárias acções específicas<br />

para lidar com mecanismos alternativos de<br />

cuidados a crianças que não se encontrem<br />

sob cuidados parentais ou familiares.<br />

Os sistemas tradicionais de cuidados<br />

alternativos têm vindo a sofrer uma pressão<br />

cada vez maior devido às mudanças<br />

sociais decorrentes de desenvolvimento<br />

económico, migração e urbanização, e à<br />

pandemia da SIDA. As famílias alargadas e<br />

as comunidades têm sido a primeira linha<br />

de resposta à situação das crianças órfãs e<br />

vulneráveis em Moçambique.<br />

Os cuidados formais inscrevem-se no<br />

âmbito da jurisdição civil, sob a forma<br />

de guarda (tutor), acolhimento (família<br />

de acolhimento) e adopção. Nos termos<br />

da legislação moçambicana, as decisões<br />

concernentes a cuidados formais são<br />

tomadas através de uma autoridade judicial<br />

e em conformidade com o princípio do<br />

melhor interesse da criança, e a colocação<br />

Figura 5.10: Percentagem de crianças (2-9 anos) com pelo menos uma deficiência relatada, 2008<br />

5%<br />

21%<br />

Tete Manica Sofala Inhambane<br />

19%<br />

Gaza<br />

15%<br />

Maputo<br />

Província<br />

12%<br />

Maputo<br />

Cidade<br />

14%<br />

Total<br />

em famílias de acolhimento ou instituições<br />

é usada apenas como último recurso.<br />

Os cuidados residenciais também são<br />

considerados um meio de cuidados formais,<br />

mas a decisão de colocar uma criança<br />

numa instituição é tomada principalmente<br />

por via de procedimentos administrativos,<br />

sob a responsabilidade do Ministério da<br />

Mulher e da Acção Social. Foi recentemente<br />

desenvolvido o Regulamento dos Centros<br />

de Acolhimento da Criança para garantir<br />

a qualidade dos serviços de assistência à<br />

infância e a aplicação de padrões mínimos,<br />

regulamento esse que aguarda a aprovação<br />

final do Ministério da Mulher e da Acção<br />

Social. Este quadro regulamentar também<br />

especifica como se devem realizar as<br />

inspecções e como deve ser monitorado o<br />

bem-estar das crianças nessas instituições.<br />

O conceito de família de acolhimento para<br />

crianças que carecem de cuidados parentais<br />

foi introduzido pela Lei da Família. Precisam,<br />

no entanto, de ser desenvolvidos os<br />

processos de execução e o regulamento, a<br />

fim de se levar avante a iniciativa. É também<br />

necessário (i) melhorar a rede de instituições<br />

para crianças e instituições infantis do tipo<br />

internato, transferindo instituições estatais<br />

infantis para centros de apoio familiar, (ii)<br />

criar um sistema alternativo de serviços<br />

de cuidados (baseados na comunidade e<br />

na família, guarda, tutoria, acolhimento,<br />

adopção), e (iii) implementar mecanismos<br />

para ampliar e estimular a integração das<br />

crianças em assistência familiar (família<br />

biológica ou alternativa).<br />

A legislação actual não faz distinção entre<br />

a adopção internacional e a adopção<br />

doméstica. Os processos de adopção devem<br />

ser harmonizados nas várias instituições e<br />

ministérios para garantir procedimentos de<br />

colocação e supervisão adequados durante<br />

o período de integração. Quanto à adopção<br />

internacional, Moçambique não assinou<br />

a Convenção de Haia n º 33, relativa à<br />

Protecção das Crianças e à Cooperação em<br />

Matéria de Adopção Internacional de 1993,<br />

ou quaisquer outros acordos bilaterais sobre<br />

a adopção, o que representa uma lacuna no<br />

quadro legal. A Ratificação da Convenção<br />

de Haia sobre a Adopção criará o quadro<br />

jurídico necessário para assegurar o devido<br />

processo para casos de adopção e também<br />

que o melhor interesse da criança seja o<br />

principal aspecto a considerar. A assinatura<br />

da Convenção de Haia foi recomendada pelo<br />

Comité dos Direitos da Criança em 2009. 41<br />

É necessário que se forneçam ao público<br />

em geral informações completas sobre<br />

a adopção, para desenvolver uma<br />

regulamentação específica para as adopções<br />

nacionais e internacionais, bem como para<br />

harmonizar os procedimentos de adopção<br />

com a Convenção sobre os Direitos da<br />

Criança e outros acordos globais de modo<br />

a assegurar supervisão do processo de<br />

adopção pelos Serviços de Acção Social e<br />

órgãos judiciais apropriados. Por exemplo,<br />

embora a Lei da Criança adopte a definição<br />

de criança da Convenção sobre os Direitos<br />

da Criança como qualquer pessoa até aos<br />

18 anos de idade, o Código Civil define a<br />

maioridade como sendo os 21. Decorrem<br />

tentativas para compatibilizar outros<br />

aspectos da legislação nacional com os<br />

padrões dos direitos humanos.<br />

Embora sejam limitados os dados<br />

quantitativos de Moçambique sobre a<br />

colocação de crianças vulneráveis em<br />

diferentes tipos de assistência, há evidências<br />

de estarem a proliferar os centros de<br />

cuidados residenciais. A partir de 2010, os<br />

dados registados pela Direcção Provincial<br />

da Mulher e Acção Social indicaram um<br />

total de 12.767 crianças a serem atendidas<br />

em 143 instituições de acolhimento em<br />

todo o país. Em 2009 e 2010, o Ministério da<br />

Mulher e da Acção Social avaliou 113 dessas<br />

instituições para determinar a qualidade<br />

dos cuidados e dos serviços prestados às<br />

crianças. Verificou-se que a maioria dos<br />

centros não estavam legalmente registados,<br />

não tinham sustentabilidade e dependiam<br />

da ajuda externa ou de doações. Além<br />

disso, a maioria dos centros não oferece<br />

actividades ocupacionais e não tem um<br />

programa de saída para crianças por volta<br />

dos 18 anos de idade. Os empregados<br />

carecem de suficientes conhecimentos e<br />

habilidades em matéria de cuidados infantis<br />

160<br />

161


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 5: PROTECÇÃO DA CRIANÇA<br />

e desenvolvimento da criança. Estão a<br />

decorrer acções em todas as províncias para<br />

a resolução de problemas encontrados nas<br />

visitas de monitoria. Embora ainda esteja<br />

muito por fazer, têm-se registado alguns<br />

progressos: foi desenvolvida uma base de<br />

dados nacional para se seguir a situação de<br />

cada centro, e tem-se realizado uma série de<br />

workshops de formação com o pessoal dos<br />

centros para resolver as carências em termos<br />

de recursos humanos.<br />

4.5. Crianças órfãs e vulneráveis<br />

e outras crianças<br />

marginalizadas<br />

A vulnerabilidade das crianças não se limita à<br />

sua condição de órfãs ou não órfãs, nem está<br />

exclusivamente ligada a ser afectada pelo<br />

HIV e pela SIDA. As crianças que perderam<br />

os seus pais devido à SIDA são parte de um<br />

grupo muito maior de crianças com sérias<br />

e urgentes necessidades. É a tripla ameaça<br />

de SIDA, pobreza e insegurança alimentar<br />

interligadas que torna vulnerável uma ampla<br />

gama de crianças. Com efeito, a análise<br />

mostra que em contextos de pobreza extrema<br />

generalizada as diferenças entre órfãos e<br />

não órfãos ou não se manifestam ou são<br />

muito pequenas quando comparadas com a<br />

privação e o sofrimento que todas as crianças<br />

vulneráveis enfrentam 42 .<br />

Consequentemente, alguns especialistas<br />

recomendam que se redefina o grupo-alvo<br />

para uma intervenção de protecção social<br />

de ‘órfãos’ considerando um mais amplo<br />

grupo de crianças vulneráveis, embora essa<br />

medida venha a apresentar as suas próprias<br />

dificuldades, como, por exemplo, chegar<br />

a consenso sobre onde estabelecer limites<br />

ou poder vir a aumentar significativamente<br />

o número de beneficiários dos programas<br />

existentes.<br />

Actualmente, o número de crianças órfãs<br />

devido à SIDA tem sido adoptado como<br />

medida para avaliar a gravidade do<br />

impacto da epidemia nas crianças, famílias,<br />

comunidades e país em geral. Apoiar as<br />

crianças que perderam os pais continua a<br />

ser visto como imperativo. No quadro do<br />

HIV e da SIDA, as crianças são consideradas<br />

Crianças Órfãs ou Vulneráveis (COV) se<br />

um ou ambos os seus progenitores tiver<br />

morrido, se no seu agregado familiar tiver<br />

morrido algum adulto nos últimos 12<br />

meses após doença prolongada, se vivem<br />

em famílias chefiadas por adultos com<br />

doença crónica, ou se vivem em domicílios<br />

chefiados por outras crianças ou por jovens,<br />

mulheres ou idosos.<br />

Estima-se que existam 1,8 milhões de<br />

órfãos em Moçambique, dos quais 510 mil<br />

devido à SIDA. 43 Prevê-se que o número de<br />

órfãos aumente, tornando-se as doenças<br />

relacionadas com a SIDA, cada vez mais, a<br />

principal causa de orfandade. O número de<br />

órfãos não toma em conta as outras crianças<br />

eventualmente vulneráveis devido ao HIV<br />

ou a viver em agregados familiares com<br />

pessoas a viver com HIV. Há 100.000 crianças<br />

de 0-14 anos vivendo com HIV. 44 O MICS<br />

refere ainda que 17,2 por cento das crianças<br />

moçambicanas são órfãs ou vulneráveis<br />

(COV) devido à SIDA.<br />

O quadro legislativo pelo qual se orienta<br />

a resposta nacional a COVs compreende<br />

dois principais planos de acção: o Plano<br />

Nacional de Acção para a Criança 2006-<br />

2010 e o Plano de Acção para Crianças<br />

Órfãs e Vulneráveis (PACOV). O PACOV<br />

também se aplica a crianças que ficaram<br />

vulneráveis devido a outros factores que<br />

não o HIV e a SIDA. Engloba as crianças que<br />

vivem na rua, as que vivem em instituições<br />

(orfanatos, prisões, instituições de saúde<br />

mental), as que entram em conflito com a<br />

lei, as portadoras de deficiência, as vítimas<br />

de violência, de abuso e exploração sexual,<br />

de tráfico e das piores forma de trabalho<br />

infantil, as que se casam antes da idade<br />

legal, e as refugiadas ou deslocadas.<br />

O PACOV identificou seis serviços básicos<br />

para atender às principais necessidades<br />

das crianças: cuidados de saúde,<br />

educação, apoio nutricional e alimentar,<br />

apoio financeiro, apoio jurídico e apoio<br />

psicossocial. O Governo de Moçambique<br />

comprometeu-se a garantir que as crianças<br />

tenham acesso a pelo menos três desses<br />

seis serviços, com particular incidência sobre<br />

as crianças que vivem abaixo da linha de<br />

pobreza absoluta, incluindo crianças órfãs e<br />

crianças vivendo com ou afectadas pelo HIV<br />

e pela SIDA. Além do PACOV, a estratégia<br />

de redução da pobreza 2005-2009 (PARPA<br />

II) incluiu também metas específicas para<br />

COV, incluindo a necessidade de desenvolver<br />

e consolidar as redes de segurança social<br />

para crianças órfãs e garantir que os rácios<br />

de frequência escolar e de desnutrição entre<br />

as crianças órfãs sejam idênticos aos das<br />

crianças não órfãs.<br />

Algumas das ameaças à protecção que as<br />

crianças órfãs enfrentam são um aumento<br />

de agregados familiares chefiados por<br />

irmãos ou crianças, menores índices de<br />

matrículas e mais fraco desempenho<br />

escolar, e maior risco de abuso sexual e<br />

infecção por HIV, trabalho infantil perigoso,<br />

actividade sexual precoce e casamento<br />

prematuro, graves problemas psicossociais<br />

e problemas de saúde e nutrição. 45 Além<br />

disso, o estigma e discriminação contra as<br />

pessoas afectadas pela SIDA continua a ser<br />

uma questão desafiadora. Crianças e jovens<br />

com familiares doentes ou moribundos<br />

estão particularmente expostas ao estigma.<br />

Podem ser condenadas ao ostracismo pelas<br />

suas comunidades e receber um apoio<br />

mínimo das suas famílias devido à vergonha<br />

e ao estigma frequentemente associados<br />

às mortes relacionadas com a SIDA. Nas<br />

escolas, a discriminação da criança traduzse<br />

em provocação e bullying [intimidação].<br />

Em alguns casos, as crianças evitam os seus<br />

pares seropositivos por terem medo de ficar<br />

infectadas.<br />

O MICS constatou que doze por cento<br />

das crianças moçambicanas eram órfãs<br />

(das quais 11 por cento órfãs de um dos<br />

seus progenitores e 1 por cento órfãs de<br />

pai e mãe), enquanto outros 6 por cento<br />

eram crianças consideradas ‘vulneráveis’. 46<br />

Também foram observadas diferenças<br />

geográficas, havendo mais COV em áreas<br />

urbanas do que em áreas rurais (20 e 16 por<br />

cento, respectivamente), e nas províncias do<br />

sul do que nas regiões centro e norte do país<br />

(ver Figura 5.11). Apenas 68 por cento das<br />

crianças moravam com ambos os pais em<br />

2008.<br />

Não há nenhuma evidência de uma maior<br />

taxa de privação severa de educação em<br />

COV do que em não órfãos. Há, no entanto,<br />

diferença nas taxas de frequência escolar<br />

entre órfãos de pai e mãe e não órfãos,<br />

sendo 0,90 o rácio de rapazes órfãos de pai e<br />

mãe e 0,92 o de meninas órfãs de pai e mãe,<br />

com relação aos seus pares não órfãos.<br />

O MICS mostra ainda que apenas 22 por<br />

cento das famílias com COV recebem algum<br />

apoio externo; a maior parte desse apoio<br />

vai para a educação, com dois por cento<br />

dos agregados familiares recebendo apoio<br />

material ou financeiro, e menos de um por<br />

cento recebendo apoio médico. Apenas<br />

20 por cento das crianças do quintil mais<br />

pobre recebem apoio externo grátis, em<br />

comparação com 27 por cento no segundo<br />

quintil mais pobre.<br />

As crianças órfãs e vulneráveis tendem<br />

a viver em famílias pobres chefiadas por<br />

idosos. O MICS constatou que 10 por cento<br />

dos agregados familiares são chefiados<br />

por uma pessoa idosa, mais de metade<br />

dos quais tem pelo menos um dependente<br />

menor. Um estudo realizado em 2006<br />

revelou que fazer face a custos associados a<br />

cuidar de crianças era um fardo impossível<br />

para os idosos: cuidar de uma criança órfã<br />

ou vulnerável custa, em média, 21 dólares<br />

americanos por mês e cuidar de uma<br />

pessoa vivendo com HIV custa 30 dólares<br />

americanos, enquanto os idosos tinham um<br />

rendimento médio mensal de 12,5 dólares<br />

americanos. 47<br />

Algumas famílias também são chefiadas<br />

por uma criança, ou têm uma criança que<br />

se vê forçada a funcionar como principal<br />

provedor devido a doença ou deficiência dos<br />

membros da família adultos (cerca de um<br />

e dois por cento, respectivamente, de<br />

acordo com o MICS). Em tais situações,<br />

as crianças têm normalmente meios de<br />

geração de rendimento muito limitados,<br />

sendo obrigadas a recorrer a estratégias<br />

de risco, como o casamento precoce,<br />

sexo transaccional e trabalho infantil<br />

162<br />

163


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 5: PROTECÇÃO DA CRIANÇA<br />

prejudicial. É também limitado o acesso<br />

dessas crianças a serviços básicos como<br />

os de saúde, educação e alimentação,<br />

jurídicos, financeiros e psicossociais. Além<br />

desses desafios, as crianças órfãs em<br />

consequência da SIDA muitas vezes são<br />

estigmatizadas e socialmente discriminadas,<br />

sendo susceptíveis a exclusão das suas<br />

comunidades. Por exemplo, um estudo<br />

realizado pelo Ministério de Planificação<br />

e Desenvolvimento realizado em 2005<br />

constatou que nas famílias pobres existe<br />

discriminação na alocação de recursos<br />

a crianças que não são descendentes<br />

biológicas do chefe de família. O estudo<br />

verificou que as crianças sem relação<br />

Figura 5.11: Percentagem de crianças órfãs e<br />

vulneráveis devido à SIDA, 2008<br />

Tete<br />

12%<br />

Gaza<br />

31%<br />

Maputo<br />

19%<br />

Manica<br />

19%<br />

Fonte: MICS, 2008.<br />

Sofala<br />

20%<br />

Inhambane<br />

15%<br />

Maputo City<br />

20%<br />

Niassa<br />

9%<br />

Zambezia<br />

19%<br />

Cabo Delgado<br />

17%<br />

Nampula<br />

13%<br />

biológica directa com o chefe da família<br />

eram vítimas de discriminação em termos<br />

de acesso à educação, tanto nas áreas rurais<br />

como nas áreas urbanas. 48<br />

O Inquérito Demográfico e de Saúde de<br />

2003 constatou que as órfãs com 15-17 anos<br />

de idade têm maior probabilidade que as<br />

não órfãs de se ter iniciado sexualmente e<br />

as órfãs de mãe têm maior probabilidade<br />

que as não órfãs de estar casadas, 49 o que<br />

significa que os adolescentes, especialmente<br />

as meninas, são particularmente vulneráveis.<br />

Um estudo constatou que os órfãos<br />

eram mais propensos a intimidações e<br />

depressões, e menos propensos a ter um<br />

adulto ou amigos de confiança. Pessoas<br />

com órfãos a seu cargo também reportaram<br />

depressão e isolamento similares. 50<br />

4.6. Protecção Social Básica<br />

Presentemente, o Instituto Nacional<br />

de Acção Social supervisiona cinco<br />

programas de protecção social: dois<br />

programas de assistência (um programa de<br />

transferências de dinheiro e um programa<br />

de transferências sociais em espécie) e três<br />

programas de promoção e desenvolvimento<br />

(Benefício Social pelo Trabalho, Geração<br />

de Rendimentos e Desenvolvimento<br />

Comunitário).<br />

Destes, o Programa Subsídio de Alimentos<br />

(PSA) é, de longe, o de maior alcance. Este<br />

programa de transferências incondicionais<br />

de dinheiro foi introduzido em 1990,<br />

destinando-se a idosos, deficientes e doentes<br />

crónicos e seus dependentes no estrato<br />

mais pobre da sociedade. Actualmente, os<br />

seus principais beneficiários directos são<br />

idosos (93 por cento), pessoas portadoras<br />

de deficiência (6 por cento) e doentes<br />

crónicos (1 por cento). Tem, portanto, as<br />

características de pensão (de velhice) não<br />

contributiva. Moçambique é um dos poucos<br />

países de baixo rendimento africanos com<br />

tal programa de transferências de dinheiro<br />

de longa duração suportado por fundos do<br />

estado e legislação nacional. Em 2007, o PSA<br />

atingiu 128 mil famílias com transferências<br />

mensais de dinheiro, aumentando para<br />

143.455 agregados familiares em 2008 e<br />

166.824 em 2009. No total, o programa<br />

alcançou 166.824 beneficiários directos<br />

e 140.643 beneficiários indirectos<br />

(dependentes) em 2009. Uma significativa<br />

percentagem de beneficiários indirectos<br />

são crianças, incluindo filhos biológicos<br />

do beneficiário directo, órfãos e crianças<br />

vulneráveis que vivem no agregado.<br />

Em 2008, o PSA passou por duas<br />

importantes reformas: o aumento gradual<br />

da escala do subsídio, e um maior enfoque<br />

na inclusão de dependentes elegíveis<br />

como beneficiários indirectos no regime<br />

de pagamento. Parte significativa desses<br />

beneficiários indirectos são crianças, o<br />

que até agora tem sido problemático em<br />

virtude de muitas vezes não cumprirem<br />

os critérios de elegibilidade. No caso das<br />

crianças, isso deve-se frequentemente<br />

à falta de um documento de registo de<br />

nascimento ou de orfandade. De acordo<br />

com os procedimentos do programa, não<br />

órfãos que vivem com os idosos, mesmo<br />

não recebendo nenhum apoio financeiro<br />

de seus pais, não são beneficiários<br />

elegíveis do PSA. Consequentemente,<br />

fica excluído do programa um número<br />

significativo de crianças extremamente<br />

vulneráveis. Um inventário e actualização<br />

das fichas de registo dos beneficiários<br />

directos e indirectos planeado para 2010<br />

irá trazer mais luz sobre o número de<br />

crianças potencialmente elegíveis nas<br />

famílias beneficiárias a que não está a ser<br />

presentemente conferido um direito. Essas<br />

informações irão alimentar o novo sistema<br />

de gestão do programa que entrará em<br />

funcionamento em 2011 e garantirão uma<br />

melhor cobertura dos dependentes elegíveis.<br />

Está prevista uma revisão do manual do<br />

programa integrada no plano operacional<br />

da Estratégia de Segurança Social Básica,<br />

que incluirá discussões sobre os critérios<br />

que determinam a inclusão de dependentes<br />

menores. A presente campanha de registo<br />

de nascimento deverá abordar o problema<br />

de não se ter um documento de registo de<br />

nascimento, facilitando assim a inclusão de<br />

crianças vulneráveis como portadoras de<br />

direitos.<br />

Está em curso uma avaliação do impacto<br />

do PSA, na qual um grupo de tratamento<br />

(1.016 famílias) e controlo (1.650 famílias)<br />

participa numa pesquisa para determinar<br />

o impacto das transferências mensais<br />

de dinheiro no consumo, na saúde e na<br />

educação (incluindo acesso a serviços), no<br />

emprego, na habitação e nas alterações<br />

demográficas intra-agregados familiares. O<br />

levantamento inicial foi realizado em 2008,<br />

estando previstas pesquisas de seguimento<br />

para 2009 (já realizada), 2011 e 2013. É seu<br />

objectivo analisar o impacto do PSA nos<br />

beneficiários e famílias visando informar o<br />

diálogo técnico e político com o Governo<br />

e os parceiros sobre o rumo do programa.<br />

Prevê-se que evidências empíricas geradas<br />

por essa avaliação venham a influenciar<br />

as principais decisões programáticas, tais<br />

como montantes e a gama da escala de<br />

benefícios, o número de beneficiários,<br />

a constituição do grupo-alvo, etc. Os<br />

resultados da avaliação deverão também<br />

informar o diálogo técnico e político sobre<br />

a introdução de um subsídio para crianças<br />

como proposto na Estratégia de Segurança<br />

Social Básica.<br />

A Estratégia prevê ampliar o programa PSA<br />

para 452.000 agregados familiares até 2014.<br />

Espera-se que estes agregados representem<br />

1.356.000 beneficiários directos e indirectos,<br />

dos quais 795.520 beneficiários indirectos<br />

serão provavelmente crianças.<br />

Além do PSA, o programa de transferências<br />

em espécie identifica crianças órfãs e<br />

vulneráveis como beneficiários directos. É<br />

fornecido material de apoio a indivíduos<br />

e famílias que necessitam de assistência<br />

imediata sob a forma de produtos<br />

alimentares, material escolar, utensílios<br />

domésticos e material de construção. Em<br />

2008, este apoio chegou a 24 por cento<br />

dos agregados familiares. O maior grupo<br />

de beneficiários são as crianças, incluindo<br />

26 por cento de crianças órfãs, 23 por<br />

cento de crianças desnutridas; 12 por<br />

cento de gémeos; 10 por cento de crianças<br />

abandonadas; 6 por cento de bebés que não<br />

podem ser amamentados; 6 por cento de<br />

crianças chefes de agregados familiares; 2<br />

164<br />

165


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 5: PROTECÇÃO DA CRIANÇA<br />

por cento de adolescentes e 0,24 por cento<br />

de trigémeos. Embora esse apoio seja um<br />

valioso contributo para aliviar a privação<br />

das famílias em extrema necessidade, é<br />

dado como fornecimento, sendo a cobertura<br />

limitada e insuficiente para atender à<br />

presente demanda.<br />

O programa de subsídio para as crianças<br />

proposto terá como alvo famílias que<br />

cuidam de órfãos e crianças vulneráveis.<br />

Está previsto introduzir-se o subsídio numa<br />

abordagem faseada (ver Tabela 5.2), mas os<br />

fundos estatais para a sua introdução não<br />

foram ainda assegurados, pelo que não foi<br />

viável o lançamento do programa em 2010.<br />

4.7. Atestados de Pobreza<br />

O Governo criou um sistema em que<br />

são emitidos atestados de pobreza para<br />

os agregados mais vulneráveis visando<br />

garantir o livre acesso das crianças a<br />

serviços de educação, saúde e registo<br />

civil. Os agregados familiares beneficiários<br />

são definidos como sendo os que não<br />

têm recursos para sobreviver sem ajuda<br />

do Estado. O processo de obtenção de<br />

atestados de pobreza requer interacção<br />

com o registo local (para confirmar o local<br />

de residência), depois com os serviços<br />

de acção social a nível distrital (para<br />

verificar as informações sobre a condição<br />

social do requerente) e, finalmente, com a<br />

administração do distrito (para emissão do<br />

atestado). Relatórios de organizações não<br />

governamentais que apoiam o acesso das<br />

famílias a este programa têm revelado que<br />

morosos procedimentos e falta de clareza<br />

sobre a que serviços se aplicam os atestados<br />

(mesmo entre os prestadores de serviços<br />

e agentes da administração), bem como a<br />

falta de meios dos prestadores de serviço<br />

para aceitar gratuitamente os beneficiários<br />

representam grandes constrangimentos.<br />

4.8. Análise de capacidade<br />

O estudo Acesso à Justiça 2009, realizado<br />

por incumbência do Ministério da<br />

Planificação e Desenvolvimento no âmbito<br />

do processo de avaliação do PARPA II<br />

concluiu que durante o período 2005-2009<br />

o acesso à justiça em Moçambique não<br />

Tabela 5.1: Transferências de dinheiro projectadas para agregados familiares chefiados por idosos,<br />

portadores de deficiência e doentes crónicos, 2010-2014<br />

2010 2011 2012 2013 2014<br />

Número de famílias alargadas 242.296 312.592 382.888 453.183 523.479<br />

Montante atribuído (Milhões de Mts) 668,74 862,75 1,056,77 1,250,79 1,444,80<br />

Percentagem de fundos do estado 0,24% 0,29% 0,34% 0,38% 0,42%<br />

Número de idosos beneficiários<br />

directos e indirectos 300.447 387.614 474.781 561.947 649.114<br />

Fonte: Governo de Moçambique, “Estratégia Nacional de Segurança Social Básica,” Maputo, Março 2010.<br />

Tabela 5.2: Transferências de dinheiro para famílias com crianças órfãs e vulneráveis, 2010-2014<br />

2010 2011 2012 2013 2014<br />

Número de famílias alargadas 66.780 133.559 200.339 267.119 333.899<br />

Montante atribuído (milhões de Mts) 186,51 373,03 559,54 746,06 932,57<br />

Percentagem de fundos do estado 0,20% 0,39% 0,55% 0,71% 0,85%<br />

Número de crianças beneficiárias 203.531 407.062 610.594 814.125 1.017,656<br />

Fonte: Governo de Moçambique, “Estratégia Nacional de Segurança Social Básica,” Maputo, Março 2010.<br />

melhorou (embora também não se tenha<br />

reduzido). 51 Persistem falhas no assegurar<br />

que os benefícios dos serviços públicos<br />

oferecidos pelo sector da justiça (ou seja, os<br />

Tribunais, a Procuradoria Geral da República,<br />

o Ministério da Justiça e o Instituto de<br />

Assistência Jurídica alcancem de facto a<br />

maioria dos cidadãos, especialmente os mais<br />

vulneráveis.<br />

A avaliação de impacto do PARPA II revelou<br />

que, das 36 acções previstas nas áreas<br />

de reforma da justiça, legalidade, ordem<br />

e segurança pública, apenas seis foram<br />

totalmente concluídas, e que em dez<br />

acções não registou qualquer progresso.<br />

Entre as importantes acções que não<br />

foram concluídas constam a nova lei<br />

sobre o Instituto de Assistência Jurídica, a<br />

digitalização dos dados do tribunal judicial,<br />

a aprovação da Política Nacional de Direitos<br />

Humanos, e a reforma da Unidade de<br />

Investigação Criminal da Polícia.<br />

Todo o sector de justiça, e particularmente<br />

as forças policiais, deve desempenhar um<br />

papel mais activo no sentido de garantir<br />

que as famílias, comunidades e escolas<br />

proporcionem ambientes seguros e de<br />

protecção para as crianças, aplicando as<br />

leis penais e ampliando iniciativas como os<br />

Gabinetes de Atendimento. Foram criados<br />

mais de 200 centros em todo o país desde<br />

o primeiro Gabinete de Atendimento na<br />

Beira, em 2002. 52 Estes gabinetes foram<br />

criados com vista a proporcionar às vítimas<br />

um espaço seguro para denunciarem à<br />

polícia casos de violência e para serem<br />

encaminhadas, pelo Ministério da Mulher<br />

e Acção Social, o Ministério da Saúde e<br />

ministérios afins, incluindo trabalhadores de<br />

saúde e assistentes sociais, para os serviços<br />

necessários. Entre Janeiro e Setembro de<br />

2009, mais de 14.000 vítimas de violência,<br />

abuso e exploração, das quais 2.721<br />

crianças (1.219 rapazes e 1.502 raparigas),<br />

foram apoiadas através desses gabinetes<br />

por todo o país. No entanto, continuam a<br />

verificar-se carências significativas até que<br />

esses gabinetes possam ser considerados<br />

plenamente operacionais. Os recursos<br />

humanos e logísticos disponíveis são<br />

insuficientes para permitir que a maioria dos<br />

gabinetes funcione 24 horas por dia. Apenas<br />

sete dos 200 Gabinetes de Atendimento têm<br />

os seus próprios veículos, o que representa<br />

uma séria limitação na mobilidade para<br />

investigar casos de violência contra crianças<br />

e mulheres, para prestar cuidados e apoiar<br />

as vítimas. Deve ser mobilizado mais apoio<br />

para reforçar a capacidade dos centros<br />

visando facilitar um rápido encaminhamento<br />

dos casos para prestadores de serviços<br />

básicos e assegurar às crianças e mulheres<br />

vítimas de violência serviços de qualidade.<br />

A recolha de dados fiáveis sobre as<br />

questões relacionadas com a protecção da<br />

criança no sector da justiça é fundamental<br />

para melhorar essa protecção, mas<br />

extremamente difícil em Moçambique,<br />

nomeadamente a nível provincial e distrital.<br />

Tal situação é devida, por um lado à<br />

tradição de se lidar com os casos no seio<br />

das famílias e dos agregados, ao invés dos<br />

canais formais legais, e, por outro, à falta<br />

de capacidade técnica e material a nível do<br />

Governo e do sistema de justiça. A violência,<br />

a exploração e o abuso desenvolvem-se<br />

em condições de ilegalidade e falta de<br />

transparência, tornando difícil as estatísticas<br />

dos Ministérios da Justiça e do Interior<br />

reflectirem a verdadeira dimensão e<br />

extensão dos problemas. 53<br />

A realidade para a maioria dos<br />

moçambicanos é que os tribunais judiciais<br />

são inacessíveis, bloqueados por uma série<br />

de obstáculos, incluindo custos elevados<br />

em relação ao rendimento, distância e<br />

fracas redes de transporte. Moçambique<br />

enfrenta desafios significativos na oferta<br />

de acesso à justiça à maioria dos seus<br />

cidadãos, bem como no cumprimento dos<br />

padrões constitucionais e internacionais de<br />

justiça. 54 Os principais centros do sistema<br />

de justiça encontram-se em áreas urbanas,<br />

principalmente em Maputo, ficando as áreas<br />

rurais por servir. O relatório sobre o Sector<br />

da Justiça e o Estado de Direito publicado<br />

pela Open Society Foundation (Sociedade<br />

Aberta) citou constrangimentos no acesso<br />

à justiça, incluindo um insuficiente número<br />

de funcionários nos tribunais e a falta de<br />

166<br />

167


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 5: PROTECÇÃO DA CRIANÇA<br />

