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O Papel da Informação Geográfica na Sociedade - Instituto ...

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Ano I ∙ Nº1 ∙ Outubro 2006<br />

O <strong>Papel</strong> <strong>da</strong> Informação<br />

Geográfica <strong>na</strong> Socie<strong>da</strong>de


Colu<strong>na</strong> do Presidente<br />

3<br />

“O IGP acompanha a<br />

evolução do fenómeno <strong>da</strong><br />

informação geográfica.”<br />

actual Estatuto do <strong>Instituto</strong> Geográfico Português (IGP) confere-lhe as competências<br />

dos organismos que lhe deram origem, às quais se juntou de<br />

O<br />

forma clara e inequívoca uma nova atribuição, a de Autori<strong>da</strong>de Nacio<strong>na</strong>l para o<br />

sector. Esta competência simboliza o papel prioritário que deve caber ao Estado<br />

<strong>na</strong>s socie<strong>da</strong>des moder<strong>na</strong>s, conferindo ao <strong>Instituto</strong> a responsabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> gestão <strong>da</strong><br />

quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> informação geográfica e <strong>da</strong> sua difusão aos diferentes utilizadores.<br />

O IGP está, e sempre estará, atento às necessi<strong>da</strong>des dos utilizadores, públicos<br />

ou privados, e procurará acompanhar a evolução do fenómeno <strong>da</strong> informação<br />

geográfica, cartográfica e ca<strong>da</strong>stral, no plano <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. Ciente que,<br />

existindo três tipos de organizações – as que fazem as coisas acontecer, as que<br />

assistem ao desenrolar dos acontecimentos e as que não compreendem porque<br />

é que as coisas acontecem – o seu lugar é entre as primeiras.<br />

A Revista Fórum Geográfico é, <strong>na</strong> sua forma de apresentação pública, uma publicação<br />

simultaneamente de cariz tradicio<strong>na</strong>l e moderno - combi<strong>na</strong>ndo a versão<br />

clássica com a sua equivalente digital. Ambicio<strong>na</strong>-se que este Fórum possa vir a<br />

assumir-se, pela sua quali<strong>da</strong>de e num futuro próximo, como o mais relevante veículo<br />

<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l difusor <strong>da</strong>s ciências e tecnologias geográficas à geo-comuni<strong>da</strong>de.<br />

A evolução que se perspectiva para o sector <strong>da</strong> informação geográfica nos próximos<br />

anos está intrinsecamente liga<strong>da</strong> ao que a iniciativa INSPIRE (INfrastructure<br />

for SPatial InfoRmation in Europe) vier a estabelecer para todos os seus Estados<br />

membros. Com esta iniciativa pretende-se, de acordo com os respectivos objectivos,<br />

promover a disponibilização de informação de <strong>na</strong>tureza espacial, utilizável <strong>na</strong><br />

formulação, implementação e avaliação <strong>da</strong>s políticas <strong>da</strong> União Europeia, estabelecendo<br />

para o efeito um enquadramento legal para a criação gradual e harmoniza<strong>da</strong><br />

de uma infra-estrutura europeia de informação geográfica. A condução dos<br />

trabalhos está a cargo <strong>da</strong> Comissão Europeia, via DG Environment e Eurostat, com<br />

o apoio do Institute for Environment and Sustai<strong>na</strong>bility (IES) do Joint Research<br />

Centre e <strong>da</strong> Agência Europeia do Ambiente n<br />

Arménio Castanheira


Editorial<br />

4<br />

<strong>Instituto</strong> Geográfico Português tem vindo a consoli<strong>da</strong>r uma estratégia de<br />

O abertura ao exterior e de promoção <strong>da</strong> Informação Geográfica, do seu conhecimento,<br />

<strong>da</strong> sua evolução e do seu debate, bem como <strong>da</strong>s tecnologias que<br />

lhe estão associa<strong>da</strong>s. Assim, através <strong>da</strong> publicação semestral <strong>da</strong> Revista Fórum<br />

Geográfico, de que este é o primeiro número, esperamos contribuir de forma<br />

mais eficaz para esse processo.<br />

Desde os mais remotos tempos <strong>da</strong> antigui<strong>da</strong>de, o Homem sempre procurou<br />

valorizar o conhecimento geográfico em seu proveito, seja para a promoção <strong>da</strong><br />

riqueza e do desenvolvimento, seja para a conquista e defesa ou seja para a protecção<br />

e valorização do território.<br />

Hoje, muito mais do que a representação<br />

cartográfica do espaço (por <strong>na</strong>tureza<br />

estática), importa a informação<br />

que sobre ele se consegue coligir,<br />

organizar, aceder e explorar, numa<br />

perspectiva pragmática e dinâmica.<br />

Mais do que simples repositórios de<br />

<strong>da</strong>dos, é imprescindível abrir e fazer<br />

uso <strong>da</strong> informação existente, através<br />

<strong>da</strong>s infra-estruturas <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

Informação e do Conhecimento.<br />

O <strong>Papel</strong> <strong>da</strong> Informação<br />

Geográfica <strong>na</strong> Socie<strong>da</strong>de<br />

Assim, para <strong>da</strong>r início a este projecto editorial considerou-se que se deveria discutir<br />

e perspectivar qual o papel que a Informação Geográfica pode ter no contexto do<br />

desenvolvimento <strong>da</strong> própria Socie<strong>da</strong>de.<br />

Nesta perspectiva convidámos três conhecidos académicos, ca<strong>da</strong> um deles representando<br />

sensibili<strong>da</strong>des diferentes, para nos responderem à questão fulcral: qual<br />

o papel <strong>da</strong> Informação Geográfica <strong>na</strong> Socie<strong>da</strong>de?<br />

O resultado são três magníficos testemunhos, aos quais se juntaram outros artigos<br />

relacio<strong>na</strong>dos com a activi<strong>da</strong>de do <strong>Instituto</strong> e que dão uma imagem exemplificativa<br />

<strong>da</strong> abrangência dos temas englobados pela Informação Geográfica.<br />

Assim será nos próximos números, onde se pretende que haja uma participação<br />

activa de todos quantos o queiram fazer, ficando aqui o compromisso de deixar<br />

um espaço aberto, de acordo com os princípios de participação adiante enunciados.<br />

Leiam, debatam e participem! Este espaço é vosso!<br />

Rui Pedro Julião


Índice<br />

Colu<strong>na</strong> do Presidente<br />

3<br />

Editorial<br />

O <strong>Papel</strong> <strong>da</strong> Informação Geográfica <strong>na</strong> Socie<strong>da</strong>de<br />

4<br />

Destaque<br />

E se os utilizadores <strong>da</strong> informação<br />

geográfica se revoltassem?<br />

A Fórmula do Dr. Livingstone<br />

A Informação Geográfica, a Geografia e a Internet<br />

6<br />

16<br />

26<br />

Artigos<br />

Câmara Aérea Digital - Ortofotomapas<br />

Relações inter-institucio<strong>na</strong>is descentraliza<strong>da</strong>s<br />

O Convénio Cartográfico Luso-Brasileiro de 1867<br />

Génese <strong>da</strong> Cartoteca do <strong>Instituto</strong><br />

Geográfico Português<br />

39<br />

49<br />

58<br />

Espaço SNIG<br />

INSPIRE 70<br />

Online<br />

Sites Interessantes 74<br />

Publicações<br />

Espaço dedicado a publicações adquiri<strong>da</strong>s pelo 75<br />

Centro de Documentação<br />

Normas de Publicação<br />

Regras para desenvolvimento de conteúdos 76<br />

Edição e Proprie<strong>da</strong>de ∙ <strong>Instituto</strong> Geográfico Português<br />

Director ∙ Rui Pedro Julião<br />

Colaboram neste número ∙ Alexandra Fonseca, João Matos, Marco<br />

Paínho, Maria Hele<strong>na</strong> Dias, Paulo Jorge Estrela, Paulo Patrício,<br />

Van<strong>da</strong> Soares Machado<br />

Coorde<strong>na</strong>ção editorial ∙ Paula Camacho<br />

Design ∙ FPGB - Consultoria e Design<br />

Produção gráfica ∙ Eurodois<br />

Tiragem ∙ 1 000 exemplares<br />

Depósito legal ∙ 248397/06<br />

ISSN ∙ 1646 - 1517<br />

Contactos ∙ Rua Artilharia Um, 107 - 1099-052 Lisboa<br />

Telf.: 21 381 96 00 ∙ Fax: 21 381 96 99<br />

Email: forumgeografico@igeo.pt ∙ URL: http://www.igeo.pt<br />

Os artigos publicados são <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de dos seus autores não<br />

transmitindo obrigatoriamente a posição institucio<strong>na</strong>l do <strong>Instituto</strong><br />

Geográfico Português.


Destaque<br />

6<br />

E se os utilizadores <strong>da</strong> informação<br />

geográfica se revoltassem?<br />

laoret fare<br />

Algumas reflexões de desafio à cartografia portuguesa<br />

“(…) Eu especulo. Os criadores de mapas têm de especular, pois sabem que<br />

não estão <strong>na</strong> posse de todos os <strong>da</strong>dos. Estamos sempre a li<strong>da</strong>r com <strong>na</strong>rrativas<br />

em segun<strong>da</strong> mão, resumos de impressões. Não trabalhamos com uma ciência<br />

exacta. (…)<br />

Maria Hele<strong>na</strong> Dias<br />

Os criadores de mapas enfeitam o mundo, e eu não sou excepção. Os meus<br />

mapas são elaborados para transmitir uma ilusão, disso tenho a certeza. (…)<br />

Ocorreu-me a ideia de fazer um mapa que desafiasse qualquer categoria e<br />

género. Esse mapa conteria todos os mapas, um mapa difícil de ser definido;<br />

devido a essa falta de definição, no entanto, esse mapa seria em si uma definição<br />

mais precisa.<br />

Não se desti<strong>na</strong>ria a advogar qualquer política ou convicção particular. Pelo contrário,<br />

queria que o meu mapa mostrasse a terra no céu e o céu <strong>na</strong> terra; um mapa<br />

que fosse o protótipo de todos os mapas espalhados no espaço e no tempo. Seria<br />

um projecto pelo qual o mundo poderia entregar-se, em fragmentos, ao olhar<br />

aberto e inquisidor de todos. Tinha muita esperança de que tal mapa pudesse <strong>da</strong>r<br />

origem a outro mapa, e a outro ain<strong>da</strong>, para além dele. (…) Acredito realmente<br />

que o meu mapa é uma distorção. To<strong>da</strong>s as representações de terras e oceanos<br />

são ape<strong>na</strong>s a manifestação do que captei (…). Agora percebo que o mundo só é<br />

real no modo como ca<strong>da</strong> um imprime nele a sua própria sensibili<strong>da</strong>de. (…)<br />

Os continentes e os povos só se afirmam como tal a partir <strong>da</strong> imagem que constroem<br />

de si próprios. To<strong>da</strong> a localização geográfica provou ser ilusória. A conclusão<br />

lógica é que a ver<strong>da</strong>deira localização do mundo, com os seus países, as<br />

montanhas, os rios e as ci<strong>da</strong>des, depende dos olhos dos observadores. É ali que<br />

as representações individuais participam <strong>da</strong> condição de sonho que as pessoas<br />

associam à invenção. (…) Fi<strong>na</strong>lmente compus o mundo. (…) Olhando o mapa,<br />

começo a ver nele o meu retrato. (…)”.<br />

As meditações de Fra Mauro em “O sonho do cartógrafo” de James Cowan, 2000


Destaque<br />

7<br />

Mapa-múndi de Fra Mauro, 1459.<br />

Reprodução a partir do Atlas do Visconde de Santarém<br />

(1849), tendo o origi<strong>na</strong>l cerca de 2 metros<br />

de diâmetro.


Destaque<br />

8<br />

Uma história do passado<br />

Há pouco mais de 200 anos, um eminente matemático e<br />

astrónomo português, ao ser nomeado pelo governo para<br />

lançar as bases <strong>da</strong> moder<strong>na</strong> Cartografia, aventurou-se, antes<br />

de tudo, à descoberta do país. Era preciso começar por<br />

saber onde se situavam as montanhas principais e o que se<br />

avistava de ca<strong>da</strong> topo relevante, bem como encontrar uma<br />

planície de dimensão suficiente a sul do território e outra<br />

a norte, com vista a estabelecer um esquema adequado<br />

de triângulos e as bases para as medições geodésicas. Ele,<br />

Francisco António Ciera (1763-1814), ao partir para a sua<br />

primeira expedição geográfica de reconhecimento, levava<br />

<strong>na</strong> mão uma carta espanhola então muito em voga. Nela,<br />

o relevo era figurado por curiosos montículos, alinhados no<br />

espaço disponível entre os cursos de água, sem grande correspondência<br />

com a imagem que hoje temos deste aspecto<br />

<strong>da</strong> fisionomia do País: a densi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s formas desenha<strong>da</strong>s<br />

a sul do Tejo sugeria contrastes com o desconhecido vazio<br />

<strong>da</strong> Cordilheira Central e com as ignora<strong>da</strong>s regiões do Douro<br />

e Minho.<br />

Nesse distante Outono de 1790, partira de Lisboa em direcção<br />

a Évora e, <strong>da</strong>í, começou por procurar a imaginária<br />

Serra de S. João, tão representa<strong>da</strong> <strong>na</strong>s cartas <strong>da</strong> época: “Em<br />

Alcáçovas ninguém houve que desse notícia <strong>da</strong> Serra; porém,<br />

informando-me dos sítios mais altos, que <strong>na</strong>s vizinhanças se<br />

conheciam, achei que a de Nossa Senhora <strong>da</strong> Esperança,<br />

situa<strong>da</strong> no cume de um monte, era o ponto mais elevado;<br />

parti, pois, sem per<strong>da</strong> de tempo para o dito lugar e, depois<br />

de 2 horas de caminho a pé extremamente penoso pela<br />

muita calma que então se experimentava nesse sítio, como<br />

também por an<strong>da</strong>r sempre por um terreno de estevas que<br />

formava um mato muito denso, cheguei à Ermi<strong>da</strong>. Porém,<br />

os horizontes acinzados, que não permitiam observar os<br />

objectos ao longe, frustraram todo o trabalho. Vendo-me<br />

pois obrigado a esperar por dias claros, e isto numa terra<br />

onde quase todos os habitantes padeciam então de sezões,<br />

tomei o partido de continuar a viagem e procurar algum<br />

outro ponto. A vila de Ferreira representa-se <strong>na</strong> carta como<br />

situa<strong>da</strong> num grande alto. Dirigi o caminho para esta vila,<br />

aonde cheguei no dia 16, ao meio-dia. Esta viagem foi muito<br />

cheia de incómodos e ia sendo funesta para mim e um<br />

aju<strong>da</strong>nte que, por não se terem achado cavalgaduras, me<br />

acompanhava em caleça, a qual <strong>na</strong> noite antecedente perdendo<br />

o prático o caminho tombou numa cova e por um<br />

feliz sucesso, que raríssimas vezes costuma ter lugar em<br />

semelhantes casos, não sofremos incómodo que impedisse<br />

continuar. Ferreira não é, como se representa <strong>na</strong> carta, um<br />

grande alto (…)”.<br />

laoret fare<br />

A descrição que fez <strong>da</strong>s duas viagens, primeiro pelo sul, em<br />

fi<strong>na</strong>is de 1790, e depois a norte de Lisboa, <strong>na</strong> Primavera do<br />

ano seguinte, provam bem que o plano <strong>da</strong> primeira rede<br />

de triangulação teve que ser gizado no terreno, escalando<br />

penosamente as montanhas com os instrumentos, e não<br />

planeado sobre uma carta, como hoje <strong>na</strong>turalmente se faria.<br />

E as dificul<strong>da</strong>des foram ain<strong>da</strong> maiores no norte de Portugal,<br />

quando pretendeu referenciar as serras que avistava no Minho<br />

e em Trás-os-Montes, quase desconheci<strong>da</strong>s. Mas a carta<br />

de Tomás Lopez, de que Ciera se servia, não permitia <strong>da</strong>r<br />

uma ideia, mesmo que aproxima<strong>da</strong>, do relevo de Portugal.<br />

Das três primeiras expedições geográficas (1790-91) resultou<br />

uma carta que o próprio Ciera construiu (Fig.1), que nos<br />

testemunha hoje onde ele pretendeu inicialmente realizar<br />

as suas observações geodésicas, as primeiras à escala do<br />

país, com vista à medição do grau de meridiano e, sobretudo,<br />

à elaboração <strong>da</strong> primeira carta topográfica detalha<strong>da</strong> de<br />

que estava encarregado (DIAS, no prelo) 1 .<br />

Nesta época, as alturas <strong>da</strong>s montanhas portuguesas eram<br />

ain<strong>da</strong> completamente desconheci<strong>da</strong>s. Só depois de suspensos<br />

os trabalhos geodésicos, em 1804, Marino Miguel Franzini<br />

apresentaria (ca.1808), por dedução a partir dos ângulos<br />

medidos <strong>na</strong>s triangulações efectua<strong>da</strong>s sob a direcção de<br />

Ciera, as alturas de uma deze<strong>na</strong> e meia de locais. Na carta<br />

hidrográfica que aquele publicaria em 1811, alguns pontos<br />

relevantes ao longo <strong>da</strong> costa apareciam já assi<strong>na</strong>lados com<br />

essas alturas. Estes e outros valores, nem sempre coincidentes<br />

por dependerem <strong>da</strong> sua proveniência, seriam sistematizados<br />

e graficamente apresentados, em 1824, pelo Barão de<br />

Eschewege (Fig.2), mostrando, por exemplo, que a Serra do<br />

Soajo era considera<strong>da</strong> a mais alta de Portugal, com 2400 m<br />

(1335 m <strong>na</strong>s cartas actuais, a ser ver<strong>da</strong>de tratar-se <strong>da</strong> serra<br />

1 Trabalho desenvolvido no quadro do Projecto SIDCarta / Sistema<br />

de Informação para Documentação Cartográfica: o Espólio <strong>da</strong> Engenharia<br />

Militar Portuguesa (POCTI/43111/GEO/2001), aprovado<br />

pela FCT e co-fi<strong>na</strong>nciado pelo FEDER, do qual a autora é Investigadora<br />

Responsável.


