O Papel da Informação Geográfica na Sociedade - Instituto ...
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Ano I ∙ Nº1 ∙ Outubro 2006<br />
O <strong>Papel</strong> <strong>da</strong> Informação<br />
Geográfica <strong>na</strong> Socie<strong>da</strong>de
Colu<strong>na</strong> do Presidente<br />
3<br />
“O IGP acompanha a<br />
evolução do fenómeno <strong>da</strong><br />
informação geográfica.”<br />
actual Estatuto do <strong>Instituto</strong> Geográfico Português (IGP) confere-lhe as competências<br />
dos organismos que lhe deram origem, às quais se juntou de<br />
O<br />
forma clara e inequívoca uma nova atribuição, a de Autori<strong>da</strong>de Nacio<strong>na</strong>l para o<br />
sector. Esta competência simboliza o papel prioritário que deve caber ao Estado<br />
<strong>na</strong>s socie<strong>da</strong>des moder<strong>na</strong>s, conferindo ao <strong>Instituto</strong> a responsabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> gestão <strong>da</strong><br />
quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> informação geográfica e <strong>da</strong> sua difusão aos diferentes utilizadores.<br />
O IGP está, e sempre estará, atento às necessi<strong>da</strong>des dos utilizadores, públicos<br />
ou privados, e procurará acompanhar a evolução do fenómeno <strong>da</strong> informação<br />
geográfica, cartográfica e ca<strong>da</strong>stral, no plano <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. Ciente que,<br />
existindo três tipos de organizações – as que fazem as coisas acontecer, as que<br />
assistem ao desenrolar dos acontecimentos e as que não compreendem porque<br />
é que as coisas acontecem – o seu lugar é entre as primeiras.<br />
A Revista Fórum Geográfico é, <strong>na</strong> sua forma de apresentação pública, uma publicação<br />
simultaneamente de cariz tradicio<strong>na</strong>l e moderno - combi<strong>na</strong>ndo a versão<br />
clássica com a sua equivalente digital. Ambicio<strong>na</strong>-se que este Fórum possa vir a<br />
assumir-se, pela sua quali<strong>da</strong>de e num futuro próximo, como o mais relevante veículo<br />
<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l difusor <strong>da</strong>s ciências e tecnologias geográficas à geo-comuni<strong>da</strong>de.<br />
A evolução que se perspectiva para o sector <strong>da</strong> informação geográfica nos próximos<br />
anos está intrinsecamente liga<strong>da</strong> ao que a iniciativa INSPIRE (INfrastructure<br />
for SPatial InfoRmation in Europe) vier a estabelecer para todos os seus Estados<br />
membros. Com esta iniciativa pretende-se, de acordo com os respectivos objectivos,<br />
promover a disponibilização de informação de <strong>na</strong>tureza espacial, utilizável <strong>na</strong><br />
formulação, implementação e avaliação <strong>da</strong>s políticas <strong>da</strong> União Europeia, estabelecendo<br />
para o efeito um enquadramento legal para a criação gradual e harmoniza<strong>da</strong><br />
de uma infra-estrutura europeia de informação geográfica. A condução dos<br />
trabalhos está a cargo <strong>da</strong> Comissão Europeia, via DG Environment e Eurostat, com<br />
o apoio do Institute for Environment and Sustai<strong>na</strong>bility (IES) do Joint Research<br />
Centre e <strong>da</strong> Agência Europeia do Ambiente n<br />
Arménio Castanheira
Editorial<br />
4<br />
<strong>Instituto</strong> Geográfico Português tem vindo a consoli<strong>da</strong>r uma estratégia de<br />
O abertura ao exterior e de promoção <strong>da</strong> Informação Geográfica, do seu conhecimento,<br />
<strong>da</strong> sua evolução e do seu debate, bem como <strong>da</strong>s tecnologias que<br />
lhe estão associa<strong>da</strong>s. Assim, através <strong>da</strong> publicação semestral <strong>da</strong> Revista Fórum<br />
Geográfico, de que este é o primeiro número, esperamos contribuir de forma<br />
mais eficaz para esse processo.<br />
Desde os mais remotos tempos <strong>da</strong> antigui<strong>da</strong>de, o Homem sempre procurou<br />
valorizar o conhecimento geográfico em seu proveito, seja para a promoção <strong>da</strong><br />
riqueza e do desenvolvimento, seja para a conquista e defesa ou seja para a protecção<br />
e valorização do território.<br />
Hoje, muito mais do que a representação<br />
cartográfica do espaço (por <strong>na</strong>tureza<br />
estática), importa a informação<br />
que sobre ele se consegue coligir,<br />
organizar, aceder e explorar, numa<br />
perspectiva pragmática e dinâmica.<br />
Mais do que simples repositórios de<br />
<strong>da</strong>dos, é imprescindível abrir e fazer<br />
uso <strong>da</strong> informação existente, através<br />
<strong>da</strong>s infra-estruturas <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />
Informação e do Conhecimento.<br />
O <strong>Papel</strong> <strong>da</strong> Informação<br />
Geográfica <strong>na</strong> Socie<strong>da</strong>de<br />
Assim, para <strong>da</strong>r início a este projecto editorial considerou-se que se deveria discutir<br />
e perspectivar qual o papel que a Informação Geográfica pode ter no contexto do<br />
desenvolvimento <strong>da</strong> própria Socie<strong>da</strong>de.<br />
Nesta perspectiva convidámos três conhecidos académicos, ca<strong>da</strong> um deles representando<br />
sensibili<strong>da</strong>des diferentes, para nos responderem à questão fulcral: qual<br />
o papel <strong>da</strong> Informação Geográfica <strong>na</strong> Socie<strong>da</strong>de?<br />
O resultado são três magníficos testemunhos, aos quais se juntaram outros artigos<br />
relacio<strong>na</strong>dos com a activi<strong>da</strong>de do <strong>Instituto</strong> e que dão uma imagem exemplificativa<br />
<strong>da</strong> abrangência dos temas englobados pela Informação Geográfica.<br />
Assim será nos próximos números, onde se pretende que haja uma participação<br />
activa de todos quantos o queiram fazer, ficando aqui o compromisso de deixar<br />
um espaço aberto, de acordo com os princípios de participação adiante enunciados.<br />
Leiam, debatam e participem! Este espaço é vosso!<br />
Rui Pedro Julião
Índice<br />
Colu<strong>na</strong> do Presidente<br />
3<br />
Editorial<br />
O <strong>Papel</strong> <strong>da</strong> Informação Geográfica <strong>na</strong> Socie<strong>da</strong>de<br />
4<br />
Destaque<br />
E se os utilizadores <strong>da</strong> informação<br />
geográfica se revoltassem?<br />
A Fórmula do Dr. Livingstone<br />
A Informação Geográfica, a Geografia e a Internet<br />
6<br />
16<br />
26<br />
Artigos<br />
Câmara Aérea Digital - Ortofotomapas<br />
Relações inter-institucio<strong>na</strong>is descentraliza<strong>da</strong>s<br />
O Convénio Cartográfico Luso-Brasileiro de 1867<br />
Génese <strong>da</strong> Cartoteca do <strong>Instituto</strong><br />
Geográfico Português<br />
39<br />
49<br />
58<br />
Espaço SNIG<br />
INSPIRE 70<br />
Online<br />
Sites Interessantes 74<br />
Publicações<br />
Espaço dedicado a publicações adquiri<strong>da</strong>s pelo 75<br />
Centro de Documentação<br />
Normas de Publicação<br />
Regras para desenvolvimento de conteúdos 76<br />
Edição e Proprie<strong>da</strong>de ∙ <strong>Instituto</strong> Geográfico Português<br />
Director ∙ Rui Pedro Julião<br />
Colaboram neste número ∙ Alexandra Fonseca, João Matos, Marco<br />
Paínho, Maria Hele<strong>na</strong> Dias, Paulo Jorge Estrela, Paulo Patrício,<br />
Van<strong>da</strong> Soares Machado<br />
Coorde<strong>na</strong>ção editorial ∙ Paula Camacho<br />
Design ∙ FPGB - Consultoria e Design<br />
Produção gráfica ∙ Eurodois<br />
Tiragem ∙ 1 000 exemplares<br />
Depósito legal ∙ 248397/06<br />
ISSN ∙ 1646 - 1517<br />
Contactos ∙ Rua Artilharia Um, 107 - 1099-052 Lisboa<br />
Telf.: 21 381 96 00 ∙ Fax: 21 381 96 99<br />
Email: forumgeografico@igeo.pt ∙ URL: http://www.igeo.pt<br />
Os artigos publicados são <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de dos seus autores não<br />
transmitindo obrigatoriamente a posição institucio<strong>na</strong>l do <strong>Instituto</strong><br />
Geográfico Português.
Destaque<br />
6<br />
E se os utilizadores <strong>da</strong> informação<br />
geográfica se revoltassem?<br />
laoret fare<br />
Algumas reflexões de desafio à cartografia portuguesa<br />
“(…) Eu especulo. Os criadores de mapas têm de especular, pois sabem que<br />
não estão <strong>na</strong> posse de todos os <strong>da</strong>dos. Estamos sempre a li<strong>da</strong>r com <strong>na</strong>rrativas<br />
em segun<strong>da</strong> mão, resumos de impressões. Não trabalhamos com uma ciência<br />
exacta. (…)<br />
Maria Hele<strong>na</strong> Dias<br />
Os criadores de mapas enfeitam o mundo, e eu não sou excepção. Os meus<br />
mapas são elaborados para transmitir uma ilusão, disso tenho a certeza. (…)<br />
Ocorreu-me a ideia de fazer um mapa que desafiasse qualquer categoria e<br />
género. Esse mapa conteria todos os mapas, um mapa difícil de ser definido;<br />
devido a essa falta de definição, no entanto, esse mapa seria em si uma definição<br />
mais precisa.<br />
Não se desti<strong>na</strong>ria a advogar qualquer política ou convicção particular. Pelo contrário,<br />
queria que o meu mapa mostrasse a terra no céu e o céu <strong>na</strong> terra; um mapa<br />
que fosse o protótipo de todos os mapas espalhados no espaço e no tempo. Seria<br />
um projecto pelo qual o mundo poderia entregar-se, em fragmentos, ao olhar<br />
aberto e inquisidor de todos. Tinha muita esperança de que tal mapa pudesse <strong>da</strong>r<br />
origem a outro mapa, e a outro ain<strong>da</strong>, para além dele. (…) Acredito realmente<br />
que o meu mapa é uma distorção. To<strong>da</strong>s as representações de terras e oceanos<br />
são ape<strong>na</strong>s a manifestação do que captei (…). Agora percebo que o mundo só é<br />
real no modo como ca<strong>da</strong> um imprime nele a sua própria sensibili<strong>da</strong>de. (…)<br />
Os continentes e os povos só se afirmam como tal a partir <strong>da</strong> imagem que constroem<br />
de si próprios. To<strong>da</strong> a localização geográfica provou ser ilusória. A conclusão<br />
lógica é que a ver<strong>da</strong>deira localização do mundo, com os seus países, as<br />
montanhas, os rios e as ci<strong>da</strong>des, depende dos olhos dos observadores. É ali que<br />
as representações individuais participam <strong>da</strong> condição de sonho que as pessoas<br />
associam à invenção. (…) Fi<strong>na</strong>lmente compus o mundo. (…) Olhando o mapa,<br />
começo a ver nele o meu retrato. (…)”.<br />
As meditações de Fra Mauro em “O sonho do cartógrafo” de James Cowan, 2000
Destaque<br />
7<br />
Mapa-múndi de Fra Mauro, 1459.<br />
Reprodução a partir do Atlas do Visconde de Santarém<br />
(1849), tendo o origi<strong>na</strong>l cerca de 2 metros<br />
de diâmetro.
Destaque<br />
8<br />
Uma história do passado<br />
Há pouco mais de 200 anos, um eminente matemático e<br />
astrónomo português, ao ser nomeado pelo governo para<br />
lançar as bases <strong>da</strong> moder<strong>na</strong> Cartografia, aventurou-se, antes<br />
de tudo, à descoberta do país. Era preciso começar por<br />
saber onde se situavam as montanhas principais e o que se<br />
avistava de ca<strong>da</strong> topo relevante, bem como encontrar uma<br />
planície de dimensão suficiente a sul do território e outra<br />
a norte, com vista a estabelecer um esquema adequado<br />
de triângulos e as bases para as medições geodésicas. Ele,<br />
Francisco António Ciera (1763-1814), ao partir para a sua<br />
primeira expedição geográfica de reconhecimento, levava<br />
<strong>na</strong> mão uma carta espanhola então muito em voga. Nela,<br />
o relevo era figurado por curiosos montículos, alinhados no<br />
espaço disponível entre os cursos de água, sem grande correspondência<br />
com a imagem que hoje temos deste aspecto<br />
<strong>da</strong> fisionomia do País: a densi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s formas desenha<strong>da</strong>s<br />
a sul do Tejo sugeria contrastes com o desconhecido vazio<br />
<strong>da</strong> Cordilheira Central e com as ignora<strong>da</strong>s regiões do Douro<br />
e Minho.<br />
Nesse distante Outono de 1790, partira de Lisboa em direcção<br />
a Évora e, <strong>da</strong>í, começou por procurar a imaginária<br />
Serra de S. João, tão representa<strong>da</strong> <strong>na</strong>s cartas <strong>da</strong> época: “Em<br />
Alcáçovas ninguém houve que desse notícia <strong>da</strong> Serra; porém,<br />
informando-me dos sítios mais altos, que <strong>na</strong>s vizinhanças se<br />
conheciam, achei que a de Nossa Senhora <strong>da</strong> Esperança,<br />
situa<strong>da</strong> no cume de um monte, era o ponto mais elevado;<br />
parti, pois, sem per<strong>da</strong> de tempo para o dito lugar e, depois<br />
de 2 horas de caminho a pé extremamente penoso pela<br />
muita calma que então se experimentava nesse sítio, como<br />
também por an<strong>da</strong>r sempre por um terreno de estevas que<br />
formava um mato muito denso, cheguei à Ermi<strong>da</strong>. Porém,<br />
os horizontes acinzados, que não permitiam observar os<br />
objectos ao longe, frustraram todo o trabalho. Vendo-me<br />
pois obrigado a esperar por dias claros, e isto numa terra<br />
onde quase todos os habitantes padeciam então de sezões,<br />
tomei o partido de continuar a viagem e procurar algum<br />
outro ponto. A vila de Ferreira representa-se <strong>na</strong> carta como<br />
situa<strong>da</strong> num grande alto. Dirigi o caminho para esta vila,<br />
aonde cheguei no dia 16, ao meio-dia. Esta viagem foi muito<br />
cheia de incómodos e ia sendo funesta para mim e um<br />
aju<strong>da</strong>nte que, por não se terem achado cavalgaduras, me<br />
acompanhava em caleça, a qual <strong>na</strong> noite antecedente perdendo<br />
o prático o caminho tombou numa cova e por um<br />
feliz sucesso, que raríssimas vezes costuma ter lugar em<br />
semelhantes casos, não sofremos incómodo que impedisse<br />
continuar. Ferreira não é, como se representa <strong>na</strong> carta, um<br />
grande alto (…)”.<br />
laoret fare<br />
A descrição que fez <strong>da</strong>s duas viagens, primeiro pelo sul, em<br />
fi<strong>na</strong>is de 1790, e depois a norte de Lisboa, <strong>na</strong> Primavera do<br />
ano seguinte, provam bem que o plano <strong>da</strong> primeira rede<br />
de triangulação teve que ser gizado no terreno, escalando<br />
penosamente as montanhas com os instrumentos, e não<br />
planeado sobre uma carta, como hoje <strong>na</strong>turalmente se faria.<br />
E as dificul<strong>da</strong>des foram ain<strong>da</strong> maiores no norte de Portugal,<br />
quando pretendeu referenciar as serras que avistava no Minho<br />
e em Trás-os-Montes, quase desconheci<strong>da</strong>s. Mas a carta<br />
de Tomás Lopez, de que Ciera se servia, não permitia <strong>da</strong>r<br />
uma ideia, mesmo que aproxima<strong>da</strong>, do relevo de Portugal.<br />
Das três primeiras expedições geográficas (1790-91) resultou<br />
uma carta que o próprio Ciera construiu (Fig.1), que nos<br />
testemunha hoje onde ele pretendeu inicialmente realizar<br />
as suas observações geodésicas, as primeiras à escala do<br />
país, com vista à medição do grau de meridiano e, sobretudo,<br />
à elaboração <strong>da</strong> primeira carta topográfica detalha<strong>da</strong> de<br />
que estava encarregado (DIAS, no prelo) 1 .<br />
Nesta época, as alturas <strong>da</strong>s montanhas portuguesas eram<br />
ain<strong>da</strong> completamente desconheci<strong>da</strong>s. Só depois de suspensos<br />
os trabalhos geodésicos, em 1804, Marino Miguel Franzini<br />
apresentaria (ca.1808), por dedução a partir dos ângulos<br />
medidos <strong>na</strong>s triangulações efectua<strong>da</strong>s sob a direcção de<br />
Ciera, as alturas de uma deze<strong>na</strong> e meia de locais. Na carta<br />
hidrográfica que aquele publicaria em 1811, alguns pontos<br />
relevantes ao longo <strong>da</strong> costa apareciam já assi<strong>na</strong>lados com<br />
essas alturas. Estes e outros valores, nem sempre coincidentes<br />
por dependerem <strong>da</strong> sua proveniência, seriam sistematizados<br />
e graficamente apresentados, em 1824, pelo Barão de<br />
Eschewege (Fig.2), mostrando, por exemplo, que a Serra do<br />
Soajo era considera<strong>da</strong> a mais alta de Portugal, com 2400 m<br />
(1335 m <strong>na</strong>s cartas actuais, a ser ver<strong>da</strong>de tratar-se <strong>da</strong> serra<br />
1 Trabalho desenvolvido no quadro do Projecto SIDCarta / Sistema<br />
de Informação para Documentação Cartográfica: o Espólio <strong>da</strong> Engenharia<br />
Militar Portuguesa (POCTI/43111/GEO/2001), aprovado<br />
pela FCT e co-fi<strong>na</strong>nciado pelo FEDER, do qual a autora é Investigadora<br />
Responsável.
Destaque<br />
9<br />
com a mesma desig<strong>na</strong>ção), enquanto se atribuía para a Serra<br />
<strong>da</strong> Estrela uns mais modestos 2100 a 2300 m, consoante<br />
os autores (1993 m <strong>na</strong>s cartas actuais).<br />
Serve este curto relato de há 200 anos para relembrar, sobretudo<br />
a quem vive intensamente para as tecnologias do<br />
presente, que houve um tempo, não tão longínquo quanto<br />
por vezes se supõe, em que o défice de informação geográfica<br />
fez mover a Cartografia. Os levantamentos de base<br />
consoli<strong>da</strong>ram-se lentamente no decurso de Oitocentos,<br />
<strong>na</strong> mesma altura em que surgiram as primeiras representações<br />
temáticas. E os <strong>da</strong>dos geográficos, associados ou<br />
não com os diferentes ramos que se iam então desmembrando<br />
<strong>da</strong> Cartografia, aumentariam extraordi<strong>na</strong>riamente<br />
no decurso do século XX. O desenvolvimento <strong>da</strong>s Ciências<br />
Cartográficas propiciaria, a par com os restantes avanços<br />
científicos e tecnológicos e as necessi<strong>da</strong>des de uma socie<strong>da</strong>de<br />
ca<strong>da</strong> vez mais globalizante, que se chegasse à super<br />
abundância actual.<br />
Algumas preocupações do presente<br />
Temas cartográficos clássicos do século XX projectam-se<br />
hoje do papel para a esfera virtual, a<strong>da</strong>ptando-se às novas<br />
condições de produção e de visualização. São exemplos<br />
dessas heranças estáticas, que não perdem por isso o seu<br />
lugar relevante, as duas cartas que escolhemos do “Atlas do<br />
Parque Natural de Sintra-Cascais” (BALTAZAR e MARTINS,<br />
2004) 2 : a carta hipsométrica (Fig.3) e a <strong>da</strong> distribuição<br />
<strong>da</strong> população em 2001 (Fig.4). Elas servem para ilustrar<br />
como é possível exigir <strong>da</strong>s ferramentas SIG, com que foram<br />
construí<strong>da</strong>s, uma quali<strong>da</strong>de técnica e conceptual que não<br />
desvirtue aquela que a Cartografia nos foi, ao longo do tempo,<br />
habituando. Em particular, no caso <strong>da</strong> representação <strong>da</strong><br />
distribuição <strong>da</strong> população, os instrumentos actuais vieram<br />
facilitar a concepção tradicio<strong>na</strong>l.<br />
Fig.1. Primeiro esquema de triangulação projectado<br />
por Ciera após as expedições geográficas de 1790-91.<br />
Reprodução do origi<strong>na</strong>l pertencente à Direcção dos<br />
Serviços de Engenharia.<br />
2 Este projecto foi desenvolvido, sob nossa coorde<strong>na</strong>ção, no quadro<br />
do Seminário <strong>da</strong> variante de Cartografia e SIG (2003/2004) <strong>da</strong> licenciatura<br />
em Geografia <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Letras <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />
de Lisboa, cujos resultados se encontram disponíveis <strong>na</strong> Internet,<br />
aguar<strong>da</strong>ndo-se a sua publicação, em CD-ROM, pelo Parque Natural<br />
de Sintra-Cascais.<br />
Fig.2. As alturas conheci<strong>da</strong>s em 1824 de alguns pontos<br />
altos de Portugal, segundo o Barão de Eschewege.<br />
Reprodução do origi<strong>na</strong>l pertencente ao <strong>Instituto</strong><br />
Geográfico Português.
Destaque<br />
10<br />
Fig.3. Carta hipsométrica segundo o “Atlas do Parque<br />
Natural de Sintra-Cascais” (BALTAZAR e MARTINS,<br />
2004).<br />
Fig.4. Distribuição <strong>da</strong> população em 2001 segundo o<br />
“Atlas do Parque Natural de Sintra-Cascais”<br />
( BALTAZAR e MARTINS, 2004).<br />
Embora metodologicamente simples, a realização <strong>da</strong>s cartas<br />
de pontos era extremamente penosa quando feita em papel<br />
(DIAS, 1991), sobretudo pela necessi<strong>da</strong>de de referenciar<br />
sobre cartas topográficas suficientemente detalha<strong>da</strong>s (e<br />
desigualmente desactualiza<strong>da</strong>s) os lugares habitados: primeiro,<br />
os que estavam acima de certo limiar de população;<br />
depois, os de dimensão seguinte, até perfazerem, com os<br />
anteriores, todos os habitantes de uma certa malha administrativa.<br />
Mas outras dificul<strong>da</strong>des surgiam ain<strong>da</strong> a jusante,<br />
quando a simbolização era feita por tentativas <strong>na</strong>s áreas de<br />
povoamento mais denso, procurando-se simultaneamente<br />
a melhor escolha para o valor e para a dimensão do ponto.<br />
a escolha de uma malha muito fi<strong>na</strong> para essa base, que<br />
dilua os efeitos <strong>da</strong> falsa atribuição geográfica dos símbolos;<br />
para aproximar a imagem <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, impõem-se ain<strong>da</strong><br />
restrições ao modelo, não permitindo a repartição em áreas<br />
onde não seja viável a permanência huma<strong>na</strong>, e reduz-se<br />
drasticamente a escala <strong>da</strong> carta.<br />
Embora as imagens estáticas sejam ain<strong>da</strong> largamente preponderantes<br />
no universo português <strong>da</strong> Cartografia digital, o<br />
“Atlas do Ambiente” tipifica bem, <strong>na</strong>s duas versões virtuais<br />
actualmente disponíveis <strong>na</strong> Internet, alguns problemas com<br />
que se confrontam os utilizadores comuns.<br />
Às limitações actuais <strong>da</strong> execução dos mapas de pontos com<br />
as ferramentas disponíveis - que as há -, resta por enquanto<br />
contorná-las: a repartição dos pontos numa certa base<br />
espacial imposta por estas ferramentas é ultrapassa<strong>da</strong> com<br />
Deste atlas existe também uma edição em papel, produzi<strong>da</strong><br />
desde 1975 <strong>na</strong> escala de 1:1 000 000 (DIAS, 1984), e ain<strong>da</strong><br />
várias digitais em CD-ROM (Direcção-Geral do Ambiente,<br />
versão 3, 1998), em que as cartas, de fraca quali<strong>da</strong>de, não
Destaque<br />
11<br />
são semelhantes às <strong>da</strong> edição anterior. Daquele atlas virtual<br />
escolheu-se um tema cartograficamente muito pobre, o <strong>da</strong>s<br />
ferrovias, para mostrar como uma informação largamente<br />
conheci<strong>da</strong> é vista e pode ser utiliza<strong>da</strong>. Este tema é ilustrado<br />
<strong>na</strong> figura 5, através <strong>da</strong> imagem minimalista que se encontra<br />
<strong>na</strong> Internet, pensa<strong>da</strong> com certeza para quem procede em<br />
segui<strong>da</strong> à cópia dos ficheiros <strong>da</strong> carta origi<strong>na</strong>l.<br />
Na figura 6 apresenta-se uma parte <strong>da</strong> mesma carta, correspondente<br />
agora à versão dinâmica do atlas, que também aí<br />
se encontra, esta supostamente idealiza<strong>da</strong> para a generali<strong>da</strong>de<br />
dos utentes.<br />
Graficamente pouco diferentes <strong>na</strong>s duas versões, as possibili<strong>da</strong>des<br />
de interacção com o utilizador nesta última limitam-se<br />
ape<strong>na</strong>s à inclusão, se deseja<strong>da</strong> por este, dos limites de distrito<br />
ou concelho (que, se não seleccio<strong>na</strong>dos, origi<strong>na</strong>rão um<br />
país sem fronteira e sem linha de costa) e dos respectivos<br />
topónimos, para além <strong>da</strong>s operações habituais: ampliar,<br />
reduzir ou arrastar a imagem. Sendo possível a cópia dos<br />
ficheiros <strong>da</strong>s cartas do atlas digital, embora em dois formatos<br />
ape<strong>na</strong>s vulgarizados entre quem trabalha em ambiente<br />
SIG 3 , o número <strong>da</strong>s que foram recentemente efectua<strong>da</strong>s<br />
diz pouco, por isso mesmo, <strong>da</strong> apetência dos utilizadores<br />
portugueses: quase 31 000 ficheiros foram importados em<br />
2004 e 9 000 nos dois primeiros meses de 2005 (passando,<br />
portanto, de cerca de 85 para 150 diariamente), sendo<br />
sobretudo procura<strong>da</strong>s as informações respeitantes às curvas<br />
de nível, aos concelhos e à rede hidrográfica.<br />
Apesar do esforço efectuado pelo <strong>Instituto</strong> do Ambiente,<br />
nomea<strong>da</strong>mente <strong>na</strong> disponibilização <strong>da</strong>s notícias explicativas<br />
e <strong>da</strong>s cópias dos origi<strong>na</strong>is <strong>da</strong>s cartas, o exemplo do<br />
atlas dinâmico (Fig.6) mostra que, para além <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de<br />
de grandes melhorias do ponto de vista cartográfico,<br />
é muito pobre a interacção susceptível de ser gera<strong>da</strong> com<br />
o utilizador 4 , a quem não chega a ser possível conhecer<br />
informações relevantes, obviamente relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s, que nos<br />
pareciam aí deverem constar (como as estações de caminho-de-ferro<br />
ou outras, neste caso). Muito menos há ligações,<br />
que o utilizador certamente desejaria, com outras bases<br />
de <strong>da</strong>dos (para a consulta de percursos dos comboios,<br />
horários, etc.).<br />
Ferrovias<br />
De <strong>na</strong>tureza diferente é o recente e interessante IGeoE-<br />
SIG, disponibilizado <strong>na</strong> Internet pelo <strong>Instituto</strong> Geográfico do<br />
Exército 5 a partir de informação <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de deste<br />
Fig.5. Carta <strong>da</strong>s ferrovias no “Atlas do Ambiente”<br />
digital (<strong>Instituto</strong> do Ambiente, 2005).<br />
3 MrSID e Shapefile.<br />
4 Sobre os tipos de interactivi<strong>da</strong>de em ambientes cartográficos<br />
digitais (com os <strong>da</strong>dos, a sua representação, a dimensão temporal<br />
e o contexto) e o grau de sofisticação relacio<strong>na</strong>do com as tarefas<br />