pessoal qualificado, tais como magistrados,<br />

procuradores gerais e escrivães. Mais<br />

obstáculos verificados foram a acumulação<br />

de processos nas várias secções, a falta<br />

de equipamentos e infra-estrutura (apenas<br />

estão cobertas neste momento capitais<br />

provinciais e pouco mais de metade das<br />

capitais de distrito) e a falta de advogados<br />

disponíveis para representar as crianças<br />

acusadas de crime, especialmente fora<br />

da Cidade de Maputo. Esses importantes<br />

obstáculos no sistema de justiça impedem<br />

os tribunais de satisfazer os crescentes<br />

pedidos de guarda, bem como outras<br />

questões de justiça juvenil e contribuem<br />

para um atraso cada vez maior de casos<br />

pendentes.<br />

Embora a capacidade dos sistemas<br />

de justiça para prevenir e responder a<br />

diferentes formas de violência, abuso e<br />

exploração tenha sido reforçada, a resposta<br />

global continua a ser fragmentada, reactiva,<br />

fraca e insuficiente. É urgentemente<br />

necessária uma melhoria da capacidade<br />

dos Ministérios da Justiça e do Interior para<br />

proporcionar a devida atenção e protecção<br />

às vítimas de violência, abuso e exploração.<br />

A capacidade dos sectores de acção social,<br />

do interior e de justiça para prevenir e<br />

responder a casos de violência contra<br />

as crianças, tanto a nível nacional como<br />

provincial também tem de ser reforçada<br />

através de recolha de dados, monitoria e<br />

mecanismos de apresentação de relatórios a<br />

todos os níveis.<br />

Em termos de capacidade neste domínio<br />

falta também um banco de dados<br />

nacional sobre violência e abuso sexual. O<br />

desenvolvimento de um sistema nacional<br />

eficaz aumentaria consideravelmente a<br />

capacidade do Governo para registar,<br />

acompanhar, avaliar e responder a padrões<br />

de abuso e violência. Esse desenvolvimento<br />

seria especialmente útil para ministérioschave<br />

como o Ministério do Interior<br />

(para notificação de casos criminais),<br />

o Ministério da Mulher e Acção Social<br />

(para aos assistentes sociais fornecerem<br />

informações sobre casos de género), e o<br />

Ministério da Educação (para notificação<br />

de incidentes em escolas), bem como para<br />

reforçar a capacidade das comunidades para<br />

prevenirem e responderem à violência nas<br />

famílias ou na rua. As observações finais do<br />

Comité dos Direitos da Criança ao relatório<br />

periódico de Moçambique reconhecem que<br />

o reforço da base de evidências sobre a<br />

protecção das crianças no sector da justiça<br />

é fundamental, sobretudo para se garantir<br />

que se usem os dados para melhorar as leis,<br />

políticas e práticas. 55<br />

Outro grande desafio para o sector da justiça<br />

é a necessidade de se coordenar, dinamizar<br />

e maximizar o impacto do desenvolvimento<br />

de capacidades e esforços de sensibilização<br />

por uma grande variedade de partes<br />

interessadas. Doadores, organizações nãogovernamentais<br />

e agências das NU estão<br />

a definir como alvo juízes, funcionários<br />

judiciais, agentes prisionais e policiais,<br />

tanto a nível nacional como comunitário. No<br />

entanto, o Governo não estabeleceu padrões<br />

para materiais de formação e mensagens<br />

de sensibilização, e não existe uma<br />

abordagem sistemática e coordenada para<br />

a formação e sensibilização. Para melhor<br />

institucionalizar os esforços de capacitação,<br />

tanto o Ministério da Justiça como o<br />

Ministério do Interior têm vindo a integrar<br />

módulos de formação que descrevem<br />

pormenorizadamente como proteger os<br />

direitos das crianças na qualidade de<br />

vítimas, testemunhas e infractoras no<br />

sistema de justiça criminal nos manuais<br />

de formação utilizados pelo Instituto de<br />

Formação Jurídica e Judiciária nacional e<br />

pela academia nacional da polícia, dando por<br />

esse meio uma atenção sistémica a questões<br />

de protecção infantil.<br />

Apesar das limitações acima mencionadas,<br />

registaram-se melhorias, nomeadamente<br />

no âmbito dos tribunais e do Ministério<br />

Público. De acordo com o segundo Plano<br />

Estratégico Integrado do Sector da Justiça<br />

(Plano Estratégico Integrado II) um total de<br />

1.173 pessoas formaram-se nas diferentes<br />

faculdades de direito no país desde 2000.<br />

Desde que o Centro de Formação Jurídica<br />

e Judiciária iniciou suas actividades em<br />

2001, cerca de 136 juízes e procuradores,<br />

343 funcionários de tribunal, 51 assistentes<br />

jurídicos e 45 notários públicos se formaram<br />

a partir do Centro, estimando-se que 90<br />

por cento dos licenciados entraram depois<br />

numa das instituições do sector. Desde 2004,<br />

a Academia da Polícia concedeu os graus<br />

equivalentes a Licenciado e Mestrado em<br />

ciências policiais a cerca de 85 candidatos<br />

por ano, e 1.200 agentes policiais se<br />

graduam anualmente a partir da escola<br />

básica da polícia.<br />

O Ministério da Mulher e da Acção Social<br />

tem recebido apoio técnico e financeiro de<br />

uma série de parceiros para implementar<br />

o PACOV. No entanto, uma avaliação<br />

constatou que o Ministério opera com<br />

limitados recursos e competências a nível<br />

distrital, o que enfraquece a sua capacidade<br />

de responder de forma abrangente às<br />

necessidades das crianças existentes. 56<br />

Assim, está a ser encomendado um estudo<br />

para gerar mais evidências relativas a onde<br />

residem as lacunas de capacidade ou pontos<br />

fracos a nível distrital e, consequentemente,<br />

como podem essas carências ser<br />

transformadas em pontos fortes.<br />

Para avaliar o impacto da implementação do<br />

PACOV, o Ministério da Mulher e da Acção<br />

Social encomendou uma avaliação. Os<br />

resultados dirão da relevância e eficiência do<br />

PACOV na prestação de assistência e apoio<br />

às crianças, em especial às que vivem em<br />

situação de vulnerabilidade. A elaboração<br />

dos Padrões Mínimos de Assistência a<br />

Crianças Órfãs e Vulneráveis centrando-se<br />

especificamente nos seis serviços básicos<br />

definidos pelo PACOV, agora em curso, será<br />

um importante guia para a implementação<br />

no país de actividades respeitantes a<br />

crianças<br />

Conforme estabelecido na Lei da Criança, o<br />

Conselho de Ministros aprovou o Conselho<br />

Nacional dos Direitos da Criança em<br />

2009. Este será um importante fórum para<br />

diferentes instituições governamentais e<br />

organizações da sociedade civil definirem<br />

as principais estratégias para os direitos<br />

das crianças e coordenarem futuramente as<br />

acções de uma forma eficaz.<br />

4.9. Parcerias da sociedade civil<br />

Também a sociedade civil participa<br />

activamente em acções de advocacia,<br />

no diálogo político, na capacitação e<br />

sensibilização da comunidade sobre<br />

questões de protecção da criança no sistema<br />

de justiça. Os parceiros da sociedade civil<br />

têm assumido um papel activo na divulgação<br />

de diversas leis, entre as quais da Lei da<br />

Criança, na sua versão ‘amiga da criança’.<br />

Organizações da sociedade civil em<br />

Moçambique também desempenham um<br />

papel vital na provisão de serviços básicos,<br />

especialmente no apoio a famílias e crianças<br />

vulneráveis que fazem face ao HIV e à SIDA.<br />

Embora não estejam disponíveis dados<br />

específicos sobre o apoio a crianças órfãs e<br />

vulneráveis prestado por organizações da<br />

sociedade civil, note-se que só o Plano de<br />

Emergência do Presidente dos EUA para o<br />

Alívio da SIDA ajudou 16 organizações nãogovernamentais<br />

a alcançarem 242.800 COV<br />

em 2008. 57 As organizações da sociedade<br />

civil despenderam cerca de 38 por cento do<br />

total de fundos gastos no domínio do HIV de<br />

2004 a 2006. 58<br />

É necessário que se melhore a coordenação<br />

das actividades das organizações da<br />

sociedade civil para evitar duplicação,<br />

expandir o que, muitas vezes, é apoio<br />

localizado e garantir sustentabilidade, uma<br />

vez que chega a 70 por cento o apoio de<br />

organizações da sociedade civil que provém<br />

de fontes externas. 59 Uma meta-análise 60 de<br />

grupos comunitários a trabalhar no domínio<br />

da protecção e bem-estar da criança ressaltou<br />

a necessidade de financiamento de longo<br />

prazo para permitir o desenvolvimento de<br />

grupos de protecção da criança pertencentes<br />

a e assumidos pelas próprias comunidades.<br />

4.10. Financiamento do sector<br />

e dotações orçamentais<br />

O Ministério da Mulher e da Acção Social<br />

recebe baixos níveis de apoio financeiro do<br />

Governo de Moçambique: em 2010, foi-lhe<br />

atribuído apenas 1,1 por cento do PIB, uma<br />

redução de 0,3 por cento da verba de 2009. 61<br />

168<br />

169


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 5: PROTECÇÃO DA CRIANÇA<br />

Além disso, a capacidade das Direcções<br />

Provinciais da Mulher e Acção Social para<br />

desempenhar efectivamente as suas funções<br />

e responsabilidades tem sido limitada pela<br />

falta de recursos humanos e formação<br />

adequada (em termos seja de trabalho social<br />

seja de gestão do programa).<br />

Desde 2003, as dotações orçamentais<br />

para o sector da justiça têm-se mantido<br />

relativamente estáveis, representando<br />

entre seis e sete por cento do orçamento<br />

do Estado. 62 O Ministério do Interior<br />

absorve cerca de 70 por cento dos recursos<br />

alocados. vii Em termos nominais, as verbas<br />

aumentaram de 22 por cento para 25 por<br />

cento cada ano, com excepção de 2006<br />

(um aumento de 5 por cento). As dotações<br />

orçamentais por instituição para as despesas<br />

de investimento foram irregulares, não se<br />

podendo observar nenhuma clara tendência.<br />

As dotações orçamentais para o nível<br />

provincial estão a aumentar, mas apenas<br />

proporcionalmente ao aumento do<br />

orçamento total. As dotações para o nível<br />

provincial representam aproximadamente<br />

cerca de 25 por cento do total das<br />

dotações para o sector da justiça em 2008.<br />

Poucas evidências há de uma efectiva<br />

descentralização de recursos ou sua<br />

administração a nível provincial.<br />

vii O orçamento do Ministério do Interior não está desagregado, não permitindo, portanto, que se identifique a parcela<br />

atribuída às forças policiais.<br />

5. Conclusões<br />

São muito diversos os problemas de<br />

protecção que se colocam às crianças em<br />

Moçambique. A violência física e sexual,<br />

o casamento precoce, o trabalho infantil<br />

e o tráfico de crianças continuam a ser<br />

comuns; embora os dados nessas áreas<br />

sejam escassos, a informação disponível<br />

indica que as tendências não melhoraram<br />

significativamente nos últimos anos. O<br />

número de crianças órfãs e vulneráveis<br />

tem-se mantido, principalmente como<br />

resultado do HIV e da SIDA. Embora as<br />

famílias alargadas e as comunidades em<br />

Moçambique tenham sempre constituído a<br />

primeira linha de resposta, este sistema de<br />

apoio tradicional está sujeito a uma pressão<br />

cada vez maior, uma vez que tem vindo a<br />

subir o número de crianças a necessitar<br />

de assistência. Além disso, registou-se<br />

um progresso significativo na área dos<br />

serviços de registo de nascimento por todo<br />

o país, com cerca de 7 milhões de crianças<br />

registadas desde 2005; o desafio nesta área<br />

consistirá em assegurar que se mantenham<br />

as iniciativas em curso para se alcançar uma<br />

cobertura universal.<br />

Nos últimos anos foi alcançado um<br />

significativo progresso no quadro legal e<br />

de políticas respeitantes à protecção da<br />

criança, nomeadamente a aprovação da<br />

Lei sobre a Violência Doméstica, da Lei da<br />

Criança e da Lei da Justiça Juvenil, entre<br />

outros. Apesar dessas melhorias, a resposta<br />

global continua a ser fragmentada, reactiva,<br />

fraca e insuficientemente provida de fundos,<br />

e é necessário que esta nova legislação<br />

se traduza em regulamentos e programas<br />

eficazes. A Estratégia de Segurança Social<br />

Básica, recentemente aprovada pelo<br />

Conselho de Ministros e actualmente em<br />

vias de operacionalização apresenta um<br />

cenário promissor no que respeita a lidar<br />

com crianças e vulnerabilidade familiar,<br />

especialmente porque incorpora uma<br />

componente de subsídio para crianças. Os<br />

progressos alcançados no programa de<br />

transferência social do PSA, onde o número<br />

de agregados familiares passou de 90.000<br />

em 2005 para cerca de 170.000 em 2009,<br />

são um exemplo encorajador de como as<br />

crianças poderiam beneficiar das iniciativas<br />

de protecção social.<br />

As políticas e os programas de protecção<br />

social são meios eficazes de responder<br />

às necessidades das famílias e crianças<br />

vulneráveis, dado o fundamental papel da<br />

protecção social na redução da pobreza, na<br />

superação da exclusão social e na formação<br />

de capital humano para se reduzirem os<br />

riscos e a vulnerabilidade enfrentados por<br />

grupos vulneráveis, particularmente crianças<br />

e pessoas que delas cuidam. De forma mais<br />

específica, é necessário que se enfrentem<br />

três importantes desafios para ir ao encontro<br />

das necessidades e proporcionar resultados<br />

efectivos e benéficos às crianças vulneráveis<br />

e suas famílias:<br />

• l O apoio e os serviços liderados pelo<br />

governo devem chegar a todas as crianças<br />

que deles precisam em comunidades<br />

pobres afectadas pelo HIV e pela SIDA.<br />

Isto inclui crianças que perderam os pais,<br />

mas também muitas outras, incluindo as<br />

vítimas de violência, abuso e exploração;<br />

• l As políticas e os programas para<br />

crianças vulneráveis devem fortalecer<br />

a capacidade das famílias alargadas e<br />

comunidades para cuidar das crianças a<br />

nível da base;<br />

• l É necessário que se abordem os<br />

problemas de pobreza familiar e<br />

desigualdade de género com vista a<br />

obterem-se melhores resultados para as<br />

crianças.<br />

Apesar dos importantes avanços na área<br />

da defesa dos direitos das crianças em<br />

Moçambique, muito mais há a fazer para<br />

desenvolver um sistema holístico de<br />

protecção da criança, que procure sinergias<br />

170<br />

171


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 5: PROTECÇÃO DA CRIANÇA<br />

entre os sectores de acção social e justiça<br />

para aumentar o acesso das crianças a<br />

serviços de protecção e outros importantes<br />

serviços sociais. Isso envolve principalmente<br />

o melhoramento dos dados e mecanismos<br />

de monitoria; o desenvolvimento de uma<br />

abordagem mais sistémica e coordenada<br />

dentro de e entre os ministérios-chave;<br />

e o fortalecimento de capacidades dos<br />

ministérios relevantes para desenvolver<br />

uma abordagem robusta e sistémica à<br />

protecção da criança. Além disso, como as<br />

normas culturais e sociais desempenham tão<br />

importante papel no contexto da protecção<br />

das crianças, é contínua a necessidade de<br />

se proceder a uma divulgação efectiva de<br />

informação sobre questões-chave e de se<br />

sensibilizar a sociedade em geral para os<br />

direitos da criança e a obrigação que todos<br />

têm de as proteger. No entanto, sem que<br />

haja mais recursos, continuará limitada<br />

a capacidade do Ministério da Mulher<br />

e da Acção Social aos níveis nacional e<br />

subnacional para levar a cabo as tarefas<br />

que lhe competem. É fundamental que as<br />

respostas das políticas governamentais<br />

às ameaças que se colocam às crianças<br />

vulneráveis tenham o devido financiamento<br />

e uma implementação adequada para que se<br />

possam proteger os direitos dessas crianças.<br />

Referências<br />

1 United Nations Secretary-General, Study on<br />

Violence against Children and Adolescents,<br />

Documentos de resultados do III Congresso<br />

Mundial, Brasil, 2008.<br />

2 Governo de Moçambique, ‘Lei nº 3/2007, de<br />

7 de Fevereiro, sobre a Protecção Social,’<br />

Maputo, 2007.<br />

3 Ministério do Interior, Departamento da<br />

Mulher e da Criança, Relatório Anual de 2009,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2009.<br />

4 Pinheiro, Paulo Sérgio, Report of the<br />

independent expert for the United Nations<br />

study on violence against children, Nações<br />

Unidas, Nova Iorque, 2006<br />

5 Tvedten, Inge, Margarida Paulo and Georgina<br />

Montserrat, Gender Policies and Feminisation<br />

of Poverty in <strong>Mozambique</strong>, CMI Report, Chr.<br />

Michelsen Institute, Bergen, 2008.<br />

6 Instituto Nacional de Estatística, Inquérito<br />

Nacional sobre Saúde Reprodutiva e<br />

Comportamento Sexual dos Jovens<br />

e Adolescentes (INJAD), Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2001.<br />

7 Universidade Eduardo Mondlane, Centro de<br />

Estudos da População, Inquérito Internacional<br />

sobre a Violência contra a Mulher (IVAWS-<br />

2004) em Moçambique, Maputo, Abril de<br />

2005.<br />

8 United Nations Committee on the Rights of<br />

the Child, 52nd session, Consideration of<br />

Reports Submitted by States Parties Under<br />

Article 44 of the Convention, Concluding<br />

Observations of the Committee on the Rights<br />

of the Child: <strong>Mozambique</strong>, Nações Unidas,<br />

Genebra, 2009.<br />

9 Ministério da Educação e Cultura, Relatório<br />

da Auscultação Através das Unidades de<br />

Género, dos Conselhos Escolas, e Jovens<br />

Raparigas sobre Que Mecanismo a Adoptar<br />

para Prevenção, Combate, Denúncia e<br />

Encaminhamento de Casos de Assédio e Todo<br />

o Tipo de Abuso, Incluindo o Abuso Sexual<br />

na Escola, Governo de Moçambique, Maputo,<br />

2008.<br />

10 Ministério da Mulher e da Acção Social, Plano<br />

Nacional de Acção para a Criança, Governo<br />

de Moçambique, Maputo, 2005.<br />

11 Ministério da Mulher e da Acção Social,<br />

Inquérito sobre Violência Contra a Mulher,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2004.<br />

12 Instituto Nacional de Estatística, Inquérito<br />

de Indicadores Múltiplos 2008, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2010.<br />

13 Ministério da Mulher e da Acção Social,<br />

Inquérito sobre Violência Contra a Mulher,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2004.<br />

14 Ibid.<br />

15 Ibid.<br />

16 International Organization for Migration,<br />

Regional Office for Southern Africa,<br />

Seduction, Sale and Slavery:Trafficking in<br />

Women and Children for Sexual Exploitation<br />

in Southern Africa, 3rd ed., Pretoria, 2003.<br />

17 <strong>Mozambique</strong> Human Rights League,<br />

Trafficking Body Parts in <strong>Mozambique</strong> and<br />

South Africa, Moçambique Liga dos Direitos<br />

Humanos, Maputo, 2008.<br />

18 deSasKropiwinicki, Zosa,The Internal<br />

Trafficking and Exploitation of Women and<br />

Children in <strong>Mozambique</strong>, Save the Children,<br />

Noruega, 2009.<br />

19 Save the Children, Our Broken Dreams:<br />

Child migration in southern Africa, Save the<br />

Children UK e Save the Children Norway em<br />

<strong>Mozambique</strong>, Maputo, 2008.<br />

20 Instituto Nacional de Estatística, Inquérito<br />

de Indicadores Múltiplos 2008, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2010.<br />

21 deSasKropiwinicki, Zosa, The Internal<br />

Trafficking and Exploitation of Women and<br />

Children in <strong>Mozambique</strong>, Save the Children,<br />

Noruega,2009.<br />

22 Population Council, ‘Child Marriage Briefing:<br />

<strong>Mozambique</strong>’, 2004, descarregado de: http://<br />

www.popcouncil.org/pdfs/briefingsheets/<br />

MOZAMBIQUE_2005.pdf, acedido a 8 de<br />

Novembro de 2010.<br />

23 Instituto Nacional de Estatística, Inquérito<br />

de Indicadores Múltiplos, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2010.<br />

24 Population Council, ‘Child Marriage Briefing:<br />

<strong>Mozambique</strong>’, 2004, descarregado de: http://<br />

172 173


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 5: PROTECÇÃO DA CRIANÇA<br />

www.popcouncil.org/pdfs/briefingsheets/<br />

MOZAMBIQUE_2005.pdf, acedido a 8 de<br />

Novembro de 2010.<br />

25 Haberland, Nicole, Erica Chong and Hillary<br />

Bracken, ‘Married Adolescents: An overview’,<br />

document preparado para o WHO/UNFPA/<br />

Population Council Technical Consultation on<br />

Married Adolescents, Organização Mundial de<br />

Saúde, Genebra, 2003.<br />

26 Ministério da Educação e Cultura, Direcção<br />

de Programas Especiais, Relatório da<br />

Auscultação Através das Unidades de<br />

Género, dos Conselhos das Escolas e Jovens<br />

Raparigas sobre Que Mecanismo Adoptar<br />

para Prevenção, Combate, Denúncia e<br />

Encaminhamento de Casos de Assédio e Todo<br />

o Tipo de Abuso, Incluindo o Abuso Sexual<br />

na Escola, Governo de Moçambique, Maputo,<br />

2008.<br />

27 Instituto Nacional de Estatística, Inquérito<br />

Demográfico e de Saúde 2003, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2005.<br />

28 Instituto Nacional de Estatística, Inquérito<br />

de Indicadores Múltiplos, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2010.<br />

29 United Nations Committee on the Rights of the<br />

Child, 52nd session, ‘Consideration of Reports<br />

Submitted by States Parties Under Article 44<br />

of the Convention, Concluding Observations<br />

of the Committee on the Rights of the Child:<br />

<strong>Mozambique</strong>’, Nações Unidas, Genebra, 2009.<br />

30 Graça, J. et al., ‘Impacto das realizações do<br />

PARPA II no acesso à Justiça’, Maputo, 2009.<br />

31 MGA Consultoria e Lexterra. ‘Avaliação<br />

sumária do impacto das realizações do PARPA<br />

II no acesso à justiça,’ Moçambique, Maputo,<br />

2009<br />

32 Open Society Institute for Southern Africa,<br />

‘<strong>Mozambique</strong>: Justice Sector and the Rule of<br />

Law’, OSISA, Londres, 2006.<br />

33 Legal Aid Institute, ‘Report to the Consultative<br />

Council of the Ministry of Justice,’ Instituto de<br />

Patrocínio e Assistência Jurídica, Junho de<br />

2008.<br />

34 Ministry of Planning and Development,<br />

Balanço do Plano Económico e Social,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, Janeiro a<br />

Junho, 2008.<br />

35 Ministry of Foreign Affairs of Denmark, ‘Final<br />

Programme Document: Support to the Justice<br />

Sector in <strong>Mozambique</strong> 2008–2013’, Ref. No.<br />

104.MOZ.106, Outubro de 2008.<br />

36 Save the Children, ‘Denied our Rights: Children,<br />

women and inheritance in <strong>Mozambique</strong>,’ Save<br />

the Children, Maputo, 2007.<br />

37 Save the Children and the Food and<br />

Agriculture Organisation, ‘Children and<br />

women’s rights to property and inheritance<br />

in <strong>Mozambique</strong>,’ Save the Children, Maputo,<br />

2009.<br />

38 Instituto Nacional de Estatística, Inquérito<br />

Demográfico e de Saúde 2003, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2005.<br />

39 Ministério da Educação e Cultura,<br />

Responsabilidades do Estado Moçambicano<br />

em Relação à Pessoa Portadora de<br />

Deficiência, Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2000.<br />

40 Instituto Nacional de Estatística, Inquérito<br />

de Indicadores Múltiplos, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2010.<br />

41 United Nations Committee on the Rights of the<br />

Child, 52nd session, ‘Consideration of Reports<br />

Submitted by States Parties Under Article 44<br />

of the Convention, Concluding Observations<br />

of the Committee on the Rights of the Child:<br />

<strong>Mozambique</strong>,’ Nações Unidas, Genebra, 2009.<br />

42 Instituto Nacional de Estatística, Inquérito<br />

de Indicadores Múltiplos, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2010.<br />

43 Instituto Nacional de Estatística, Ministry<br />

of Health, Ministry of Planning and<br />

Development, Centro de Estudos Africanos da<br />

Universidade Eduardo Mondlane, Conselho<br />

Nacional de Combate ao HIV/SIDA,<br />

Faculdade de Medicina, Impacto demográfico<br />

do HIV/SIDA em Moçambique: Actualização<br />

- Ronda de vigilância epidemiológica 2008,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2009.<br />

44 UNAIDS, <strong>Mozambique</strong> Country Response,<br />

descarregado de: http://www.unaids.org/en/<br />

CountryResponses/Countries/mozambique.<br />

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45 United Nations Children’s Fund, The Human<br />

Rights Situation of Children in <strong>Mozambique</strong>,<br />

<strong>UNICEF</strong>, 2009<br />

46 Instituto Nacional de Estatística, Inquérito<br />

de Indicadores Múltiplos, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2010.<br />

47 HelpAge International, Mind the Gap. HIV and<br />

AIDS and older people in Africa, HelpAge<br />

International, Londres, 2008.<br />

48 Nhate, Virgulino, et al., Orphans and<br />

Discrimination in <strong>Mozambique</strong>: An outlay<br />

equivalence analaysis, International Food<br />

Policy Research Institute, Washington, D.C.,<br />

2005.<br />

49 Palermo, Tia, and Amber Peterman, ‘Are<br />

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Evidence from Sub-Saharan Africa’, Studies<br />

in Family Planning, vol. 40, no. 2, 2009; pp.<br />

101–112.<br />

50 Cluver, Lucie, and F. Gardner, ‘The Mental<br />

Health of Children Orphaned by AIDS: A<br />

review of international and southern African<br />

research’, Journal of Child and Adolescent<br />

Mental Health, vol. 19, no. 1, 2007, pp. 1–17.<br />

51 MGA Consultoria e Lexterra, Avaliação sumária<br />

do impacto das realizações do PARPA II no<br />

acesso à justiça. Moçambique, Maputo, 2009<br />

52 Ministério do Interior, Departamento da<br />

Mulher e da Crinaça, Relatório Anual de 2009,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2009.<br />

53 MGA Consultoria e Lexterra. ‘Avaliação<br />

sumária do impacto das realizações do PARPA<br />

II no acesso à justiça,’ Moçambique, Maputo,<br />

2009.<br />

54 Open Society Initiative for Southern Africa,<br />

‘<strong>Mozambique</strong> Justice Sector and the Rule of<br />

Law Discussion Paper,’ Open Society Initiative<br />

for Southern Africa, Londres, 2006.<br />

55 United Nations Committee on the Rights of the<br />

Child, Concluding Observations to the State<br />

Report by the Government of <strong>Mozambique</strong>,<br />

Nações Unidas, Genebra, 2009.<br />

56 Austral Cowi, Assessment of <strong>UNICEF</strong> NGO<br />

– Government Partnership Programme,<br />

<strong>UNICEF</strong>, Maputo, 2010.<br />

57 The United States President’s Emergency Plan<br />

for AIDS Relief, Partnership to Fight HIV/AIDS<br />

in <strong>Mozambique</strong>, retrieved from: http://www.<br />

pepfar.gov/countries/mozambique/index.htm,<br />

accessed 14 March 2010. www.pepfar.gov/<br />

countries/mozambique/index.htm, acedido<br />

em 14 de Março de 2010.<br />

58 Amoaten, Susan, e Claire Bader, Rapid Review<br />

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in <strong>Mozambique</strong>, 2008. Inédito.<br />

59 Francisco, António, et al., Mozambican Civil<br />

Society Within: Evaluation, challenges,<br />

opportunities and action, Foundation for<br />

Community Development and United Nations<br />

Development Programme, Nova Iorque, 2007.<br />

60 Wessells, Mike. What Are We Learning<br />

About Community-Based Child Protection<br />

Mechanisms?2009. Draft.<br />

61 United Nations Childrens Fund, O que diz o<br />

Orçamento do Estado para 2010 sobre os<br />

chamados Sectores Prioritários? Informe 10,<br />

<strong>UNICEF</strong>, Nova Iorque, Maio de 2010.<br />

62 Sal &Caldeira, ‘The Justice Sector in<br />

<strong>Mozambique</strong>: Budget Allocations and<br />

Expenditure 2003 to 2010’, Maputo, Dezembro<br />

de 2007.<br />

174<br />

175


6CAPÍTULO<br />

1. Introdução<br />

Questões<br />

transversais<br />

6CAPÍTULO<br />

Melhorar a situação dos membros mais<br />

vulneráveis da sociedade exige que se<br />

saiba quem são, onde vivem e quais<br />

os desafios e riscos que enfrentam.<br />

Moçambique não é um país homogéneo,<br />

e crianças vivendo em áreas diferentes, e<br />

inclusivamente sob o mesmo tecto, nem<br />

sempre enfrentam os mesmos níveis de<br />

vulnerabilidade. Determinadas crianças,<br />

famílias e comunidades inteiras estão<br />

ameaçadas pela presença de perigos físicos,<br />

ambientais ou sociais com que outras não<br />

têm que se preocupar. Além disso, há uma<br />

série de factores que afectam a capacidade<br />

de certos subgrupos da população de lidar<br />

com a presença de ameaças ao seu bemestar.<br />

Questões relacionadas com género,<br />

disparidades geográficas, HIV e SIDA, falta<br />

de informação e condições ambientais<br />

tornam mais complexos e desafiam cada<br />

um dos sectores discutidos nos últimos três<br />

capítulos: sobrevivência da criança, educação<br />

e protecção. Para que as intervenções a<br />

serem projectadas e implementadas para<br />

diminuir a vulnerabilidade global sejam<br />

eficazes, é fundamental uma análise<br />

aprofundada destas questões transversais<br />

e dos sistemas institucionais e sociais que<br />

estão implantados para as abordar.<br />

Este capítulo incide sobre cinco temas<br />

transversais: género, HIV e SIDA,<br />

disparidades regionais, comunicação para o<br />

desenvolvimento e meio ambiente.<br />

Questões transversais<br />

179


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

2. Género<br />

<strong>Home</strong>ns e mulheres usufruírem dos direitos<br />

humanos em condições de igualdade é<br />

um princípio consagrado na Declaração<br />

Universal dos Direitos do <strong>Home</strong>m. 1 Em 1979,<br />

as Nações Unidas aprovaram a Convenção<br />

sobre a Eliminação de Todas as Formas de<br />

Discriminação contra a Mulher (CEDAW), que<br />

definiu ainda os direitos legais e humanos<br />

das mulheres. 2 O princípio da igualdade<br />

no gozo de direitos foi depois reafirmado<br />

pela Declaração de Viena, adoptada por 171<br />

Estados na Conferência Mundial sobre os<br />

Direitos Humanos em Junho de 1993. 3<br />

O <strong>UNICEF</strong> está empenhado em promover<br />

a igualdade de direitos das mulheres e<br />

meninas e apoiar a sua plena participação<br />

no desenvolvimento político, social e<br />

económico das suas comunidades. Só<br />

assegurando iguais oportunidades a<br />

homens e mulheres, raparigas e rapazes, as<br />

sociedades podem esperar criar condições<br />

para acabar com a pobreza e permitir a cada<br />

indivíduo desenvolver plenamente o seu<br />

potencial.<br />

Género e desenvolvimento de género não<br />

têm unicamente a ver com os direitos<br />

das mulheres e meninas; pelo contrário,<br />

abordam todas as formas de discriminação<br />

ou preconceitos baseados no sexo das<br />

pessoas com que nos confrontamos na<br />

realização dos direitos humanos ou nos<br />

esforços para alcançar desenvolvimento.<br />

Em muitos casos, as mulheres e meninas<br />

são mais frequentemente vítimas de<br />

discriminação de género, embora também<br />

possa haver situações de meninos ou<br />

homens serem discriminados, que deverão<br />

merecer igual consideração.<br />

i<br />

Moçambique ratificou a Convenção das<br />

Nações Unidas sobre a Eliminação de Todas<br />

as Formas de Discriminação contra a Mulher<br />

em 1993, que entrou em vigor em 1997, bem<br />

como o Protocolo Facultativo à Convenção.<br />

Moçambique é também signatário da Carta<br />

Africana dos Direitos do <strong>Home</strong>m e dos Povos<br />

e dos Direitos da Mulher de 2005.<br />

O Ministério da Mulher e da Acção Social foi<br />

criado em 2005. i Compete-lhe implementar<br />

e coordenar as iniciativas relativas aos<br />

direitos das mulheres e crianças. O Conselho<br />

Nacional para o Avanço da Mulher é uma<br />

plataforma de coordenação multissectorial<br />

através da qual o Ministério da Mulher e da<br />

Acção Social monitora a implementação do<br />

Plano Nacional para o Avanço da Mulher.<br />

Apesar dos progressos no quadro jurídico,<br />

a discriminação com base no género, e<br />

especialmente a discriminação contra as<br />

mulheres é uma realidade em Moçambique.<br />

Ela reflecte-se em aspectos da vida social,<br />

cultural, política e económica das mulheres,<br />

incluindo os seguintes: 4<br />

• l Na família, as mulheres são discriminadas<br />

pelos seus familiares directos e não<br />

recebem o mesmo tratamento que os<br />

homens. Por exemplo, os meninos são<br />

muitas vezes favorecidos em decisões<br />

sobre que membros da família deverão<br />

beneficiar de educação formal, embora<br />

a desigualdade de género na educação<br />

tenha diminuído nos últimos anos. As<br />

decisões são muitas vezes tomadas com<br />

base em práticas costumeiras, onde os<br />

meninos e os homens são definidos<br />

como os que ganham para o sustento da<br />

família, e as meninas e mulheres como<br />

Em 2000, foi criado o Ministério para a Coordenação da Acção Social. Em 2005, o Ministério foi reestruturado passando<br />

a ser conhecido por Ministério da Mulher e da Acção Social, nome que reflecte a elevação das questões de igualdade de<br />

género em Moçambique.<br />

donas de casa. Os maiores níveis de<br />

analfabetismo nas mulheres e a falta de<br />

conhecimento dos seus direitos significam<br />

que os casos de discriminação contra<br />

as mulheres raramente são levados a<br />

um tribunal de direito. Na área laboral,<br />

são poucas as oportunidades existentes<br />

para as mulheres no sector formal,<br />

especialmente para posições de nível<br />

sénior;<br />

• l Tanto os homens como as mulheres são<br />

relutantes em resolver os seus conflitos<br />

nos tribunais judiciais formais. Nas zonas<br />

rurais, os tribunais podem ficar distantes.<br />

As vítimas de violência doméstica podem<br />

estar relutantes em levar o seu parceiro<br />

a tribunal. A violência doméstica ainda<br />

não é vista como crime, mas considerada<br />

normal nas relações entre homens e<br />

mulheres.<br />

O Plano Quinquenal do Governo 2010-2014<br />

estabelece como objectivo a promoção da<br />

igualdade de oportunidades económicas,<br />

sociais e culturais para homens e mulheres. 5<br />

2.1. Aspectos de género da<br />

pobreza em Moçambique<br />

Conforme discutido no Capítulo 1, a redução<br />

da pobreza em Moçambique entre 1996/97 e<br />

2002/03 não beneficiou todos os segmentos<br />

da população da mesma forma. A pobreza<br />

foi reduzida mais significativamente nas<br />

famílias chefiadas por homens do que nas<br />

famílias chefiadas por mulheres. Embora<br />

a pobreza tenha registado uma redução<br />

de 26 por cento nos agregados familiares<br />

chefiados por homens (passando de cerca<br />

de 70 por cento em 1996/97 para 52 por<br />

cento em 2002/03), foi apenas uma redução<br />

de 6 por cento nos agregados familiares<br />

chefiados por mulheres (de cerca de 67<br />

por cento para 63 por cento entre 1996/97<br />

e 2002/03). Desta situação podem advir<br />

implicações para as crianças órfãs, uma<br />

vez que é nos agregados chefiados por<br />

mulheres que aqueles mais frequentemente<br />

se encontram. O Inquérito à Força de<br />

Trabalho (IFTRAB) 2004/05 indicou que 54<br />

por cento do total de crianças órfãs viviam<br />

em agregados familiares chefiados por<br />

mulheres, em comparação com 46 por cento<br />

em agregados chefiados por homens. 6<br />

Estudos recentes indicam que a tendência<br />

de feminização da pobreza se deve,<br />

pelo menos parcialmente, ao facto de<br />

as mulheres estarem mais fortemente<br />

envolvidas no sector agrícola do que os<br />

homens (89 por cento comparativamente<br />

a 68 por cento). 7 Ao mesmo tempo, as<br />

mulheres têm menos acesso à educação,<br />

menos oportunidades de emprego<br />

formal, mais baixos rendimentos e menos<br />

oportunidades para diversificar suas fontes<br />

de renda. Estudos mostraram também<br />

que os agregados familiares chefiados por<br />

mulheres, além de serem mais pobres em<br />

termos monetários do que os chefiados<br />

por homens, têm reduzido acesso dos<br />

social como consequência das estruturas<br />

predominantemente patriarcais da sociedade<br />

moçambicana. 8<br />

Outra prova da feminização da pobreza<br />

provém de uma análise de três Inquéritos<br />

Nacionais Agrícolas (2002, 2005 e 2008),<br />

segundo os quais, nos três anos do<br />

inquérito, os agregados familiares chefiados<br />

por mulheres estavam sobre-representados<br />

entre os agregados mais pobres. 9 Em<br />

contrapartida, a percentagem de domicílios<br />

chefiados por homens tende a aumentar à<br />

medida que sobe o quintil de rendimento<br />

(ver figura 6.1).<br />

A tendência de feminização da pobreza<br />

é suportada pela percepção da mudança<br />

registada nos agregados familiares<br />

chefiados por homens e por mulheres,<br />

respectivamente. Uma maior percentagem<br />

de agregados chefiados por mulheres<br />

do que por homens considera que a sua<br />

situação piorou nos últimos cinco anos. Ao<br />

mesmo tempo, a percepção de deterioração<br />

das condições nos domicílios chefiados por<br />

mulheres é mais pronunciada nas zonas<br />

rurais que nas urbanas, o que pode indicar<br />

melhores oportunidades para os agregados<br />

familiares chefiados por mulheres nas áreas<br />

urbanas.<br />

180<br />

181


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

Figura 6.1: Percentagem de agregados familiares chefiados por homens por quintil de riqueza, 2002, 2005 e 2008<br />