Destaque<br />

9<br />

com a mesma desig<strong>na</strong>ção), enquanto se atribuía para a Serra<br />

<strong>da</strong> Estrela uns mais modestos 2100 a 2300 m, consoante<br />

os autores (1993 m <strong>na</strong>s cartas actuais).<br />

Serve este curto relato de há 200 anos para relembrar, sobretudo<br />

a quem vive intensamente para as tecnologias do<br />

presente, que houve um tempo, não tão longínquo quanto<br />

por vezes se supõe, em que o défice de informação geográfica<br />

fez mover a Cartografia. Os levantamentos de base<br />

consoli<strong>da</strong>ram-se lentamente no decurso de Oitocentos,<br />

<strong>na</strong> mesma altura em que surgiram as primeiras representações<br />

temáticas. E os <strong>da</strong>dos geográficos, associados ou<br />

não com os diferentes ramos que se iam então desmembrando<br />

<strong>da</strong> Cartografia, aumentariam extraordi<strong>na</strong>riamente<br />

no decurso do século XX. O desenvolvimento <strong>da</strong>s Ciências<br />

Cartográficas propiciaria, a par com os restantes avanços<br />

científicos e tecnológicos e as necessi<strong>da</strong>des de uma socie<strong>da</strong>de<br />

ca<strong>da</strong> vez mais globalizante, que se chegasse à super<br />

abundância actual.<br />

Algumas preocupações do presente<br />

Temas cartográficos clássicos do século XX projectam-se<br />

hoje do papel para a esfera virtual, a<strong>da</strong>ptando-se às novas<br />

condições de produção e de visualização. São exemplos<br />

dessas heranças estáticas, que não perdem por isso o seu<br />

lugar relevante, as duas cartas que escolhemos do “Atlas do<br />

Parque Natural de Sintra-Cascais” (BALTAZAR e MARTINS,<br />

2004) 2 : a carta hipsométrica (Fig.3) e a <strong>da</strong> distribuição<br />

<strong>da</strong> população em 2001 (Fig.4). Elas servem para ilustrar<br />

como é possível exigir <strong>da</strong>s ferramentas SIG, com que foram<br />

construí<strong>da</strong>s, uma quali<strong>da</strong>de técnica e conceptual que não<br />

desvirtue aquela que a Cartografia nos foi, ao longo do tempo,<br />

habituando. Em particular, no caso <strong>da</strong> representação <strong>da</strong><br />

distribuição <strong>da</strong> população, os instrumentos actuais vieram<br />

facilitar a concepção tradicio<strong>na</strong>l.<br />

Fig.1. Primeiro esquema de triangulação projectado<br />

por Ciera após as expedições geográficas de 1790-91.<br />

Reprodução do origi<strong>na</strong>l pertencente à Direcção dos<br />

Serviços de Engenharia.<br />

2 Este projecto foi desenvolvido, sob nossa coorde<strong>na</strong>ção, no quadro<br />

do Seminário <strong>da</strong> variante de Cartografia e SIG (2003/2004) <strong>da</strong> licenciatura<br />

em Geografia <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Letras <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />

de Lisboa, cujos resultados se encontram disponíveis <strong>na</strong> Internet,<br />

aguar<strong>da</strong>ndo-se a sua publicação, em CD-ROM, pelo Parque Natural<br />

de Sintra-Cascais.<br />

Fig.2. As alturas conheci<strong>da</strong>s em 1824 de alguns pontos<br />

altos de Portugal, segundo o Barão de Eschewege.<br />

Reprodução do origi<strong>na</strong>l pertencente ao <strong>Instituto</strong><br />

Geográfico Português.


Destaque<br />

10<br />

Fig.3. Carta hipsométrica segundo o “Atlas do Parque<br />

Natural de Sintra-Cascais” (BALTAZAR e MARTINS,<br />

2004).<br />

Fig.4. Distribuição <strong>da</strong> população em 2001 segundo o<br />

“Atlas do Parque Natural de Sintra-Cascais”<br />

( BALTAZAR e MARTINS, 2004).<br />

Embora metodologicamente simples, a realização <strong>da</strong>s cartas<br />

de pontos era extremamente penosa quando feita em papel<br />

(DIAS, 1991), sobretudo pela necessi<strong>da</strong>de de referenciar<br />

sobre cartas topográficas suficientemente detalha<strong>da</strong>s (e<br />

desigualmente desactualiza<strong>da</strong>s) os lugares habitados: primeiro,<br />

os que estavam acima de certo limiar de população;<br />

depois, os de dimensão seguinte, até perfazerem, com os<br />

anteriores, todos os habitantes de uma certa malha administrativa.<br />

Mas outras dificul<strong>da</strong>des surgiam ain<strong>da</strong> a jusante,<br />

quando a simbolização era feita por tentativas <strong>na</strong>s áreas de<br />

povoamento mais denso, procurando-se simultaneamente<br />

a melhor escolha para o valor e para a dimensão do ponto.<br />

a escolha de uma malha muito fi<strong>na</strong> para essa base, que<br />

dilua os efeitos <strong>da</strong> falsa atribuição geográfica dos símbolos;<br />

para aproximar a imagem <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, impõem-se ain<strong>da</strong><br />

restrições ao modelo, não permitindo a repartição em áreas<br />

onde não seja viável a permanência huma<strong>na</strong>, e reduz-se<br />

drasticamente a escala <strong>da</strong> carta.<br />

Embora as imagens estáticas sejam ain<strong>da</strong> largamente preponderantes<br />

no universo português <strong>da</strong> Cartografia digital, o<br />

“Atlas do Ambiente” tipifica bem, <strong>na</strong>s duas versões virtuais<br />

actualmente disponíveis <strong>na</strong> Internet, alguns problemas com<br />

que se confrontam os utilizadores comuns.<br />

Às limitações actuais <strong>da</strong> execução dos mapas de pontos com<br />

as ferramentas disponíveis - que as há -, resta por enquanto<br />

contorná-las: a repartição dos pontos numa certa base<br />

espacial imposta por estas ferramentas é ultrapassa<strong>da</strong> com<br />

Deste atlas existe também uma edição em papel, produzi<strong>da</strong><br />

desde 1975 <strong>na</strong> escala de 1:1 000 000 (DIAS, 1984), e ain<strong>da</strong><br />

várias digitais em CD-ROM (Direcção-Geral do Ambiente,<br />

versão 3, 1998), em que as cartas, de fraca quali<strong>da</strong>de, não


Destaque<br />

11<br />

são semelhantes às <strong>da</strong> edição anterior. Daquele atlas virtual<br />

escolheu-se um tema cartograficamente muito pobre, o <strong>da</strong>s<br />

ferrovias, para mostrar como uma informação largamente<br />

conheci<strong>da</strong> é vista e pode ser utiliza<strong>da</strong>. Este tema é ilustrado<br />

<strong>na</strong> figura 5, através <strong>da</strong> imagem minimalista que se encontra<br />

<strong>na</strong> Internet, pensa<strong>da</strong> com certeza para quem procede em<br />

segui<strong>da</strong> à cópia dos ficheiros <strong>da</strong> carta origi<strong>na</strong>l.<br />

Na figura 6 apresenta-se uma parte <strong>da</strong> mesma carta, correspondente<br />

agora à versão dinâmica do atlas, que também aí<br />

se encontra, esta supostamente idealiza<strong>da</strong> para a generali<strong>da</strong>de<br />

dos utentes.<br />

Graficamente pouco diferentes <strong>na</strong>s duas versões, as possibili<strong>da</strong>des<br />

de interacção com o utilizador nesta última limitam-se<br />

ape<strong>na</strong>s à inclusão, se deseja<strong>da</strong> por este, dos limites de distrito<br />

ou concelho (que, se não seleccio<strong>na</strong>dos, origi<strong>na</strong>rão um<br />

país sem fronteira e sem linha de costa) e dos respectivos<br />

topónimos, para além <strong>da</strong>s operações habituais: ampliar,<br />

reduzir ou arrastar a imagem. Sendo possível a cópia dos<br />

ficheiros <strong>da</strong>s cartas do atlas digital, embora em dois formatos<br />

ape<strong>na</strong>s vulgarizados entre quem trabalha em ambiente<br />

SIG 3 , o número <strong>da</strong>s que foram recentemente efectua<strong>da</strong>s<br />

diz pouco, por isso mesmo, <strong>da</strong> apetência dos utilizadores<br />

portugueses: quase 31 000 ficheiros foram importados em<br />

2004 e 9 000 nos dois primeiros meses de 2005 (passando,<br />

portanto, de cerca de 85 para 150 diariamente), sendo<br />

sobretudo procura<strong>da</strong>s as informações respeitantes às curvas<br />

de nível, aos concelhos e à rede hidrográfica.<br />

Apesar do esforço efectuado pelo <strong>Instituto</strong> do Ambiente,<br />

nomea<strong>da</strong>mente <strong>na</strong> disponibilização <strong>da</strong>s notícias explicativas<br />

e <strong>da</strong>s cópias dos origi<strong>na</strong>is <strong>da</strong>s cartas, o exemplo do<br />

atlas dinâmico (Fig.6) mostra que, para além <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de<br />

de grandes melhorias do ponto de vista cartográfico,<br />

é muito pobre a interacção susceptível de ser gera<strong>da</strong> com<br />

o utilizador 4 , a quem não chega a ser possível conhecer<br />

informações relevantes, obviamente relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s, que nos<br />

pareciam aí deverem constar (como as estações de caminho-de-ferro<br />

ou outras, neste caso). Muito menos há ligações,<br />

que o utilizador certamente desejaria, com outras bases<br />

de <strong>da</strong>dos (para a consulta de percursos dos comboios,<br />

horários, etc.).<br />

Ferrovias<br />

De <strong>na</strong>tureza diferente é o recente e interessante IGeoE-<br />

SIG, disponibilizado <strong>na</strong> Internet pelo <strong>Instituto</strong> Geográfico do<br />

Exército 5 a partir de informação <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de deste<br />

Fig.5. Carta <strong>da</strong>s ferrovias no “Atlas do Ambiente”<br />

digital (<strong>Instituto</strong> do Ambiente, 2005).<br />

3 MrSID e Shapefile.<br />

4 Sobre os tipos de interactivi<strong>da</strong>de em ambientes cartográficos<br />

digitais (com os <strong>da</strong>dos, a sua representação, a dimensão temporal<br />

e o contexto) e o grau de sofisticação relacio<strong>na</strong>do com as tarefas<br />

interactivas, veja-se CRAMPTON, 2002.<br />

5 Disponível em http://www.igeoe.pt/.


Destaque<br />

12<br />

representações do mundo. Não se pense, contudo, que as<br />

cartas anima<strong>da</strong>s são de hoje: já nos anos 40 elas foram<br />

incluí<strong>da</strong>s em filmes de animação, através de cente<strong>na</strong>s de<br />

imagens manualmente desenha<strong>da</strong>s e vistas em ape<strong>na</strong>s alguns<br />

segundos.<br />

IA - Atlas do Ambiente 0 18km<br />

Fig.6. Extracto <strong>da</strong> carta <strong>da</strong>s ferrovias no “Atlas do<br />

Ambiente” dinâmico (<strong>Instituto</strong> do Ambiente, 2005).<br />

organismo. Pela maior complexi<strong>da</strong>de desta ferramenta, parece-nos<br />

que ela é ape<strong>na</strong>s acessível ao restrito público dos<br />

profissio<strong>na</strong>is <strong>da</strong> área, que, no entanto, estão impossibilitados<br />

de efectuarem cópias dos ficheiros. Mas, passa<strong>da</strong> esta fase<br />

experimental, parte substancial <strong>da</strong> informação poder-se-á<br />

perfeitamente a<strong>da</strong>ptar, com sucesso, à curiosi<strong>da</strong>de e aos<br />

interesses dos utilizadores comuns. Por isso, e apesar de<br />

possuir ape<strong>na</strong>s alguns meses de vi<strong>da</strong>, os 44 acessos diários<br />

médios, com uma duração de um pouco mais de 25 minutos<br />

ca<strong>da</strong> (que correspondem até ao momento presente a<br />

cerca de 900 000 pedidos de visualização para um total de<br />

8 000 acessos), dizem bem de uma ferramenta que poderíamos<br />

considerar ain<strong>da</strong>, de certa forma, elitista, embora a<br />

instituição responsável preten<strong>da</strong> que ela contribua para um<br />

“acréscimo do direito de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia dos portugueses”.<br />

Para além <strong>da</strong>s imagens estáticas, mais tradicio<strong>na</strong>is, que<br />

têm passado simplesmente do papel para o mundo virtual<br />

(quantas vezes com pior quali<strong>da</strong>de), ou mesmo que<br />

já aqui <strong>na</strong>sceram, e de imagens que começaram recentemente<br />

a apresentar algum di<strong>na</strong>mismo (que desejaríamos<br />

mais promissor), a Cartografia começa agora a ver também<br />

concretiza<strong>da</strong> uma antiga aspiração: a animação <strong>da</strong>s suas<br />

Exemplos de cariz mais científico iniciaram-se a partir dos<br />

anos 60, com o apoio dos robustos computadores deste<br />

período. Neste caso, as sucessivas imagens individuais <strong>da</strong>s<br />

cartas, para se tor<strong>na</strong>rem anima<strong>da</strong>s, tinham que ser passa<strong>da</strong>s<br />

a filme convencio<strong>na</strong>l. Mas, em meados <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 70, os<br />

custos <strong>da</strong> animação em computador eram enormes: alguns<br />

segundos de filme comercial exigiam equipas de programadores<br />

e vários meses de produção (HARROWER, 2004). Por<br />

isso, até há 20 anos, os poucos exemplos eram vistos como<br />

meras curiosi<strong>da</strong>des, possivelmente muito atractivas, mas<br />

dispendiosas, difíceis de produzir e, sobretudo, dificílimas<br />

de mostrar e de fazer chegar a um público vasto. Podemos,<br />

portanto, afirmar que a história <strong>da</strong> Cartografia anima<strong>da</strong> é<br />

sobretudo uma história recente, fruto <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças tecnológicas,<br />

e também conceptuais, <strong>da</strong> última metade do<br />

século XX. Estas imagens são hoje significativamente mais<br />

fáceis de construir e de mostrar, e as suas possibili<strong>da</strong>des de<br />

dissemi<strong>na</strong>ção foram amplia<strong>da</strong>s pela revolução <strong>da</strong> Internet,<br />

inicia<strong>da</strong> há pouco mais de uma déca<strong>da</strong>. Só agora se parece<br />

começar a concretizar <strong>na</strong> sua plenitude este velho sonho <strong>da</strong><br />

Cartografia, o de animar sequências de <strong>da</strong>dos temporais e<br />

de os difundir largamente.<br />

A apetência crescente dos utilizadores por este di<strong>na</strong>mismo<br />

<strong>da</strong>s imagens parece ser evidente. Veja-se o sucesso <strong>da</strong>s novas<br />

cartas de previsão do tempo, em que ca<strong>da</strong> um pode,<br />

em tempo real, ir acompanhando o movimento <strong>da</strong>s massas<br />

de ar e a<strong>na</strong>lisar as possibili<strong>da</strong>des de ocorrência de precipitação<br />

ou de outros fenómenos, bem como vê-las a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s a<br />

outros fins, como esquiar, ir à praia, surfar... Veja-se também<br />

o sucesso de cartas retratando acontecimentos relevantes<br />

em que “o antes e o depois” se impõem, como no caso<br />

do recente e dramático maremoto verificado no continente<br />

asiático. Agora que as barreiras tecnológicas foram ultrapassa<strong>da</strong>s,<br />

explorar, compreender e apresentar séries temporais<br />

de <strong>da</strong>dos através de cartas anima<strong>da</strong>s, propondo-se as situações<br />

e as soluções mais adequa<strong>da</strong>s, são desafios para o<br />

futuro. Estas imagens não devem ser transforma<strong>da</strong>s, como<br />

outras, em meros “bombons” tecnológicos para distrair os


Destaque<br />

13<br />

olhos (como correctamente exprime HARROWER, 2004, ao<br />

interrogar-se sobre o que se deverá fazer a partir <strong>da</strong>qui),<br />

pelo que definir “regras cartográficas” adequa<strong>da</strong>s a estes<br />

casos passa, agora, pela reflexão e reformulação teóricas e<br />

pela experimentação cartográfica 6 .<br />

Servem estes casos do presente para mostrar que as mu<strong>da</strong>nças<br />

tecnológicas vieram modificar por completo as funções<br />

que as cartas desempenham <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de e, também,<br />

o papel dos que as utilizam. As cartas de hoje ultrapassam o<br />

imobilismo <strong>da</strong>s imagens passivamente observa<strong>da</strong>s, outrora<br />

inevitável, sendo também instrumentos em que o utilizador<br />

interage com a informação e com a sua expressão visual.<br />

Este, mais activo, pode agora controlar o modo como vê<br />

a informação e o seu desenrolar (fazendo pausas, an<strong>da</strong>ndo<br />

para a frente e para trás, ampliando ou reduzindo, medindo<br />

distâncias...) e até interferir no processo (mu<strong>da</strong>ndo<br />

a aparência <strong>da</strong>s cartas e inclusivamente os princípios que<br />

lhe estão subjacentes, seleccio<strong>na</strong>ndo as variáveis do modelo…).<br />

Isto é, o utilizador pode agora criar as “suas” próprias<br />

imagens, que reconstrói, combi<strong>na</strong>, compara ou destrói (e<br />

até adultera), como bem entender. São novas, portanto, as<br />

condições de visualização <strong>da</strong> informação, o que coloca hoje<br />

desafios importantes que os cartógrafos têm que equacio<strong>na</strong>r,<br />

investigar e resolver.<br />

Vários desafios para o futuro<br />

Como ficou mais ou menos explícito atrás, um dos aspectos<br />

confrangedores <strong>da</strong> situação actual prende-se, de modo<br />

mais imediato, com a visualização espacial <strong>da</strong> informação<br />

geográfica, que se traduz, para o utilizador comum, <strong>na</strong> sua<br />

visualização gráfica ou cartográfica. No que respeita às cartas,<br />

a pobreza <strong>da</strong>s soluções é geralmente a nota domi<strong>na</strong>nte:<br />

por exemplo, pesquisem-se <strong>na</strong> Internet informações desta<br />

<strong>na</strong>tureza nos principais organismos <strong>da</strong> administração portuguesa,<br />

ou de outras enti<strong>da</strong>des, e a conclusão só poderá ser<br />

desanimadora. Os limites <strong>da</strong>s actuais ferramentas, ao nível<br />

<strong>da</strong>s saí<strong>da</strong>s gráficas, não são a única razão explicativa. Parece-nos<br />

que o investimento feito por quem decide disponibilizar<br />

a informação, não vai ain<strong>da</strong> no sentido de satisfazer<br />

as exigências do público, em especial com a quali<strong>da</strong>de que<br />

este começa a saber reclamar.<br />

6 Veja-se, a título de exemplo, HARROWER, MACEACHREN e GRIFFIN,<br />

2000.<br />

A comuni<strong>da</strong>de cartográfica, por outro lado, parece sentir-se<br />

ain<strong>da</strong> desorienta<strong>da</strong> e com dificul<strong>da</strong>des em reposicio<strong>na</strong>r-se<br />

no contexto actual, o que perpassa de forma clara <strong>na</strong>s próprias<br />

posições assumi<strong>da</strong>s recentemente pela Associação Cartográfica<br />

Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l (INTERNATIONAL CARTOGRAPHIC<br />

ASSOCIATION, 2003). No plano estratégico desta organização<br />

para 2003-2011, embora este seja um documento<br />

interno, defende-se, como missão principal, assegurar que<br />

a informação geográfica seja utiliza<strong>da</strong> com o máximo efeito<br />

para benefício <strong>da</strong> ciência e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, através <strong>da</strong> promoção<br />

e representação inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l <strong>da</strong> discipli<strong>na</strong> e <strong>da</strong> profissão<br />

<strong>da</strong> Cartografia e Ciência <strong>da</strong> Informação Geográfica. A<br />

percepção do que é hoje a Cartografia, tanto do seu papel<br />

como <strong>da</strong> sua relevância social, tornou-se menos clara (e são<br />

realmente necessárias novas definições mais consistentes).<br />

Por outro lado, a defesa do seu campo passou a estar fora<br />

de mo<strong>da</strong>, sobretudo por se persistir em pensar as cartas essencialmente<br />

no seu sentido tradicio<strong>na</strong>l, campo que, além<br />

disso, tem sido visto como redun<strong>da</strong>nte por alguns defensores<br />

dos SIG e dos seus modernos desenvolvimentos. To<strong>da</strong>via,<br />

a participação dos cartógrafos tor<strong>na</strong>-se ca<strong>da</strong> vez mais<br />

premente, pela necessi<strong>da</strong>de incontestável de renovar a investigação<br />

e a prática <strong>da</strong> produção, nomea<strong>da</strong>mente <strong>na</strong> área<br />

<strong>da</strong> geovisualização. Muitos dos péssimos exemplos que poderíamos<br />

ter escolhido para ilustrar aqui as imagens virtuais<br />

postas à disposição do utilizador, provam-no cabalmente:<br />

elas têm que ser repensa<strong>da</strong>s e redesenha<strong>da</strong>s para novas<br />

funções e públicos, incluindo outras variáveis e diferentes<br />

contextos.<br />

A Internet tem tido, como é incontestável, enormes repercussões<br />

<strong>na</strong> Cartografia e no utilizador <strong>da</strong> informação geográfica.<br />