interactivas, veja-se CRAMPTON, 2002.<br />
5 Disponível em http://www.igeoe.pt/.
Destaque<br />
12<br />
representações do mundo. Não se pense, contudo, que as<br />
cartas anima<strong>da</strong>s são de hoje: já nos anos 40 elas foram<br />
incluí<strong>da</strong>s em filmes de animação, através de cente<strong>na</strong>s de<br />
imagens manualmente desenha<strong>da</strong>s e vistas em ape<strong>na</strong>s alguns<br />
segundos.<br />
IA - Atlas do Ambiente 0 18km<br />
Fig.6. Extracto <strong>da</strong> carta <strong>da</strong>s ferrovias no “Atlas do<br />
Ambiente” dinâmico (<strong>Instituto</strong> do Ambiente, 2005).<br />
organismo. Pela maior complexi<strong>da</strong>de desta ferramenta, parece-nos<br />
que ela é ape<strong>na</strong>s acessível ao restrito público dos<br />
profissio<strong>na</strong>is <strong>da</strong> área, que, no entanto, estão impossibilitados<br />
de efectuarem cópias dos ficheiros. Mas, passa<strong>da</strong> esta fase<br />
experimental, parte substancial <strong>da</strong> informação poder-se-á<br />
perfeitamente a<strong>da</strong>ptar, com sucesso, à curiosi<strong>da</strong>de e aos<br />
interesses dos utilizadores comuns. Por isso, e apesar de<br />
possuir ape<strong>na</strong>s alguns meses de vi<strong>da</strong>, os 44 acessos diários<br />
médios, com uma duração de um pouco mais de 25 minutos<br />
ca<strong>da</strong> (que correspondem até ao momento presente a<br />
cerca de 900 000 pedidos de visualização para um total de<br />
8 000 acessos), dizem bem de uma ferramenta que poderíamos<br />
considerar ain<strong>da</strong>, de certa forma, elitista, embora a<br />
instituição responsável preten<strong>da</strong> que ela contribua para um<br />
“acréscimo do direito de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia dos portugueses”.<br />
Para além <strong>da</strong>s imagens estáticas, mais tradicio<strong>na</strong>is, que<br />
têm passado simplesmente do papel para o mundo virtual<br />
(quantas vezes com pior quali<strong>da</strong>de), ou mesmo que<br />
já aqui <strong>na</strong>sceram, e de imagens que começaram recentemente<br />
a apresentar algum di<strong>na</strong>mismo (que desejaríamos<br />
mais promissor), a Cartografia começa agora a ver também<br />
concretiza<strong>da</strong> uma antiga aspiração: a animação <strong>da</strong>s suas<br />
Exemplos de cariz mais científico iniciaram-se a partir dos<br />
anos 60, com o apoio dos robustos computadores deste<br />
período. Neste caso, as sucessivas imagens individuais <strong>da</strong>s<br />
cartas, para se tor<strong>na</strong>rem anima<strong>da</strong>s, tinham que ser passa<strong>da</strong>s<br />
a filme convencio<strong>na</strong>l. Mas, em meados <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 70, os<br />
custos <strong>da</strong> animação em computador eram enormes: alguns<br />
segundos de filme comercial exigiam equipas de programadores<br />
e vários meses de produção (HARROWER, 2004). Por<br />
isso, até há 20 anos, os poucos exemplos eram vistos como<br />
meras curiosi<strong>da</strong>des, possivelmente muito atractivas, mas<br />
dispendiosas, difíceis de produzir e, sobretudo, dificílimas<br />
de mostrar e de fazer chegar a um público vasto. Podemos,<br />
portanto, afirmar que a história <strong>da</strong> Cartografia anima<strong>da</strong> é<br />
sobretudo uma história recente, fruto <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças tecnológicas,<br />
e também conceptuais, <strong>da</strong> última metade do<br />
século XX. Estas imagens são hoje significativamente mais<br />
fáceis de construir e de mostrar, e as suas possibili<strong>da</strong>des de<br />
dissemi<strong>na</strong>ção foram amplia<strong>da</strong>s pela revolução <strong>da</strong> Internet,<br />
inicia<strong>da</strong> há pouco mais de uma déca<strong>da</strong>. Só agora se parece<br />
começar a concretizar <strong>na</strong> sua plenitude este velho sonho <strong>da</strong><br />
Cartografia, o de animar sequências de <strong>da</strong>dos temporais e<br />
de os difundir largamente.<br />
A apetência crescente dos utilizadores por este di<strong>na</strong>mismo<br />
<strong>da</strong>s imagens parece ser evidente. Veja-se o sucesso <strong>da</strong>s novas<br />
cartas de previsão do tempo, em que ca<strong>da</strong> um pode,<br />
em tempo real, ir acompanhando o movimento <strong>da</strong>s massas<br />
de ar e a<strong>na</strong>lisar as possibili<strong>da</strong>des de ocorrência de precipitação<br />
ou de outros fenómenos, bem como vê-las a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s a<br />
outros fins, como esquiar, ir à praia, surfar... Veja-se também<br />
o sucesso de cartas retratando acontecimentos relevantes<br />
em que “o antes e o depois” se impõem, como no caso<br />
do recente e dramático maremoto verificado no continente<br />
asiático. Agora que as barreiras tecnológicas foram ultrapassa<strong>da</strong>s,<br />
explorar, compreender e apresentar séries temporais<br />
de <strong>da</strong>dos através de cartas anima<strong>da</strong>s, propondo-se as situações<br />
e as soluções mais adequa<strong>da</strong>s, são desafios para o<br />
futuro. Estas imagens não devem ser transforma<strong>da</strong>s, como<br />
outras, em meros “bombons” tecnológicos para distrair os
Destaque<br />
13<br />
olhos (como correctamente exprime HARROWER, 2004, ao<br />
interrogar-se sobre o que se deverá fazer a partir <strong>da</strong>qui),<br />
pelo que definir “regras cartográficas” adequa<strong>da</strong>s a estes<br />
casos passa, agora, pela reflexão e reformulação teóricas e<br />
pela experimentação cartográfica 6 .<br />
Servem estes casos do presente para mostrar que as mu<strong>da</strong>nças<br />
tecnológicas vieram modificar por completo as funções<br />
que as cartas desempenham <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de e, também,<br />
o papel dos que as utilizam. As cartas de hoje ultrapassam o<br />
imobilismo <strong>da</strong>s imagens passivamente observa<strong>da</strong>s, outrora<br />
inevitável, sendo também instrumentos em que o utilizador<br />
interage com a informação e com a sua expressão visual.<br />
Este, mais activo, pode agora controlar o modo como vê<br />
a informação e o seu desenrolar (fazendo pausas, an<strong>da</strong>ndo<br />
para a frente e para trás, ampliando ou reduzindo, medindo<br />
distâncias...) e até interferir no processo (mu<strong>da</strong>ndo<br />
a aparência <strong>da</strong>s cartas e inclusivamente os princípios que<br />
lhe estão subjacentes, seleccio<strong>na</strong>ndo as variáveis do modelo…).<br />
Isto é, o utilizador pode agora criar as “suas” próprias<br />
imagens, que reconstrói, combi<strong>na</strong>, compara ou destrói (e<br />
até adultera), como bem entender. São novas, portanto, as<br />
condições de visualização <strong>da</strong> informação, o que coloca hoje<br />
desafios importantes que os cartógrafos têm que equacio<strong>na</strong>r,<br />
investigar e resolver.<br />
Vários desafios para o futuro<br />
Como ficou mais ou menos explícito atrás, um dos aspectos<br />
confrangedores <strong>da</strong> situação actual prende-se, de modo<br />
mais imediato, com a visualização espacial <strong>da</strong> informação<br />
geográfica, que se traduz, para o utilizador comum, <strong>na</strong> sua<br />
visualização gráfica ou cartográfica. No que respeita às cartas,<br />
a pobreza <strong>da</strong>s soluções é geralmente a nota domi<strong>na</strong>nte:<br />
por exemplo, pesquisem-se <strong>na</strong> Internet informações desta<br />
<strong>na</strong>tureza nos principais organismos <strong>da</strong> administração portuguesa,<br />
ou de outras enti<strong>da</strong>des, e a conclusão só poderá ser<br />
desanimadora. Os limites <strong>da</strong>s actuais ferramentas, ao nível<br />
<strong>da</strong>s saí<strong>da</strong>s gráficas, não são a única razão explicativa. Parece-nos<br />
que o investimento feito por quem decide disponibilizar<br />
a informação, não vai ain<strong>da</strong> no sentido de satisfazer<br />
as exigências do público, em especial com a quali<strong>da</strong>de que<br />
este começa a saber reclamar.<br />
6 Veja-se, a título de exemplo, HARROWER, MACEACHREN e GRIFFIN,<br />
2000.<br />
A comuni<strong>da</strong>de cartográfica, por outro lado, parece sentir-se<br />
ain<strong>da</strong> desorienta<strong>da</strong> e com dificul<strong>da</strong>des em reposicio<strong>na</strong>r-se<br />
no contexto actual, o que perpassa de forma clara <strong>na</strong>s próprias<br />
posições assumi<strong>da</strong>s recentemente pela Associação Cartográfica<br />
Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l (INTERNATIONAL CARTOGRAPHIC<br />
ASSOCIATION, 2003). No plano estratégico desta organização<br />
para 2003-2011, embora este seja um documento<br />
interno, defende-se, como missão principal, assegurar que<br />
a informação geográfica seja utiliza<strong>da</strong> com o máximo efeito<br />
para benefício <strong>da</strong> ciência e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, através <strong>da</strong> promoção<br />
e representação inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l <strong>da</strong> discipli<strong>na</strong> e <strong>da</strong> profissão<br />
<strong>da</strong> Cartografia e Ciência <strong>da</strong> Informação Geográfica. A<br />
percepção do que é hoje a Cartografia, tanto do seu papel<br />
como <strong>da</strong> sua relevância social, tornou-se menos clara (e são<br />
realmente necessárias novas definições mais consistentes).<br />
Por outro lado, a defesa do seu campo passou a estar fora<br />
de mo<strong>da</strong>, sobretudo por se persistir em pensar as cartas essencialmente<br />
no seu sentido tradicio<strong>na</strong>l, campo que, além<br />
disso, tem sido visto como redun<strong>da</strong>nte por alguns defensores<br />
dos SIG e dos seus modernos desenvolvimentos. To<strong>da</strong>via,<br />
a participação dos cartógrafos tor<strong>na</strong>-se ca<strong>da</strong> vez mais<br />
premente, pela necessi<strong>da</strong>de incontestável de renovar a investigação<br />
e a prática <strong>da</strong> produção, nomea<strong>da</strong>mente <strong>na</strong> área<br />
<strong>da</strong> geovisualização. Muitos dos péssimos exemplos que poderíamos<br />
ter escolhido para ilustrar aqui as imagens virtuais<br />
postas à disposição do utilizador, provam-no cabalmente:<br />
elas têm que ser repensa<strong>da</strong>s e redesenha<strong>da</strong>s para novas<br />
funções e públicos, incluindo outras variáveis e diferentes<br />
contextos.<br />
A Internet tem tido, como é incontestável, enormes repercussões<br />
<strong>na</strong> Cartografia e no utilizador <strong>da</strong> informação geográfica.<br />
A MapQuest america<strong>na</strong>, lança<strong>da</strong> em 1996, com mais<br />
de 1 milhão de visitantes por dia e mais de 36 milhões de<br />
cartas e de percursos que lhes são disponibilizados, atesta<br />
o sucesso <strong>da</strong>s grandes empresas em linha que investiram<br />
nesta área (MAPQUEST, 2005). Ao criar-se um novo mecanismo<br />
de distribuição em massa, permitindo que o utilizador<br />
comum passasse a ter acesso às cartas e aos <strong>da</strong>dos<br />
que as suportam, que de outra forma dificilmente seriam<br />
capazes, acabou-se também por estimular a apetência por<br />
mais e por novas informações e imagens. Do outro lado,<br />
o grande aumento do consumo destes produtos tem tido<br />
consequências ao nível <strong>da</strong>s activi<strong>da</strong>des científicas e profissio<strong>na</strong>is<br />
<strong>na</strong> área <strong>da</strong> Cartografia, criando novos modos de
Destaque<br />
14<br />
dissemi<strong>na</strong>r a informação geográfica. O desafio será agora,<br />
sobretudo, o <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de.<br />
deverá ain<strong>da</strong> juntar-se a exigência de novas soluções, mais<br />
complexas e inovadoras, ou seja, mais sofistica<strong>da</strong>s.<br />
As tremen<strong>da</strong>s quanti<strong>da</strong>des de informação geográfica já hoje<br />
disponíveis, e as que virão a ser gera<strong>da</strong>s amanhã, para uma<br />
quanti<strong>da</strong>de ca<strong>da</strong> vez mais alarga<strong>da</strong> de utilizadores, também<br />
ca<strong>da</strong> vez mais díspares, a par com ferramentas que se têm<br />
sobretudo desenvolvido <strong>na</strong> última déca<strong>da</strong> mas a necessitar<br />
ain<strong>da</strong> de reformulações, vieram colocar desafios inesperados.<br />
Não só os utilizadores se tor<strong>na</strong>ram mais diversos, como<br />
também os seus interesses, conhecimentos e capaci<strong>da</strong>des<br />
de li<strong>da</strong>r com informação desta <strong>na</strong>tureza. Mas os perigos são<br />
também enormes.<br />
Esta “socialização” <strong>da</strong> geo-informação, como alguns a apeli<strong>da</strong>m,<br />
veio trazer também para a discussão as consequências<br />
sociais destes <strong>da</strong>dos, do seu uso e do desenvolvimento<br />
<strong>da</strong>s aplicações tecnológicas (MCLAFFERTY, 2004). Um<br />
dos domínios em questão é o <strong>da</strong> protecção <strong>da</strong> privaci<strong>da</strong>de<br />
individual dos ci<strong>da</strong>dãos, <strong>da</strong> confidenciali<strong>da</strong>de dos <strong>da</strong>dos<br />
e dos seus impactos negativos <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de. A revolução<br />
situa-se ain<strong>da</strong> <strong>na</strong> forma como as pessoas interagem com<br />
as instituições, através do uso <strong>da</strong>s novas tecnologias e com<br />
a Internet.<br />
Este utilizador comum, como lhe chamámos para o distinguir<br />
<strong>da</strong>quele que até ao momento presente tem manipulado<br />
as ferramentas e a informação, é também ca<strong>da</strong> vez<br />
mais uma enti<strong>da</strong>de abstracta e volátil, difícil de classificar ou<br />
padronizar. O utilizador de hoje constitui um universo vasto<br />
e díspar de indivíduos, situados algures no mundo, simplesmente<br />
curiosos ou ávidos de conhecimentos, ou ain<strong>da</strong> a<br />
necessitar do auxílio dos novos meios <strong>na</strong> resolução de inúmeros<br />
problemas concretos do seu dia-a-dia (procurar uma<br />
rua ou a farmácia de serviço, escolher um percurso, a<strong>na</strong>lisar<br />
em tempo real os resultados eleitorais, etc.). O desafio está<br />
lançado às Ciências <strong>da</strong> Informação Geográfica, em particular<br />
à Cartografia, e há ain<strong>da</strong> um longo caminho a percorrer. Na<br />
situação actual, os profissio<strong>na</strong>is que li<strong>da</strong>m com ferramentas<br />
ca<strong>da</strong> vez mais complexas e poderosas continuam ain<strong>da</strong><br />
muito centrados nos aspectos técnicos e tecnológicos <strong>da</strong>s<br />
questões, isto é, <strong>na</strong> exploração e análise <strong>da</strong>s potenciali<strong>da</strong>des<br />
dessas mesmas ferramentas. Por vezes, estes profissio<strong>na</strong>is,<br />
deslumbrados com a descoberta <strong>da</strong>s novas tecnologias,<br />
limitam-se ape<strong>na</strong>s a aplicá-las, sem qualquer inovação ou<br />
crítica, a esta ou àquela área do território.<br />
Não é pois surpreendente que, entre as acções do plano<br />
estratégico <strong>da</strong> Associação Cartográfica Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l a implementar<br />
para 2003-2011, se incluam, <strong>na</strong> perspectiva<br />
em que colocámos aqui a discussão: o desenvolvimento<br />
de nova investigação no domínio <strong>da</strong> utilização <strong>da</strong>s cartas,<br />
abrangendo o modo como mais pessoas devam ser inicia<strong>da</strong>s<br />
no uso de <strong>da</strong>dos espaciais, de ferramentas com interesse<br />
geográfico e de produtos cartográficos; a aplicação<br />
mais ampla dos princípios cartográficos <strong>na</strong>s tecnologias <strong>da</strong><br />
informação; orientações gerais para uso e apresentação de<br />
<strong>da</strong>dos geo-espaciais <strong>na</strong> Internet; a produção de atlas sobre<br />
temas globais específicos; etc.<br />
Por enquanto, as manifestações dos utilizadores comuns <strong>da</strong><br />
informação geográfica não passam de titubeantes sussurros.<br />
Suspeitamos, contudo, que dentro em breve se possam<br />
transformar em grito colectivo: basta <strong>da</strong>s mesmas imagens<br />
cansativas n<br />
Remate<br />
Referimos aqui alguns aspectos <strong>da</strong> vasta luta a travar neste<br />
desafio sem precedentes: os utilizadores comuns <strong>da</strong> informação<br />
geográfica são mais exigentes do que geralmente<br />
se supõe, e tor<strong>na</strong>r-se-ão ain<strong>da</strong> mais no futuro. Não é só<br />
mais informação disponível que reclamam (e reclamarão),<br />
é também a melhoria <strong>da</strong> sua quali<strong>da</strong>de. A essa quali<strong>da</strong>de<br />
Maria Hele<strong>na</strong> Dias, Geógrafa, Professora Associa<strong>da</strong> <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />
de Lisboa e investigadora do Centro de Estudos Geográficos<br />
(mhdias@fl.ul.pt).
Destaque<br />
15<br />
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Território. <strong>Instituto</strong> do Ambiente. Atlas do ambiente dinâmico<br />
[Em linha]. Lisboa: <strong>Instituto</strong> do Ambiente. [Consult. 6<br />
de Março de 2005]. 2003. Disponível em: http://www.iambiente.pt/atlas/din/viewer.htm.
Destaque<br />
16<br />
A Fórmula do Dr. Livingstone<br />
João Matos<br />
screver um artigo com um tema sugerido é um desafio<br />
E interessante mas, quando o tema é a importância <strong>da</strong><br />
informação geográfica para a socie<strong>da</strong>de, o desafio passa de<br />
interessante para preocupante, pois não deve haver <strong>na</strong><strong>da</strong><br />
que não tenha já sido dito. O principal problema do tema<br />
é o consenso em torno <strong>da</strong> grande importância <strong>da</strong> informação<br />
geográfica e <strong>da</strong>s suas inúmeras aplicações, o que tor<strong>na</strong><br />
redun<strong>da</strong>ntes os parágrafos mais bem intencio<strong>na</strong>dos. Encontrar<br />
um profissio<strong>na</strong>l de informação geográfica que diga<br />
que esta não é importante é tão difícil como encontrar um<br />
vendedor de automóveis que defen<strong>da</strong> o recurso exclusivo<br />
aos transportes públicos. Ou seja, a importância <strong>da</strong> informação<br />
geográfica para a socie<strong>da</strong>de é indubitavelmente grande<br />
e conheci<strong>da</strong> dos membros <strong>da</strong> geo-comuni<strong>da</strong>de, onde presumo<br />
que se incluam os leitores deste artigo.<br />
Pressente-se, no entanto, uma atmosfera de insatisfação<br />
quanto ao cumprimento <strong>da</strong>s promessas origi<strong>na</strong><strong>da</strong>s com a<br />
popularização dos sistemas de informação geográfica, ou<br />
seja, que todo esse potencial só muito lentamente se tem<br />
vindo a converter em efectivos benefícios, perceptíveis<br />
tanto pela geo-comuni<strong>da</strong>de como pela socie<strong>da</strong>de no seu<br />
todo. Há seguramente causas para essa insatisfação que<br />
não têm directamente a ver com a informação geográfica,<br />
como as baixas expectativas de quali<strong>da</strong>de nos serviços e <strong>na</strong><br />
produção técnica, a baixa eficiência <strong>na</strong> administração do território<br />
e, talvez em menor grau, as condicio<strong>na</strong>ntes económicas.<br />
A tese que aqui defendo é a de que o ritmo lento<br />
de evolução se mantém devido a inconsistências <strong>na</strong> forma<br />
como o problema <strong>da</strong> informação geográfica tem vindo a ser<br />
abor<strong>da</strong>do ao nível político e ao nível técnico. Essas inconsistências,<br />
inter<strong>na</strong>s e de interacção entre os referidos níveis,<br />
têm obstado a que os vários movimentos positivos tenham<br />
uma continui<strong>da</strong>de construtiva e sejam consequentes.<br />
Permitam-me portanto poupar uma dúzia de pági<strong>na</strong>s de<br />
ideias optimistas e consensuais, acreditem que as saberia<br />
escrever, e aproveitar o verso <strong>da</strong>s folhas para escrever sobre<br />
o reverso dos velhos consensos. Permitam-me também<br />
escrever um texto assumi<strong>da</strong>mente não científico e muito<br />
baseado <strong>na</strong> experiência profissio<strong>na</strong>l directa. Começarei por<br />
expor a visão que é perceptível <strong>da</strong> importância <strong>da</strong> informação<br />
geográfica ao nível político, este é por um lado o<br />
reflexo <strong>da</strong> importância <strong>da</strong><strong>da</strong> pela socie<strong>da</strong>de e, por outro, o<br />
campo onde se podem tomar as medi<strong>da</strong>s que coloquem a<br />
informação geográfica ao serviço <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Em segui<strong>da</strong><br />
passarei a expor alguns mal-entendidos relativos à informação<br />
geográfica, que designo por mitos, e que em meu<br />
entender são responsáveis por uma parte significativa <strong>da</strong><br />
perturbação <strong>na</strong> adopção de boas estratégias ao nível <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l<br />
e ao nível local.<br />
A informação geográfica e a política<br />
“Com esta medi<strong>da</strong> (extinção do Conselho Nacio<strong>na</strong>l de Cartografia<br />
e criação do Conselho Coorde<strong>na</strong>dor de Cartografia),<br />
deixou de ser possível ao sector fazer chegar ao governo<br />
opiniões fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>s sobre as activi<strong>da</strong>des e as políticas<br />
para a cartografia <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l que interessaria fomentar, o<br />
que representou um considerável retrocesso para o País, e o<br />
que também aju<strong>da</strong> a explicar parte do processo degenerativo<br />
que se seguiu ao longo <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> metade <strong>da</strong> déca<strong>da</strong><br />
de 90”.<br />
Rui Gonçalves Henriques, in. “A Informação Geográfica e a Administração<br />
Pública em Portugal”, 2002
Destaque<br />
17<br />
Os programas eleitorais dos partidos com assento parlamentar<br />
constituem uma fonte óbvia e fácil por onde começar<br />
a pesquisa de informação que suporte esta abor<strong>da</strong>gem.<br />
Nessa pesquisa encontrei as seguintes referências:<br />
· A actualização do ca<strong>da</strong>stro <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong>des florestais, a<br />
custos reduzidos, de modo a que os proprietários assumam<br />
a sua responsabili<strong>da</strong>de <strong>na</strong> conservação <strong>da</strong> floresta (BE);<br />
· Concretização e obrigatorie<strong>da</strong>de de elaboração <strong>da</strong> cartografia<br />
<strong>da</strong>s zo<strong>na</strong>s inundáveis e do inventário de ocupação do<br />
domínio hídrico; Intensificação dos trabalhos de cartografia<br />
geológica e hidrogeológica de base; Prosseguir com os<br />
estudos, a prospecção e a cartografia dos recursos energéticos<br />
em território <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, no que se refere quer a jazi<strong>da</strong>s<br />
de recursos geológicos quer a fluxos de energia renováveis;<br />
Concretização, criação e monitorização, de um sistema<br />
<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de <strong>da</strong>dos sobre o comportamento do território<br />
(PCP);<br />
· Realizar o ca<strong>da</strong>stro <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de prédios no prazo máximo<br />
de 4 anos; elaborar um ca<strong>da</strong>stro simplificado dos prédios<br />
rústicos (PSD);<br />
· Criação do sistema <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de informação territorial, no<br />
quadro de uma política de informação geográfica (PS).<br />
Um dos aspectos interessantes do recurso aos programas<br />
eleitorais é que estão relativamente livres de constrangimentos,<br />
sobretudo por parte dos partidos que não têm a expectativa<br />
de formar governo. As referências ao interesse <strong>da</strong><br />
informação geográfica não surgem assim fortemente condicio<strong>na</strong><strong>da</strong>s<br />
por restrições de ordem prática e seriam portanto<br />
apresenta<strong>da</strong>s como a expressão pura de uma utili<strong>da</strong>de.<br />
É uma pe<strong>na</strong> os programas eleitorais não serem feitos em<br />
forma de resposta a um questionário elaborado pela Presidência<br />
<strong>da</strong> República, por um lado era mais fácil compará-los<br />
e, por outro, havia mais garantias de que coisas importantes<br />
não eram esqueci<strong>da</strong>s. Assim, não se pode deduzir que as<br />
intenções sejam contraditórias, simplesmente se deduz que<br />
os programas foram escritos por pessoas com sensibili<strong>da</strong>des<br />
diferentes para um tema que é relativamente frio do<br />
ponto de vista mediático.<br />
Poder-se-á dizer que a informação geográfica não tem muitas<br />
referências nos programas porque não é objecto <strong>na</strong>tural<br />
de matéria política, <strong>da</strong>do ser simplesmente uma matéria<br />
prima, tal como não surgem referências à produção de betuminoso<br />
no meio <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s anuncia<strong>da</strong>s para as obras<br />
públicas. Mas se fosse um produto raro e as estra<strong>da</strong>s não<br />
fossem termi<strong>na</strong><strong>da</strong>s por falta de betuminoso, então este já<br />
passaria a ser um problema político. Poderia assim presumirse<br />
<strong>da</strong>s escassas referências nos programas eleitorais que a<br />
informação geográfica existe em quanti<strong>da</strong>de e quali<strong>da</strong>de<br />
adequa<strong>da</strong>s e que o seu uso é generalizado, excepção feita<br />
ao ca<strong>da</strong>stro, que é referido, embora com enfoques diferentes,<br />
em mais do que um programa. Todos os programas<br />
são ricos em medi<strong>da</strong>s, nomea<strong>da</strong>mente nos domínios ambientais,<br />
<strong>na</strong> protecção civil e no orde<strong>na</strong>mento do território,<br />
que requerem a existência de informação geográfica e que<br />
beneficiariam de políticas que a favorecessem. No entanto,<br />
só num caso é mencio<strong>na</strong><strong>da</strong> uma política de informação<br />
geográfica e um sistema de informação territorial que são<br />
mais abrangentes que as propostas, sem dúvi<strong>da</strong> úteis, para<br />
aspectos sectoriais.<br />
Destes programas tão curtos conseguem-se, apesar de tudo,<br />
extrair algumas indicações. Note-se o cui<strong>da</strong>do do Bloco de<br />
Esquer<strong>da</strong> em escrever que o ca<strong>da</strong>stro <strong>da</strong>s áreas florestais<br />
é feito a custos reduzidos. Obviamente que <strong>na</strong><strong>da</strong> deve ser<br />
feito com desperdício de dinheiros públicos ou privados,<br />
não está explícito quem suporta os custos. Mas qual a razão<br />
deste detalhe? Será que a gestão <strong>da</strong> floresta não merece<br />
que se gaste dinheiro num ca<strong>da</strong>stro? A partir de quanto<br />
dinheiro gasto em ca<strong>da</strong>stro é que seria justificável colocar<br />
a floresta em risco? Provavelmente este é só um detalhe<br />
de re<strong>da</strong>cção, mas é revelador <strong>da</strong> convicção subconsciente,<br />
e que julgo abranger mais do que um sector político,<br />
de que o dinheiro gasto com informação geográfica não se<br />
enquadra como parte do custo necessário à resolução de<br />
um problema. Note-se, <strong>da</strong> parte do Partido Social Democrata,<br />
a proposta de um ca<strong>da</strong>stro dos prédios e de um ca<strong>da</strong>stro<br />
simplificado dos prédios rústicos. O termo simplificado<br />
revela alguma falta de esperança, que não é de todo injustifica<strong>da</strong><br />
se considerarmos que a história <strong>da</strong> elaboração<br />
do ca<strong>da</strong>stro já dura há 200 anos sem grandes resultados,<br />
mas talvez não houvesse prejuízo em usar uma formulação<br />
alter<strong>na</strong>tiva, propondo um ca<strong>da</strong>stro que fosse funcio<strong>na</strong>l e de<br />
actualização sustentável. Nesse caso nem se poderia dizer<br />
que era simplificado, era o ca<strong>da</strong>stro necessário e suficiente.<br />
O programa do Partido Comunista Português nesta matéria<br />
é manifestamente sectorial, o que provavelmente tem mais
Destaque<br />
18<br />
a ver com a composição <strong>da</strong> equipa que fez o programa e<br />
do que com uma opção consciente de privilegiar a informação<br />
geográfica nos domínios referidos. Pode também ser<br />
um detalhe, mas actualmente já se poderia escrever uma<br />
proposta que referisse o levantamento dos <strong>da</strong>dos necessários<br />
para operacio<strong>na</strong>lizar um sistema de informação geográfica,<br />
fosse dos recursos energéticos ou de outros temas<br />
que achassem por bem integrar nos processos de gestão<br />
do território. A referência a um sistema <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de <strong>da</strong>dos<br />
do “comportamento do território”, que interpreto como não<br />
sendo geo-referenciados, é inseri<strong>da</strong> somente no contexto<br />
<strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s sectoriais para o orde<strong>na</strong>mento do território.<br />
A referência do Partido Socialista a um “sistema <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l<br />
de informação territorial no quadro de uma política de informação<br />
geográfica” parece promissora e tenho esperança<br />
que conheça implementação, peca unicamente por não ter<br />
o conteúdo detalhado. Aqui ficam algumas sugestões para<br />
princípios a seguir durante o preenchimento dos detalhes:<br />
· Avaliar o investimento em informação geográfica em função<br />
dos benefícios expectáveis, frequentemente intangíveis,<br />
e não somente do custo;<br />
· Ter em consideração que os programas de levantamento de<br />
informação só podem servir políticas se tiverem abrangência<br />
<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e se tiverem uma actualização sustentável;<br />
· Investir <strong>na</strong> dissemi<strong>na</strong>ção dos <strong>da</strong>dos públicos como elemento<br />
estratégico de desenvolvimento e de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia;<br />
· Investir <strong>na</strong> formação de quadros e <strong>na</strong> produção de documentação<br />
técnica de apoio, porque é a boa utilização que<br />
dá o retorno do investimento;<br />
· Levantar as necessi<strong>da</strong>des e definir priori<strong>da</strong>des para a sua<br />
resolução, <strong>da</strong>ndo depois a resposta técnica mais adequa<strong>da</strong>,<br />
ao invés de iniciar o processo com uma “solução” <strong>na</strong> mão<br />
para necessi<strong>da</strong>des mal caracteriza<strong>da</strong>s;<br />
· Regulamentar só o estritamente necessário e através de<br />
consenso, sem impor soluções técnicas específicas.<br />
No texto acima citado a história <strong>da</strong> última déca<strong>da</strong> é caracteriza<strong>da</strong>,<br />
com autori<strong>da</strong>de, como um “processo degenerativo”,<br />
explicável em parte por opções políticas menos felizes, entre<br />
as quais a restrição dos ca<strong>na</strong>is de comunicação entre a geocomuni<strong>da</strong>de<br />
e os decisores ao mais alto nível. A ausência<br />
de uma intervenção representativa <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de técnica<br />
teve consequências, mas aqui não há só responsabili<strong>da</strong>de<br />
política. Considero que uma grande parte <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de<br />
<strong>na</strong> reduzi<strong>da</strong> importância <strong>da</strong><strong>da</strong> à cartografia e <strong>na</strong> adopção<br />
de medi<strong>da</strong>s políticas ineficazes cabe à geo-comuni<strong>da</strong>de,<br />
através <strong>da</strong> preservação acrítica de abor<strong>da</strong>gens que apontam<br />
aos decisores o caminho errado ou nenhum caminho.<br />
A solução para a produção de textos escritos passou pelo<br />
desenvolvimento <strong>da</strong> tipografia e não pelo aumento exponencial<br />
de monges copistas. Do mesmo modo, a satisfação<br />
<strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des de informação geográfica não passará<br />
pelo investimento acrítico, inclusivamente ao nível dos procedimentos<br />
administrativos, <strong>na</strong>s perspectivas tradicio<strong>na</strong>is<br />
que já demonstraram não ser satisfatórias. Neste caso nem<br />
é precisa uma grande capaci<strong>da</strong>de inventiva, a tecnologia<br />
existe e existem opções várias para a aquisição e exploração<br />
<strong>da</strong> informação, de entre as quais se pode escolher em função<br />
do orçamento e <strong>da</strong> funcio<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de.<br />
A implementação <strong>da</strong>s políticas<br />
“Would you tell me, please, which way I ought to go from<br />
here?”, “That depends a good deal on where you want to<br />
get to”, said the Cat.<br />
“I don’t much care where -” said Alice. “Then it doesn’t matter<br />
which way you go”, said the Cat.<br />
“... so long as I get somewhere”, Alice added as an expla<strong>na</strong>tion.<br />
“Oh, you’re sure to do that,” said the Cat,” if you only<br />
walk long enough.”<br />
Lewis Carrol, in. “Alice’s Adventures in Wonderland”<br />
Para a discussão <strong>da</strong> implementação <strong>da</strong>s políticas selecciono<br />
três vertentes: a vontade política, consubstanciável em instrumentos<br />
legais e administrativos, a viabili<strong>da</strong>de económica<br />
e a viabili<strong>da</strong>de tecnológica.<br />
A vontade política<br />
A informação, e atente-se que além <strong>da</strong> explicitamente<br />
geográfica há a muita que é geo-referenciável, é um instrumento<br />
de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e de desenvolvimento, conforme<br />
preceituado no “Livro Verde para a Socie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Informação”.<br />
Nesta perspectiva, o papel do sector público é referenciado<br />
em diversa documentação <strong>da</strong> União Europeia,<br />
citando-se como exemplo alguns excertos <strong>da</strong> COM (2001)<br />
607: “São domínios de particular interesse a informação<br />
geográfica, empresarial e rodoviária e os <strong>da</strong>dos económicos<br />
e sociais”;”Uma melhor utilização <strong>da</strong> informação do
Destaque<br />
19<br />
sector público poderá transformar este recurso num valioso<br />
activo para os ci<strong>da</strong>dãos, as empresas e as administrações <strong>da</strong><br />
Europa. Os ci<strong>da</strong>dãos e as empresas podem beneficiar significativamente<br />
com uma boa oferta de informação do sector<br />
público <strong>na</strong> Internet, que facilitará a sua comunicação com<br />
a administração pública e potenciará a sua participação no<br />
processo democrático”. Na COM(2002) 207 é referido que:<br />
“as amplas possibili<strong>da</strong>des de reutilização existentes nos EUA<br />
criaram um mercado <strong>da</strong> informação assente <strong>na</strong> informação<br />
do sector público que se estima ser quase cinco vezes maior<br />
que o <strong>da</strong> UE. As principais empresas america<strong>na</strong>s do sector<br />
registaram nos últimos seis anos taxas de crescimento<br />
<strong>da</strong> ordem dos 10 a 30%”; ”é importante compreender<br />
que a i<strong>na</strong>cção neste domínio tem custos. Custos para o<br />
sector <strong>da</strong> informação e também para o mercado e a socie<strong>da</strong>de<br />
europeus”.<br />
Além <strong>da</strong>s questões de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, há problemas muito concretos<br />
e de grande sensibili<strong>da</strong>de política para os quais a informação<br />
geográfica é instrumental e imprescindível, como<br />
os aspectos operacio<strong>na</strong>is e de prevenção no domínio <strong>da</strong><br />
protecção civil, o licenciamento de construção, a gestão de<br />
recursos hídricos e os impostos sobre a proprie<strong>da</strong>de, para<br />
só citar alguns. Veja-se o caso recente, amplamente comentado<br />
nos meios de comunicação social, relativo ao licenciamento<br />
de uma grande área comercial, e em que “…a<br />
alteração dos limites <strong>da</strong> zo<strong>na</strong> de protecção foi feita “exclusivamente<br />
por imperativos técnicos, <strong>da</strong><strong>da</strong> a incongruência<br />
cartográfica dos limites anteriores””(Público, 12/02/2005).<br />
Desconheço a matéria deste caso concreto e não posso<br />
corroborar a tal incongruência cartográfica, mas posso assegurar<br />
que há muitos casos onde ela existe e pode gerar este<br />
tipo de incidentes.<br />
O pouco que foi aqui dito, retirado do muito que já foi escrito<br />
e com mais autori<strong>da</strong>de, não precisará de reforço para<br />
justificar o interesse político <strong>da</strong> matéria, que deverá ser traduzi<strong>da</strong><br />
em instrumentos legais e administrativos que funcionem<br />
e que perdurem enquanto funcio<strong>na</strong>rem.<br />
A viabili<strong>da</strong>de económica<br />
Os custos <strong>da</strong> produção e actualização de informação geográfica<br />
são significativos, <strong>da</strong>í que por um lado exista expectativa<br />
quanto à disponibilização de <strong>da</strong>dos públicos e,<br />
por outro, que as instituições públicas que os produzem<br />
necessitem de se fi<strong>na</strong>nciar com a ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> informação. Ao<br />
serem quantificados unicamente os custos, sem considerar<br />
os benefícios, então obviamente que o cenário de investimento<br />
é pouco atractivo.<br />
A este respeito invoco novamente a COM (2001) 607:<br />
“com efeito, os ganhos económicos decorrentes de um<br />
sistema de exploração mais aberto excedem de longe as<br />
receitas directas que poderiam obter com a ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> informação”;<br />
”acresce que, <strong>na</strong>lguns casos, o poder de mercado<br />
dos organismos do sector público numa <strong>da</strong><strong>da</strong> área permitelhes<br />
estabelecer preços muito elevados, o que, <strong>na</strong> prática,<br />
impede a reutilização <strong>da</strong> informação”.<br />
A reutilização <strong>da</strong> informação é um factor crítico para o retorno<br />
do investimento. Outro factor com impacto económico,<br />
neste caso negativo, é a duplicação de trabalhos. Os dois estão<br />
relacio<strong>na</strong>dos, duplicar só é uma opção quando o que já<br />
foi produzido não está disponível para ser reutilizado. Notese<br />
que o princípio de evitar a duplicação de informação é<br />
legítimo mas deve ser aplicado com bom senso, sem que<br />
se retarde ou deixe de produzir informação com receio de<br />
que mais tarde venha a ser duplica<strong>da</strong>.<br />
Perante uma situação de disponibili<strong>da</strong>de fi<strong>na</strong>nceira limita<strong>da</strong><br />
seria forçosa a concepção de um plano de produção de<br />
<strong>da</strong>dos geográficos com sóli<strong>da</strong> sustentação técnica e regido<br />
por priori<strong>da</strong>des justifica<strong>da</strong>s, mas tal pode não acontecer. Se<br />
isso fosse feito, talvez se verificasse que afi<strong>na</strong>l os valores<br />
necessários não são incomportáveis. Em geral, basta optar<br />
pela solução simples que funcio<strong>na</strong> em detrimento <strong>da</strong> solução<br />
complexa que nunca se conclui.<br />
A este respeito não resisto a citar, de um modo muito livre,<br />
um excerto <strong>da</strong> História de Portugal de Oliveira Martins.<br />
Perante um projecto de construção de uma importante estra<strong>da</strong>,<br />
no Portugal do século XIX, alguém sugeriu que ela<br />
fosse um modelo de requinte, o que seria alcançado se os<br />
marcos colocados a ca<strong>da</strong> milha tivessem um relógio de sol.<br />
A ideia foi aceite mas constatou-se que haveria marcos que<br />
ficariam permanentemente à sombra, para o que haveria<br />
duas soluções: ou o marco não era colocado <strong>na</strong> milha certa<br />
ou era colocado sem relógio de sol. O debate em torno<br />
destas duas alter<strong>na</strong>tivas foi tão intenso que acabou por não<br />
se construir a estra<strong>da</strong>.