Percentagem de agregados familiares<br />

chefiados por homens<br />

100%<br />

80%<br />

60%<br />

40%<br />

20%<br />

0%<br />

2002 2005 2008<br />

2002 2005 2008<br />

Os níveis gerais de participação no mercado<br />

de trabalho são ligeiramente mais elevados<br />

nas mulheres em idade activa (15-59<br />

anos), 82 por cento, do que nos homens da<br />

mesma idade (79 por cento). A participação<br />

das mulheres na força de trabalho está<br />

principalmente concentrada na agricultura<br />

de subsistência nas zonas rurais, onde<br />

elas constituem 62 por cento da população<br />

activa, enquanto os homens predominam<br />

em todos os outros principais sectores da<br />

economia, onde mais se pode ganhar. As<br />

mulheres que se encontram na força de<br />

trabalho têm habilitações de níveis mais<br />

baixos que os homens: 15 por cento dos<br />

homens no mercado de trabalho chegaram<br />

ao segundo nível do ensino primário ou<br />

acima disso, comparados com apenas cinco<br />

por cento das mulheres participantes. 10<br />

Embora as mulheres constituam a maior<br />

parte da população economicamente activa,<br />

estão principalmente envolvidas no sector<br />

agrícola, principalmente na produção<br />

familiar com limitados excedentes. Quando<br />

existem oportunidades de geração de<br />

rendimento, os homens tendem a ter uma<br />

maior probabilidade de aceder a estas<br />

oportunidades e a delas beneficiar. Nas áreas<br />

urbanas, as mulheres são mais propensas<br />

a depender do sector informal devido aos<br />

mais baixos requisitos de ingresso e ao<br />

facto de o acesso ao emprego formal ser<br />

2002 2005 2008<br />

2002 2005 2008<br />

2002 2005 2008<br />

Quintil inferior Segundo Médio Quarto Quintil superior<br />

Fonte: Cunguara, Benedito e Brendan Kelly, ‘Trends in agriculture producers’ income in rural <strong>Mozambique</strong>’, study as input to Impact<br />

Evaluation Report of PARPA II, MPD, 2009<br />

amplamente controlado pelo capital social<br />

(contactos sociais), que favorece os homens<br />

por ainda serem vistos como o ganha-pão da<br />

família.<br />

2.2. Desenvolvimento<br />

ajustado ao género e<br />

empoderamento com base<br />

em género<br />

No Relatório de Desenvolvimento Humano<br />

2009, Moçambique ocupa o 145º lugar em<br />

155 países, e é-lhe atribuído um Índice de<br />

Desenvolvimento Ajustado ao Género de<br />

0,395 em 2007. Em 1995, Moçambique<br />

alcançou um Índice de Desenvolvimento<br />

Ajustado ao Género (IDG) de 0,229,<br />

colocando-se em 123º lugar entre os 130<br />

países para os quais o índice foi calculado.<br />

Quer isto dizer que embora Moçambique<br />

tenha melhorado em matéria de igualdade<br />

de género em termos absolutos, não<br />

melhorou tanto quanto outros países. O<br />

IDG nas províncias do centro e do norte foi<br />

menor do que no sul.<br />

O IDG utilizado baseou-se em três<br />

indicadores a que se atribuiu peso igual:<br />

• l Esperança de vida ao nascer;<br />

• l Uma combinação da taxa de alfabetização<br />

de adultos com a taxa líquida de<br />

Figura 6.2: IDG baseado em diferentes métodos de determinação da diferença salarial, 2009<br />

Índice de Desenvolvimento Ajustado ao Género<br />

escolarização combinada nos níveis<br />

primário, secundário e terciário;<br />

• l Produto Interno Bruto per capita expresso<br />

como paridade do poder de compra em<br />

dólares americanos<br />

Foi solicitado, como parte da avaliação<br />

do impacto do PARPA II 2009, 11 um estudo<br />

para actualizar o IDG do Programa de<br />

Desenvolvimento das Nações Unidas<br />

concernente a Moçambique.<br />

O IDG foi calculado de acordo com quatro<br />

cenários diferentes: três utilizando diferentes<br />

métodos de determinação da diferença<br />

salarial entre homens e mulheres, e um<br />

usando uma esperança de vida ajustada<br />

considerando o impacto da SIDA:<br />

• l Cenário A: diferença salarial não agrícola<br />

calculada com base em diferentes níveis<br />

de qualificação de homens e mulheres;<br />

• l Cenário B: diferença salarial global<br />

(agrícola e não agrícola), com base em<br />

diferentes níveis de qualificação de<br />

homens e mulheres;<br />

0.430<br />

0.410<br />

0.390<br />

0.370<br />

0.350<br />

0.330<br />

0.310<br />

0.290<br />

0.270<br />

• l Cenário C: diferença salarial não agrícola<br />

com base no pressuposto do Programa de<br />

Desenvolvimento das Nações Unidas de<br />

que, em média, as mulheres ganham 75<br />

por cento do salário de seus congéneres<br />

do sexo masculino;<br />

• l Cenário D: usando estimativas de<br />

esperança de vida ajustadas tendo em<br />

conta a SIDA. O Cenário D fornece uma<br />

ilustração do impacto do HIV sobre o<br />

Índice de Desenvolvimento Ajustado ao<br />

Género na ausência de intervenções de<br />

prevenção e tratamento da SIDA.<br />

De acordo com os cenários A e C, a meta do<br />

PARPA II para o IDG foi atingida em 2008,<br />

resultado que o relatório atribuiu ao elevado<br />

nível de equidade de género alcançado nas<br />

matrículas na escola primária.<br />

Moçambique saiu-se muito melhor na<br />

Medida de Participação Segundo o Género<br />

(MPG) que foi calculada em 0,350, o que<br />

coloca o país em 61º lugar de entre 116<br />

países. A MPG foi mais um reflexo da<br />

percentagem relativamente elevada de<br />

assentos parlamentares ocupados por<br />

0.250<br />

2004 2005 2006 2007 2008<br />

Ano<br />

Cenário A Cenário B Cenário C Cenário D<br />

Fonte: Ministério de Planificação e desenvolvimento, Ministério da Mulher e da Acção Social e Grupo de Coordenação de Género<br />

(GCG), ‘Calculando o Gender Development Index no Contexto da Avaliação do PARPA II (2006–2009)’, Maputo, 2009.<br />

182<br />

183


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

mulheres em Moçambique (15 por cento<br />

em 1994) e da parcela de rendimento<br />

proporcional auferida pelas mulheres (40<br />

por cento em 1994), que foi mais elevadas<br />

do que para vários outros países nos<br />

rankings. Não é apresentada nenhuma<br />

MPG para Moçambique no Relatório do<br />

Desenvolvimento Humano 2009. Existe um<br />

elevado grau de disparidade regional na<br />

MPG, situando-se no norte do país as quatro<br />

províncias com os menores (piores) índices.<br />

Defende-se que a área em que mais<br />

progressos se têm feito em termos de<br />

igualdade de género em Moçambique é<br />

a da participação política das mulheres.<br />

Moçambique possui uma elevada<br />

percentagem de mulheres em órgãos de<br />

tomada de decisões como o Parlamento,<br />

onde, após as eleições de 2004, 36 por<br />

cento dos assentos estavam ocupados<br />

por mulheres. Antes do novo Governo<br />

anunciado em 2010, o cargo de primeiroministro<br />

era ocupado por uma mulher. 12<br />

Embora tenha havido uma redução da<br />

percentagem de mulheres no Governo<br />

na sequência das eleições de 2009, a<br />

participação política das mulheres em<br />

Moçambique é elevada para os padrões<br />

regionais. Actualmente, 18 por cento dos<br />

ministros e vice-ministros e 27 por cento dos<br />

governadores provinciais são mulheres.<br />

2.3. Disparidades de género<br />

Um estudo realizado pelo Ministério de<br />

Planificação e Desenvolvimento no âmbito<br />

da Avaliação do Impacto do PARPA II<br />

2009 não revelou nenhuma diferença na<br />

percentagem de meninas e rapazes em<br />

situação de pobreza absoluta medida pela<br />

abordagem baseada em privações (ver<br />

Capítulo 1, A pobreza em Moçambique,<br />

para uma discussão mais detalhada da<br />

pobreza baseada em privações). É mais<br />

elevada a percentagem de rapazes que sofre<br />

de deficiência nutricional severa do que<br />

a de meninas (23 por cento versus 17 por<br />

cento). São inúmeras as hipóteses sobre<br />

as razões que explicam essa diferença,<br />

incluindo diferenças nas necessidades<br />

nutricionais, hábitos alimentares, acesso a<br />

alimentos e cuidados infantis, mas não há<br />

provas suficientes para confirmar ou refutar<br />

qualquer dessas possíveis explicações.<br />

As meninas têm maior probabilidade de<br />

estar severamente privadas de educação<br />

do que os meninos (13 e 10 por cento,<br />

respectivamente). No entanto, a privação<br />

de educação reduziu-se significativamente<br />

tanto nas meninas como nos rapazes entre<br />

2003 e 2008. As taxas de conclusão e de<br />

alfabetização das meninas são também são<br />

inferiores às dos rapazes, especialmente no<br />

nível secundário.<br />

2.4. Questões de género na<br />

educação<br />

O PARPA II discute a relação entre educação,<br />

redução da pobreza e crescimento<br />

económico, dando especial ênfase ao papel<br />

da educação das raparigas. Os objectivos do<br />

PARPA II para os níveis primário, secundário<br />

e terciário do sistema de ensino referem-se<br />

explicitamente a inclusão na base de género,<br />

vulnerabilidade e necessidades especiais.<br />

São também apresentadas estratégias para<br />

aumentar a educação da rapariga, incluindo<br />

lidar com a sensível, mas fundamental<br />

questão de reduzir a incidência do abuso<br />

sexual nas escolas. O Plano Quinquenal<br />

do Governo 2010-14 também define como<br />

prioritária a paridade de género na escola<br />

primária.<br />

Baixos níveis de alfabetização,<br />

especialmente nas mulheres, têm sido,<br />

desde há muitos anos, uma característica<br />

constante da sociedade moçambicana.<br />

Por exemplo, o Inquérito Demográfico<br />

e de Saúde 2003 registou uma taxa<br />

de analfabetismo de 62 por cento nas<br />

mulheres, em comparação com 33 por<br />

cento nos homens. Os relatórios de do<br />

MICS 2008 reportam que 41 por cento dos<br />

moçambicanos com 20-24 anos de idade são<br />

alfabetizados, número que sobe para 53 por<br />

cento nas jovens de 15-19 anos. 13<br />

No período 1992-2009, o número de alunos<br />

nas escolas primárias e secundárias registou<br />

um enorme aumento tanto nos rapazes<br />

como nas meninas, mas continua a haver<br />

diferenças de género em todos os níveis da<br />

educação. A diferença absoluta de género<br />

na escolarização bruta no primeiro nível do<br />

ensino primário tem diminuído desde 1999,<br />

mas continua elevada, situando-se nos 14<br />

por cento. 14<br />

A disparidade de género no número de<br />

matrículas revela uma variação geográfica<br />

considerável, com menos meninas<br />

matriculadas nas regiões centro e norte,<br />

enquanto em algumas províncias do<br />

sul, como Maputo e Inhambane, estão<br />

matriculadas ligeiramente mais raparigas do<br />

que rapazes. Em 2007, a taxa de conclusão<br />

da primeira fase do ensino primário foi de 65<br />

por cento nas raparigas e 80 por cento nos<br />

rapazes. Este diferencial de género continua<br />

a verificar-se na segunda fase do ensino<br />

primário, com taxas de conclusão de 39<br />

por cento nas raparigas e 53 por cento nos<br />

rapazes. 15<br />

O género é um importante factor de impacto<br />

no sector da educação: é particularmente<br />

forte o seu efeito nas famílias mais pobres,<br />

nas zonas rurais e nas províncias do Centro<br />

e do Norte. A disparidade de género<br />

também está a prejudicar alguns notórios<br />

ganhos, com taxas de conclusão nas<br />

meninas substancialmente inferiores às dos<br />

rapazes. Embora a diferença de género tenha<br />

diminuído nos últimos anos, continuam a<br />

existir fortes disparidades que têm de ser<br />

examinadas contemplando a situação de<br />

pobreza, o local de residência, e práticas e<br />

tradições culturais.<br />

Para promover a educação das raparigas,<br />

o Ministério da Educação tem dado grande<br />

atenção à melhoria da segurança nas<br />

escolas, definindo inclusivamente passos<br />

básicos para reagir ao abuso sexual nas<br />

escolas. Foram também empreendidos<br />

esforços para fortalecer a capacidade da<br />

unidade do Ministério responsável pelo<br />

género a fim de melhor se integrar o género<br />

e a SIDA na planificação, implementação e<br />

monitoria de processos iniciados e trabalhar<br />

com as comunidades na prevenção da<br />

educação das raparigas, do abuso sexual<br />

precoce e da gravidez. Além disso, a<br />

capacidade das unidades de género deve<br />

ser reforçada no respeitante a monitoria<br />

e notificação de abuso sexual e violência.<br />

Focalizar a educação das meninas é tanto um<br />

meio de resolver a disparidade de género<br />

como uma estratégia para alavancar ganhos<br />

ao lidar com outras disparidades.<br />

2.5. Violência, abuso e<br />

exploração<br />

Algumas formas de violência contra as<br />

mulheres e crianças estão enraizadas<br />

em dinâmicas de género da sociedade<br />

discriminatórias e de desigualdade. 16<br />

Estudos e dados disponíveis parecem indicar<br />

que a ordem social dominada por uma<br />

cultura tradicional e patriarcal machista é<br />

forte em Moçambique. 17 Continua a haver,<br />

por exemplo, casamento infantil, apesar das<br />

disposições da Lei da Família de 1997, o que<br />

parece estar relacionado com a persistência<br />

dos papéis de género tradicionalmente<br />

atribuídos a mulheres e meninas como mães<br />

e cuidadoras na sociedade.<br />

Muitas meninas vítimas não denunciam<br />

casos de estupro ou abuso sexual às<br />

autoridades, em parte devido ao estigma<br />

que envolve a questão do abuso sexual.<br />

No seu primeiro e segundo relatórios<br />

combinados ao Comité das Nações Unidas<br />

para a Convenção sobre a Eliminação da<br />

Discriminação contra as Mulheres (CEDAW),<br />

Moçambique informou que a maioria<br />

das famílias prefere resolver os casos de<br />

abuso sexual fora dos tribunais, por via de<br />

indemnização ou casamentos. O relatório<br />

também reconhece a falta de conhecimento<br />

sobre o sistema legal e atrasos excessivos<br />

no sistema judicial como obstáculos<br />

adicionais a uma solução jurídica para esses<br />

casos. 18 Fraco acesso ao sistema de justiça,<br />

insuficiente conhecimento dos direitos das<br />

mulheres, e falta de um sistema de aplicação<br />

de penas legais agravam o problema.<br />

A violência doméstica contra as mulheres<br />

é também um sério problema em<br />

184<br />

185


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

Moçambique. Embora escasseiem dados<br />

quantitativos, os dados de 2004 indicam<br />

que 54 por cento das mulheres inquiridas<br />

relataram ter sido vítimas de abuso, como<br />

discutido no Capítulo 5. Revelam também<br />

esses dados uma aceitação generalizada do<br />

uso da violência. Em 2008, a percentagem<br />

de mulheres que afirmaram que os homens<br />

tinham o direito de lhes bater em certas<br />

circunstâncias, tais como sair de casa sem<br />

informar o marido ou recusar sexo, foi de<br />

36 por cento, uma redução relativamente<br />

aos 54 por cento de 2003. As mulheres mais<br />

escolarizadas são menos propensas a aceitar<br />

a violência doméstica, tal como as mulheres<br />

que vivem em áreas urbanas (ver Capítulo<br />

5). Apesar da aparente aceitação cultural da<br />

violência doméstica, outros estudos 19 têm<br />

revelado que a violência extrema resultando<br />

em danos corporais é inaceitável para as<br />

comunidades, bem como para os homens e<br />

mulheres individualmente.<br />

A prevalência de trabalho infantil é<br />

ligeiramente maior entre as meninas (24<br />

por cento) do que entre os rapazes (21 por<br />

cento). Uma maior percentagem de meninas<br />

do que meninos trabalha em tarefas<br />

domésticas (oito por cento contra cinco por<br />

cento, respectivamente). A percentagem de<br />

crianças que trabalham para apoiar negócios<br />

familiares é a mesma para ambos os sexos<br />

(16 por cento). 20<br />

São as mulheres e meninas que<br />

tradicionalmente acarretam água para a<br />

família. O MICS constatou que em 86 por<br />

cento dos agregados familiares é uma<br />

mulher adulta que se dedica a essa tarefa,<br />

enquanto em 7 por cento dos agregados<br />

familiares é uma menina (menor de 15 anos).<br />

As fontes de água situam-se normalmente<br />

muito longe de casa, uma média de cerca<br />

de 50 minutos a pé (excluindo os agregados<br />

familiares com água nas suas instalações - 9<br />

por cento). Normalmente, são feitas várias<br />

deslocações por dia para a fonte de água. 21<br />

2.6. Sistemas de Linhagem<br />

Em Moçambique, existem os dois sistemas<br />

de linhagem, patrilinear e matrilinear. Sob<br />

o sistema patriarcal, a mulher e os filhos<br />

pertencem ao marido e sua família, e é<br />

o marido que concede ao seu cônjuge do<br />

sexo feminino acesso à terra. No sistema<br />

matriarcal, a mulher e os filhos continuam<br />

a ser considerados membros da família<br />

matrilinear da mulher. Sob o sistema<br />

matriarcal, é o tio da mulher que dá acesso<br />

à terra, enquanto as crianças pertencem<br />

a familiares consanguíneos da mãe. 22 Em<br />

ambos os sistemas, patrilinear e matrilinear,<br />

as posições das mulheres baseiam-se em<br />

submissão aos membros masculinos da<br />

família - ou seja, ao marido/pai ou irmãos,<br />

respectivamente. 23<br />

Os direitos à terra são de certa forma<br />

problemáticos em Moçambique devido à<br />

existência de dois sistemas contraditórios.<br />

Oficialmente, e em conformidade com a<br />

Constituição e a Lei de Terras, a terra é<br />

propriedade inalienável do Estado. No<br />

entanto, ao abrigo do direito consuetudinário<br />

e tradição, a terra pertence à comunidade<br />

que vive em seu redor e aos antepassados<br />

dessa comunidade. O acesso à terra é gerido<br />

por uma complexa rede de tradições sociais<br />

que se constitui em torno do casamento,<br />

como base de alianças entre as famílias.<br />

Assim, os direitos hereditários à terra<br />

dependem da idade, do sexo e da condição<br />

social, inclusive do parentesco ou outros<br />

vínculos com as famílias que foram as<br />

primeiras a povoar a região. Os títulos de<br />

propriedade da terra formais não parecem<br />

ser relevantes para fins de herança. Nas<br />

sociedades patriarcais, surgem problemas<br />

em caso de divórcio ou morte do marido,<br />

onde uma mulher corre o risco de perder<br />

as suas terras e todos os seus pertences<br />

a favor de outros membros da família<br />

do falecido marido, mesmo tendo ela a<br />

responsabilidade de cuidar dos seus filhos e<br />

outros familiares. 24<br />

2.7. HIV e género<br />

A Declaração de Compromisso de 2001<br />

sobre o HIV/SIDA reconhece que as<br />

mulheres são desproporcionalmente<br />

afectadas pela SIDA no quadro global,<br />

devendo merecer prioridade nas respostas<br />

nacionais e globais. 25 A dimensão de género<br />

do HIV e da SIDA tem uma componente<br />

biológica e uma componente social.<br />

Biologicamente, as mulheres são mais<br />

vulneráveis à infecção pelo HIV do que<br />

homens, sendo as meninas ainda mais<br />

vulneráveis. No entanto, o mais importante<br />

para determinar o diferencial na transmissão<br />

e no impacto nas mulheres é a componente<br />

social. Em Moçambique, é ensinado às<br />

mulheres que o sexo é uma estratégia de<br />

sobrevivência, pelo que é frequente elas<br />

se submeterem às decisões dos homens,<br />

tendo menos capacidade para negociar<br />

sexo seguro, fidelidade ou abstinência.<br />

Sexo coagido ou forçado e violência sexual<br />

exacerbam as vulnerabilidades biológicas e<br />

sociais das mulheres à infecção. As meninas<br />

tendem a iniciar relações sexuais regulares<br />

mais cedo do que meninos, aumentando o<br />

risco de transmissão. 26<br />

Como resultado destes dois grupos de<br />

factores, a prevalência de infecção em<br />

mulheres de 15-49 anos (13,1 por cento) é<br />

mais de um terço superior à dos homens<br />

da mesma faixa etária (9,2 por cento). Entre<br />

as mulheres na faixa etária de 15-24 anos,<br />

a prevalência do HIV é 3 vezes superior à<br />

dos homens da mesma idade. 27 28 A AIDS<br />

Accountability International preparou um<br />

Scorecard on Woman que classifica as<br />

respostas dos Governos à epidemia de SIDA<br />

a partir de uma perspectiva de género. Os<br />

seis elementos fundamentais incluídos no<br />

Scorecard são: recolha de dados, género,<br />

ambiente político e legal, programas<br />

nacionais, conhecimento, comportamento<br />

e impacto. É atribuída aos países uma<br />

classificação de A (muito bom) a E (muito<br />

fraco) para cada elemento. Ver Tabela 6.1<br />

abaixo com a pontuação de Moçambique. 29<br />

186<br />

187


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

Tabela 6.1: Scorecard para a resposta do Governo de Moçambique à SIDA numa perspectiva de género<br />

Recolha de dados<br />

Integração sistemática de género<br />

Ambiente de políticas e legal<br />

Programas nacionais<br />

Conhecimento e comportamento<br />

Impacto<br />

2.8. Conclusões<br />

As mulheres têm maior probabilidade de<br />

viver em situação de pobreza do que os<br />

homens em Moçambique. A incidência<br />

da pobreza em agregados familiares<br />

chefiados por mulheres é superior à<br />

dos agregados familiares chefiados por<br />

homens. As mulheres têm menos acesso<br />

ao emprego formal do que os homens, e<br />

tendem a trabalhar em indústrias de menor<br />

remuneração. Há indícios, no entanto, de<br />

que a desigualdade entre os homens e as<br />

mulheres tem diminuído em Moçambique<br />

nos últimos anos.<br />

Existe uma clara relação entre o bemestar<br />

das mulheres e o bem-estar de<br />

seus filhos. Mães instruídas são mais<br />

propensas a ter filhos mais instruídos,<br />

mais saudáveis, menos vulneráveis. Tendo<br />

como alvo raparigas a frequentarem<br />

escolas, os programas de saúde e protecção<br />

podem não só melhorar o bem-estar das<br />

Pontuação<br />

A – Muito bom<br />

C – Médio<br />

C – Médio<br />

B – Bom<br />

A – Muito bom<br />

C – Médio<br />

Fonte: AIDS Accountability International, ‘The AIDS Accountability Scorecard on Women 2009’, Joint United Nations Programme on<br />

HIV/AIDS, Geneva, 2009.<br />

pessoas abrangidas, como também gerar<br />

significativos efeitos secundários positivos<br />

nos futuros filhos dessas meninas.<br />

A paridade de género na educação, em<br />

termos de taxas de frequência, tem vindo<br />

a melhorar. No que respeita a taxas de<br />

alfabetização e conclusão, no entanto,<br />

persistem consideráveis disparidades.<br />

Na promoção do acesso das mulheres à<br />

educação é fundamental melhorar-se a<br />

segurança nas escolas. Para isso, é preciso<br />

que se reforce a capacidade das unidades<br />

de género para monitorar e reportar abuso e<br />

violência sexual.<br />

A violência contra a mulher é comum e<br />

é considerada aceitável por uma grande<br />

percentagem de mulheres, bem como<br />

pela sociedade em geral. Para diminuir<br />

a incidência de violência de género são<br />

necessárias iniciativas de sensibilização para<br />

mudar as mentes e divulgação de melhor<br />

informação.<br />

3. Disparidades geográficas<br />

Moçambique é um país grande com uma<br />

densidade populacional relativamente baixa.<br />

Cobre uma superfície de aproximadamente<br />

802.000 km2 e tem um litoral que se estende<br />

por quase 2.500 km, desde a África do<br />

Sul, no sul, até à Tanzânia, no norte. A<br />

densidade populacional média é de cerca de<br />

26 habitantes por km2. Relacionada com a<br />

grande extensão geográfica do país está a<br />

sua diversidade linguística, cultural e étnica.<br />

São diferentes as tradições e costumes<br />

entre as várias regiões. Mais de uma dezena<br />

de línguas locais, algumas das quais com<br />

seus próprios dialectos, são faladas em<br />

Moçambique. O português é a língua oficial<br />

e da administração, mas menos de dez<br />

por cento da população o fala como língua<br />

materna, e apenas cerca de 40 por cento o<br />

aprendeu a falar. 30<br />

Os dados revelam a existência de claras<br />

disparidades na incidência da pobreza entre<br />

as províncias. Por exemplo, a incidência<br />

da pobreza no inquérito de 2008/09 varia<br />

entre 71 por cento em Inhambane e 31 por<br />

cento no Niassa. Continua a haver uma<br />

significativa demarcação urbano/rural em<br />

termos de taxas de pobreza: 57 por cento<br />

dos habitantes rurais vivem em pobreza<br />

absoluta em comparação com 50 por cento<br />

da população urbana. 31<br />

O acesso aos serviços sociais básicos é<br />

geralmente mais elevado no sul do país. As<br />

disparidades no Índice de Desenvolvimento<br />

Humano (IDH) e no IDG do Programa das<br />

Nações Unidas para o Desenvolvimento<br />

têm feito ver que as províncias do norte do<br />

país geralmente apresentam mais baixos<br />

níveis de desenvolvimento humano do que<br />

as do centro ou do sul. 32 Todas as províncias<br />

do país apresentaram melhorias nos seus<br />

IDG entre 2001 e 2006. 33 Outros indicadoreschave,<br />

incluindo o PIB per capita, também<br />

apresentam uma variação considerável entre<br />

as províncias. 34 Há alguma evidência de que<br />

as desigualdades no consumo que existem<br />

em Moçambique são frequentemente<br />

mais pronunciadas no seio das regiões e<br />

províncias do que entre elas. 35<br />

No seu primeiro Plano de Acção para a<br />

Redução da Pobreza Absoluta (PARPA I),<br />

o governo de Moçambique reconheceu a<br />

desigualdades económicas e sociais entre<br />

a área Maputo-Matola e arredores e o<br />

resto do país como sendo “a característica<br />

mais visível” do país. Essa desigualdade<br />

é atribuída a vários factores, incluindo a<br />

guerra civil. O segundo Plano de Acção para<br />

a Redução da Pobreza Absoluta (PARPA<br />

II) também observou que as medidas de<br />

pobreza, tanto baseada no consumo como<br />

não baseada no rendimento variavam<br />

consideravelmente entre as províncias. Lidar<br />

com as disparidades regionais foi objectivo<br />

prioritário do PARPA I, bem como do PARPA<br />

II. A avaliação de impacto do PARPA II<br />

realizada em 2009 concluiu ter havido uma<br />

ligeira redução das disparidades, embora<br />

estas, no que respeita a agricultura, tenham<br />

aumentado, enquanto as dos sectores de<br />

saúde e educação se continuam a manter a<br />

níveis elevados. 36<br />

Também se vêm disparidades provinciais<br />

em relação às medidas da pobreza não<br />

baseadas no rendimento. Um estudo sobre a<br />

privação severa nas crianças efectuado como<br />

parte da avaliação do PARPA II (ver Capítulo<br />

1) revelou que, em 2003 e 2008, a maior<br />

percentagem de crianças com privações<br />

severas vivia na província da Zambézia, 80<br />

por cento em 2003 e 64 por cento em 2008<br />

(ver Tabela 6.2). 37 A Cidade de Maputo tem,<br />

de longe, os mais baixos níveis de pobreza<br />

infantil, como este método de medição, com<br />

apenas cerca de 4 por cento das crianças<br />

vivendo duas ou mais privações severas.<br />

Uma comparação dos níveis de pobreza<br />

em 2008, medidos utilizando a abordagem<br />

baseada no consumo e a abordagem<br />

baseada em privações severas permite<br />

188<br />

189


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

Tabela 6.2: Percentagem de crianças que enfrentam duas ou mais privações severas, 2003 e 2008<br />

2003 2008<br />

Global 59% 48%<br />

Urbana 30% 22%<br />

Rural 73% 60%<br />

Província<br />

Niassa 58% 35%<br />

Cabo Delgado 62% 45%<br />

Nampula 66% 59%<br />

Zambézia 80% 64%<br />

Tete 65% 60%<br />

Manica 58% 52%<br />

Sofala 68% 53%<br />

Inhambane 48% 37%<br />

Gaza 53% 39%<br />

Maputo Província 24% 18%<br />

Maputo Cidade 11% 4%<br />

Quintil de riqueza:<br />

Mais baixo 95% 91%<br />

Segundo 87% 65%<br />

Médio 60% 41%<br />

Quarto 36% 33%<br />

Mais elevado 13% 5%<br />

Fonte: <strong>UNICEF</strong>, Trends in Child Poverty in <strong>Mozambique</strong>: A deprivations-based approach, Ministério de Planificação e<br />