A MapQuest america<strong>na</strong>, lança<strong>da</strong> em 1996, com mais<br />

de 1 milhão de visitantes por dia e mais de 36 milhões de<br />

cartas e de percursos que lhes são disponibilizados, atesta<br />

o sucesso <strong>da</strong>s grandes empresas em linha que investiram<br />

nesta área (MAPQUEST, 2005). Ao criar-se um novo mecanismo<br />

de distribuição em massa, permitindo que o utilizador<br />

comum passasse a ter acesso às cartas e aos <strong>da</strong>dos<br />

que as suportam, que de outra forma dificilmente seriam<br />

capazes, acabou-se também por estimular a apetência por<br />

mais e por novas informações e imagens. Do outro lado,<br />

o grande aumento do consumo destes produtos tem tido<br />

consequências ao nível <strong>da</strong>s activi<strong>da</strong>des científicas e profissio<strong>na</strong>is<br />

<strong>na</strong> área <strong>da</strong> Cartografia, criando novos modos de


Destaque<br />

14<br />

dissemi<strong>na</strong>r a informação geográfica. O desafio será agora,<br />

sobretudo, o <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de.<br />

deverá ain<strong>da</strong> juntar-se a exigência de novas soluções, mais<br />

complexas e inovadoras, ou seja, mais sofistica<strong>da</strong>s.<br />

As tremen<strong>da</strong>s quanti<strong>da</strong>des de informação geográfica já hoje<br />

disponíveis, e as que virão a ser gera<strong>da</strong>s amanhã, para uma<br />

quanti<strong>da</strong>de ca<strong>da</strong> vez mais alarga<strong>da</strong> de utilizadores, também<br />

ca<strong>da</strong> vez mais díspares, a par com ferramentas que se têm<br />

sobretudo desenvolvido <strong>na</strong> última déca<strong>da</strong> mas a necessitar<br />

ain<strong>da</strong> de reformulações, vieram colocar desafios inesperados.<br />

Não só os utilizadores se tor<strong>na</strong>ram mais diversos, como<br />

também os seus interesses, conhecimentos e capaci<strong>da</strong>des<br />

de li<strong>da</strong>r com informação desta <strong>na</strong>tureza. Mas os perigos são<br />

também enormes.<br />

Esta “socialização” <strong>da</strong> geo-informação, como alguns a apeli<strong>da</strong>m,<br />

veio trazer também para a discussão as consequências<br />

sociais destes <strong>da</strong>dos, do seu uso e do desenvolvimento<br />

<strong>da</strong>s aplicações tecnológicas (MCLAFFERTY, 2004). Um<br />

dos domínios em questão é o <strong>da</strong> protecção <strong>da</strong> privaci<strong>da</strong>de<br />

individual dos ci<strong>da</strong>dãos, <strong>da</strong> confidenciali<strong>da</strong>de dos <strong>da</strong>dos<br />

e dos seus impactos negativos <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de. A revolução<br />

situa-se ain<strong>da</strong> <strong>na</strong> forma como as pessoas interagem com<br />

as instituições, através do uso <strong>da</strong>s novas tecnologias e com<br />

a Internet.<br />

Este utilizador comum, como lhe chamámos para o distinguir<br />

<strong>da</strong>quele que até ao momento presente tem manipulado<br />

as ferramentas e a informação, é também ca<strong>da</strong> vez<br />

mais uma enti<strong>da</strong>de abstracta e volátil, difícil de classificar ou<br />

padronizar. O utilizador de hoje constitui um universo vasto<br />

e díspar de indivíduos, situados algures no mundo, simplesmente<br />

curiosos ou ávidos de conhecimentos, ou ain<strong>da</strong> a<br />

necessitar do auxílio dos novos meios <strong>na</strong> resolução de inúmeros<br />

problemas concretos do seu dia-a-dia (procurar uma<br />

rua ou a farmácia de serviço, escolher um percurso, a<strong>na</strong>lisar<br />

em tempo real os resultados eleitorais, etc.). O desafio está<br />

lançado às Ciências <strong>da</strong> Informação Geográfica, em particular<br />

à Cartografia, e há ain<strong>da</strong> um longo caminho a percorrer. Na<br />

situação actual, os profissio<strong>na</strong>is que li<strong>da</strong>m com ferramentas<br />

ca<strong>da</strong> vez mais complexas e poderosas continuam ain<strong>da</strong><br />

muito centrados nos aspectos técnicos e tecnológicos <strong>da</strong>s<br />

questões, isto é, <strong>na</strong> exploração e análise <strong>da</strong>s potenciali<strong>da</strong>des<br />

dessas mesmas ferramentas. Por vezes, estes profissio<strong>na</strong>is,<br />

deslumbrados com a descoberta <strong>da</strong>s novas tecnologias,<br />

limitam-se ape<strong>na</strong>s a aplicá-las, sem qualquer inovação ou<br />

crítica, a esta ou àquela área do território.<br />

Não é pois surpreendente que, entre as acções do plano<br />

estratégico <strong>da</strong> Associação Cartográfica Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l a implementar<br />

para 2003-2011, se incluam, <strong>na</strong> perspectiva<br />

em que colocámos aqui a discussão: o desenvolvimento<br />

de nova investigação no domínio <strong>da</strong> utilização <strong>da</strong>s cartas,<br />

abrangendo o modo como mais pessoas devam ser inicia<strong>da</strong>s<br />

no uso de <strong>da</strong>dos espaciais, de ferramentas com interesse<br />

geográfico e de produtos cartográficos; a aplicação<br />

mais ampla dos princípios cartográficos <strong>na</strong>s tecnologias <strong>da</strong><br />

informação; orientações gerais para uso e apresentação de<br />

<strong>da</strong>dos geo-espaciais <strong>na</strong> Internet; a produção de atlas sobre<br />

temas globais específicos; etc.<br />

Por enquanto, as manifestações dos utilizadores comuns <strong>da</strong><br />

informação geográfica não passam de titubeantes sussurros.<br />

Suspeitamos, contudo, que dentro em breve se possam<br />

transformar em grito colectivo: basta <strong>da</strong>s mesmas imagens<br />

cansativas n<br />

Remate<br />

Referimos aqui alguns aspectos <strong>da</strong> vasta luta a travar neste<br />

desafio sem precedentes: os utilizadores comuns <strong>da</strong> informação<br />

geográfica são mais exigentes do que geralmente<br />

se supõe, e tor<strong>na</strong>r-se-ão ain<strong>da</strong> mais no futuro. Não é só<br />

mais informação disponível que reclamam (e reclamarão),<br />

é também a melhoria <strong>da</strong> sua quali<strong>da</strong>de. A essa quali<strong>da</strong>de<br />

Maria Hele<strong>na</strong> Dias, Geógrafa, Professora Associa<strong>da</strong> <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />

de Lisboa e investigadora do Centro de Estudos Geográficos<br />

(mhdias@fl.ul.pt).


Destaque<br />

15<br />

Referências bibliográficas<br />

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Lisboa: <strong>Instituto</strong> do Ambiente. [Consult. 6 de Março<br />

de 2005]. 2003. Disponível em: http://www.iambiente.pt/<br />

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PORTUGAL. Ministério do Ambiente e do Orde<strong>na</strong>mento do<br />

Território. <strong>Instituto</strong> do Ambiente. Atlas do ambiente dinâmico<br />

[Em linha]. Lisboa: <strong>Instituto</strong> do Ambiente. [Consult. 6<br />

de Março de 2005]. 2003. Disponível em: http://www.iambiente.pt/atlas/din/viewer.htm.


Destaque<br />

16<br />

A Fórmula do Dr. Livingstone<br />

João Matos<br />

screver um artigo com um tema sugerido é um desafio<br />

E interessante mas, quando o tema é a importância <strong>da</strong><br />

informação geográfica para a socie<strong>da</strong>de, o desafio passa de<br />

interessante para preocupante, pois não deve haver <strong>na</strong><strong>da</strong><br />

que não tenha já sido dito. O principal problema do tema<br />

é o consenso em torno <strong>da</strong> grande importância <strong>da</strong> informação<br />

geográfica e <strong>da</strong>s suas inúmeras aplicações, o que tor<strong>na</strong><br />

redun<strong>da</strong>ntes os parágrafos mais bem intencio<strong>na</strong>dos. Encontrar<br />

um profissio<strong>na</strong>l de informação geográfica que diga<br />

que esta não é importante é tão difícil como encontrar um<br />

vendedor de automóveis que defen<strong>da</strong> o recurso exclusivo<br />

aos transportes públicos. Ou seja, a importância <strong>da</strong> informação<br />

geográfica para a socie<strong>da</strong>de é indubitavelmente grande<br />

e conheci<strong>da</strong> dos membros <strong>da</strong> geo-comuni<strong>da</strong>de, onde presumo<br />

que se incluam os leitores deste artigo.<br />

Pressente-se, no entanto, uma atmosfera de insatisfação<br />

quanto ao cumprimento <strong>da</strong>s promessas origi<strong>na</strong><strong>da</strong>s com a<br />

popularização dos sistemas de informação geográfica, ou<br />

seja, que todo esse potencial só muito lentamente se tem<br />

vindo a converter em efectivos benefícios, perceptíveis<br />

tanto pela geo-comuni<strong>da</strong>de como pela socie<strong>da</strong>de no seu<br />

todo. Há seguramente causas para essa insatisfação que<br />

não têm directamente a ver com a informação geográfica,<br />

como as baixas expectativas de quali<strong>da</strong>de nos serviços e <strong>na</strong><br />

produção técnica, a baixa eficiência <strong>na</strong> administração do território<br />

e, talvez em menor grau, as condicio<strong>na</strong>ntes económicas.<br />

A tese que aqui defendo é a de que o ritmo lento<br />

de evolução se mantém devido a inconsistências <strong>na</strong> forma<br />

como o problema <strong>da</strong> informação geográfica tem vindo a ser<br />

abor<strong>da</strong>do ao nível político e ao nível técnico. Essas inconsistências,<br />

inter<strong>na</strong>s e de interacção entre os referidos níveis,<br />

têm obstado a que os vários movimentos positivos tenham<br />

uma continui<strong>da</strong>de construtiva e sejam consequentes.<br />

Permitam-me portanto poupar uma dúzia de pági<strong>na</strong>s de<br />

ideias optimistas e consensuais, acreditem que as saberia<br />

escrever, e aproveitar o verso <strong>da</strong>s folhas para escrever sobre<br />

o reverso dos velhos consensos. Permitam-me também<br />

escrever um texto assumi<strong>da</strong>mente não científico e muito<br />

baseado <strong>na</strong> experiência profissio<strong>na</strong>l directa. Começarei por<br />

expor a visão que é perceptível <strong>da</strong> importância <strong>da</strong> informação<br />

geográfica ao nível político, este é por um lado o<br />

reflexo <strong>da</strong> importância <strong>da</strong><strong>da</strong> pela socie<strong>da</strong>de e, por outro, o<br />

campo onde se podem tomar as medi<strong>da</strong>s que coloquem a<br />

informação geográfica ao serviço <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Em segui<strong>da</strong><br />

passarei a expor alguns mal-entendidos relativos à informação<br />

geográfica, que designo por mitos, e que em meu<br />

entender são responsáveis por uma parte significativa <strong>da</strong><br />

perturbação <strong>na</strong> adopção de boas estratégias ao nível <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l<br />

e ao nível local.<br />

A informação geográfica e a política<br />

“Com esta medi<strong>da</strong> (extinção do Conselho Nacio<strong>na</strong>l de Cartografia<br />

e criação do Conselho Coorde<strong>na</strong>dor de Cartografia),<br />

deixou de ser possível ao sector fazer chegar ao governo<br />

opiniões fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>s sobre as activi<strong>da</strong>des e as políticas<br />

para a cartografia <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l que interessaria fomentar, o<br />

que representou um considerável retrocesso para o País, e o<br />

que também aju<strong>da</strong> a explicar parte do processo degenerativo<br />

que se seguiu ao longo <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> metade <strong>da</strong> déca<strong>da</strong><br />

de 90”.<br />

Rui Gonçalves Henriques, in. “A Informação Geográfica e a Administração<br />

Pública em Portugal”, 2002


Destaque<br />

17<br />

Os programas eleitorais dos partidos com assento parlamentar<br />

constituem uma fonte óbvia e fácil por onde começar<br />

a pesquisa de informação que suporte esta abor<strong>da</strong>gem.<br />

Nessa pesquisa encontrei as seguintes referências:<br />

· A actualização do ca<strong>da</strong>stro <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong>des florestais, a<br />

custos reduzidos, de modo a que os proprietários assumam<br />

a sua responsabili<strong>da</strong>de <strong>na</strong> conservação <strong>da</strong> floresta (BE);<br />

· Concretização e obrigatorie<strong>da</strong>de de elaboração <strong>da</strong> cartografia<br />

<strong>da</strong>s zo<strong>na</strong>s inundáveis e do inventário de ocupação do<br />

domínio hídrico; Intensificação dos trabalhos de cartografia<br />

geológica e hidrogeológica de base; Prosseguir com os<br />

estudos, a prospecção e a cartografia dos recursos energéticos<br />

em território <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, no que se refere quer a jazi<strong>da</strong>s<br />

de recursos geológicos quer a fluxos de energia renováveis;<br />

Concretização, criação e monitorização, de um sistema<br />

<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de <strong>da</strong>dos sobre o comportamento do território<br />

(PCP);<br />

· Realizar o ca<strong>da</strong>stro <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de prédios no prazo máximo<br />

de 4 anos; elaborar um ca<strong>da</strong>stro simplificado dos prédios<br />

rústicos (PSD);<br />

· Criação do sistema <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de informação territorial, no<br />

quadro de uma política de informação geográfica (PS).<br />

Um dos aspectos interessantes do recurso aos programas<br />

eleitorais é que estão relativamente livres de constrangimentos,<br />

sobretudo por parte dos partidos que não têm a expectativa<br />

de formar governo. As referências ao interesse <strong>da</strong><br />

informação geográfica não surgem assim fortemente condicio<strong>na</strong><strong>da</strong>s<br />

por restrições de ordem prática e seriam portanto<br />

apresenta<strong>da</strong>s como a expressão pura de uma utili<strong>da</strong>de.<br />

É uma pe<strong>na</strong> os programas eleitorais não serem feitos em<br />

forma de resposta a um questionário elaborado pela Presidência<br />

<strong>da</strong> República, por um lado era mais fácil compará-los<br />

e, por outro, havia mais garantias de que coisas importantes<br />

não eram esqueci<strong>da</strong>s. Assim, não se pode deduzir que as<br />

intenções sejam contraditórias, simplesmente se deduz que<br />

os programas foram escritos por pessoas com sensibili<strong>da</strong>des<br />

diferentes para um tema que é relativamente frio do<br />

ponto de vista mediático.<br />

Poder-se-á dizer que a informação geográfica não tem muitas<br />

referências nos programas porque não é objecto <strong>na</strong>tural<br />

de matéria política, <strong>da</strong>do ser simplesmente uma matéria<br />

prima, tal como não surgem referências à produção de betuminoso<br />

no meio <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s anuncia<strong>da</strong>s para as obras<br />

públicas. Mas se fosse um produto raro e as estra<strong>da</strong>s não<br />

fossem termi<strong>na</strong><strong>da</strong>s por falta de betuminoso, então este já<br />

passaria a ser um problema político. Poderia assim presumirse<br />

<strong>da</strong>s escassas referências nos programas eleitorais que a<br />

informação geográfica existe em quanti<strong>da</strong>de e quali<strong>da</strong>de<br />

adequa<strong>da</strong>s e que o seu uso é generalizado, excepção feita<br />

ao ca<strong>da</strong>stro, que é referido, embora com enfoques diferentes,<br />

em mais do que um programa. Todos os programas<br />

são ricos em medi<strong>da</strong>s, nomea<strong>da</strong>mente nos domínios ambientais,<br />

<strong>na</strong> protecção civil e no orde<strong>na</strong>mento do território,<br />

que requerem a existência de informação geográfica e que<br />

beneficiariam de políticas que a favorecessem. No entanto,<br />

só num caso é mencio<strong>na</strong><strong>da</strong> uma política de informação<br />

geográfica e um sistema de informação territorial que são<br />

mais abrangentes que as propostas, sem dúvi<strong>da</strong> úteis, para<br />

aspectos sectoriais.<br />

Destes programas tão curtos conseguem-se, apesar de tudo,<br />

extrair algumas indicações. Note-se o cui<strong>da</strong>do do Bloco de<br />

Esquer<strong>da</strong> em escrever que o ca<strong>da</strong>stro <strong>da</strong>s áreas florestais<br />

é feito a custos reduzidos. Obviamente que <strong>na</strong><strong>da</strong> deve ser<br />

feito com desperdício de dinheiros públicos ou privados,<br />

não está explícito quem suporta os custos. Mas qual a razão<br />

deste detalhe? Será que a gestão <strong>da</strong> floresta não merece<br />

que se gaste dinheiro num ca<strong>da</strong>stro? A partir de quanto<br />

dinheiro gasto em ca<strong>da</strong>stro é que seria justificável colocar<br />

a floresta em risco? Provavelmente este é só um detalhe<br />

de re<strong>da</strong>cção, mas é revelador <strong>da</strong> convicção subconsciente,<br />

e que julgo abranger mais do que um sector político,<br />

de que o dinheiro gasto com informação geográfica não se<br />

enquadra como parte do custo necessário à resolução de<br />

um problema. Note-se, <strong>da</strong> parte do Partido Social Democrata,<br />

a proposta de um ca<strong>da</strong>stro dos prédios e de um ca<strong>da</strong>stro<br />

simplificado dos prédios rústicos. O termo simplificado<br />

revela alguma falta de esperança, que não é de todo injustifica<strong>da</strong><br />

se considerarmos que a história <strong>da</strong> elaboração<br />

do ca<strong>da</strong>stro já dura há 200 anos sem grandes resultados,<br />

mas talvez não houvesse prejuízo em usar uma formulação<br />

alter<strong>na</strong>tiva, propondo um ca<strong>da</strong>stro que fosse funcio<strong>na</strong>l e de<br />

actualização sustentável. Nesse caso nem se poderia dizer<br />

que era simplificado, era o ca<strong>da</strong>stro necessário e suficiente.<br />

O programa do Partido Comunista Português nesta matéria<br />

é manifestamente sectorial, o que provavelmente tem mais


Destaque<br />

18<br />

a ver com a composição <strong>da</strong> equipa que fez o programa e<br />

do que com uma opção consciente de privilegiar a informação<br />

geográfica nos domínios referidos. Pode também ser<br />

um detalhe, mas actualmente já se poderia escrever uma<br />

proposta que referisse o levantamento dos <strong>da</strong>dos necessários<br />

para operacio<strong>na</strong>lizar um sistema de informação geográfica,<br />

fosse dos recursos energéticos ou de outros temas<br />

que achassem por bem integrar nos processos de gestão<br />

do território. A referência a um sistema <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de <strong>da</strong>dos<br />

do “comportamento do território”, que interpreto como não<br />

sendo geo-referenciados, é inseri<strong>da</strong> somente no contexto<br />

<strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s sectoriais para o orde<strong>na</strong>mento do território.<br />

A referência do Partido Socialista a um “sistema <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l<br />

de informação territorial no quadro de uma política de informação<br />

geográfica” parece promissora e tenho esperança<br />

que conheça implementação, peca unicamente por não ter<br />

o conteúdo detalhado. Aqui ficam algumas sugestões para<br />

princípios a seguir durante o preenchimento dos detalhes:<br />

· Avaliar o investimento em informação geográfica em função<br />

dos benefícios expectáveis, frequentemente intangíveis,<br />

e não somente do custo;<br />

· Ter em consideração que os programas de levantamento de<br />

informação só podem servir políticas se tiverem abrangência<br />

<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e se tiverem uma actualização sustentável;<br />