Destaque<br />
20<br />
Em suma, se forem contabilizados os benefícios indirectos<br />
e as poupanças e se for segui<strong>da</strong> uma abor<strong>da</strong>gem técnica<br />
racio<strong>na</strong>l, acredito que existe viabili<strong>da</strong>de económica para a<br />
implementação de uma política de informação geográfica.<br />
A viabili<strong>da</strong>de tecnológica<br />
Como já referi, não considero que existam actualmente<br />
condicio<strong>na</strong>ntes tecnológicas significativas à implementação<br />
de projectos no domínio <strong>da</strong> informação geográfica. É difícil<br />
encontrar uma aplicação útil que seja tecnicamente inviável,<br />
tanto pelo que respeita à produção de informação como<br />
à sua utilização e dissemi<strong>na</strong>ção. A vulgarização do GPS, a<br />
disponibilização de instrumentos de consulta de informação<br />
geográfica <strong>na</strong> Internet, as imagens de satélite de alta<br />
resolução e o aumento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de processamento e<br />
armaze<strong>na</strong>mento dos computadores pessoais, entre outras,<br />
vieram conferir viabili<strong>da</strong>de a projectos que a não tinham<br />
há quinze anos atrás. Além de existir a tecnologia, pode<br />
considerar-se que ela é acessível e está razoavelmente bem<br />
dissemi<strong>na</strong><strong>da</strong>. A viabili<strong>da</strong>de tecnológica não é um detalhe<br />
menor, nem sempre existiu e faz to<strong>da</strong> a diferença.<br />
Os mitos<br />
A origem dos mitos<br />
“O problema <strong>da</strong> topografia, dizia ele (Pedro Folque) compunha-se<br />
de duas partes, cabendo à primeira a projecção<br />
de todos os pontos <strong>da</strong> superfície sobre o plano horizontal,<br />
o que formava a planta e, à segun<strong>da</strong>, o conhecimento<br />
<strong>da</strong>s orde<strong>na</strong><strong>da</strong>s verticais, donde resultava a configuração<br />
do terreno, e que se a primeira dependia inteiramente<br />
do conhecimento <strong>da</strong>s matemáticas, para a representação<br />
<strong>da</strong> segun<strong>da</strong> era necessário o perfeito conhecimento<br />
do desenho.<br />
Considerando indispensáveis estes dois talentos a um «perfeito<br />
topográfico» e mostrando a experiência que raramente<br />
se <strong>da</strong>vam no mesmo indivíduo, não se sabendo também<br />
qual deles mais falta faria, propunha que, para se suprir o<br />
segundo, se estabelecessem regras para a representação<br />
gráfica <strong>da</strong>s plantas e mapas e se construisse um sistema<br />
de convenções uniformes a que chamava uma «espécie<br />
de taquigrafia topográfica», que, abreviando os trabalhos de<br />
campo, os facilitaria também no gabinete, suprindo o génio<br />
artístico a quem a <strong>na</strong>tureza tivesse negado esse talento.”<br />
H. Mendes, in. “Subsídios para a História <strong>da</strong> Cartografia Portuguesa”.<br />
Sendo a vertente política condicio<strong>na</strong><strong>da</strong> unicamente pela<br />
existência de vontade de sair do “processo degenerativo”,<br />
sendo ultrapassáveis os obstáculos <strong>na</strong> vertente económica<br />
e não havendo impedimentos <strong>na</strong> vertente tecnológica,<br />
então subsiste a questão <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem técnica para a concretização<br />
<strong>da</strong> implantação <strong>da</strong> informação geográfica no funcio<strong>na</strong>mento<br />
<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Aqui entra a responsabili<strong>da</strong>de de<br />
geo-comuni<strong>da</strong>de, onde ain<strong>da</strong> subsistem alguns mitos que<br />
afectam tanto os actos de realização como as indicações<br />
<strong>da</strong><strong>da</strong>s para as políticas.<br />
Com sincera reverência pela obra de Pedro Folque e Filipe<br />
Folque, considero a anterior citação como a melhor ilustração<br />
<strong>da</strong> origem dos mitos cartográficos. Perfeitamente<br />
competentes e lúci<strong>da</strong>s no século XIX, estas frases encerram<br />
ideias que foram transmiti<strong>da</strong>s até ao contexto actual sem<br />
sofrerem reformulação crítica, assemelhando-se à crença<br />
em mitos. Em poucos parágrafos aparece resolvido o problema<br />
<strong>da</strong> selecção e do critério que conduz à representação<br />
geográfica – são todos os pontos –, o processo é<br />
inteiramente matemático – o que lido com pouco cui<strong>da</strong>do<br />
pode pressupor exacto –, excepto numa componente que<br />
requer génio artístico e conhecimento do desenho mas que<br />
se resolve com regras.<br />
Adicionei um mito recente, que designei por mito do SIG,<br />
antevendo a tentação de se substituirem os mitos antigos<br />
por um mais recente, onde já há ideias a serem transmiti<strong>da</strong>s<br />
sem reflexão crítica.<br />
Primeiro mito: O mito <strong>da</strong> representação fiel <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de<br />
“That’s another thing we’ve learned from your Nation,” said<br />
Mein Herr, “map-making. But we’ve carried it much further<br />
than you. What do you consider the largest map that would<br />
be really useful?”<br />
“About six inches to the mile.”<br />
“Only six inches!” exclaimed Mein Herr. “We very soon got<br />
to six yards to the mile. Then we tried a hundred yards<br />
to the mile. And then came the grandest idea of all! We<br />
actually made a map of the country, on the scale of a mile<br />
to the mile!”<br />
“Have you used it much?” I enquired.<br />
“It has never been spread out, yet,” said Mein Herr: “the<br />
farmers objected: they said it would cover the whole country,<br />
and shut out the sunlight! So we now use the coun-
Destaque<br />
21<br />
try itself, as its own map, and I assure you it does nearly<br />
as well”.<br />
Lewis Carroll , in. “Sylvie and Bruno Concluded”<br />
A ideia de que existirá uma representação fiel <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de<br />
que só não é alcança<strong>da</strong> por incapaci<strong>da</strong>de técnica ou por<br />
desleixo <strong>na</strong> produção é um mito que tem consequências<br />
graves. Quando <strong>na</strong>s iniciativas inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is de normalização<br />
se utiliza recorrentemente o conceito de universo do<br />
discurso e quando está consagra<strong>da</strong> a abor<strong>da</strong>gem às características<br />
geográficas através de ontologias, isto é, através<br />
<strong>da</strong> especificação do conceito que lhes está subjacente, é<br />
porque esta é a abor<strong>da</strong>gem mais eficaz.<br />
só por serem difusas mas por também serem variáveis. Optou-se<br />
por um conceito subjectivo de margem, definindo-a<br />
como sendo o limite de vestígios de erosão recente e assumir<br />
então como válido o que, com base nessa definição,<br />
fosse arbitrado pelas equipas no terreno. O significado de<br />
margem passou a ser assumi<strong>da</strong>mente de uma linha arbitra<strong>da</strong><br />
sobre critérios simples, o que não sendo inteiramente<br />
objectivo, por ser isso impossível, correspondia a um conceito<br />
operacio<strong>na</strong>l e consistente. A diferença de abor<strong>da</strong>gens<br />
era perceptível pela diferença relativamente ao que estava<br />
representado <strong>na</strong> melhor cartografia disponível para a zo<strong>na</strong>,<br />
em que a definição <strong>da</strong>s margens não obedeceu a uma análise<br />
tão detalha<strong>da</strong> nem a critérios similares.<br />
Quando se define domínio público hídrico como uma zo<strong>na</strong><br />
a menos de dez metros de uma linha de água e não se<br />
define linha de água – e atente-se que as definições podem<br />
ser várias e váli<strong>da</strong>s em diferentes contextos –, está a cometer-se<br />
um erro <strong>na</strong> modelação geográfica e não um erro<br />
cartográfico. To<strong>da</strong>s as representações <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de obedecem<br />
a um determi<strong>na</strong>do universo do discurso, mesmo que<br />
este não esteja devi<strong>da</strong>mente formalizado. Essa formalização<br />
deve ser traduzi<strong>da</strong> por uma especificação operacio<strong>na</strong>l, ou<br />
seja, <strong>da</strong>r como especificação as “casas representáveis à escala<br />
1/5000” ou “as linhas de água representáveis à escala<br />
1/25000” é manifestamente insuficiente.<br />
Os exemplos de problemas relacio<strong>na</strong>dos com a definição<br />
<strong>da</strong>s características geográficas são inúmeros, cito alguns<br />
relacio<strong>na</strong>dos com fronteiras, matéria que requer clareza e<br />
análise minuciosa e onde os conceitos vagos têm consequências<br />
graves.<br />
O tratado origi<strong>na</strong>l relativo ao delineamento <strong>da</strong> fronteira entre<br />
as possessões de Portugal e Holan<strong>da</strong> <strong>na</strong> ilha de Timor, agora<br />
transposto para a fronteira entre Timor-Leste e a Indonésia,<br />
estabelecia, para uma boa parte <strong>da</strong> extensão <strong>da</strong> fronteira, o<br />
seguimento do talvegue de rios. Ora o conceito de talvegue,<br />
correspondendo ao ca<strong>na</strong>l mais profundo no leito de um rio,<br />
não era aplicável <strong>na</strong> quase totali<strong>da</strong>de dos rios mencio<strong>na</strong>dos,<br />
secos durante grande parte do ano e com o curso principal<br />
muito variável <strong>na</strong>s épocas de chuva. Acordou-se em substituir<br />
esse conceito pelo de linha média, determi<strong>na</strong><strong>da</strong> geometricamente<br />
a partir <strong>da</strong>s margens. Acontece que também não<br />
era possível identificar as margens de forma inequívoca, não<br />
Ain<strong>da</strong> no domínio do delineamento de fronteiras, um outro<br />
exemplo é <strong>da</strong>do pelos segmentos de fronteira definidos por<br />
valores de latitude ou longitude. À época em que foram<br />
definidos, estes valores correspondiam a latitudes e longitudes<br />
astronómicas, dependentes <strong>da</strong> vertical do lugar mas<br />
com representação <strong>na</strong> forma de linhas rectas e implanta<strong>da</strong>s<br />
no terreno como tal. Essas linhas, quando são actualmente<br />
representa<strong>da</strong>s num referencial geodésico não possuem latitudes<br />
e longitudes geodésicas constantes, o que não gera linhas<br />
rectas independentemente <strong>da</strong> projecção que se utilize.<br />
Essas linhas apresentariam agora ondulações devi<strong>da</strong>s aos<br />
desvios <strong>da</strong> vertical, com valores <strong>da</strong> ordem de várias cente<strong>na</strong>s<br />
de metros, suficientes para gerar conflitos inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is<br />
sem solução técnica.<br />
Definições deste tipo já não eram correctas <strong>na</strong> sua génese,<br />
acontecia simplesmente que a incorrecção era tolerável. O<br />
que se passa com as fronteiras passa-se em muitos outros<br />
domínios, a introdução do suporte digital e a exigência<br />
própria do uso para sistemas de informação operacio<strong>na</strong>is<br />
não são compatíveis com os níveis de indefinição antigamente<br />
aceitáveis. Situações semelhantes se passam com<br />
características geográficas instrumentais <strong>na</strong> gestão do território,<br />
com a linha de máxima preia-mar ou até mesmo o<br />
declive do terreno, com impacto directo no uso que se faz<br />
do território pois conferem aleatorie<strong>da</strong>de à definição <strong>da</strong>s<br />
condicio<strong>na</strong>ntes e arbitrarie<strong>da</strong>de à sua aplicação.<br />
Segundo mito: O mito <strong>da</strong> cartografia rigorosa<br />
“At the root of their power [of the maps] is our frequently<br />
unquestioning acceptance of cartographic messages. Even
Destaque<br />
22<br />
folks who are routinely suspicious of written text equate<br />
maps with fact …”<br />
Mark Monmonier, in. “Drawing the Line”.<br />
“An “accurate map” is part of the popular mythology of<br />
cartography, but the profession spends little time on this<br />
problem.”<br />
Nicholas Chrisman, in. “The Role of Quality Information in the Long-term<br />
Functioning of a GIS”.<br />
A ideia de cartografia como algo de rigoroso é quase<br />
compulsiva e pouco reflecti<strong>da</strong>. Para começar, o termo rigor<br />
poderia ser substituído com vantagem por quali<strong>da</strong>de,<br />
correspondente segundo a norma ISO 9000 ao “conjunto<br />
de características que um produto deve comportar para satisfazer<br />
requisitos explícitos ou implícitos”, esta é assumi<strong>da</strong><br />
como quali<strong>da</strong>de para um objectivo, e não como quali<strong>da</strong>de<br />
absoluta, e é defini<strong>da</strong> em função de requisitos. Este último<br />
aspecto não é habitualmente considerado, ou seja, aos <strong>da</strong>dos<br />
geográficos só pode ser associa<strong>da</strong> uma boa quali<strong>da</strong>de<br />
se estes satisfizerem requisitos funcio<strong>na</strong>is, independentemente<br />
de virem carregados de “marcos com relógios de sol”.<br />
A componente <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de informação geográfica é<br />
abor<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>na</strong>s normas ISO 19113 e 19114, numa perspectiva<br />
de princípios de enquadramento que são bastante simples<br />
e de fácil adopção. Tendo participado directamente <strong>na</strong><br />
elaboração destas normas, e posteriormente <strong>na</strong> norma ISO<br />
19131 de especificação de Produto de Dados Geográficos<br />
que delas faz uso, pude aperceber-me <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de de<br />
conceitos tradicio<strong>na</strong>lmente aceites que teriam de ser revistos<br />
para que as normas fossem aplica<strong>da</strong>s.<br />
consistência, exactidão temática, exactidão temporal e completude,<br />
desculpem-me esta publici<strong>da</strong>de) e de sub-elementos,<br />
além <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de de definição de medi<strong>da</strong>s várias<br />
para ca<strong>da</strong> um deles. Exemplificando, não se deve referir a<br />
exactidão posicio<strong>na</strong>l absoluta de <strong>da</strong>dos geográficos mas,<br />
mais correctamente, a exactidão posicio<strong>na</strong>l absoluta estima<strong>da</strong><br />
com recurso a uma determi<strong>na</strong><strong>da</strong> medi<strong>da</strong> e a uma<br />
determi<strong>na</strong><strong>da</strong> estratégia de amostragem.<br />
As discussões em torno <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de para a elaboração<br />
<strong>da</strong>s normas foram também muito pe<strong>da</strong>gógicas, rapi<strong>da</strong>mente<br />
me apercebi de que é necessário experimentar para ter<br />
uma opinião fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>: experimentar a produção de<br />
informação geográfica, experimentar a medição <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de<br />
e experimentar a utilização. O confronto de diferentes<br />
experiências de uso <strong>da</strong> informação geográfica, <strong>da</strong> cartografia<br />
náutica e aeronáutica à dos sistemas de <strong>na</strong>vegação para<br />
automóveis e a de apoio aos censos, contribui para elimi<strong>na</strong>r<br />
os preconceitos e encontrar a base teórica aplicável à<br />
generali<strong>da</strong>de dos casos. A discussão para alcançar consenso<br />
pode ser lenta, mas permite ganhar tempo <strong>na</strong> fase de<br />
implementação <strong>da</strong>s decisões e seria um bom exemplo a<br />
seguir a nível <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.<br />
Actualmente a prática <strong>da</strong> análise de quali<strong>da</strong>de dos <strong>da</strong>dos geográficos<br />
está bastante mais generaliza<strong>da</strong> mas, infelizmente,<br />
continua a ser realiza<strong>da</strong> sem ter um enquadramento teórico<br />
e normativo adequado. Note-se que a normalização <strong>da</strong> ISO<br />
é tendencialmente conservadora, aplicável e produzi<strong>da</strong> com<br />
base em consensos, a geo-comuni<strong>da</strong>de <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l poderia<br />
portanto adoptar as normas inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is sem o receio de<br />
estar a correr riscos.<br />
As dificul<strong>da</strong>des começam <strong>na</strong> especificação: só poderia haver<br />
medi<strong>da</strong> de quali<strong>da</strong>de por comparação com uma especificação,<br />
mas a generali<strong>da</strong>de dos processos existentes assumem,<br />
de algum modo, a existência <strong>da</strong> tal reali<strong>da</strong>de única<br />
e concreta contra a qual to<strong>da</strong>s as medi<strong>da</strong>s comparativas<br />
podem ser feitas. Percebia-se ain<strong>da</strong> que não existia uma<br />
boa sistematização dos elementos de quali<strong>da</strong>de a medir,<br />
o famoso rigor afi<strong>na</strong>l era um conceito vago. Efectivamente,<br />
mesmo a sistematização actualmente preconiza<strong>da</strong> pela<br />
norma ISO 19113 assume que alguns dos elementos de<br />
quali<strong>da</strong>de são interdependentes mas oferece um conjunto<br />
utilizável de elementos de quali<strong>da</strong>de (exactidão posicio<strong>na</strong>l,<br />
Terceiro mito: O mito <strong>da</strong> cartografia de base e <strong>da</strong> cartografia<br />
temática<br />
“In the Treaty of Riga of August 11, 1920, between Latvia<br />
and the Soviet Union, the boun<strong>da</strong>ry was defined as extending<br />
“as far as the letter “V” of the word “Kailov” and “to<br />
the curve of the river Lja, 2 versts to the North of the word<br />
“Stari<strong>na</strong>””. The map used was not identified in the text.”<br />
Stephen Jones, in. “Boun<strong>da</strong>ry-Making”.<br />
Uma boa parte dos mal-entendidos actualmente existentes<br />
relativamente à cartografia prendem-se com a incompreensão<br />
do seu âmbito de funcio<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de. A carta topográfica
Destaque<br />
23<br />
é fun<strong>da</strong>mentalmente um instrumento de posicio<strong>na</strong>mento,<br />
ou seja, a identificação de coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s sobre uma carta<br />
impressa, utilizando características geográficas representa<strong>da</strong>s<br />
como referência, é um método de determi<strong>na</strong>ção de<br />
coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s prático, rápido e que não requer equipamento<br />
nem conhecimentos sofisticados. Note-se que, antes <strong>da</strong><br />
existência de GPS, os métodos topográficos e fotogramétricos<br />
apoiados <strong>na</strong> rede geodésica seriam a alter<strong>na</strong>tiva para<br />
a determi<strong>na</strong>ção de coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s, indubitavelmente menos<br />
práticos e menos acessíveis para grande parte <strong>da</strong>s situações<br />
de utilização.<br />
Daí o conceito de cartografia de base e de cartografia temática,<br />
a primeira providencia a geo-referenciação e a<br />
segun<strong>da</strong> usa essa base para geo-referenciar outras características<br />
geográficas. Ou seja, a função <strong>da</strong> cartografia de<br />
base é providenciar os elementos suficientes para permitir<br />
o posicio<strong>na</strong>mento, de forma relativa, de outras características<br />
geográficas. Assim, a geo-referenciação <strong>da</strong> componente<br />
temática é assegura<strong>da</strong> pela sua sobreposição <strong>na</strong> base e a<br />
componente posicio<strong>na</strong>l está, neste contexto, sempre associa<strong>da</strong><br />
à apresentação do tema sobre a base.<br />
Ora facilmente se verifica que em suporte digital os temas<br />
são autónomos em termos de geo-referenciação. As possibili<strong>da</strong>des<br />
de composição de temas são inúmeras, esta é<br />
aliás uma <strong>da</strong>s grandes vantagens <strong>da</strong> informação geográfica<br />
digital, e portanto a existência de um tema tor<strong>na</strong>-se independente<br />
<strong>da</strong> existência de uma base e este passa a poder<br />
ser utilizado individualmente. Os conceitos de cartografia de<br />
base e de cartografia temática deixaram assim de ser sustentáveis,<br />
principalmente deixa de haver benefício prático<br />
em ter esta divisão vinca<strong>da</strong> teoricamente de um modo tão<br />
fun<strong>da</strong>mental, a não ser que sejam entendidos como desig<strong>na</strong>ções<br />
de produtos impressos. Veja-se, como exemplo, que<br />
um tema pode ser produzido individualmente com recurso<br />
a GPS, e nesse caso não tem uma base, ou por classificação<br />
de imagens de satélite e, nesse caso, esta base não tem<br />
necessariamente que acompanhar o tema. Estes <strong>da</strong>dos têm<br />
características de quali<strong>da</strong>de próprias e são estas que condicio<strong>na</strong>m<br />
o seu uso.<br />
Assume aqui importância fun<strong>da</strong>mental o conceito de<br />
Conjunto de Dados Geográficos utilizado <strong>na</strong>s normas ISO<br />
19100, que introduz, por si só, e de uma maneira simples,<br />
um corte radical com a abor<strong>da</strong>gem pelas “cartografias”. Um<br />
CDG pode corresponder a uma única característica geográfica,<br />
a um “tema” ou a um conjunto de “temas” (p.ex.: estra<strong>da</strong>s,<br />
casas, um plano de orde<strong>na</strong>mento, servidões, todos<br />
os componentes de um mapa de estra<strong>da</strong>s).<br />
Mas se os temas já são independentes <strong>da</strong> cartografia de<br />
base, então a produção desta deveria ser repensa<strong>da</strong> para<br />
as suas novas funções. Talvez a abor<strong>da</strong>gem correcta fosse<br />
não somente a de repensar o produto mas a de repensar<br />
a própria estratégia e passar a produzir CDG de interesse<br />
genérico. A abor<strong>da</strong>gem por CDG <strong>da</strong>ria eficácia à regulamentação,<br />
actualmente bloquea<strong>da</strong> pela utilização dos<br />
conceitos de cartografia de base topográfica e de cartografia<br />
temática.<br />
Para a utilização como base de geo-referenciação é suficiente<br />
a utilização de catálogos de características geográficas<br />
com pouca diferenciação temática. Há que evitar a tentação<br />
de abusar <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des do desenho digital, agora<br />
liberto <strong>da</strong>s restrições de legibili<strong>da</strong>de gráfica, e enriquecer<br />
demasiado a legen<strong>da</strong>, ou seja, a diferenciação temática.<br />
Esta opção conduz, por um lado, a produção e manutenção<br />
mais onerosas sem o benefício correspondente, uma vez<br />
que a diferenciação temática feita de um modo generalista<br />
dificilmente satisfará o utilizador especializado e, por outro<br />
lado, à utilização de estruturas de <strong>da</strong>dos menos adequa<strong>da</strong>s,<br />
porque o local próprio para fazer a diferenciação temática é<br />
num sistema de informação e não num desenho. Subjacente<br />
a esta tendência está a crença no primeiro mito, que leva<br />
a acreditar que é possível caminhar para uma representação<br />
fiel do terreno juntando mais informação, que isso é só uma<br />
questão de aumentar o esforço, quando afi<strong>na</strong>l tal desiderato<br />
simplesmente não existe.<br />
Reflicta-se então sobre as representações geográficas com<br />
valor oficial que, de algum modo, estão cataloga<strong>da</strong>s como<br />
cartografia temática. A existência de uma base oficial, e o<br />
termo oficial é aqui utilizado no sentido de uma base que<br />
proporcio<strong>na</strong> uma geo-referenciação váli<strong>da</strong> para fins oficiais,<br />
é redun<strong>da</strong>nte porque a geometria dos CDG é <strong>da</strong><strong>da</strong> directamente<br />
pelas suas coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s em forma digital e não por<br />
estarem desenhados em cima de algo. A oficialização, nos<br />
casos em que fosse aplicável, deveria incidir sobre a versão<br />
digital e atender às características de quali<strong>da</strong>de do CDG em
Destaque<br />
24<br />
causa, ou seja, sobre o produto e não sobre o processo de<br />
produção ou sobre a versão impressa.<br />
A interpretação posicio<strong>na</strong>l <strong>da</strong>s linhas impressas, às quais<br />
pode estar associado o valor legal, não é isenta de problemas.<br />
Esta deve ser feita com conhecimento do que realmente<br />
significa uma linha desenha<strong>da</strong> <strong>na</strong> cartografia e do<br />
processo matemático que lhe atribui coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s numa<br />
versão digital e não através <strong>da</strong> sobreposição ingénua de<br />
mapas, frequentemente muito distorcidos. A citação de<br />
abertura desta secção é um exemplo, caricato é certo, <strong>da</strong><br />
ideia de atribuir um valor legal em função <strong>da</strong> base em que<br />
está feito o desenho.<br />
É actualmente reconhecido que grande parte dos Planos<br />
Municipais de Orde<strong>na</strong>mento do Território têm expressão<br />
cartográfica deficiente, com níveis de exactidão posicio<strong>na</strong>l<br />
baixos que não são atribuíveis à cartografia de base. Ora o<br />
si<strong>na</strong>l que tem passado para o nível político aparenta ser o<br />
de que o problema deriva <strong>da</strong> actuali<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong> cartografia de base – o que pode acontecer mas não é<br />
a causa única, nem talvez a maior – induzindo a produção<br />
de regulamentação incidindo no alvo errado e a adopção<br />
de priori<strong>da</strong>des de investimento que só indirectamente contribuem<br />
para melhorar a quali<strong>da</strong>de cartográfica dos instrumentos<br />
de gestão do território.<br />
Quarto mito: O mito <strong>da</strong>s regras<br />
“Na ver<strong>da</strong>de a Lei obrigava os donos dos prédios a mu<strong>da</strong>rem-nos<br />
todos os dias de orientação e de rua, segundo<br />
um plano de barafun<strong>da</strong> paranóica estabelecido por poetas<br />
surrealistas reformados.”<br />
José Gomes Ferreira, in. “As Aventuras de João Sem Medo”<br />
Um mito muito corrente no que respeita a informação geográfica<br />
é o de que se não há formatos e estruturas uniformes<br />
então “ninguém se entende”. Esta é uma ideia muito perigosa,<br />
porque se é um facto que a normalização comporta vantagens<br />
– e conce<strong>da</strong>m-me o crédito de ter gasto muito tempo<br />
<strong>na</strong> elaboração e <strong>na</strong> promoção a nível <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l <strong>da</strong>s normas<br />
ISO 19100, o que me iliba de acusações de defender uma<br />
visão radical anti-regulamentação –, se for leva<strong>da</strong> longe demais<br />
acaba por induzir à adopção de soluções i<strong>na</strong>dequa<strong>da</strong>s<br />
e levantar mais problemas do que os que possa resolver.<br />
Os aspectos fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> regulamentação são a garantia<br />
<strong>da</strong> interoperabili<strong>da</strong>de e a especificação de níveis de<br />
quali<strong>da</strong>de aceitáveis para fins específicos. O resto depende<br />
<strong>da</strong> boa prática profissio<strong>na</strong>l, que deve ser valoriza<strong>da</strong> e não<br />
restringi<strong>da</strong>.<br />
Por alguma razão ficou associa<strong>da</strong> à informação geográfica a<br />
ideia de que depende exclusivamente de regras, as “regras<br />
<strong>da</strong> cartografia”, e neste enquadramento facilmente se confundem<br />
regras com regulamentos.<br />
Esta crença, sustenta<strong>da</strong> pelos três primeiro mitos, faz mais<br />
ou menos o mesmo sentido que dispensar o exercício <strong>da</strong><br />
arquitectura e <strong>da</strong> engenharia civil porque existem normas<br />
de construção, ou do urbanismo porque existem normas<br />
urbanísticas.<br />
Quinto mito: O mito do SIG<br />
“…quiserão isto acometer […] grosseiramente e quasi per<br />
cõjeitura. E errarão em muitas cousas: saindo <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>deyra<br />
figuração: pollo desconcerto e confusão <strong>da</strong> sua instituição:<br />
como podera considerar quem disso quiser tomar<br />
experiencia.”<br />
Pedro Nunes, in. “Tratado <strong>da</strong> Sphera”.<br />
A utilização de informação geográfica é apresenta<strong>da</strong> como<br />
um salto abrupto para a moderni<strong>da</strong>de. É-o em parte, mas<br />
essa evolução é relativamente gradual, não é determi<strong>na</strong><strong>da</strong><br />
pela aquisição do software nem dos <strong>da</strong>dos mas pela sua<br />
introdução eficaz nos processos de trabalho, sejam estes<br />
simples ou complexos.<br />
A própria desig<strong>na</strong>ção de Sistema de Informação Geográfica,<br />
<strong>na</strong>sci<strong>da</strong> no início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 70 e que agregou as<br />
múltiplas desig<strong>na</strong>ções sectoriais atribuí<strong>da</strong>s a sistemas de informação<br />
e programas que operavam com informação geográfica<br />
digital, presta-se actualmente a mal entendidos. Seria<br />
mais claro, no contexto actual, falar distintamente de <strong>da</strong>dos<br />
geográficos, de sistemas de informação e de software que<br />
permite a utilização de informação geográfica. É hoje mais<br />
ou menos irrelevante fazer doutri<strong>na</strong> <strong>da</strong> diferenciação entre<br />
CAD, SIG, folha de cálculo, browser ou sistema de gestão de<br />
base de <strong>da</strong>dos, tal é a promiscui<strong>da</strong>de de funcio<strong>na</strong>li<strong>da</strong>des. O<br />
fun<strong>da</strong>mental é que se utiliza informação geográfica digital<br />
para alcançar um determi<strong>na</strong>do objectivo e que para isso se<br />
deve utilizar a plataforma mais adequa<strong>da</strong>.