Desenvolvimento, Maputo, 2009.<br />

• l São vincadas as disparidades na<br />

prevalência do HIV e no acesso a serviços<br />

de prevenção e tratamento entre as<br />

províncias e regiões do país, havendo<br />

mais elevada prevalência e tratamento no<br />

sul. A prevalência de HIV varia entre 25<br />

por cento em Gaza, no sul, e 4 por cento<br />

em Niassa, no norte; 41<br />

• l Apenas três por cento das crianças<br />

em Gaza sofreram privação severa de<br />

educação em 2008, em comparação com<br />

22 por cento em Tete, 15 por cento em<br />

Niassa e 12 por cento na Zambézia. 42<br />

3.1. Disparidades nas dotações<br />

orçamentais<br />

Em A pobreza na Infância em Moçambique:<br />

Uma Análise da Situação e das Tendências<br />

2006, de sua autoria, o <strong>UNICEF</strong> constatou<br />

ser particularmente notório que as dotações<br />

do Orçamento do Estado para sectoreschave<br />

muitas vezes não correspondem ao<br />

padrão dos indicadores de desenvolvimento<br />

infantil, recomendando a necessária revisão,<br />

baseada em evidências, dos critérios<br />

utilizados para alocar fundos do orçamento<br />

do Estado e alcançar uma distribuição mais<br />

equitativa. Um estudo recente aprofundou<br />

esta questão das províncias menos<br />

desenvolvidas receberem uma mais baixa<br />

dotação do orçamento do estado do que<br />

outras províncias mais desenvolvidas. 43<br />

O estudo confirma a percepção de<br />

desigualdade e reporta que os padrões<br />

provinciais de atribuição de financiamento<br />

observados são fortemente indicativos de<br />

uma desigual distribuição geográfica de<br />

recursos, com as províncias mais populosas<br />

de Nampula e Zambézia recebendo<br />

sistematicamente menos do que deveriam<br />

com base no tamanho das suas populações.<br />

Por exemplo, em 2008, a despesa per capita<br />

na Zambézia foi de 69 por cento da média<br />

nacional para a saúde e 73 por cento da<br />

média na educação 2008. 44<br />

As disparidades provinciais nas dotações<br />

orçamentais não se têm reduzido nos<br />

últimos anos. Como pode ser observado<br />

na Figura 6.3 abaixo, a despesa per capita<br />

aumentou de 2005 a 2008, mas as dotações<br />

provinciais relativas permaneceram<br />

razoavelmente constantes. A dotação per<br />

capita é mais elevada nas províncias do Sul<br />

algumas interessantes constatações. Para a<br />

maioria das províncias nas regiões norte e<br />

centro do país, os níveis de pobreza medidos<br />

com os dois métodos são bastante similares.<br />

No entanto, no sul do país, o índice de<br />

incidência da pobreza é muito maior que a<br />

percentagem de crianças com duas ou mais<br />

privações severas. Verifica-se essa diferença<br />

porque a abordagem baseada em privações<br />

incorpora uma medida de acesso aos<br />

serviços sociais básicos, incluindo saúde,<br />

educação, água e saneamento, enquanto<br />

a incidência da pobreza não captura<br />

directamente esses aspectos.<br />

Uma análise da percentagem de crianças<br />

que enfrentam cada uma das privações<br />

revela também um padrão de disparidade<br />

entre as províncias. Tais resultados são<br />

apresentados mais pormenorizadamente nos<br />

capítulos deste relatório correspondentes a<br />

cada sector, resumindo-se ao seguinte:<br />

• l Os níveis de privação nutricional severa<br />

são mais elevados nas províncias do<br />

Norte, seguindo-se as do centro e, na<br />

mais baixa posição, as províncias do sul; 38<br />

• l Além de disparidades entre as zonas<br />

urbanas e as rurais no acesso a serviços<br />

de saneamento, existem também grandes<br />

disparidades entre as províncias. Na<br />

Zambézia, 73 por cento das crianças<br />

vivem com privações severas de<br />

saneamento, comparativamente a menos<br />

de um por cento na Cidade de Maputo; 39<br />

• l Também se podem verificar disparidades<br />

provinciais em relação à privação de<br />

saúde. Cinco por cento das crianças na<br />

Cidade de Maputo sofrem privação severa<br />

de saúde, em comparação com 19 por<br />

cento na Zambézia e em Nampula; 40<br />

Figura 6.3: Despesa per capita combinada para saúde, educação e justiça, 2005, 2006 e 2008<br />

capita (MZN)<br />

Despesa per<br />

1200<br />

1000<br />

800<br />

600<br />

400<br />

200<br />

0<br />

Niassa<br />

Cabo<br />

Delgado<br />

Nampula<br />

Zambézia<br />

Tete Manica Sofala Inhambane<br />

2005 2006 2008<br />

Gaza<br />

Maputo Maputo<br />

Província Cidade<br />

Fonte: Sal e Caldeira e Ximango Consultores, ‘Análise do Impacto da Estrutura das Despesas sobre o Desenvolvimento Económico e<br />

as Condições de Vida em Moçambique,’ Agência Suíça para o Desenvolvimento e Cooperação, 2009.<br />

190<br />

191


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

do que no centro e no norte do país. É de<br />

notar que o custo da prestação de serviços<br />

não é igual nas diferentes províncias.<br />

Nas áreas rurais, os custos per capita são<br />

geralmente mais elevados.<br />

Os sectores e os ministérios tendem<br />

a planificar as suas actividades e,<br />

consequentemente, a afectar os seus<br />

fundos de acordo com importantes temas,<br />

programas e projectos que abarcam<br />

várias províncias, ao invés de planificarem<br />

intervenções por província. Como resultado,<br />

os fundos administrados centralmente<br />

não são explicitamente atribuídos e<br />

contabilizados numa base provincial, o que<br />

dificulta a quantificação do total de fundos<br />

recebido a nível de província. As despesas<br />

correntes, entre as quais os salários, revelam<br />

geralmente uma estreita concordância entre<br />

as contas centrais e os relatóri os financeiros<br />

provinciais e sectoriais. Muito mais variação<br />

se observa com relação aos gastos de<br />

investimento.<br />

3.2. Disparidades na saúde<br />

Há grandes disparidades na despesa de<br />

saúde per capita por província. A Zambézia<br />

recebe a menor distribuição per capita, 60<br />

por cento da média nacional, enquanto<br />

Niassa recebe 156 por cento. A Zambézia<br />

tem o pior desempenho com relação a<br />

muitos indicadores de resultados de saúde<br />

infantil.<br />

Mortalidade infantil<br />

Existem diferenças significativas nas taxas<br />

provinciais de mortalidade de menores de<br />

cinco. As taxas mais elevadas registam-se<br />

na Zambézia (206 mortes por mil nascidos<br />

vivos) e Cabo Delgado (181 mortes por<br />

1.000 nados vivos). Tete tem a terceira mais<br />

elevada taxa de mortalidade de menores<br />

de cinco, com 175 por mil nados vivos.<br />

A Província de Maputo e a Cidade de<br />

Maputo reportam as mais baixas taxas de<br />

mortalidade de menores de cinco anos (103<br />

e 109, respectivamente. 45 Uma comparação<br />

da taxa de sobrevivência infantil com os<br />

gastos com saúde por província revela uma<br />

correlação significativa. Províncias com<br />

baixas despesas de saúde também tendem a<br />

ter baixas taxas de sobrevivência infantil (ver<br />

Figura 6.5).<br />

A cobertura de cuidados pré-natais varia<br />

entre as províncias, com um intervalo que<br />

vai de 81 por cento, na Zambézia, a uma<br />

cobertura universal em Gaza e na Cidade de<br />

Maputo. A percentagem de partos atendidos<br />

por um agente qualificado também varia<br />

entre as províncias. As províncias com<br />

menor percentagem de partos assistidos por<br />

um agente qualificado foram Manica (33 por<br />

cento) e Zambézia (38 por cento). 46<br />

HIV e SIDA<br />

A prevalência de HIV apresenta também<br />

fortes disparidades geográficas, com as<br />

maiores taxas registadas nas províncias<br />

do sul de Gaza e Maputo (25,1 e 19,8 por<br />

cento, respectivamente) e as menores<br />

nas províncias de Niassa, Nampula e<br />

Figura 6.5: Despesa per capita na saúde (2008) e sobrevivência da criança (1998-2008)<br />

Child survival rate (10 year average)<br />

920<br />

900<br />

880<br />

860<br />

840<br />

820<br />

800<br />

780<br />

760<br />

740<br />

Niassa<br />

Cabo<br />

Delgado<br />

Nampula<br />

Zambézia<br />

Taxa de sobrevivência infantil<br />

Cabo Delgado (3,7; 4,6 e 9,4 por cento,<br />

respectivamente) (ver Figura 6.6).<br />

São grandes as disparidades geográficas na<br />

percentagem de mulheres que receberam<br />

aconselhamento sobre o HIV integrado na<br />

sua consulta pré-natal, variando de apenas<br />

28 por cento na Zambézia a 94 por cento<br />

na Cidade de Maputo. A percentagem<br />

de mulheres com teste de HIV em 2008<br />

também variou consideravelmente entre as<br />

províncias, com apenas 19 por cento das<br />

Tete Manica Sofala Inhambane<br />

Gaza<br />

Maputo<br />

Província<br />

Despesa de saúde per capita<br />

Maputo<br />

Cidade<br />

Fonte: Sal e Caldeira e Ximango Consultores, ‘Análise do Impacto da Estrutura das Despesas sobre o Desenvolvimento<br />

Económico e as Condições de Vida em Moçambique,’ Agência Suíça para o Desenvolvimento e Cooperação, 2009 e MICS 2008.<br />

180<br />

160<br />

140<br />

120<br />

100<br />

80<br />

60<br />

40<br />

20<br />

0<br />

Despesa per capita (Mzn)<br />

Figura 6.4: Despesa de saúde per capita, percentagem da média nacional, 2008<br />

160%<br />

140%<br />

120%<br />

100%<br />

80%<br />

60%<br />

40%<br />

20%<br />

0%<br />

Niassa<br />

Cabo<br />

Delgado<br />

Nampula<br />

Zambézia<br />

Gaza<br />

Maputo<br />

Província<br />

Maputo<br />

Cidade<br />

Figura 6.6: Prevalência de HIV por província, 2009<br />

35%<br />

30%<br />

25%<br />

20%<br />

15%<br />

10%<br />

5%<br />

0%<br />

3% 4% 6% 3%<br />

Niassa<br />

8% 6%<br />

10% 9% 10%<br />

6%<br />

15%<br />

9%<br />

16% 15%<br />

18%<br />

Mulheres15-49 <strong>Home</strong>ns 15-49<br />

13%<br />

Tete Manica Sofala Inhambane<br />

Nampula<br />

Tete Cabo Inhambane<br />

Zambezia<br />

Manica Sofala<br />

Delgado<br />

20%20% 21% 12%<br />

Maputo<br />

Província<br />

Maputo<br />

Cidade<br />

30%<br />

17%<br />

Gaza<br />

Fonte: Sal e Caldeira e Ximango Consultores, ‘Análise do Impacto da Estrutura das Despesas sobre o Desenvolvimento Económico e<br />

as Condições de Vida em Moçambique,’ Agência Suíça para o Desenvolvimento e Cooperação, 2009.<br />

Fonte: Instituto Nacional de Estatística, Ministério da Saúde, ‘Inquérito Nacional de Prevalência. Riscos Comportamentais e<br />

Informação sobre o HIV e SIDA em Moçambique (INSIDA), Relatório Preliminar sobre a Prevalência da Infecção por HIV, 2009.<br />

192<br />

193


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

Figura 6.7: Percentagem de mulheres que receberam informação sobre o HIV e fizeram teste em consultas de<br />

cuidados pré-natais, 2008<br />

100%<br />

80%<br />

60%<br />

40%<br />

20%<br />

60%<br />

29%<br />

49%<br />

34%<br />

52%<br />

31% 28%<br />

19%<br />

52%<br />

39%<br />

73% 68% 85% 74% 69%<br />

61%<br />

79%<br />

72% 91% 86% 96% 97% 59%<br />

47%<br />

Figura 6.8: Despesa per capita na educação, percentagem da média nacional, 2008<br />

180%<br />

160%<br />

140%<br />

120%<br />

100%<br />

80%<br />

0%<br />

Niassa<br />

Cabo<br />

Delgado<br />

Nampula<br />

Zambézia<br />

Tete Manica Sofala Inhambane<br />

Gaza<br />

Maputo Maputo<br />

Província Cidade<br />

Total<br />

60%<br />

40%<br />

Receberam informação sobre a prevenção do HIV em consulta pré-natal<br />

20%<br />

Fizeram teste de HIV em consulta pré-natal<br />

Fonte: Instituto Nacional de Estatística. ‘Inquérito de Indicadores Múltiplos 2008. Sumário’, Maputo, Moçambique, 2008.<br />

0%<br />

Niassa<br />

Cabo<br />

Delgado<br />

Nampula<br />

Zambezia<br />

Tete Manica Sofala Inhambane<br />

Gaza<br />

Maputo<br />

Province<br />

Maputo<br />

City<br />

mulheres grávidas testadas na Zambézia,<br />

em comparação com 95 por cento na Cidade<br />

de Maputo. Quarenta e três por cento das<br />

mulheres receberam os seus resultados. 47<br />

Em 2006, 68 por cento do total de crianças<br />

que receberam tratamento para a SIDA viviam<br />

nas quatro províncias do sul do país, e 55<br />

por cento na Cidade de Maputo. Em 2008, as<br />

províncias do sul foram responsáveis por 56<br />

por cento de todas as crianças que receberam<br />

medicamentos anti-retrovirais, e a Cidade<br />

de Maputo por 33 por cento. A distribuição<br />

geográfica das crianças com acesso ao<br />

tratamento ainda é bastante desigual: na<br />

região sul do país, cerca de metade das que<br />

necessitam de tratamento anti-retroviral<br />

conseguem ter-lhe acesso, enquanto nas<br />

regiões centro e norte é muito maior a<br />

percentagem de necessidades não satisfeitas.<br />

e Nampula recebem a mais baixa dotação<br />

de fundos (ver Figura 6.8). Uma vez mais<br />

as províncias do centro e do norte recebem<br />

uma dotação substancialmente menor que<br />

as províncias do sul. 48<br />

As províncias do centro e do norte recebem<br />

mais baixa dotação orçamental e têm<br />

mais baixos resultados na educação do<br />

que as províncias do sul. Os resultados<br />

educacionais em termos de alfabetização<br />

estão intimamente relacionados com as<br />

despesas per capita da educação (ver Figura<br />

6.9). As taxas de alfabetização das mulheres<br />

variam consideravelmente por província, de<br />

84 por cento na Cidade de Maputo a menos<br />

de 50 por cento em Cabo Delgado, Zambézia<br />

e Nampula. Às três últimas províncias cabem<br />

também os mais baixos níveis de despesa<br />

com a educação.<br />

Fonte: Sal e Caldeira e Ximango Consultores, ‘Análise do Impacto da Estrutura das Despesas sobre o Desenvolvimento Económico e<br />

as Condições de Vida em Moçambique,’ Agência Suíça para o Desenvolvimento e Cooperação, 2009 e MICS 2008.<br />

Figura 6.9: Despesa per capita na Educação e taxas de alfabetização, 2008<br />

Despesa per capita (Mtn)<br />

900<br />

800<br />

700<br />

600<br />

500<br />

400<br />

300<br />

200<br />

100<br />

0<br />

Niassa<br />

Cabo<br />

Delgado<br />

Nampula<br />

Zambezia<br />

Despesa per capita<br />

Tete Manica Sofala Inhambane<br />

Gaza<br />

Maputo Maputo<br />

Província Cidade<br />

Taxas de alfabetização<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Taxa de alfabetização<br />

3.3. Disparidades no acesso à<br />

educação<br />

Uma análise da despesa de educação per<br />

capita revela uma situação semelhante à da<br />

despesa de saúde. As províncias da Zambézia<br />

Embora o rácio bruto de escolarização ii de<br />

2008 para a primeira fase do ensino primário<br />

(EP1) tenha ultrapassado os 100 por cento<br />

independentemente da região, província<br />

ou género, a taxa bruta de escolarização<br />

na segunda fase do ensino primário (EP2)<br />

revela fortes disparidades geográficas. Na<br />

ii O rácio bruto de escolarização é a percentagem de crianças de qualquer idade a frequentar a última classe de<br />

determinado nível de educação. Um rácio superior a 100 por cento indica crianças ‘acima da idade’.<br />

Fonte: Sal e Caldeira e Ximango Consultores, ‘Análise do Impacto da Estrutura das Despesas sobre o Desenvolvimento Económico e<br />

as Condições de Vida em Moçambique,’ Agência Suíça para o Desenvolvimento e Cooperação, 2009 e MICS 2008.<br />

Cidade de Maputo e na província de Maputo,<br />

que registaram os mais elevados níveis de<br />

matrículas, o rácio bruto de escolarização<br />

das raparigas no EP2 excedeu o dos rapazes.<br />

Outras províncias registaram rácios brutos<br />

de escolarização inferiores a 100 por cento<br />

no EP2, sendo, na maioria delas, o das<br />

meninas inferiores aos dos rapazes. A nível<br />

regional, as províncias com mais baixos<br />

rácios brutos de escolarização no EP2 e as<br />

maiores diferenças de género foram as das<br />

regiões norte e centro do país.<br />

194<br />

195


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

Figura 6.10: Rácio líquido de escolarização no ensino primário (EP1 & EP2) por província, 2008<br />

100%<br />

80%<br />

60%<br />

40%<br />

20%<br />

0%<br />

Niassa<br />

Fonte: MICS 2008.<br />

79% 78% 75% 74% 74%73%<br />

85% 81%<br />

70% 67%<br />

87% 83%<br />

87%77%<br />

Cabo<br />

Delgado<br />

Nampula<br />

Zambezia<br />

Diferenças regionais semelhantes são<br />

observadas nos rácios de escolarização.<br />

Embora o rácio líquido de escolarização<br />

para o EP1 seja superior a 80 por cento em<br />

cada província, há diferenças provinciais<br />

significativas a nível do EP2. A Cidade de<br />

Maputo é a área com melhor desempenho,<br />

com 43 por cento de escolarização líquida no<br />

EP2 nos rapazes e 57 por cento nas raparigas.<br />

Cabo Delgado, Nampula, Niassa e Zambézia<br />

estão entre as províncias com os piores<br />

desempenhos, tendo cada uma delas um rácio<br />

de escolarização líquida inferior a 15 por cento.<br />

Tete Manica Sofala Inhambane<br />

Meninas<br />

Rapazes<br />

90% 93% 93% 95% 94% 97% 95%<br />

89%<br />

Gaza<br />

Maputo<br />

Província<br />

Maputo<br />

Cidade<br />

3.4. Disparidades na protecção<br />

da criança<br />

Há grandes disparidades geográficas no<br />

registo de nascimento. Também aqui<br />

as províncias do centro e do norte se<br />

encontram em muito pior situação do que<br />

o sul. Trinta e nove por cento das crianças<br />

menores de cinco anos tiveram seus<br />

nascimentos registados em áreas urbanas,<br />

em comparação com 28 por cento nas zonas<br />

rurais. E 47 por cento das crianças menores<br />

de cinco anos estão registadas na Cidade de<br />

Maputo, enquanto apenas 11 por cento estão<br />

registadas em Tete. 49<br />

Também existem disparidades regionais nas<br />

atitudes para com a violência doméstica.<br />

Por exemplo, a percentagem de mulheres<br />

que consideram que bater na esposa se<br />

justifica em determinadas circunstâncias<br />

varia de 10 por cento na Cidade de Maputo<br />

a quase 70 por cento em Niassa. 50 Um<br />

estudo do Ministério da Mulher e Acção<br />

Social concluiu que essas diferenças estão<br />

fortemente relacionadas com as normas<br />

e práticas socioculturais, bem como com<br />

a falta de escolarização e conhecimento<br />

sobre os direitos das mulheres e crianças na<br />

sociedade. 51 A educação é um factor-chave<br />

na redução da violência contra a criança e a<br />

mulher.<br />

Os dados do MICS 2008 mostram haver<br />

uma diferença significativa nas taxas de<br />

casamento infantil entre o sul, o centro<br />

e o norte de Moçambique. As províncias<br />

do sul – Cidade de Maputo, província de<br />

Maputo, Gaza e Inhambane – têm uma taxa<br />

de casamentos infantis inferior a 10 por<br />

cento. As províncias do centro têm uma taxa<br />

média de 20 por cento, enquanto as duas<br />

províncias mais a norte – Niassa e Cabo<br />

Delgado – têm taxas de 24 e 30 por cento,<br />

respectivamente.<br />

3.5. Conclusões<br />

São evidentes e persistentes as disparidades<br />

provinciais em quase todos os indicadores<br />

de acesso e desempenho dos serviços<br />

sociais básicos. O padrão geral é, para as<br />

províncias do centro e do norte baixas<br />

dotações orçamentais, reduzido acesso<br />

a serviços e mais baixos resultados,<br />

comparativamente às províncias do sul. A<br />

província da Zambézia é frequentemente<br />

a que se encontra em piores condições na<br />

alocação de recursos e nos resultados de<br />

desenvolvimento. Este padrão geral invertese<br />

em relação à prevalência do HIV, com<br />

Figura 6.11: Percentagem de mulheres com 15-49 anos casadas ou em união antes completarem os 15 anos, 2008<br />

35%<br />

30%<br />

25%<br />

20%<br />

15%<br />

24%<br />

30%<br />

21% 22%<br />

19%<br />

21%<br />

19%<br />

10%<br />

5%<br />

0%<br />

Niassa<br />

Cabo<br />

Delgado<br />

Nampula<br />

Zambézia<br />

Tete Manica Sofala Inhambane<br />

9% 9%<br />

Gaza<br />

6%<br />

Maputo<br />

Província<br />

4%<br />

Maputo<br />

Cidade<br />

Fonte: MICS 2008<br />

196<br />

197


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

as províncias do sul reportando mais altos<br />

níveis de infecção, mas, em contrapartida,<br />

beneficiando também de maior acesso a<br />

serviços de prevenção e tratamento.<br />

Estas disparidades geográficas observadas<br />

em Moçambique provêm de padrões<br />

de assentamento e colonização iniciais<br />

que resultaram em diferenças culturais,<br />

religiosas e linguísticas entre as províncias;<br />

da natureza centralizada e deliberadamente<br />

discriminatória da administração<br />

portuguesa durante o período colonial;<br />

e da falta de um sistema de alocação<br />

de recursos do Estado às províncias<br />

baseado em critérios relacionados com<br />

a situação do desenvolvimento humano.<br />

Além disso, a falta de infra-estruturas<br />

rodoviárias e ferroviárias, incluindo a<br />

ausência (até recentemente) de uma ponte<br />

sobre o rio Zambeze, bem como fraco<br />

acesso aos mercados das zonas rurais em<br />

muitas partes da região centro e norte de<br />

Moçambique também contribuíram para as<br />

diferenças socioeconómicas provinciais no<br />

desenvolvimento económico.<br />

4. HIV e SIDA<br />

A vulnerabilidade de um país aos efeitos<br />

de doenças infecciosas, incluindo HIV e a<br />

SIDA, depende em grande medida do nível<br />

de desenvolvimento humano alcançado<br />

pelo país. Os indivíduos e a sociedade<br />

como um todo estão mais capazes de se<br />

proteger contra o impacto das doenças<br />

nos países desenvolvidos, o que se explica<br />

pelos limitados recursos financeiros a<br />

nível nacional e familiar nos países em<br />

desenvolvimento, bem como pelo reduzido<br />

capital humano de que dispõem devido<br />

à falta de oportunidades de educação e<br />

falta de acesso a outros serviços sociais<br />

básicos. Nos países em desenvolvimento, as<br />

doenças endémicas afectam negativamente<br />

o desenvolvimento e impedem a realização<br />

dos direitos humanos, como se pode ver em<br />

indicadores básicos como esperança de vida<br />

ao nascer, mortalidade infantil, frequência<br />

escolar, alfabetização e rendimento familiar,<br />

entre outros. 52<br />

É ao nível da família e da comunidade que<br />

mais se fará sentir o impacto da pandemia<br />

da SIDA. Doença e morte nos principais<br />

provedores num agregado familiar terão<br />

um impacto negativo sobre toda a família,<br />

acabando por elevar o nível de dependência<br />

de toda a população, pois outros agregados<br />

familiares, incluindo os chefiados por<br />

pessoas idosas que são, elas próprias,<br />

dependentes, assumirão a responsabilidade<br />

de cuidar do crescente número de crianças<br />

órfãs e vulneráveis. Através dos seus efeitos<br />

sobre o número de professores formados,<br />

profissionais de saúde e outros provedores,<br />

a SIDA afecta também os mecanismos<br />

de geração de capital humano futuro.<br />

Prevêem-se graves implicações estruturais<br />

da mortalidade relacionada com o HIV nos<br />

serviços públicos. A mortalidade e longos<br />

períodos de doença nos funcionários<br />

reduzirão a produtividade, aumentarão o<br />

absenteísmo e obrigarão as autoridades<br />

competentes a substituir pessoal perdido ou<br />

a operar com menos funcionários.<br />

A Comissão para o HIV/SIDA e Governação<br />

em África reconhece três generalizações<br />

sobre o impacto da SIDA nas famílias e nos<br />

agregados familiares: 53<br />

• l A presença da SIDA numa casa traduzse<br />

rapidamente em esgotamento da<br />

capacidade de geração de rendimento<br />

do agregado familiar e das poupanças<br />

e bens da família. Muitas famílias<br />

passam rapidamente para uma situação<br />

de pobreza: muito baixo rendimento<br />

ou posse material, dívida, redução do<br />

acesso a serviços, e ainda menos opções<br />

para conseguir alcançar segurança<br />

socioeconómica. As mulheres e as<br />

meninas tendem a ser as mais afectadas;<br />

• l A SIDA agrava e é agravada por<br />

condições económicas. Não é, por si só,<br />

uma condição, mas existe num contexto<br />

socioeconómico que torna mais profunda<br />

a vulnerabilidade das famílias, das<br />

comunidades e das nações;<br />

• l Os custos económicos da SIDA, o<br />

estigma em torno da doença, que leva<br />

a discriminação e afastamento, bem<br />

como a impossibilidade de acesso a<br />

serviços sociais combinam-se, ampliando<br />

as desigualdades socioeconómicas na<br />

sociedade. A SIDA não está apenas a<br />

matar pessoas, está também a dividir as<br />

sociedades nacionais.<br />

4.1. Perfil da epidemia do HIV<br />

em Moçambique<br />

De acordo com estimativas e projecções<br />

baseadas nos resultados de 2007, mais de<br />

1,7 milhões de moçambicanos viviam com<br />

HIV em 2010, cinquenta e cinco por cento<br />

dos quais eram mulheres, nove por cento<br />

(quase 150.000) eram crianças menores de<br />

15 anos, e cinco por cento eram crianças<br />

com menos de cinco anos. 54 O Governo de<br />

Moçambique deverá divulgar no último<br />

198<br />

199


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

trimestre de 2010 estimativas populacionais<br />

actualizadas baseadas em dados de<br />

prevalência do Inquérito Nacional Serocomportamental<br />

do HIV/SIDA realizado em<br />

2009.<br />

A evolução da epidemia em Moçambique<br />

tem sido moldada por vários factores.<br />

Na sua fase incipiente, assumiu-se que<br />

a prevalência era menor que nos países<br />

vizinhos (embora houvesse escassez de<br />

dados na época) pelo facto de o conflito<br />

civil que teve lugar de 1975 a 1992 ter<br />

mantido Moçambique um pouco isolado<br />

dos seus vizinhos. A cessação da violência<br />

e a assinatura de um Acordo de Paz em<br />

1992 foram acompanhados por movimentos<br />

populacionais em massa, pois as pessoas<br />

regressavam de outras partes do país ou<br />

dos países vizinhos às casas de origem,<br />

aumentando a vulnerabilidade à infecção<br />

e as oportunidades de transmissão do<br />

vírus. Devido à sua localização geográfica,<br />

Moçambique é um importante eixo de<br />

transporte de mercadorias para os portos de<br />

Maputo, Beira e Nacala e em trânsito para<br />

países vizinhos sem saída para o mar.<br />

A fraca cobertura dos serviços sociais<br />

básicos, especialmente de saúde e<br />

educação, contribuiu para a propagação da<br />

epidemia no período imediatamente após<br />

a cessação das hostilidades. A pobreza, a<br />

discriminação, a opressão, o analfabetismo,<br />

a mobilidade, ou a migração de pessoas,<br />

o estatuto das mulheres, os níveis de<br />

urbanização, os níveis de violência, o acesso<br />

a cuidados de saúde, e a distribuição da<br />

riqueza, entre outros, todos estes factores<br />

podem ter contribuído para a propagação<br />

da epidemia em Moçambique. Diversos<br />

estudos não encontraram nenhuma ligação<br />

clara entre a infecção pelo HIV e a riqueza. A<br />

pobreza pode mesmo reduzir a propagação<br />

da epidemia, por exemplo se as pessoas<br />

têm menos dinheiro para gastar em<br />

relacionamentos transacionais. O Inquérito<br />

Nacional sobre o HIV de 2009 mostrou que<br />

a prevalência do HIV em Moçambique é<br />

maior entre a população, em especial entre<br />

as mulheres, do quintil mais elevado. As<br />

mulheres, especialmente as que vivem em<br />

áreas rurais, são especialmente vulneráveis<br />

por estarem legal, cultural e socialmente<br />

em desvantagem em relação aos homens.<br />

Muitas mulheres estiveram expostas ao risco<br />

de violência sexual ou estupro ou outras<br />

formas de violência. 55<br />

As relações heterossexuais continuam a ser<br />

a forma mais comum de transmissão do<br />

HIV no país. Estima-se que cerca de 90 por<br />

cento das infecções pelo HIV ocorram por<br />

esta via. Sexo entre pessoas de diferentes<br />

gerações, actividade sexual casual sem<br />

protecção, falta de circuncisão masculina,<br />

múltiplos parceiros sexuais em simultâneo<br />

e baixo uso de preservativos são hipóteses<br />

que se colocam de situações que favorecem<br />

a propagação da epidemia. 56 Estima-se, no<br />

entanto, que uma substancial percentagem<br />

(47 por cento) de novas infecções se<br />

dêem em indivíduos que relatam estar em<br />

relacionamento monogâmico. 57<br />

Estima-se que em Moçambique tenham<br />

morrido 96.000 pessoas com SIDA em<br />

2009. A SIDA está a tornar-se rapidamente<br />

uma das principais causas de morte nas<br />

crianças, calculando-se que em 2009 tenham<br />

morrido 18.000 crianças menores de cinco<br />

anos e 21 mil menores de 15 anos. 58 Dados<br />

do Estudo Nacional sobre a Mortalidade<br />

Infantil 2009 indicam que a SIDA era uma<br />

das quatro condições que mais contribuíam<br />

para a mortalidade de crianças menores de<br />

cinco anos em Moçambique, representando<br />

quase 10 por cento de todas as mortes nesse<br />

grupo. 59<br />

A SIDA é uma causa comum de morte de<br />

crianças menores de cinco anos nas áreas<br />

urbanas. 60 Estima-se que 18 por cento das<br />

mortes de crianças em Maputo e 16 por<br />

cento das mortes de crianças na província<br />

de Gaza se devam à SIDA. Estes números<br />

podem estar subestimados, já que a SIDA,<br />

em muitas situações, pode ser a causa<br />

básica de morte em casos em que outras<br />

infecções oportunistas foram registadas<br />

como causa directa de morte.<br />

O Inquérito Nacional sobre o HIV/SIDA 2009<br />

(INSIDA) revela uma prevalência nacional<br />

Figura 6.12: Distribuição de novas infecções por modo de exposição em Moçambique, 2008<br />

Relacionadas com<br />

comportamentos de<br />

múltiplos parceiros 24%<br />

Parceiros de<br />

pessoas<br />

com MP 18%<br />

Múltiplos parceiros<br />

(MPs) 6%<br />

Um parceiro sexual 47,3%<br />

Mulheres parceiras<br />

de homens que fazem<br />

sexo com homens 0,1%<br />

<strong>Home</strong>ns que<br />

fazem sexo<br />

com homens 5,1%<br />

Trabalhadores<br />

de sexo 2%<br />

Clientes 7%<br />

Parceiros de clientes 10%<br />

Injecções Médicas 1,7%<br />

Transfusões de sangue 0,1%<br />

Uso de drogas injectáveis (UDI) 3%<br />

Parceiros UDI 0,3%<br />

Relacionadas com<br />

trabalho de sexo<br />

19%<br />

Fonte: Joint United Nations Programme on HIV and SIDA, <strong>Mozambique</strong> Modes of HIV Transmission and HIV Prevention Study,<br />