· Investir <strong>na</strong> dissemi<strong>na</strong>ção dos <strong>da</strong>dos públicos como elemento<br />

estratégico de desenvolvimento e de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia;<br />

· Investir <strong>na</strong> formação de quadros e <strong>na</strong> produção de documentação<br />

técnica de apoio, porque é a boa utilização que<br />

dá o retorno do investimento;<br />

· Levantar as necessi<strong>da</strong>des e definir priori<strong>da</strong>des para a sua<br />

resolução, <strong>da</strong>ndo depois a resposta técnica mais adequa<strong>da</strong>,<br />

ao invés de iniciar o processo com uma “solução” <strong>na</strong> mão<br />

para necessi<strong>da</strong>des mal caracteriza<strong>da</strong>s;<br />

· Regulamentar só o estritamente necessário e através de<br />

consenso, sem impor soluções técnicas específicas.<br />

No texto acima citado a história <strong>da</strong> última déca<strong>da</strong> é caracteriza<strong>da</strong>,<br />

com autori<strong>da</strong>de, como um “processo degenerativo”,<br />

explicável em parte por opções políticas menos felizes, entre<br />

as quais a restrição dos ca<strong>na</strong>is de comunicação entre a geocomuni<strong>da</strong>de<br />

e os decisores ao mais alto nível. A ausência<br />

de uma intervenção representativa <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de técnica<br />

teve consequências, mas aqui não há só responsabili<strong>da</strong>de<br />

política. Considero que uma grande parte <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de<br />

<strong>na</strong> reduzi<strong>da</strong> importância <strong>da</strong><strong>da</strong> à cartografia e <strong>na</strong> adopção<br />

de medi<strong>da</strong>s políticas ineficazes cabe à geo-comuni<strong>da</strong>de,<br />

através <strong>da</strong> preservação acrítica de abor<strong>da</strong>gens que apontam<br />

aos decisores o caminho errado ou nenhum caminho.<br />

A solução para a produção de textos escritos passou pelo<br />

desenvolvimento <strong>da</strong> tipografia e não pelo aumento exponencial<br />

de monges copistas. Do mesmo modo, a satisfação<br />

<strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des de informação geográfica não passará<br />

pelo investimento acrítico, inclusivamente ao nível dos procedimentos<br />

administrativos, <strong>na</strong>s perspectivas tradicio<strong>na</strong>is<br />

que já demonstraram não ser satisfatórias. Neste caso nem<br />

é precisa uma grande capaci<strong>da</strong>de inventiva, a tecnologia<br />

existe e existem opções várias para a aquisição e exploração<br />

<strong>da</strong> informação, de entre as quais se pode escolher em função<br />

do orçamento e <strong>da</strong> funcio<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de.<br />

A implementação <strong>da</strong>s políticas<br />

“Would you tell me, please, which way I ought to go from<br />

here?”, “That depends a good deal on where you want to<br />

get to”, said the Cat.<br />

“I don’t much care where -” said Alice. “Then it doesn’t matter<br />

which way you go”, said the Cat.<br />

“... so long as I get somewhere”, Alice added as an expla<strong>na</strong>tion.<br />

“Oh, you’re sure to do that,” said the Cat,” if you only<br />

walk long enough.”<br />

Lewis Carrol, in. “Alice’s Adventures in Wonderland”<br />

Para a discussão <strong>da</strong> implementação <strong>da</strong>s políticas selecciono<br />

três vertentes: a vontade política, consubstanciável em instrumentos<br />

legais e administrativos, a viabili<strong>da</strong>de económica<br />

e a viabili<strong>da</strong>de tecnológica.<br />

A vontade política<br />

A informação, e atente-se que além <strong>da</strong> explicitamente<br />

geográfica há a muita que é geo-referenciável, é um instrumento<br />

de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e de desenvolvimento, conforme<br />

preceituado no “Livro Verde para a Socie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Informação”.<br />

Nesta perspectiva, o papel do sector público é referenciado<br />

em diversa documentação <strong>da</strong> União Europeia,<br />

citando-se como exemplo alguns excertos <strong>da</strong> COM (2001)<br />

607: “São domínios de particular interesse a informação<br />

geográfica, empresarial e rodoviária e os <strong>da</strong>dos económicos<br />

e sociais”;”Uma melhor utilização <strong>da</strong> informação do


Destaque<br />

19<br />

sector público poderá transformar este recurso num valioso<br />

activo para os ci<strong>da</strong>dãos, as empresas e as administrações <strong>da</strong><br />

Europa. Os ci<strong>da</strong>dãos e as empresas podem beneficiar significativamente<br />

com uma boa oferta de informação do sector<br />

público <strong>na</strong> Internet, que facilitará a sua comunicação com<br />

a administração pública e potenciará a sua participação no<br />

processo democrático”. Na COM(2002) 207 é referido que:<br />

“as amplas possibili<strong>da</strong>des de reutilização existentes nos EUA<br />

criaram um mercado <strong>da</strong> informação assente <strong>na</strong> informação<br />

do sector público que se estima ser quase cinco vezes maior<br />

que o <strong>da</strong> UE. As principais empresas america<strong>na</strong>s do sector<br />

registaram nos últimos seis anos taxas de crescimento<br />

<strong>da</strong> ordem dos 10 a 30%”; ”é importante compreender<br />

que a i<strong>na</strong>cção neste domínio tem custos. Custos para o<br />

sector <strong>da</strong> informação e também para o mercado e a socie<strong>da</strong>de<br />

europeus”.<br />

Além <strong>da</strong>s questões de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, há problemas muito concretos<br />

e de grande sensibili<strong>da</strong>de política para os quais a informação<br />

geográfica é instrumental e imprescindível, como<br />

os aspectos operacio<strong>na</strong>is e de prevenção no domínio <strong>da</strong><br />

protecção civil, o licenciamento de construção, a gestão de<br />

recursos hídricos e os impostos sobre a proprie<strong>da</strong>de, para<br />

só citar alguns. Veja-se o caso recente, amplamente comentado<br />

nos meios de comunicação social, relativo ao licenciamento<br />

de uma grande área comercial, e em que “…a<br />

alteração dos limites <strong>da</strong> zo<strong>na</strong> de protecção foi feita “exclusivamente<br />

por imperativos técnicos, <strong>da</strong><strong>da</strong> a incongruência<br />

cartográfica dos limites anteriores””(Público, 12/02/2005).<br />

Desconheço a matéria deste caso concreto e não posso<br />

corroborar a tal incongruência cartográfica, mas posso assegurar<br />

que há muitos casos onde ela existe e pode gerar este<br />

tipo de incidentes.<br />

O pouco que foi aqui dito, retirado do muito que já foi escrito<br />

e com mais autori<strong>da</strong>de, não precisará de reforço para<br />

justificar o interesse político <strong>da</strong> matéria, que deverá ser traduzi<strong>da</strong><br />

em instrumentos legais e administrativos que funcionem<br />

e que perdurem enquanto funcio<strong>na</strong>rem.<br />

A viabili<strong>da</strong>de económica<br />

Os custos <strong>da</strong> produção e actualização de informação geográfica<br />

são significativos, <strong>da</strong>í que por um lado exista expectativa<br />

quanto à disponibilização de <strong>da</strong>dos públicos e,<br />

por outro, que as instituições públicas que os produzem<br />

necessitem de se fi<strong>na</strong>nciar com a ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> informação. Ao<br />

serem quantificados unicamente os custos, sem considerar<br />

os benefícios, então obviamente que o cenário de investimento<br />

é pouco atractivo.<br />

A este respeito invoco novamente a COM (2001) 607:<br />

“com efeito, os ganhos económicos decorrentes de um<br />

sistema de exploração mais aberto excedem de longe as<br />

receitas directas que poderiam obter com a ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> informação”;<br />

”acresce que, <strong>na</strong>lguns casos, o poder de mercado<br />

dos organismos do sector público numa <strong>da</strong><strong>da</strong> área permitelhes<br />

estabelecer preços muito elevados, o que, <strong>na</strong> prática,<br />

impede a reutilização <strong>da</strong> informação”.<br />

A reutilização <strong>da</strong> informação é um factor crítico para o retorno<br />

do investimento. Outro factor com impacto económico,<br />

neste caso negativo, é a duplicação de trabalhos. Os dois estão<br />

relacio<strong>na</strong>dos, duplicar só é uma opção quando o que já<br />

foi produzido não está disponível para ser reutilizado. Notese<br />

que o princípio de evitar a duplicação de informação é<br />

legítimo mas deve ser aplicado com bom senso, sem que<br />

se retarde ou deixe de produzir informação com receio de<br />

que mais tarde venha a ser duplica<strong>da</strong>.<br />

Perante uma situação de disponibili<strong>da</strong>de fi<strong>na</strong>nceira limita<strong>da</strong><br />

seria forçosa a concepção de um plano de produção de<br />

<strong>da</strong>dos geográficos com sóli<strong>da</strong> sustentação técnica e regido<br />

por priori<strong>da</strong>des justifica<strong>da</strong>s, mas tal pode não acontecer. Se<br />

isso fosse feito, talvez se verificasse que afi<strong>na</strong>l os valores<br />

necessários não são incomportáveis. Em geral, basta optar<br />

pela solução simples que funcio<strong>na</strong> em detrimento <strong>da</strong> solução<br />

complexa que nunca se conclui.<br />

A este respeito não resisto a citar, de um modo muito livre,<br />

um excerto <strong>da</strong> História de Portugal de Oliveira Martins.<br />

Perante um projecto de construção de uma importante estra<strong>da</strong>,<br />

no Portugal do século XIX, alguém sugeriu que ela<br />

fosse um modelo de requinte, o que seria alcançado se os<br />

marcos colocados a ca<strong>da</strong> milha tivessem um relógio de sol.<br />

A ideia foi aceite mas constatou-se que haveria marcos que<br />

ficariam permanentemente à sombra, para o que haveria<br />

duas soluções: ou o marco não era colocado <strong>na</strong> milha certa<br />

ou era colocado sem relógio de sol. O debate em torno<br />

destas duas alter<strong>na</strong>tivas foi tão intenso que acabou por não<br />

se construir a estra<strong>da</strong>.


Destaque<br />

20<br />

Em suma, se forem contabilizados os benefícios indirectos<br />

e as poupanças e se for segui<strong>da</strong> uma abor<strong>da</strong>gem técnica<br />

racio<strong>na</strong>l, acredito que existe viabili<strong>da</strong>de económica para a<br />

implementação de uma política de informação geográfica.<br />

A viabili<strong>da</strong>de tecnológica<br />

Como já referi, não considero que existam actualmente<br />

condicio<strong>na</strong>ntes tecnológicas significativas à implementação<br />

de projectos no domínio <strong>da</strong> informação geográfica. É difícil<br />

encontrar uma aplicação útil que seja tecnicamente inviável,<br />

tanto pelo que respeita à produção de informação como<br />

à sua utilização e dissemi<strong>na</strong>ção. A vulgarização do GPS, a<br />

disponibilização de instrumentos de consulta de informação<br />

geográfica <strong>na</strong> Internet, as imagens de satélite de alta<br />

resolução e o aumento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de processamento e<br />

armaze<strong>na</strong>mento dos computadores pessoais, entre outras,<br />

vieram conferir viabili<strong>da</strong>de a projectos que a não tinham<br />

há quinze anos atrás. Além de existir a tecnologia, pode<br />

considerar-se que ela é acessível e está razoavelmente bem<br />

dissemi<strong>na</strong><strong>da</strong>. A viabili<strong>da</strong>de tecnológica não é um detalhe<br />

menor, nem sempre existiu e faz to<strong>da</strong> a diferença.<br />

Os mitos<br />

A origem dos mitos<br />

“O problema <strong>da</strong> topografia, dizia ele (Pedro Folque) compunha-se<br />

de duas partes, cabendo à primeira a projecção<br />

de todos os pontos <strong>da</strong> superfície sobre o plano horizontal,<br />

o que formava a planta e, à segun<strong>da</strong>, o conhecimento<br />

<strong>da</strong>s orde<strong>na</strong><strong>da</strong>s verticais, donde resultava a configuração<br />

do terreno, e que se a primeira dependia inteiramente<br />

do conhecimento <strong>da</strong>s matemáticas, para a representação<br />

<strong>da</strong> segun<strong>da</strong> era necessário o perfeito conhecimento<br />

do desenho.<br />

Considerando indispensáveis estes dois talentos a um «perfeito<br />

topográfico» e mostrando a experiência que raramente<br />

se <strong>da</strong>vam no mesmo indivíduo, não se sabendo também<br />

qual deles mais falta faria, propunha que, para se suprir o<br />

segundo, se estabelecessem regras para a representação<br />

gráfica <strong>da</strong>s plantas e mapas e se construisse um sistema<br />

de convenções uniformes a que chamava uma «espécie<br />

de taquigrafia topográfica», que, abreviando os trabalhos de<br />

campo, os facilitaria também no gabinete, suprindo o génio<br />

artístico a quem a <strong>na</strong>tureza tivesse negado esse talento.”<br />

H. Mendes, in. “Subsídios para a História <strong>da</strong> Cartografia Portuguesa”.<br />

Sendo a vertente política condicio<strong>na</strong><strong>da</strong> unicamente pela<br />

existência de vontade de sair do “processo degenerativo”,<br />

sendo ultrapassáveis os obstáculos <strong>na</strong> vertente económica<br />

e não havendo impedimentos <strong>na</strong> vertente tecnológica,<br />

então subsiste a questão <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem técnica para a concretização<br />

<strong>da</strong> implantação <strong>da</strong> informação geográfica no funcio<strong>na</strong>mento<br />

<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Aqui entra a responsabili<strong>da</strong>de de<br />

geo-comuni<strong>da</strong>de, onde ain<strong>da</strong> subsistem alguns mitos que<br />

afectam tanto os actos de realização como as indicações<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong>s para as políticas.<br />

Com sincera reverência pela obra de Pedro Folque e Filipe<br />

Folque, considero a anterior citação como a melhor ilustração<br />

<strong>da</strong> origem dos mitos cartográficos. Perfeitamente<br />

competentes e lúci<strong>da</strong>s no século XIX, estas frases encerram<br />

ideias que foram transmiti<strong>da</strong>s até ao contexto actual sem<br />

sofrerem reformulação crítica, assemelhando-se à crença<br />

em mitos. Em poucos parágrafos aparece resolvido o problema<br />

<strong>da</strong> selecção e do critério que conduz à representação<br />

geográfica – são todos os pontos –, o processo é<br />

inteiramente matemático – o que lido com pouco cui<strong>da</strong>do<br />

pode pressupor exacto –, excepto numa componente que<br />

requer génio artístico e conhecimento do desenho mas que<br />

se resolve com regras.<br />

Adicionei um mito recente, que designei por mito do SIG,<br />

antevendo a tentação de se substituirem os mitos antigos<br />

por um mais recente, onde já há ideias a serem transmiti<strong>da</strong>s<br />

sem reflexão crítica.<br />

Primeiro mito: O mito <strong>da</strong> representação fiel <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de<br />

“That’s another thing we’ve learned from your Nation,” said<br />

Mein Herr, “map-making. But we’ve carried it much further<br />

than you. What do you consider the largest map that would<br />

be really useful?”<br />

“About six inches to the mile.”<br />

“Only six inches!” exclaimed Mein Herr. “We very soon got<br />

to six yards to the mile. Then we tried a hundred yards<br />

to the mile. And then came the grandest idea of all! We<br />

actually made a map of the country, on the scale of a mile<br />

to the mile!”<br />

“Have you used it much?” I enquired.<br />

“It has never been spread out, yet,” said Mein Herr: “the<br />

farmers objected: they said it would cover the whole country,<br />

and shut out the sunlight! So we now use the coun-


Destaque<br />

21<br />

try itself, as its own map, and I assure you it does nearly<br />

as well”.<br />

Lewis Carroll , in. “Sylvie and Bruno Concluded”<br />

A ideia de que existirá uma representação fiel <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de<br />

que só não é alcança<strong>da</strong> por incapaci<strong>da</strong>de técnica ou por<br />

desleixo <strong>na</strong> produção é um mito que tem consequências<br />

graves. Quando <strong>na</strong>s iniciativas inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is de normalização<br />

se utiliza recorrentemente o conceito de universo do<br />

discurso e quando está consagra<strong>da</strong> a abor<strong>da</strong>gem às características<br />

geográficas através de ontologias, isto é, através<br />

<strong>da</strong> especificação do conceito que lhes está subjacente, é<br />

porque esta é a abor<strong>da</strong>gem mais eficaz.<br />

só por serem difusas mas por também serem variáveis. Optou-se<br />

por um conceito subjectivo de margem, definindo-a<br />

como sendo o limite de vestígios de erosão recente e assumir<br />

então como válido o que, com base nessa definição,<br />

fosse arbitrado pelas equipas no terreno. O significado de<br />

margem passou a ser assumi<strong>da</strong>mente de uma linha arbitra<strong>da</strong><br />

sobre critérios simples, o que não sendo inteiramente<br />

objectivo, por ser isso impossível, correspondia a um conceito<br />

operacio<strong>na</strong>l e consistente. A diferença de abor<strong>da</strong>gens<br />

era perceptível pela diferença relativamente ao que estava<br />

representado <strong>na</strong> melhor cartografia disponível para a zo<strong>na</strong>,<br />

em que a definição <strong>da</strong>s margens não obedeceu a uma análise<br />

tão detalha<strong>da</strong> nem a critérios similares.<br />

Quando se define domínio público hídrico como uma zo<strong>na</strong><br />

a menos de dez metros de uma linha de água e não se<br />

define linha de água – e atente-se que as definições podem<br />

ser várias e váli<strong>da</strong>s em diferentes contextos –, está a cometer-se<br />

um erro <strong>na</strong> modelação geográfica e não um erro<br />

cartográfico. To<strong>da</strong>s as representações <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de obedecem<br />

a um determi<strong>na</strong>do universo do discurso, mesmo que<br />

este não esteja devi<strong>da</strong>mente formalizado. Essa formalização<br />

deve ser traduzi<strong>da</strong> por uma especificação operacio<strong>na</strong>l, ou<br />

seja, <strong>da</strong>r como especificação as “casas representáveis à escala<br />