Destaque<br />
25<br />
A divulgação dos SIG em Portugal já tem pelo menos quinze<br />
anos, já foi há muito ultrapassa<strong>da</strong> a fase do pioneirismo e<br />
do amadorismo, não é uma nova tecnologia, é o instrumento<br />
de trabalho <strong>na</strong>tural para quem utiliza informação geográfica.<br />
O facto de se utilizar informação geográfica em forma<br />
digital não implica que o processo seja correcto e o facto de<br />
não a utilizar nessa forma também não desculpabiliza a má<br />
prática com informação geográfica. Em suma, o mito está<br />
em focalizar a atenção <strong>na</strong> utilização de SIG quando deveria<br />
estar nos resultados.<br />
Não sendo o custo do software e do hardware impeditivos<br />
<strong>da</strong> utilização, existindo CDG acessíveis – ou sendo a sua<br />
produção parte do processo ou a dificul<strong>da</strong>de que obrigatoriamente<br />
será ultrapassa<strong>da</strong> – resta a questão <strong>da</strong> formação<br />
que garanta a boa prática. Essa formação é a que induz<br />
a competência para a prática do projecto com informação<br />
geográfica e renega os mitos cartográficos.<br />
Nos domínios mais próximos do planeamento, <strong>da</strong> gestão<br />
do território e <strong>da</strong> gestão dos recursos <strong>na</strong>turais, a formação<br />
em SIG está dissemi<strong>na</strong><strong>da</strong> e bem implanta<strong>da</strong>, embora a<br />
componente de sistemas de informação seja tradicio<strong>na</strong>lmente<br />
descura<strong>da</strong>. Na engenharia geográfica, onde é <strong>da</strong><strong>da</strong><br />
a formação no que diz respeito a determi<strong>na</strong>ção de posição,<br />
não há igual preocupação com o conteúdo nem com a vertente<br />
de sistema de informação. Na engenharia informática<br />
está <strong>na</strong>turalmente presente a componente de sistemas<br />
de informação mas nenhuma <strong>da</strong>s outras. O problema <strong>da</strong><br />
formação incompleta é que, frequentemente, em vez de<br />
contribuir para gerar equipas que agregam especiali<strong>da</strong>des<br />
complementares, acaba por resultar numa tendência para<br />
ignorar a existência de outros domínios de especiali<strong>da</strong>de.<br />
É <strong>da</strong>qui que vem a espécie de “amadorismo parcial” que<br />
é característica <strong>da</strong> activi<strong>da</strong>de <strong>na</strong> área dos sistemas de informação<br />
geográfica.<br />
Em larga medi<strong>da</strong>, a utilização de SIG é simplesmente instrumental<br />
<strong>na</strong> maior parte dos domínios, sendo o conhecimento<br />
fun<strong>da</strong>mental aquele que respeita ao domínio de<br />
aplicação. A ideia de pluridiscipli<strong>na</strong>ri<strong>da</strong>de é no entanto facilmente<br />
converti<strong>da</strong> em não-discipli<strong>na</strong>ri<strong>da</strong>de, ou seja, não é<br />
preciso saber <strong>na</strong><strong>da</strong>. Para a realização de estudos de reduzi<strong>da</strong><br />
complexi<strong>da</strong>de, ou de reduzido impacto, a falta de formação<br />
específica não será dramática. Já para a elaboração<br />
de sistemas ou de estudos de grande complexi<strong>da</strong>de, ou de<br />
grande responsabili<strong>da</strong>de, é importante que se evitem erros<br />
básicos e que o projecto conte com a contribuição de técnicos<br />
ver<strong>da</strong>deiramente conhecedores dos aspectos que são<br />
específicos <strong>da</strong> informação geográfica, independentemente<br />
do campo de aplicação.<br />
Conclusão<br />
“Só posso supor que os triângulos feitos pelo Dr. Livingstone<br />
<strong>da</strong> ilha do Jardim foram resolvidos só com os ângulos, porque<br />
lados não podia <strong>da</strong>quele ponto medir nenhum. Pe<strong>na</strong> é<br />
que não ficasse a fórmula.”<br />
Serpa Pinto, in. “Como Eu Atravessei a África”.<br />
Uma coisa se pode atestar, a crença nos mitos referidos produz<br />
uma obstrução imensa ao desenvolvimento e à prossecução<br />
de qualquer estratégia.<br />
Se a vontade política, a viabili<strong>da</strong>de económica e viabili<strong>da</strong>de<br />
tecnológica são os ângulos de um triângulo, então a correcta<br />
abor<strong>da</strong>gem técnica é o lado que falta para a sua resolução,<br />
é o nosso lado. Quem o conseguir só com os ângulos<br />
que deixe a fórmula n<br />
Também <strong>na</strong> qualificação profissio<strong>na</strong>l requeri<strong>da</strong> há pequenos<br />
mitos, que curiosamente são contraditórios. Por um lado, o<br />
de que a utilização de SIG é muito difícil e requer grande<br />
especialização, fora do alcance de gabinetes de projecto e<br />
de autarquias – o que talvez fosse ver<strong>da</strong>de <strong>na</strong> primeira metade<br />
<strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 90 –; e por outro lado o de que uns<br />
recém-licenciados com “jeito para computadores” resolvem<br />
o assunto.<br />
João Matos, ICIST - <strong>Instituto</strong> de Engenharia de Estruturas, Território<br />
e Construção / <strong>Instituto</strong> Superior Técnico<br />
(jmatos@civil.ist.utl.pt)
Destaque<br />
26<br />
A Informação Geográfica,<br />
a Geografia e a Internet:<br />
Um novo olhar sobre a<br />
Socie<strong>da</strong>de e o Território<br />
Marco Painho<br />
Os Sistemas de Informação Geográfica:<br />
uma definição<br />
Os Sistemas de Informação Geográfica (SIG) pelas suas características<br />
aplicacio<strong>na</strong>is multidiscipli<strong>na</strong>res e pela profusão<br />
de outros sistemas de características semelhantes são de<br />
difícil definição. É possível, no entanto, conceber uma definição<br />
que englobe a tecnologia que os apoia (hardware<br />
e software), a base de <strong>da</strong>dos (incluindo a informação geográfica<br />
e outra com ela relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>), os métodos utilizados<br />
<strong>na</strong> exploração dos <strong>da</strong>dos e ain<strong>da</strong> a infra-estrutura que inclui<br />
os recursos humanos, as instalações e outros elementos de<br />
apoio. Neste sentido e de acordo com a figura 1 um SIG<br />
poderá ser definido como um sistema composto por hardware,<br />
software e um ambiente institucio<strong>na</strong>l que permite<br />
armaze<strong>na</strong>r, processar, visualizar e a<strong>na</strong>lisar <strong>da</strong>dos de <strong>na</strong>tureza<br />
geo-espacial (referenciados à superfície <strong>da</strong> terra)(PAINHO,<br />
2002).<br />
Este tipo de definição mais funcio<strong>na</strong>l é considerado a mais<br />
tradicio<strong>na</strong>l. Uma definição mais alarga<strong>da</strong> e actual deverá<br />
olhar para os SIG como o conjunto dos saberes associados<br />
ao conhecimento do comportamento geo-espacial de<br />
fenómenos (Ciência de Informação Geográfica) que permitem<br />
uma integração quase perfeita de <strong>da</strong>dos de <strong>na</strong>turezas<br />
diversas, possibilitando uma interacção via WEB (PAINHO,<br />
2002).<br />
Contexto histórico<br />
Génese social e histórica<br />
O boom dos Sistemas de Informação Geográfica (SIG) desde<br />
o início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 80, especialmente nos Estados<br />
Unidos <strong>da</strong> América, pode ser explicado como tendo uma<br />
origem multifaceta<strong>da</strong> que vai <strong>da</strong>s grandes mu<strong>da</strong>nças no
Destaque<br />
27<br />
INPUT<br />
Aquisição e edição<br />
Base de Dados<br />
Armaze<strong>na</strong>mento<br />
Manipulação e análise<br />
Sistema de Informação Geográfica<br />
Visualização e impressão<br />
OUTPUT<br />
Fig.1. Definição tradicio<strong>na</strong>l de Sistema de Informação Geográfica. (Fonte: PAINHO, 2002)<br />
pensamento contemporâneo a necessi<strong>da</strong>des técnicas muito<br />
práticas em várias áreas do conhecimento.<br />
A tendência mais recente de descentralização do poder, ou<br />
a distribuição do poder por áreas geograficamente dispersas,<br />
tem também como consequência uma descentralização e<br />
democratização em quase todos os sectores <strong>da</strong> ciência e <strong>da</strong><br />
vi<strong>da</strong> moder<strong>na</strong>s. Um exemplo muito concreto desta tendência<br />
é a já generaliza<strong>da</strong> utilização do microcomputador que,<br />
ape<strong>na</strong>s há duas déca<strong>da</strong>s, exigia o recurso a especialistas<br />
ain<strong>da</strong> que para desempenhar tarefas muito simples.<br />
Simultaneamente ocorreram mu<strong>da</strong>nças importantes nos<br />
sistemas <strong>na</strong>turais e humanos. O crescimento rápido dos<br />
grandes centros urbanos e o consumo e degra<strong>da</strong>ção acelerados<br />
dos recursos <strong>na</strong>turais criou uma necessi<strong>da</strong>de ca<strong>da</strong><br />
vez maior de informação sobre os estados desses sistemas<br />
de modo a permitir uma gestão eficiente. As Tecnologias de<br />
Informação (TI) têm demonstrado ser um excelente meio<br />
de gerir e a<strong>na</strong>lisar essa informação, tor<strong>na</strong>ndo-a facilmente<br />
acessível àqueles que dela necessitam.<br />
Apesar de historicamente Portugal apresentar <strong>na</strong>lgumas áreas<br />
algum isolamento em termos tecnológicos, também é<br />
ver<strong>da</strong>de que <strong>na</strong>lgumas ocasiões, se têm adoptado, ain<strong>da</strong><br />
que por imitação, tecnologias de uma forma relativamente<br />
rápi<strong>da</strong>. Contudo a adopção de uma tecnologia por imitação<br />
ocorre sem que tenham também ocorrido as modificações<br />
sociais que levaram em primeira-mão ao aparecimento dessa<br />
mesma tecnologia. Este fenómeno produz normalmente<br />
um início rápido, mas raramente leva a desenvolvimentos<br />
subsequentes. Como se verá foi este o caso <strong>da</strong> primeira<br />
fase <strong>da</strong> implementação <strong>da</strong> tecnologia SIG em Portugal (PAI-<br />
NHO, 1999).<br />
Ain<strong>da</strong> antes de os grandes pacotes de software comercial<br />
<strong>da</strong>rem entra<strong>da</strong> em Portugal, já nos anos 70 existiam algumas<br />
iniciativas isola<strong>da</strong>s de desenvolvimento deste tipo de<br />
sistemas.<br />
O grande precursor é o Gabinete <strong>da</strong> Área de Sines que começa<br />
a utilizar o pacote SYMAP de Harvard em aplicações<br />
de planeamento. Neste período são ain<strong>da</strong> importantes as<br />
acções do Centro de Estudos Geográficos <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de
Destaque<br />
28<br />
de Lisboa e também <strong>da</strong> Empresa Geral de Fomento (do<br />
então grupo CUF) que desenvolve um sistema próprio em<br />
formato matricial com cobertura total do País.<br />
A partir de meados dos anos 80 verificou-se um aumento<br />
acelerado do número de licenças de software SIG primeiro<br />
<strong>na</strong> área do ambiente e recursos <strong>na</strong>turais – de que o Atlas<br />
do Ambiente é a primeira aplicação ain<strong>da</strong> hoje em funcio<strong>na</strong>mento<br />
(PAINHO et al, 1993, MARQUES e PAINHO, 1997,<br />
PAINHO et al, MACHADO et al, 2002) – que depois se<br />
alastrou à administração central e local, às Universi<strong>da</strong>des e<br />
também à área dos serviços.<br />
Assiste-se também durante este período a um enquadramento<br />
institucio<strong>na</strong>l dos SIG em Portugal com a abertura<br />
em território <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de representações <strong>da</strong>s principais marcas<br />
de software de SIG, <strong>da</strong> criação a nível <strong>da</strong> Administração<br />
Central do Centro Nacio<strong>na</strong>l de Informação Geográfica (agora<br />
extinto) e ain<strong>da</strong> <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> USIG – Associação dos<br />
Utilizadores de Informação Geográfica. Mais recentemente<br />
(2002) é criado o <strong>Instituto</strong> Geográfico Português (IGP).<br />
Enquadramento discipli<strong>na</strong>r<br />
Em termos discipli<strong>na</strong>res é possível enquadrar os SIG como<br />
tendo a sua origem <strong>na</strong>s áreas relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s com o estudo<br />
e gestão do uso do solo e que passam pelo Orde<strong>na</strong>mento<br />
do Território, pelo Planeamento Paisagístico, por to<strong>da</strong>s<br />
as áreas relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s com o Ambiente, pela Geografia e<br />
ain<strong>da</strong>, como área de apoio pela Engenharia Informática e<br />
de Computadores.<br />
Hoje em dia as áreas de liderança <strong>na</strong> utilização e desenvolvimento<br />
dos SIG estão bastante diversifica<strong>da</strong>s e incluem<br />
para além <strong>da</strong>s tradicio<strong>na</strong>is: o Marketing, a Demografia, a<br />
Logística, a Investigação Operacio<strong>na</strong>l, os serviços baseados<br />
<strong>na</strong> localização (LBS – Location Based Services) e to<strong>da</strong>s as<br />
áreas relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s com o planeamento de infra-estruturas<br />
(educação, saúde, transportes...).<br />
A Geografia tende agora a assumir-se como a Área do Conhecimento<br />
que protagoniza o enquadramento teórico <strong>da</strong>s<br />
áreas relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s com os SIG <strong>da</strong>ndo origem à Ciência de<br />
Informação Geográfica. Também a Estatística (através dos<br />
desenvolvimentos <strong>da</strong> geo-estatística ou estatística espacial)<br />
se começa a envolver sobretudo enquanto ferramenta privilegia<strong>da</strong><br />
de análise de <strong>da</strong>dos espaciais integrando estas capaci<strong>da</strong>des<br />
nos SIG comerciais (PAINHO, 2002).<br />
Na maior parte <strong>da</strong>s muitas instituições que entretanto aderiram<br />
aos SIG, as aplicações ficaram muito pelo inventário,<br />
isto é, pela descrição de uma situação. Raramente se passou<br />
a uma fase de análise de informação e apoio à decisão.<br />
Tal como foi referido acima é relativamente difícil implementar<br />
uma tecnologia fora do contexto social em que esta<br />
foi desenvolvi<strong>da</strong>. Ora um dos pressupostos de desenvolvimento<br />
do SIG nos EUA foi que a informação infra estruturante<br />
(neste caso gratuita) produzi<strong>da</strong> pelos organismos<br />
públicos norte americanos existe e é facilmente acessível.<br />
Esta disponibili<strong>da</strong>de permite que uma instituição adquira o<br />
software e hardware SIG e, simultaneamente a informação<br />
base, podendo iniciar de imediato os projectos.<br />
O que aconteceu em Portugal foi que a tecnologia chegou<br />
antes de existir informação de base suficiente que permitisse<br />
o seu uso generalizado. O que faltou <strong>na</strong> fase inicial<br />
de crescimento <strong>da</strong> tecnologia foi a existência de uma infra-estrutura<br />
<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de informação geográfica que disponibilizasse<br />
a informação necessária aos vários domínios de<br />
aplicação.<br />
Infra-estruturas de Informação Geográfica<br />
Natureza<br />
Uma infra-estrutura <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de informação é <strong>na</strong>turalmente<br />
composta por uma rede de comunicações e de hardware<br />
capaz de facilitar o intercâmbio e acesso eficaz e universal<br />
à informação. Contudo a infra-estrutura não deve esquecer<br />
que o acesso por si só constitui uma condição necessária<br />
mas não suficiente para os benefícios <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> informação.<br />
De facto é essencial que os ci<strong>da</strong>dãos uma vez<br />
munidos <strong>da</strong>s ferramentas de acesso tenham igualmente à<br />
sua disposição informação útil e não ape<strong>na</strong>s informação generalista<br />
e sem detalhe (PAINHO, 2004).<br />
O acesso mais ou menos livre e universal a informação<br />
geográfica estruturante tem vindo a potenciar, sobretudo<br />
nos Estados Unidos <strong>da</strong> América, o aparecimento e desenvolvimento<br />
de diversas aplicações com utili<strong>da</strong>de pública e<br />
também priva<strong>da</strong>, nomea<strong>da</strong>mente <strong>na</strong> criação de produtos<br />
de mais-valia em torno dos quais giram uma miríade de
Destaque<br />
29<br />
empresas de informação. Estes conjuntos de <strong>da</strong>dos disponibilizados<br />
pelos organismos gover<strong>na</strong>mentais competentes<br />
contém basicamente dois tipos de informação: informação<br />
física (rede hidrográfica e topografia) e informação socioeconómica<br />
(uni<strong>da</strong>des básicas de recolha de informação<br />
- quarteirões, e eixos viários). A utili<strong>da</strong>de e benefício <strong>da</strong><br />
existência desta infra-estrutura advém não só do acesso à<br />
informação em si mas também do facto de ser possível<br />
assegurar compatibili<strong>da</strong>de entre as aplicações e produtos<br />
desenvolvidos com base numa infra-estrutura única.<br />
Em Portugal a ven<strong>da</strong> de software e hardware relacio<strong>na</strong>dos<br />
com o processamento e análise de informação geográfica<br />
tem vindo também a conhecer uma grande expansão,<br />
tendo sido inclusivamente, no caso <strong>da</strong>s autarquias locais,<br />
fi<strong>na</strong>nciado pelo Estado. Contudo, à expansão <strong>da</strong>s ven<strong>da</strong>s<br />
<strong>da</strong> infra-estrutura física não tem correspondido um aumento<br />
correspondente <strong>da</strong>s aplicações e produtos baseados em<br />
informação geográfica, sendo o baixo grau de desenvolvimento<br />
mais notório ao nível do sector privado. No último<br />
caso, o baixo grau de investimento residirá no facto de não<br />
existir uma clara perspectiva em termos de benefícios quando<br />
confrontados com o investimento <strong>na</strong> infra-estrutura física.<br />
As razões do atraso português nesta área prendem-se<br />
efectivamente, e em grande parte, com a falta de uma infra-<br />
- estrutura <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de informação geográfica (INIG) consistente<br />
e acessível que permita o desenvolvimento imediato<br />
de aplicações e de produtos de informação. Isto apesar de<br />
alguns esforços desenvolvidos nesta área pelo Centro Nacio<strong>na</strong>l<br />
de Informação Geográfica (CNIG) e actualmente pelo<br />
IGP, através <strong>da</strong> rede SNIG.<br />
A INIG deverá contemplar as áreas socio-económica e física<br />
em termos de cobertura completa do território <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l,<br />
sugerindo-se portanto a criação <strong>da</strong> infra-estrutura ao nível<br />
de dois grandes grupos estruturantes de informação. A<br />
composição mínima em termos de níveis de informação<br />
básicos, devi<strong>da</strong>mente compatibilizados, que permitam às<br />
instituições públicas e priva<strong>da</strong>s o normal desenvolvimento<br />
nesta área deverá conter:<br />
a) Na área socio-económica: (1) divisão administrativa <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l<br />
até à freguesia 2 ; (2) eixos de via e rede viária; (3)<br />
código postal no formato 4 + 3; (4) estrutura de levantamento<br />
de <strong>da</strong>dos censitários incluindo secções e<br />
subsecções urba<strong>na</strong>s e rurais; (5) ca<strong>da</strong>stro multi-funci<strong>na</strong>l 3 .<br />
b) Na área física: (1) rede hidrográfica <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l; (2) topo<br />
grafia e rede geodésica <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.<br />
Convém de novo salientar que a estrutura acima proposta<br />
só tem interesse se a produção <strong>da</strong> informação for devi<strong>da</strong>mente<br />
coorde<strong>na</strong><strong>da</strong> de modo a que as variáveis sejam compatíveis<br />
entre si. A coorde<strong>na</strong>ção efectiva <strong>da</strong> INIG constitui o<br />
factor fun<strong>da</strong>mental para o seu sucesso. O acesso à INIG a<br />
preços razoáveis é outro factor fun<strong>da</strong>mental.<br />
Assim uma Infra-estrutura Nacio<strong>na</strong>l de Informação Geográfica<br />
deverá:<br />
· Ser construí<strong>da</strong> de forma coorde<strong>na</strong><strong>da</strong> pelos organismos<br />
competentes;<br />
· Ser construí<strong>da</strong> a uma mesma escala(s) 1 para os vários tipos<br />
de informação;<br />
· Ser compatível com o processamento em SIG;<br />
· Ter uma política de distribuição a muito baixo custo ou<br />
mesmo grátis;<br />
· Assegurar a compatibili<strong>da</strong>de dos <strong>da</strong>dos base construídos<br />
pelos diversos organismos competentes;<br />
1 Por exemplo as escalas 1:25 000 e 1:100 000. A escala de enquadramento<br />
1:1 000 000 encontra-se já disponibiliza<strong>da</strong> pelo <strong>Instituto</strong><br />
do Ambiente para alguns dos temas básicos (PAINHO e SOUSA,<br />
1998).<br />
2 A carta administrativa até ao nível <strong>da</strong> freguesia encontra-se disponibiliza<strong>da</strong><br />
pelo IGP <strong>na</strong> Internet (http://www.igeo.pt/caop.htm)<br />
– Carta Administrativa Oficial de Portugal – CAOP V3.0<br />
3 A longo prazo, o ca<strong>da</strong>stro multi-funcio<strong>na</strong>l poderá vir a constituir<br />
a infra-estrutura base. Este tipo de infra-estrutura exige no entanto<br />
um investimento muito elevado e não poderá estar disponível<br />
a curto prazo. Contudo, o conceito de ca<strong>da</strong>stro multi-funcio<strong>na</strong>l<br />
extravasa a utili<strong>da</strong>de do ca<strong>da</strong>stro tal como ele existe actualmente<br />
possibilitando, para além <strong>da</strong>s aplicações liga<strong>da</strong>s às fi<strong>na</strong>nças a sua<br />
utilização em termos de planeamento urbano, regio<strong>na</strong>l, agricultura,<br />
localização, negócios e um sem número de aplicações potencia<strong>da</strong>s<br />
por utilizadores diversos que poderão acrescentar à informação<br />
cartográfica base informação de interesse sectorial.
Destaque<br />
30<br />
Uma INIG para <strong>da</strong>dos Socio-económicos<br />
Em Novembro de 1997, o <strong>Instituto</strong> Nacio<strong>na</strong>l de Estatística<br />
deu início à execução de um programa desti<strong>na</strong>do à constituição<br />
do suporte cartográfico com as delimitações administrativas<br />
e estatísticas de apoio à Operação Censos 2001.<br />
A Base Geográfica de Referenciação de Informação (BGRI),<br />
como habitualmente é desig<strong>na</strong><strong>da</strong> a geografia <strong>da</strong>s áreas estatísticas<br />
defini<strong>da</strong>s para os Censos 2001, foi constituí<strong>da</strong> com<br />
recurso ao sistema de informação geográfica do INE (INE-<br />
SIG) e dividiu o território <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l num conjunto de 177<br />
894 parcelas (subsecções estatísticas), delimita<strong>da</strong>s e codifica<strong>da</strong>s.<br />
É uma base poligo<strong>na</strong>l hierarquiza<strong>da</strong> cuja uni<strong>da</strong>de<br />
mínima de representação é a subsecção estatística (Fig.2).<br />
Fig.2. Base poligo<strong>na</strong>l<br />
desenha<strong>da</strong> sobre<br />
ortofoto (Fonte:<br />
Gabinete do Censos<br />
2001, 2001).
Destaque<br />
31<br />
Fig.3. BGRI desenha<strong>da</strong><br />
sobre cartografia digital<br />
(Fonte: MASSUÇA<br />
e PAINHO, 1998)<br />
Para este trabalho, o INE implementou uma estratégia de<br />
colaboração com um conjunto de organismos <strong>da</strong> Administração<br />
Central, dos quais se destacam o <strong>Instituto</strong> Geográfico<br />
do Exército (IGeoE) (SANTOS et al, 2001) e os extintos <strong>Instituto</strong><br />
Português de Cartografia e Ca<strong>da</strong>stro (IPCC) e Centro<br />
Nacio<strong>na</strong>l de Informação Geográfica 4 (CNIG), e <strong>da</strong> Administração<br />
Local, onde muito justamente se salientam as Autarquias<br />
Locais – Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia<br />
– e as Associações de Municípios.<br />
A Cartografia Base licencia<strong>da</strong>, <strong>da</strong> qual se destaca a Carta<br />
Militar de Portugal (Esc. 1:25 000) (Fig. 3) e a ortofotocartografia<br />
<strong>da</strong> série <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l (Esc. 1:10 000), permitiu constituir<br />
a versão digital <strong>da</strong> geografia hierarquiza<strong>da</strong> <strong>da</strong>s áreas estatísticas<br />
dos Censos 1991 (Base Geográfica de Referenciação<br />
Espacial - BGRE) e efectuar o processo de edição necessário<br />
à constituição <strong>da</strong> BGRI.<br />
organiza<strong>da</strong> hierarquicamente sendo possível extrair informação<br />
sobre qualquer uni<strong>da</strong>de administrativa (região, distrito,<br />
agrupamento de concelhos, concelho, freguesia) ou<br />
estatística (secção e subsecção). É uma base relacionável<br />
com qualquer base de <strong>da</strong>dos empresarial ou institucio<strong>na</strong>l<br />
organiza<strong>da</strong> em uni<strong>da</strong>des administrativas ou estatísticas que<br />
utilize a codificação do INE.<br />
Esta iniciativa contribui claramente para a universali<strong>da</strong>de do<br />
acesso à informação geográfica, sobretudo a de <strong>na</strong>tureza<br />
socio-económica, com benefícios evidentes para os mais<br />
diversos sectores de activi<strong>da</strong>de, não ape<strong>na</strong>s para os vários<br />
níveis <strong>da</strong> administração pública mas também para as diferentes<br />
áreas de activi<strong>da</strong>de priva<strong>da</strong>. Destaca-se ain<strong>da</strong> o facto<br />
de o INE ter desenvolvido uma base mínima comum<br />
(BMC) que permite a visualização e comparação dos <strong>da</strong>dos<br />
de 1991 e 2001.<br />
Decorridos oito anos desde o início dos trabalhos e cerca<br />
de quatro anos após os Censos 2001, o INE disponibilizou<br />
a versão <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l <strong>da</strong> BGRI e <strong>da</strong> BGRE em suporte digital<br />
vectorial. A resolução dos <strong>da</strong>dos é equivalente à escala 1:25<br />
000, não obstante, em determi<strong>na</strong><strong>da</strong>s áreas geográficas, terem<br />
sido utilizados <strong>da</strong>dos de escalas maiores para a edição<br />
<strong>da</strong> BGRI.<br />
A BGRI está associa<strong>da</strong> a uma base de <strong>da</strong>dos que contém<br />
informação sobre população e habitação. Esta base está<br />
4 Actualmente <strong>Instituto</strong> Geográfico Português (IGP).<br />
A BGRI constitui de facto a única base de informação geográfica<br />
consistente e com cobertura exaustiva do território<br />
<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. Esta base teve como origem fontes cartográficas<br />
diversas e possui uma exactidão, em média, equivalente à<br />
escala 1:25 000, sendo completamente compatível com<br />
outros conjuntos de <strong>da</strong>dos geográficos e aplicações que tenham<br />
tido como base ou referência a carta militar <strong>da</strong> série<br />
1:25 000. A BGRI apesar de apresentar um retrato administrativo<br />
e estatístico bastante detalhado, cobrindo todo o<br />
território <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l sem sobreposições ou vazios, não pode,<br />
em caso algum, substituir o ca<strong>da</strong>stro.
Destaque<br />
32<br />
A BGRI divide o território em 4241 freguesias, 16094 secções<br />
e 177893 subsecções, constituindo a única base de<br />
<strong>da</strong>dos deste género existente em Portugal capaz de potenciar<br />
aplicações <strong>na</strong> área socio-económica com integração a<br />
nível <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.<br />
Da<strong>da</strong>s as suas características, a utilização <strong>da</strong> BGRI deverá<br />
vir a tor<strong>na</strong>r-se indispensável <strong>na</strong> grande maioria <strong>da</strong>s acções<br />
de planeamento. De facto é possível associar um enorme<br />
ma<strong>na</strong>ncial de informação socio-económica, disponível no<br />
INE e no Sistema Estatístico Nacio<strong>na</strong>l em geral, aos vários<br />
níveis hierárquicos, administrativos e estatísticos <strong>da</strong> BGRI. A<br />
informação susceptível de ser associa<strong>da</strong> cobre um grande<br />
número de sectores incluindo a educação, a saúde e a agricultura,<br />
entre muitos outros.<br />
A BGRI também pode (e deve) servir de suporte à elaboração<br />
de planos directores municipais. Para além de outras<br />
vantagens a utilização <strong>da</strong> BGRI permite uma visão <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l<br />
e regio<strong>na</strong>l do estado do planeamento do território, o que<br />
até agora nunca foi possível. Acresce ain<strong>da</strong>, como referido<br />
acima, que a BGRI é compatível com a carta militar, tradicio<strong>na</strong>lmente<br />
utiliza<strong>da</strong> como suporte à cartografia de orde<strong>na</strong>mento<br />
do território.<br />
Aplicações <strong>da</strong> Informação Geográfica<br />
As aplicações <strong>da</strong> Informação Geográfica, e dos SIG, são hoje<br />
em dia socialmente abrangentes e têm aplicação em praticamente<br />
to<strong>da</strong>s as áreas <strong>da</strong> activi<strong>da</strong>de huma<strong>na</strong>. De facto to<strong>da</strong>s<br />
as áreas que li<strong>da</strong>m com informação geo-espacial sob as<br />
mais varia<strong>da</strong>s representações – incluindo tipos de objectos<br />
como pontos, arcos e polígonos, mas também redes lineares,<br />
redes triangulares, quadrículas, superfícies – podem ser<br />
trata<strong>da</strong>s e a<strong>na</strong>lisa<strong>da</strong>s em sede de sistemas de informação<br />
geográfica (PAINHO, 2002). A título de exemplo, e sem pretensão<br />
de exaustivi<strong>da</strong>de, apresenta-se de segui<strong>da</strong> uma lista<br />
de possíveis aplicações:<br />
Epidemiológica · Desenho de Círculos Eleitorais · Gestão e<br />
Planeamento de Serviços · Previsões Económicas · Serviço<br />
112 · Direct Mailing · Gestão de Media em Publici<strong>da</strong>de ·<br />
Controle de Encomen<strong>da</strong>s · GPS 5 · Navegação · Modelação<br />
3D · Ca<strong>da</strong>stro · Avisos ao Público · Análise Estratégica de<br />
Legislação · Áreas de Serviço · Zo<strong>na</strong>mento · Zo<strong>na</strong>s Húmi<strong>da</strong>s<br />
· Localização de Redes de Transporte · Análise Demográfica ·<br />
Censos · Criminologia · Topografia · Amostragem · Territórios<br />
de Ven<strong>da</strong>s · Gestão <strong>da</strong> Quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Água · Fotogrametria<br />
· Imagens de Satélite · Habitats de Espécies em Perigo ·<br />
Detecção Remota · Risco de Incêndio · Gestão de Colheitas<br />
· Gestão de Risco de Seguros · Geologia · Gestão do Crescimento<br />
· Planeamento Regio<strong>na</strong>l · Desenvolvimento Turístico<br />
· Modelação Hidrológica<br />
O interesse dos SIG para as aplicações <strong>na</strong> área <strong>da</strong> geo-demografia,<br />
traduz-se numa miríade de aplicações nomea<strong>da</strong>mente<br />
as relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s com operações de direct mailing,<br />
de análise de localização de clientes, distribuição de densi<strong>da</strong>des,<br />
estrutura demográfica e <strong>na</strong> mais tradicio<strong>na</strong>l análise<br />
de localização de postos de contacto com os clientes de<br />
retalho. O termo mais em voga <strong>na</strong>s empresas de negócios<br />
é o de geomarketing, ou seja, o marketing realizado com<br />
base em informação geográfica, demográfica e socio-económica.<br />
O relativo desenvolvimento desta discipli<strong>na</strong> advém<br />
<strong>da</strong> constatação de que muitos dos fenómenos sociais têm<br />
uma matriz de <strong>na</strong>tureza geográfica. Esta reali<strong>da</strong>de tor<strong>na</strong>-se<br />
ain<strong>da</strong> mais marcante ao nível dos negócios. A localização<br />
<strong>da</strong> empresa e agências é importante para os clientes e para<br />
atrair colaboradores qualificados. Por outro lado as empresas<br />
planeiam campanhas, fazem entregas, visitas, propagan<strong>da</strong><br />
e manutenção a clientes em determi<strong>na</strong><strong>da</strong>s zo<strong>na</strong>s.<br />
Nestes casos e em muitos outros a tecnologia associa<strong>da</strong><br />
à Ciência e aos Sistemas de Informação Geográfica apoia<br />
de forma eficaz as operações de <strong>na</strong>tureza geográfica<br />
<strong>da</strong>s empresas.<br />
Análise de Localização · Análise de Mercado · Análise de Impacte<br />
Ambiental · Orde<strong>na</strong>mento do Território · Policiamento<br />
· Cartografia · Gestão de Activos · Avaliação Imobiliária ·<br />
Avaliação de Risco Ambiental · Gestão de Portfólios · Distribuição<br />
e Logística · Planeamento de Transportes · Planeamento<br />
de Emergências · Educação Primária e Secundária<br />
· Gestão de Florestas · Resposta a Incêndios · Investigação<br />
A informação socio-económica e geográfica proveniente do<br />
INE e de outras fontes priva<strong>da</strong>s pode mostrar-se bastante<br />
útil <strong>na</strong> análise de padrões e <strong>na</strong> classificação e zo<strong>na</strong>mento<br />
de acordo perfis demográficos de clientes. A figura 4, por<br />
5 Global Positioning System.
Destaque<br />
33<br />
exemplo, mostra um cruzamento entre uma classificação<br />
<strong>da</strong>s secções estatísticas (perfil de clientes) e a localização<br />
de agências bancárias <strong>na</strong> ci<strong>da</strong>de de Lisboa.<br />
Um novo olhar sobre a Geografia:<br />
A Informação Geográfica <strong>na</strong> e <strong>da</strong> Internet<br />
Geografia e Internet<br />
O aparecimento e utilização generaliza<strong>da</strong> <strong>da</strong> Internet provocaram<br />
impactes importantes <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de nomea<strong>da</strong>mente<br />
<strong>na</strong> forma de relacio<strong>na</strong>mento inter-pessoal, entre clientes e<br />
empresas, ci<strong>da</strong>dãos e estado e no acesso à informação de<br />
uma forma geral. O alcance global <strong>da</strong> Internet coloca também<br />
algumas questões interessantes em relação a alguns<br />
paradigmas <strong>da</strong> geografia e nos quais se baseiam os próprios<br />
Sistemas de Informação Geográfica.<br />
O primeiro destes paradigmas a ser posto em causa é a noção<br />
de distância. A Internet chega a qualquer lado sempre<br />
com o mesmo tempo percebido – é rápido aceder a uma<br />
pági<strong>na</strong> de Internet em Itália ou no Japão. Poderá em certa<br />
medi<strong>da</strong> estar em causa a “morte <strong>da</strong> distância”? Também a<br />
localização se tor<strong>na</strong> num conceito difuso quando entramos<br />
no mundo virtual. O utilizador, por exemplo ao contactar<br />
com fornecedores de serviços 6 via Internet perde a noção<br />
<strong>da</strong> localização desta. Os próprios fornecedores terão que<br />
encontrar uma localização óptima não em termos <strong>da</strong> localização<br />
física no território, mas uma localização virtual que<br />
lhes permita serem facilmente indexados e encontrados.<br />
Por outro lado a Internet, <strong>na</strong>s suas áreas próprias de actuação,<br />
possibilita a remoção de muitas restrições físicas e<br />
geográficas no desenvolvimento <strong>da</strong> activi<strong>da</strong>de huma<strong>na</strong>.<br />
Assim sendo, a “morte <strong>da</strong> distância, a localização difusa e a<br />
elimi<strong>na</strong>ção <strong>da</strong>s restrições de <strong>na</strong>tureza geográfica”, <strong>da</strong>riam à<br />
Geografia um papel irrelevante <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de ou no mínimo<br />
menos relevante. Alguns exemplos disso são o caso do correio<br />
electrónico e os serviços de chat que tor<strong>na</strong>m universal<br />
o contacto permanente entre pessoas independentemente<br />
<strong>da</strong> sua localização, ou as empresas que podem contactar<br />
e vender serviços a consumidores independentemente do<br />
6 Muitos destes prestadores de serviços de facto não possuem uma<br />
localização concreta para atendimento ou então apresentam localizações<br />
demasiado longínquas para poderem ser úteis ou acessíveis<br />
ao utilizador comum.<br />
Perfil Geral:<br />
Cluster 1<br />
Cluster 2<br />
Cluster 3<br />
Cluster 4<br />
Bancos<br />
Fig.4. Cruzamento<br />
entre uma classificação<br />
de secções estatísticas e<br />
agências bancárias<br />
<strong>na</strong> ci<strong>da</strong>de de Lisboa<br />
(Fonte: PAINHO et al<br />
1998)
Destaque<br />
34<br />
local em que se encontrem. Da mesma forma pessoas com<br />
interesses semelhantes mas dispersas pelo mundo podem<br />
contactar entre si (comuni<strong>da</strong>des virtuais, por exemplo de<br />
estu<strong>da</strong>ntes, e-learning).<br />
As tecnologias de rede aproximaram de facto o mundo físico<br />
e o mundo virtual estabelecendo um tipo de relacio<strong>na</strong>mento<br />
em que a Internet funcio<strong>na</strong> como universo paralelo<br />
estritamente em formato digital. No entanto, e como é relativamente<br />
evidente, as limitações impostas pela geografia<br />
no mundo físico têm uma continui<strong>da</strong>de no mundo virtual.<br />
Estará certamente neste caso o paradigma <strong>da</strong> localização,<br />
agora não no espaço físico, mas sim a sua “localização no<br />
espaço virtual”. A dificul<strong>da</strong>de em compreender o paralelismo<br />
entre o mundo físico e o virtual tem <strong>da</strong>do origem a<br />
um novo surto de inovação que desenvolve processos que<br />
permitem estabelecer ligações entre os links <strong>da</strong> Internet e o<br />
mundo real. Ou seja, possibilitar a junção de dois mundos<br />
teoricamente separados. Aqui, e mais uma vez, a Geografia<br />
tendo como ferramenta de base os SIG, desempenhará um<br />
papel crucial; tor<strong>na</strong>rá possível cartografar a Internet.<br />
Cartografar a Internet<br />
O Mapa <strong>da</strong> Internet começa de facto a ter importância <strong>na</strong><br />
medi<strong>da</strong> em que os utilizadores começam a ter a necessi<strong>da</strong>de/curiosi<strong>da</strong>de<br />
de estabelecer relações entre os links<br />
que consultam e utilizam e a sua localização espacial, <strong>na</strong><br />
tentativa de restabelecer os mecanismos cognitivos de relacio<strong>na</strong>mento<br />
através do espaço e com o espaço. Este tipo<br />
de serviços de localização <strong>na</strong> Internet permite elaborar, por<br />
exemplo, uma cartografia <strong>da</strong> infra-estrutura física <strong>da</strong> Internet<br />
ou, a cartografia dos pontos de ligação à rede (ou seja a<br />
localização dos utilizadores). É também possível a criação<br />
de serviços de localização de sítios. Estes serviços permitem<br />
aos próprios sites (empresas) a determi<strong>na</strong>ção <strong>da</strong> localização<br />
dos utilizadores individuais (clientes). Existem já algumas<br />
companhias que prestam este tipo de serviço como<br />
por exemplo Quova: www.quova.com, Digital Envoy: www.<br />
digitalenvoy.com, NetGeo: www.netgeo.com e, InfoSplit:<br />
www.infosplit.com (THE ECONOMIST, 2003).<br />
IP podem depois ser agrupados por tema e associados por<br />
exemplo a universi<strong>da</strong>des, empresas ou bairros de ci<strong>da</strong>des.<br />
O acesso a websites com capaci<strong>da</strong>des de geolocalização<br />
permite que seja forneci<strong>da</strong> informação sobre a localização<br />
do servidor e a consequente modificação do conteúdo do<br />
site de acordo com a localização encontra<strong>da</strong>.<br />
Um exemplo de aplicação deste paradigma poderá ser a<br />
disponibilização de serviços com publici<strong>da</strong>de perso<strong>na</strong>liza<strong>da</strong><br />
que, através <strong>da</strong> localização do acesso de um utilizador efectua<br />
a ligação a uma base de <strong>da</strong>dos de perfis demográficos<br />
e socio-económicos baseados <strong>na</strong> localização e, em consequência<br />
dos resultados encontrados, divulga publici<strong>da</strong>de<br />
de acordo com o grupo alvo de que o utilizador faz parte.<br />
Através do mesmo processo também é possível determi<strong>na</strong>r<br />
a língua adequa<strong>da</strong> à divulgação dos conteúdos de um<br />
determi<strong>na</strong>do site. Também <strong>na</strong> área legal é possível pensar<br />
em aplicações como o controle <strong>da</strong> interdição de ven<strong>da</strong>s de<br />
alguns produtos em determi<strong>na</strong>dos países com implicações<br />
directas no e-commerce, leilões <strong>na</strong> Internet ou casinos em<br />
linha. Um dos problemas que alguns produtos, como os<br />
bancários ou os farmacêuticos, têm é o facto de estarem<br />
sujeitos a muitas restrições legais locais. Com a aju<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />
cartografia <strong>da</strong> localização dos clientes à distância é possível<br />
garantir que esses produtos são oferecidos para ven<strong>da</strong> em<br />
locais onde essa activi<strong>da</strong>de é permiti<strong>da</strong>.<br />
O papel dos conceitos geográficos e <strong>da</strong> Geografia permanece<br />
central também no mundo virtual, e até com valor<br />
acrescido, ao mostrar como e onde a Internet e o mundo<br />
real se tocam. Esta tarefa é facilita<strong>da</strong> pelos motores de pesquisa<br />
espacial dos SIG.<br />
A cartografia <strong>da</strong> net também possibilita a operação contrária<br />
de encontrar por exemplo o ponto de acesso mais próximo<br />
a um ponto de wireless lan 7 . O site www.wifinder.com, por<br />
exemplo, providencia um serviço de localização do ponto<br />
wi-fi mais próximo. A figura 5 mostra a representação cartográfica<br />
de localizações de pontos wi-fi.<br />
Os serviços fornecidos utilizam bases de <strong>da</strong>dos que conseguem<br />
fazer a ligação e transformar os endereços IP dos utilizadores<br />
em países, ci<strong>da</strong>des e códigos postais gerando representações<br />
cartográficas com apoio de SIG. Os endereços<br />
7 Serviço de Internet sem fios (wi-fi) até cerca de 100m de um<br />
ponto emissor.
Destaque<br />
35<br />
A. Pesquisa de<br />
documentos<br />
em todo<br />
o mundo.<br />
Fig.5. Intensi<strong>da</strong>de de si<strong>na</strong>l para acesso wi-fi à<br />
Internet <strong>na</strong> Universi<strong>da</strong>de do Kansas<br />
(Fonte: www.ittc.ku.edu/wlan, 2003).<br />
B. Aproximar<br />
à região com<br />
documentos com<br />
interesse.<br />
Para além do Mapa <strong>da</strong> Internet<br />
A conjugação do potencial <strong>da</strong> Internet, dos motores de<br />
busca e dos motores espaciais permitem começar a pensar<br />
em geo-referenciar documentos. Depois de uma tradicio<strong>na</strong>l<br />
pesquisa de documentos num motor de busca será<br />
possível orde<strong>na</strong>r os documentos encontrados por ordem<br />
de distância geográfica. Neste caso software ‘inteligente’<br />
pesquisa documentos à procura de referências geográficas:<br />
países, ci<strong>da</strong>des, estados, códigos postais, endereços de Internet,<br />
monumentos. Estas referências são cruza<strong>da</strong>s com<br />
base de <strong>da</strong>dos de topónimos (gazeteers) com milhões de<br />
registos. O resultado é a colocação de uma etiqueta geográfica<br />
(geotag) no documento 8 . No fi<strong>na</strong>l obtêm-se mapas<br />
com a distribuição dos documentos encontrados depois de<br />
uma pesquisa (Fig. 6), com simbologia indicando zo<strong>na</strong>s de<br />
maior concentração. Da mesma forma é possível pesquisar<br />
um termo num documento e obter as pági<strong>na</strong>s distribuí<strong>da</strong>s<br />
geograficamente.<br />
C. Pesquisar<br />
por cima do<br />
mapa para obter<br />
mais detalhes<br />
sobre a região<br />
8 Cerca de 80% dos documentos possuem informação para produzir<br />
uma etiquetagem geográfica (geotag).<br />
Fig.6. A, B e C (Fonte:<br />
www.metacarta.com, 2003).