UNAIDS, Geneva, 2009..<br />

de HIV de 11,5 por cento entre os 15 e os 49<br />

anos de idade. A prevalência desagregada<br />

por região confirmou a situação emergente<br />

na vigilância sentinela anterior, com maior<br />

prevalência no sul (17,8 por cento), seguida<br />

pelo centro (12,5 por cento). A região Norte<br />

apresenta uma prevalência muito mais<br />

baixa (5,6 por cento). A prevalência urbana<br />

de HIV, que se situa em 15,9 por cento, é<br />

significativamente superior à prevalência<br />

nas áreas rurais (9,2 por cento), em todas as<br />

regiões. 61<br />

O INSIDA revela também que a prevalência<br />

do HIV tanto na população masculina como<br />

na feminina aumenta com a idade, atingindo<br />

o pico nas mulheres de 25-29 anos (16,8<br />

por cento) e, nos homens, aos 35-39 anos<br />

de idade (14,2 por cento). Acresce que as<br />

raparigas têm uma prevalência três vezes<br />

superior à dos rapazes da mesma idade (11,1<br />

por cento nas raparigas com 15-25 anos de<br />

idade, contra 3,7 por cento nos rapazes da<br />

mesma idade). Esses resultados destacam<br />

a maior vulnerabilidade dos adolescentes e<br />

jovens ao HIV em Moçambique.<br />

Presentemente só é possível analisarem-se<br />

as tendências pela observação da prevalência<br />

do HIV obtida na vigilância epidemiológica de<br />

2004 e 2007, uma vez que as informações do<br />

INSIDA seguem uma metodologia diferente,<br />

não sendo, portanto, comparáveis.<br />

A prevalência do HIV caiu acentuadamente<br />

nas jovens que frequentaram cuidados prénatais<br />

entre os inquéritos epidemiológicos<br />

de 2004 e 2007, mas tal tendência<br />

decrescente não se confirmou em 2009. 62 Em<br />

países com epidemias generalizadas onde<br />

a transmissão do HIV se faz principalmente<br />

através de relações heterossexuais, como<br />

acontece com Moçambique, as tendências<br />

na prevalência em jovens do sexo feminino<br />

de15-24 anos podem ser usadas para<br />

determinar as tendências de incidência<br />

200<br />

201


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

(novas infecções). iii 63 A prevalência do HIV<br />

em frequentadores de cuidados pré-natais<br />

de 15-24 anos atingiu o pico em 2004, nos<br />

16 por cento, apresentando uma diminuição<br />

significativa em 2007 para 11 por cento. Em<br />

2009, no mesmo grupo, a prevalência foi<br />

estimada em 12 por cento. 64 A nível nacional,<br />

não se verificou redução significativa na<br />

prevalência do HIV no período de 2002-2009<br />

nas mulheres de 15-24 anos. Nesta faixa<br />

etária, a região Norte apresentou a menor<br />

taxa de prevalência do país. Em 2009, as<br />

áreas urbanas registaram mais elevadas<br />

taxas de prevalência na mesma faixa etária<br />

do que as áreas rurais. 65<br />

A prevalência reflecte tanto a incidência de<br />

uma doença (ou seja, o número de novos<br />

casos), como a longa e variável incubação<br />

do HIV. Com melhorias na provisão de<br />

terapia anti-retroviral, as pessoas infectadas<br />

com o HIV conseguem ter vidas mais longas,<br />

permanecendo mais saudáveis. As taxas<br />

de prevalência podem, portanto, aumentar,<br />

mesmo estando em queda as taxas de novas<br />

infecções. Com apenas uma medida de<br />

prevalência, é difícil determinar se o número<br />

de novos casos está a aumentar, a diminuir<br />

ou se atingiu um patamar e estabilizou.<br />

Torna-se, portanto, fundamental uma análise<br />

da incidência do HIV para responder a<br />

esta questão, sabendo-se, no entanto, que<br />

todos os métodos usados para determinar a<br />

incidência do HIV têm desvantagens. iv<br />

A análise Spectrum dos dados de vigilância<br />

de 2007 estimou que a incidência anual do<br />

HIV em adultos diminuiu de cerca de 2,2 por<br />

cento em 2000 para cerca de 1,6 por cento<br />

em 2008. Isso traduz-se em 129.000 novas<br />

infecções pelo HIV em adultos em 2008. A<br />

incidência anual estimada é de cerca de 2 por<br />

cento nas regiões centro e sul e muito mais<br />

baixa no norte, rondando os 0,7 por cento.<br />

Segundo estimativas, a incidência do HIV<br />

em crianças menores de 15 anos também<br />

tem vindo a diminuir, de cerca de 38.500<br />

novas infecções em 2005 para cerca de<br />

31.000 em 2009, equivalente a cerca de<br />

85 novas infecções por dia. Esta redução<br />

é principalmente atribuída à expansão da<br />

implantação do Programa de Prevenção<br />

da Transmissão Vertical (PTV) (prevenção<br />

de infecções em recém-nascidos) e do<br />

programa de terapia anti-retroviral (redução<br />

da infecciosidade de mulheres grávidas e a<br />

amamentar em tratamento anti-retroviral). O<br />

principal fardo de novas infecções ocorre na<br />

região centro, que em 2009 representou 60<br />

por cento do total nacional de novos casos.<br />

Tal facto é devido a alta prevalência do HIV,<br />

relativamente baixa cobertura de serviços de<br />

prevenção da transmissão vertical, grande<br />

população e elevada taxa de fertilidade. 66<br />

Como a epidemia do HIV está<br />

principalmente concentrada na parcela<br />

economicamente activa da população, ou<br />

seja, nos que têm entre 15 e 49 anos, os seus<br />

efeitos são desproporcionalmente sentidos<br />

pelos grupos de idade que desempenham<br />

um papel fundamental no desenvolvimento<br />

da economia e dos sectores sociais do país.<br />

Um estudo de simulação realizado em 2002<br />

e baseado em dois cenários (um com SIDA,<br />

outro sem SIDA) concluiu que o HIV e a SIDA<br />

poderiam ter um amplo impacto económico<br />

em Moçambique, com uma visível redução<br />

no crescimento do PIB per capita. 67<br />

De acordo com projecções para o período<br />

2000-2010, a epidemia de HIV resultará<br />

numa perda de cerca de 17 por cento dos<br />

iii Como a maioria dos jovens nesse grupo de idades terão dado início à sua actividade sexual, mudanças na prevalência<br />

nesta faixa etária podem representar mudanças no número de infecções recentes.<br />

iv Obtêm-se dados de incidência reais através de estudos de coorte em grande escala. Embora os dados de incidência<br />

sejam melhores do que os dados de prevalência para monitoria da epidemia de HIV, esses estudos apresentam<br />

desvantagens, entre as quais o custo, considerações éticas, desvios de participação e/ou de selecção e o facto de os<br />

incluídos num coorte virem a ter, inevitavelmente, maior exposição às intervenções no âmbito do HIV. Outros métodos<br />

são também utilizados para estimar a incidência, nomeadamente: estimativas indirectas de incidência de HIV, métodos<br />

laboratoriais e modelação matemática da incidência do HIV.<br />

Figura 6.13: Incidência e prevalência de HIV estimada por região em Moçambique, 1998–2010<br />

20%<br />

18%<br />

16%<br />

14%<br />

12%<br />

10%<br />

8%<br />

6%<br />

4%<br />

2%<br />

0%<br />

1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010<br />

Prevalência (S)<br />

Prevalência (C)<br />

Prevalência (N)<br />

Prevalência (Nac)<br />

Incidência (S)<br />

Incidência (C)<br />

Incidência (N)<br />

Incidência (Nac)<br />

Fonte: CNCS, UNAIDS e GAMET, ‘Draft <strong>Mozambique</strong> Analysis of Modes of HIV Transmission and National Response to HIV and SIDA,’<br />

Maputo, 2009.<br />

funcionários do sector de educação. É<br />

possível que a SIDA leve consigo cerca<br />

de 9.200 professores, de todos os níveis.<br />

Por cada trabalhador perdido no sector<br />

da educação, serão perdidos cerca de 18<br />

meses de tempo de trabalho produtivo. 68 A<br />

epidemia do HIV também tem consequências<br />

negativas para outros sectores dada a<br />

necessidade de se substituir e renovar força<br />

de trabalho qualificada.<br />

O sistema de saúde enfrenta dificuldades<br />

na resposta à crescente demanda dos seus<br />

serviços, agravada pelo efeito da epidemia<br />

do HIV nos seus trabalhadores. O HIV/SIDA<br />

fará provavelmente piorar os já precários<br />

rácios trabalhador de saúde por paciente<br />

e médico por paciente em Moçambique. O<br />

elevado número de pacientes em hospitais<br />

e unidades de saúde requerendo tratamento<br />

relativamente caro para a SIDA e infecções<br />

relacionadas representará também uma<br />

considerável factura para o sector da saúde.<br />

4.2. Acções prioritárias em prol<br />

das crianças no âmbito do<br />

HIV e da SIDA<br />

Moçambique adoptou a Declaração de<br />

Compromisso da Sessão Especial das<br />

Nações Unidas para o HIV e a SIDA de<br />

2001, que inclui acções prioritárias relativas<br />

a crianças e SIDA, depois designadas na<br />

campanha Juntos pelas Crianças, Juntos<br />

contra a SIDA de Quatro Ps: 69<br />

• l P1 – Prevenção primária<br />

• l P2 – Prevenção da transmissão vertical<br />

(PTV)<br />

• l P3 – SIDA pediátrico (Paedriatic AIDS)<br />

• l P4 – Protecção de crianças órfãs e<br />

vulneráveis (COV)<br />

Abordam-se nesta secção cada um dos<br />

quatro Ps.<br />

202<br />

203


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

4.3. P1 – Prevenção primária<br />

Os dados do MICS 2008 mostram uma<br />

tendência global positiva em conhecimento<br />

e consciência da transmissão e prevenção<br />

do HIV, em comparação com dados<br />

anteriores a partir do Inquérito Demográfico<br />

e de Saúde 2003. Melhor conhecimento,<br />

consciência e adopção de práticas seguras<br />

estão correlacionados com viver em área<br />

urbana, ter níveis de ensino mais elevados<br />

e pertencer a um mais elevado quintil de<br />

riqueza. Por exemplo, os dados demonstram<br />

uma melhoria no conhecimento que as<br />

mulheres têm sobre a SIDA e como o HIV<br />

é transmitido. Oitenta e um por cento das<br />

mulheres conhecem pelo menos uma das<br />

três principais formas de prevenção da<br />

infecção pelo HIV, e 13 por cento conhecem<br />

as três principais formas. Embora esse<br />

conhecimento seja geralmente baixo, é<br />

maior entre as mulheres que vivem em áreas<br />

urbanas (17 por cento) do que entre as que<br />

vivem em áreas rurais (10 por cento). Quase<br />

65 por cento das mulheres de 15-49 anos<br />

sabe que o uso do preservativo é uma forma<br />

de evitar a infecção pelo vírus. 70<br />

A percentagem de mulheres de 15-49<br />

anos que não aceitam as três principais<br />

concepções erróneas sobre o HIV e a SIDA<br />

tem crescido nos últimos anos. Quase três<br />

em cada quatro mulheres de 15-49 anos<br />

(72 por cento) sabe que o HIV não pode ser<br />

transmitido através de partilha de alimentos<br />

e que uma pessoa que pareça saudável pode<br />

estar infectada com o vírus, enquanto em<br />

2003 os números eram de 63 por cento e 45<br />

por cento, respectivamente. Da mesma forma,<br />

a percentagem de mulheres que sabem que<br />

o HIV não pode ser transmitido por picada de<br />

mosquito aumentou de 37 por cento em 2003<br />

para 64 por cento em 2008. 71<br />

Embora o conhecimento geral sobre o<br />

HIV e seus modos de transmissão tenha<br />

registado uma evolução positiva nos<br />

últimos cinco anos, muita margem ainda<br />

há para melhorias na prevenção real. Mais<br />

conhecimento não é prova de mudança de<br />

atitudes e comportamentos. Um exemplo<br />

é a discrepância entre saber onde se pode<br />

fazer um teste de HIV, 77 por cento das<br />

mulheres entrevistadas, e ter um teste de<br />

HIV, 31 por cento do mesmo grupo (ver<br />

Figura 6.14). As diferenças geográficas entre<br />

o conhecimento da disponibilidade de testes<br />

e a testagem real podem estar relacionadas<br />

com a disponibilidade de serviços de<br />

aconselhamento e testagem em todo o país,<br />

com maior disponibilidade no sul, seguido<br />

pelas regiões centro e norte. 72<br />

Figura 6.14: Identificação de concepções erróneas sobre o HIV, mulheres de 15-49 anos, 2008<br />

80%<br />

70%<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

47%<br />

1997<br />

Fonte: IDS 1997 e 2003, MICS 2008.<br />

63%<br />

45%<br />

37%<br />

72%<br />

72%<br />

2003 2008<br />

Uma pessoa aparentemente saudável não pode ter HIV<br />

O HIV não pode ser transmitido por partilha de comida<br />

O HIV não pode ser transmitido por picada de mosquito<br />

64%<br />

As mulheres em Moçambique tendem<br />

começar a ter relações sexuais numa idade<br />

relativamente precoce. A nível global, 29 por<br />

cento das mulheres de 15-19 anos teve a sua<br />

primeira relação sexual antes de completar<br />

os 15 anos, e 77 por cento das de 20-24 anos<br />

tiveram a primeira relação sexual antes de<br />

atingir os 18. A percentagem de mulheres<br />

entre os 15 e os 19 anos que referiram ter<br />

começado a ter relações sexuais antes dos<br />

15 anos é maior nas zonas rurais, situando-se<br />

em 32 por cento, do que nas áreas urbanas<br />

(24 por cento). Cerca de 16 por cento das<br />

mulheres sexualmente activas relataram ter<br />

tido relações sexuais com um homem 10 ou<br />

mais anos mais velho que elas nos 12 meses<br />

anteriores à entrevista. Estudos na África<br />

Austral constataram sistematicamente que, a<br />

uma maior disparidade de idade corresponde<br />

uma menor probabilidade de sexo seguro. 73<br />

Portanto, as relações sexuais entre homens<br />

mais velhos e mulheres mais jovens são uma<br />

possível explicação das diferentes taxas de<br />

infecção em adolescentes do sexo masculino<br />

e do sexo feminino.<br />

O uso do preservativo continua a ser<br />

relativamente baixo em Moçambique,<br />

especialmente nas áreas rurais e em<br />

mulheres menos instruídas. Apenas 44<br />

por cento das mulheres de 15-24 anos que<br />

tiveram nos últimos 12 meses relações<br />

sexuais com um parceiro não regular ou com<br />

Figura 6.15: Probabilidade de não uso de preservativo em relação sexual, mulheres de 15-24 anos, 2008<br />

Probabilidade de não uso de preservativo<br />

1<br />

-75<br />

-5<br />

15 17<br />

19 21 23 24<br />

age<br />

Fonte: Cálculos do <strong>UNICEF</strong> baseados no MICS 2008.<br />

Poligâmica<br />

que não coabitam usaram preservativo na<br />

última relação sexual. A percentagem foi<br />

mais elevada nas mulheres do quintil mais<br />

abastado (64 por cento) que nas mulheres<br />

das famílias mais pobres (12 por cento).<br />

Foi efectuada uma análise multivariada<br />

de regressão probabilística (utilizando o<br />

modelo probit) para examinar os factores<br />

correlacionados com a exposição das<br />

mulheres a comportamento sexual de risco.<br />

A variável dependente foi se tinha sido<br />

usado preservativo na última relação sexual<br />

da mulher com um parceiro com que não<br />

coabitava, uma vez que tal se considera<br />

um bom representante (proxy) de atitudes<br />

em relação a comportamento sexual de<br />

risco. A razão básica é que as mulheres<br />

que têm relações sexuais protegidas com<br />

um parceiro com que não coabitam estão<br />

menos dispostas a expor-se ao HIV e outras<br />

doenças de transmissão sexual.<br />

As mulheres que têm o ensino secundário<br />

ou superior são menos propensas a<br />

expor-se a riscos; este grupo apresenta<br />

uma probabilidade quase 50 por cento<br />

inferior de comportamentos de risco que<br />

as mulheres sem instrução. Ter apenas<br />

o ensino primário não parecem estar<br />

correlacionado com atitudes das mulheres<br />

em relação a comportamento sexual de<br />

risco. Surpreendentemente, o modelo<br />

mostra que as mulheres com conhecimento<br />

Monogâmica<br />

204<br />

205


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

correcto sobre a transmissão do HIV são<br />

tão propensas a ter relações sexuais<br />

do HIV. Outro resultado interessante é<br />

relações poligâmicas (ver Figura 6.15).<br />

relação positiva com o uso do preservativo,<br />

enquanto viver em áreas rurais está<br />

positivamente associado a alto risco de<br />

comportamento sexual.<br />

Curiosamente, estes indicadores<br />

comportamentais parecem não corresponder<br />

ao perfil de prevalência do HIV que<br />

recentemente se constatou a partir dos<br />

resultados preliminares do INSIDA:<br />

Tanto nos homens como nas mulheres,<br />

a prevalência foi maior no mais elevado<br />

quintil de riqueza, e maior entre os<br />

indivíduos com instrução do que entre os<br />

possíveis correlações entre as constatações<br />

comportamentais e a seroprevalência.<br />

4.4. P2 – Prevenção da<br />

transmissão vertical do HIV<br />

Em todo o mundo, 700.000 crianças menores<br />

de 15 anos são infectadas anualmente com<br />

o HIV, e mais de 90 por cento das infecções<br />

pediátricas por HIV resultam da transmissão<br />

do vírus da mãe para a criança. 74 Chegam<br />

a dois terços as infecções de crianças que<br />

se verificam durante o parto, o nascimento<br />

e a gestação, ocorrendo um terço durante<br />

o aleitamento. 75 Sem medidas preventivas,<br />

as taxas de transmissão são de15 a 40 por<br />

cento, mas, com tratamento anti-retroviral<br />

eficaz e cuidados, podem ser reduzidas até<br />

dois por cento, como se verifica nos países<br />

desenvolvidos. 76<br />

desprotegidas como as mulheres que não<br />

que a probabilidade de actividade de alto<br />

a mulheres em relações monogâmicas,<br />

Em termos de características do agregado<br />

que não têm instrução. O relatório final do<br />

estão cientes dos canais de transmissão<br />

risco aumenta com a idade no que respeita<br />

enquanto diminui para as mulheres em<br />

familiar e do local, a riqueza parece ter uma<br />

INSIDA trará certamente mais luz sobre as<br />

Em 2008, estimava-se que as intervenções<br />

de PTV em Moçambique tivessem evitado<br />

se traduz numa redução de 15,6 por cento<br />

prevenção tem-se expandido rapidamente,<br />

estavam concentrados e em torno das capitais<br />

provinciais, mas em 2009, as intervenções de<br />

prevenção estavam integradas em serviços<br />

de cuidados pré-natais em todos os distritos,<br />

incluindo várias unidades de saúde periféricas.<br />

A cobertura populacional da PTV e as<br />

intervenções de terapia anti-retroviral<br />

pediátrica foram revistas em 2010, com<br />

base em estimativas mais precisas da<br />

população a partir dos dados do INSIDA. 78<br />

As estimativas revistas indicam que<br />

estudos anteriores haviam sobrestimado<br />

a população de mulheres HIV positivas.<br />

de PTV (cobertura da população) tem,<br />

portanto, aumentado significativamente.<br />

Estimativas prévias 79 indicavam que cerca<br />

de 46 por cento das mulheres grávidas<br />

estavam a receber a profilaxia necessária<br />

para reduzir a transmissão vertical do HIV.<br />

Estimativas revistas indicam que 70 por<br />

cento das mulheres estão realmente a<br />

receber tratamento. 80 A Figura 6.16 mostra<br />

o número absoluto de mulheres grávidas<br />

que recebem tratamento de PTV e a<br />

percentagem de mulheres que recebem antiretrovirais<br />

para PTV com base em estimativas<br />

populacionais anteriores e mais recentes.<br />

Embora as estimativas de tratamento<br />

revistas sejam encorajadoras, é de notar<br />

que o tratamento se distribui de forma<br />

desigual. As mulheres grávidas no sul do<br />

país têm significativamente maior acesso ao<br />

tratamento que as suas congéneres do norte.<br />

cerca de 5.820 novas infecções por HIV<br />

a nível nacional. 77 O programa de PTV foi<br />

a criação do programa nacional, o número de<br />

de oito em 2002 para mais de 800 no final<br />

Estima-se que a percentagem de mulheres<br />

em crianças menores de 15 anos, o que<br />

introduzido em Moçambique em 2002. Desde<br />

unidades de saúde que oferecem serviços de<br />

de 2009. v No início, a maioria dos serviços<br />

seropositivas que estão a receber serviços<br />

Figura 6.16: Tendências na cobertura de PTV entre 2002 e 2009<br />

80.000<br />

70.000<br />

60.000<br />

50.000<br />

40.000<br />

30.000<br />

20.000<br />

10.000<br />

7,690<br />

877<br />

3,182<br />

253<br />

8.9%<br />

0<br />

Políticas de PTV em Moçambique<br />

Em Novembro de 2006, o Ministério da<br />

Saúde emitiu uma directiva 81 introduzindo<br />

várias políticas-chave: testagem por<br />

iniciativa do provedor (testagem `opt-out’),<br />

oferecida tanto nos cuidados pré-natais<br />

como em locais de maternidade; amostras<br />

de sangue para contagem de células<br />

CD4 nas instalações de atendimento prénatal;<br />

testagem da reacção em cadeia da<br />

polimerase (RCP) do ADN para crianças<br />

expostas ao HIV com menos de 18 meses.<br />

Foi introduzido oficialmente o uso de terapia<br />

de combinação para profilaxia (dose única<br />

de nevirapina [NVP] durante o parto, mais<br />

zidovudina [AZT] a partir de 28 semanas), e<br />

o início do tratamento com nevirapina em<br />

mulheres grávidas foi antecipado das 36<br />

semanas para as 28 semanas. Foi reforçada<br />

a integração dos serviços de PTV nos<br />

Recentes mudanças nas orientações<br />

globais para a prevenção da transmissão<br />

vertical requerem uma abordagem mais<br />

abrangente e mais agressiva. Estas<br />

alterações incluem: terapia anti-retroviral<br />

vitalícia para as mulheres seropositivas que<br />

necessitam de tratamento; antecipação do<br />

início de regimes de profilaxia eficazes; e<br />

manutenção desses regimes durante o pósv<br />

Dados do Relatório da UNGASS.<br />

Número de mulheres grávidas seropositivas<br />

a receber profilaxia de PTV<br />

12,150<br />

13.7%<br />

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />

Número de mulheres grávidas seropositivas a receber profilaxia de ARV<br />

Fonte: Ministry of Health, Annual Report, National Laboratory Services, Maputo, 2009.<br />

24,320<br />

26.4%<br />

16.0%<br />

46,848<br />

49.3%<br />

32.0%<br />

68,248<br />

70.4%<br />

100%<br />

90%<br />

80%<br />

70%<br />

60%<br />

50%<br />

45.8% 40%<br />

Percentagem do total estimado de mulheres grávidas seropositivas que receberam PTV (novas estimativas)<br />

Percentagem de mulheres grávidas seropositivas a receber profilaxia de ARV (estimativa da UNGASS)<br />

serviços de saúde materno-infantil, visando<br />

aumentar a adesão à terapia anti-retroviral<br />

por mulheres grávidas. Foi recomendado<br />

que se restaurasse a prática de Consultas<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

para Crianças em Risco para fortalecer o<br />

seguimento das crianças nascidas de mães<br />

seropositivas.<br />

0<br />

Percentagem de necessidades de PTV satisfeitas<br />

A criação pelas unidades de saúde de grupos<br />

de apoio às mães também foi incluída nas<br />

directiva como um passo necessário para<br />

ajudar as mulheres grávidas e a amamentar<br />

a aderirem a intervenções de PTV e posterior<br />

acompanhamento dos seus filhos expostos<br />

ao HIV. As directrizes sobre os grupos de<br />

apoio às mães foram desenvolvidas na<br />

sequência de um mapeamento nacional<br />

desta intervenção em 2008. A versão final<br />

das directrizes aguarda aprovação.<br />

206<br />

207


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

parto e o aleitamento. 82 No início de 2010,<br />

a política do Ministério da Saúde mudou<br />

para reflectir algumas das indicações<br />

internacionais revistas da OMS, incluindo<br />

o aumento dos níveis em que as mulheres<br />

grávidas com baixas contagens de CD4 são<br />

consideradas elegíveis para Terapia Antiretroviral<br />

Altamente Activa (HAART), 83 o<br />

início precoce da profilaxia para mulheres, e<br />

o prosseguimento de nevirapina pela criança<br />

até ao desmame do seio materno.<br />

O sucesso de um programa de PTV depende<br />

de uma complexa cascata de intervenções,<br />

integrada com os serviços de saúde<br />

materno-infantil, como adiante se descreve.<br />

Conhecimento da prevenção da<br />

transmissão vertical do HIV<br />

O nível de conhecimento sobre a<br />

transmissão vertical do HIV na população<br />

moçambicana tem vindo a aumentar. O<br />

Inquérito Demográfico e de Saúde revelou<br />

que apenas 44 por cento das mulheres e<br />

43 por cento dos homens de 15-49 anos<br />

sabia que o HIV podia ser transmitido de<br />

mãe para filho durante a gravidez, o parto<br />

e a amamentação. Os dados do MICS 2008<br />

revelam que nas mulheres da mesma faixa<br />

etária, esse conhecimento aumentou para<br />

78 por cento. Os níveis de conhecimento<br />

Figura 6.17: Testagem e aconselhamento em consultas pré-natais, 2003 e 2008<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

51%<br />

57%<br />

são mais elevados nas áreas urbanas (89<br />

por cento) do que nas rurais (72 por cento).<br />

Além disso, os dados mostram que 70 por<br />

cento das mulheres entrevistadas sabem<br />

que o vírus pode ser transmitido através da<br />

amamentação (em comparação com 50 por<br />

cento das mulheres em 2003). Apenas pouco<br />

mais de metade (55 por cento) das mulheres<br />

conhecem os três principais métodos de<br />

transmissão do HIV (MICS 2008).<br />

Aconselhamento e testagem como<br />

parte dos cuidados pré-natais<br />

Apesar de o aconselhamento sobre o<br />

HIV para mulheres grávidas durante as<br />

consultas pré-natais ter aumentado de 51<br />

por cento em 2003 para 57 por cento em<br />

2008, continua a ser baixo. As disparidades<br />

geográficas na percentagem de mulheres<br />

que receberam aconselhamento sobre o HIV<br />

como parte das suas consultas pré-natais<br />

são grandes, variando de 28 por cento na<br />

província da Zambézia (27 em 2003) para 94<br />

por cento na Cidade de Maputo (81 por cento<br />

em 2003). 84<br />

A percentagem de mulheres que foram<br />

testadas em termos de HIV como parte do<br />

seu atendimento pré-natal tem registado<br />

grande aumento. Em 2008, 46 por cento<br />

das mulheres grávidas de 15-49 anos<br />

3%<br />

0%<br />

Receberam informação sobre a prevenção<br />

Fizerem teste de HIV em consulta pré-natal<br />

do HIV em consulta pré-natal*<br />

2003 2008<br />

Fonte: IDS 2003, MICS 2008.<br />

46%<br />

foram submetidos a um teste de HIV no<br />

âmbito das suas consultas pré-natais, em<br />

comparação com apenas 3 por cento em<br />

2003. A percentagem de mulheres testadas<br />

em termos de HIV varia entre as diferentes<br />

províncias, com apenas 19 por cento<br />

testadas na província da Zambézia em 2008,<br />

em comparação com 95 por cento na Cidade<br />

de Maputo. 85 Quarenta e três por cento das<br />

mulheres receberam os seus resultados.<br />

Entre as mulheres grávidas que receberam<br />

aconselhamento em matéria de HIV, 82 por<br />

cento fizeram teste de HIV, de acordo com<br />

o MICS 2008, o que resulta provavelmente<br />

de testagem por iniciativa do provedor e de<br />

aconselhamento nos serviços de cuidados<br />

pré-natais, bem como da progressiva<br />

normalização da inclusão de um teste de HIV<br />

nos serviços pré-natais.<br />

O acesso a informação sobre o HIV e<br />

testagem nas consultas pré-natais está<br />

altamente correlacionado com a riqueza da<br />

mulher. Apenas 26 por cento das mulheres<br />

Figura 6.18: Testagem e aconselhamento de HIV em consultas pré-natais, por quintil de riqueza, 2008<br />

90%<br />

80%<br />

70%<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

41%<br />

Fonte: MICS 2008.<br />

26%<br />

48%<br />

33%<br />

Mais baixo Segundo Médio Quarto Mais elevado<br />

Receberam informação sobre a prevenção<br />

do HIV em consulta pré-natal<br />

58%<br />

mais pobres foram testados em termos de<br />

HIV, em comparação com 86 por cento das<br />

mulheres mais abastadas (ver Figura 6.18).<br />

Profilaxia anti-retroviral para mulheres<br />

grávidas<br />

Para reduzir a transmissão vertical do vírus,<br />

bem como para o seu próprio tratamento,<br />

quando elegíveis, as mulheres seropositivas<br />

grávidas recebem medicamentos antiretrovirais<br />

para profilaxia. O acesso à terapia<br />

anti-retroviral tem vindo a aumentar desde<br />

o início do programa em 2002. A cobertura<br />

de profilaxia anti-retroviral para a população<br />

global de mulheres grávidas seropositivas<br />

(testadas e não testadas) foi de 0,2 por cento<br />

em 2002, aumentando para 30 por cento em<br />

2007, 32 por cento em 2008 e 45,8 por cento<br />

em 2009. 86 vi É importante referir que estes<br />

números se referem apenas à cobertura dos<br />

serviços prestados durante os cuidados prénatais,<br />

excluindo as mulheres que acedem<br />

a terapia anti-retroviral em maternidades.<br />

Esta abordagem foi adoptada pelo Ministério<br />

41%<br />

72%<br />

64%<br />

87%<br />

86%<br />

Fizeram o teste de HIV em consulta pré-natal<br />

vi Note-se que a cobertura populacional da PTV e das intervenções anti-retrovirais pediátricas será revista, na última parte<br />

de 2010, com base em estimativas mais precisas da população no INSIDA<br />

208<br />

209


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

da Saúde para evitar a dupla contagem de<br />

mulheres com acesso tanto a serviços prénatais<br />

como a maternidades, mas resulta em<br />

sub-notificação. Espera-se que, num futuro<br />

próximo, o novo Cartão de Cuidados Pré-<br />

Natais, em vias de finalização, torne mais<br />

clara a notificação e permita uma recolha<br />

de informações fiáveis sobre a cobertura da<br />

PTV.<br />

É fundamental que se dê prioridade ao<br />

acesso das mulheres grávidas a TARV. A<br />

HAART minimiza o risco de transmissão<br />

pós-natal em mães a amamentar com<br />

baixa contagem de CD4 e elevada carga<br />

viral, as quais enfrentam desafios na<br />

implementação das opções de alimentação<br />

infantil recomendadas. As mulheres com<br />

CD4 inferior a 200 células /microlitro (µL)<br />

têm cinco vezes mais probabilidade de<br />

transmitir o HIV durante o aleitamento do<br />

que as mulheres com CD4 acima de 500<br />

células /µL. 87 A HAART pode reduzir o risco<br />

de transmissão para aproximadamente<br />

dois por cento, em comparação com outras<br />

intervenções, como, por exemplo, dose única<br />

de nevirapina, que reduz o risco para 10-15<br />

por cento.<br />

Em 2009, de todas as mulheres grávidas<br />

que receberam intervenções de PTV, 48 por<br />

cento receberam dose única de nevirapina,<br />

40 por cento uma combinação de nevirapina<br />

e AZT (biterapia), e 11 por cento HAART para<br />

sua própria saúde. O número de mulheres<br />

seropositivas grávidas que receberam<br />

HAART para sua própria saúde foi de 53<br />

em 2003, aumentando para 3.647 em 2007,<br />

6.388 em 2008 e 7.791 em 2009 (equivalente<br />

a 5 por cento do total estimado de mulheres<br />

seropositivas grávidas no país).<br />

Embora se esteja a registar progresso, o<br />

número de mulheres grávidas que recebem<br />

anti-retrovirais para a sua própria saúde<br />

permanece abaixo das expectativas.<br />

A HAART em 2010 é oferecida apenas<br />

em serviços de saúde seleccionados,<br />

denominados postos de Tratamento Antiretroviral.<br />

Quer isto dizer que as mulheres<br />

grávidas, ao invés de poderem aceder a<br />

HAART como parte integrante dos serviços<br />

de PTV, são encaminhadas principalmente<br />

para postos de Tratamento Anti-retroviral,<br />

que podem localizar-se numa outra unidade<br />

sanitária. Isto interfere com o acesso,<br />

nomeadamente com a triagem para<br />

elegibilidade.<br />

Profilaxia anti-retroviral para bebés<br />

De acordo com as directrizes internacionais<br />

de PTV e o protocolo revisto da Terapia Anti-<br />

Retroviral para mulheres grávidas (opção<br />

A), 88 todas as crianças expostas nascidas<br />

de mães seropositivas devem receber<br />

profilaxia anti-retroviral com nevirapina<br />

no prazo de 72 horas após o parto, e<br />

prosseguir com nevirapina até que deixem<br />

de ser amamentadas. Dados do Ministério<br />

da Saúde revelam, porém, que apenas<br />

uma estimativa de 40-50 por cento das<br />

mulheres grávidas seropositivas dão à luz<br />

em unidades sanitárias em Moçambique. O<br />

facto de os partos institucionais constituírem<br />

apenas cerca de metade dos partos é um<br />

claro nó de estrangulamento na prestação<br />

de profilaxia anti-retroviral para recémnascidos<br />

nas primeiras 72 horas de vida.<br />

Apesar desta restrição, o número de crianças<br />

que receberam profilaxia anti-retroviral<br />

passou de 328 em 2002 para 41.266 em 2009,<br />

correspondendo a 58 por cento de todas<br />

as crianças que se estima terem nascido<br />

de mães seropositivas e 83 por cento das<br />

mulheres grávidas que receberam qualquer<br />

Figura 6.20: Cascata de PTV pré-natal e pós-natal, 2009<br />

tipo de anti-retrovirais para PTV no mesmo<br />

período. O aumento pode ser atribuível,<br />

em parte, à crescente taxa de partos<br />

institucionais de mulheres seropositivas<br />

envolvidas em PTV, bem como ao facto de<br />

os recém-nascidos serem por vezes levados<br />

a serviços de maternidade até 72 horas após<br />

o nascimento para receber tratamento antiretroviral.<br />

Cobertura de Cotrimoxazole para<br />

crianças expostas ao HIV<br />

Directrizes internacionais recomendam<br />

a administração de profilaxia de<br />

Cotrimoxazole a crianças nascidas de<br />

mães seropositivas ou crianças a viver<br />

com HIV. 89 Esta é uma intervenção com<br />

boa relação custo-benefício que pode ser<br />

amplamente aplicada, mesmo em ambientes<br />

com parcos recursos. Directrizes nacionais<br />

indicam que, para as crianças expostas, a<br />

profilaxia deve começar às quatro semanas.<br />

Evidência anedótica de visitas de supervisão<br />

às unidades de saúde indica que essa<br />

intervenção é amplamente implementada no<br />

Figura 6.19: Partos assistidos, 1997, 2003 e 2008<br />

1.000.000<br />

100%<br />

56%<br />

90%<br />

52%<br />

55%<br />

900.000<br />

800.000<br />

888.861<br />

80%<br />

70%<br />

700.000<br />

600.000<br />

649.820<br />

60%<br />

500.000<br />

50%<br />

40%<br />

48%<br />

44%<br />

45%<br />

400.000<br />

300.000<br />

30%<br />

200.000<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

1997 2003 2008<br />

Parteiras tradicionais/outros/ninguém Pessoal qualificado<br />

100.000<br />

0<br />

Grávidas<br />

aconselhadas<br />

e testadas<br />

Grávidas<br />

frequentando<br />

cuidados<br />

pré-natais<br />

150.000<br />

Estimativa<br />

de grávidas<br />

seropositivas<br />

70.289 68.248 41.266<br />

Seropositivas<br />

Grávidas<br />

a receber<br />

profilaxia ARV<br />

Crianças<br />

a receber<br />

profilaxia ARV<br />

Source: DHS 1997 and 2003, MICS 2008.<br />

Fonte: Ministry of Health, Annual Report, National Laboratory Services, Maputo, 2009.<br />