1/5000” ou “as linhas de água representáveis à escala<br />

1/25000” é manifestamente insuficiente.<br />

Os exemplos de problemas relacio<strong>na</strong>dos com a definição<br />

<strong>da</strong>s características geográficas são inúmeros, cito alguns<br />

relacio<strong>na</strong>dos com fronteiras, matéria que requer clareza e<br />

análise minuciosa e onde os conceitos vagos têm consequências<br />

graves.<br />

O tratado origi<strong>na</strong>l relativo ao delineamento <strong>da</strong> fronteira entre<br />

as possessões de Portugal e Holan<strong>da</strong> <strong>na</strong> ilha de Timor, agora<br />

transposto para a fronteira entre Timor-Leste e a Indonésia,<br />

estabelecia, para uma boa parte <strong>da</strong> extensão <strong>da</strong> fronteira, o<br />

seguimento do talvegue de rios. Ora o conceito de talvegue,<br />

correspondendo ao ca<strong>na</strong>l mais profundo no leito de um rio,<br />

não era aplicável <strong>na</strong> quase totali<strong>da</strong>de dos rios mencio<strong>na</strong>dos,<br />

secos durante grande parte do ano e com o curso principal<br />

muito variável <strong>na</strong>s épocas de chuva. Acordou-se em substituir<br />

esse conceito pelo de linha média, determi<strong>na</strong><strong>da</strong> geometricamente<br />

a partir <strong>da</strong>s margens. Acontece que também não<br />

era possível identificar as margens de forma inequívoca, não<br />

Ain<strong>da</strong> no domínio do delineamento de fronteiras, um outro<br />

exemplo é <strong>da</strong>do pelos segmentos de fronteira definidos por<br />

valores de latitude ou longitude. À época em que foram<br />

definidos, estes valores correspondiam a latitudes e longitudes<br />

astronómicas, dependentes <strong>da</strong> vertical do lugar mas<br />

com representação <strong>na</strong> forma de linhas rectas e implanta<strong>da</strong>s<br />

no terreno como tal. Essas linhas, quando são actualmente<br />

representa<strong>da</strong>s num referencial geodésico não possuem latitudes<br />

e longitudes geodésicas constantes, o que não gera linhas<br />

rectas independentemente <strong>da</strong> projecção que se utilize.<br />

Essas linhas apresentariam agora ondulações devi<strong>da</strong>s aos<br />

desvios <strong>da</strong> vertical, com valores <strong>da</strong> ordem de várias cente<strong>na</strong>s<br />

de metros, suficientes para gerar conflitos inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is<br />

sem solução técnica.<br />

Definições deste tipo já não eram correctas <strong>na</strong> sua génese,<br />

acontecia simplesmente que a incorrecção era tolerável. O<br />

que se passa com as fronteiras passa-se em muitos outros<br />

domínios, a introdução do suporte digital e a exigência<br />

própria do uso para sistemas de informação operacio<strong>na</strong>is<br />

não são compatíveis com os níveis de indefinição antigamente<br />

aceitáveis. Situações semelhantes se passam com<br />

características geográficas instrumentais <strong>na</strong> gestão do território,<br />

com a linha de máxima preia-mar ou até mesmo o<br />

declive do terreno, com impacto directo no uso que se faz<br />

do território pois conferem aleatorie<strong>da</strong>de à definição <strong>da</strong>s<br />

condicio<strong>na</strong>ntes e arbitrarie<strong>da</strong>de à sua aplicação.<br />

Segundo mito: O mito <strong>da</strong> cartografia rigorosa<br />

“At the root of their power [of the maps] is our frequently<br />

unquestioning acceptance of cartographic messages. Even


Destaque<br />

22<br />

folks who are routinely suspicious of written text equate<br />

maps with fact …”<br />

Mark Monmonier, in. “Drawing the Line”.<br />

“An “accurate map” is part of the popular mythology of<br />

cartography, but the profession spends little time on this<br />

problem.”<br />

Nicholas Chrisman, in. “The Role of Quality Information in the Long-term<br />

Functioning of a GIS”.<br />

A ideia de cartografia como algo de rigoroso é quase<br />

compulsiva e pouco reflecti<strong>da</strong>. Para começar, o termo rigor<br />

poderia ser substituído com vantagem por quali<strong>da</strong>de,<br />

correspondente segundo a norma ISO 9000 ao “conjunto<br />

de características que um produto deve comportar para satisfazer<br />

requisitos explícitos ou implícitos”, esta é assumi<strong>da</strong><br />

como quali<strong>da</strong>de para um objectivo, e não como quali<strong>da</strong>de<br />

absoluta, e é defini<strong>da</strong> em função de requisitos. Este último<br />

aspecto não é habitualmente considerado, ou seja, aos <strong>da</strong>dos<br />

geográficos só pode ser associa<strong>da</strong> uma boa quali<strong>da</strong>de<br />

se estes satisfizerem requisitos funcio<strong>na</strong>is, independentemente<br />

de virem carregados de “marcos com relógios de sol”.<br />

A componente <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de informação geográfica é<br />

abor<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>na</strong>s normas ISO 19113 e 19114, numa perspectiva<br />

de princípios de enquadramento que são bastante simples<br />

e de fácil adopção. Tendo participado directamente <strong>na</strong><br />

elaboração destas normas, e posteriormente <strong>na</strong> norma ISO<br />

19131 de especificação de Produto de Dados Geográficos<br />

que delas faz uso, pude aperceber-me <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de de<br />

conceitos tradicio<strong>na</strong>lmente aceites que teriam de ser revistos<br />

para que as normas fossem aplica<strong>da</strong>s.<br />

consistência, exactidão temática, exactidão temporal e completude,<br />

desculpem-me esta publici<strong>da</strong>de) e de sub-elementos,<br />

além <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de de definição de medi<strong>da</strong>s várias<br />

para ca<strong>da</strong> um deles. Exemplificando, não se deve referir a<br />

exactidão posicio<strong>na</strong>l absoluta de <strong>da</strong>dos geográficos mas,<br />

mais correctamente, a exactidão posicio<strong>na</strong>l absoluta estima<strong>da</strong><br />

com recurso a uma determi<strong>na</strong><strong>da</strong> medi<strong>da</strong> e a uma<br />

determi<strong>na</strong><strong>da</strong> estratégia de amostragem.<br />

As discussões em torno <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de para a elaboração<br />

<strong>da</strong>s normas foram também muito pe<strong>da</strong>gógicas, rapi<strong>da</strong>mente<br />

me apercebi de que é necessário experimentar para ter<br />

uma opinião fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>: experimentar a produção de<br />

informação geográfica, experimentar a medição <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de<br />

e experimentar a utilização. O confronto de diferentes<br />

experiências de uso <strong>da</strong> informação geográfica, <strong>da</strong> cartografia<br />

náutica e aeronáutica à dos sistemas de <strong>na</strong>vegação para<br />

automóveis e a de apoio aos censos, contribui para elimi<strong>na</strong>r<br />

os preconceitos e encontrar a base teórica aplicável à<br />

generali<strong>da</strong>de dos casos. A discussão para alcançar consenso<br />

pode ser lenta, mas permite ganhar tempo <strong>na</strong> fase de<br />

implementação <strong>da</strong>s decisões e seria um bom exemplo a<br />

seguir a nível <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.<br />

Actualmente a prática <strong>da</strong> análise de quali<strong>da</strong>de dos <strong>da</strong>dos geográficos<br />

está bastante mais generaliza<strong>da</strong> mas, infelizmente,<br />

continua a ser realiza<strong>da</strong> sem ter um enquadramento teórico<br />

e normativo adequado. Note-se que a normalização <strong>da</strong> ISO<br />

é tendencialmente conservadora, aplicável e produzi<strong>da</strong> com<br />

base em consensos, a geo-comuni<strong>da</strong>de <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l poderia<br />

portanto adoptar as normas inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is sem o receio de<br />

estar a correr riscos.<br />

As dificul<strong>da</strong>des começam <strong>na</strong> especificação: só poderia haver<br />

medi<strong>da</strong> de quali<strong>da</strong>de por comparação com uma especificação,<br />

mas a generali<strong>da</strong>de dos processos existentes assumem,<br />

de algum modo, a existência <strong>da</strong> tal reali<strong>da</strong>de única<br />

e concreta contra a qual to<strong>da</strong>s as medi<strong>da</strong>s comparativas<br />

podem ser feitas. Percebia-se ain<strong>da</strong> que não existia uma<br />

boa sistematização dos elementos de quali<strong>da</strong>de a medir,<br />

o famoso rigor afi<strong>na</strong>l era um conceito vago. Efectivamente,<br />

mesmo a sistematização actualmente preconiza<strong>da</strong> pela<br />

norma ISO 19113 assume que alguns dos elementos de<br />

quali<strong>da</strong>de são interdependentes mas oferece um conjunto<br />

utilizável de elementos de quali<strong>da</strong>de (exactidão posicio<strong>na</strong>l,<br />

Terceiro mito: O mito <strong>da</strong> cartografia de base e <strong>da</strong> cartografia<br />

temática<br />

“In the Treaty of Riga of August 11, 1920, between Latvia<br />

and the Soviet Union, the boun<strong>da</strong>ry was defined as extending<br />

“as far as the letter “V” of the word “Kailov” and “to<br />

the curve of the river Lja, 2 versts to the North of the word<br />

“Stari<strong>na</strong>””. The map used was not identified in the text.”<br />

Stephen Jones, in. “Boun<strong>da</strong>ry-Making”.<br />

Uma boa parte dos mal-entendidos actualmente existentes<br />

relativamente à cartografia prendem-se com a incompreensão<br />

do seu âmbito de funcio<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de. A carta topográfica


Destaque<br />

23<br />

é fun<strong>da</strong>mentalmente um instrumento de posicio<strong>na</strong>mento,<br />

ou seja, a identificação de coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s sobre uma carta<br />

impressa, utilizando características geográficas representa<strong>da</strong>s<br />

como referência, é um método de determi<strong>na</strong>ção de<br />

coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s prático, rápido e que não requer equipamento<br />

nem conhecimentos sofisticados. Note-se que, antes <strong>da</strong><br />

existência de GPS, os métodos topográficos e fotogramétricos<br />

apoiados <strong>na</strong> rede geodésica seriam a alter<strong>na</strong>tiva para<br />

a determi<strong>na</strong>ção de coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s, indubitavelmente menos<br />

práticos e menos acessíveis para grande parte <strong>da</strong>s situações<br />

de utilização.<br />

Daí o conceito de cartografia de base e de cartografia temática,<br />

a primeira providencia a geo-referenciação e a<br />

segun<strong>da</strong> usa essa base para geo-referenciar outras características<br />

geográficas. Ou seja, a função <strong>da</strong> cartografia de<br />

base é providenciar os elementos suficientes para permitir<br />

o posicio<strong>na</strong>mento, de forma relativa, de outras características<br />

geográficas. Assim, a geo-referenciação <strong>da</strong> componente<br />

temática é assegura<strong>da</strong> pela sua sobreposição <strong>na</strong> base e a<br />

componente posicio<strong>na</strong>l está, neste contexto, sempre associa<strong>da</strong><br />

à apresentação do tema sobre a base.<br />

Ora facilmente se verifica que em suporte digital os temas<br />

são autónomos em termos de geo-referenciação. As possibili<strong>da</strong>des<br />

de composição de temas são inúmeras, esta é<br />

aliás uma <strong>da</strong>s grandes vantagens <strong>da</strong> informação geográfica<br />

digital, e portanto a existência de um tema tor<strong>na</strong>-se independente<br />

<strong>da</strong> existência de uma base e este passa a poder<br />

ser utilizado individualmente. Os conceitos de cartografia de<br />

base e de cartografia temática deixaram assim de ser sustentáveis,<br />

principalmente deixa de haver benefício prático<br />

em ter esta divisão vinca<strong>da</strong> teoricamente de um modo tão<br />

fun<strong>da</strong>mental, a não ser que sejam entendidos como desig<strong>na</strong>ções<br />

de produtos impressos. Veja-se, como exemplo, que<br />

um tema pode ser produzido individualmente com recurso<br />

a GPS, e nesse caso não tem uma base, ou por classificação<br />

de imagens de satélite e, nesse caso, esta base não tem<br />

necessariamente que acompanhar o tema. Estes <strong>da</strong>dos têm<br />

características de quali<strong>da</strong>de próprias e são estas que condicio<strong>na</strong>m<br />

o seu uso.<br />

Assume aqui importância fun<strong>da</strong>mental o conceito de<br />

Conjunto de Dados Geográficos utilizado <strong>na</strong>s normas ISO<br />

19100, que introduz, por si só, e de uma maneira simples,<br />

um corte radical com a abor<strong>da</strong>gem pelas “cartografias”. Um<br />

CDG pode corresponder a uma única característica geográfica,<br />

a um “tema” ou a um conjunto de “temas” (p.ex.: estra<strong>da</strong>s,<br />

casas, um plano de orde<strong>na</strong>mento, servidões, todos<br />

os componentes de um mapa de estra<strong>da</strong>s).<br />

Mas se os temas já são independentes <strong>da</strong> cartografia de<br />

base, então a produção desta deveria ser repensa<strong>da</strong> para<br />

as suas novas funções. Talvez a abor<strong>da</strong>gem correcta fosse<br />

não somente a de repensar o produto mas a de repensar<br />

a própria estratégia e passar a produzir CDG de interesse<br />

genérico. A abor<strong>da</strong>gem por CDG <strong>da</strong>ria eficácia à regulamentação,<br />

actualmente bloquea<strong>da</strong> pela utilização dos<br />

conceitos de cartografia de base topográfica e de cartografia<br />

temática.<br />

Para a utilização como base de geo-referenciação é suficiente<br />

a utilização de catálogos de características geográficas<br />

com pouca diferenciação temática. Há que evitar a tentação<br />

de abusar <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des do desenho digital, agora<br />

liberto <strong>da</strong>s restrições de legibili<strong>da</strong>de gráfica, e enriquecer<br />

demasiado a legen<strong>da</strong>, ou seja, a diferenciação temática.<br />

Esta opção conduz, por um lado, a produção e manutenção<br />

mais onerosas sem o benefício correspondente, uma vez<br />

que a diferenciação temática feita de um modo generalista<br />

dificilmente satisfará o utilizador especializado e, por outro<br />

lado, à utilização de estruturas de <strong>da</strong>dos menos adequa<strong>da</strong>s,<br />

porque o local próprio para fazer a diferenciação temática é<br />

num sistema de informação e não num desenho. Subjacente<br />

a esta tendência está a crença no primeiro mito, que leva<br />

a acreditar que é possível caminhar para uma representação<br />

fiel do terreno juntando mais informação, que isso é só uma<br />

questão de aumentar o esforço, quando afi<strong>na</strong>l tal desiderato<br />

simplesmente não existe.<br />

Reflicta-se então sobre as representações geográficas com<br />

valor oficial que, de algum modo, estão cataloga<strong>da</strong>s como<br />

cartografia temática. A existência de uma base oficial, e o<br />

termo oficial é aqui utilizado no sentido de uma base que<br />

proporcio<strong>na</strong> uma geo-referenciação váli<strong>da</strong> para fins oficiais,<br />

é redun<strong>da</strong>nte porque a geometria dos CDG é <strong>da</strong><strong>da</strong> directamente<br />

pelas suas coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s em forma digital e não por<br />

estarem desenhados em cima de algo. A oficialização, nos<br />

casos em que fosse aplicável, deveria incidir sobre a versão<br />

digital e atender às características de quali<strong>da</strong>de do CDG em


Destaque<br />

24<br />

causa, ou seja, sobre o produto e não sobre o processo de<br />

produção ou sobre a versão impressa.<br />

A interpretação posicio<strong>na</strong>l <strong>da</strong>s linhas impressas, às quais<br />

pode estar associado o valor legal, não é isenta de problemas.<br />

Esta deve ser feita com conhecimento do que realmente<br />

significa uma linha desenha<strong>da</strong> <strong>na</strong> cartografia e do<br />

processo matemático que lhe atribui coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s numa<br />

versão digital e não através <strong>da</strong> sobreposição ingénua de<br />

mapas, frequentemente muito distorcidos. A citação de<br />

abertura desta secção é um exemplo, caricato é certo, <strong>da</strong><br />

ideia de atribuir um valor legal em função <strong>da</strong> base em que<br />

está feito o desenho.<br />

É actualmente reconhecido que grande parte dos Planos<br />

Municipais de Orde<strong>na</strong>mento do Território têm expressão<br />

cartográfica deficiente, com níveis de exactidão posicio<strong>na</strong>l<br />

baixos que não são atribuíveis à cartografia de base. Ora o<br />

si<strong>na</strong>l que tem passado para o nível político aparenta ser o<br />

de que o problema deriva <strong>da</strong> actuali<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> cartografia de base – o que pode acontecer mas não é<br />

a causa única, nem talvez a maior – induzindo a produção<br />

de regulamentação incidindo no alvo errado e a adopção<br />

de priori<strong>da</strong>des de investimento que só indirectamente contribuem<br />

para melhorar a quali<strong>da</strong>de cartográfica dos instrumentos<br />

de gestão do território.<br />

Quarto mito: O mito <strong>da</strong>s regras<br />

“Na ver<strong>da</strong>de a Lei obrigava os donos dos prédios a mu<strong>da</strong>rem-nos<br />

todos os dias de orientação e de rua, segundo<br />

um plano de barafun<strong>da</strong> paranóica estabelecido por poetas<br />

surrealistas reformados.”<br />

José Gomes Ferreira, in. “As Aventuras de João Sem Medo”<br />

Um mito muito corrente no que respeita a informação geográfica<br />

é o de que se não há formatos e estruturas uniformes<br />

então “ninguém se entende”. Esta é uma ideia muito perigosa,<br />

porque se é um facto que a normalização comporta vantagens<br />

– e conce<strong>da</strong>m-me o crédito de ter gasto muito tempo<br />

<strong>na</strong> elaboração e <strong>na</strong> promoção a nível <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l <strong>da</strong>s normas<br />

ISO 19100, o que me iliba de acusações de defender uma<br />

visão radical anti-regulamentação –, se for leva<strong>da</strong> longe demais<br />

acaba por induzir à adopção de soluções i<strong>na</strong>dequa<strong>da</strong>s<br />

e levantar mais problemas do que os que possa resolver.<br />

Os aspectos fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> regulamentação são a garantia<br />

<strong>da</strong> interoperabili<strong>da</strong>de e a especificação de níveis de<br />

quali<strong>da</strong>de aceitáveis para fins específicos. O resto depende<br />

<strong>da</strong> boa prática profissio<strong>na</strong>l, que deve ser valoriza<strong>da</strong> e não<br />

restringi<strong>da</strong>.<br />

Por alguma razão ficou associa<strong>da</strong> à informação geográfica a<br />

ideia de que depende exclusivamente de regras, as “regras<br />

<strong>da</strong> cartografia”, e neste enquadramento facilmente se confundem<br />

regras com regulamentos.<br />

Esta crença, sustenta<strong>da</strong> pelos três primeiro mitos, faz mais<br />

ou menos o mesmo sentido que dispensar o exercício <strong>da</strong><br />

arquitectura e <strong>da</strong> engenharia civil porque existem normas<br />

de construção, ou do urbanismo porque existem normas<br />

urbanísticas.<br />

Quinto mito: O mito do SIG<br />

“…quiserão isto acometer […] grosseiramente e quasi per<br />

cõjeitura. E errarão em muitas cousas: saindo <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>deyra<br />

figuração: pollo desconcerto e confusão <strong>da</strong> sua instituição:<br />

como podera considerar quem disso quiser tomar<br />

experiencia.”<br />

Pedro Nunes, in. “Tratado <strong>da</strong> Sphera”.<br />

A utilização de informação geográfica é apresenta<strong>da</strong> como<br />

um salto abrupto para a moderni<strong>da</strong>de. É-o em parte, mas<br />

essa evolução é relativamente gradual, não é determi<strong>na</strong><strong>da</strong><br />

pela aquisição do software nem dos <strong>da</strong>dos mas pela sua<br />

introdução eficaz nos processos de trabalho, sejam estes<br />

simples ou complexos.<br />

A própria desig<strong>na</strong>ção de Sistema de Informação Geográfica,<br />

<strong>na</strong>sci<strong>da</strong> no início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 70 e que agregou as<br />

múltiplas desig<strong>na</strong>ções sectoriais atribuí<strong>da</strong>s a sistemas de informação<br />

e programas que operavam com informação geográfica<br />

digital, presta-se actualmente a mal entendidos. Seria<br />

mais claro, no contexto actual, falar distintamente de <strong>da</strong>dos<br />

geográficos, de sistemas de informação e de software que<br />

permite a utilização de informação geográfica. É hoje mais<br />

ou menos irrelevante fazer doutri<strong>na</strong> <strong>da</strong> diferenciação entre<br />

CAD, SIG, folha de cálculo, browser ou sistema de gestão de<br />

base de <strong>da</strong>dos, tal é a promiscui<strong>da</strong>de de funcio<strong>na</strong>li<strong>da</strong>des. O<br />

fun<strong>da</strong>mental é que se utiliza informação geográfica digital<br />

para alcançar um determi<strong>na</strong>do objectivo e que para isso se<br />

deve utilizar a plataforma mais adequa<strong>da</strong>.