Destaque<br />
36<br />
Fig.7. Pontos a amarelo e a vermelho<br />
mostram a localização<br />
e densi<strong>da</strong>de de inter<strong>na</strong>utas<br />
(Fonte: www.geourl.com, 2003).<br />
A utili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> geo-referenciação de documentos pode ser<br />
particularmente importante em websites de instituições que<br />
produzem grandes quanti<strong>da</strong>des de documentos como as<br />
forças de segurança (por exemplo <strong>na</strong> luta anti-terrorismo),<br />
as companhias de seguros ou as companhias petrolíferas 9 .<br />
Alguns destes novos sites providenciam a localização de endereços<br />
electrónicos. Nestes sites (Fig.7) qualquer pessoa<br />
se pode registar e pode também ficar a conhecer a localização<br />
dos seus vizinhos virtuais.<br />
Como temos vindo a observar o papel do conhecimento<br />
<strong>da</strong> localização está a tor<strong>na</strong>-se central em muitas aplicações.<br />
Outra área que parece prometedora é a <strong>da</strong> Geo-cifragem,<br />
isto é, a utilização <strong>da</strong> localização espacial de indivíduos ou<br />
objectos para cifrar (ou decifrar) mensagens. Neste caso a<br />
palavra-chave é forneci<strong>da</strong> pela localização. As mensagens,<br />
num sistema deste tipo, são codifica<strong>da</strong>s de modo a só serem<br />
perceptíveis por pessoas em determi<strong>na</strong><strong>da</strong>s localizações.<br />
A descodificação poderá ser feita com a aju<strong>da</strong> de um GPS.<br />
A distribuição inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de produtos cinematográficos<br />
pode ser feita respeitando regras locais: só as pessoas em<br />
determi<strong>na</strong><strong>da</strong>s localizações podem receber. Aplicações do<br />
âmbito militar também são claramente susceptíveis de poder<br />
beneficiar deste tipo solução.<br />
9 Não existe ain<strong>da</strong> uma stan<strong>da</strong>rdização de etiquetas para documentos<br />
o que dificulta pesquisas em termos globais.
Destaque<br />
37<br />
Já em grande desenvolvimento estão as aplicações com os<br />
telemóveis de terceira geração e GPS que constituirão talvez<br />
a melhor ligação entre o mundo real e o ciberespaço. A<br />
ideia subjacente a este grupo de aplicações é a disponibilização<br />
de serviços com base <strong>na</strong> localização do utilizador<br />
(LBS) 10 . Alguns problemas existentes com a determi<strong>na</strong>ção<br />
<strong>da</strong> localização precisa através do telemóvel podem ser ultrapassados<br />
com o acoplamento de um receptor de GPS. Os<br />
utilizadores podem, para além, de receber serviços de informação<br />
sobre locais, também geo-marcar uma localização e<br />
enviar informação sobre ela: marcar um pic-nic ou encontro,<br />
marcar um local para uma entrega comercial ou, fazer<br />
acompanhar localizações de informação multimédia (vídeo,<br />
som). Associado a este tipo de aplicações está o conceito<br />
de graffiti digital. Um cliente pode deixar uma crítica a um<br />
restaurante num determi<strong>na</strong>do local. Os clientes seguintes<br />
poderão ter acesso a esses comentários (este tipo de serviço<br />
já está disponível no Japão). Os graffiti digitais permitem<br />
assim deixar mensagens associa<strong>da</strong>s a uma localização com<br />
uma exactidão de posição <strong>na</strong>lguns casos superior a um metro.<br />
Esta informação pode referir-se a objectos tão diferentes<br />
como uma flor, um rio ou um lote de terreno. Esta nova<br />
possibili<strong>da</strong>de, forneci<strong>da</strong> pelas tecnologias <strong>da</strong> informação<br />
geográfica, veio potenciar mais um novo conceito – o de<br />
‘reali<strong>da</strong>de aumenta<strong>da</strong>’: a possibili<strong>da</strong>de de termos acesso a<br />
informação adicio<strong>na</strong>l àquela que nos é faculta<strong>da</strong> pelos nossos<br />
sentidos. Esta informação sobre o ambiente que nos<br />
rodeia terá que ser veicula<strong>da</strong> por interfaces muito diferentes<br />
dos actuais, mais intuitivos e de fácil utilização.<br />
Conclusão<br />
Tal como foi referido logo no início, é relativamente difícil<br />
implementar uma tecnologia fora do contexto social em que<br />
esta foi desenvolvi<strong>da</strong>. Ora um dos pressupostos de desenvolvimento<br />
do SIG nos EUA foi que a informação infra estruturante<br />
(neste caso gratuita) produzi<strong>da</strong> pelos organismos<br />
públicos norte americanos existe e é facilmente acessível.<br />
Esta disponibili<strong>da</strong>de permite que uma instituição adquira o<br />
SIG e simultaneamente a informação base, podendo iniciar<br />
de imediato os projectos.<br />
Em termos <strong>da</strong>s aplicações sociais e económicas a informação<br />
geográfica de base mais interessante é aquela que<br />
10 Location Based Services.<br />
corresponde à produzi<strong>da</strong> pelo INE (BGRI). Pode ain<strong>da</strong> considerar-se<br />
como interessante para estas aplicações os eixos<br />
de via produzidos por algumas empresas priva<strong>da</strong>s. O que<br />
aconteceu em Portugal foi que a tecnologia chegou antes<br />
de existir informação de base suficiente que permitisse o<br />
seu uso generalizado. O INE ape<strong>na</strong>s disponibilizou uma<br />
base <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l em 2001. As aplicações <strong>na</strong> área económica e<br />
social encontram-se nesta altura em desenvolvimento acelerado.<br />
Quase ultrapassa<strong>da</strong> a dificul<strong>da</strong>de <strong>da</strong> disponibilização<br />
<strong>da</strong> informação base e do domínio <strong>da</strong> tecnologia fica aberta<br />
a porta para enfrentar os novos desafios <strong>da</strong>s aplicações<br />
em tempo real (ou quase real) nomea<strong>da</strong>mente através <strong>da</strong><br />
integração de imagens de satélite (com resoluções ca<strong>da</strong><br />
vez maiores) e <strong>da</strong>dos de campo recolhidos com a aju<strong>da</strong><br />
de GPS.<br />
Ao contrário do que poderia ser pensado, de facto, o papel<br />
desempenhado pelo conhecimento exacto <strong>da</strong> localização<br />
de pessoas e objectos, adquire ca<strong>da</strong> vez mais relevância<br />
e permite aplicações ca<strong>da</strong> vez mais avança<strong>da</strong>s. O conhecimento<br />
geográfico aliado ao poder de gestão destes <strong>da</strong>dos<br />
no SIG permite avançar muito além do que foi inicialmente<br />
pensado sobre a potenciali<strong>da</strong>de destes sistemas. O poder e<br />
a varie<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s aplicações é muito aumentado e de forma<br />
não predizível quando o meio de comunicação e ligação<br />
entre os vários elementos actuantes passa a ser a Internet.<br />
Parece óbvio que o conhecimento do espaço e suas relações,<br />
reunido <strong>na</strong> Ciência <strong>da</strong> Informação Geográfica, será<br />
ca<strong>da</strong> vez mais central em to<strong>da</strong>s as aplicações que façam<br />
uso <strong>da</strong> localização como elemento preponderante. Não<br />
estamos certamente perante o fim <strong>da</strong> Geografia enquanto<br />
ramo do conhecimento, mas encontramo-nos numa encruzilha<strong>da</strong><br />
em que é necessário repensar a forma como temos<br />
olhado para o território. Confrontamo-nos agora com sistemas<br />
referenciais profun<strong>da</strong>mente diversos em que a duali<strong>da</strong>de<br />
real / virtual tem que começar a ser interioriza<strong>da</strong><br />
e percebi<strong>da</strong> por todos os intervenientes. A uma anuncia<strong>da</strong><br />
morte <strong>da</strong> distância e <strong>da</strong> localização sobrepõe-se uma espécie<br />
de vingança <strong>da</strong> geografia, onde o território permanece<br />
com importância central também no mundo virtual.<br />
Os sistemas sem fios (Wireless), os telemóveis e o GPS<br />
são neste momento os candi<strong>da</strong>tos melhor colocados a<br />
estabelecer uma ligação proveitosa entre o mundo real<br />
e o ciberespaço n
Destaque<br />
38<br />
Referências bibliográficas<br />
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GABINETE DO CENSOS 2001 (Serviço de Cartografia). A<br />
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6ª Sessão - Sistemas de Informação Regio<strong>na</strong>l. Porto, 7-8 de<br />
Novembro de 2002. 2004.<br />
Marco Painho, Professor Catedrático do <strong>Instituto</strong> Superior de Estatística<br />
e Gestão de Informação <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Nova de Lisboa<br />
(painho@isegi.unl.pt).
Artigo<br />
39<br />
Câmara Aérea Digital<br />
Ortofotomapas<br />
Paulo Patrício<br />
Direcção-Geral dos Recursos Florestais (DGRF), organismo público respon-<br />
A sável pelo desenvolvimento sustentável dos recursos florestais <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is,<br />
decidiu adquirir uma cobertura de ortofotomapas digitais do território de Portugal<br />
Continental.<br />
A gestão, protecção e conservação dos espaços florestais passa inicialmente por<br />
conhecer a reali<strong>da</strong>de florestal <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. A cartografia surge como uma necessi<strong>da</strong>de<br />
para executar estas tarefas. Não é possível realizar uma gestão equilibra<strong>da</strong> dos<br />
espaços, florestais ou outros, sem possuir levantamentos cartográficos actualizados<br />
do território. A ortofotocartografia obti<strong>da</strong> a partir de voos aerofotogramétricos,<br />
comparativamente a outras formas de representação cartográfica, possui duas<br />
vantagens que se adequam à gestão florestal: o processo de aquisição é relativamente<br />
rápido e não requer conhecimentos técnicos muito específicos quando<br />
usa<strong>da</strong> como documento de trabalho.<br />
Em Março de 2004 foi nomeado pela DGRF um grupo de trabalho, composto<br />
por membros de vários organismos públicos e por representantes de empresas<br />
priva<strong>da</strong>s de cartografia, com o objectivo de avaliar a forma mais eficaz de obter<br />
imagens ortorrectifica<strong>da</strong>s. Foram a<strong>na</strong>lisa<strong>da</strong>s várias hipóteses: imagens de satélite<br />
de alta resolução, fotografias aéreas obti<strong>da</strong>s a partir de câmaras fotográficas a<strong>na</strong>lógicas<br />
e ain<strong>da</strong> fotografias aéreas obti<strong>da</strong>s através de câmaras digitais.<br />
Fig.1. Área voa<strong>da</strong> em Novembro<br />
de 2004.<br />
Depois de a<strong>na</strong>lisar as vantagens e desvantagens de ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s alter<strong>na</strong>tivas, a<br />
escolha recaiu sobre as fotografias aéreas obti<strong>da</strong>s por câmaras digitais. Na base<br />
desta preferência esteve a conjugação de duas características inerentes a este tipo<br />
de tecnologia: rapidez <strong>na</strong> obtenção <strong>da</strong>s fotografias e excelente quali<strong>da</strong>de radiométrica<br />
<strong>da</strong>s imagens digitais. Pela primeira vez em Portugal foi realizado um voo com<br />
uma câmara aérea digital. No ano de 2004 foi coberto aproxima<strong>da</strong>mente 40% do<br />
território de Portugal Continental com fotografia aérea digital de raiz. (Fig.1).<br />
A DGRF estabeleceu um protocolo com o <strong>Instituto</strong> Geográfico Português (IGP)<br />
para a verificação <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de do voo e para a produção dos respectivos ortofotomapas.<br />
Esta ortofotocartografia será utiliza<strong>da</strong>, entre outros fins, para realizar o<br />
próximo inventário florestal <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.
Artigo<br />
40<br />
Câmaras Digitais<br />
As câmaras fotográficas aéreas digitais já existem há alguns<br />
anos mas ape<strong>na</strong>s agora começam a ser usa<strong>da</strong>s de forma<br />
sistemática. A redução dos custos de aquisição destas câmaras<br />
está a contribuir de forma relevante para a crescente<br />
implantação deste tipo de tecnologia.<br />
À semelhança do que acontece com as máqui<strong>na</strong>s fotográficas<br />
digitais de uso comum, também as câmaras aéreas têm<br />
como principal característica o facto de permitirem obter<br />
uma fotografia directamente em suporte digital. O desenvolvimento<br />
dos sensores CCD (Charge-Coupled Device),<br />
usados por este tipo de câmaras, permite considerar a utilização<br />
desta tecnologia para fins cartográficos. A metodologia<br />
de aquisição de cartografia com recurso a fotografias<br />
aéreas irá, nos próximos anos, passar necessariamente pelas<br />
câmaras digitais.<br />
O processo de produção cartográfica, com recurso a voos fotogramétricos,<br />
tem utilizado <strong>na</strong>s últimas déca<strong>da</strong>s fotografias<br />
obti<strong>da</strong>s a partir de câmaras a<strong>na</strong>lógicas, câmaras que utilizam<br />
um rolo fotográfico, que depois é revelado em laboratório.<br />
Inicialmente os aparelhos de restituição fotogramétrica usavam<br />
os diapositivos <strong>da</strong>s fotografias em formato a<strong>na</strong>lógico<br />
para recolher a informação. Posteriormente, com a chega<strong>da</strong><br />
<strong>da</strong>s estações gráficas digitais, passou a ser necessário proceder<br />
à digitalização <strong>da</strong>s fotografias aéreas. Este procedimento<br />
é realizado por scanners fotogramétricos, aparelhos que<br />
fazem a conversão de <strong>da</strong>dos em formato a<strong>na</strong>lógico para<br />
formato digital. A produção de ortofotomapas a partir de<br />
ficheiros digitais obriga também à digitalização do filme.<br />
Com a chega<strong>da</strong> <strong>da</strong>s câmaras digitais elimi<strong>na</strong>-se o último<br />
elo, no processo de aquisição cartográfica através de voos<br />
fotogramétricos, que ain<strong>da</strong> não era digital. Neste momento<br />
já é possível estabelecer uma cadeia de produção de informação<br />
cartográfica exclusivamente digital.<br />
As vantagens <strong>da</strong>s câmaras aéreas não se esgotam no facto<br />
de permitirem obter directamente um ficheiro digital. Muitas<br />
permitem obter em simultâneo fotografias <strong>na</strong> composição<br />
RGB (composição vermelho, verde e azul) e também em<br />
NIR (infravermelho próximo), algo que com as câmaras<br />
convencio<strong>na</strong>is normalmente só se conseguia recorrendo a<br />
dois voos, ca<strong>da</strong> um usando um tipo filme.<br />
Outra característica importante deste tipo de tecnologia está<br />
relacio<strong>na</strong><strong>da</strong> com a rapidez <strong>na</strong> aquisição dos <strong>da</strong>dos, quando<br />
compara<strong>da</strong> com as câmaras convencio<strong>na</strong>is. Como os<br />
processos de revelação fotográfica em laboratório e digitalização<br />
em scanners fotogramétricos deixam de ser necessários,<br />
é possível dispor do ficheiro digital de forma quase<br />
imediata ao voo. A primeira avaliação <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s imagens<br />
pode inclusive ser realiza<strong>da</strong> durante o voo.<br />
Relacio<strong>na</strong>do com este aspecto está também a diminuição<br />
dos custos de aquisição <strong>da</strong> informação. Como deixa de ser<br />
necessário proceder à revelação e digitalização dos filmes,<br />
diminui-se de forma significativa os custos materiais e humanos<br />
no processo de aquisição <strong>da</strong>s imagens digitais.<br />
A quali<strong>da</strong>de radiométrica <strong>da</strong>s imagens obti<strong>da</strong>s a partir <strong>da</strong>s<br />
câmaras digitais surge também como uma mais valia neste<br />
tipo de tecnologia. Como o processo de digitalização em<br />
scanners é dispensado, as imagens não apresentam o “ruído”<br />
inerente a este tipo de procedimento. A informação<br />
surge de forma mais níti<strong>da</strong>, garantindo uma melhor definição<br />
dos objectos. Em algumas câmaras as imagens são<br />
também adquiri<strong>da</strong>s com uma resolução radiométrica de 12<br />
bits, em vez dos tradicio<strong>na</strong>is 8 bits obtidos <strong>na</strong> digitalização<br />
em scanner. Comparando duas imagens com a mesma resolução<br />
geométrica no terreno, uma obti<strong>da</strong> a partir de uma<br />
câmara convencio<strong>na</strong>l e posteriormente digitaliza<strong>da</strong>, e outra<br />
adquiri<strong>da</strong> por uma câmara digital, é possível constatar a quali<strong>da</strong>de<br />
radiométrica significativamente superior <strong>da</strong> segun<strong>da</strong><br />
(Fig. 2).<br />
A melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> imagem é também devi<strong>da</strong> ao<br />
facto destas câmaras fazerem um melhor aproveitamento<br />
<strong>da</strong> luminosi<strong>da</strong>de existente, o que permite considerar a<br />
possibili<strong>da</strong>de de realizar voos com o Sol mais baixo que<br />
anteriormente. Ou seja, com este tipo de câmaras aumenta<br />
o número de horas em que é possível captar imagens ao<br />
longo do ano, tendo sempre em consideração o objectivo<br />
pretendido para as fotografias.
Artigo<br />
41<br />
Fig.2. Aeroporto de Lisboa.<br />
À esquer<strong>da</strong>: fotografia obti<strong>da</strong> com uma câmara a<strong>na</strong>lógica,1999. À direita: fotografia obti<strong>da</strong> com uma câmara digital,<br />
2004. Resolução no terreno de ambas as imagens: 50 centímetros.<br />
As câmaras aéreas digitais podem ser classifica<strong>da</strong>s, quanto à<br />
forma de aquisição <strong>da</strong>s imagens, em dois tipos: câmaras lineares<br />
e câmaras matriciais. Nas câmaras lineares (Exemplo<br />
<strong>na</strong> figura 3) a informação é recolhi<strong>da</strong> por fia<strong>da</strong>s de pixels.<br />
Nas câmaras matriciais (Exemplos <strong>na</strong>s figuras 4, 5 e 6) a<br />
imagem é recolhi<strong>da</strong> através de uma projecção cónica, usando<br />
o mesmo princípio <strong>da</strong>s câmaras a<strong>na</strong>lógicas. Em ca<strong>da</strong><br />
disparo é recolhi<strong>da</strong> uma determi<strong>na</strong><strong>da</strong> área do terreno.<br />
Fig.3. Exemplo de uma<br />
câmara linear – ADS40 ,<br />
Leica.<br />
Fig.4. Exemplo de uma<br />
câmara matricial –<br />
DMC, Intergraph Z/I<br />
Imaging.<br />
Fig.5. Exemplo de uma<br />
câmara matricial –<br />
DIMAC, Dimac Systems.<br />
Fig.6. Exemplo de uma<br />
câmara matricial -<br />
Ultracam-D, Vexcel.
Artigo<br />
42<br />
Voo 2004<br />
O voo realizado em Novembro de 2004 foi executado com<br />
uma câmara Ultracam-D <strong>da</strong> Vexcel (Fig.6 e Quadros 1 e 2).<br />
A metodologia de aquisição de imagens aéreas neste tipo<br />
de câmara é consideravelmente diferente <strong>da</strong> usa<strong>da</strong> pelas<br />
câmaras convencio<strong>na</strong>is. No caso concreto <strong>da</strong> câmara Ultracam<br />
as imagens são obti<strong>da</strong>s a partir dos 8 cones que a<br />
compõem. (Fig. 6).<br />
A forma de aquisição <strong>da</strong>s imagens é bastante peculiar. É<br />
obti<strong>da</strong> uma imagem a preto e branco de alta resolução,<br />
desig<strong>na</strong><strong>da</strong> Pancromática, a partir dos 4 cones centrais <strong>da</strong><br />
câmara. Ca<strong>da</strong> cone recolhe ape<strong>na</strong>s uma parte <strong>da</strong> imagem.<br />
Como ca<strong>da</strong> um destes troços possui uma zo<strong>na</strong> de sobreposição<br />
com os adjacentes, a imagem completa é construí<strong>da</strong><br />
através do mosaico de to<strong>da</strong>s as partes. (Fig.7)<br />
Os 4 cones restantes permitem obter as imagens multiespectrais:<br />
vermelho, verde, azul e infravermelho próximo,<br />
uma por ca<strong>da</strong> cone. Estas imagens possuem uma resolução<br />
no terreno inferior à <strong>da</strong> imagem Pancromática, numa relação<br />
de 1 para 2,8.<br />
As imagens fi<strong>na</strong>is a cores, RGB e NIR, de alta resolução,<br />
resultam <strong>da</strong> fusão entre a imagem Pancromática de alta<br />
resolução e as imagens multiespectrais de menor resolução,<br />
num procedimento desig<strong>na</strong>do por Pan-Sharpening.<br />
Esta metodologia é comum no processamento de imagens<br />
de satélite.<br />
As imagens anteriores ao processo de fusão são desig<strong>na</strong><strong>da</strong>s<br />
por imagens de Nível 2, posteriormente à fusão denomi<strong>na</strong>m-se<br />
como imagens de Nível 3.<br />
Fig. 7. Extracto de uma<br />
imagem Pancromática.
Artigo<br />
43<br />
Dimensão <strong>da</strong> imagem pancromática<br />
Dimensão pixel - pancromática<br />
Plano focal - formato<br />
Distância focal - pancromática<br />
Abertura Lentes - pancromática<br />
Campo de visão, cross-track (along track)<br />
11500 x 7500 pixels<br />
9 μm<br />
103.5 x 67.5 mm<br />
100 mm<br />
F = 1/5.6<br />
55º (37º)<br />
Cor (capaci<strong>da</strong>de multiespectral)<br />
Dimensão imagem - Cor (nível 2)<br />
4 ca<strong>na</strong>is RGB & NIR<br />
4008 x 2672 pixels<br />
9 μm<br />
Quadro 1. Câmara<br />
Ultracam-D, Vexcel.<br />
Especificações técnicas<br />
dos sensores.<br />
28 mm<br />
F = 1/4.0<br />
61º (42º)<br />
Câmara<br />
Ulracam Vexcel<br />
Data do voo<br />
Novembro de 2004<br />
Área voa<strong>da</strong><br />
Ver Fig.1<br />
Número de imagens<br />
7056<br />
Área aproxima<strong>da</strong> coberta por ca<strong>da</strong> imagem<br />
5750 m x 3750 m<br />
Sobreposição longitudi<strong>na</strong>l entre fotos<br />
60%<br />
Sobreposição lateral entre fotos<br />
30%<br />
Altitude de voo (aprox.)<br />
5800 m<br />
Quadro 2. Informação<br />
sobre o voo realizado<br />
em Novembro de 2004.<br />
Resolução no terreno <strong>da</strong> imagem pancromática<br />
Imagens disponibiliza<strong>da</strong>s<br />
0.5m<br />
RGB e NIR (Nível 3)
Artigo<br />
44<br />
Verificação do Voo<br />
O IGP realizou o controlo de quali<strong>da</strong>de deste voo a<strong>na</strong>lisando<br />
uma amostra com 2820 imagens, aproxima<strong>da</strong>mente<br />
40% do total <strong>da</strong>s fotografias. A verificação incidiu sobre os<br />
seguintes aspectos: existência de nuvens, quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> cor,<br />
presença de manchas, má definição <strong>da</strong> imagem e zo<strong>na</strong>s<br />
sem informação.<br />
Em virtude do elevado peso <strong>da</strong>s imagens - <strong>na</strong> composição<br />
RGB a 16 bits de resolução radiométrica ca<strong>da</strong> imagem ocupa<br />
aproxima<strong>da</strong>mente 518 MB - o IGP desenvolveu uma<br />
aplicação para facilitar a visualização dos ficheiros. To<strong>da</strong>s as<br />
imagens foram comprimi<strong>da</strong>s no formato ECW (Enhanced<br />
Compressed Wavelet) e disponibiliza<strong>da</strong>s aos operadores no<br />
browser <strong>da</strong> Internet, através de um servidor de imagens. A<br />
aplicação permite ain<strong>da</strong> registar numa base de <strong>da</strong>dos to<strong>da</strong>s<br />
as anomalias detecta<strong>da</strong>s (Fig. 8).<br />
processamentos informáticos (conversão de formatos, pansharpening,<br />
etc.) e 2% deficiências relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s com as<br />
condições de aquisição <strong>da</strong>s fotografias (nuvens, luminosi<strong>da</strong>de<br />
deficiente). Os primeiros foram suplantados realizando<br />
novos processamentos. Os segundos não são passíveis de<br />
correcção sem efectuar novo voo.<br />
Ortorrectificação<br />
Para além <strong>da</strong> câmara propriamente dita, este voo foi realizado<br />
com dois equipamentos adicio<strong>na</strong>is: GPS (Global Positioning<br />
System) e IMU (Inertial Measurement Unit). O equipamento<br />
GPS permite registar as coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s do centro<br />
de projecção de ca<strong>da</strong> fotograma. O IMU recolhe os ângulos<br />
heading pitch e roll que são posteriormente transformados<br />
nos ângulos omega, phi e kappa.<br />
Os resultados deste controlo de quali<strong>da</strong>de foram os seguintes:<br />
4% <strong>da</strong>s imagens apresentavam erros provocados pelos<br />
Fig.8. Aplicação para controlo de quali<strong>da</strong>de do voo.
Artigo<br />
45<br />
As coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s do centro de projecção juntamente com os<br />
ângulos omega, phi e kappa constituem os parâmetros de<br />
orientação exter<strong>na</strong> de ca<strong>da</strong> fotografia. Os sistemas inerciais<br />
de <strong>na</strong>vegação atingiram um grau de precisão tal que permitem<br />
a utilização directa dos seus <strong>da</strong>dos para produção<br />
de ortofotos e modelos digitais de superfície. A obtenção<br />
dos parâmetros de orientação exter<strong>na</strong> directamente a partir<br />
do voo permite dispensar o processo de aerotriangulação,<br />
tor<strong>na</strong>ndo o processo de produção dos ortofotos significativamente<br />
mais rápido. Houve, no entanto, alguns casos em<br />
que estes parâmetros não garantiam a precisão requeri<strong>da</strong>,<br />
tendo sido necessário realizar a aerotriangulação para obter<br />
novos parâmetros.<br />
A ortorrectificação foi realiza<strong>da</strong> utilizando um modelo digital<br />
do terreno com um espaçamento de 5 metros. Este modelo<br />
foi gerado a partir <strong>da</strong> informação altimétrica vectorial <strong>da</strong><br />
Série Ortofotocartográfica à escala 1: 10 000, do IGP e <strong>da</strong><br />
Série Cartográfica Nacio<strong>na</strong>l à escala 1: 10 000, também do<br />
IGP. Em algumas zo<strong>na</strong>s houve, no entanto, necessi<strong>da</strong>de de<br />
recolher informação altimétrica de raiz. Foram obtidos, de<br />
forma automática, modelos digitais de superfície e posteriormente<br />
editados para produzir os modelos do terreno.<br />
Os processos de ortorrectificação e mosaico foram realizados<br />
usando o software ImageStation Base Rectifier e ImageStation<br />
OrthoPro, Intergraph. Os ortofotomapas fi<strong>na</strong>is,<br />
abrangendo ca<strong>da</strong> ficheiro uma área de 4 km x 5 km, possuem<br />
uma nomenclatura basea<strong>da</strong> <strong>na</strong>s séries cartográficas à<br />
escala 1:10 000 do IGP e <strong>na</strong> escala 1: 25 000 do <strong>Instituto</strong><br />
Geográfico do Exército (IGeoE) (Fig. 9).<br />
Controlo de Quali<strong>da</strong>de<br />
O controlo de quali<strong>da</strong>de dos ortofotomapas foi realizado de<br />
forma sistemática, ou seja, todos os ficheiros foram a<strong>na</strong>lisados<br />
em pormenor. A verificação incidiu sobre seguintes<br />
aspectos: controlo posicio<strong>na</strong>l <strong>da</strong> informação e quali<strong>da</strong>de<br />
radiométrica e geométrica <strong>da</strong>s imagens.<br />
004241A 004241B 004242A 004242B<br />
004243A 004243B 004244A 004244B<br />
Fig.9. Seccio<strong>na</strong>mento dos Ortofotomapas, baseado<br />
no seccio<strong>na</strong>mento <strong>da</strong>s Séries Cartográficas à escala<br />
1:10 000 e 1:25 000.<br />
Um aspecto que atesta a quali<strong>da</strong>de destas imagens consiste<br />
no facto de muitos marcos geodésicos serem claramente<br />
visíveis, o que até agora, normalmente, não acontecia em<br />
ortofotos com igual resolução no terreno. Esta circunstância<br />
permitiu que a informação geodésica fosse também usa<strong>da</strong><br />
para a avaliação <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de posicio<strong>na</strong>l dos ortofotomapas.<br />
Encontra-se planea<strong>da</strong> a realização de um controlo posicio<strong>na</strong>l<br />
rigoroso, com a coorde<strong>na</strong>ção de pontos de controlo<br />
no campo.<br />
Um dos procedimentos do controlo de quali<strong>da</strong>de incidiu<br />
sobre a uniformi<strong>da</strong>de radiométrica no interior de ca<strong>da</strong> ortofotomapa.<br />
Como ca<strong>da</strong> ortofoto resulta do mosaico de várias<br />
fotografias, é necessário que as características radiométricas<br />
<strong>da</strong>s fotografias, envolvi<strong>da</strong>s no mosaico, sejam muito semelhantes,<br />
por forma a não gerar zo<strong>na</strong>s de descontinui<strong>da</strong>de de<br />
cor <strong>na</strong> imagem fi<strong>na</strong>l.<br />
O controlo geométrico foi realizado com o objectivo de<br />
detectar deformações <strong>na</strong>s imagens causa<strong>da</strong>s pelo modelo<br />
digital do terreno. A desactualização <strong>da</strong> informação altimétrica<br />
provoca, por vezes, uma deficiente ortorrectificação <strong>da</strong>s<br />
fotografias. A correcção/actualização do modelo do relevo<br />
permite corrigir este tipo de erros, habitualmente presentes<br />
em vias de comunicação e obras de arte.<br />
O controlo posicio<strong>na</strong>l <strong>da</strong> ortorectificação foi realizado estabelecendo<br />
o confronto dos ortofotomapas com informação<br />
georreferencia<strong>da</strong>. Para este fim utilizou-se a informação<br />
vectorial <strong>da</strong> Série Cartográfica Nacio<strong>na</strong>l à escala 1: 10 000<br />
do IGP e os ortofotomapas <strong>da</strong> Série Ortofotocartográfica à<br />
escala 1:10 000, também do IGP.
Artigo<br />
46<br />
Fig.10. Composição com<br />
Infravermelho Próximo (Nível 3)<br />
Fig.11. Extracto de um ortofotomapa<br />
<strong>na</strong> composição RGB (Nível 3)<br />
Fig.12. Extracto de um ortofotomapa<br />
<strong>na</strong> composição RGB (Nível 3)
Artigo<br />
47<br />
Fig.13. Extracto de um ortofotomapa<br />
<strong>na</strong> composição RGB (Nível 3)
Artigo<br />
48<br />
Conclusão<br />
Os ortofotomapas têm vindo a estabelecer-se ca<strong>da</strong> vez mais<br />
como uma ferramenta de trabalho preferencial para muitos<br />
utilizadores de cartografia. Esta circunstância não é alheia<br />
ao facto <strong>da</strong> produção <strong>da</strong> ortofotocartografia ser significativamente<br />
mais rápi<strong>da</strong> que a <strong>da</strong> cartografia vectorial, e consequentemente<br />
menos dispendiosa. Apesar <strong>da</strong> área de acção<br />
de uma e de outra ser diferente, uma imagem ortorrectifica<strong>da</strong><br />
constitui um excelente documento de trabalho para<br />
variadíssimas aplicações. Nos últimos anos temos vindo a<br />
assistir a uma procura generaliza<strong>da</strong> de ortofotos, por parte<br />
dos utilizadores para quem a actuali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> informação cartográfica<br />
é uma factor determi<strong>na</strong>nte <strong>na</strong> escolha do produto<br />
cartográfico ideal.<br />
As câmaras aéreas digitais, que até há relativamente pouco<br />
tempo eram ape<strong>na</strong>s fruto de investigação, são hoje um<br />
equipamento funcio<strong>na</strong>l e ao alcance do mercado dos produtores<br />
de cartografia.<br />
Em Agosto e Setembro de 2005 foram voados mais 40%<br />
do território de Portugal Continental, e em Maio/Junho de<br />
2006 foram cobertos os restantes 20%.<br />
Bibliografia<br />
KARSUNKE, C. E. Operación Con La Cámara Fotogramétrica<br />
Digital Aérea Dmc. 6ª Sema<strong>na</strong> Geomática. Barcelo<strong>na</strong>,<br />
2005.<br />
LEBERL, F. ; GRUBER, M. Flying The New Large Format Digital<br />
Aerial Camera Ultracam-D. Proceedings of the Photogrammetric<br />
Week 2003. Stuttgart University, 2003.<br />
LEBERL, F. ; GRUBER, M. Economical Large Format Aerial<br />
Digital Camera. GIM Inter<strong>na</strong>tio<strong>na</strong>l, Junho 2003.<br />
LEBERL, F. ; GRUBER, M. ; PONTICELLI, M. ; BERNOEGGER,<br />
S. ; PERKO, R. The Ultracam Large Format Aerial Digital<br />
Camera System. Proceedings of the ASPRS Annual Convention.<br />
Anchorage USA, 2003.<br />
YASTIKLI, N. ; JACOBSEN, K. Investigation of Direct Sensor<br />
Orientation for Dem Generation. Proceedings of ISPRS - Comission<br />
1. Denver, 2002.<br />
Internet<br />
Num espaço de tempo relativamente curto disporemos de<br />
uma cobertura integral de ortofotomapas de Portugal Continental.<br />
O protocolo estabelecido entre o <strong>Instituto</strong> Geográfico<br />
Português e a Direcção-Geral de Recursos Florestais veio<br />
provar que é possível reunir sinergias entre organismos públicos,<br />
com o objectivo último de melhor servir o ci<strong>da</strong>dão.<br />
Num país em que está <strong>na</strong> ordem do dia a contenção de<br />
despesas públicas, este acordo entre os dois organismos<br />
demonstrou que é viável realizar investimentos, no domínio<br />
<strong>da</strong> informação geográfica, que sirvam múltiplos interesses e<br />
que se adeqúem a diversos propósitos, evitando a duplicação<br />
de custos e esforços n<br />
ADS40 Camera<br />
http://www.gis.leica-geosystems.com/products/ads40/default.asp<br />
(acedido em Julho 2005)<br />
Dmc Camera<br />
http://www.intergraph.com/dmc/ (acedido em Julho 2005)<br />
Dimac Camera<br />
http://www.dimacsystems.com (acedido em Julho 2005)<br />
Ultracam-D Camera<br />
http://www.vexcel.com/products/photogram/ultracam/<br />
(acedido em Julho 2005)<br />
Paulo Patrício, Eng.º Geógrafo, <strong>Instituto</strong> Geográfico Português.<br />
(ppatricio@igeo.pt)
Artigo<br />
49<br />
Relações inter-institucio<strong>na</strong>is descentraliza<strong>da</strong>s:<br />
O caso dos estágios efectuados por alunos de engenharia topográfica<br />
<strong>na</strong>s delegações regio<strong>na</strong>is do Alentejo e Algarve<br />
“Aprender é inteiramente diferente de acumular conhecimentos.”<br />
Krish<strong>na</strong>murti in “O despertar <strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong>de”<br />
Van<strong>da</strong> Soares Machado<br />
Actualmente, a competência relativa à definição <strong>da</strong>s<br />
orientações estratégicas do IGP (I.P.), bem como ao<br />
acompanhamento <strong>da</strong> sua execução, é exerci<strong>da</strong> pelo Ministro<br />
do Ambiente, do Orde<strong>na</strong>mento do Território e do Desenvolvimento<br />
Regio<strong>na</strong>l em articulação com o Ministro de<br />
Estado e <strong>da</strong> Administração Inter<strong>na</strong>, conforme ponto 7 do<br />
Artigo16º do Decreto-Lei nº 79/2005, de 15 de Abril.<br />
Serve esta introdução para nos situarmos em termos do<br />
enquadramento legal necessário de modo que o IGP desenvolva<br />
as suas varia<strong>da</strong>s activi<strong>da</strong>des. No entanto, e porque<br />
o nosso objectivo é apresentar e reflectir sobre os casos de<br />
sucesso dos estágios realizados <strong>na</strong> área do ca<strong>da</strong>stro, a partir<br />
deste momento, no presente texto, a relevância passará a<br />
ser <strong>da</strong><strong>da</strong> a este tema.<br />
Continua o IGP a ser o organismo responsável pela execução<br />
<strong>da</strong> política de informação geográfica (IG) <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.<br />
As respectivas missão e atribuições estão consagra<strong>da</strong>s nos<br />
seus Estatutos, aprovados pelo Decreto-Lei nº 59/2002,<br />
de 15 de Março e para além de consig<strong>na</strong>r o IGP como Autori<strong>da</strong>de<br />
Nacio<strong>na</strong>l de Cartografia, desig<strong>na</strong>-o ain<strong>da</strong> como responsável<br />
pela produção de IG oficial, nomea<strong>da</strong>mente <strong>na</strong>s<br />
áreas <strong>da</strong> Geodesia, Cartografia e Ca<strong>da</strong>stro, pelo desenvolvimento<br />
e coorde<strong>na</strong>ção do Sistema Nacio<strong>na</strong>l de Informação<br />
Geográfica, pela investigação em ciências e tecnologias<br />
de IG (<strong>na</strong>s mais diversas áreas), pela formação científica e<br />
técnica no domínio <strong>da</strong>s ciências geográficas e pela grandiosa<br />
tarefa que é a di<strong>na</strong>mização <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> informação e<br />
do conhecimento.<br />
Em termos organizacio<strong>na</strong>is, O IGP, para além <strong>da</strong>s suas instalações<br />
em Lisboa, onde existe um Centro para a Informação<br />
Ca<strong>da</strong>stral (CIC) 1 , que compreende os Departamentos para<br />
a Execução Ca<strong>da</strong>stral (DEC) e para a Conservação Ca<strong>da</strong>stral<br />
(DCC) mantém Serviços Desconcentrados, em diferentes<br />
zo<strong>na</strong>s geográficas de Portugal Continental e <strong>na</strong>s Regiões<br />
Autónomas como se pode ver <strong>na</strong> figura1.<br />
1 Cujas funções são a promoção e o desenvolvimento de estudos ca<strong>da</strong>strais,<br />
a obtenção e tratamento de informação ca<strong>da</strong>stral e a certificação<br />
dos elementos ca<strong>da</strong>strais dos prédios, competindo-lhe em<br />
especial: referenciar a proprie<strong>da</strong>de imobiliária, rústica e urba<strong>na</strong>;<br />
identificar os prédios referenciados e emitir os respectivos cartões<br />
de identificação predial; proceder à caracterização geométrica<br />
dos prédios identificados; prestar apoio ao processo de avaliação<br />
<strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de imobiliária; assegurar a conservação do ca<strong>da</strong>stro e<br />
certificar os elementos ca<strong>da</strong>strais relativos a ca<strong>da</strong> prédio.