210<br />

211


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

país, mas que ainda não estão disponíveis<br />

números fiáveis sobre a cobertura nacional.<br />

Uma significativa percentagem de mulheres<br />

abandona os serviços em cada fase de uma<br />

cascata de serviços pré-natais e pós-natais<br />

(ver Figura 6.20). Nem todas as mulheres<br />

grávidas que frequentam cuidados pré-natais<br />

receberam aconselhamento e testagem, e<br />

menos ainda receberam a profilaxia antiretroviral.<br />

Da mesma forma, apesar do<br />

crescente número de crianças expostas<br />

ao HIV que podem de aceder a profilaxia<br />

anti-retroviral, são relativamente poucas as<br />

que acabam por ter a sua seropositividade<br />

confirmada através de testes.<br />

Futuros planos e metas<br />

A redução da transmissão vertical do HIV há<br />

vários anos que tem sido uma importante<br />

prioridade do governo. O segundo plano<br />

nacional estratégico para combater o HIV/<br />

SIDA, que cobre 2005-2009, estabeleceu<br />

uma meta de cobertura da PTV de 90 por<br />

cento até ao ano de 2009, com base na meta<br />

do Ministério da Saúde de 60 por cento de<br />

cobertura até ao ano 2008. 90 Moçambique<br />

Figura 6.21: Número estimado de crianças com menos de 15 anos vivendo com HIV, menores de 5 vivendo com<br />

HIV, número de novas infecções em menores de 15, e número de crianças com menos de 15 anos a necessitar de<br />

tratamento/terapia anti-retroviral, 2006–2010<br />

180.000<br />

160.000<br />

140.000<br />

120.000<br />

100.000<br />

80.000<br />

60.000<br />

40.000<br />

20.000<br />

0<br />

2006<br />

2007<br />

comprometeu-se também, para a meta de<br />

acesso universal, a alcançar pelo menos<br />

80 por cento das mulheres grávidas e seus<br />

bebés com as intervenções de PTV em 2010.<br />

As metas definidas em 2009 continuam<br />

abaixo do necessário para se atingir a meta<br />

do acesso universal, com a justificação de<br />

que o país não tem capacidade para atingir<br />

metas mais ambiciosas. As metas foram<br />

revistas em alta em Julho de 2010 dados os<br />

muito positivos progressos alcançados nos<br />

anos anteriores, nomeadamente em 2009<br />

(altura em que o país já tinha alcançado o<br />

que fora inicialmente planeado como meta<br />

para 2011). A meta revista do Ministério da<br />

Saúde visa atingir o valor de referência de<br />

90% de cobertura de serviços de PTV em<br />

mulheres grávidas seropositivas o mais<br />

tardar até ao ano 2015.<br />

4.5. P3 – SIDA Pediátrica<br />

Estima-se que houvesse cerca de 148.000<br />

crianças menores de 15 anos a viver com<br />

HIV em Moçambique em 2009, número que<br />

deverá aumentar para mais de 150.000 mil<br />

em 2010. 91 Mais de metade das crianças<br />

2008 2009<br />

2010<br />


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

Todas as crianças com menos de 24 meses<br />

com diagnóstico confirmado de infecção por<br />

HIV devem começar a fazer o tratamento antiretroviral,<br />

independentemente do estágio<br />

clínico ou imunológico, de acordo com as<br />

recomendações internacionais e directrizes<br />

nacionais emitidas em Outubro de 2008. 99 Em<br />

2009, o teste de RCP estava a ser realizado em<br />

dois laboratórios, em Maputo e Nampula, com<br />

um terceiro na Beira que se previa começar<br />

a efectuar testes em 2010. A partir de 2009,<br />

dados relativos ao acesso universal nacional 100<br />

reportaram pelo menos 287 pontos de colecta<br />

de amostras de gotas de sangue seco em<br />

unidades sanitárias a nível periférico para<br />

análise de RCP em laboratórios de referência.<br />

Uma série de constrangimentos dificultam<br />

uma testagem eficaz da RCP, incluindo longos<br />

atrasos devido ao transporte das amostras<br />

e à sistemática falta de materiais utilizados<br />

nos testes. Uma inovação positiva foi a<br />

introdução em 2009, numa base experimental,<br />

de tecnologia de impressão do serviço de<br />

mensagens escritas (sms) para dar feedback<br />

dos resultados da RCP às unidades sanitárias.<br />

Foi planeado para 2010 o lançamento a nível<br />

nacional desta tecnologia, esperando-se que<br />

melhore substancialmente o diagnóstico<br />

infantil precoce no país.<br />

Tabela 6.3: Metas relativas ao HIV pediátrico, 2009<br />

Meta do<br />

Modelo de<br />

Projecção para<br />

crianças em<br />

TARV (limite<br />

inferior)<br />

Em 2005, o Governo fez da expansão do<br />

tratamento pediátrico uma prioridade na<br />

luta contra a SIDA e a pobreza. No PARPA<br />

II, foi estabelecida uma meta de tratamento<br />

para 33.000 crianças até 2009, que, no<br />

entanto, não foi atingida; a avaliação do<br />

PARPA II mostra que apenas 11.000 crianças<br />

estavam a receber tratamento em 2009. Em<br />

2008, o Ministério da Saúde decidiu reduzir<br />

drasticamente as metas anuais para 11.500<br />

crianças em tratamento em 2008, quando<br />

no PARPA II a meta era de 20.826. Esta<br />

meta foi revista com base numa análise<br />

do progresso e nas projecções do número<br />

de novas crianças que iniciaram cada mês<br />

a terapia anti-retroviral no ano anterior.<br />

Depois de intensa acção de advocacia,<br />

e após a adopção por Moçambique das<br />

novas normas para a terapia anti-retroviral<br />

pediátrica vii e a expansão do diagnóstico<br />

infantil precoce através da instalação de<br />

duas máquinas de RCP nas regiões norte e<br />

centro do país, o Ministério da Saúde, em<br />

colaboração com os seus parceiros, decidiu<br />

rever as metas em 2009 (ver Tabela 6.3).<br />

Embora representem uma melhoria, estas<br />

metas revistas continuam muito abaixo dos<br />

objectivos originais do PARPA II e ainda<br />

mais do compromisso de acesso universal.<br />

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014<br />

Crianças com ARV 6.451 9.393 13.500 18.817 23.818 29.058 34.258 39.743<br />

Crianças com ARV<br />

como percentagem 7,1% 7,3% 8,5% 9,9% 10,7% 11,4% 11,9% 12,3%<br />

do total<br />

Cobertura 21% 28% 37% 45% 52% 58% 64%<br />

Fonte: Ministry of Health, Departamento Nacional de Assistência Médica, HIV Programme Report, Ministério da Saúde, Maputo, 2009.<br />

vii Iniciar a terapia anti-retroviral para todas as crianças seropositivas com 0-1 anos de idade; testagem da RCP para todas<br />

as crianças de 0-9 meses, usando testes rápidos; alterações às normas de contagem de células CD4; utilização das quatro<br />

etapas da Organização Mundial da Saúde, em vez de três; e introdução de comprimidos solúveis em lugar de xaropes.<br />

4.6. P4 – Proteger as crianças<br />

órfãs e vulneráveis<br />

afectadas pela SIDA<br />

Estima-se que haja 1,8 milhões de órfãos em<br />

Moçambique, dos quais 510.000 devido à<br />

SIDA. 101 Este número deverá aumentar, com<br />

a SIDA como causa provável de orfandade<br />

na maioria dos casos, não sendo aqui<br />

consideradas outras crianças eventualmente<br />

vulneráveis devido ao impacto do HIV na<br />

sua família. Uma criança é considerada<br />

órfã ou vulnerável (COV) se um ou ambos<br />

os seus pais naturais tiverem morrido, se<br />

pelo menos um dos seus progenitores está<br />

cronicamente doente, se tiver morrido um<br />

adulto no agregado familiar nos últimos<br />

12 meses após doença prolongada, ou se<br />

houver um adulto cronicamente doente no<br />

agregado familiar.<br />

As crianças órfãs estão mais expostas a<br />

riscos do que as que não órfãs. Estes riscos<br />

incluem: aumento de agregados familiares<br />

chefiados por irmãos ou crianças, mais fraco<br />

ingresso e desempenho escolar, maior risco<br />

de abuso sexual e infecção pelo HIV, risco<br />

de trabalho infantil perigoso, actividade<br />

sexual e casamento precoces, aumento do<br />

risco de graves problemas psicossociais<br />

e problemas de saúde e nutrição. 102 Além<br />

disso, o estigma e a discriminação contra<br />

as pessoas infectadas ou afectadas pelo<br />

HIV/SIDA continuam a ser uma questão<br />

desafiadora. As crianças e os jovens com<br />

familiares doentes ou moribundos estão<br />

particularmente expostos ao estigma.<br />

Podem ser ostracizados pelas suas<br />

comunidades e receber um apoio mínimo<br />

das suas famílias devido à vergonha e<br />

ao estigma presentemente associados a<br />

uma morte relacionada com a SIDA. Nas<br />

escolas, a discriminação contra a criança<br />

exprime-se por provocação e intimidação.<br />

Em alguns casos, as crianças evitam seus<br />

pares seropositivos devido ao receio de<br />

que possam ser infectadas. Um estudo<br />

participativo sobre os mecanismos das<br />

famílias e comunidades para fazer face<br />

às dificuldades no contexto da SIDA,<br />

realizado em todo o país pelo <strong>UNICEF</strong>, em<br />

colaboração com o Ministério da Mulher e<br />

da Acção Social, em 2004, constatou que<br />

cerca de metade dos agregados familiares<br />

pesquisados consideravam que as crianças<br />

órfãs devido à SIDA eram susceptíveis de ser<br />

estigmatizadas. 103<br />

4.7. Nutrição e HIV<br />

A desnutrição, a insegurança alimentar,<br />

a infecção pelo HIV e a SIDA reforçamse<br />

mutuamente. As pessoas que vivem<br />

com HIV têm acrescidas necessidades<br />

energéticas, mas a infecção pelo HIV ou<br />

infecções oportunistas conectas podem<br />

reduzir a sua capacidade de absorver<br />

nutrientes e diminuir o apetite, o que as<br />

pode levar a perder peso e enfraquecer.<br />

Pode seguir-se um ciclo vicioso em que elas<br />

estão menos capazes de trabalhar, manter<br />

um emprego e cuidar de si, tornando-se<br />

assim ainda mais fracas. Além disso, se não<br />

recebem tratamento, ficam mais propensas a<br />

infecções oportunistas e acabam por evoluir<br />

para SIDA. Os membros da sua família<br />

também podem ser afectados se, para a<br />

sua alimentação, despesas e assistência,<br />

dependerem da pessoa com HIV.<br />

Relativamente a crianças, que precisam de<br />

energia e nutrientes para crescer, pode ser<br />

ainda mais severo o impacto da infecção<br />

pelo HIV no seu estado nutricional. As<br />

COV são especialmente vulneráveis à<br />

desnutrição, dependendo de viverem ou<br />

não em ambiente familiar e do seu acesso<br />

aos recursos necessários. O estudo da<br />

pobreza baseada em privações analisou as<br />

COV como grupo, tendo constatado que<br />

22 por cento tinham privação nutricional<br />

severa (acentuada baixa altura para a idade,<br />

insuficiência de peso ou baixo peso para a<br />

altura). 104<br />

O tratamento anti-retroviral pode ajudar a<br />

melhorar o estado nutricional de pessoas<br />

vivendo com HIV, uma vez que melhora o<br />

seu estado de saúde. Ao mesmo tempo,<br />

no entanto, os medicamentos podem ter<br />

efeitos colaterais, que podem ser agravados<br />

quando o consumo de alimentos não é o<br />

adequado. O apetite das pessoas geralmente<br />

214<br />

215


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

aumenta quando a sua saúde melhora, o<br />

que, em ambiente de insegurança alimentar<br />

e pobreza, pode constituir um desafio.<br />

Evidências pontuais sugerem que a falta de<br />

alimentos pode ser uma importante razão<br />

para abandonar o tratamento.<br />

Uma análise do estado nutricional e da<br />

vulnerabilidade de 920 pessoas vivendo<br />

com HIV e recebendo anti-retrovirais em<br />

33 distritos 105 constatou que um quarto<br />

delas estavam desnutridas (índice de massa<br />

corporal inferior a 18,5 kg/m2). Um quinto<br />

recebeu apoio alimentar. A segurança<br />

alimentar e a vulnerabilidade foram medidos<br />

com base no consumo de alimentos e no uso<br />

de estratégias de sobrevivência. O estudo<br />

concluiu que dois terços dos entrevistados<br />

eram vulneráveis e viviam em situação de<br />

insegurança alimentar.<br />

4.8. Conclusões<br />

Estima-se que em 2010 mais de 1.7 milhões<br />

de Moçambicanos estejam a viver com o<br />

HIV, incluindo cerca de 150.000 crianças<br />

menores de 15 anos. Nas áreas urbanas<br />

tais como a cidade de Maputo, a SIDA<br />

está a tornar-se uma causa comum de<br />

morte de crianças menores de cinco anos.<br />

Concentrados na população entre os 15 e 49<br />

anos, o HIV e a SIDA estão a ter um amplo<br />

impacto social e económico. A força de<br />

trabalho qualificada necessária tanto para<br />

o crescimento económico e a provisão de<br />

serviços sociais tais como cuidados de saúde<br />

e educação está a reduzir. Moçambique<br />

está a responder à epidemia do HIV através<br />

da campanha dos Quatro “P”: Prevenção<br />

primária, PTV, SIDA Pediátrico e Protecção<br />

de crianças órfãs e vulneráveis.<br />

Apesar do progresso feito na implementação<br />

do programa de PTV, a falta de seguimento<br />

das mães e das crianças continua um sério<br />

constrangimento. O sistema de saúde faz<br />

face a escassez de recursos humanos que<br />

tem comprometido o acesso a e provisão<br />

de serviços de qualidade. Por outro lado, o<br />

estigma e a discriminação associados com<br />

o HIV podem prevenir que muitas mulheres<br />

grávidas e seus recém-nascidos acedam e<br />

adiram às intervenções de PTV. As mães<br />

receiam que possam perder suas famílias<br />

como resultado de serem testadas ou<br />

comunicarem o seu estado serológico de HIV<br />

aos seus parceiros.<br />

O sistema de saúde em Moçambique<br />

necessita desenvolver estratégias para<br />

criar um ambiente propício que encoraje<br />

o envolvimento activo de parceiros e<br />

famílias na saúde materno-infantil (p.e.<br />

aconselhamento e testagem de casais,<br />

partos assistidos por pessoal qualificado,<br />

etc.). O programa de PTV deve ser tornado<br />

mais abrangente e aceitável à participação<br />

masculina e deveria estar ligado às<br />

intervenções de saúde na comunidade<br />

para facilitar seguimento activo das mães<br />

e crianças que actualmente desistem. A<br />

experiência do Ruanda mostra que quando<br />

os parceiros estão envolvidos e informados,<br />

uma mulher sente-se mais propensa a<br />

participar nos serviços de PTV e procura<br />

activamente outros serviços de saúde<br />

materna e HIV.<br />

5. Questões ambientais e mudança<br />

climática<br />

Crianças de todo o mundo, e<br />

particularmente dos países em<br />

desenvolvimento, estão entre os menos<br />

responsáveis pela degradação ambiental e<br />

pela mudança climática. Da mesma forma,<br />

as crianças não são o principal foco da<br />

maioria das avaliações de impacto ambiental<br />

ou estudos de mudança climática, nem são<br />

os principais alvos da maioria das políticas<br />

e intervenções relacionadas com questões<br />

ambientais ou mudança climática.<br />

As crianças estão entre os mais vulneráveis<br />

aos devastadores impactos de muitos tipos<br />

de riscos ambientais. Mesmo as catástrofes<br />

naturais de duração relativamente curta<br />

podem ter efeitos duradouros sobre o<br />

desenvolvimento das crianças. Os desafios<br />

de saúde, nutrição, água e saneamento<br />

são muitas vezes causados ou agravados<br />

por condições ambientais desfavoráveis,<br />

enquanto as áreas de educação, protecção<br />

da criança e outras também enfrentam<br />

desafios como consequências indirectas<br />

de questões ambientais. Com a mudança<br />

climática ameaçando agravar a incidência e<br />

gravidade de muitos riscos ambientais em<br />

Moçambique, é particularmente importante<br />

centrar a atenção em como as crianças<br />

podem ser poupadas dos seus efeitos<br />

negativos.<br />

Os riscos ambientais afectam as crianças<br />

seja como parte de um agregado familiar<br />

mais vasto seja de formas que lhes são<br />

peculiares. As crianças estão sob maior<br />

risco de muitos potenciais efeitos na saúde<br />

simplesmente devido à sua fisiologia: seus<br />

órgãos, sistemas imunológicos e sistema<br />

nervoso ainda em desenvolvimento;<br />

seus mais rápidos metabolismos e taxas<br />

respiratórias; e sua mais elevada área<br />

superficial com relação à massa corporal<br />

comparativamente aos adultos. O seu<br />

comportamento e a sua curiosidade naturais<br />

também as colocam em maior risco de<br />

contrair certas doenças e ferimentos porque<br />

a sua propensão para explorar o mundo<br />

em redor as leva frequentemente a uma<br />

maior exposição a contaminantes, poluentes<br />

(em especial devido à falta de espaços não<br />

poluídos para brincar em áreas urbanas). As<br />

crianças são mais susceptíveis de apanhar<br />

e mascar terra, pedaços de lixo e minas<br />

terrestres. A sua menor estatura e relativa<br />

falta de força e velocidade também as torna<br />

particularmente vulneráveis em situações<br />

de emergência como inundações, ciclones e<br />

deslizamentos de terra. As crianças têm ainda<br />

maior probabilidade de estar perto das mães<br />

quando estas estão a cozinhar, aumentando<br />

a sua exposição a poluentes provenientes<br />

da queima de combustíveis fósseis. Alguns<br />

pesquisadores afirmam que as alterações<br />

climáticas, devido ao seu impacto de longo<br />

alcance e intersectorial, representam a maior<br />

ameaça para as crianças do mundo. 106<br />

5.1. Questões ambientais<br />

em Moçambique<br />

As 13 maiores bacias hidrográficas do país<br />

são densamente povoadas e caracterizamse<br />

por níveis relativamente elevados de<br />

fertilidade do solo, mas são também áreas<br />

vulneráveis a inundações, secas e intrusão<br />

salina, bem como aos efeitos da demanda de<br />

água, chuvas e poluição nos países vizinhos<br />

em que a maioria dos rios nasce. A região<br />

centro, caracterizada por um delta de um<br />

grande rio (Zambeze) e uma extensa planície<br />

costeira, é particularmente vulnerável a<br />

riscos ambientais, por ser a região com<br />

a maior população costeira e os maiores<br />

riscos de ciclones e inundações. A região<br />

norte é caracterizada por moderada a baixa<br />

fertilidade do solo e uma estreita planície<br />

costeira. A fertilidade do solo é menor e<br />

o risco de seca mais elevado na região<br />

sul, particularmente nas regiões áridas do<br />

interior. 107<br />

216<br />

217


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

Mais de 60 por cento da população vive ao<br />

longo da costa, uma bio-região susceptível a<br />

ciclones, pesca excessiva, erosão e intrusão<br />

salina nos sistemas fluviais. Moçambique<br />

pode ser dividido em bio-regiões com<br />

base na latitude (norte, centro e sul) e em<br />

características geográficas (costeira, planície<br />

de cheia e interior).<br />

O estado físico do meio ambiente não<br />

está sujeito apenas a eventos climáticos<br />

incontroláveis, como ciclones e secas, mas<br />

também a efeitos de actividade humana,<br />

tais como uso insustentável, exploração e<br />

poluição do solo, da água e dos recursos<br />

naturais.<br />

Esta secção apresenta as condições<br />

ambientais naturais e os desafios e previsões<br />

para o futuro de Moçambique, seguindo-se<br />

o quadro institucional do país para a gestão<br />

ambiental e de desastres. Neste contexto,<br />

analisa-se a vulnerabilidade transversal<br />

das crianças de Moçambique aos riscos<br />

ambientais, concluindo a secção com as<br />

áreas prioritárias a serem abordadas.<br />

5.2. O desenvolvimento<br />

sustentável em<br />

Moçambique<br />

Diz-nos a teoria económica que existe uma<br />

forte ligação entre alterações na riqueza e<br />

na sustentabilidade do desenvolvimento: se<br />

uma família (ou uma nação) vê depreciaremse<br />

os seus activos, não está a seguir um<br />

caminho sustentável. No capítulo 1 deste<br />

estudo, foram apresentadas análises da<br />

pobreza usando medidas baseadas no<br />

consumo e baseadas em privações. No<br />

entanto, quando se discute a riqueza<br />

de uma criança ou uma nação, também<br />

podemos considerar o acesso a recursos<br />

não renováveis, recursos renováveis e terras<br />

agrícolas. Um estudo de 2009 108 mediu a<br />

riqueza per capita de Moçambique usando<br />

uma definição ampliada de riqueza. Além<br />

dos resultados económicos, os autores<br />

incluíram nos seus cálculos a acumulação de<br />

outros activos: capital humano, o ambiente e<br />

recursos naturais.<br />

Esse estudo constatou que 49 por cento<br />

da riqueza de Moçambique é derivada<br />

de capital natural, designadamente<br />

recursos minerais, terra agrícola, florestas<br />

e reservas marinhas. Esse valor é muito<br />

superior à média subsaariana de 24 por<br />

cento, implicando uma forte dependência<br />

de recursos naturais. O estudo também<br />

constatou que a degradação natural do<br />

capital de Moçambique custa ao país 360<br />

milhões de dólares americanos por ano, ou<br />

cerca de 6 por cento do PIB. A poluição da<br />

água (abastecimento de água, saneamento<br />

e higiene inseguros) constitui o maior<br />

custo ambiental em Moçambique (ver<br />

Figura 6.22). Apesar de a redução de capital<br />

natural se ter revelado relativamente baixa<br />

em Moçambique em geral, viii poderão ser<br />

elevados os efeitos das alterações climáticas.<br />

O desenvolvimento sustentável é uma<br />

questão inerentemente intergeracional e<br />

intrageracional. A realização dos direitos<br />

humanos por parte dos adultos hoje<br />

(por exemplo, o direito à alimentação e<br />

alojamento) afecta a habilidade das crianças<br />

de hoje e das gerações futuras de satisfazer<br />

os seus direitos humanos no futuro.<br />

Padrões de consumo por parte dos adultos<br />

de hoje que destroem o ambiente (por<br />

exemplo, pesca excessiva, sobre-exploração<br />

madeireira, conservação de solos pobres)<br />

terão um sério impacto na capacidade das<br />

gerações futuras de satisfazer seus direitos<br />

humanos.<br />

5.3. O impacto da degradação<br />

ambiental e das situações<br />

de emergência nas crianças<br />

em Moçambique<br />

Poluição<br />

O estudo acima referido constatou serem<br />

consideráveis os custos da poluição ix em<br />

termos ambientais, de saúde e de economia<br />

do país. Só os efeitos provocados por<br />

abastecimentos de água poluída na saúde<br />

foram estimados em cerca de 3 por cento do<br />

PIB em 2008, x enquanto os da poluição do<br />

ar de interiores (principalmente resultante<br />

do monóxido de carbono libertado pela<br />

queima de combustíveis fósseis) custam<br />

mais 1 por cento. 109 Apenas 10 por cento<br />

da população moçambicana se encontrava<br />

conectada à rede de electricidade em 2008, 110<br />

o que tem um duplo impacto ambiental: em<br />

primeiro lugar, aumenta a poluição do ar<br />

por se cozinhar com combustíveis fósseis, e,<br />

em segundo lugar, aumenta a utilização de<br />

recursos naturais para a lenha.<br />

Figura 6.22: Custo da degradação ambiental por ano, 2009<br />

$US (millions)<br />

180<br />

160<br />

140<br />

120<br />

100<br />

80<br />

60<br />

40<br />

20<br />

0<br />

Degradação<br />

do solo<br />

Custos da<br />

desflorestação<br />

Poluição<br />

da água<br />

Ambientes marinhos poluídos e sobreexploração<br />

da pesca têm-se tornado um<br />

problema crescente em muitas áreas<br />

costeiras para as comunidades que<br />

dependem da diminuição das reservas de<br />

peixes para sua subsistência. 111 O PARPA<br />

II destacou explicitamente a importância<br />

económica das pescas, reconhecendo que a<br />

pesca excessiva, a poluição e a degradação<br />

do habitat têm vindo a diminuir a capacidade<br />

das comunidades costeiras de manter<br />

os seus modos de subsistência. O plano<br />

identificou várias acções para promover a<br />

sustentabilidade ambiental, aumentando<br />

simultaneamente a produtividade<br />

económica, 112 mas o relatório de avaliação do<br />

PARPA II indicou que esses objectivos não<br />

foram totalmente satisfeitos. 113<br />

Saúde<br />

Um relatório de 2006 encomendado pela<br />

OMS constatou que, embora 23 por cento<br />

de todas as mortes prematuras tenham<br />

sido atribuíveis a factores ambientais<br />

Poluição do ar Seca Inundações<br />

Fonte: Ollivier, T, et al, Natural Resources, Environment, and Sustainable Growth in <strong>Mozambique</strong>, Agência Francesa de<br />

Desenvolvimento, 2009.<br />

viii O estudo observou, no entanto, que os números nacionais incluem muitas áreas com muito baixa densidade<br />

populacional, podendo obscurecer algumas das práticas de exploração agrícola que se verificam a nível local.<br />

ix Poluição inclui poluição do ar livre, poluição do ar dentro de casa e poluição da água.<br />

x Como discutido no Capítulo 3, menos de metade dos agregados familiares têm acesso a água potável.<br />

218<br />

219


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

modificáveis, esse número subiu para<br />

36 por cento nas crianças menores de 15<br />

anos. Pesquisadores e profissionais de<br />

saúde têm observado há muito tempo a<br />

relação entre factores ambientais, como a<br />

poluição do ar, e efeitos na saúde, como<br />

a asma, mas recentemente começaram a<br />

tocar o alarme com mais urgência. Entre<br />

aqueles cuja saúde está ameaçada por<br />

riscos ambientais, as crianças constituem<br />

o maior grupo. As crianças pequenas são<br />

ainda mais vulneráveis: o número de anos<br />

de vida saudável per capita perdidos devido<br />

a factores ambientais foi cerca de cinco<br />

vezes maior em crianças menores de cinco<br />

anos do que na população total. A malária e<br />

infecções respiratórias, as principais causas<br />

de mortalidade infantil em Moçambique (ver<br />

Capítulo 3), encontram-se também entre as<br />

doenças mais fortemente ligadas a factores<br />

ambientais modificáveis. A diarreia, uma das<br />

principais causas subjacentes à mortalidade<br />

infantil, tem um fardo de doença ambiental<br />

na ordem dos 94 por cento. 114<br />

Os desastres naturais, interrompendo o<br />

acesso aos serviços de saúde, afectam a<br />

saúde das crianças, interrompendo o acesso<br />

a unidades sanitárias. Ciclones e inundações,<br />

em particular, podem danificar infraestrutura<br />

sanitária e estradas, o que pode<br />

dificultar ou impossibilitar o fornecimento<br />

de suprimentos médicos. As famílias<br />

deslocadas de suas casas devido a situações<br />

de emergência ficam frequentemente<br />

incapazes de aceder a cuidados de saúde ou<br />

de dar continuidade a tratamentos regulares,<br />

como, por exemplo, para o HIV.<br />

Água e saneamento<br />

O stress hídrico faz com que aumentem as<br />

ameaças à saúde. Um deficiente saneamento<br />

é frequentemente agravado por condições<br />

ambientais como inundações e secas,<br />

conduzindo geralmente as primeiras a<br />

um aumento das doenças de veiculação<br />

hídrica, como a cólera, e as segundas, ao<br />

aumento das doenças resultantes de falta de<br />

higiene (water-washed diseases), como, por<br />

exemplo, o tracoma. 115 Outro risco de saúde<br />

relacionado com a água que por vezes surge,<br />

sobretudo no norte de Moçambique, é o de<br />

maiores níveis de cianeto se concentrarem<br />

na raiz da mandioca em épocas de seca.<br />

Altas concentrações da toxina são uma<br />

causa de paraparesia espástica (também<br />

conhecida como konzo ou mantakassa),<br />

especialmente em crianças e mulheres que<br />

podem já se encontrar desnutridas. 116 117<br />

A maior parte da vulnerabilidade do país a<br />

riscos ambientais está directamente ligada<br />

à água, seja à falta seja ao excesso. Tanto<br />

as secas como as inundações podem ter<br />

efeitos devastadores sobre o acesso das<br />

crianças a água potável e saneamento. Os<br />

poços pouco profundos que, normalmente,<br />

sustentam as comunidades podem<br />

secar em épocas de seca, colocando<br />

pressão excessiva sobre quaisquer poços<br />

mais profundos que possam existir. As<br />

inundações podem contaminar a água<br />

potável, especialmente em áreas que<br />

também tenham fraco saneamento. Uma<br />

fraca infraestrutura de água e saneamento<br />

pode ser facilmente danificada por cheias e<br />

ciclones, e áreas com drenagem deficiente<br />

podem aumentar o risco de cólera e<br />

outras doenças de veiculação hídrica, bem<br />

como tornar-se locais de reprodução de<br />

mosquitos transmissores de malária e<br />

outras doenças transmitidas por vectores. 118<br />

Como observado anteriormente, as crianças,<br />

devido à sua fisiologia e porque o seu<br />

comportamento muitas vezes as coloca em<br />

maior contacto com água contaminada,<br />

são particularmente vulneráveis a doenças<br />

relacionadas com o saneamento. 119<br />

Nutrição<br />

A segurança alimentar e a nutrição em<br />

Moçambique estão fortemente ligadas<br />

às condições ambientais. Tanto as<br />

inundações como a seca causam amplas<br />

perdas agrícolas às famílias dependentes<br />

da agricultura de subsistência. Mais de<br />

70 por cento da população depende da<br />

agricultura de sequeiro, o que torna o<br />

país particularmente vulnerável ao stress<br />

hídrico que regularmente se verifica,<br />

embora nem sempre nos mesmos lugares<br />

ao mesmo tempo. Por exemplo, em 2001-<br />

2002, as secas no sul de Moçambique<br />

provocaram a perda de cerca de um terço<br />

da safra, levando o Governo a pedir ajuda<br />

internacional adicional para alimentar cerca<br />

de 650.000 pessoas. No mesmo ano, no<br />

entanto, a parte norte do país conheceu<br />

uma produção de alimentos excedentária,<br />

tendo havido muitas vendas através de<br />

mercados informais para o vizinho Malawi. 120<br />

Em 2006, o Secretariado Técnico de<br />

Segurança Alimentar e Nutricional (SETSAN)<br />

determinou que cerca de 35 por cento da<br />

população se encontrava em situação de<br />

insegurança alimentar crónica, 121 embora<br />

o número de pessoas com insegurança<br />

alimentar grave em determinado momento<br />

varie; a cifra de Outubro de 2009 publicada<br />

pelo SETSAN era 281.300, isto é, menos<br />

de 2 por cento da população a necessitar<br />

de assistência imediata. 122 Em média, os<br />

agregados familiares rurais só têm uma<br />

cultura suficientemente estável durante 6-8<br />

meses. 123<br />

Uma segurança alimentar reduzida muitas<br />

leva frequentemente as famílias de fracos<br />

recursos a adoptarem mecanismos para<br />

fazer face a dificuldades que não são no<br />

melhor interesse da nutrição infantil. Os<br />

efeitos da desnutrição em crianças podem<br />

ser graves e permanentes. As principais<br />

estratégias utilizadas por agregados<br />

familiares rurais em situação de insegurança<br />

alimentar são comer alimentos de menos<br />

preferência, reduzir o número de refeições<br />

por dia, e comer a totalidade ou parte das<br />

reservas de sementes para a campanha<br />

seguinte (ver Tabela 6.4). Se os adultos<br />

podem conseguir adaptar-se a essas<br />

mudanças na sua dieta, pelo menos no<br />

curto prazo, os efeitos sobre as crianças<br />

são mais graves devido às suas diferentes<br />

necessidades nutricionais.<br />

O esgotamento e a erosão do solo também<br />

afectam a segurança alimentar em<br />

Moçambique. Sem suficiente fertilizante<br />

para sustentar a terra, os níveis de nutrientes<br />

no solo e, por consequência, a produção<br />

Tabela 6.4: Estratégias para fazer face a dificuldades usadas anualmente na época seca no Moçambique rural,<br />