Destaque<br />

25<br />

A divulgação dos SIG em Portugal já tem pelo menos quinze<br />

anos, já foi há muito ultrapassa<strong>da</strong> a fase do pioneirismo e<br />

do amadorismo, não é uma nova tecnologia, é o instrumento<br />

de trabalho <strong>na</strong>tural para quem utiliza informação geográfica.<br />

O facto de se utilizar informação geográfica em forma<br />

digital não implica que o processo seja correcto e o facto de<br />

não a utilizar nessa forma também não desculpabiliza a má<br />

prática com informação geográfica. Em suma, o mito está<br />

em focalizar a atenção <strong>na</strong> utilização de SIG quando deveria<br />

estar nos resultados.<br />

Não sendo o custo do software e do hardware impeditivos<br />

<strong>da</strong> utilização, existindo CDG acessíveis – ou sendo a sua<br />

produção parte do processo ou a dificul<strong>da</strong>de que obrigatoriamente<br />

será ultrapassa<strong>da</strong> – resta a questão <strong>da</strong> formação<br />

que garanta a boa prática. Essa formação é a que induz<br />

a competência para a prática do projecto com informação<br />

geográfica e renega os mitos cartográficos.<br />

Nos domínios mais próximos do planeamento, <strong>da</strong> gestão<br />

do território e <strong>da</strong> gestão dos recursos <strong>na</strong>turais, a formação<br />

em SIG está dissemi<strong>na</strong><strong>da</strong> e bem implanta<strong>da</strong>, embora a<br />

componente de sistemas de informação seja tradicio<strong>na</strong>lmente<br />

descura<strong>da</strong>. Na engenharia geográfica, onde é <strong>da</strong><strong>da</strong><br />

a formação no que diz respeito a determi<strong>na</strong>ção de posição,<br />

não há igual preocupação com o conteúdo nem com a vertente<br />

de sistema de informação. Na engenharia informática<br />

está <strong>na</strong>turalmente presente a componente de sistemas<br />

de informação mas nenhuma <strong>da</strong>s outras. O problema <strong>da</strong><br />

formação incompleta é que, frequentemente, em vez de<br />

contribuir para gerar equipas que agregam especiali<strong>da</strong>des<br />

complementares, acaba por resultar numa tendência para<br />

ignorar a existência de outros domínios de especiali<strong>da</strong>de.<br />

É <strong>da</strong>qui que vem a espécie de “amadorismo parcial” que<br />

é característica <strong>da</strong> activi<strong>da</strong>de <strong>na</strong> área dos sistemas de informação<br />

geográfica.<br />

Em larga medi<strong>da</strong>, a utilização de SIG é simplesmente instrumental<br />

<strong>na</strong> maior parte dos domínios, sendo o conhecimento<br />

fun<strong>da</strong>mental aquele que respeita ao domínio de<br />

aplicação. A ideia de pluridiscipli<strong>na</strong>ri<strong>da</strong>de é no entanto facilmente<br />

converti<strong>da</strong> em não-discipli<strong>na</strong>ri<strong>da</strong>de, ou seja, não é<br />

preciso saber <strong>na</strong><strong>da</strong>. Para a realização de estudos de reduzi<strong>da</strong><br />

complexi<strong>da</strong>de, ou de reduzido impacto, a falta de formação<br />

específica não será dramática. Já para a elaboração<br />

de sistemas ou de estudos de grande complexi<strong>da</strong>de, ou de<br />

grande responsabili<strong>da</strong>de, é importante que se evitem erros<br />

básicos e que o projecto conte com a contribuição de técnicos<br />

ver<strong>da</strong>deiramente conhecedores dos aspectos que são<br />

específicos <strong>da</strong> informação geográfica, independentemente<br />

do campo de aplicação.<br />

Conclusão<br />

“Só posso supor que os triângulos feitos pelo Dr. Livingstone<br />

<strong>da</strong> ilha do Jardim foram resolvidos só com os ângulos, porque<br />

lados não podia <strong>da</strong>quele ponto medir nenhum. Pe<strong>na</strong> é<br />

que não ficasse a fórmula.”<br />

Serpa Pinto, in. “Como Eu Atravessei a África”.<br />

Uma coisa se pode atestar, a crença nos mitos referidos produz<br />

uma obstrução imensa ao desenvolvimento e à prossecução<br />

de qualquer estratégia.<br />

Se a vontade política, a viabili<strong>da</strong>de económica e viabili<strong>da</strong>de<br />

tecnológica são os ângulos de um triângulo, então a correcta<br />

abor<strong>da</strong>gem técnica é o lado que falta para a sua resolução,<br />

é o nosso lado. Quem o conseguir só com os ângulos<br />

que deixe a fórmula n<br />

Também <strong>na</strong> qualificação profissio<strong>na</strong>l requeri<strong>da</strong> há pequenos<br />

mitos, que curiosamente são contraditórios. Por um lado, o<br />

de que a utilização de SIG é muito difícil e requer grande<br />

especialização, fora do alcance de gabinetes de projecto e<br />

de autarquias – o que talvez fosse ver<strong>da</strong>de <strong>na</strong> primeira metade<br />

<strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 90 –; e por outro lado o de que uns<br />

recém-licenciados com “jeito para computadores” resolvem<br />

o assunto.<br />

João Matos, ICIST - <strong>Instituto</strong> de Engenharia de Estruturas, Território<br />

e Construção / <strong>Instituto</strong> Superior Técnico<br />

(jmatos@civil.ist.utl.pt)


Destaque<br />

26<br />

A Informação Geográfica,<br />

a Geografia e a Internet:<br />

Um novo olhar sobre a<br />

Socie<strong>da</strong>de e o Território<br />

Marco Painho<br />

Os Sistemas de Informação Geográfica:<br />

uma definição<br />

Os Sistemas de Informação Geográfica (SIG) pelas suas características<br />

aplicacio<strong>na</strong>is multidiscipli<strong>na</strong>res e pela profusão<br />

de outros sistemas de características semelhantes são de<br />

difícil definição. É possível, no entanto, conceber uma definição<br />

que englobe a tecnologia que os apoia (hardware<br />

e software), a base de <strong>da</strong>dos (incluindo a informação geográfica<br />

e outra com ela relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>), os métodos utilizados<br />

<strong>na</strong> exploração dos <strong>da</strong>dos e ain<strong>da</strong> a infra-estrutura que inclui<br />

os recursos humanos, as instalações e outros elementos de<br />

apoio. Neste sentido e de acordo com a figura 1 um SIG<br />

poderá ser definido como um sistema composto por hardware,<br />

software e um ambiente institucio<strong>na</strong>l que permite<br />

armaze<strong>na</strong>r, processar, visualizar e a<strong>na</strong>lisar <strong>da</strong>dos de <strong>na</strong>tureza<br />

geo-espacial (referenciados à superfície <strong>da</strong> terra)(PAINHO,<br />

2002).<br />

Este tipo de definição mais funcio<strong>na</strong>l é considerado a mais<br />

tradicio<strong>na</strong>l. Uma definição mais alarga<strong>da</strong> e actual deverá<br />

olhar para os SIG como o conjunto dos saberes associados<br />

ao conhecimento do comportamento geo-espacial de<br />

fenómenos (Ciência de Informação Geográfica) que permitem<br />

uma integração quase perfeita de <strong>da</strong>dos de <strong>na</strong>turezas<br />

diversas, possibilitando uma interacção via WEB (PAINHO,<br />

2002).<br />

Contexto histórico<br />

Génese social e histórica<br />

O boom dos Sistemas de Informação Geográfica (SIG) desde<br />

o início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 80, especialmente nos Estados<br />

Unidos <strong>da</strong> América, pode ser explicado como tendo uma<br />

origem multifaceta<strong>da</strong> que vai <strong>da</strong>s grandes mu<strong>da</strong>nças no


Destaque<br />

27<br />

INPUT<br />

Aquisição e edição<br />

Base de Dados<br />

Armaze<strong>na</strong>mento<br />

Manipulação e análise<br />

Sistema de Informação Geográfica<br />

Visualização e impressão<br />

OUTPUT<br />

Fig.1. Definição tradicio<strong>na</strong>l de Sistema de Informação Geográfica. (Fonte: PAINHO, 2002)<br />

pensamento contemporâneo a necessi<strong>da</strong>des técnicas muito<br />

práticas em várias áreas do conhecimento.<br />

A tendência mais recente de descentralização do poder, ou<br />

a distribuição do poder por áreas geograficamente dispersas,<br />

tem também como consequência uma descentralização e<br />

democratização em quase todos os sectores <strong>da</strong> ciência e <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong> moder<strong>na</strong>s. Um exemplo muito concreto desta tendência<br />

é a já generaliza<strong>da</strong> utilização do microcomputador que,<br />

ape<strong>na</strong>s há duas déca<strong>da</strong>s, exigia o recurso a especialistas<br />

ain<strong>da</strong> que para desempenhar tarefas muito simples.<br />

Simultaneamente ocorreram mu<strong>da</strong>nças importantes nos<br />

sistemas <strong>na</strong>turais e humanos. O crescimento rápido dos<br />

grandes centros urbanos e o consumo e degra<strong>da</strong>ção acelerados<br />

dos recursos <strong>na</strong>turais criou uma necessi<strong>da</strong>de ca<strong>da</strong><br />

vez maior de informação sobre os estados desses sistemas<br />

de modo a permitir uma gestão eficiente. As Tecnologias de<br />

Informação (TI) têm demonstrado ser um excelente meio<br />

de gerir e a<strong>na</strong>lisar essa informação, tor<strong>na</strong>ndo-a facilmente<br />

acessível àqueles que dela necessitam.<br />

Apesar de historicamente Portugal apresentar <strong>na</strong>lgumas áreas<br />

algum isolamento em termos tecnológicos, também é<br />

ver<strong>da</strong>de que <strong>na</strong>lgumas ocasiões, se têm adoptado, ain<strong>da</strong><br />

que por imitação, tecnologias de uma forma relativamente<br />

rápi<strong>da</strong>. Contudo a adopção de uma tecnologia por imitação<br />

ocorre sem que tenham também ocorrido as modificações<br />

sociais que levaram em primeira-mão ao aparecimento dessa<br />

mesma tecnologia. Este fenómeno produz normalmente<br />

um início rápido, mas raramente leva a desenvolvimentos<br />

subsequentes. Como se verá foi este o caso <strong>da</strong> primeira<br />

fase <strong>da</strong> implementação <strong>da</strong> tecnologia SIG em Portugal (PAI-<br />

NHO, 1999).<br />

Ain<strong>da</strong> antes de os grandes pacotes de software comercial<br />

<strong>da</strong>rem entra<strong>da</strong> em Portugal, já nos anos 70 existiam algumas<br />

iniciativas isola<strong>da</strong>s de desenvolvimento deste tipo de<br />

sistemas.<br />

O grande precursor é o Gabinete <strong>da</strong> Área de Sines que começa<br />

a utilizar o pacote SYMAP de Harvard em aplicações<br />

de planeamento. Neste período são ain<strong>da</strong> importantes as<br />

acções do Centro de Estudos Geográficos <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de


Destaque<br />

28<br />

de Lisboa e também <strong>da</strong> Empresa Geral de Fomento (do<br />

então grupo CUF) que desenvolve um sistema próprio em<br />

formato matricial com cobertura total do País.<br />

A partir de meados dos anos 80 verificou-se um aumento<br />

acelerado do número de licenças de software SIG primeiro<br />

<strong>na</strong> área do ambiente e recursos <strong>na</strong>turais – de que o Atlas<br />

do Ambiente é a primeira aplicação ain<strong>da</strong> hoje em funcio<strong>na</strong>mento<br />

(PAINHO et al, 1993, MARQUES e PAINHO, 1997,<br />

PAINHO et al, MACHADO et al, 2002) – que depois se<br />

alastrou à administração central e local, às Universi<strong>da</strong>des e<br />

também à área dos serviços.<br />

Assiste-se também durante este período a um enquadramento<br />

institucio<strong>na</strong>l dos SIG em Portugal com a abertura<br />

em território <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de representações <strong>da</strong>s principais marcas<br />

de software de SIG, <strong>da</strong> criação a nível <strong>da</strong> Administração<br />

Central do Centro Nacio<strong>na</strong>l de Informação Geográfica (agora<br />

extinto) e ain<strong>da</strong> <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> USIG – Associação dos<br />

Utilizadores de Informação Geográfica. Mais recentemente<br />

(2002) é criado o <strong>Instituto</strong> Geográfico Português (IGP).<br />

Enquadramento discipli<strong>na</strong>r<br />

Em termos discipli<strong>na</strong>res é possível enquadrar os SIG como<br />

tendo a sua origem <strong>na</strong>s áreas relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s com o estudo<br />

e gestão do uso do solo e que passam pelo Orde<strong>na</strong>mento<br />

do Território, pelo Planeamento Paisagístico, por to<strong>da</strong>s<br />

as áreas relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s com o Ambiente, pela Geografia e<br />

ain<strong>da</strong>, como área de apoio pela Engenharia Informática e<br />

de Computadores.<br />

Hoje em dia as áreas de liderança <strong>na</strong> utilização e desenvolvimento<br />

dos SIG estão bastante diversifica<strong>da</strong>s e incluem<br />

para além <strong>da</strong>s tradicio<strong>na</strong>is: o Marketing, a Demografia, a<br />

Logística, a Investigação Operacio<strong>na</strong>l, os serviços baseados<br />

<strong>na</strong> localização (LBS – Location Based Services) e to<strong>da</strong>s as<br />

áreas relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s com o planeamento de infra-estruturas<br />

(educação, saúde, transportes...).<br />

A Geografia tende agora a assumir-se como a Área do Conhecimento<br />

que protagoniza o enquadramento teórico <strong>da</strong>s<br />

áreas relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s com os SIG <strong>da</strong>ndo origem à Ciência de<br />

Informação Geográfica. Também a Estatística (através dos<br />

desenvolvimentos <strong>da</strong> geo-estatística ou estatística espacial)<br />

se começa a envolver sobretudo enquanto ferramenta privilegia<strong>da</strong><br />

de análise de <strong>da</strong>dos espaciais integrando estas capaci<strong>da</strong>des<br />

nos SIG comerciais (PAINHO, 2002).<br />

Na maior parte <strong>da</strong>s muitas instituições que entretanto aderiram<br />

aos SIG, as aplicações ficaram muito pelo inventário,<br />

isto é, pela descrição de uma situação. Raramente se passou<br />

a uma fase de análise de informação e apoio à decisão.<br />

Tal como foi referido acima é relativamente difícil implementar<br />

uma tecnologia fora do contexto social em que esta<br />

foi desenvolvi<strong>da</strong>. Ora um dos pressupostos de desenvolvimento<br />

do SIG nos EUA foi que a informação infra estruturante<br />

(neste caso gratuita) produzi<strong>da</strong> pelos organismos<br />

públicos norte americanos existe e é facilmente acessível.<br />

Esta disponibili<strong>da</strong>de permite que uma instituição adquira o<br />

software e hardware SIG e, simultaneamente a informação<br />

base, podendo iniciar de imediato os projectos.<br />

O que aconteceu em Portugal foi que a tecnologia chegou<br />

antes de existir informação de base suficiente que permitisse<br />

o seu uso generalizado. O que faltou <strong>na</strong> fase inicial<br />

de crescimento <strong>da</strong> tecnologia foi a existência de uma infra-estrutura<br />

<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de informação geográfica que disponibilizasse<br />

a informação necessária aos vários domínios de<br />

aplicação.<br />

Infra-estruturas de Informação Geográfica<br />

Natureza<br />

Uma infra-estrutura <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de informação é <strong>na</strong>turalmente<br />

composta por uma rede de comunicações e de hardware<br />

capaz de facilitar o intercâmbio e acesso eficaz e universal<br />

à informação. Contudo a infra-estrutura não deve esquecer<br />

que o acesso por si só constitui uma condição necessária<br />

mas não suficiente para os benefícios <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> informação.<br />

De facto é essencial que os ci<strong>da</strong>dãos uma vez<br />

munidos <strong>da</strong>s ferramentas de acesso tenham igualmente à<br />

sua disposição informação útil e não ape<strong>na</strong>s informação generalista<br />

e sem detalhe (PAINHO, 2004).<br />

O acesso mais ou menos livre e universal a informação<br />

geográfica estruturante tem vindo a potenciar, sobretudo<br />

nos Estados Unidos <strong>da</strong> América, o aparecimento e desenvolvimento<br />

de diversas aplicações com utili<strong>da</strong>de pública e<br />

também priva<strong>da</strong>, nomea<strong>da</strong>mente <strong>na</strong> criação de produtos<br />

de mais-valia em torno dos quais giram uma miríade de


Destaque<br />

29<br />

empresas de informação. Estes conjuntos de <strong>da</strong>dos disponibilizados<br />

pelos organismos gover<strong>na</strong>mentais competentes<br />

contém basicamente dois tipos de informação: informação<br />

física (rede hidrográfica e topografia) e informação socioeconómica<br />

(uni<strong>da</strong>des básicas de recolha de informação<br />

- quarteirões, e eixos viários). A utili<strong>da</strong>de e benefício <strong>da</strong><br />

existência desta infra-estrutura advém não só do acesso à<br />

informação em si mas também do facto de ser possível<br />

assegurar compatibili<strong>da</strong>de entre as aplicações e produtos<br />

desenvolvidos com base numa infra-estrutura única.<br />

Em Portugal a ven<strong>da</strong> de software e hardware relacio<strong>na</strong>dos<br />

com o processamento e análise de informação geográfica<br />

tem vindo também a conhecer uma grande expansão,<br />

tendo sido inclusivamente, no caso <strong>da</strong>s autarquias locais,<br />

fi<strong>na</strong>nciado pelo Estado. Contudo, à expansão <strong>da</strong>s ven<strong>da</strong>s<br />

<strong>da</strong> infra-estrutura física não tem correspondido um aumento<br />

correspondente <strong>da</strong>s aplicações e produtos baseados em<br />

informação geográfica, sendo o baixo grau de desenvolvimento<br />

mais notório ao nível do sector privado. No último<br />

caso, o baixo grau de investimento residirá no facto de não<br />

existir uma clara perspectiva em termos de benefícios quando<br />

confrontados com o investimento <strong>na</strong> infra-estrutura física.<br />

As razões do atraso português nesta área prendem-se<br />

efectivamente, e em grande parte, com a falta de uma infra-<br />

- estrutura <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de informação geográfica (INIG) consistente<br />

e acessível que permita o desenvolvimento imediato<br />

de aplicações e de produtos de informação. Isto apesar de<br />

alguns esforços desenvolvidos nesta área pelo Centro Nacio<strong>na</strong>l<br />

de Informação Geográfica (CNIG) e actualmente pelo<br />

IGP, através <strong>da</strong> rede SNIG.<br />

A INIG deverá contemplar as áreas socio-económica e física<br />

em termos de cobertura completa do território <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l,<br />

sugerindo-se portanto a criação <strong>da</strong> infra-estrutura ao nível<br />

de dois grandes grupos estruturantes de informação. A<br />

composição mínima em termos de níveis de informação<br />

básicos, devi<strong>da</strong>mente compatibilizados, que permitam às<br />

instituições públicas e priva<strong>da</strong>s o normal desenvolvimento<br />

nesta área deverá conter:<br />

a) Na área socio-económica: (1) divisão administrativa <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l<br />

até à freguesia 2 ; (2) eixos de via e rede viária; (3)<br />

código postal no formato 4 + 3; (4) estrutura de levantamento<br />

de <strong>da</strong>dos censitários incluindo secções e<br />

subsecções urba<strong>na</strong>s e rurais; (5) ca<strong>da</strong>stro multi-funci<strong>na</strong>l 3 .<br />

b) Na área física: (1) rede hidrográfica <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l; (2) topo<br />

grafia e rede geodésica <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.<br />

Convém de novo salientar que a estrutura acima proposta<br />

só tem interesse se a produção <strong>da</strong> informação for devi<strong>da</strong>mente<br />

coorde<strong>na</strong><strong>da</strong> de modo a que as variáveis sejam compatíveis<br />

entre si. A coorde<strong>na</strong>ção efectiva <strong>da</strong> INIG constitui o<br />

factor fun<strong>da</strong>mental para o seu sucesso. O acesso à INIG a<br />

preços razoáveis é outro factor fun<strong>da</strong>mental.<br />

Assim uma Infra-estrutura Nacio<strong>na</strong>l de Informação Geográfica<br />

deverá:<br />

· Ser construí<strong>da</strong> de forma coorde<strong>na</strong><strong>da</strong> pelos organismos<br />

competentes;<br />

· Ser construí<strong>da</strong> a uma mesma escala(s) 1 para os vários tipos<br />

de informação;<br />

· Ser compatível com o processamento em SIG;<br />

· Ter uma política de distribuição a muito baixo custo ou<br />

mesmo grátis;<br />

· Assegurar a compatibili<strong>da</strong>de dos <strong>da</strong>dos base construídos<br />

pelos diversos organismos competentes;<br />

1 Por exemplo as escalas 1:25 000 e 1:100 000. A escala de enquadramento<br />

1:1 000 000 encontra-se já disponibiliza<strong>da</strong> pelo <strong>Instituto</strong><br />

do Ambiente para alguns dos temas básicos (PAINHO e SOUSA,<br />

1998).<br />

2 A carta administrativa até ao nível <strong>da</strong> freguesia encontra-se disponibiliza<strong>da</strong><br />

pelo IGP <strong>na</strong> Internet (http://www.igeo.pt/caop.htm)<br />

– Carta Administrativa Oficial de Portugal – CAOP V3.0<br />

3 A longo prazo, o ca<strong>da</strong>stro multi-funcio<strong>na</strong>l poderá vir a constituir<br />

a infra-estrutura base. Este tipo de infra-estrutura exige no entanto<br />

um investimento muito elevado e não poderá estar disponível<br />

a curto prazo. Contudo, o conceito de ca<strong>da</strong>stro multi-funcio<strong>na</strong>l<br />

extravasa a utili<strong>da</strong>de do ca<strong>da</strong>stro tal como ele existe actualmente<br />

possibilitando, para além <strong>da</strong>s aplicações liga<strong>da</strong>s às fi<strong>na</strong>nças a sua<br />

utilização em termos de planeamento urbano, regio<strong>na</strong>l, agricultura,<br />

localização, negócios e um sem número de aplicações potencia<strong>da</strong>s<br />

por utilizadores diversos que poderão acrescentar à informação<br />

cartográfica base informação de interesse sectorial.