Artigo<br />
50<br />
Desta forma, encontram-se abertas ao público as seguintes<br />
Delegações Regio<strong>na</strong>is (DR):<br />
· DR dos Açores;<br />
· DR do Alentejo;<br />
· DR do Algarve;<br />
· DR do Centro e respectivo pólo desconcentrado em Coimbra;<br />
· DR de Lisboa e Vale do Tejo;<br />
· DR do Norte e respectivo pólo desconcentrado em Santa<br />
Maria <strong>da</strong> Feira<br />
· DR <strong>da</strong> Madeira: Regio<strong>na</strong>liza<strong>da</strong> em 2003, através do Decreto-lei<br />
n.º 13/2003, de 28 de Janeiro. Actual Direcção<br />
Regio<strong>na</strong>l de Geografia e Ca<strong>da</strong>stro.<br />
Fig.1. Localização <strong>da</strong>s DR do IGP<br />
As DR espalha<strong>da</strong>s pelo país, assim como o DCC em Lisboa,<br />
são responsáveis, entre outras activi<strong>da</strong>des, pela Conservação<br />
do Ca<strong>da</strong>stro Geométrico <strong>da</strong> Proprie<strong>da</strong>de Rústica (CCGPR).<br />
Assim, as DR mencio<strong>na</strong><strong>da</strong>s no presente texto, à semelhança<br />
<strong>da</strong>s suas congéneres têm áreas de actuação bem defini<strong>da</strong>s,<br />
isto é, a DR do Alentejo visa servir todo o distrito de Évora<br />
e de Beja enquanto que a DR do Algarve visa servir to<strong>da</strong> a<br />
região do Algarve, contando ca<strong>da</strong> uma, para tal, com uma<br />
equipa de funcionários, desde técnicos superiores a auxiliares<br />
administrativos.<br />
Ao abrigo <strong>da</strong> devi<strong>da</strong> regulamentação legislativa, transposta<br />
actualmente para o Código do Imposto Municipal sobre<br />
Imóveis (CIMI), são considerados em regime de ca<strong>da</strong>stro<br />
134 concelhos do País conforme a figura 2. O Ca<strong>da</strong>stro Geométrico<br />
<strong>da</strong> Proprie<strong>da</strong>de Rústica (CGPR), é <strong>na</strong> ver<strong>da</strong>de, o<br />
único ca<strong>da</strong>stro que descreve a reali<strong>da</strong>de física, em termos<br />
cartográficos, oficialmente em vigor, tendo sido elaborado ao<br />
longo de várias déca<strong>da</strong>s com um objectivo essencialmente<br />
fiscal. Neste contexto, é responsabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s Direcções de<br />
Fi<strong>na</strong>nças <strong>da</strong> Direcção Geral dos Impostos, a emissão <strong>da</strong>s desig<strong>na</strong><strong>da</strong>s<br />
Cadernetas Prediais que contêm, nomea<strong>da</strong>mente,<br />
a identificação unívoca do prédio em causa (o artigo matricial<br />
que permite a sua geo-referenciação), a sua configuração<br />
geométrica e respectiva área bem como a informação<br />
relativa ao seu titular, para além dos <strong>da</strong>dos tributários.<br />
Uma vez que to<strong>da</strong> a informação relativa ao CGPR, tanto<br />
<strong>na</strong> sua vertente gráfica, as secções ca<strong>da</strong>strais, como <strong>na</strong> sua<br />
vertente alfanumérica, as fichas de prédio, existia ape<strong>na</strong>s<br />
em suporte a<strong>na</strong>lógico, um dos projectos em curso no IGP,
Artigo<br />
51<br />
1940 a 1949<br />
Ilha de Porto Santo<br />
1950 a 1959<br />
Ilha <strong>da</strong> Madeira<br />
1960 a 1969<br />
1970 a 1979<br />
Ilha de S. Miguel<br />
1980 a 1989<br />
1990 a 1995<br />
Fig.2. Ca<strong>da</strong>stro geométrico <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de rústica. Déca<strong>da</strong>s de Entra<strong>da</strong> em Vigor.<br />
desde há uns anos a esta parte, tem sido precisamente a<br />
Informatização do Ca<strong>da</strong>stro Geométrico <strong>da</strong> Proprie<strong>da</strong>de<br />
Rústica 2 (ICGPR).<br />
Este projecto começou por ser adjudicado, por Concelhos,<br />
a empresas priva<strong>da</strong>s, ain<strong>da</strong> no tempo do Ex-<strong>Instituto</strong> Português<br />
de Cartografia e Ca<strong>da</strong>stro, tendo sido elaborados cinco<br />
Concelhos do Distrito de Faro, a saber, Castro Marim, Lagoa,<br />
Lagos, Portimão e Vila Real de Santo António. Presentemente,<br />
este trabalho está a ser efectuado, essencialmente, mediante<br />
protocolos assi<strong>na</strong>dos entre o IGP e Municípios ou<br />
Associações de Municípios que por sua vez poderão, se assim<br />
o entenderem, adjudicar a empresas priva<strong>da</strong>s. Nestes<br />
protocolos, o IGP fornece a informação ca<strong>da</strong>stral existente<br />
em formato raster e cópias parciais <strong>da</strong>s fichas de prédio (de<br />
modo a garantir a confidenciali<strong>da</strong>de dos <strong>da</strong>dos) bem como<br />
assegura a formação e acompanhamento necessário sobre<br />
as metodologias a seguir e em troca, recebe a informação<br />
vectoriza<strong>da</strong> e numeriza<strong>da</strong> segundo as regras defini<strong>da</strong>s.<br />
2 Não se entrará em grandes detalhes explicativos dos aspectos técnicos<br />
deste projecto uma vez que tal pode ser consultado em vários<br />
artigos subordi<strong>na</strong>dos a este tema, constantes <strong>na</strong> Bibliografia.<br />
Muito se evoluiu e se espera assim continuar desde os primeiros<br />
trabalhos até ao momento, existindo actualmente<br />
publica<strong>da</strong>s pelo CIC, as Especificações Técnicas 2.4 3 . Estas<br />
são o resultado de uma interactivi<strong>da</strong>de francamente positiva<br />
entre quem produz e quem regula, reflectindo por isso, as<br />
necessárias a<strong>da</strong>ptações que se vão efectuando ao longo do<br />
tempo, de modo a que este trabalho melhor cumpra os<br />
objectivos a que se propõe.<br />
Quantifique-se pois o que se pretende atingir: informatizar<br />
os elementos gráficos e alfanuméricos do CGPR, constantes<br />
<strong>da</strong>s cerca de 24 mil secções ca<strong>da</strong>strais, que cobrem mais<br />
de 50% do País e as fichas de prédio que representam os<br />
cerca de 2 milhões de prédios existentes. Tal permitirá:<br />
· Produzir cópias de segurança <strong>da</strong> informação existente<br />
e evitar a sua deterioração;<br />
· Facilitar o seu armaze<strong>na</strong>mento e manuseamento, com<br />
o intuito de melhorar o acesso à informação por parte<br />
do ci<strong>da</strong>dão;<br />
3 Referencia<strong>da</strong>s <strong>na</strong> Bibliografia.
Artigo<br />
52<br />
· Integrar os <strong>da</strong>dos num sistema de gestão <strong>da</strong> informação<br />
ca<strong>da</strong>stral, que permitirá a actualização <strong>da</strong> informação, man-<br />
tendo-se o registo histórico dos <strong>da</strong>dos e meta<strong>da</strong>dos;<br />
· Facilitar as futuras operações de renovação ca<strong>da</strong>stral.<br />
Cumprir estes objectivos conduz-nos aos ideais básicos em<br />
que assenta a Socie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Informação e do Conhecimento:<br />
“A informação não deve somente existir, mas deve ser<br />
fácil identificar onde é possível obtê-la, se é adequa<strong>da</strong> para<br />
um objectivo concreto, saber como pode ser acedi<strong>da</strong> e se<br />
pode ser integra<strong>da</strong> com outra informação” 4 .<br />
Conhecidos os objectivos, caracterize-se a informação em<br />
causa. Corresponderá a representação gráfica e geo-referencia<strong>da</strong><br />
de um conjunto contíguo de prédios, as já aqui<br />
referi<strong>da</strong>s secções ca<strong>da</strong>strais, à reali<strong>da</strong>de actual encontra<strong>da</strong><br />
no terreno? E estarão os seus atributos descritos <strong>na</strong>s fichas<br />
de prédios actualizados? A resposta não é linear e não se<br />
resume a um sim nem a um não. Tem que ser contextualiza<strong>da</strong>,<br />
explicitando, para tal, em que consiste a CCGPR.<br />
A conservação consiste no processo de actualização individual<br />
dos <strong>da</strong>dos que caracterizam e identificam ca<strong>da</strong> um<br />
dos prédios existentes numa determi<strong>na</strong><strong>da</strong> área geográfica.<br />
Os processos de reclamação administrativa que os proprietários<br />
ou seus representantes organizam junto dos Serviços<br />
de Fi<strong>na</strong>nças a que respeita o(s) prédio(s) serão resolvidos,<br />
sem aguar<strong>da</strong>r a operação de renovação ca<strong>da</strong>stral, desde<br />
que estes assegurem a cobertura dos correspondentes custos.<br />
Ou seja, para responder à questão formula<strong>da</strong> anteriormente,<br />
existirão zo<strong>na</strong>s que reflectem a reali<strong>da</strong>de no terreno<br />
enquanto que outras, eventualmente dentro <strong>da</strong> mesma<br />
secção, não.<br />
Compreende-se então que a ICGPR seja mais do que uma<br />
necessi<strong>da</strong>de, uma urgência 5 e que possa servir de base para<br />
um ca<strong>da</strong>stro totalmente informatizado, inserido num sistema<br />
de gestão e exploração de informação ca<strong>da</strong>stral, com<br />
actualizações mais rápi<strong>da</strong>s, eficazes e que melhor sirvam o<br />
ci<strong>da</strong>dão respondendo às solicitações em tempo útil como<br />
factor de uma maior equi<strong>da</strong>de e justiça social. Até porque<br />
4 Ver apresentação do Vice-Presidente do IGP, Professor Rui Pedro<br />
Julião “Que futuro para o Sistema Nacio<strong>na</strong>l de Informação Geográfica?”,<br />
referencia<strong>da</strong> <strong>na</strong> Bibliografia.<br />
5 Ver relatório “Harmonização do ca<strong>da</strong>stro com o registo e matriz<br />
prediais” referenciado <strong>na</strong> Bibliografia.<br />
o facto de as características envolvi<strong>da</strong>s, localização administrativa<br />
e geográfica, configuração geométrica e área, serem<br />
geo-referenciáveis facilita em muito a identificação dos<br />
atributos que lhe estão associados pois é ver<strong>da</strong>de que “a<br />
conceptualização no espaço surge <strong>na</strong>turalmente no modo<br />
de percepcio<strong>na</strong>r a reali<strong>da</strong>de” 6 .<br />
E que melhor garante de um correcto modo de percepcio<strong>na</strong>r<br />
a reali<strong>da</strong>de, senão apostar <strong>na</strong> complementação <strong>da</strong> formação<br />
de quem já é iniciado nestas matérias e poderá no<br />
futuro vir a trabalhar directamente nestas áreas? É aqui que,<br />
em nosso entender, está, em parte, a importância dos estágios<br />
realizados <strong>na</strong>s DR submetidos à temática <strong>da</strong> ICGPR.<br />
Por outro lado, o sucesso destes estágios também decorre<br />
parcialmente pelo facto <strong>da</strong> informação trabalha<strong>da</strong> ser local.<br />
Isto é, pode <strong>da</strong>r-se visibili<strong>da</strong>de local à IG utilizando-a e dissemi<strong>na</strong>ndo-a<br />
de acordo com as possibili<strong>da</strong>des técnicas e<br />
torná-la interoperável. Não só, inter<strong>na</strong>mente, este é um factor<br />
de motivação para a necessária requalificação dos recursos<br />
humanos existentes (serviu, inclusivé, para que a DR do<br />
Algarve passasse a dispor de software específico que não<br />
possuía à <strong>da</strong>ta de início do estágio, estando actualmente a<br />
ser utilizado pelos técnicos <strong>da</strong>quela Delegação) como para<br />
a comuni<strong>da</strong>de exterior, em que estão as DR do IGP inseri<strong>da</strong>s,<br />
se pode tor<strong>na</strong>r uma mais valia por permitir um tipo de<br />
acesso mais aberto e dinâmico <strong>da</strong>ndo um novo contributo<br />
para as relações com os parceiros locais, sejam eles, autarquias,<br />
estabelecimentos de ensino superior, delegações<br />
regio<strong>na</strong>is <strong>da</strong> administração central, empresas públicas, priva<strong>da</strong>s<br />
e sobretudo com o utente desta informação que se<br />
depara actualmente com insuportáveis entraves burocráticos<br />
e demora meses para concretizar alguma acção sobre<br />
o(s) seu(s) prédios, como uma divisão de prédio ou um<br />
destaque de área urba<strong>na</strong> ou qualquer outra situação específica.<br />
Este processo causa-efeito não será visível a curto<br />
prazo. No entanto, é seguramente um princípio para aproximar<br />
instituições que trabalham para um mesmo fim mas<br />
individualmente. Tal distanciamento tor<strong>na</strong>, por exemplo, o<br />
trajecto de um Processo de Reclamação Administrativa algo<br />
arrastado de repartição em repartição... Efectivamente, a<br />
partir do momento em que to<strong>da</strong> a informação se encontre<br />
6 João Luis Matos em “Fun<strong>da</strong>mentos de Informação Geográfica”<br />
referenciado <strong>na</strong> Bibliografia.
Artigo<br />
53<br />
em formato digital, de preferência inseri<strong>da</strong> num sistema de<br />
informação geográfica (SIG), a actualização passará a ser<br />
menos morosa e se, além disto, existirem plataformas que<br />
permitam a ligação dos vários organismos envolvidos para<br />
partilha de informação, todos beneficiaremos certamente<br />
de uma administração mais expedita.<br />
Talvez valha a pe<strong>na</strong> fazer um pequeno parêntesis para ver<br />
o que dizem alguns responsáveis pelo desenvolvimento<br />
regio<strong>na</strong>l: este passa por fomentar o surgimento de dinâmicas<br />
participativas que reforcem as sinergias locais e de uma<br />
nova cultura de cooperação e parceria 7 .<br />
E estamos a falar do presente pois ao consultar as pági<strong>na</strong>s<br />
<strong>da</strong> Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Regio<strong>na</strong>l<br />
(APDR) ou de Agências para o Desenvolvimento Regio<strong>na</strong>l 8<br />
é já um lugar comum falar-se de uma socie<strong>da</strong>de basea<strong>da</strong><br />
no conhecimento. Falar-se que este pode ser adquirido com<br />
as novas tecnologias <strong>da</strong> informação e comunicação (onde<br />
se insere obviamente a IG e eventualmente, de acordo com<br />
normas específicas a definir, a sua disponibilização <strong>na</strong> web)<br />
sendo motor de crescimento e de competitivi<strong>da</strong>de. Para<br />
este desenvolvimento não será alheia a utilização <strong>da</strong>s potenciali<strong>da</strong>des<br />
do e-government <strong>na</strong> gestão, ao permitir melhorar<br />
e alargar (em termos de oferta e disponibili<strong>da</strong>de) os<br />
serviços prestados pelas várias enti<strong>da</strong>des.<br />
É neste âmbito de interacção e profun<strong>da</strong> articulação entre<br />
as áreas <strong>da</strong> educação, <strong>da</strong> formação e dos vários sistemas de<br />
informação temáticos que os grandes pólos di<strong>na</strong>mizadores<br />
de to<strong>da</strong> uma região como são os casos <strong>da</strong>s Universi<strong>da</strong>des<br />
e Politécnicos (no caso de Beja, constituíram factor determi<strong>na</strong>nte<br />
não só para o desenvolvimento <strong>da</strong> região, mas também<br />
um poderoso instrumento de luta contra as assimetrias<br />
regio<strong>na</strong>is e contra a desertificação huma<strong>na</strong> do interior do<br />
país, desempenhando um importante papel no processo de<br />
7 Ver texto do Coorde<strong>na</strong>dor Executivo <strong>da</strong> Associação Alentejo XXI,<br />
Miguel Quaresma em “Desenvolver, (des)envolvendo”.<br />
8 Ver sites <strong>da</strong> Internet no fim do texto.<br />
Fig.3. Informatização do Ca<strong>da</strong>stro Geométrico<br />
<strong>da</strong> Proprie<strong>da</strong>de Rústica
Artigo<br />
54<br />
Compreende-se, assim, o interesse que os estabelecimentos<br />
de ensino superior locais tenham em enviar a esta casa<br />
os seus formandos pois eles vêm aprender e aju<strong>da</strong>r a produzir<br />
informação digital com quali<strong>da</strong>de e respeitadora <strong>da</strong>s<br />
especificações técnicas defini<strong>da</strong>s para o efeito. Este interesse<br />
é bem manifestado <strong>na</strong> solicitação de mais um estágio no<br />
presente ano e é com agrado que se passa a citar:<br />
“Tendo em conta as boas relações existentes entre o IGP e<br />
a ESTIG do IPB, bem como o contributo que ambas as instituições<br />
desempenham para o progresso e desenvolvimento<br />
<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de portuguesa, vem a Coorde<strong>na</strong>ção do Curso de<br />
Engenharia Topográfica solicitar...”<br />
8 Áreas escolhi<strong>da</strong>s<br />
Fig.4. Área de<br />
trabalho <strong>da</strong> Freguesia<br />
Delimitação <strong>da</strong>s 24 Secções do Concelho de Faro<br />
democratização <strong>da</strong> informação e <strong>da</strong> modernização local) intervêm<br />
como actores preferenciais pois são eminentemente<br />
agentes incubadores de inovação em que a aprendizagem<br />
surge como uma resposta a uma necessi<strong>da</strong>de. Não será<br />
por acaso, passe a publici<strong>da</strong>de, que decorrerá em Faro, <strong>na</strong><br />
Facul<strong>da</strong>de de Economia <strong>da</strong> UALG, em Setembro de 2005,<br />
o 11º Congresso <strong>da</strong> APDR, cujo tema está relacio<strong>na</strong>do directamente<br />
com o que aqui se tem abor<strong>da</strong>do, “O <strong>Papel</strong> <strong>da</strong>s<br />
Universi<strong>da</strong>des no Desenvolvimento <strong>da</strong>s Regiões”.<br />
É do conhecimento geral que os estabelecimentos de Ensino<br />
Superior se encontram, <strong>na</strong> actuali<strong>da</strong>de, perante enormes<br />
desafios lançados pela crescente competitivi<strong>da</strong>de económica<br />
basea<strong>da</strong> no conhecimento e pelas novas estratégias e<br />
novos desempenhos que estes terão de encontrar de modo<br />
a gerar mais valias <strong>na</strong>s regiões que as acolhem.<br />
Feito o parêntesis para falar no Desenvolvimento Regio<strong>na</strong>l,<br />
qual o desempenho do IGP no meio disto tudo? É que soa<br />
bem falar <strong>na</strong> Socie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Informação e do Conhecimento<br />
mas para tal terá de existir o elemento primordial – Informação!<br />
Digital e Acessível! E é o IGP, o fiel depositário de um rol<br />
inestimável de informação ca<strong>da</strong>stral construído ao longo de<br />
várias déca<strong>da</strong>s.<br />
Concretizando, durante a realização destes estágios, são<br />
atribuí<strong>da</strong>s peque<strong>na</strong>s áreas de trabalho. O facto de se escolher<br />
zo<strong>na</strong>s com uma dimensão reduzi<strong>da</strong> tem somente que<br />
ver com o propósito de o aluno elaborar to<strong>da</strong>s as fases do<br />
projecto num curto intervalo de tempo, normalmente quatro<br />
meses. Assim, a realização prática de todos os passos<br />
do processo, desde a rasterização <strong>da</strong>s secções ca<strong>da</strong>strais<br />
e numerização <strong>da</strong>s fichas de prédio numa base de <strong>da</strong>dos<br />
alfanumérica até à integração <strong>da</strong> informação produzi<strong>da</strong> num<br />
sistema de informação ca<strong>da</strong>stral explorando as óbvias vantagens<br />
inerentes, permite ao aluno, o contacto com os problemas<br />
reais que se colocam, a confrontação <strong>da</strong> prática com<br />
o que foi apreendido <strong>na</strong> escola, e ir mais além.<br />
Efectivamente, as condições de sucesso <strong>na</strong> aprendizagem<br />
são, por parte do estagiário, uma imagem positiva de si<br />
próprio enquanto formando, como pessoa no presente e<br />
no futuro. Dependem ain<strong>da</strong> de uma atitude positiva em<br />
relação à mu<strong>da</strong>nça (com o compreensível ímpeto juvenil<br />
que lhes é próprio, e ain<strong>da</strong> bem, é-lhes difícil aceitar os<br />
métodos com que ain<strong>da</strong> hoje se trabalha e desejam logo<br />
partir para o trabalho em SIG, por exemplo); de uma atitude<br />
activa relativamente ao projecto e aos seus pré-requisitos. O<br />
interesse demonstrado pela tarefa a desempenhar e uma<br />
boa percepção dos critérios que permitem apreciar o estado<br />
<strong>da</strong> realização, juntamente com uma atitude favorável<br />
relativamente às condições disponíveis, às pessoas e, de<br />
um modo geral, em relação ao meio ambiente tem sido um<br />
factor comum nos estágios realizados conduzindo também<br />
ao seu sucesso não só no IGP, como <strong>na</strong> sua apresentação<br />
junto <strong>da</strong> escola.
Artigo<br />
55<br />
Como orientadora de estágios, tenho sentido que a vontade<br />
de ir mais além por parte dos estagiários e confesso,<br />
que também minha, não se fica só pelo gabinete mas sim<br />
<strong>na</strong> possibili<strong>da</strong>de de acompanhar os trabalhos de campo<br />
utilizando sempre que possível tecnologias como o GPS e<br />
de efectuar a actualização <strong>da</strong> informação produzi<strong>da</strong> já em<br />
ambiente SIG ou ain<strong>da</strong> a participação num projecto de execução<br />
ca<strong>da</strong>stral de raiz, à luz do Regulamento do Ca<strong>da</strong>stro<br />
Predial. Esta seria uma mais valia que também nós IGP receberíamos,<br />
pois como já foi afirmado anteriormente, estes<br />
potenciais candi<strong>da</strong>tos ao mercado de trabalho trazem em si<br />
mesmo a abertura de espírito necessária à mu<strong>da</strong>nça e aos<br />
métodos de trabalho.<br />
Têm existido, porém, determi<strong>na</strong><strong>da</strong>s condicio<strong>na</strong>ntes que impossibilitam<br />
a conjugação no estágio de uma componente<br />
de gabinete e outra componente de campo. Acredita-se, no<br />
entanto, que mais cedo ou mais tarde, tal será ultrapassado<br />
e <strong>da</strong>í se retirará os respectivos dividendos.<br />
Pareceu-nos interessante ouvir a opinião de quem fez o estágio<br />
e apresenta-se, a seguir, o testemunho solicitado à<br />
estagiária do ano de 2004, já diploma<strong>da</strong> e em vias de começar<br />
um estágio profissio<strong>na</strong>l no Algarve, Marta Calé, para<br />
inserção neste texto:<br />
“A Universi<strong>da</strong>de do Algarve, <strong>na</strong> Área Departamental de Engenharia<br />
Civil, ministra, já há alguns anos, o curso de Engenharia<br />
Topográfica. Esta formação, com a duração de três<br />
anos, proporcio<strong>na</strong> não só os conhecimentos teóricos, como<br />
também, <strong>na</strong> sua recta fi<strong>na</strong>l, pretende fazer a ligação ao mundo<br />
do trabalho, através <strong>da</strong> obrigatorie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> frequência de<br />
um Estágio Curricular.<br />
Assim, efectuei no <strong>Instituto</strong> Geográfico Português, <strong>na</strong> Delegação<br />
do Algarve, o meu Estágio Curricular, no qual me<br />
foi proposto, pela respectiva orientadora, a concretização<br />
<strong>da</strong> Informatização do Ca<strong>da</strong>stro Geométrico <strong>da</strong> Proprie<strong>da</strong>de<br />
Rústica, <strong>na</strong> totali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Freguesia <strong>da</strong> Conceição do Concelho<br />
de Faro.<br />
Inicialmente, e porque necessitava de utilizar aplicações informáticas<br />
que me não eram familiares, senti a dificul<strong>da</strong>de<br />
inerente ao que é trabalhado pela primeira vez. No entanto,<br />
os conhecimentos teóricos adquiridos ao longo do curso,<br />
<strong>na</strong> área de informática, permitiram uma a<strong>da</strong>ptação rápi<strong>da</strong> e<br />
eficiente ao variado software utilizado <strong>na</strong> enti<strong>da</strong>de promotora<br />
do estágio.<br />
Durante as dezasseis sema<strong>na</strong>s, durante as quais decorreu<br />
a formação prática, foram, por mim, rasteriza<strong>da</strong>s, geo-referencia<strong>da</strong>s<br />
e vectoriza<strong>da</strong>s as secções ca<strong>da</strong>strais <strong>da</strong> Freguesia<br />
<strong>da</strong> Conceição, do Concelho de Faro. Contudo, devido à escassez<br />
de tempo, não foi possível inseri-las to<strong>da</strong>s num SIG,<br />
ape<strong>na</strong>s 8 delas foram concretiza<strong>da</strong>s.<br />
Sendo um estágio essencialmente prático, permitiu-me, por<br />
um lado, o conhecimento aprofun<strong>da</strong>do do Ca<strong>da</strong>stro Geométrico,<br />
desig<strong>na</strong><strong>da</strong>mente quanto às suas normas e especificações<br />
técnicas, tendo complementado as noções obti<strong>da</strong>s<br />
<strong>na</strong> discipli<strong>na</strong> de Ca<strong>da</strong>stro e Legislação do Curso de Eng.<br />
Topográfica <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de do Algarve, e, por outro lado,<br />
possibilitou-me o conhecimento e o domínio prático de<br />
software variado, nomea<strong>da</strong>mente Microstation, IrasC, NgXis<br />
e Geomedia Profissio<strong>na</strong>l versão 5.1.<br />
Em suma, reconheço que a ligação <strong>da</strong> teoria académica às<br />
práticas inerentes ao mundo do trabalho só podem ser bem<br />
sucedi<strong>da</strong>s através <strong>da</strong> execução de tarefas reais e concretas,<br />
devi<strong>da</strong>mente acompanha<strong>da</strong>s por alguém que domine o<br />
tema em questão.”<br />
Acrescenta-se, ain<strong>da</strong> em tempo útil, a informação de que o<br />
estagiário oriundo <strong>da</strong> Madeira, Henrique Freitas que realizou<br />
o estágio <strong>na</strong> DR do Alentejo, está desde dia 2 de Maio <strong>na</strong><br />
Direcção Regio<strong>na</strong>l de Geografia e Ca<strong>da</strong>stro, em estágio profissio<strong>na</strong>l.<br />
Esperamos, sinceramente, que este novo elemento,<br />
já com conhecimentos práticos <strong>na</strong> área, possa interessar<br />
e participar activamente <strong>na</strong> tarefa de informatização de secções<br />
ca<strong>da</strong>strais que também esta Direcção Regio<strong>na</strong>l está a<br />
levar a cabo. Aguar<strong>da</strong>remos por mais notícias.<br />
Existindo outros estabelecimentos de ensino superior em<br />
outras regiões do país que leccio<strong>na</strong>m cursos com uma componente<br />
topo-ca<strong>da</strong>stral e existindo, como se disse no início,<br />
várias Delegações Regio<strong>na</strong>is do IGP (em áreas onde vigora<br />
o ca<strong>da</strong>stro geométrico <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de rústica e/ou onde estão<br />
sendo realizados projectos vários de execução de ca<strong>da</strong>stro),<br />
é minha opinião que este encontro de vontades, esta<br />
comunicação entre diferentes ministérios, poderá, e utilize-
Artigo<br />
56<br />
mos a palavra no seu melhor sentido, evangelizar 9 aqueles<br />
que podem vir a desempenhar funções “ca<strong>da</strong>strais”. Não<br />
com uma acção moralizadora inflexível mas com a postura<br />
de que é ensi<strong>na</strong>ndo que mais se aprende.<br />
Creio pois, poder o IGP atingir, com a promoção destes estágios,<br />
algumas <strong>da</strong>s metas estabeleci<strong>da</strong>s nos seus estatutos,<br />
valorizando ao mesmo tempo a sua participação, que se<br />
quer sempre mais activa, <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de e demonstrando<br />
que a importância <strong>da</strong> IG <strong>na</strong> mesma é irreversível.<br />
Ao termi<strong>na</strong>r este artigo, agradeço a colaboração, manifesta<strong>da</strong><br />
com to<strong>da</strong> a disponibili<strong>da</strong>de, <strong>na</strong> revisão, crítica construtiva<br />
e sugestões que me permitiram a sua melhoria, do Engº<br />
Paulo Martins que desempenha funções no Centro para<br />
a Regulamentação, Acreditação e Homologação do IGP e<br />
leccio<strong>na</strong> também as discipli<strong>na</strong>s de Sistemas de Informação<br />
Geográfica nos cursos de Topógrafo-Geometra e de Técnico<br />
de Cartografia e de Detecção Remota no curso de Técnico<br />
de Cartografia <strong>da</strong> Escola Profissio<strong>na</strong>l de Ciências Geográficas.<br />
Já agora, parece oportuno referir que alguns destes<br />
alunos, decidindo envere<strong>da</strong>r pela continuação dos estudos,<br />
optam por fazê-lo no Curso de Engenharia Topográfica, sendo<br />
Beja uma <strong>da</strong>s primeiras opções n<br />
Bibliografia:<br />
Livros:<br />
ALBINO, J. Desenvolver (des)envolvendo - Reflexões e Pistas<br />
para o Desenvolvimento Local. ESDIME, Agência para o Desenvolvimento<br />
Local no Alentejo Sudoeste. Messeja<strong>na</strong>, 2001.<br />
FREITAS, H. ; MACHADO, V. ; OLIVEIRA, O. Informatização<br />
do Ca<strong>da</strong>stro Geométrico <strong>da</strong> Proprie<strong>da</strong>de Rústica. Actas <strong>da</strong><br />
IV Conferência Nacio<strong>na</strong>l de Cartografia e Geodesia, Lidel -<br />
Edições Técnicas, L<strong>da</strong>. Lisboa, 2005.<br />
IGP. CIC - Especificações Técnicas para a Informatização<br />
do Ca<strong>da</strong>stro Geométrico <strong>da</strong> Proprie<strong>da</strong>de Rústica. Lisboa,<br />
2005.<br />
JULIÃO, R. P. Que futuro para o Sistema Nacio<strong>na</strong>l de Informação<br />
Geográfica?. Apresentação no Geografia Digital<br />
2004, GISMÉDIA. Carcavelos, 2004.<br />
MACHADO, V. Harmonização do ca<strong>da</strong>stro com o registo e<br />
matriz prediais. Relatório de Estágio, IPCC. Lisboa, 2001.<br />
DL 59/2002. Estatutos do <strong>Instituto</strong> Geográfico Português.<br />
Diário <strong>da</strong> República nº 63, Série I-A. Lisboa, 2002.<br />
Outras:<br />
Algumas <strong>da</strong>s pági<strong>na</strong>s consulta<strong>da</strong>s <strong>na</strong> Internet em Abril 2005:<br />
http://www.igeo.pt/;<br />
http://www.estig.ipbeja.pt/;<br />
http://www.ualg.pt/est/;<br />
http://www.ep-ciencias-geograficas.rcts.pt/;<br />
http://www.dgci.min-fi<strong>na</strong>ncas.pt/;<br />
http://www.apdr.pt/;<br />
http://www.adral.pt/;<br />
http://www.cm-beja.pt/.<br />
BERBAUM, J. Desenvolver a Capaci<strong>da</strong>de de Aprendizagem,<br />
Escola Superior de Educação João de Deus. Lisboa, 1992.<br />
MATOS, J. Fun<strong>da</strong>mentos de Informação Geográfica, Lidel<br />
- Edições Técnicas, L<strong>da</strong>. Lisboa, 2001.<br />
Artigos:<br />
CALÉ, M. Informatização do Ca<strong>da</strong>stro Geométrico <strong>da</strong> Proprie<strong>da</strong>de<br />
Rústica. Relatório de Estágio, EST/IGP. Faro, 2004.<br />
9 Evangelizar, v. tr. divulgar, ensi<strong>na</strong>r... (Dicionário <strong>da</strong> Língua Portuguesa<br />
<strong>da</strong> Porto Editora).<br />
Van<strong>da</strong> Soares Machado, <strong>Instituto</strong> Geográfico Português – Delegação<br />
Regio<strong>na</strong>l do Alentejo (vmachado@igeo.pt).