2009, percentagem<br />

Agregados familiares com carência de alimentos (%)<br />

Campanha agrícola<br />

2005 2006 2007 2008<br />

38 37 27 31<br />

Comer alimentos de menor preferência 88 90 87 87<br />

Reduzir o número de refeições 82 85 82 82<br />

Comer a totalidade ou parte da semente 54 49 41 54<br />

Estratégias usadas para<br />

enfrentar a situação<br />

durante a estação seca<br />

(%)<br />

Incrementar as actividades de geração de<br />

rendimento 38 51 50 41<br />

Partilhar alimentos com a família/os vizinhos 40 38 47 39<br />

Vender bens de maneira fora do comum 18 26 19 18<br />

Pedir dinheiro emprestado 11 17 15 12<br />

Procurar assistência governamental, de igrejas<br />

e ONGs 4 5 4 3<br />

Mandar crianças para outros agregados<br />

familiares 3 3 4 3<br />

Tirar as crianças da escola 2 2 2 2<br />

Outras 2 2 3 2<br />

Fonte: Cunguara, Benedito e Brendan Kelly, ‘Trends in agriculture producers’ income in rural <strong>Mozambique</strong>’, estudo contributivo para<br />

o Impact Evaluation Report of PARPA II, MPD, 2009.<br />

220<br />

221


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

agrícola, decrescem rapidamente. Os<br />

produtores devem, em seguida, limpar e<br />

cultivar novas terras, em detrimento da vida<br />

selvagem e das florestas. Em Moçambique,<br />

por tradição, os agricultores limpam a terra,<br />

cultivam-na e depois mudam de lugar para<br />

limpar mais terra, deixando a anterior em<br />

pousio para recuperar a fertilidade. Em<br />

áreas de maior densidade populacional, no<br />

entanto, os agricultores cultivam colheita<br />

após colheita, minando ou esgotando<br />

os nutrientes do solo sem nada que os<br />

compense. Com pouco acesso a fertilizantes,<br />

os agricultores são obrigados a produzir em<br />

solos menos férteis em terras marginais, em<br />

detrimento da vida selvagem e das florestas.<br />

Desastres ambientais de curto prazo em<br />

áreas que anteriormente tinham sido de<br />

relativa segurança alimentar podem levar a<br />

maiores taxas de subnutrição aguda entre<br />

as crianças, enquanto as crises de longo<br />

prazo são passíveis de aumentar o número<br />

de crianças com insuficiência de peso e<br />

baixa altura para a idade.<br />

Educação<br />

A educação das crianças é outra área que<br />

é afectada por condições ambientais tanto<br />

a longo como a curto prazo. Escolas mal<br />

construídas são muitas vezes danificadas<br />

ou destruídas por tempestades e ciclones.<br />

Em 2008, por exemplo, o ciclone Jokwe<br />

interrompeu as aulas a mais de 38.000<br />

alunos. 124 Desastres de longo prazo, como as<br />

secas, por exemplo, muitas vezes fazem as<br />

crianças abandonarem a escola, seja porque<br />

devem dedicar-se a tarefas adicionais,<br />

como acarretar água, por exemplo, seja<br />

simplesmente porque lhes falta energia<br />

para se concentrarem nos estudos, como<br />

resultado da desnutrição.<br />

A poluição ambiental e a gestão dos<br />

recursos naturais afectam o sucesso das<br />

intervenções do governo na educação.<br />

Doenças causadas por factores ambientais<br />

como a poluição do ar e da água<br />

influenciam as taxas de frequência escolar.<br />

A desnutrição, provocada tanto pelo<br />

esgotamento dos solos como pela perda de<br />

colheitas, afectará a capacidade das crianças<br />

de assimilar as lições. A desflorestação e a<br />

falta de água potável perto dos agregados<br />

familiares também podem afectar as taxas<br />

de participação das crianças, uma vez que<br />

passam mais tempo acarretando lenha<br />

e água. Estas situações podem também<br />

afectar os professores e os seus índices de<br />

assiduidade.<br />

Crianças que tenham sido deslocadas<br />

devido a desastres naturais enfrentam<br />

desafios adicionais na sua escolarização. O<br />

impacto de situações climáticas extremas<br />

e da crescente escassez de água devido<br />

às alterações climáticas é susceptível de<br />

aumentar o número de pessoas deslocadas<br />

em Moçambique. A migração temporária<br />

pode fazer com que as crianças faltem à<br />

escola, bem como causar superlotação<br />

em locais que recebem muitos refugiados<br />

ambientais. Tem sido utilizada a expressão<br />

caos ambiental para descrever situações<br />

com elevados níveis de ruído e acumulação<br />

de pessoas e falta de estrutura ou de<br />

rotinas diárias, que é a situação em que se<br />

encontram muitas crianças em contextos<br />

pós-desastre. Tem-se constatado que<br />

este tipo de caos afecta negativamente a<br />

aprendizagem das crianças e as interacções<br />

sociais. 125<br />

Desflorestação<br />

O corte de madeira para fins comerciais<br />

aumentou drasticamente e, muitas<br />

vezes, ilegalmente, nos últimos anos.<br />

Alguns analistas estimam que madeiras<br />

duras tropicais, de florestas tropicais de<br />

crescimento lento, semi-áridas e secas têm<br />

vindo a diminuir a uma taxa que poderá<br />

fazer com que o recurso se esgote em<br />

5/10 anos. 126 Um estudo de 2006 conclui<br />

que compradores de madeira asiáticos,<br />

homens de negócios locais e membros do<br />

Governo de Moçambique e seus serviços<br />

florestais estão a agir em conluio para tirar<br />

madeiras tropicais preciosas,” 127 estando<br />

a ser exportadas grandes quantidades de<br />

madeiras duras ilegais não processadas<br />

através do porto de Nacala, no norte de<br />

Moçambique. O mesmo estudo estima que<br />

se está a fazer exploração ilegal de madeiras<br />

pelo menos em tão grande escala como a<br />

actividade madeireira legal.<br />

Quase metade da perda florestal de<br />

África é resultado de as pessoas cortarem<br />

árvores para lenha ou carvão. 128 Estimase<br />

que o carvão seja a principal fonte de<br />

combustível de 80 por cento da população<br />

de Moçambique, 129 e que tenha um efeito<br />

ainda maior sobre a desflorestação do que o<br />

corte comercial de madeira. A desflorestação<br />

pode fazer com que as crianças faltem à<br />

escola pois é necessário mais tempo para<br />

colectar lenha para cozinhar. Pode ser<br />

eficaz no combate à desflorestação em<br />

Moçambique uma abordagem baseada em<br />

direitos. Quando os direitos individuais e da<br />

comunidade sobre uma determinada área<br />

são contabilizados e exercidos, as pessoas<br />

podem agir para salvaguardar parte do<br />

seu valor de conservação. É necessária<br />

uma abordagem baseada em direitos<br />

Caixa 6.2. Preparação para Emergências<br />

não apenas para a conservação e gestão<br />

sustentável das florestas, mas também para<br />

responsabilização e retorno económico<br />

equitativo no sector.<br />

Protecção da criança<br />

A protecção das crianças é um desafio<br />

particular em situações de emergência,<br />

uma vez que as crianças estão expostas<br />

a maiores riscos de separação da família,<br />

exploração sexual e trauma psicológico.<br />

A interrupção dos serviços sociais afecta<br />

particularmente as crianças órfãs e<br />

vulneráveis no acesso aos serviços básicos.<br />

Embora tenha havido pouca pesquisa sobre<br />

o impacto das situações de emergência<br />

em questões de protecção da criança<br />

em Moçambique, relatórios de uma<br />

missão do comité estatal de avaliação<br />

da vulnerabilidade de 2005 levantou<br />

preocupação para com o uso de estratégias<br />

No início de 2000, graves inundações devastaram cinco províncias em Moçambique. Além de<br />

cerca de 700 pessoas terem perdido a vida nas enchentes, quase dois milhões de pessoas ficaram<br />

de outras formas gravemente afectadas e necessitando de ajuda externa.130 2001 trouxe novas<br />

cheias, que causaram danos adicionais e pressionaram ainda mais muitas áreas que ainda não<br />

tinham recuperado do desastre do ano anterior. Num seminário financiado pela Representação<br />

da Organização das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (UNOCHA)<br />

realizado em Julho de 2001, cerca de 130 delegados - incluindo governadores e administradores<br />

distritais das províncias afectadas, e outros representantes do Governo, agências das Nações<br />

Unidas, doadores bilaterais e organizações não governamentais - reuniram-se para tirar as lições<br />

das operações de salvamento e socorro. Diversas recomendações e conclusões do grupo incidiram<br />

sobre a preparação, a eficiência e a coordenação. Uma recomendação importante foi a de maior<br />

integração das actividades das diversas partes envolvidas na resposta a emergências. 131<br />

Uma medida-chave do progresso nesta área é a plena integração dos planos sectoriais no plano<br />

de contingência do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC). Em várias secções do<br />

plano de contingência é dada atenção especial às necessidades das crianças em situações de<br />

emergência. Mais recentemente, o INGC, juntamente com a Save the Children, a ONUSIDA, o<br />

FNUAP e o <strong>UNICEF</strong>, desenvolveu e aprovou o Código de Conduta para Trabalhadores Humanitários<br />

no contexto de Moçambique, com base no Boletim do Secretário-Geral das Nações Unidas<br />

sobre Medidas Especiais de Protecção contra a Exploração Sexual e o Abuso Sexual (Outubro de<br />

2003).132 Este esforço tem por base a experiência adquirida durante a resposta de emergência em<br />

2008, a qual revelou que as agências e os trabalhadores humanitários (tanto estatais como não<br />

estatais) a trabalhar no campo têm pouco conhecimento e não tinham desenvolvido mecanismos<br />

ou abordagens para combater o abuso e a exploração sexual cometidos contra mulheres e<br />