Destaque<br />

30<br />

Uma INIG para <strong>da</strong>dos Socio-económicos<br />

Em Novembro de 1997, o <strong>Instituto</strong> Nacio<strong>na</strong>l de Estatística<br />

deu início à execução de um programa desti<strong>na</strong>do à constituição<br />

do suporte cartográfico com as delimitações administrativas<br />

e estatísticas de apoio à Operação Censos 2001.<br />

A Base Geográfica de Referenciação de Informação (BGRI),<br />

como habitualmente é desig<strong>na</strong><strong>da</strong> a geografia <strong>da</strong>s áreas estatísticas<br />

defini<strong>da</strong>s para os Censos 2001, foi constituí<strong>da</strong> com<br />

recurso ao sistema de informação geográfica do INE (INE-<br />

SIG) e dividiu o território <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l num conjunto de 177<br />

894 parcelas (subsecções estatísticas), delimita<strong>da</strong>s e codifica<strong>da</strong>s.<br />

É uma base poligo<strong>na</strong>l hierarquiza<strong>da</strong> cuja uni<strong>da</strong>de<br />

mínima de representação é a subsecção estatística (Fig.2).<br />

Fig.2. Base poligo<strong>na</strong>l<br />

desenha<strong>da</strong> sobre<br />

ortofoto (Fonte:<br />

Gabinete do Censos<br />

2001, 2001).


Destaque<br />

31<br />

Fig.3. BGRI desenha<strong>da</strong><br />

sobre cartografia digital<br />

(Fonte: MASSUÇA<br />

e PAINHO, 1998)<br />

Para este trabalho, o INE implementou uma estratégia de<br />

colaboração com um conjunto de organismos <strong>da</strong> Administração<br />

Central, dos quais se destacam o <strong>Instituto</strong> Geográfico<br />

do Exército (IGeoE) (SANTOS et al, 2001) e os extintos <strong>Instituto</strong><br />

Português de Cartografia e Ca<strong>da</strong>stro (IPCC) e Centro<br />

Nacio<strong>na</strong>l de Informação Geográfica 4 (CNIG), e <strong>da</strong> Administração<br />

Local, onde muito justamente se salientam as Autarquias<br />

Locais – Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia<br />

– e as Associações de Municípios.<br />

A Cartografia Base licencia<strong>da</strong>, <strong>da</strong> qual se destaca a Carta<br />

Militar de Portugal (Esc. 1:25 000) (Fig. 3) e a ortofotocartografia<br />

<strong>da</strong> série <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l (Esc. 1:10 000), permitiu constituir<br />

a versão digital <strong>da</strong> geografia hierarquiza<strong>da</strong> <strong>da</strong>s áreas estatísticas<br />

dos Censos 1991 (Base Geográfica de Referenciação<br />

Espacial - BGRE) e efectuar o processo de edição necessário<br />

à constituição <strong>da</strong> BGRI.<br />

organiza<strong>da</strong> hierarquicamente sendo possível extrair informação<br />

sobre qualquer uni<strong>da</strong>de administrativa (região, distrito,<br />

agrupamento de concelhos, concelho, freguesia) ou<br />

estatística (secção e subsecção). É uma base relacionável<br />

com qualquer base de <strong>da</strong>dos empresarial ou institucio<strong>na</strong>l<br />

organiza<strong>da</strong> em uni<strong>da</strong>des administrativas ou estatísticas que<br />

utilize a codificação do INE.<br />

Esta iniciativa contribui claramente para a universali<strong>da</strong>de do<br />

acesso à informação geográfica, sobretudo a de <strong>na</strong>tureza<br />

socio-económica, com benefícios evidentes para os mais<br />

diversos sectores de activi<strong>da</strong>de, não ape<strong>na</strong>s para os vários<br />

níveis <strong>da</strong> administração pública mas também para as diferentes<br />

áreas de activi<strong>da</strong>de priva<strong>da</strong>. Destaca-se ain<strong>da</strong> o facto<br />

de o INE ter desenvolvido uma base mínima comum<br />

(BMC) que permite a visualização e comparação dos <strong>da</strong>dos<br />

de 1991 e 2001.<br />

Decorridos oito anos desde o início dos trabalhos e cerca<br />

de quatro anos após os Censos 2001, o INE disponibilizou<br />

a versão <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l <strong>da</strong> BGRI e <strong>da</strong> BGRE em suporte digital<br />

vectorial. A resolução dos <strong>da</strong>dos é equivalente à escala 1:25<br />

000, não obstante, em determi<strong>na</strong><strong>da</strong>s áreas geográficas, terem<br />

sido utilizados <strong>da</strong>dos de escalas maiores para a edição<br />

<strong>da</strong> BGRI.<br />

A BGRI está associa<strong>da</strong> a uma base de <strong>da</strong>dos que contém<br />

informação sobre população e habitação. Esta base está<br />

4 Actualmente <strong>Instituto</strong> Geográfico Português (IGP).<br />

A BGRI constitui de facto a única base de informação geográfica<br />

consistente e com cobertura exaustiva do território<br />

<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. Esta base teve como origem fontes cartográficas<br />

diversas e possui uma exactidão, em média, equivalente à<br />

escala 1:25 000, sendo completamente compatível com<br />

outros conjuntos de <strong>da</strong>dos geográficos e aplicações que tenham<br />

tido como base ou referência a carta militar <strong>da</strong> série<br />

1:25 000. A BGRI apesar de apresentar um retrato administrativo<br />

e estatístico bastante detalhado, cobrindo todo o<br />

território <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l sem sobreposições ou vazios, não pode,<br />

em caso algum, substituir o ca<strong>da</strong>stro.


Destaque<br />

32<br />

A BGRI divide o território em 4241 freguesias, 16094 secções<br />

e 177893 subsecções, constituindo a única base de<br />

<strong>da</strong>dos deste género existente em Portugal capaz de potenciar<br />

aplicações <strong>na</strong> área socio-económica com integração a<br />

nível <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.<br />

Da<strong>da</strong>s as suas características, a utilização <strong>da</strong> BGRI deverá<br />

vir a tor<strong>na</strong>r-se indispensável <strong>na</strong> grande maioria <strong>da</strong>s acções<br />

de planeamento. De facto é possível associar um enorme<br />

ma<strong>na</strong>ncial de informação socio-económica, disponível no<br />

INE e no Sistema Estatístico Nacio<strong>na</strong>l em geral, aos vários<br />

níveis hierárquicos, administrativos e estatísticos <strong>da</strong> BGRI. A<br />

informação susceptível de ser associa<strong>da</strong> cobre um grande<br />

número de sectores incluindo a educação, a saúde e a agricultura,<br />

entre muitos outros.<br />

A BGRI também pode (e deve) servir de suporte à elaboração<br />

de planos directores municipais. Para além de outras<br />

vantagens a utilização <strong>da</strong> BGRI permite uma visão <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l<br />

e regio<strong>na</strong>l do estado do planeamento do território, o que<br />

até agora nunca foi possível. Acresce ain<strong>da</strong>, como referido<br />

acima, que a BGRI é compatível com a carta militar, tradicio<strong>na</strong>lmente<br />

utiliza<strong>da</strong> como suporte à cartografia de orde<strong>na</strong>mento<br />

do território.<br />

Aplicações <strong>da</strong> Informação Geográfica<br />

As aplicações <strong>da</strong> Informação Geográfica, e dos SIG, são hoje<br />

em dia socialmente abrangentes e têm aplicação em praticamente<br />

to<strong>da</strong>s as áreas <strong>da</strong> activi<strong>da</strong>de huma<strong>na</strong>. De facto to<strong>da</strong>s<br />

as áreas que li<strong>da</strong>m com informação geo-espacial sob as<br />

mais varia<strong>da</strong>s representações – incluindo tipos de objectos<br />

como pontos, arcos e polígonos, mas também redes lineares,<br />

redes triangulares, quadrículas, superfícies – podem ser<br />

trata<strong>da</strong>s e a<strong>na</strong>lisa<strong>da</strong>s em sede de sistemas de informação<br />

geográfica (PAINHO, 2002). A título de exemplo, e sem pretensão<br />

de exaustivi<strong>da</strong>de, apresenta-se de segui<strong>da</strong> uma lista<br />

de possíveis aplicações:<br />

Epidemiológica · Desenho de Círculos Eleitorais · Gestão e<br />

Planeamento de Serviços · Previsões Económicas · Serviço<br />

112 · Direct Mailing · Gestão de Media em Publici<strong>da</strong>de ·<br />

Controle de Encomen<strong>da</strong>s · GPS 5 · Navegação · Modelação<br />

3D · Ca<strong>da</strong>stro · Avisos ao Público · Análise Estratégica de<br />

Legislação · Áreas de Serviço · Zo<strong>na</strong>mento · Zo<strong>na</strong>s Húmi<strong>da</strong>s<br />

· Localização de Redes de Transporte · Análise Demográfica ·<br />

Censos · Criminologia · Topografia · Amostragem · Territórios<br />

de Ven<strong>da</strong>s · Gestão <strong>da</strong> Quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Água · Fotogrametria<br />

· Imagens de Satélite · Habitats de Espécies em Perigo ·<br />

Detecção Remota · Risco de Incêndio · Gestão de Colheitas<br />

· Gestão de Risco de Seguros · Geologia · Gestão do Crescimento<br />

· Planeamento Regio<strong>na</strong>l · Desenvolvimento Turístico<br />

· Modelação Hidrológica<br />

O interesse dos SIG para as aplicações <strong>na</strong> área <strong>da</strong> geo-demografia,<br />

traduz-se numa miríade de aplicações nomea<strong>da</strong>mente<br />

as relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s com operações de direct mailing,<br />

de análise de localização de clientes, distribuição de densi<strong>da</strong>des,<br />

estrutura demográfica e <strong>na</strong> mais tradicio<strong>na</strong>l análise<br />

de localização de postos de contacto com os clientes de<br />

retalho. O termo mais em voga <strong>na</strong>s empresas de negócios<br />

é o de geomarketing, ou seja, o marketing realizado com<br />

base em informação geográfica, demográfica e socio-económica.<br />

O relativo desenvolvimento desta discipli<strong>na</strong> advém<br />

<strong>da</strong> constatação de que muitos dos fenómenos sociais têm<br />

uma matriz de <strong>na</strong>tureza geográfica. Esta reali<strong>da</strong>de tor<strong>na</strong>-se<br />

ain<strong>da</strong> mais marcante ao nível dos negócios. A localização<br />

<strong>da</strong> empresa e agências é importante para os clientes e para<br />

atrair colaboradores qualificados. Por outro lado as empresas<br />

planeiam campanhas, fazem entregas, visitas, propagan<strong>da</strong><br />

e manutenção a clientes em determi<strong>na</strong><strong>da</strong>s zo<strong>na</strong>s.<br />

Nestes casos e em muitos outros a tecnologia associa<strong>da</strong><br />

à Ciência e aos Sistemas de Informação Geográfica apoia<br />

de forma eficaz as operações de <strong>na</strong>tureza geográfica<br />

<strong>da</strong>s empresas.<br />

Análise de Localização · Análise de Mercado · Análise de Impacte<br />

Ambiental · Orde<strong>na</strong>mento do Território · Policiamento<br />

· Cartografia · Gestão de Activos · Avaliação Imobiliária ·<br />

Avaliação de Risco Ambiental · Gestão de Portfólios · Distribuição<br />

e Logística · Planeamento de Transportes · Planeamento<br />

de Emergências · Educação Primária e Secundária<br />

· Gestão de Florestas · Resposta a Incêndios · Investigação<br />

A informação socio-económica e geográfica proveniente do<br />

INE e de outras fontes priva<strong>da</strong>s pode mostrar-se bastante<br />

útil <strong>na</strong> análise de padrões e <strong>na</strong> classificação e zo<strong>na</strong>mento<br />

de acordo perfis demográficos de clientes. A figura 4, por<br />

5 Global Positioning System.


Destaque<br />

33<br />

exemplo, mostra um cruzamento entre uma classificação<br />

<strong>da</strong>s secções estatísticas (perfil de clientes) e a localização<br />

de agências bancárias <strong>na</strong> ci<strong>da</strong>de de Lisboa.<br />

Um novo olhar sobre a Geografia:<br />

A Informação Geográfica <strong>na</strong> e <strong>da</strong> Internet<br />

Geografia e Internet<br />

O aparecimento e utilização generaliza<strong>da</strong> <strong>da</strong> Internet provocaram<br />

impactes importantes <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de nomea<strong>da</strong>mente<br />

<strong>na</strong> forma de relacio<strong>na</strong>mento inter-pessoal, entre clientes e<br />

empresas, ci<strong>da</strong>dãos e estado e no acesso à informação de<br />

uma forma geral. O alcance global <strong>da</strong> Internet coloca também<br />

algumas questões interessantes em relação a alguns<br />

paradigmas <strong>da</strong> geografia e nos quais se baseiam os próprios<br />

Sistemas de Informação Geográfica.<br />

O primeiro destes paradigmas a ser posto em causa é a noção<br />

de distância. A Internet chega a qualquer lado sempre<br />

com o mesmo tempo percebido – é rápido aceder a uma<br />

pági<strong>na</strong> de Internet em Itália ou no Japão. Poderá em certa<br />

medi<strong>da</strong> estar em causa a “morte <strong>da</strong> distância”? Também a<br />

localização se tor<strong>na</strong> num conceito difuso quando entramos<br />

no mundo virtual. O utilizador, por exemplo ao contactar<br />

com fornecedores de serviços 6 via Internet perde a noção<br />

<strong>da</strong> localização desta. Os próprios fornecedores terão que<br />

encontrar uma localização óptima não em termos <strong>da</strong> localização<br />

física no território, mas uma localização virtual que<br />

lhes permita serem facilmente indexados e encontrados.<br />

Por outro lado a Internet, <strong>na</strong>s suas áreas próprias de actuação,<br />

possibilita a remoção de muitas restrições físicas e<br />

geográficas no desenvolvimento <strong>da</strong> activi<strong>da</strong>de huma<strong>na</strong>.<br />

Assim sendo, a “morte <strong>da</strong> distância, a localização difusa e a<br />

elimi<strong>na</strong>ção <strong>da</strong>s restrições de <strong>na</strong>tureza geográfica”, <strong>da</strong>riam à<br />

Geografia um papel irrelevante <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de ou no mínimo<br />

menos relevante. Alguns exemplos disso são o caso do correio<br />

electrónico e os serviços de chat que tor<strong>na</strong>m universal<br />

o contacto permanente entre pessoas independentemente<br />

<strong>da</strong> sua localização, ou as empresas que podem contactar<br />

e vender serviços a consumidores independentemente do<br />

6 Muitos destes prestadores de serviços de facto não possuem uma<br />

localização concreta para atendimento ou então apresentam localizações<br />

demasiado longínquas para poderem ser úteis ou acessíveis<br />

ao utilizador comum.<br />

Perfil Geral:<br />

Cluster 1<br />

Cluster 2<br />

Cluster 3<br />

Cluster 4<br />

Bancos<br />

Fig.4. Cruzamento<br />

entre uma classificação<br />

de secções estatísticas e<br />

agências bancárias<br />

<strong>na</strong> ci<strong>da</strong>de de Lisboa<br />

(Fonte: PAINHO et al<br />

1998)


Destaque<br />

34<br />

local em que se encontrem. Da mesma forma pessoas com<br />

interesses semelhantes mas dispersas pelo mundo podem<br />

contactar entre si (comuni<strong>da</strong>des virtuais, por exemplo de<br />

estu<strong>da</strong>ntes, e-learning).<br />

As tecnologias de rede aproximaram de facto o mundo físico<br />

e o mundo virtual estabelecendo um tipo de relacio<strong>na</strong>mento<br />

em que a Internet funcio<strong>na</strong> como universo paralelo<br />

estritamente em formato digital. No entanto, e como é relativamente<br />

evidente, as limitações impostas pela geografia<br />

no mundo físico têm uma continui<strong>da</strong>de no mundo virtual.<br />

Estará certamente neste caso o paradigma <strong>da</strong> localização,<br />

agora não no espaço físico, mas sim a sua “localização no<br />

espaço virtual”. A dificul<strong>da</strong>de em compreender o paralelismo<br />

entre o mundo físico e o virtual tem <strong>da</strong>do origem a<br />

um novo surto de inovação que desenvolve processos que<br />

permitem estabelecer ligações entre os links <strong>da</strong> Internet e o<br />

mundo real. Ou seja, possibilitar a junção de dois mundos<br />

teoricamente separados. Aqui, e mais uma vez, a Geografia<br />

tendo como ferramenta de base os SIG, desempenhará um<br />

papel crucial; tor<strong>na</strong>rá possível cartografar a Internet.<br />

Cartografar a Internet<br />

O Mapa <strong>da</strong> Internet começa de facto a ter importância <strong>na</strong><br />

medi<strong>da</strong> em que os utilizadores começam a ter a necessi<strong>da</strong>de/curiosi<strong>da</strong>de<br />

de estabelecer relações entre os links<br />

que consultam e utilizam e a sua localização espacial, <strong>na</strong><br />

tentativa de restabelecer os mecanismos cognitivos de relacio<strong>na</strong>mento<br />

através do espaço e com o espaço. Este tipo<br />

de serviços de localização <strong>na</strong> Internet permite elaborar, por<br />

exemplo, uma cartografia <strong>da</strong> infra-estrutura física <strong>da</strong> Internet<br />

ou, a cartografia dos pontos de ligação à rede (ou seja a<br />

localização dos utilizadores). É também possível a criação<br />

de serviços de localização de sítios. Estes serviços permitem<br />

aos próprios sites (empresas) a determi<strong>na</strong>ção <strong>da</strong> localização<br />

dos utilizadores individuais (clientes). Existem já algumas<br />

companhias que prestam este tipo de serviço como<br />

por exemplo Quova: www.quova.com, Digital Envoy: www.<br />

digitalenvoy.com, NetGeo: www.netgeo.com e, InfoSplit:<br />

www.infosplit.com (THE ECONOMIST, 2003).<br />

IP podem depois ser agrupados por tema e associados por<br />

exemplo a universi<strong>da</strong>des, empresas ou bairros de ci<strong>da</strong>des.<br />