Artigo<br />
58<br />
O Convénio Cartográfico Luso-Brasileiro de 1867<br />
Génese <strong>da</strong> Cartoteca do <strong>Instituto</strong> Geográfico Português<br />
Comunicação apresenta<strong>da</strong> no I Simpósio Luso-Brasileiro, Setembro 2005, Rio de Janeiro<br />
Paulo Jorge Estrela<br />
O I Simpósio Luso-Brasileiro de Cartografia Histórica, a decorrer<br />
no Rio de Janeiro (Brasil) neste ano de 2005, é sem<br />
dúvi<strong>da</strong> um evento que, acreditamos, ficará registado como<br />
pedra basilar no retomar de velhos laços institucio<strong>na</strong>is lusobrasileiros,<br />
nomea<strong>da</strong>mente aos que se dedicam, de uma<br />
forma ou outra, a esta área do conhecimento, <strong>da</strong> representação<br />
do território - a Cartografia, e em especial ao que<br />
podemos chamar de Cartografia Histórica.<br />
Marco absolutamente inolvidável nestas ancestrais relações,<br />
foi o Convénio Cartográfico Luso-Brasileiro de 1867, uma<br />
referência chave <strong>na</strong>s relações culturais e diplomáticas de<br />
Portugal e Brasil no que se refere à Cartografia Histórica<br />
dos dois países. No entanto, com a aproximação <strong>da</strong>s comemorações<br />
dos 140 anos <strong>da</strong> sua assi<strong>na</strong>tura, verifica-se<br />
que é, ain<strong>da</strong>, um processo pouco divulgado <strong>na</strong> comuni<strong>da</strong>de<br />
técnico-científica luso-brasileira.<br />
Como se irá tentar <strong>da</strong>r a conhecer (e a alguns somente<br />
recor<strong>da</strong>r), em meados do século XIX muito se fez neste<br />
campo, por ambos os países, havendo ain<strong>da</strong> muito a fazer,<br />
e talvez este Simpósio (e os que se seguirem) seja o momento<br />
certo para lançar novas sementes de cooperação...<br />
Com esta Comunicação pretende-se introduzir o tema do<br />
Convénio Cartográfico Luso-Brasileiro de 1867 e a sua grande<br />
importância para ambas as <strong>na</strong>ções e como este foi essencial<br />
para a constituição <strong>da</strong> actual Cartoteca do <strong>Instituto</strong><br />
Geográfico Português (IGP). Como, provavelmente, alguns<br />
dos participantes neste Simpósio não conhecem esta enti<strong>da</strong>de<br />
pública portuguesa, será necesssário explicar, em traços<br />
gerais, o que é o IGP, o seu enquadramento institucio<strong>na</strong>l,<br />
a sua missão e a forma como o seu valioso património<br />
histórico-científico está a ser gerido.<br />
O IGP é uma enti<strong>da</strong>de pública (civil) <strong>da</strong> Administração Central,<br />
cria<strong>da</strong> em 2002, por fusão de dois organismos: CNIG<br />
– Centro Nacio<strong>na</strong>l de Informação Geográfica e o IPCC – <strong>Instituto</strong><br />
Português de Cartografia e Ca<strong>da</strong>stro. Com sede em<br />
Lisboa, actualmente presidido pelo Sr. Coronel de Artilharia,<br />
Engenheiro Geógrafo, Arménio Castanheira é, em Portugal,<br />
o organismo responsável pela execução <strong>da</strong> política de Informação<br />
Geográfica, sob a tutela gover<strong>na</strong>mental do Ministério<br />
do Ambiente, do Orde<strong>na</strong>mento do Território e do Desenvolvimento<br />
Regio<strong>na</strong>l.<br />
O IGP, além de ser a Autori<strong>da</strong>de Nacio<strong>na</strong>l de Cartografia,<br />
Geodesia e Ca<strong>da</strong>stro, tem como principais missões: a produção<br />
de informação geográfica oficial; o desenvolvimento<br />
e coorde<strong>na</strong>ção do Sistema Nacio<strong>na</strong>l de Informação Geográfica<br />
(SNIG); a investigação em ciências e tecnologias de<br />
informação geográfica (<strong>na</strong>s áreas do ambiente, orde<strong>na</strong>mento<br />
do território, sócio-economia, detecção remota, geodesia,<br />
cartografia e ca<strong>da</strong>stro); a formação científica e técnica no<br />
domínio <strong>da</strong>s ciências geográficas e a di<strong>na</strong>mização <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong> informação.<br />
Entre outros Departamentos técnicos e operacio<strong>na</strong>is, o IGP<br />
conta <strong>na</strong> sua orgânica com o CDI - Centro para a Documentação<br />
e Informação que, entre outras atribuições, compete<br />
o tratamento de to<strong>da</strong> a documentação, seja bibliográfica,<br />
cartográfica ou museológica, sua conservação e divulgação<br />
de acordo com o interesse científico, histórico e cultural.<br />
Para tal, é essencial a coorde<strong>na</strong>ção <strong>da</strong> acção <strong>da</strong>s suas várias<br />
uni<strong>da</strong>des orgânicas, que processam todo o património<br />
histórico-científico de que o IGP é herdeiro e fiel depositário:<br />
a Cartoteca, a Biblioteca, o Nucleo Museológico e o<br />
Arquivo Histórico.
Artigo<br />
59<br />
CA 135. “Copia <strong>da</strong> Planta pertencente à Carta Geografica do Reyno”,<br />
D. Francisco Antonio Ciera (ca. 1805)
Artigo<br />
60<br />
O CDI, à luz <strong>da</strong> política em vigor em todo o <strong>Instituto</strong>, tem<br />
vindo a <strong>da</strong>r um especial ênfase à utilização <strong>da</strong>s novas tecnologias<br />
no cumprimento <strong>da</strong> sua missão, criando novas formas<br />
do grande público aceder ao seu património através<br />
<strong>da</strong> Internet. São exemplos de tal actuação a Base de Dados<br />
Bibliográfica online, o Museu virtual (em desenvolvimento),<br />
os Serviços de Digitalização e de Fotografia Digital de Alta<br />
Resolução e por último, a recém cria<strong>da</strong> Base de Dados Cartográfica<br />
online.<br />
Esta última plataforma, que há muito era necessária e solicita<strong>da</strong><br />
no mundo académico, está numa fase inicial mas<br />
os resultados obtidos são muito estimulantes para o futuro.<br />
Nesta primeira fase do projecto, e com base no Catálogo de<br />
Cartas Antigas <strong>da</strong> Mapoteca do ex-IPPC “Catálogo Gabriel<br />
Mendes” estão disponíveis, online, mais de 650 exemplares<br />
de cartografia histórica (incluindo alguns exemplares do Brasil<br />
e Guia<strong>na</strong> Francesa). Com uma Base de Dados simples<br />
(limita<strong>da</strong> a alguns campos pertinentes) é possível visualizar<br />
(e copiar) em formato A5 a 72dpis, os respectivos espécimes<br />
cartográficos.<br />
É possível aceder a esta pági<strong>na</strong> através do sítio do IGP (www.<br />
igeo.pt), seguindo o links “Serviços” e “Cartoteca Digital”, podendo<br />
o ci<strong>da</strong>dão mais exigente consultar, presencialmente,<br />
uma potente Base de Dados com visualização de imagens<br />
de alta resolução, além dos outros serviços disponíveis.<br />
Tal como já se referiu, as origens imediatas do IGP remontam<br />
a 2002, mas este organismo, por também derivar directamente<br />
do ex-<strong>Instituto</strong> Português de Cartografia e Ca<strong>da</strong>stro,<br />
é a enti<strong>da</strong>de sucessora de uma série de organismos<br />
públicos cuja génese remonta aos fi<strong>na</strong>is do século XVIII - <strong>da</strong><br />
então cria<strong>da</strong> Comissão para os Trabalhos de Triangulação<br />
Geral do Reino.<br />
Após algumas mu<strong>da</strong>nças de nomes, passando por entre outros,<br />
Direcção-Geral dos Trabalhos Geodésicos, Topográficos<br />
e Ca<strong>da</strong>strais do Reino ou por Direcção-Geral dos Trabalhos<br />
Geodésicos, Corográficos, Hidrográficos e Geológicos do<br />
Reino, é criado, em 1864, um grande organismo científico<br />
denomi<strong>na</strong>do “<strong>Instituto</strong> Geographico” (sob a tutela do Ministério<br />
<strong>da</strong>s Obras Públicas, Comércio e Indústria), dirigido pela<br />
figura incontornável <strong>da</strong> história <strong>da</strong> Cartografia Portuguesa, o<br />
General Conselheiro Filipe Folque.<br />
Será este organismo em Portugal o grande parceiro neste Convénio,<br />
e é ao seu Director-Geral, que o Governo Português delegará<br />
competências para, em seu nome, assi<strong>na</strong>r o Convénio<br />
e levar a cabo a sua supervisão e imediata execução.<br />
Resumi<strong>da</strong>s as origens do IGP e do seu antecessor <strong>na</strong> déca<strong>da</strong><br />
de sessenta do século XIX (por forma a melhor entendermos<br />
o papel deste Organismo no Convénio), há, obrigatoriamente,<br />
que falar <strong>na</strong> ilustre figura e mentora de todo o<br />
projecto, e falamos do Barão de Ponte Ribeiro. O Dr. Duarte<br />
<strong>da</strong> Ponte Ribeiro, de título imperial Barão de Ponte Ribeiro<br />
é uma figura muito conheci<strong>da</strong> no Brasil e em especial
Artigo<br />
61<br />
lia real portuguesa para o continente sul-americano. Já no<br />
Brasil, e somente com16 anos, é aprovado como Cirurgião<br />
pela Escola Médico-Cirúrgica. Em 1822, adoptou a causa<br />
<strong>da</strong> independência do Brasil e opta pela <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de Brasileira,<br />
e pouco tempo depois, abraça a carreira diplomática.<br />
Começam então anos de uma frenética activi<strong>da</strong>de política e<br />
diplomática, viajando e residindo em deze<strong>na</strong>s de países <strong>na</strong>s<br />
Américas e <strong>na</strong> Europa, muitos deles onde decorriam guerras<br />
inter<strong>na</strong>s e exter<strong>na</strong>s (chegando a ser ferido) e onde as<br />
condições de vi<strong>da</strong> e de viagem eram extremamente precárias,<br />
tendo adoecido gravemente algumas vezes. Entre outras<br />
activi<strong>da</strong>des, procurou o Barão de Ponte Ribeiro, obter,<br />
sempre, o máximo de informação acerca dos limites fronteiriços<br />
Brasileiros.<br />
É nesta área <strong>da</strong> sua activi<strong>da</strong>de diplomática, de tão grande<br />
importância sócio-económica para o Brasil, que lhe <strong>na</strong>sce a<br />
paixão pela Cartografia e que o vai tor<strong>na</strong>r num dos maiores<br />
especialistas <strong>na</strong> área do século XIX. To<strong>da</strong> a sua vi<strong>da</strong> (faleceu<br />
com 83 anos) foi passa<strong>da</strong> a investigar, rigorosamente,<br />
arquivos e bibliotecas, a reunir colecções particulares e institucio<strong>na</strong>is,<br />
recuperando e levando para o Brasil inúmeros<br />
espécimes cartográficos e relatórios escritos. Um dos seus<br />
biógrafos, Goycochêa, em 1943, acaba mesmo por <strong>da</strong>r a<br />
um livro seu, acerca desta perso<strong>na</strong>gem histórica, um título<br />
que muito bem resume a importância do Barão de Ponte<br />
Ribeiro: “O Fronteiro-mor do Império”.<br />
CA 269. “Mappa Topografico do sitio e ribeira d’Arão”,<br />
Jozé de Sande Vasconcellos (1794)<br />
dentro do mundo diplomático e <strong>da</strong>s ciências cartográficas.<br />
Muito se tem escrito sobre si e sobre os seus inúmeros<br />
trabalhos. No entanto, e porque este é um Simpósio Luso-<br />
Brasileiro, iremos aflorar um pouco a sua enorme e distinta<br />
biografia, para que outros possam, também, avaliar os seus<br />
méritos.Português de <strong>na</strong>scimento (1795, perto de Viseu),<br />
filho de cirurgião, em 1807, ain<strong>da</strong> jovem seguiu para o Brasil,<br />
numa <strong>da</strong>s <strong>na</strong>us <strong>da</strong> Esquadra que transportou a famí-<br />
Foi graças ao incansável trabalho do Barão de Ponte Ribeiro,<br />
que este Convénio foi obtido após anos de pesquisa em<br />
arquivos de ambos os lados do Atlântico (em especial devido<br />
à missão de estu<strong>da</strong>r a questão fronteiriça com as Guia<strong>na</strong>s<br />
francesas e inglesas). Ponte Ribeiro conseguiu sensibilizar<br />
as autori<strong>da</strong>des gover<strong>na</strong>mentais <strong>da</strong>s duas <strong>na</strong>ções para a<br />
enorme importância de uma permuta dos respectivos espólios<br />
cartográficos. Para além do valor histórico-cultural<br />
destes exemplares cartográficos para ambas as <strong>na</strong>ções, os<br />
mesmos assumiam grande importância sócio-económica<br />
devido à questão <strong>da</strong> delimitação <strong>da</strong>s fronteiras do Brasil<br />
com to<strong>da</strong> uma série de novas <strong>na</strong>ções sul-america<strong>na</strong>s.<br />
Em meados do século XIX, no Arquivo Militar Imperial do Rio<br />
de Janeiro encontravam-se muitos espécimes cartográficos<br />
portugueses que tinham ido para o Brasil por circunstâncias<br />
diversas.
Artigo<br />
62
Artigo<br />
63<br />
A i<strong>da</strong> <strong>da</strong> corte portuguesa e de D. João VI para o Brasil (em<br />
consequência <strong>da</strong> invasão francesa e espanhola), teve também<br />
como consequência a transferência para essa <strong>na</strong>ção<br />
sul-america<strong>na</strong> <strong>da</strong> Biblioteca Real (com muitas e importantes<br />
colecções cartográficas) e grande parte do arquivo cartográfico<br />
<strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de Real Marítima Militar e Geográfica para<br />
o Desenho, Gravura e Impressão <strong>da</strong>s Cartas Hidrográficas,<br />
Geográficas e Militares, assim como do chamado Real Arquivo<br />
Militar, que havia sido criado em Lisboa, para servir<br />
de depósito de to<strong>da</strong> a cartografia militar e respectivas memórias<br />
descritivas. De igual forma, viajou para o Brasil, a<br />
uni<strong>da</strong>de de marinha, actualmente chama<strong>da</strong> de Escola Naval<br />
(à época Companhia dos Guar<strong>da</strong>-Marinhas) e cujo acervo<br />
cartográfico era relevante em termos hidrográficos. Existem<br />
ain<strong>da</strong> registos de “resgates” particulares, de origi<strong>na</strong>is e de<br />
CA 340. “Configuração<br />
<strong>da</strong> entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> barra<br />
de Lisboa”,<br />
Luís d’Allincourt<br />
(ca. 1760)
Artigo<br />
64<br />
cópias (incluindo alguns de importância singular visto os<br />
origi<strong>na</strong>is terem desaparecido), efectuados por Oficiais do<br />
Exército e de Marinha, durante o período <strong>da</strong> Guerra Peninsular,<br />
e que posteriormente foram entregues nos arquivos<br />
do Rio de Janeiro.<br />
Com esta resenha, começamos a perceber o quão importante<br />
era para Portugal recuperar este património. Além <strong>da</strong>s<br />
questões relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s com a defesa, recorde-se que muitos<br />
mapas eram de cariz militar (reportando-se muitos deles à<br />
época <strong>da</strong> Reforma do Exército de 1762, do Conde de Lippe,<br />
que trouxe para Portugal, deze<strong>na</strong>s de Oficiais de Engenharia<br />
estrangeiros que cartografaram o país e fizeram escola),<br />
muita <strong>da</strong> cartografia era igualmente importante do ponto<br />
de vista económico, pois o período de governo do Marquês<br />
de Pombal, típico do estado moderno, foi igualmente muito<br />
profícuo no que se refere à representação do território,<br />
nomea<strong>da</strong>mente ao seu urbanismo, arquitectura e às várias<br />
activi<strong>da</strong>des económicas, como sejam as mi<strong>na</strong>s, os portos,<br />
os pinhais, as zo<strong>na</strong>s vinhateiras, as vias fluviais, etc.<br />
Na déca<strong>da</strong> de quarenta do séc. XIX, o Barão teve acesso ao<br />
Arquivo Militar do Rio de Janeiro e vê-se confrontado com<br />
a existência <strong>da</strong> grande riqueza e importância deste espólio<br />
cartográfico “esquecido” - cerca de 950 Cartas. Rapi<strong>da</strong>mente<br />
começa a preparar duas vertentes de actuação para “recuperar”<br />
tal tesouro.<br />
A nível interno solicita que seja facultado ao Palácio do Itamaraty<br />
(Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros)<br />
um exemplar de ca<strong>da</strong> duplicado de Cartas que aí se encontravam<br />
e no caso de exemplares únicos, que se fizesse uma<br />
cópia dos mesmos que lhe seria entregue. Pensa-se ser<br />
esta a génese <strong>da</strong> actual importante Mapoteca do Itamaraty<br />
(Ministério dos Negócios Exteriores). Este núcleo central, ao<br />
qual se juntaram colecções particulares, como as do Barão<br />
de Rio Branco, Joaquim Nabuco, António Pimenta Branco,<br />
além <strong>da</strong> sua própria colecção, doa<strong>da</strong> pela viúva à posteriori,<br />
acabou por <strong>da</strong>r origem ao que se denominou então de<br />
Depósito de Cartas e Mapas Geográficos e que em 1931<br />
se transformou em Mapoteca do Itamaraty. Referência para<br />
os estudos desenvolvidos e publicados pela Drª Isa Adonias,<br />
referentes a este importante arquivo, e que a mesma teve<br />
oportuni<strong>da</strong>de de chefiar.<br />
A nível externo inceta contactos diplomáticos com várias<br />
enti<strong>da</strong>des com o fim de permutar com Portugal cópias de<br />
to<strong>da</strong> a cartografia que fosse considera<strong>da</strong> importante e de<br />
interesse para ambos os países. Recorde-se que entre as<br />
cerca de 950 cartas “encontra<strong>da</strong>s” no Arquivo Militar do Rio<br />
de Janeiro, cerca de metade eram referentes a Portugal e<br />
seus domínios ultramarinos (que não Brasil). Man<strong>da</strong>tado<br />
pelo Governo Brasileiro, vem a Lisboa em 1863 apresentar<br />
oficialmente os termos gerais do possível Convénio e simultaneamente<br />
fazer o reconhecimento pessoal do que havia<br />
em Lisboa de interesse exclusivo para o Brasil. Inicialmente,<br />
o Barão detém uma lista de 49 lotes cartográficos com interesse<br />
para Portugal para serem apresentados para possível<br />
troca. Reforça-se a ideia inicial de que o pretendido seria<br />
permutar cópias, devendo os origi<strong>na</strong>is manter-se à guar<strong>da</strong><br />
dos respectivos países.<br />
Rapi<strong>da</strong>mente recebe o apoio do Embaixador brasileiro em<br />
Lisboa, Barão de Itamaracá (um outro estadista com experiência<br />
<strong>na</strong> área <strong>da</strong> delimitação de fronteiras), que inicia os<br />
contactos formais com Ministro dos Negócios Estrangeiros<br />
português, o Duque de Loulé. De imediato houve anuência<br />
portuguesa para tal acordo, pois eram notórias as vantagens<br />
para ambas as <strong>na</strong>ções, e após as formali<strong>da</strong>des diplomáticas<br />
estarem salvaguar<strong>da</strong>s ao mais alto nível, o Governo nomeou<br />
Filipe Folque como seu representante <strong>na</strong>s negociações.<br />
Enquanto todos estes procedimentos administrativos tinham<br />
lugar, o Barão de Ponte Ribeiro deu início ao tão necessário<br />
reconhecimento presencial junto dos arquivos portugueses.<br />
Numa primeira fase, inventaria e faz conhecer ao<br />
governo protuguês, os seus desejos de permutar as cartas<br />
acha<strong>da</strong>s no Brasil por 175 cartas encontra<strong>da</strong>s em Lisboa.<br />
Foram encontrados 175 espécimes cartográficos referentes<br />
ao Brasil, e considerados de grande importância, em três<br />
organismos de Lisboa: no Real Arquivo Militar (101), no Arquivo<br />
Ultramarino de Lisboa (53) e <strong>na</strong> Biblioteca Pública de<br />
Lisboa (21). Este número elevado de exemplares deve ter<br />
surpreendido Ponte Ribeiro, que diligência junto do Barão<br />
de Itamaracá para que se tentem encontrar mais cartas de<br />
interesse para Portugal nos arquivos do Brasil. A troca teria<br />
que ser muito aliciante para Portugal para que não houvesse<br />
o perigo <strong>da</strong> tão necessária permuta ser adia<strong>da</strong> ou<br />
mesmo recusa<strong>da</strong>.
Artigo<br />
65<br />
Em 1865, chegam a Portugal os lotes vindos do Brasil, em<br />
número de 157, e não os origi<strong>na</strong>is e propostos 49. Eram origi<strong>na</strong>is,<br />
pois não obstante as pretensões iniciais, cedo se verificou<br />
que a reprodução dos mapas levaria demasiado tempo<br />
e mobilizaria meios técnicos e humanos incomportáveis<br />
para o normal funcio<strong>na</strong>mento dos respectivos organismos<br />
de ambas as <strong>na</strong>ções. Somente no Real Arquivo Militar de<br />
Lisboa, e graças à intervenção do Ministro <strong>da</strong> Guerra (grande<br />
conhecedor <strong>da</strong> importância <strong>da</strong> cartografia), Visconde de<br />
Sá <strong>da</strong> Bandeira, foram efectua<strong>da</strong>s atempa<strong>da</strong>mente cópias<br />
<strong>da</strong>s cartas mais importantes encontra<strong>da</strong>s nesse arquivo por<br />
Ponte Ribeiro, para essas sim, serem envia<strong>da</strong>s para o Brasil,<br />
tal como inicialmente estava planeado.<br />
No entanto, surgiram dúvi<strong>da</strong>s acerca do interesse <strong>da</strong>s cartas<br />
chega<strong>da</strong>s do Brasil, porque as relações anexas eram demasiado<br />
vagas e omissas, e como tal, urgia nomear uma<br />
comissão técnica portuguesa que avaliasse e levasse a cabo<br />
a permuta. Recorde-se que este empreendimento obrigaria<br />
em Portugal, a uma acção coorde<strong>na</strong><strong>da</strong> de vários ministérios,<br />
CA 354. “Projecto com planta <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Lisboa<br />
Eugenio dos Santos / Carlos Mardel (ca. 1760)
Artigo<br />
66<br />
CA 396. “Planta <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Tavira”,<br />
Jozé de Sande Vasconcellos (1800)<br />
o que muitas vezes dificultou e prolongou as negociações:<br />
além do Ministério dos Negócios Estrangeiros, que fazia a<br />
ligação com os representantes do Brasil, o Ministério <strong>da</strong>s<br />
Obras Públicas, Comérico e Indústria (tutela do <strong>Instituto</strong> Geographico<br />
– a autori<strong>da</strong>de <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de Cartografia à época),<br />
o Ministério do Reino (governo geral e tutela <strong>da</strong> Biblioteca<br />
Pública de Lisboa), o Ministério <strong>da</strong> Guerra (tutela do Real<br />
Arquivo Militar) e o Ministério <strong>da</strong> Marinha e Ultramar (tutela<br />
do Arquivo Ultramarino de Lisboa).<br />
Pelo protagonismo que teve <strong>na</strong> coorde<strong>na</strong>ção deste Convénio<br />
e por ser uma figura marcante <strong>na</strong> história portuguesa<br />
(infelizmente muito pouco conheci<strong>da</strong> do grande público),<br />
importa aqui realçar, de forma sucinta, a figura do General<br />
Filipe Folque no contexto científico e social <strong>da</strong> época.
Artigo<br />
67<br />
Filipe de Sousa Folque (1800-1874), Oficial General do<br />
Exército, oriundo <strong>da</strong> Arma de Engenharia (não obstante os<br />
seus estudos militares iniciais terem sido feitos <strong>na</strong> Academia<br />
de Marinha), era filho de um outro distinto Oficial de Engenharia<br />
e grande especialista em cartografia – Pedro Folque,<br />
e cedo começou a ter contacto com esta ciência e arte.<br />
Graduou-se em Matemática <strong>na</strong> Universi<strong>da</strong>de de Coimbra<br />
e começou a partilhar com o seu pai a coorde<strong>na</strong>ção dos<br />
trabalhos geográficos do Reino tendo-lhe sucedido <strong>na</strong> sua<br />
chefia. Recorde-se que o pai, Pedro Folque faleceu com 104<br />
anos de i<strong>da</strong>de e esteve à frente dos serviços cartográficos<br />
até aos 102 anos!<br />
Entre outras activi<strong>da</strong>des desenvolvi<strong>da</strong>s em paralelo com a<br />
sua profissão, Filipe Folque foi um músico exímio de reconhecidos<br />
méritos (além de co-fun<strong>da</strong>dor do Conservatório<br />
Real, juntamente com Almei<strong>da</strong> Garrett), Deputado por<br />
Portalegre (sua terra <strong>na</strong>tal) e por Lisboa, além de membro<br />
de várias academias e socie<strong>da</strong>des científicas, <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is<br />
e estrangeiras.<br />
Lente de Astronomia <strong>na</strong> Escola Politécnica de Lisboa, organizou<br />
e chefiou o Real Observatório Astronómico <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong><br />
(Lisboa). Igualmente mentor do curso de Hidrografia para<br />
Oficiais de Marinha, passando a cartografia <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l a contar<br />
com engenheiros hidrógrafos a ombrear de igual, com os<br />
engenheiros geógrafos (Oficiais do Exército), assim como<br />
em 1864 apadrinha a criação do Corpo de Engenharia Civil<br />
junto do Ministério <strong>da</strong>s Obras Públicas. Agraciado com<br />
inúmeras condecorações estrangeiras e <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, recebeu<br />
ain<strong>da</strong> os títulos régios de Conselheiro e de Par do Reino,<br />
tendo sido professor particular dos Príncipes Reais, nomea<strong>da</strong>mente<br />
de dois Reis de Portugal, D. Pedro V e seu irmão,<br />
D. Luís I, tendo-os acompanhado, enquanto jovens adolescentes,<br />
<strong>na</strong>s suas visitas às cortes europeias.<br />
Mas é <strong>na</strong> sua vertente de 41 anos de serviço dedicados à<br />
cartografia <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l (oficialmente 26 como responsável máximo)<br />
que vai buscar o respeito e os conhecimentos para<br />
coorde<strong>na</strong>r e assi<strong>na</strong>r, man<strong>da</strong>tado pelo Governo Português,<br />
um projecto inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de tal importância, como é o do<br />
Convénio Cartográfico Luso-Brasileiro.<br />
Atendendo aos inúmeros afazeres de Filipe Folque, será<br />
num dos seus melhores subordi<strong>na</strong>dos do <strong>Instituto</strong> Geogra-<br />
phico, o Oficial do Exército e brilhante Geodeta, Francisco<br />
de Brito Limpo (inventor premiado inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lmente com<br />
um instrumento de nivelamento) que recairá a importante<br />
missão de inventariar todos os documentos a permutar.<br />
Após meses de árduo trabalho, são avalia<strong>da</strong>s as cartas uma<br />
a uma e elabora<strong>da</strong>s listas detalha<strong>da</strong>s, com muita informação<br />
adicio<strong>na</strong>l além de pareceres pessoais sobre a importância<br />
<strong>da</strong>s mesmas. Para uma apreciação mais detalha<strong>da</strong> sobre<br />
o esforço que envolveu a elaboração destas listas e seu<br />
conteúdo, há agora que salientar o excelente trabalho efectuado<br />
há cerca de 20 anos atrás, pelo Engº Gabriel Mendes<br />
e publicado <strong>na</strong> Revista nº 3 do então <strong>Instituto</strong> Geográfico<br />
e Ca<strong>da</strong>stral.<br />
Assim, e numa primeira fase foram reunidos no <strong>Instituto</strong><br />
Geographico, os espécimes cartográficos vindos do Brasil e<br />
que já se encontravam <strong>na</strong> Embaixa<strong>da</strong> do Brasil em Lisboa<br />
(em 157 lotes), e elabora<strong>da</strong> uma relação geral. No fi<strong>na</strong>l, são<br />
inventariados cerca de 1200 espécimes, o que ain<strong>da</strong> mais<br />
atesta o esforço de inventariação ! Muitos dos lotes eram<br />
compostos por múltiplas folhas, sendo que estes eram de<br />
importância variável. Além <strong>da</strong> cartografia propriamente dita,<br />
este património era de grande importância em termos iconográficos,<br />
tendo-se revelado para Portugal muito melhor<br />
troca do que inicialmente se podia ter ideia. Ressalva-se no<br />
entanto, que o Barão Ponte Ribeiro nunca sentiu, e sempre<br />
acreditou, que esta era uma permuta que o Brasil tinha que<br />
garantir, a bem <strong>da</strong> delimitação <strong>da</strong>s suas fronteiras (e como<br />
tal <strong>da</strong> sua economia), e como tal só tinha a ganhar. Começou-se<br />
então a reunir no mesmo organismo, as colecções<br />
cartográficas envia<strong>da</strong>s pelos três arquivos que iriam devolver<br />
cartas do Brasil, sendo que o último foi o Real Arquivo<br />
Militar, pois tinha estado a decorrer o moroso processo de<br />
cópia <strong>da</strong>s mesmas. Foram então elabora<strong>da</strong>s novas listas detalha<strong>da</strong>s<br />
e <strong>da</strong>do o parecer positivo para que o protocolo<br />
fosse assi<strong>na</strong>do por ambas as partes.<br />
Uns meses mais tarde, após estes trabalhos preparatórios<br />
termi<strong>na</strong>rem e serem efectua<strong>da</strong>s algumas reuniões preparatórias,<br />
tudo estava pronto para assi<strong>na</strong>tura do Convénio<br />
e para que acontecesse, de facto, a importante permuta<br />
cartográfica. Em 14 de Janeiro de 1867, <strong>na</strong>s instalações do<br />
<strong>Instituto</strong> Geographico (no Palácio <strong>da</strong>s Cortes, em S. Bento),<br />
é assi<strong>na</strong>do por ambas as partes, o Convénio Cartográfico<br />
Luso-Brasileiro. A título de curiosi<strong>da</strong>de, transcreve-se o texto
Artigo<br />
68<br />
Filipe Folque, dias após a<br />
assi<strong>na</strong>tura do Convénio,<br />
remete ao Ministério <strong>da</strong><br />
Guerra, para serem reenvia<strong>da</strong>s<br />
para o Arquivo<br />
Militar, a maior parte do<br />
espólio permutado. Actualmente,<br />
esse espólio entregue<br />
à enti<strong>da</strong>de militar,<br />
está a cargo do importante<br />
arquivo cartográfico militar<br />
denomi<strong>na</strong>do de DSE<br />
(Direcção dos Serviços<br />
de Engenharia, Exército<br />
Português) e mais concretamente<br />
do seu Gabinete de Estudos Arqueológicos e de<br />
Engenharia Militar (GEAEM), em Lisboa.<br />
No então <strong>Instituto</strong> Geographico, ficaram “somente” os mapas<br />
topográficos (ditos “civis”) e alguma iconografia varia<strong>da</strong>,<br />
servindo de embrião ao valioso núcleo central <strong>da</strong> actual<br />
Cartoteca do <strong>Instituto</strong> Geográfico Português. Estamos<br />
a falar em cerca de 250 cartas devi<strong>da</strong>mente referencia<strong>da</strong>s<br />
(que juntamos relação em anexo e que simultaneamente<br />
com esta Comunicação terão oportuni<strong>da</strong>de de ver algumas<br />
reproduções digitais). Mesmo assim, acreditamos, subscreprincipal<br />
do mesmo, omitindo as respectivas listas anexas,<br />
<strong>da</strong> autoria de Brito Limpo. “Nós abaixo assig<strong>na</strong>dos, Duarte<br />
<strong>da</strong> Ponte Ribeiro, Conselheiro, e Enviado Extarordi<strong>na</strong>rio e<br />
Ministro Plenipotenciario de Sua Magestade o Imperador<br />
do Brazil, e Filippe Folque, do Conselho de Sua Magestade<br />
Fidelissima, eneral de Briga<strong>da</strong> Graduado, e Director-Geral<br />
dos Trabalhos Geographicos, Estatisticos, e de Pezos e<br />
Medi<strong>da</strong>s, comissio<strong>na</strong>dos pelos respectivos Governos para<br />
effectuar o Convenio em que ambos concor<strong>da</strong>ram, de<br />
trocar Mappas e Planos Topographicos concernentes ao<br />
territorio de Portugal que estavam no Archivo Militar do Rio de<br />
Janeiro por outros de igual classe relativos ao territorio do<br />
Brazil existentes nos archivos de Lisboa; depois de exami<strong>na</strong>dos<br />
e conferirmos os encontrados nos referidos Archivos<br />
que se acham hoje reunidos neste <strong>Instituto</strong> Geographico,<br />
realisamos nesta <strong>da</strong>ta a reciproca permutação, recebendo<br />
eu comissio<strong>na</strong>do do Governo Imperial os constantes <strong>da</strong><br />
seguinte Relação por nós assig<strong>na</strong><strong>da</strong> em duplicado”.<br />
Assi<strong>na</strong>do o Convénio, houve que processar todo aquele<br />
enorme património cartográfico e iconográfico. Quanto ao<br />
material que regressou ao Brasil com o Barão de Ponte<br />
Ribeiro, e como já se referiu, foi engrossar, mais tarde, o<br />
ca<strong>da</strong> vez maior e valioso espólio cartográfico <strong>da</strong> mapoteca<br />
do Arquivo Histórico do Palácio do Itamaraty. Quanto à<br />
situação <strong>da</strong>s cartas que vieram do Brasil para Portugal<br />
(57 lotes - cerca de 1200 espécimes cartográficos) importa<br />
agora saber o que lhe aconteceu e de que forma estão <strong>na</strong><br />
génese <strong>da</strong> Cartoteca do actual IGP. Ain<strong>da</strong> antes <strong>da</strong> assi<strong>na</strong>tura<br />
do Convénio, o reconhecido estadista (engenheiro<br />
militar e geógrafo, por si<strong>na</strong>l) Fontes Pereira de Mello, Ministro<br />
<strong>da</strong>s Obras Públicas e interi<strong>na</strong>mente Ministro <strong>da</strong> Guerra,<br />
tinha deliberado que, visto o Arquivo Militar ter cedido cerca<br />
de 100 cartas para serem envia<strong>da</strong>s para o Brasil e que muitas<br />
<strong>da</strong>s cartas que iam ser devolvi<strong>da</strong>s a Portugal eram de<br />
exclusivo cariz militar, deveriam as mesmas ser entregues<br />
ao mesmo Arquivo Militar.<br />
Seguia-se uma relação com<br />
o título “Cartas e plantas<br />
que vão para o Brazil” (26<br />
folhas escritas só de um<br />
lado e que descreviam os<br />
lotes de 1 a 135) e no<br />
fi<strong>na</strong>l: “Lisboa, no <strong>Instituto</strong><br />
Geographico, aos quatorze<br />
dias do mez de Janeiro<br />
do anno de mil oitecentos<br />
e sessenta e sete”, onde<br />
constavam as assi<strong>na</strong>turas<br />
de Duarte <strong>da</strong> Ponte Ribeiro<br />
e de Filippe Folque.<br />
Da mesma forma, existia um outro texto semelhante, mas<br />
onde se trocou a ordem de aparecimento dos nomes dos<br />
sig<strong>na</strong>tários e que termi<strong>na</strong>va: “...que se acham hoje reunidos<br />
neste <strong>Instituto</strong> Geographico, realisamos nesta <strong>da</strong>ta a reciproca<br />
permutação, recebendo eu comissio<strong>na</strong>do do Governo de<br />
Sua Magestade Fidelssima as constantes <strong>da</strong> seguinte Relação<br />
por nós assig<strong>na</strong><strong>da</strong> em duplicado”. A relação anexa tinha<br />
o título “Cartas e plantas vin<strong>da</strong>s do Brazil” (27 folhas escritas<br />
só de um lado e que descreviam os 78 lotes com que as<br />
cartas haviam sido agrupa<strong>da</strong>s) e <strong>na</strong> qual constava o mesmo<br />
local e <strong>da</strong>ta, além <strong>da</strong>s assi<strong>na</strong>turas dos dois sig<strong>na</strong>tários.