crianças pelos seus próprios funcionários.<br />

222<br />

223


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

negativas usadas por crianças para<br />

enfrentar dificuldades em zonas afectadas<br />

por secas, como, por exemplo, ‘sexo de<br />

sobrevivência’ por dinheiro, que aumenta a<br />

sua vulnerabilidade ao HIV e outras infecções<br />

de transmissão sexual.<br />

Minas terrestres<br />

As minas terrestres representam um<br />

desafio ambiental em Moçambique. Apesar<br />

de os esforços de desminagem terem<br />

prosseguido regularmente desde 1993,<br />

e de quatro províncias (Cabo Delgado,<br />

Niassa, Nampula e Zambézia) terem sido<br />

recentemente declaradas livres de minas, o<br />

Instituto Nacional de Desminagem estima<br />

que ainda houvesse mais de dez quilómetros<br />

quadrados de áreas minadas no final de<br />

2008, representando 386 locais espalhados<br />

por 59 distritos nas outras seis províncias. 133<br />

No PARPA II, a desminagem juntou-se a<br />

catástrofes naturais e problemas ambientais<br />

como um tema transversal que deve ser<br />

tratado a fim de se alcançar a redução da<br />

pobreza; a avaliação de 2009 constatou que<br />

têm sido feitos progressos neste domínio,<br />

diminuindo significativamente os riscos<br />

colocados por minas terrestres. 134 O plano de<br />

acção contra minas do governo tem como<br />

objectivo eliminar todos os campos minados<br />

conhecidos antes do prazo de Março de 2014<br />

da extensão do Tratado de Banimento de<br />

Minas.<br />

Mudança climática<br />

Um amplo relatório realizado pelo Instituto<br />

Nacional de Gestão de Calamidades<br />

(INGC) dá um quadro sombrio das<br />

condições ambientais que se esperam<br />

caso se mantenham as actuais tendências<br />

climáticas. 135 Foram usados dados<br />

recolhidos ao longo de várias décadas<br />

para gerar previsões através da aplicação<br />

de sete diferentes modelos de mudança<br />

climática. Têm sido registados em todo o<br />

país aumentos nas temperaturas médias,<br />

temperaturas máximas e duração das ondas<br />

de calor, tendência que deverá continuar a<br />

verificar-se. Prevê-se que as temperaturas<br />

médias aumentem 1,8 a 3,2 °C em 2075. As<br />

chuvas também diminuirão 2 a 9 por cento,<br />

especialmente entre Novembro e Maio, a<br />

época-chave de cultivo. Dados concernentes<br />

a precipitação indicam que já se registam<br />

no país crescentes atrasos no início da<br />

estação das chuvas. Os modelos de mudança<br />

climática antevêem que a precipitação se<br />

torne ainda menos previsível nas próximas<br />

décadas, esperando-se um aumento de<br />

precipitação na maior parte do país de<br />

Dezembro a Maio, superado por aumentos<br />

ainda maiores na evapotranspiração nos<br />

restantes meses do ano.<br />

O aumento do nível do mar constitui um<br />

outro desafio. Devido à falta de dados fiáveis<br />

no passado é difícil saber-se precisamente<br />

em que medida o aumento do nível do<br />

mar já terá afectado Moçambique, mas as<br />

projecções discutidas no relatório do INGC<br />

mostram que este resultado específico da<br />

mudança climática terá necessariamente<br />

graves consequências. Mesmo em cenário<br />

de baixa subida do nível do mar, os ciclones<br />

tropicais apresentarão um maior risco para a<br />

costa, contribuindo para uma maior erosão<br />

costeira. Os centros urbanos sofrerão danos<br />

nas infra-estruturas devido a inundações mais<br />

frequentes e, num cenário de grande subida<br />

do nível do mar, muitos portos e habitações<br />

ao longo da costa estarão completamente<br />

submersos no final do século. Espera-se que a<br />

Beira, Maputo e Quelimane sejam fortemente<br />

afectados mesmo por baixos aumentos do<br />

nível do mar; no cenário de elevada subida do<br />

nível do mar, a Beira actual tornar-se-á uma<br />

ilha, enquanto as áreas do porto de Maputo,<br />

da estação dos caminhos-de-ferro e da Costa<br />

do Sol desaparecerão debaixo de água.<br />

Prevê-se um agravamento de muitos riscos<br />

de saúde relacionados com o ambiente nos<br />

países em desenvolvimento, como resultado<br />

do aquecimento global. Um relatório<br />

da Comissão Lancet de 2009 qualificou<br />

as mudanças climáticas como a maior<br />

ameaça à saúde global do século XXI.” 136<br />

Em Moçambique, uma das consequências<br />

previstas do aumento de temperatura e das<br />

mudanças na precipitação observadas no<br />

estudo do INGC é um aumento na gama e<br />

sazonalidade de doenças transmitidas por<br />

vectores, incluindo a malária e a doença<br />

do sono africana. 137 Outras doenças que<br />

podem aumentar em Moçambique como<br />

resultado de alterações climáticas são a febre<br />

chikungunya, a meningite meningocócica, a<br />

cólera e outras diarreias, bem como doenças<br />

transmitidas por roedores. O aumento da<br />

temperatura e da perda gradual de árvores<br />

de sombra também pode aumentar os efeitos<br />

do stress térmico sobre as crianças. Porque<br />

as crianças (e os idosos) transpiram menos<br />

e têm maiores rácios de área superficial por<br />

massa corporal do que os adultos, tendem a<br />

sofrer maiores efeitos na saúde resultantes<br />

de stress térmico. 138<br />

5.4. O contexto institucional<br />

As questões ambientais em Moçambique<br />

não entraram na agenda nacional até que<br />

terminassem os piores anos da guerra civil.<br />

O Artigo 90 da Constituição confere aos<br />

cidadãos moçambicanos o direito de viver<br />

num ambiente equilibrado, bem como o<br />

dever de o defender. O artigo estabelece<br />

ainda que as autoridades estatais e locais<br />

devem adoptar políticas destinadas a<br />

proteger o meio ambiente e a promover o<br />

uso racional dos recursos naturais. 139 Em<br />

1990 foi formada a Comissão Nacional do<br />

Meio Ambiente, seguindo-se-lhe, em 1994,<br />

a criação do Ministério da Coordenação da<br />

Acção Ambiental. O novo ministério, por sua<br />

vez, desenvolveu o quadro jurídico para a<br />

gestão ambiental, que inclui uma vasta gama<br />

de políticas, legislação, estratégias e planos<br />

de acção. 140<br />

Em 1999, foi criado outro órgão<br />

governamental especificamente para lidar<br />

com a vulnerabilidade do país a crises<br />

ambientais: o INGC. O INGC é separado do<br />

MICOA, embora o Banco Mundial tenha<br />

observado em 2009 que as questões de<br />

coordenação pendentes entre o INGC e o<br />

MICOA” 141 constituem um grande desafio<br />

para a capacidade de Moçambique de<br />

reagir a catástrofes naturais. As questões de<br />

coordenação com outros ministérios estão<br />

a ser gradualmente resolvidas, pelo menos<br />

em termos de como lidar com situações de<br />

emergência; por exemplo, o INGC publica<br />

agora um plano de contingência 142 anual<br />

que inclui actividades específicas de sector<br />

para nove diferentes ministérios executarem<br />

antes, durante e depois de um desastre<br />

natural. A iminente ameaça de mudança<br />

climática, que começou a despertar mais<br />

atenção nos últimos anos, também envolveu<br />

tanto o MICOA como o INGC; por exemplo,<br />

em 2007 o ministério desenvolveu um<br />

plano de acção nacional para adaptação a<br />

alterações climáticas, 143 enquanto em 2009<br />

o INGC produziu um relatório abrangente<br />

detalhando os efeitos previstos das<br />

mudanças climáticas no país. 144<br />

A avaliação do PARPA II 2009 foi em geral<br />

favorável à componente ambiental. A análise<br />

observou que diversas novas estratégias<br />

e políticas foram desenvolvidas durante o<br />

período abrangido pelo PARPA II, e que a<br />

gestão ambiental fora integrada em alguns<br />

dos planos de desenvolvimento urbano.<br />

Enfrentar os desafios colocados pelas<br />

alterações climáticas, pela degradação<br />

ambiental e pela gestão sustentável dos<br />

recursos naturais foi identificado como uma<br />

alta prioridade para o desenvolvimento<br />

de planos do Governo a médio prazo<br />

subsequentes. A avaliação foi complementar<br />

à atenção do Governo à componente do<br />

PARPA II de catástrofes naturais, observando<br />

nomeadamente o reforço do INGC, ao qual<br />

reconheceu a manutenção de um mínimo<br />

de perdas nas cheias de 2007-2008. Entre as<br />

realizações reportadas na avaliação figuram o<br />

incremento de acções de formação junto das<br />

comunidades e outros sectores envolvidos<br />

na redução do risco de desastres, a criação<br />

de comités locais de gestão de risco e o<br />

reassentamento de 44.000 famílias de áreas<br />

de alto risco. Desafios que persistem são a<br />

integração da gestão de desastres nos Planos<br />

Económicos e Sociais e a atribuição de fundos<br />

mais adequados às províncias e distritos. 145<br />

5.5. Conclusões<br />

As questões ambientais afectam as crianças<br />

de inúmeras formas, e os efeitos da<br />

degradação ambiental deverão intensificar-se<br />

nos próximos anos. A degradação ambiental<br />

224<br />

225


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

afecta negativamente o desenvolvimento<br />

de Moçambique como país e tem<br />

profundos efeitos negativos sobre cada<br />

criança. As crianças são particularmente<br />

vulneráveis a situações de emergência nos<br />

domínios de saúde, educação e segurança.<br />

As situações de emergência poderão<br />

intensificar-se à medida que a mudança<br />

climática for aumentando a ocorrência de<br />

ciclones em Moçambique.<br />

O ambiente é considerado pelo Governo<br />

de Moçambique um tema transversal.<br />

No entanto, as acções para abordar as<br />

alterações climáticas, o ambiente e a gestão<br />

de desastres não têm sido suficientemente<br />

integradas nos diversos sectores. Têm<br />

sido atribuídos insuficientes fundos para<br />

lidar com a degradação ambiental, tanto por<br />

parte do Governo de Moçambique como<br />

dos seus parceiros, possivelmente devido<br />

ao demorado retorno desses investimentos.<br />

Sem esses investimentos, no entanto, a<br />

degradação ambiental pode vir a reduzir<br />

significativamente ou até mesmo a reverter<br />

os progressos realizados na sobrevivência<br />

infantil, na educação e na protecção. É<br />

urgente agir-se no sentido de sensibilizar<br />

as comunidades para a necessidade de<br />

se reduzirem as práticas nocivas para o<br />

ambiente e de se garantir que as iniciativas<br />

públicas e privadas sejam conduzidas<br />

de forma ambientalmente sustentável. A<br />

mudança climática é uma questão que deve<br />

ser abordada em cooperação com parceiros<br />

regionais e internacionais de Moçambique.<br />

6. Comunicação para o Desenvolvimento<br />

Na Assembleia Geral da ONU de 1996,<br />

foi aprovada uma resolução salientando<br />

a necessidade de apoiar sistemas<br />

de comunicação bidireccional que<br />

permitam diálogo e que as comunidades<br />

falem, expressem as suas aspirações e<br />

preocupações e participem nas decisões<br />

concernentes ao seu desenvolvimento”. 146<br />

Estes sistemas de comunicação e o<br />

domínio emergente da comunicação para o<br />

desenvolvimento (C4D – Communication for<br />

Development) estão a ser alvo de crescente<br />

reconhecimento em Moçambique por todo<br />

o papel que podem desempenhar para fazer<br />

avançar a situação dos direitos humanos das<br />

crianças e das comunidades.<br />

Desde a adopção de uma nova constituição<br />

em 1990 que Moçambique tem assistido a um<br />

crescimento, em amplitude e profundidade,<br />

do seu sector dos media. Têm proliferado os<br />

meios de comunicação privados, os estatais<br />

têm estado a trabalhar para adoptar o formato<br />

de serviço público, e um número crescente<br />

de estações de rádio comunitárias servem<br />

as áreas rurais. Embora ainda incipiente, o<br />

crescimento da informação, da comunicação<br />

e das indústrias de entretenimento tem<br />

criado um importante ambiente propício<br />

para actividades de comunicação para o<br />

desenvolvimento. A crescente organização<br />

e capacidade de organismos da sociedade<br />

civil, incluindo os que se especializam em<br />

comunicação para o desenvolvimento,<br />

promoção da saúde, prevenção do HIV e<br />

defesa dos direitos humanos da criança,<br />

tem facilitado uma coerente - e cada vez<br />

mais descentralizada - planificação e<br />

implementação da comunicação.<br />

6.1. Desenvolvimento dos<br />

órgãos de comunicação<br />

social em Moçambique<br />

O desenvolvimento do sector dos media<br />

em Moçambique tem vindo a desempenhar<br />

um papel crucial no apoio à governação,<br />

ao desenvolvimento e à divulgação<br />

de informação desde a fundação, em<br />

1975, da Rádio Moçambique (RM), e da<br />

agência nacional de notícias, a Agência<br />

de Informação de Moçambique (AIM),<br />

detidas pelo estado. O surgimento de uma<br />

imprensa livre e independente foi permitido<br />

pela Constituição 147 , que prevê a liberdade<br />

de expressão e o direito do cidadão à<br />

informação. O artigo 74 da Constituição<br />

estabelece que os meios de comunicação<br />

desempenham um papel importante na<br />

implementação destes direitos, bem como<br />

valorizando outros direitos individuais e<br />

colectivos consagrados na Constituição.<br />

Uma ampla Lei de Imprensa, 148 aprovada<br />

em 1991 e em fase de revisão em 2009,<br />

promove ainda mais a liberdade de<br />

imprensa, cobrindo a maior parte dos<br />

aspectos dos meios de comunicação e<br />

da actividade jornalística. O regulamento<br />

da comunicação social de Moçambique<br />

está sob tutela do Gabinete de Informação<br />

(GABINFO), o órgão estatal encarregado do<br />

registo administrativo de todos os meios de<br />

comunicação. O GABINFO também emite<br />

licenças para novos órgãos de imprensa,<br />

rádio e televisão, embora as licenças<br />

para a utilização das frequências de rádio<br />

sejam passadas pelo Instituto Nacional das<br />

Comunicações de Moçambique (INCM), que<br />

faz parte do Ministério dos Transportes e<br />

Comunicações. 149<br />

Reconhecendo que as intervenções<br />

focadas na informação e comunicação são<br />

fundamentais para atrair a participação<br />

de todos os cidadãos, atendendo as suas<br />

necessidades de informação e ouvindo as<br />

suas vozes, o Plano de Acção para a Redução<br />

da Pobreza Absoluta (PARPA II) deu especial<br />

atenção ao acesso à informação e ao<br />

conhecimento como instrumento essencial<br />

para aumentar a participação e o diálogo,<br />

envolvendo os cidadãos na luta contra a<br />

pobreza. Esta aposta estratégica, combinada<br />

com a Constituição e a Lei de Imprensa, tem<br />

facilitado a rápida melhoria do acesso geral<br />

226<br />

227


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

à informação em Moçambique, estando<br />

o país a expandir-se de limitadas redes<br />

públicas para um sector de comunicação<br />

social mais pluralista que inclui a rádio,<br />

a imprensa escrita, canais de televisão,<br />

internet e serviços móveis, pertencentes a e<br />

operados por diversos organismos estatais,<br />

comunitários, de base religiosa e privados.<br />

A rádio continua a ser o meio de<br />

comunicação de massas com maior<br />

cobertura. A emissora pública nacional,<br />

a Rádio Moçambique, chega a 80% da<br />

população, transmitindo através de 11<br />

delegações, em 21 línguas, incluindo<br />

português e inglês no serviço nacional e<br />

línguas locais em noticiários e programas<br />

provinciais. De acordo com um estudo de<br />

2005 realizado pelo Iniciativa Africana para<br />

Desenvolvimento dos Media (Africa Media<br />

Development Initiative), 98 por cento da<br />

população urbana tinha escutado rádio<br />

nos últimos 12 meses, sendo que 91 por<br />

cento dessa percentagem tinham escutado<br />

rádio nos últimos sete dias. 150 Embora a<br />

Rádio Moçambique controle as estações<br />

de rádio mais amplamente escutadas nas<br />

áreas urbanas, o Fórum Nacional de Rádios<br />

Comunitárias (FORCOM), criado em 2004,<br />

registou mais de 60 rádios comunitárias<br />

em todo o país, partindo de apenas<br />

uma em 1994. 151 As rádios comunitárias<br />

cobrem quase metade dos 128 distritos<br />

de Moçambique 152 e transmitem em<br />

português e nas línguas locais. A maioria<br />

são estações de rádio comunitárias sem fins<br />

lucrativos, muitas das quais criadas com<br />

a participação do Projecto dos Média da<br />

UNESCO; outras pertencem a organizações<br />

religiosas (principalmente à Igreja Católica),<br />

às autoridades municipais ou ao Instituto da<br />

Comunicação Social (ICS), um departamento<br />

do estado subordinado ao GABINFO com<br />

a responsabilidade de desenvolver a<br />

comunicação nas zonas rurais.<br />

Num país onde apenas 40 por cento da<br />

população fala português (e apenas 6<br />

por cento como língua materna), 153 estas<br />

estações de rádio baseadas na comunidade<br />

com programação em línguas locais são um<br />

veículo fundamental para mobilizar líderes<br />

comunitários e promover a participação de<br />

crianças, jovens e mulheres nos debates<br />

da comunidade. Uma avaliação de 2006<br />

do impacto de oito estações de rádio<br />

comunitárias revelou que quase 100 por<br />

cento dos entrevistados reportaram ouvir<br />

a rádio comunitária local; muitos foram de<br />

opinião que a rádio pertence à comunidade,<br />

uma vez que fornece informação local, dá<br />

oportunidades para as pessoas expressarem<br />

as suas opiniões e preocupações, e promove<br />

a cultura local. 154<br />

No sector da imprensa escrita, o número<br />

de jornais, revistas, folhetos e boletins<br />

informativos registados cresceu para 254 em<br />

2006. 155 Existem três principais jornais diários<br />

(Notícias, Diário de Moçambique e O País),<br />

e estabeleceram-se vários outros periódicos<br />

no mercado nos últimos anos, incluindo<br />

o primeiro jornal gratuito, @ Verdade.<br />

Apesar do aumento da imprensa escrita, as<br />

questões de disponibilidade e preço a que<br />

se juntam taxas de analfabetismo de 48 por<br />

cento na população com 15 ou mais anos de<br />

idade 156 - resulta em baixo acesso, de modo<br />

que apenas um por cento da população faz<br />

uso dos órgãos impressos. 157<br />

A nível da transmissão televisiva,<br />

existem quatro estações, nas redes de<br />

televisão pública e privada. A Televisão<br />

de Moçambique (TVM), a rede estatal que<br />

começou a funcionar em 1981, continua a<br />

dominar, chegando agora à maior parte do<br />

país graças à instalação de retransmissores<br />

em 1992, a que se seguiu passagem para<br />

satélite. As televisões privadas têm vindo<br />

a ganhar força económica e visibilidade e<br />

estão a dar início ao processo de criação de<br />

delegações e repetidores nas províncias.<br />

Embora a posse de televisão familiar tenha<br />

passado de cinco para dez por cento entre<br />

os anos de 1997 a 2007 158 159 e os padrões<br />

de visualização em grupo signifiquem que,<br />

mesmo quem não tem televisor pode, por<br />

vezes, assistir a transmissões, a televisão<br />

continua fora do alcance da maioria dos<br />

moçambicanos: o acesso à televisão<br />

depende do acesso à electricidade e da<br />

penetração do serviço, e, como tal, continua<br />

confinado aos centros urbanos.<br />

A penetração e o número de assinantes do<br />

serviço móvel em Moçambique aumentou<br />

significativamente durante a primeira<br />

década do novo século, com dois operadores<br />

de rede móvel, a mCel (pertencente à<br />

Telecomunicações de Moçambique) e a<br />

Vodacom, dividindo o mercado. Em 2000,<br />

menos de um por cento da população tinha<br />

acesso a um telefone móvel, número que<br />

aumentou para cerca de 23 por cento 160<br />

em menos de dez anos, com um total de<br />

assinantes calculado em 4,2 milhões em<br />

2008. 161 O acesso à Internet, por outro lado,<br />

é quase inteiramente restrito aos centros<br />

urbanos e continua ainda mais limitado<br />

que a televisão. Dados de 2006 indicam que<br />

havia mais de 18 provedores de Internet<br />

a nível nacional. Apenas dois por cento<br />

da população tem acesso à Internet. 162 No<br />

entanto, a Internet é cada vez mais utilizada<br />

pelo sector dos media, representado<br />

por vários sites de notícias on-line e um<br />

crescente número de blogues e fóruns de<br />

discussão.<br />

6.2. O papel de mudança dos<br />

media: comunicação para<br />

o desenvolvimento e<br />

mobilização da comunidade<br />

Não só se expandiu o alcance dos media<br />

ao longo dos anos, mas também o<br />

conteúdo e o objectivo da programação.<br />

Além do uso tradicional dos meios de<br />

comunicação como um meio de divulgação<br />

de informação ao público e de transmissão<br />

de música, a rádio e outras formas de<br />

comunicação social incluem também<br />

agora programas de educação social e<br />

desenvolvimento comunitário destinados a<br />

levar as pessoas a adoptarem e manterem<br />

comportamentos saudáveis. Têm sido<br />

desenvolvidas actividades e estratégias dos<br />

media para sensibilizar para as questões<br />

de desenvolvimento audiências de massas<br />

e formadores de opinião, para influenciar<br />

atitudes e comportamentos a nível<br />

individual e colectivo, para fortalecer grupos<br />

marginalizados e vulneráveis, incluindo<br />

crianças e jovens.<br />

Este tipo de apoio dos media também tem<br />

recebido atenção especial como factor<br />

fundamental para garantir a participação,<br />

apropriação (ownership) e responsabilidade<br />

necessárias para alcançar os ODM. 163 Nesta<br />

perspectiva, a comunicação para estratégias<br />

e abordagens de desenvolvimento relativas<br />

a intervenções-chaves para a sobrevivência<br />

da criança (como as Semanas de Saúde<br />

da Criança e a Campanha Nacional de<br />

Saneamento), e a promoção dos direitos da<br />

criança (tais como o registo de nascimento e<br />

a prevenção da violência e do abuso) estão a<br />

ser actualmente desenvolvidas e promovidas<br />

a nível nacional. Têm como objectivo munir<br />

os cuidadores e os membros da comunidade<br />

de informações essenciais para desenvolver<br />

habilidades e auto-confiança para tomar<br />

decisões informadas sobre questões que<br />

afectam as suas vidas e o bem estar das<br />

suas crianças.<br />

6.3. Iniciativas promissoras nos<br />

media moçambicanos<br />

Além das formas mais convencionais de<br />

rádio, televisão e imprensa escrita, várias<br />

modalidades alternativas de comunicação<br />

social têm vindo a ganhar uma crescente<br />

popularidade em Moçambique. Ao utilizar<br />

uma abordagem que combina vários tipos<br />

de meios de comunicação e diálogo, estas<br />

iniciativas têm um enorme potencial para<br />

envolver mais pessoas, principalmente<br />

jovens, em actividades educativas, diálogo<br />

e debate públicos. Entre elas, encontramse<br />

Centros Multimedia Comunitários<br />

(CMC), Unidades Móveis Multimedia, Rádio<br />

Criança para Criança, e programas de Teatro<br />

Comunitários.<br />

Os Centros Multimedia Comunitários<br />

combinam rádio comunitária com outras<br />

formas de Tecnologia da Informação e<br />

Comunicação (TIC). Por terem um ‘Telecentro’<br />

físico com computadores, serviço de<br />

internet, telefones, faxes, fotocopiadoras<br />

e impressoras, as pessoas e organizações<br />

da comunidade podem fazer melhor uso<br />

da informação e dos media. Os Centros<br />

Multimedia Comunitários também<br />

228<br />

229


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

proporcionam oportunidades de formação<br />

e permitem que as organizações da<br />

comunidade que os operam obtenham um<br />

pequeno rendimento de taxas cobradas para<br />

formação, utilização da internet, ou outros<br />

serviços. Em 2007, 18 Centros Multimedia<br />

Comunitários estavam operacionais em<br />

todo o país, havendo pelo menos um em<br />

cada província. 164 O quadro institucional dos<br />

Centros Multimedia Comunitários é ainda<br />

fraco 165 ; a sua utilidade e a possibilidade de<br />

serem bem sucedidos dependerão de maior<br />

propriedade e investimento do sector público.<br />

Uma segunda iniciativa promissora, gerida<br />

pelo Instituto da Comunicação Social, faz<br />

uso das Unidades Móveis Multimedia.<br />

As doze unidades estando cada viatura<br />

equipada com um projector de vídeo, um<br />

ecrã gigante de projecção de filmes, um<br />

rádio, uma tenda e materiais para testes<br />

de HIV, e materiais educativos desloca-se<br />

às comunidades rurais, onde normalmente<br />

permanece quatro dias de cada vez. Lá<br />

se encontrando, a equipe da unidade<br />

móvel mobiliza a comunidade em torno<br />

de questões-chave usando apresentações<br />

audiovisuais para envolver os participantes<br />

em diálogo e debate. As actividades são<br />

concebidas com a participação de líderes<br />

locais e, quando disponíveis, membros de<br />

associações de jovens. As unidades também<br />

oferecem uma oportunidade de testagem e<br />

aconselhamento sobre o HIV e a SIDA.<br />

Para estimular o engajamento e a<br />

participação de crianças e jovens na<br />

área dos media e proporcionar-lhes uma<br />

plataforma mais regular para exprimirem<br />

as suas opiniões, a Rádio Moçambique<br />

criou o programa Criança para Criança,<br />

que compreende transmissões de rádio<br />

comunitária feitas por crianças e destinadas<br />

a crianças. O programa Criança para<br />

Criança facilita o vínculo e a comunicação<br />

entre pais e filhos ao nível da comunidade<br />

sobre importantes questões dos direitos<br />

da criança. O programa também contribui<br />

para o cumprimento dos artigos 12, 13 e 14<br />

da Convenção dos Direitos da Criança, que<br />

estabelece os direitos da criança a liberdade<br />

de expressão, liberdade de procurar e<br />

transmitir informações e liberdade de<br />

pensamento, consciência e religião. Mais<br />

de mil crianças e adolescentes na faixa<br />

dos 11 a 18 anos 60 por cento das quais<br />

do sexo feminino 166 estão activamente<br />

envolvidas no desenvolvimento, produção<br />

e apresentação de programas de rádio. Em<br />

2007, o programa da Rádio Moçambique<br />

Criança para Criança ganhou o concurso<br />

do Dia Internacional da Criança na Rádio e<br />

Televisão na categoria ‘Excelência em Rádio’,<br />

em reconhecimento do papel central que<br />

as crianças desempenham na abordagem<br />

das questões dos direitos da criança,<br />

desenvolvendo, produzindo e apresentando<br />

programas de rádio para os seus pares.<br />

Em todo o país, mas especialmente em áreas<br />

com mais limitado acesso a tecnologia, o<br />

teatro comunitário tem provado ser um meio<br />

de comunicação interpessoal eficaz para<br />

fortalecer o conhecimento da comunidade<br />

e estimular e incentivar o debate sobre<br />

assuntos de interesse social, especialmente<br />

respeitantes a crianças e jovens. A Rede de<br />

Teatro Comunitário, com mais de 100 grupos<br />

de teatro a nível nacional, usa a abordagem<br />

Teatro do Oprimido na representação teatral<br />

em palco, abordagem essa que convida<br />

os membros do público a participarem<br />

activamente na representação. Através<br />

das suas representações, sensibilizam e<br />

promovem atitudes e comportamentos<br />

positivos 167 nas áreas de sobrevivência<br />

infantil, educação da rapariga, género e<br />

prevenção do HIV. No final de cada peça,<br />

estabelece-se um diálogo entre os actores e<br />

a plateia.<br />

6.4. Redes e parcerias amigas<br />

da criança<br />

Além das iniciativas que se estão a realizar<br />

a nível local, as redes e parcerias nacionais<br />

com os principais intervenientes na indústria<br />

dos media e da comunicação começam a<br />

mostrar o seu potencial como veículos para<br />

difundir mensagens sobre os direitos das<br />

crianças em todo o país.<br />

Para informar sobre a situação dos<br />

direitos da criança em Moçambique, a<br />

organização não governamental Instituto de<br />

Comunicação Social da África Austral (Media<br />

Institute of Southern Africa) criou uma Rede<br />

de Comunicadores Amigos da Criança) em<br />

2007, envolvendo mais de 300 jornalistas<br />

de todo o país. A rede utiliza os órgãos de<br />

comunicação para publicar artigos sobre os<br />

direitos da criança, divulgar informações e<br />

conhecimentos sobre questões da infância, e<br />

denunciar violações dos direitos da criança.<br />

Além disso, a rede promove acções de<br />

formação para capacitação de jornalistas,<br />

publica análises e recomendações regulares<br />

para os media sobre como cobrir as<br />

questões relacionadas com as crianças,<br />

participa em debates públicos com<br />

especialistas sobre temas relacionados<br />

com os direitos da criança, e participa em<br />

campanhas de sensibilização para a adopção<br />

e implementação de políticas e legislação<br />

amigas da criança. 168<br />

Em termos de parcerias com o sector<br />

privado, têm-se aproveitado os provedores<br />

de serviços de telefonia móvel para divulgar<br />

mensagens pró-sociais ocasionais. A<br />

Mcel, que reivindica mais de 3 milhões de<br />

assinantes e uma quota de mercado de 70<br />

por cento, tem vindo a apoiar actividades<br />

em prol do bem-estar das crianças em<br />

Moçambique. Em 2008, uma parceria para<br />

os Direitos da Criança em Moçambique<br />

conseguiu servir-se do poder de marketing<br />

da Mcel utilizando os seus canais de<br />

distribuição para divulgar mensagens sobre<br />

os direitos da criança. Foram impressas em<br />

mais de 10 milhões de cartões de recarga<br />

da Mcel informações relacionadas com a<br />

Lei da Criança e mensagens gerais sobre<br />

os direitos da criança. Esta colaboração<br />

desenvolveu-se em campanha nacional, com<br />

spots televisivos e de rádio, anúncios de<br />

jornal e órgãos de comunicação externos.<br />

6.5. Privação de informação<br />

Infelizmente, o recente crescimento do<br />

sector dos media ainda tem que reduzir a<br />

incidência de crianças moçambicanas com<br />

privação severa de informação, definida<br />

como a percentagem de crianças com 5<br />

a 18 anos de idade sem posse de ou sem<br />

acesso a uma televisão, rádio ou jornal<br />

no lar. Uma análise da pobreza infantil<br />

de 2009 169 solicitada para a Avaliação do<br />

Impacto do PARPA II, usando uma medida<br />

de pobreza baseada em privações inspirada<br />

nos Indicadores de Bristol 170 revelou que 40<br />

por cento das crianças estavam em situação<br />

de privação severa de informação em 2008.<br />

Não havia nenhuma evidência de qualquer<br />

mudança na percentagem de crianças com<br />

privação severa de informação entre o<br />

Inquérito Demográfico e de Saúde 2003 e<br />

o MICS 2008, em que se baseou a análise<br />

de 2009. A análise também deu a conhecer<br />

que a privação severa de informação está<br />

altamente correlacionada com a riqueza do<br />

agregado familiar da criança. As crianças dos<br />

agregados mais pobres têm quase sete vezes<br />

mais probabilidade de sofrer de privação<br />

severa de informação do que as crianças das<br />

famílias mais ricas.<br />

6.6. Conclusões<br />

Apesar dos progressos realizados no sector<br />

da comunicação, ainda não foi realizado o<br />

pleno potencial dos meios de comunicação<br />

para divulgar informações, envolver<br />

comunidades no debate e contribuir para<br />

um melhor ambiente para as crianças. Em<br />

geral, o alcance dos media e a sua utilidade<br />

na implementação de mudanças no bemestar<br />

da criança são ainda limitados no país,<br />

especialmente no que respeita à imprensa<br />

escrita, à televisão e à internet. O reforço da<br />

liberdade de expressão e a sustentabilidade<br />

das iniciativas mais recentes estão entre os<br />

maiores desafios para o sector dos media.<br />

O elevado e imutável nível de privação<br />

de informação indica que as mensagens<br />

transmitidas através de formas convencionais<br />

de comunicação social podem não atingir um<br />

grande número de crianças. Maior atenção,<br />

portanto, deve ser dada a formas alternativas<br />

de media e comunicação que estão a ganhar<br />

força em Moçambique, especialmente<br />

nas zonas rurais. As estratégias de<br />

comunicação para o desenvolvimento<br />

230<br />

231


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

centrado nas crianças têm de envolver<br />

mais nas intervenções os líderes locais, os<br />

mobilizadores sociais e os activistas.<br />

A Rede de Comunicadores Amigos da<br />

Criança mostra que os jornalistas de todo<br />

o país podem unir-se sob as questões da<br />

infância, mas é ainda preciso que se integre<br />

mais trabalho nas línguas locais usando os<br />

meios de comunicação social e os meios<br />

comunitários para divulgar as mensagens<br />

de comunicação de uma forma mais intensa.<br />

Também podem ser reforçadas parcerias<br />

com o sector privado. Como comprovado<br />

pela campanha Mcel 2008, há espaço para<br />

se explorar o uso sistemático de telefonia<br />

móvel para resultados de desenvolvimento e<br />

orientados para os direitos; outras parcerias<br />

podem também ser de grande potencial se<br />

estrategicamente desenvolvidas.<br />

Um último desafio é que a monitoria e<br />

avaliação das intervenções de comunicação<br />

para o desenvolvimento continuam<br />

dispendiosas e, portanto, limitadas,<br />

dependendo fortemente de dados qualitativos<br />

que são difíceis de aplicar nos vários<br />

programas e localizações geográficas. Esta<br />

situação deverá mudar nos próximos anos<br />

com o crescente reconhecimento de que<br />

a realização dos objectivos do Governo de<br />

redução da pobreza - assim como dos ODM<br />

- dependerão significativamente da expansão,<br />

consolidação e alinhamento dos esforços de<br />

comunicação nos vários sectores, público,<br />

privado e da sociedade civil.<br />

Referências<br />

1 Assembleia Geral das Nações Unidas,<br />

Declaração Universal dos Direitos do <strong>Home</strong>m,<br />

Nações Unidas, Nova Iorque, 1948.<br />

2 Assembleia Geral das Nações Unidas,<br />

Convenção sobre a Eliminação de Todas as<br />

Formas de Discriminação contra a Mulher,<br />

Nações Unidas, Nova Iorque, 1979.<br />

3 United Nations General Assembly, Vienna<br />

Declaration and Programme of Action, World<br />

Conference on Human Rights, Vienna, 14-25<br />

June 1993, A/CONF.157/23, 13 de Julho de<br />

1993.<br />

4 Ministério do Plano e Finanças, Plano de<br />

Acção para a Redução da Pobreza Absoluta,<br />

2001–2005, Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2001<br />

5 Ministério de Planificação e Desenvolvimento,<br />

Proposta de Programa do Governo para<br />

2010–2014, Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 17 de Fevereiro de 2010.<br />

6 Ibid<br />

7 Tvedten, Inge, Margarida Paulo e Georgina<br />

Montserrat, Gender Policies and Feminization<br />

of Poverty in <strong>Mozambique</strong>, CMI Report, Chr.<br />

Michelsen Institute, Bergen, 2008.<br />

8 Cruzeiro do Sul, ‘Análise multidimensional<br />

da pobreza em três aldeias do norte de<br />

Moçambique, Relatório Final’, Maputo, 2007.<br />

9 Cuangara, Benedito e Brendan Kelly,<br />

‘The impact of the PARPA II in promoting<br />

the agricultural sector in <strong>Mozambique</strong>,’<br />

descarregado de: http://www.open.ac.uk/<br />

technology/mozambique/pics/d119369.pdf,<br />

2009.<br />

10 Ministério de Planificação e Desenvolvimento,<br />

Plano de Acção para a Redução da<br />

Pobreza Absoluta, 2006–2009, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2006.<br />

12 Tvedten, Inge, Margarida Paulo e Georgina<br />

Montserrat, Gender Policies and Feminisation<br />

of Poverty in <strong>Mozambique</strong>, CMI Report, Chr.<br />

Michelsen Institute, Bergen, 2008.<br />

13 Instituto Nacional de Estatística , ‘MICS 2008,<br />

Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

14 Ministry of Education and Culture, Education<br />

Statistics: Annual school survey, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2004, 2005, 2006, 2007,<br />

2008.<br />

15 Ibid<br />

16 Pinheiro, Paulo Sérgio, World Report on<br />

Violence Against Children, Estudo do<br />

Secretário Geral das Nações Unidas sobre a<br />

Violência contra a Criança, Genebra, 2006.<br />

17 Tvedten, Inge, Margarida Paulo e Georgina<br />

Montserrat, Gender Policies and Feminisation<br />

of Poverty in <strong>Mozambique</strong>, CMI Report, Chr.<br />

Michelsen Institute, Bergen, 2008.<br />

18 United Nations Committee on the Elimination<br />

of Discrimination against Women,<br />

‘Consideration of reports submitted by States<br />

Parties under article 18 of the Convention on<br />

the Elimination of All Forms of Discrimination<br />

against Women, Combined initial and<br />

second periodic reports of States Parties<br />

– <strong>Mozambique</strong>,’ CEDAW/C/MOZ/1-2, Nações<br />

Unidas, Genebra, 14 de Novembro de 2005.<br />

19 Tvedten, Inge, Margarida Paulo e Carmeliza<br />

Rosário, “Opitanha”: Social relations of rural<br />

poverty in northern <strong>Mozambique</strong>, CMI Report<br />

2006:16, Chr. Michelsen Institute, Bergen,<br />

Noruega, 2006.<br />

20 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />

Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

21 Ibid<br />

11 Ministério de Planificação e Desenvolvimento,<br />

Ministério da Mulher e da Acção Social e<br />

Grupo de Coordenação de Género, Gender<br />

Development Index no Contexto da Avaliação<br />

do PARPA II, 2006–2009), Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2009.<br />

22 Tvedten, Inge, Margarida Paulo e Carmeliza<br />

Rosário, “Opitanha”: Social relations of rural<br />

poverty in northern <strong>Mozambique</strong>, CMI Report<br />

2006:16, Chr. Michelsen Institute, Bergen,<br />

Noruega, 2006.<br />

232<br />

233


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

23 Tvedten, Inge, Margarida Paulo e Georgina<br />

Montserrat, Gender Policies and Feminisation<br />

of Poverty in <strong>Mozambique</strong>, CMI Report, Chr.<br />

Michelsen Institute, Bergen, 2008.<br />

24 United Nations Committee on the Elimination<br />

of Discrimination against Women,<br />

‘Consideration of reports submitted by States<br />

Parties under article 18 of the Convention on<br />

the Elimination of All Forms of Discrimination<br />

against Women, Combined initial and<br />

second periodic reports of States Parties<br />

– <strong>Mozambique</strong>’, CEDAW/C/MOZ/1-2, Nações<br />

Unidas, Genebra, 14 de Novembro de 2005.<br />

25 United Nations, Declaration of Commitment<br />

on HIV/AIDS, Sessão Especial da Assembleia<br />

Geral das Nações Unidas sobre o HIV/SIDA,<br />

25–27 de Julho 2001.<br />

26 Southern African Research and<br />

Documentation Centre, Instituto Superior de<br />

Relações Internacionais, National Institute<br />

of Statistics e United Nations Development<br />

Programme, <strong>Mozambique</strong> National Human<br />

Development Report 2007, UNDP, Maputo,<br />

2007.<br />

27 Instituto Nacional de Estatística e Ministério<br />

da Saúde, Inquérito Nacional de Prevalência.<br />

Riscos Comportamentais e Informação sobre<br />

o HIV e SIDA em Mocambique (INSIDA),<br />

Relatório Preliminar sobre a Prevalência da<br />

Infecção por HIV, Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2009.<br />

28 Instituto Nacional de Estatística, Ministério<br />

da Saúde, Ministério de Planificação e<br />

Desenvolvimento, Centro de Estudos<br />

Africanos da Universidade Eduardo Mondlane,<br />

Conselho Nacional de Combate ao HIV/SIDA e<br />

Faculdade de Medicina, Impacto Demográfico<br />

do HIV/SIDA em Moçambique, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, Setembro de 2008.<br />

29 AIDS Accountability International, ‘The AIDS<br />

Accountability Scorecard on Women 2009’,<br />

Joint United Nations Programme on HIV/<br />

AIDS, Genebra, 2009.<br />

30 Instituto Nacional de Estatística, Inquérito<br />

de Indicadores Múltiplos 2008. Sumário,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2008.<br />

31 Ministry of Planning and Development,<br />

‘Poverty and Wellbeing in <strong>Mozambique</strong>: Third<br />

National Poverty Assessment.’ Governo de<br />

Moçambique, Setembro de 2010.<br />

32 Fox, Louise, Beating the Odds: Sustaining<br />

inclusion in <strong>Mozambique</strong>’s growing economy,<br />

The World Bank, Washington, D.C., 2008.<br />

33 United Nations Development Programme,<br />

<strong>Mozambique</strong> National Human Development<br />

Report 2007, UNDP, Maputo, 2007.<br />

34 Ibid.<br />

35 James, Robert C., Channing Arndt and<br />

Kenneth R. Simler, ‘Has Economic Growth<br />

in <strong>Mozambique</strong> Been Pro-Poor?’ Relatório<br />

de Discussão E8, Moçambique Ministério<br />

do Plano e Finanças, Direcção Nacional<br />

de Estudos e Análise de Políticas, Purdue<br />

University e International Food Policy and<br />

Research Institute, Maputo, 2005.<br />

36 Ministério de Planificação e Desenvolvimento,<br />

Relatório de Avaliação de Impacto do PARPA<br />

II, 30 Outubro de 2009, para. 108, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2009.<br />

37 <strong>UNICEF</strong>, Trends in Child Poverty in<br />

<strong>Mozambique</strong>. A deprivations-based approach,<br />

Ministério de Planificação e Desenvolvimento,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2009.<br />

38 <strong>UNICEF</strong>, Trends in Child Poverty in<br />

<strong>Mozambique</strong>. A deprivations-based approach,<br />

Ministério de Planificação e Desenvolvimento,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2009.<br />

39 Ibid<br />

40 Ibid<br />

41 Instituto Nacional de Estatística e Ministério<br />

da Saúde, Inquérito Nacional de Prevalência.<br />

Riscos Comportamentais e Informação sobre<br />

o HIV e SIDA em Mocambique (INSIDA),<br />

Relatório Preliminar sobre a Prevalência da<br />

Infecção por HIV, Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2009.<br />

42 <strong>UNICEF</strong>, Trends in Child Poverty in<br />

<strong>Mozambique</strong>. A deprivations-based approach,<br />

Ministério de Planificação e Desenvolvimento,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2009.<br />

43 McCoy, Simon, and ImarcianaCunamizana,<br />

Provincial Budget Allocations in the Health,<br />

Education and Water Sectors: An analysis<br />

2003–2006, Discussion paper no. 58E,<br />

<strong>UNICEF</strong> Moçambique e Direcção Nacional de<br />

Estudos e Análises de Políticas, Ministério<br />

de Planificação e Desenvolvimento, Maputo,<br />

Janeiro de 2008.<br />

44 Sal e Caldeira e Ximango Consoltores, Análise<br />

do Impacto da Estrutura das Despesas sobre o<br />

Desenvolvimento Económico e as Condições<br />

de Vida em Moçambique, Agência Suíça para<br />

o Desenvolvimento e Cooperação, 2009.<br />

45 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />

Relatório Final’, Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

46 Ibid.<br />

47 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />

Relatório Final’, Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

48 Sal e Caldeira e Ximango Consultores, Análise<br />

do Impacto da Estrutura das Despesas sobre o<br />

Desenvolvimento Económico e as Condições<br />

de Vida em Moçambique, Agência Suíça para<br />

o Desenvolvimento e Cooperação, 2009.<br />

49 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />

Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

50 Ibid<br />

51 Ministério da Mulher e da Acção Social,<br />

Inquérito sobre Violência Contra a Mulher,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2004.<br />

52 Centro de Documentação e Pesquisa para<br />

a África Austral, Instituto Superior de<br />

Relações Internacionais, Instituto Nacional<br />

de Estatística e Programa das Nações Unidas<br />

para o Desenvolvimento, Relatório Nacional<br />

de Desenvolvimento Humano de Moçambique<br />

2007, PNUD, Maputo, 2007.<br />

53 Commission on HIV/AIDS and Governance in<br />

Africa, ‘The Impacts of HIV/AIDS on Families<br />

and Communities in Africa,’ Comissão<br />

Económica para África, Adis Abeba, 2004.<br />

54 Instituto Nacional de Estatística, Ministério<br />

da Saúde, Ministério de Planificação e<br />

Desenvolvimento, Centro de Estudos<br />

Africanos da Universidade Eduardo<br />

Mondlane, Conselho Nacional de Combate<br />

ao HIV/SIDA e Faculdade de Medicina,<br />

Impacto demográfico do HIV/SIDA em<br />

Moçambique: Actualização - Ronda de<br />

vigilância epidemiológica 2007, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2008.<br />

55 Centro de Documentação e Pesquisa para<br />

a África Austral, Instituto Superior de<br />

Relações Internacionais, Instituto Nacional<br />

de Estatística e Programa das Nações Unidas<br />

para o Desenvolvimento, Relatório Nacional<br />

de Desenvolvimento Humano de Moçambique<br />

2007, PNUD, Maputo, 2007.<br />

56 Ibid.<br />

57 Joint United Nations Programme on HIV/AIDS,<br />

<strong>Mozambique</strong> Modes of HIV Transmission and<br />

HIV Prevention Study, UNAIDS, Genebra,<br />

2009<br />

58 Instituto Nacional de Estatística, Ministério<br />

da Saúde, Ministério de Planificação e<br />

Desenvolvimento, Centro de Estudos Africanos<br />

da Universidade Eduardo Mondlane, Conselho<br />

Nacional de Combate ao HIV/SIDA e<br />

Faculdade de Medicina, Impacto demográfico<br />

do HIV/SIDA em Moçambique. Actualização:<br />

Ronda de vigilância epidemiológica 2007,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2008.<br />

59 <strong>Mozambique</strong> National Institute of Health,<br />

London School of Hygiene and Tropical<br />

Medicine, and <strong>UNICEF</strong>, <strong>Mozambique</strong> National<br />

Childhood Mortality Study 2009, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2009.<br />

60 Ibid.<br />

61 Instituto Nacional de Estatística e Ministério<br />

da Saúde, Inquérito Nacional de Prevalência.<br />

Riscos Comportamentais e Informação sobre<br />

o HIV e SIDA em Mocambique (INSIDA),<br />

Relatório Preliminar sobre a Prevalência da<br />

Infecção por HIV, Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2009.<br />

62 Government of <strong>Mozambique</strong> and National<br />

AIDS Council, Progress Report to the United<br />

Nations General Assembly Special Session<br />

on HIV and AIDS, 2008–2009, Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

63 Ghys, P.D., E. Kufa and M.V. George,<br />

‘Measuring trends in prevalence and incidence<br />

of HIV infection in countries with generalized<br />

epidemics,’Sexually Transmitted Infections,<br />

vol. 82, supplement 1, pp. i52–i56.<br />

64 Government of <strong>Mozambique</strong> and National<br />

AIDS Council, Progress Report to the United<br />

Nations General Assembly Special Session<br />

on HIV and AIDS, 2008–2009, Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

65 Ibid.<br />

234<br />

235


POBREZA INFANTIL E DISPARIDADES EM MOÇAMBIQUE 2010<br />

CAPÍTULO 6: QUESTÕES TRANSVERSAIS<br />

66 Conselho Nacional de Combate ao HIV/SIDA,<br />

UNAIDS and Global AIDS Monitoring and<br />

Evaluation Team, Mocambique: Modos de<br />

Transmissão do HIV e estudo de prevenção do<br />

HIV, Maputo, 2009.<br />

67 Arnt, Channing, ‘HIV/AIDS, Human Capital and<br />

Economic Prospects for <strong>Mozambique</strong>,’ Trade<br />

and Macroeconomic Division, International<br />

Food Policy Research Institute, Purdue<br />

University, Washington, DC, USA, 2002.<br />

68 Verde Azul Consultant Lda, for the Ministry of<br />

Education, Assessment of the Impact of HIV/<br />

AIDS on the Education Sector in <strong>Mozambique</strong>,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2000.<br />

69 United Nations, Declaration of Commitment<br />

on HIV/AIDS, United Nations General<br />

Assembly Special Session on HIV and AIDS,<br />

Genebra, 25–27 Junho de 2001.<br />

70 Instituto Nacional de Estatística, ‘MICS 2008,<br />

Relatório Final,’ Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2010.<br />

71 Ibid<br />

72 Ibid<br />

73 Leclerc-Madlala, Suzanne, ‘Intergenerational/<br />

age-disparate sex,’ policy and programme<br />

action brief from the technical meeting<br />

on young women in HIV hyper-endemic<br />

countries of southern Africa, descarregado<br />

de http://www.unaidsrstesa.org/userfiles/file/<br />

womenGirls_AgeDisparate.pdf,2010.<br />

74 Duerr, Ann, Stacey Hurst, Athena P. Kourtis,<br />

Naomi Rutenberg and Denise J. Jamieson,<br />

‘’Integrating family planning and prevention of<br />

mother-to-child HIV transmission in resourcelimited<br />

settings’ The Lancet, Vol. 366, Issue<br />

9481, pp 261-263, 2005.<br />

75 Joint United Nations Programme on HIV and<br />

AIDS, 2008 Report on Global AIDS Epidemic,<br />

UNAIDS, Genebra, 2008.<br />

76 UNAIDS, <strong>UNICEF</strong> and WHO, Children and<br />

AIDS: A stocktaking report – Actions and<br />

progress during the first year of Unite for<br />

Children, Unite against AIDS, <strong>UNICEF</strong>, Nova<br />

Iorque, 2007.<br />

77 Conselho Nacional de Combate ao HIV/SIDA,<br />

UNAIDS e Global AIDS Monitoring and<br />

Evaluation Team, Mocambique: Modos de<br />

Transmissão do HIV e estudo de prevenção do<br />

HIV, Maputo, 2009.<br />

78 Estimativas da ONUSIDA, Junho de 2010<br />

79 Conselho Nacional de Combate de HIV/SIDA<br />

‘UNGASS Relatório de Progresso, 2008-<br />

2009’ Ministério da Saúde, Governo de<br />

Moçambique, 2010.<br />

80 Estimativas da ONUSIDA, Junho de 2010.<br />

81 Ministério da Saúde, Circular No. 7820/GPS-<br />

3/DNS, Governo de Moçambique, Maputo,<br />

Novembro de 2006.<br />

82 World Health Organisation, Rapid Advice: Use<br />

of antiretroviral drugs for treating pregnant<br />

women and preventing HIV infection in<br />

infants, OMS, Genebra, Novembro de 2009.<br />

83 Ministry of Health, National ART guidelines<br />

for adults, adolescents and pregnant women,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2009.<br />

84 Instituto Nacional de Estatística, Inquérito<br />

de Indicadores Múltiplos 2008. Sumário,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2008.<br />

85 Government of <strong>Mozambique</strong>, Multiple<br />

Indicator Cluster Survey 2008, Maputo, 2008.<br />

86 Instituto nacional de Estatística, Ministério<br />

da Saúde, Ministério de Planificação e<br />

Desenvolvimento, Centro de Estudos<br />

Africanos da Universidade Eduardo<br />

Mondlane, Conselho Nacional de Combate<br />

ao HIV/SIDA e Faculdade de Medicina,<br />

Impacto demográfico do HIV/SIDA em<br />

Moçambique. Actualização - Ronda de<br />

Vigilância Epidemiológica 2007, Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2008.<br />

87 Sturt,AS, EK Dokubo and TT Stint,<br />

‘Antiretroviral therapy (ART) for treating HIV<br />

infection in ART-eligible pregnant women.’<br />

Cochrane Database Syst Review, Stanford<br />

University, Stanford, USA, Março de 2000.<br />

88 Ministry of Health, National ART guidelines<br />

for adults, adolescents and pregnant women,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2009.<br />

89 World Health Organisation, Use of<br />

Antiretroviral Drugs for Treating Pregnant<br />

Women and Preventing HIV Infection in<br />

Infants: Recommendations for a public health<br />

approach, OMS, Genebra, 2006.<br />

90 Conselho Nacional de Combate de HIV/<br />

SIDA, ‘The National Strategic Plan for the<br />

Combat Against HIV and AIDS,’ Governo de<br />

Moçambique, Maputo, 2004.<br />

91 Instituto nacional de Estatística, Ministério<br />

da Saúde, Ministério de Planificação e<br />

Desenvolvimento, Centro de Estudos Africanos<br />

da Universidade Eduardo Mondlane, Conselho<br />

Nacional de Combate ao HIV/SIDA e<br />

Faculdade de Medicina, Impacto demográfico<br />

do HIV/SIDA em Moçambique. Actualização<br />

- Ronda de Vigilância Epidemiológica 2007,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2008.<br />

92 Ibid<br />

93 Ibid<br />

94 National Institute of Health, London School of<br />

Hygiene and Tropical Medicine and <strong>UNICEF</strong>,<br />

<strong>Mozambique</strong> National Child Mortality Study,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2009.<br />

95 Instituto Nacional de Estatística, Ministério<br />

da Saúde, Ministério de Planificação e<br />

Desenvolvimento, Centro de Estudos Africanos<br />

da Universidade Eduardo Mondlane, Conselho<br />

Nacional de Combate ao HIV/SIDA e<br />

Faculdade de Medicina, Impacto demográfico<br />

do HIV/SIDA em Moçambique. Actualização<br />

- Ronda de Vigilância Epidemiológica 2007,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2008.<br />

96 Conselho Nacional de Combate de HIV/SIDA,<br />

‘UNGASS Relatório de Progresso, 2008-<br />

2009’ Ministério da Saúde, Governo de<br />

Moçambique, 2010.<br />

97 Ministry of Health, Monthly Reports, HIV<br />

and AIDS Programme, Departamento de<br />

Assistência Médica, Governo de Moçambique,<br />

Maputo, 2009<br />

98 World Health Organisation, Use of<br />

Antiretroviral Drugs for Treating Pregnant<br />

Women and Preventing HIV Infection in<br />

Infants: Recommendations for a public health<br />

approach, OMS, Genebra, 2006.<br />

99 World Health Organisation, ’Antiretroviral<br />

therapy for HIV infection in infants and<br />

children: Towards universal access, Executive<br />

summary of recommendations, Preliminary<br />

version for program planning,’ descarregado<br />

de: http://www.who.int/hiv/pub/paediatric/<br />

paed-prelim-summary.pdf, 2010.<br />

100 Ministry of Health, Annual Report, National<br />

Laboratory Services, Maputo, 2009.<br />

101 National Institiute of Statistics, Ministério<br />

da Saúde, Ministério de Planificação e<br />

Desenvolvimento, Centro de Estudos<br />

Africanos da Universidade Eduardo<br />

Mondlane, Conselho Nacional de Combate ao<br />

HIV/SIDA e<br />

Faculdade de Medicina, Impacto demográfico<br />

do HIV/SIDA em Moçambique: Actualização<br />

– Ronda de vigilância epidemiológica 2008,<br />

Governo de Moçambique, Maputo, 2009.<br />

102 United Nations Children’s Fund, The Human<br />

Rights Situation of Children in <strong>Mozambique</strong>.<br />

<strong>UNICEF</strong>, Maputo, 2009.<br />

103 Social Impact Assessment and Policy Analysis<br />

Corporation, em colaboração com Verde<br />

Azul Consultants Lda, A Study of Community<br />

Coping Capacity for the Care and Protection<br />

of Orphaned and Vulnerable Children in<br />

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