Artigo<br />
69<br />
vendo a opinião de Gabriel Mendes <strong>na</strong> sua monografia,<br />
que muitas outras terão igualmente ficado neste <strong>Instituto</strong>,<br />
só que devido à exígua informação <strong>da</strong>s relações efectua<strong>da</strong>s<br />
(ausência de dimensões e escala gráfica) e não obstante o<br />
já referenciado esforço desenvolvido, não se conseguiu, até<br />
ao momento, estabelecer a relação credível <strong>da</strong>s mesmas.<br />
Sabemos ain<strong>da</strong> que os critérios gerais de divisão do espólio<br />
não foram rigorosamente levados a efeito, pois a Cartoteca<br />
do IGP, dentro <strong>da</strong>s recepcio<strong>na</strong><strong>da</strong>s após a permuta, obteve<br />
cartas eminentemente militares assim como outras, que de<br />
acordo com relações elabora<strong>da</strong>s, seriam “civis” e que passaram<br />
para o Arquivo Militar! Infelizmente, também algumas<br />
colecções temáticas foram dividi<strong>da</strong>s entre estas duas<br />
enti<strong>da</strong>des, o que nem sempre facilita a vi<strong>da</strong> à investigação<br />
obrigando, a uma pesquisa em ambas as instituições.<br />
Em resumo, constatamos que existem ain<strong>da</strong> dúvi<strong>da</strong>s sobre<br />
algumas <strong>da</strong>s cartas que vieram para Portugal e de quem as<br />
tem a seu cargo. Preparamos agora, um trabalho conjunto<br />
com o Exército Português, no sentido de tentar reestabelecer,<br />
com a máxima precisão, o inventário coevo do Convénio<br />
e saber se to<strong>da</strong>s as cartas sobreviveram às vicissitudes<br />
pelas quais to<strong>da</strong>s as instituições têm passado ao longo dos<br />
tempos. O Convénio além <strong>da</strong> sua importância pelas razões<br />
já aponta<strong>da</strong>s, é um marco <strong>na</strong>s relações bilaterais entre Portugal<br />
e o Brasil, pois muitos dos convénios preparados e elaborados<br />
não passaram do papel tendo ficado pelo simples<br />
exercício de meras intenções.<br />
Graças ao árduo e apaixo<strong>na</strong>do trabalho de Ponte Ribeiro<br />
e de todos aqueles que trabalharam para a concretização<br />
deste Convénio, em especial Filipe Folque e Brito Limpo, o<br />
Brasil e Portugal viram resgatado parte do seu património<br />
cartográfico que até então, corria o risco de ficar esquecido<br />
nos arquivos de algumas instituições ou mesmo desaparecer.<br />
Trabalhos recentes efectuados nos dois lados do<br />
Atlântico, testemunhos de alguns investigadores, levam a<br />
acreditar que ain<strong>da</strong> existe a necessi<strong>da</strong>de de um novo esforço<br />
de pesquisa e identificação de situações semelhantes às<br />
verifica<strong>da</strong>s no século XIX.<br />
Se foi possível levar a cabo tal tarefa, numa altura em que<br />
as comunicações eram tão exíguas, e trocaram-se ideias,<br />
pareceres, decisões e por fim cartografia, acreditamos que<br />
volvidos cerca de 140 anos, conseguir-se-à <strong>da</strong>r continui<strong>da</strong>de<br />
a estes pioneiros. O advento <strong>da</strong>s novas tecnologias, que<br />
possibilitam uma melhor e mais rápi<strong>da</strong> comunicação entre<br />
um número ca<strong>da</strong> vez maior de enti<strong>da</strong>des, vai ao encontro<br />
do espírito de abertura e de sã ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia que deve pautar<br />
as instituições envolvi<strong>da</strong>s.<br />
Haja o engenho, que sempre norteou estes visionários, que<br />
a força de vontade para levar a cabo tal missão, está bem<br />
patente no espírito de todos aqueles que participam, de<br />
uma forma ou outra, neste I Simpósio Luso-Brasileiro de<br />
Cartografia Histórica n<br />
Bibliografia:<br />
MANIQUE, P. Plantas Topográficas de Lisboa. A colecção<br />
leva<strong>da</strong> para o Brasil durante as invasões. Volume II dos<br />
“Subsídios para a História de Lisboa e seu termo”, 1947.<br />
MANIQUE, P. O Convénio Luso-Brasileiro de 1867 sobre<br />
Cartografia Portuguesa. IV Congresso de História Nacio<strong>na</strong>l.<br />
Baía, 1949. IV Volume dos A<strong>na</strong>is do <strong>Instituto</strong> Histórico e<br />
Geográfico Brasileiro, 1950.<br />
MENDES, G. O Convénio Cartográfico Luso-Brasileiro. A<br />
Cartografia Portuguesa ao serviço <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong>de Luso-<br />
Brasileira. Revista nº 3 do <strong>Instituto</strong> Geográfico e Ca<strong>da</strong>stral.<br />
1983.<br />
ADONIAS, I. Mapas e Planos manuscritos relativos ao Brasil<br />
colonial. Ministério <strong>da</strong>s Relações Exteriores. Comemorações<br />
do 5º Centenário <strong>da</strong> morte do Infante D. Henrique. 1960.<br />
Paulo Estrela, colaborador do Núcleo Museológico e Cartoteca do<br />
IGP (pestrela@igeo.pt).
Espaço SNIG<br />
70<br />
INSPIRE<br />
Infrastructure<br />
for Spatial<br />
Information<br />
in Europe<br />
A iniciativa INSPIRE<br />
O INSPIRE, surgiu como uma iniciativa <strong>da</strong> Comissão Europeia,<br />
pretendendo promover a disponibilização de informação<br />
de <strong>na</strong>tureza espacial, utilizável <strong>na</strong> formulação, implementação<br />
e avaliação <strong>da</strong>s políticas ambientais <strong>da</strong> União<br />
Europeia. O seu objectivo é estabelecer um enquadramento<br />
legal para a criação gradual e harmoniza<strong>da</strong> de uma infra-<br />
-estrutura europeia de informação geográfica.<br />
A iniciativa INSPIRE incide inicialmente <strong>na</strong>s necessi<strong>da</strong>des<br />
de informação geográfica para as políticas ambientais, mas<br />
sendo uma iniciativa de <strong>na</strong>tureza inter-sectorial, expandir-<br />
-se-á gradualmente para os outros sectores (agricultura,<br />
transportes,...).<br />
A criação <strong>da</strong> Infra-estrutura Europeia de Informação Geográfica<br />
pretende conduzir à disponibilização junto dos<br />
utilizadores, de serviços integrados de informação de <strong>na</strong>tureza<br />
espacial.<br />
Alexandra Fonseca<br />
Qualquer utilizador deverá poder identificar e aceder a informação<br />
geográfica proveniente de diversas fontes, desde o<br />
nível local até ao nível global, de um modo interoperável e<br />
para uma grande varie<strong>da</strong>de de utilizações.<br />
Os utilizadores alvo <strong>da</strong> iniciativa INSPIRE incluem os responsáveis<br />
pela definição e implementação <strong>da</strong>s políticas ambientais<br />
aos níveis Europeu, <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e local bem como os<br />
ci<strong>da</strong>dãos e as suas organizações.<br />
Potenciais serviços incluirão a visualização de diferentes níveis<br />
de informação, a sobreposição de informação proveniente<br />
de diferentes fontes, a análise espacial e temporal<br />
dessa informação, entre outros.<br />
Em preparação pela Comissão Europeia desde 2001 (pela<br />
DG Environment e Eurostat, com o apoio do Institute for<br />
Environment and Sustai<strong>na</strong>bility (IES) do Joint Research Center<br />
e <strong>da</strong> Agência Europeia do Ambiente), a iniciativa contou<br />
com o contributo de diversos grupos de trabalho (GT)<br />
vocacio<strong>na</strong>dos para a<strong>na</strong>lisar a <strong>na</strong>tureza e as especifici<strong>da</strong>des<br />
técnicas <strong>da</strong>s componentes <strong>da</strong> infra-estrutura. De Janeiro a<br />
Outubro de 2002, foi desenvolvido trabalho no âmbito dos<br />
seguintes grupos:
Espaço SNIG<br />
71<br />
· Dados de Referência e Meta<strong>da</strong>dos<br />
· Arquitectura e Stan<strong>da</strong>rds<br />
· Aspectos Legais e Política de Dados<br />
· Fi<strong>na</strong>nciamento e Estruturas de Implementação<br />
· Análise de Impacte<br />
· Informação Temática Ambiental<br />
Os position papers produzidos no âmbito destes GT serviriam<br />
de suporte à elaboração do texto <strong>da</strong> proposta de directiva<br />
que viria a ser adopta<strong>da</strong> pela Comissão em Julho<br />
de 2004.<br />
(GSDI) Association e de Marc Vanderhaegen <strong>da</strong> DG Environment<br />
<strong>da</strong> Comissão Europeia, um dos elementos associados<br />
à criação <strong>da</strong> iniciativa.<br />
Nesta sessão, foi anuncia<strong>da</strong> a criação de uma pági<strong>na</strong> sobre<br />
o INSPIRE no Sistema Nacio<strong>na</strong>l de Informação Geográfica<br />
(SNIG), http://snig.igeo.pt/inspire/ com o objectivo<br />
de promover a divulgação, junto <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l<br />
de IG, dos desenvolvimentos associados a esta iniciativa<br />
(Fig.1).<br />
Em Junho, Julho e Agosto de 2003 foram produzidos<br />
estudos como resultado do trabalho desenvolvido por novos<br />
GT, que contribuíram também para a consoli<strong>da</strong>ção desta<br />
iniciativa:<br />
· Estratégias de Implementação (Junho de 2003)<br />
· Extended Impact Assessment (Julho de 2003)<br />
· SDI State of Play (Agosto de 2003)<br />
Depois de não ter sido adopta<strong>da</strong> pela Comissão Europeia<br />
em Outubro de 2003 a proposta de directiva viria a ser<br />
reformula<strong>da</strong> com o objectivo de conduzir a uma redefinição<br />
do âmbito e a uma consequente redução de custos. Esta<br />
reformulação foi bem sucedi<strong>da</strong> tendo a proposta sido adopta<strong>da</strong><br />
pela Comissão Europeia em Julho de 2004, tal como já<br />
foi referido. O texto origi<strong>na</strong>l <strong>da</strong> directiva pode ser consultado<br />
no site do INSPIRE (http://www.ec-gis.org/inspire/), bem<br />
como os estudos anteriormente referidos. A proposta de<br />
directiva encontra-se em fase de discussão no Conselho<br />
(Grupo Ambiente) e Parlamento Europeus desde Novembro<br />
de 2004. A Presidência Luxemburguesa pretende obter<br />
um acordo político até Junho próximo.<br />
O processo de elaboração <strong>da</strong> proposta de directiva incluiu<br />
também uma fase de Consulta <strong>na</strong> Internet, realiza<strong>da</strong> entre<br />
Abril e Maio de 2003, que permitiu à Comissão aferir a<br />
sensibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des interessa<strong>da</strong>s nos EM, relativamente<br />
aos princípios fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> iniciativa INSPIRE.<br />
Em Outubro de 2003 foi realizado conjuntamente pelo <strong>Instituto</strong><br />
Geográfico Português (IGP) e pelo <strong>Instituto</strong> do Ambiente<br />
(IA), uma “Sessão de divulgação <strong>da</strong> iniciativa INSPI-<br />
RE”, no Auditório do IA, que contou com a participação de<br />
Ian Masser, Presidente <strong>da</strong> Global Spatial Data Infrastructure<br />
Fig.1. Pági<strong>na</strong> sobre o INSPIRE no SNIG (http://snig.<br />
igeo.pt/inspire/).<br />
Proposta de Directiva INSPIRE<br />
A proposta de Directiva que estabelece uma infra-estrutura<br />
de informação espacial <strong>na</strong> Europa (INSPIRE) foi adopta<strong>da</strong><br />
pela Comissão Europeia em Julho de 2004. Trata-se<br />
de uma framewok directive que depende <strong>da</strong> definição<br />
futura de Regras de Implementação (RI), pelo processo<br />
de comitologia. A proposta de directiva resulta, tal<br />
como já foi referido, do esforço desenvolvido ao longo de<br />
dois anos e meio pela DG Environment e Eurostat, com o apoio<br />
do Institute for Environment and Sustai<strong>na</strong>bility (IES) do<br />
Joint Research Center e <strong>da</strong> Agência Europeia do Ambiente,<br />
e zain<strong>da</strong> de Grupos de Trabalho que para o efeito foram<br />
sendo constituídos.<br />
A proposta de directiva requer a existência em ca<strong>da</strong> Estado-<br />
-Membro (EM), de uma Infra-estrutura de Informação Geográfica<br />
(IIG), disponível <strong>na</strong> Internet ou através de qualquer<br />
outro meio adequado de telecomunicações à disposição
Espaço SNIG<br />
72<br />
do público. A IIG deverá permitir, de forma gratuita, a pesquisa<br />
e visualização dos meta<strong>da</strong>dos e a visualização <strong>da</strong> própria<br />
informação geográfica (IG). A infra-estrutura deverá ain<strong>da</strong><br />
permitir proceder ao download <strong>da</strong> IG, recorrendo a serviços<br />
de cibercomércio nos casos em que tal for necessário.<br />
Deverá igualmente permitir ter acesso a serviços de transformação<br />
<strong>da</strong> IG, bem como a serviços de acesso a serviços<br />
de <strong>da</strong>dos espaciais, que podem também estar sujeitos a<br />
taxas de utilização.<br />
diversi<strong>da</strong>de de situações existentes nos Estados Membros.<br />
O processo de desenvolvimento <strong>da</strong>s regras de implementação<br />
deverá ser suficientemente aberto à participação dos<br />
diferentes intervenientes associados a todo este processo.<br />
A proposta de directiva levanta preocupações relativamente<br />
aos custos e à viabili<strong>da</strong>de de implementação. Seria<br />
importante que fosse feita uma identificação de instrumentos<br />
fi<strong>na</strong>nceiros à disposição dos Estados Membros neste<br />
âmbito.<br />
A informação produzi<strong>da</strong> ou actualiza<strong>da</strong> depois <strong>da</strong> entra<strong>da</strong><br />
em vigor <strong>da</strong> directiva deverá passar a estar harmoniza<strong>da</strong> de<br />
acordo com as RI.<br />
Em termos globais a proposta de directiva inclui sete capítulos<br />
e três anexos (http://snig.igeo.pt/inspire/):<br />
· Capítulo I – Disposições Gerais<br />
· Capítulo II – Meta<strong>da</strong>dos<br />
· Capítulo III – Interoperabili<strong>da</strong>de dos conjuntos e serviços<br />
de <strong>da</strong>dos espaciais<br />
· Capítulo IV – Serviços em Rede<br />
· Capítulo V – Partilha e reutilização dos <strong>da</strong>dos<br />
· Capítulo VI – Coorde<strong>na</strong>ção e medi<strong>da</strong>s complementares<br />
· Capítulo VII – Disposições fi<strong>na</strong>is<br />
· Anexo I, II, III<br />
Um aspecto positivo está associado ao facto <strong>da</strong> proposta de<br />
directiva afirmar que a IIG Europeia terá como base as IIG<br />
existentes nos Estados Membros.<br />
Por outro lado, é muito importante a consideração <strong>da</strong>s iniciativas<br />
inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is já existentes nos domínios associados<br />
a esta temática, como por exemplo os desenvolvimentos<br />
no âmbito dos meta<strong>da</strong>dos e <strong>da</strong> interoperabili<strong>da</strong>de (CEN,<br />
ISO, OGC).<br />
Apesar de se tratar de uma framework directive, a proposta<br />
de directiva apresenta demasia<strong>da</strong> dependência do processo<br />
de comitologia que deverá conduzir à produção de regras<br />
de implementação traduzindo as especificações técnicas<br />
associa<strong>da</strong>s às diferentes componentes <strong>da</strong> infra-estrutura.<br />
Prevê-se que as regras de implementação venham a ser<br />
suficientemente flexíveis para que seja possível abarcar a<br />
Um dos aspectos que se manifesta como de grande<br />
importância é a necessi<strong>da</strong>de de articulação desta proposta<br />
com as Directivas 2003/98/EG (Re-use of Public Sector<br />
Information) e 2003/4/EG (Public access to environmental<br />
information).<br />
Os três Anexos apresentam diferentes necessi<strong>da</strong>des de harmonização<br />
e diferentes timings para a sua concretização. A<br />
distribuição dos temas pelos anexos deveria considerar a<br />
lógica associa<strong>da</strong> à criação de uma infra-estrutura deste tipo<br />
no domínio do Ambiente, mas também a sua exequibili<strong>da</strong>de<br />
pelo conjunto dos Estados Membros.<br />
De realçar que a proposta de directiva não requer a produção<br />
de novos <strong>da</strong>dos, pretendendo sim promover o acesso<br />
aos <strong>da</strong>dos já existentes e conduzir à harmonização prioritária<br />
dos <strong>da</strong>dos produzidos ou actualizados depois <strong>da</strong> entra<strong>da</strong><br />
em vigor <strong>da</strong> directiva.<br />
Um outro aspecto muito importante que a proposta de directiva<br />
prevê, é a participação de terceiros <strong>na</strong> IIG, já que o<br />
sector privado pode ter um papel bastante relevante em<br />
todo este processo.<br />
É muito importante que a implementação seja fasea<strong>da</strong> e<br />
que a harmonização seja reduzi<strong>da</strong> ao mínimo essencial. A<br />
consideração dos requisitos dos utilizadores é um aspecto<br />
essencial que deverá estar sempre presente <strong>na</strong>s várias fases<br />
de criação <strong>da</strong> infra-estrutura. O texto <strong>da</strong> proposta de directiva<br />
parece traduzir até certo ponto esta preocupação.<br />
Por outro lado, prevê-se uma articulação com iniciativas relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s,<br />
como é o caso do Global Monitoring for the<br />
Environment and Security (GMES) e do Galileo, que podem
Espaço SNIG<br />
73<br />
suportar desenvolvimentos que contribuam para a criação<br />
<strong>da</strong> infra-estrutura Europeia, cuja implementação também<br />
trará benefícios para a concretização dos objectivos dos referidos<br />
programas.<br />
Em termos de <strong>da</strong>tas, prevê-se, por exemplo, que os meta<strong>da</strong>dos<br />
<strong>da</strong> informação incluí<strong>da</strong> nos Anexos I e II devam<br />
passar a estar disponíveis 3 anos após entra<strong>da</strong> em vigor <strong>da</strong><br />
directiva e 7 anos no caso <strong>da</strong> informação do Anexo III.<br />
teressados <strong>na</strong> referi<strong>da</strong> fase preparatória em que as regras<br />
de implementação vão ser concebi<strong>da</strong>s. Esta Call permite a<br />
criação de Spatial Data Interest Communities (SDICs) ou a<br />
inscrição de instituições como Legally Man<strong>da</strong>ted Organizations<br />
(LMO). A Call foi disponibiliza<strong>da</strong> no site <strong>da</strong> iniciativa<br />
(http://www.ec-gis.org/inspire/) a 11 de Março, encontrando-se<br />
aberta em permanência, embora a composição inicial<br />
<strong>da</strong>s equipas de trabalho venha a ter por base os que tiverem<br />
manifestado o seu interesse até 29 de Abril.<br />
Em termos de harmonização, os novos <strong>da</strong>dos ou os <strong>da</strong>dos<br />
actualizados do Anexo I deverão estar disponíveis de forma<br />
interoperável e de acordo com as regras de harmonização<br />
previstas, 4 anos após a entra<strong>da</strong> em vigor <strong>da</strong> directiva. No<br />
caso dos Anexos II e III o prazo é de 7 anos.<br />
No âmbito <strong>da</strong> iniciativa foi ain<strong>da</strong> produzido o documento<br />
INSPIRE Work Programme Preparatory Phase 2005-<br />
-2006 que deverá conduzir à elaboração <strong>da</strong>s regras de<br />
implementação.<br />
Foi lança<strong>da</strong> uma Call for Expression of Interest for INSPI-<br />
RE development (preparatory phase 2005 - 2006), com<br />
o objectivo de promover o envolvimento dos principais in-<br />
A discussão no Conselho e Parlamento Europeus tem incidido<br />
predomi<strong>na</strong>ntemente sobre alguns aspectos, como por<br />
exemplo as questões associa<strong>da</strong>s a: excessivo peso <strong>da</strong> comitologia;<br />
possibili<strong>da</strong>de de alteração <strong>da</strong> distribuição dos temas<br />
pelos anexos; análise <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des de articulação com<br />
outras directivas (e.g. as Directivas 2003/98/EC, Re-use of<br />
Public Sector Information e 2003/4/EC; Public access to<br />
environmental information); consideração de restrições em<br />
termos de confidenciali<strong>da</strong>de estatística, protecção de <strong>da</strong>dos<br />
pessoais e direitos de proprie<strong>da</strong>de intelectual no acesso de<br />
informação ao público e <strong>na</strong> partilha de informação entre<br />
autori<strong>da</strong>des públicas.<br />
Esta iniciativa vai ter implicações <strong>na</strong>s IIG dos Estados Membros,<br />
e por exemplo, nos mecanismos de disponibilização<br />
de informação pelas enti<strong>da</strong>des envolvi<strong>da</strong>s, <strong>na</strong>s políticas de<br />
partilha e acesso à informação, <strong>na</strong>s formas de produção de<br />
informação, entre outros.<br />
A criação <strong>da</strong> Infra-estrutura Europeia de Informação Geográfica<br />
pode, no entanto, representar uma oportuni<strong>da</strong>de real<br />
de conduzir a um acesso facilitado à informação geográfica<br />
por todos os ci<strong>da</strong>dãos, e a uma partilha efectiva de informação<br />
entre autori<strong>da</strong>des públicas, factores de grande relevância<br />
para o desenvolvimento económico, social e cultural dos<br />
EM e <strong>da</strong> própria Europa n<br />
Fig.2. Disponibilização do documento INSPIRE Work<br />
Programme Preparatory Phase 2005 – 2006 no site<br />
do INSPIRE (http://www.ec-gis.org/inspire/).<br />
Alexandra Fonseca, Investigadora Auxiliar, <strong>Instituto</strong> Geográfico<br />
Português (afonseca@igeo.pt).
Online<br />
74<br />
Sites Interessantes<br />
http://earth.google.com/<br />
Quase dispensa apresentação, <strong>da</strong>do que já vai sendo<br />
conhecido por uma grande comuni<strong>da</strong>de de utilizadores.<br />
É em todo o caso um excelente exemplo de<br />
cartografia à escala global com possibili<strong>da</strong>de de utilização<br />
para alguns estudos geográficos em diversas<br />
escala de análise, <strong>da</strong>do que possui desde fotografia<br />
por satélite a fotografia aérea. Nem to<strong>da</strong> a cartografia<br />
está actualiza<strong>da</strong>, mas representa no mínino um bom<br />
modelo a desenvolver.<br />
http://www.skylinesoft.com/corporate/<br />
corporate_home.asp<br />
Este sítio refere-se a activi<strong>da</strong>des geográficas e cartográficas,<br />
e inclui o programa de visualização de fotografia<br />
aérea em 3D, Terra Explorer, bastante bem concebido<br />
e com possibili<strong>da</strong>de de poder ser carregado<br />
gratuitamente e trazer alguns exemplos com ci<strong>da</strong>des<br />
de todo o Mundo, que servem para testar as possibili<strong>da</strong>des<br />
do “software”.<br />
http://www.cienciaviva.pt<br />
Agência Nacio<strong>na</strong>l para a Cultura Científica e Tecnológica,<br />
que inclui o segmento Ciência Viva, lançado em<br />
Julho de 1996 - o Ciência Viva tem como missão a<br />
promoção <strong>da</strong> cultura científica e tecnológica junto <strong>da</strong><br />
população portuguesa.
Publicações<br />
75<br />
Espaço dedicado a<br />
publicações adquiri<strong>da</strong>s pelo<br />
Centro de Documentação<br />
Remote<br />
Sensing for<br />
GIS Ma<strong>na</strong>gers<br />
Stan Aronoff<br />
Remote Sensing for GIS Ma<strong>na</strong>gers<br />
Das profundezas do oceano às vastas distâncias do<br />
espaço, a crescente disponibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> tecnologia de<br />
Detecção Remota tem-nos aju<strong>da</strong>do a observar, estu<strong>da</strong>r<br />
e a aprender àcerca do nosso mundo de um modo<br />
que não poderíamos imaginá-lo à gerações atrás.<br />
Neste livro, Stan Aronoff, guia-nos através dos usos,<br />
dos conceitos, <strong>da</strong>s práticas e <strong>da</strong> história <strong>da</strong> Detecção<br />
Remota numa comuni<strong>da</strong>de de Sistemas de Informação<br />
Geográfica em rápido crescimento. Recheado de<br />
cente<strong>na</strong>s de imagens e ilustrações a cores, Remote<br />
Sensing for Ma<strong>na</strong>gers desmistifica o uso desta poderosa<br />
tecnologia em áreas como a agricultura, floresta,<br />
arqueologia, economia, planeamento urbano e aplicações<br />
militares, contendo referências a diversos web<br />
sites sobre a temática motivando o leitor a pesquisar<br />
essas fontes. Desti<strong>na</strong>do aos novos profissio<strong>na</strong>is bem<br />
como aos profissio<strong>na</strong>is com experiência <strong>na</strong> interpretação<br />
de informação de fotografia aérea, ra<strong>da</strong>r, satélites<br />
ou outros métodos de Detecção Remota.<br />
ISBN: 1-58948-081-3,<br />
2005, 524p.<br />
URL: ww.esri.com<br />
GIS, Spatial A<strong>na</strong>lysis, and Modeling<br />
Para os a<strong>na</strong>listas geógrafos, engenheiros de software,<br />
e profissio<strong>na</strong>is SIG, o ‘GIS, Spatial A<strong>na</strong>lysis, and Modeling’<br />
apresenta aplicações e ensaios sobre ferramentas<br />
e métodos actualmente ao dispor para a modelação e<br />
a análise espacial no quadro dos SIG. Escrito por notáveis<br />
escritores com experiência em modelação de<br />
SIG, este livro coloca algumas questões centrais:<br />
Quais as melhores soluções para abor<strong>da</strong>r aproximações<br />
em projectos de simulação geográfica?<br />
Que software está disponível para modelar as dinâmicas<br />
do tempo e do espaço?<br />
Como é que a análise espacial e a modelação têm<br />
sido aplica<strong>da</strong>s a problemas do mundo real?<br />
São algumas <strong>da</strong>s muitas questões respondi<strong>da</strong>s neste<br />
Manual.<br />
GIS, Spatial<br />
A<strong>na</strong>lysis,<br />
and Modeling<br />
Michael Batty;<br />
David Maguire; Michael<br />
Goodchild (Eds.)<br />
ISBN: 1-58948-130-5,<br />
2005, 498 p.<br />
Frontiers of Geographic<br />
Information Technology<br />
Ra<strong>na</strong>, Sanjay;<br />
Sharma, Jayant (Eds.)<br />
2006, X, 326 p. 112 ill.,<br />
21 a cores, Hardcover<br />
ISBN: 3-540-25685-7<br />
December, 2005, 123p.<br />
URL: www.springeronline.com
Normas de Publicação<br />
76<br />
Regras para desenvolvimento<br />
de conteúdos<br />
1. A revista Fórum Geográfico é um espaço aberto ao exterior e à promoção<br />
<strong>da</strong> Informação Geográfica, do seu conhecimento, <strong>da</strong> sua evolução e do seu<br />
debate, bem como <strong>da</strong>s tecnologias que lhe estão associa<strong>da</strong>s, tendo<br />
como propósito <strong>da</strong>r a conhecer os desenvolvimentos <strong>na</strong> investigação científica<br />
no domínio <strong>da</strong>s Ciências Geográficas. Os artigos a apresentar poderão<br />
ser redigidos numa <strong>da</strong>s seguintes línguas: português, inglês, francês<br />
e espanhol.<br />
2. Os artigos publicados são <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de exclusiva dos seus autores<br />
não transmitindo a posição institucio<strong>na</strong>l do <strong>Instituto</strong> Geográfico Português.<br />
3. Os origi<strong>na</strong>is submetidos serão apreciados pelo <strong>Instituto</strong> Geográfico Português<br />
(IGP) que aceitará ou não o artigo proposto para publicação pressupondo<br />
que o mesmo não foi publicado previamente e que não estará a<br />
ser submetido em simultâneo a outras revistas. Os critérios norteadores<br />
para aceitação dos trabalhos pelo IGP são, fun<strong>da</strong>mentalmente, a relevância<br />
científica, a origi<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de e a clareza dos textos apresentados.<br />
4. É <strong>da</strong> exclusiva competência dos autores a obtenção de autorização para a<br />
reprodução de material sujeito a direitos de autor.<br />
5. Os artigos não devem exceder 20 pági<strong>na</strong>s A4, incluindo a bibliografia, as<br />
figuras e os quadros. As notas não devem exceder 10 pági<strong>na</strong>s A4, e as<br />
recensões 3 pági<strong>na</strong>s A4.<br />
6. Os artigos apresentados deverão fazer-se acompanhar de um resumo em<br />
português sobre o essencial do artigo, o qual não deverá exceder os 2000<br />
caracteres (cerca de 320 palavras).<br />
7. Normas para a apresentação de origi<strong>na</strong>is:<br />
7.1. Os origi<strong>na</strong>is submetidos para apreciação deverão ser enviados em<br />
digital (documento Word), formatado em pági<strong>na</strong>s A4 com as seguintes<br />
margens (esq. 3 cm; dir. 2,5 cm; topo 2,5 cm; base 2,5 cm), tipo de letra:<br />
Arial, corpo 12 pts, espaçamento 1,5 linhas, títulos a bold; estrangeirismos<br />
a itálico; citações entre aspas.<br />
7.2. As indicações bibliográficas <strong>da</strong>s citações, bem como as notas surgi<strong>da</strong>s<br />
no decurso do artigo deverão ser coloca<strong>da</strong>s em notas de ro<strong>da</strong>pé.<br />
7.3. Os textos apresentados, quando incluírem materiais gráficos, devem<br />
fazer-se acompanhar dos respectivos origi<strong>na</strong>is em bom estado. As figuras<br />
e imagens devem ser entregues em digital (tif ou jpg) com quali<strong>da</strong>de<br />
eleva<strong>da</strong> segundo a regra: dimensão de publicação em resolução igual ou<br />
superior a 300 dpi, as imagens deverão ser faculta<strong>da</strong>s <strong>na</strong> sua maior dimensão<br />
e resolução possível de modo a permitir uma pagi<strong>na</strong>ção livre<br />
dos conteúdos. Os ficheiros de imagem devem ser entregues à parte,<br />
no entanto, devem ser incluídos no texto como sugestão <strong>da</strong> sequência<br />
pretendi<strong>da</strong> dos conteúdos. Solicita-se uma indicação clara <strong>da</strong>s respectivas<br />
legen<strong>da</strong>s. Os quadros e figuras deverão ser referidos no texto e os títulos<br />
deverão ser curtos e claros.<br />
7.4. Os origi<strong>na</strong>is apresentados devem contemplar o endereço electrónico<br />
profissio<strong>na</strong>l do autor e a função (profissão) exerci<strong>da</strong>.<br />
8. Normas para a descrição <strong>da</strong> bibliografia.<br />
8.1. Na bibliografia devem estar presentes to<strong>da</strong>s as referências cita<strong>da</strong>s no<br />
texto. As referências bibliográficas deverão ser elabora<strong>da</strong>s <strong>da</strong> seguinte forma:<br />
a. Monografias, livros e obras:<br />
· APELIDO, Nome próprio (ano), Título, Local <strong>da</strong> Edição, Editora,<br />
Ano (eventual referência à edição).<br />
- MERRICK, Lewis F. (2006), Geographic information systems: an introduction,<br />
London, Pergamon Press, 2005 (3ª ed.).<br />
- CANVENDISH, Larry F. et al (2006), Geographic information systems:<br />
an introduction, London, Pergamon Press, 2005 (3ª ed.).<br />
b. Artigo publicado em Monografia e obras compila<strong>da</strong>s:<br />
· APELIDO, Nome próprio, APELIDO, Nome próprio, Título do Artigo,<br />
in APELIDO, Nome próprio (org.) / (ed.) / (comp.) (ano),<br />
Título <strong>da</strong> Colectânea, Local <strong>da</strong> Edição, Editor.<br />
- SMITH, J., CARTER, P., MERRICK, L., Geographical information from<br />
research to application through cooperation in MARVEL, John H. (org.)<br />
(2005), Hearth Sciences, London, Taylor & Francis.<br />
c. Artigo publicado em Revistas e publicações em série:<br />
· APELIDO, Nome próprio, Título do Artigo, Nome <strong>da</strong> Revista,<br />
Volume, Número, Data, Pági<strong>na</strong>s.<br />
- SMITH, J.; CARTER, P.; MERRICK, L., Visualising different geofuture, Inter<strong>na</strong>tio<strong>na</strong>l<br />
Jour<strong>na</strong>l of Information Systems, Vol. XXI, Nº 4, 2005, p.23-55.<br />
d. Documentos electrónicos:<br />
· APELIDO, Nome próprio, Título do Artigo, tipo de suporte, endereço<br />
electrónico, <strong>da</strong>ta <strong>da</strong> consulta.<br />
- SMITH, J. and CARTER, P., Visualising different geofuture,<br />
http://www.igo.pt, 2004.<br />
8.2. O apelido dos autores citados no texto deverá ser escrito em maíusculas,<br />
sem sublinhados nem itálicos, seguido do ano de publicação. Quando<br />
forem citados em bibliografia dois ou mais autores com o mesmo apelido<br />
dever-se-á indicar as iniciais do nome próprio. Caso a referência bibliográfica<br />
seja composta por mais de três autores, cita-se só o primeiro autor<br />
seguido de et al.<br />
9. Todos os autores receberão 5 exemplares <strong>da</strong> Revista Fórum Geográfico.<br />
10. Direitos de Edição – Todos os direitos de edição pertencem ao <strong>Instituto</strong><br />
Geográfico Português.