O acesso a websites com capaci<strong>da</strong>des de geolocalização<br />

permite que seja forneci<strong>da</strong> informação sobre a localização<br />

do servidor e a consequente modificação do conteúdo do<br />

site de acordo com a localização encontra<strong>da</strong>.<br />

Um exemplo de aplicação deste paradigma poderá ser a<br />

disponibilização de serviços com publici<strong>da</strong>de perso<strong>na</strong>liza<strong>da</strong><br />

que, através <strong>da</strong> localização do acesso de um utilizador efectua<br />

a ligação a uma base de <strong>da</strong>dos de perfis demográficos<br />

e socio-económicos baseados <strong>na</strong> localização e, em consequência<br />

dos resultados encontrados, divulga publici<strong>da</strong>de<br />

de acordo com o grupo alvo de que o utilizador faz parte.<br />

Através do mesmo processo também é possível determi<strong>na</strong>r<br />

a língua adequa<strong>da</strong> à divulgação dos conteúdos de um<br />

determi<strong>na</strong>do site. Também <strong>na</strong> área legal é possível pensar<br />

em aplicações como o controle <strong>da</strong> interdição de ven<strong>da</strong>s de<br />

alguns produtos em determi<strong>na</strong>dos países com implicações<br />

directas no e-commerce, leilões <strong>na</strong> Internet ou casinos em<br />

linha. Um dos problemas que alguns produtos, como os<br />

bancários ou os farmacêuticos, têm é o facto de estarem<br />

sujeitos a muitas restrições legais locais. Com a aju<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

cartografia <strong>da</strong> localização dos clientes à distância é possível<br />

garantir que esses produtos são oferecidos para ven<strong>da</strong> em<br />

locais onde essa activi<strong>da</strong>de é permiti<strong>da</strong>.<br />

O papel dos conceitos geográficos e <strong>da</strong> Geografia permanece<br />

central também no mundo virtual, e até com valor<br />

acrescido, ao mostrar como e onde a Internet e o mundo<br />

real se tocam. Esta tarefa é facilita<strong>da</strong> pelos motores de pesquisa<br />

espacial dos SIG.<br />

A cartografia <strong>da</strong> net também possibilita a operação contrária<br />

de encontrar por exemplo o ponto de acesso mais próximo<br />

a um ponto de wireless lan 7 . O site www.wifinder.com, por<br />

exemplo, providencia um serviço de localização do ponto<br />

wi-fi mais próximo. A figura 5 mostra a representação cartográfica<br />

de localizações de pontos wi-fi.<br />

Os serviços fornecidos utilizam bases de <strong>da</strong>dos que conseguem<br />

fazer a ligação e transformar os endereços IP dos utilizadores<br />

em países, ci<strong>da</strong>des e códigos postais gerando representações<br />

cartográficas com apoio de SIG. Os endereços<br />

7 Serviço de Internet sem fios (wi-fi) até cerca de 100m de um<br />

ponto emissor.


Destaque<br />

35<br />

A. Pesquisa de<br />

documentos<br />

em todo<br />

o mundo.<br />

Fig.5. Intensi<strong>da</strong>de de si<strong>na</strong>l para acesso wi-fi à<br />

Internet <strong>na</strong> Universi<strong>da</strong>de do Kansas<br />

(Fonte: www.ittc.ku.edu/wlan, 2003).<br />

B. Aproximar<br />

à região com<br />

documentos com<br />

interesse.<br />

Para além do Mapa <strong>da</strong> Internet<br />

A conjugação do potencial <strong>da</strong> Internet, dos motores de<br />

busca e dos motores espaciais permitem começar a pensar<br />

em geo-referenciar documentos. Depois de uma tradicio<strong>na</strong>l<br />

pesquisa de documentos num motor de busca será<br />

possível orde<strong>na</strong>r os documentos encontrados por ordem<br />

de distância geográfica. Neste caso software ‘inteligente’<br />

pesquisa documentos à procura de referências geográficas:<br />

países, ci<strong>da</strong>des, estados, códigos postais, endereços de Internet,<br />

monumentos. Estas referências são cruza<strong>da</strong>s com<br />

base de <strong>da</strong>dos de topónimos (gazeteers) com milhões de<br />

registos. O resultado é a colocação de uma etiqueta geográfica<br />

(geotag) no documento 8 . No fi<strong>na</strong>l obtêm-se mapas<br />

com a distribuição dos documentos encontrados depois de<br />

uma pesquisa (Fig. 6), com simbologia indicando zo<strong>na</strong>s de<br />

maior concentração. Da mesma forma é possível pesquisar<br />

um termo num documento e obter as pági<strong>na</strong>s distribuí<strong>da</strong>s<br />

geograficamente.<br />

C. Pesquisar<br />

por cima do<br />

mapa para obter<br />

mais detalhes<br />

sobre a região<br />

8 Cerca de 80% dos documentos possuem informação para produzir<br />

uma etiquetagem geográfica (geotag).<br />

Fig.6. A, B e C (Fonte:<br />

www.metacarta.com, 2003).


Destaque<br />

36<br />

Fig.7. Pontos a amarelo e a vermelho<br />

mostram a localização<br />

e densi<strong>da</strong>de de inter<strong>na</strong>utas<br />

(Fonte: www.geourl.com, 2003).<br />

A utili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> geo-referenciação de documentos pode ser<br />

particularmente importante em websites de instituições que<br />

produzem grandes quanti<strong>da</strong>des de documentos como as<br />

forças de segurança (por exemplo <strong>na</strong> luta anti-terrorismo),<br />

as companhias de seguros ou as companhias petrolíferas 9 .<br />

Alguns destes novos sites providenciam a localização de endereços<br />

electrónicos. Nestes sites (Fig.7) qualquer pessoa<br />

se pode registar e pode também ficar a conhecer a localização<br />

dos seus vizinhos virtuais.<br />

Como temos vindo a observar o papel do conhecimento<br />

<strong>da</strong> localização está a tor<strong>na</strong>-se central em muitas aplicações.<br />

Outra área que parece prometedora é a <strong>da</strong> Geo-cifragem,<br />

isto é, a utilização <strong>da</strong> localização espacial de indivíduos ou<br />

objectos para cifrar (ou decifrar) mensagens. Neste caso a<br />

palavra-chave é forneci<strong>da</strong> pela localização. As mensagens,<br />

num sistema deste tipo, são codifica<strong>da</strong>s de modo a só serem<br />

perceptíveis por pessoas em determi<strong>na</strong><strong>da</strong>s localizações.<br />

A descodificação poderá ser feita com a aju<strong>da</strong> de um GPS.<br />

A distribuição inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de produtos cinematográficos<br />

pode ser feita respeitando regras locais: só as pessoas em<br />

determi<strong>na</strong><strong>da</strong>s localizações podem receber. Aplicações do<br />

âmbito militar também são claramente susceptíveis de poder<br />

beneficiar deste tipo solução.<br />

9 Não existe ain<strong>da</strong> uma stan<strong>da</strong>rdização de etiquetas para documentos<br />

o que dificulta pesquisas em termos globais.


Destaque<br />

37<br />

Já em grande desenvolvimento estão as aplicações com os<br />

telemóveis de terceira geração e GPS que constituirão talvez<br />

a melhor ligação entre o mundo real e o ciberespaço. A<br />

ideia subjacente a este grupo de aplicações é a disponibilização<br />

de serviços com base <strong>na</strong> localização do utilizador<br />

(LBS) 10 . Alguns problemas existentes com a determi<strong>na</strong>ção<br />

<strong>da</strong> localização precisa através do telemóvel podem ser ultrapassados<br />

com o acoplamento de um receptor de GPS. Os<br />

utilizadores podem, para além, de receber serviços de informação<br />

sobre locais, também geo-marcar uma localização e<br />

enviar informação sobre ela: marcar um pic-nic ou encontro,<br />

marcar um local para uma entrega comercial ou, fazer<br />

acompanhar localizações de informação multimédia (vídeo,<br />

som). Associado a este tipo de aplicações está o conceito<br />

de graffiti digital. Um cliente pode deixar uma crítica a um<br />

restaurante num determi<strong>na</strong>do local. Os clientes seguintes<br />

poderão ter acesso a esses comentários (este tipo de serviço<br />

já está disponível no Japão). Os graffiti digitais permitem<br />

assim deixar mensagens associa<strong>da</strong>s a uma localização com<br />

uma exactidão de posição <strong>na</strong>lguns casos superior a um metro.<br />

Esta informação pode referir-se a objectos tão diferentes<br />

como uma flor, um rio ou um lote de terreno. Esta nova<br />

possibili<strong>da</strong>de, forneci<strong>da</strong> pelas tecnologias <strong>da</strong> informação<br />

geográfica, veio potenciar mais um novo conceito – o de<br />

‘reali<strong>da</strong>de aumenta<strong>da</strong>’: a possibili<strong>da</strong>de de termos acesso a<br />

informação adicio<strong>na</strong>l àquela que nos é faculta<strong>da</strong> pelos nossos<br />

sentidos. Esta informação sobre o ambiente que nos<br />

rodeia terá que ser veicula<strong>da</strong> por interfaces muito diferentes<br />

dos actuais, mais intuitivos e de fácil utilização.<br />

Conclusão<br />

Tal como foi referido logo no início, é relativamente difícil<br />

implementar uma tecnologia fora do contexto social em que<br />

esta foi desenvolvi<strong>da</strong>. Ora um dos pressupostos de desenvolvimento<br />

do SIG nos EUA foi que a informação infra estruturante<br />

(neste caso gratuita) produzi<strong>da</strong> pelos organismos<br />

públicos norte americanos existe e é facilmente acessível.<br />

Esta disponibili<strong>da</strong>de permite que uma instituição adquira o<br />

SIG e simultaneamente a informação base, podendo iniciar<br />

de imediato os projectos.<br />

Em termos <strong>da</strong>s aplicações sociais e económicas a informação<br />

geográfica de base mais interessante é aquela que<br />

10 Location Based Services.<br />

corresponde à produzi<strong>da</strong> pelo INE (BGRI). Pode ain<strong>da</strong> considerar-se<br />

como interessante para estas aplicações os eixos<br />

de via produzidos por algumas empresas priva<strong>da</strong>s. O que<br />

aconteceu em Portugal foi que a tecnologia chegou antes<br />

de existir informação de base suficiente que permitisse o<br />

seu uso generalizado. O INE ape<strong>na</strong>s disponibilizou uma<br />

base <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l em 2001. As aplicações <strong>na</strong> área económica e<br />

social encontram-se nesta altura em desenvolvimento acelerado.<br />

Quase ultrapassa<strong>da</strong> a dificul<strong>da</strong>de <strong>da</strong> disponibilização<br />

<strong>da</strong> informação base e do domínio <strong>da</strong> tecnologia fica aberta<br />

a porta para enfrentar os novos desafios <strong>da</strong>s aplicações<br />

em tempo real (ou quase real) nomea<strong>da</strong>mente através <strong>da</strong><br />

integração de imagens de satélite (com resoluções ca<strong>da</strong><br />

vez maiores) e <strong>da</strong>dos de campo recolhidos com a aju<strong>da</strong><br />

de GPS.<br />

Ao contrário do que poderia ser pensado, de facto, o papel<br />

desempenhado pelo conhecimento exacto <strong>da</strong> localização<br />

de pessoas e objectos, adquire ca<strong>da</strong> vez mais relevância<br />

e permite aplicações ca<strong>da</strong> vez mais avança<strong>da</strong>s. O conhecimento<br />

geográfico aliado ao poder de gestão destes <strong>da</strong>dos<br />

no SIG permite avançar muito além do que foi inicialmente<br />

pensado sobre a potenciali<strong>da</strong>de destes sistemas. O poder e<br />

a varie<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s aplicações é muito aumentado e de forma<br />

não predizível quando o meio de comunicação e ligação<br />

entre os vários elementos actuantes passa a ser a Internet.<br />

Parece óbvio que o conhecimento do espaço e suas relações,<br />

reunido <strong>na</strong> Ciência <strong>da</strong> Informação Geográfica, será<br />

ca<strong>da</strong> vez mais central em to<strong>da</strong>s as aplicações que façam<br />

uso <strong>da</strong> localização como elemento preponderante. Não<br />

estamos certamente perante o fim <strong>da</strong> Geografia enquanto<br />

ramo do conhecimento, mas encontramo-nos numa encruzilha<strong>da</strong><br />

em que é necessário repensar a forma como temos<br />

olhado para o território. Confrontamo-nos agora com sistemas<br />

referenciais profun<strong>da</strong>mente diversos em que a duali<strong>da</strong>de<br />

real / virtual tem que começar a ser interioriza<strong>da</strong><br />

e percebi<strong>da</strong> por todos os intervenientes. A uma anuncia<strong>da</strong><br />

morte <strong>da</strong> distância e <strong>da</strong> localização sobrepõe-se uma espécie<br />

de vingança <strong>da</strong> geografia, onde o território permanece<br />

com importância central também no mundo virtual.<br />

Os sistemas sem fios (Wireless), os telemóveis e o GPS<br />

são neste momento os candi<strong>da</strong>tos melhor colocados a<br />

estabelecer uma ligação proveitosa entre o mundo real<br />

e o ciberespaço n


Destaque<br />

38<br />

Referências bibliográficas<br />

THE ECONOMIST. March 15th 2003, pgs 17-20<br />

GABINETE DO CENSOS 2001 (Serviço de Cartografia). A<br />

Cartografia para o Censos 2001. In Seminário “Censos<br />

2001”, Aveiro 17 e 18 de Outubro de 2000. Lisboa INE,<br />

2001.<br />

MACHADO, J. ; CABRAL, P. ; PAINHO, M. Aplicações de SIG<br />

<strong>na</strong> WEB – O Atlas do Ambiente Dinâmico. ESIG2002 – VII<br />

Encontro de Utilizadores de Informação Geográfica, Tagus<br />

Park, 13 a 15 de Novembro. 2002.<br />

PAINHO, M. ; SOUSA A. ; LOPES P. ; FONSECA V. O Atlas<br />

do Ambiente - Versão Digital. II Encontro sobre Sistemas<br />

de Informação Geográfica (ESIG). Estoril, 10-12 Novembro<br />

de 1993.<br />

PAINHO, M. ; VASCONCELOS, L. T. ; FONSECA, J. P. ; GEIRI-<br />

NHAS, J. ; NEVES, N. Perfis Urbanos: duas escalas de observação<br />

em Lisboa. Seminário sobre Investigação no Orde<strong>na</strong>mento<br />

do Território: Informação / SIG. Évora, 28 de Abril de<br />

1998. Comunicação não publica<strong>da</strong>.<br />

PAINHO, M. ; SOUSA, A. O Atlas do Ambiente <strong>na</strong> Internet.<br />

Fórum SNIG 98. Lisboa, 25-26 de Novembro 1998.<br />

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de Suporte à Informação. IV Encontro sobre Sistemas<br />

de Informação Geográfica (ESIG), Lisboa, 4-6 de Junho<br />

de 1997.<br />

MASSUÇA, J. ; PAINHO M. BGRI – Base Geográfica de Referenciação<br />

de Informação. Aula do Seminário de Sistemas<br />

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de Informação <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Nova de Lisboa. 1998.<br />

PAINHO, M. Os Sistemas de Informação Geográfica no Ambiente:<br />

Segun<strong>da</strong> geração de aplicações no virar do milénio.<br />

Expresso nº 1387, Dossier Sistemas de Informação Geográfica,<br />

de 29 de Maio. 1999.<br />

PAINHO, M. Os Sistemas de Informação Geográfica nos<br />

Negócios. Banca e Seguros, Edição 16, Abril. 2002.<br />

PAINHO, M. ; SÁ, D. M. ; GOUVEIA, M. ; MARQUES, J. Atlas<br />

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19-23 de Julho. 1999.<br />

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C. C. Census Cartography. In Proceedings of the 16th ESRI<br />

European, Middle Eastern and African User Conference: Lisboa,<br />

17-19 de Outubro, 2001.<br />

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www.geourl.com<br />

http://www.igeo.pt/caop.htm<br />

www.ittc.ku.edu/wlan<br />

www.metacarta.com<br />

www.wifinder.com<br />

PAINHO, M. Sistemas de Informação Geográfica: Sua actuali<strong>da</strong>de<br />

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em Estatística”, Actas do IX Congresso Anual <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de<br />

Portuguesa de Estatística, ed. Lucília Carvalho, Fátima<br />

Brilhante e Fer<strong>na</strong>ndo Rosado. Setembro, 2002. pp. 55-68.<br />

PAINHO, M. BGRI - Infra-estrutura Geográfica Nacio<strong>na</strong>l<br />

para Informação Socio-económica. Seminário sobre Estatísticas<br />

Regio<strong>na</strong>is: Informação Estatística e Coesão Territorial,<br />

6ª Sessão - Sistemas de Informação Regio<strong>na</strong>l. Porto, 7-8 de<br />

Novembro de 2002. 2004.<br />

Marco Painho, Professor Catedrático do <strong>Instituto</strong> Superior de Estatística<br />

e Gestão de Informação <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Nova de Lisboa<br />

(painho@isegi.unl.pt).


Artigo<br />

39<br />

Câmara Aérea Digital<br />

Ortofotomapas<br />

Paulo Patrício<br />

Direcção-Geral dos Recursos Florestais (DGRF), organismo público respon-<br />

A sável pelo desenvolvimento sustentável dos recursos florestais <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is,<br />

decidiu adquirir uma cobertura de ortofotomapas digitais do território de Portugal<br />

Continental.<br />

A gestão, protecção e conservação dos espaços florestais passa inicialmente por<br />

conhecer a reali<strong>da</strong>de florestal <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. A cartografia surge como uma necessi<strong>da</strong>de<br />

para executar estas tarefas. Não é possível realizar uma gestão equilibra<strong>da</strong> dos<br />

espaços, florestais ou outros, sem possuir levantamentos cartográficos actualizados<br />

do território. A ortofotocartografia obti<strong>da</strong> a partir de voos aerofotogramétricos,<br />

comparativamente a outras formas de representação cartográfica, possui duas<br />

vantagens que se adequam à gestão florestal: o processo de aquisição é relativamente<br />

rápido e não requer conhecimentos técnicos muito específicos quando<br />

usa<strong>da</strong> como documento de trabalho.<br />

Em Março de 2004 foi nomeado pela DGRF um grupo de trabalho, composto<br />

por membros de vários organismos públicos e por representantes de empresas<br />

priva<strong>da</strong>s de cartografia, com o objectivo de avaliar a forma mais eficaz de obter<br />

imagens ortorrectifica<strong>da</strong>s. Foram a<strong>na</strong>lisa<strong>da</strong>s várias hipóteses: imagens de satélite<br />

de alta resolução, fotografias aéreas obti<strong>da</strong>s a partir de câmaras fotográficas a<strong>na</strong>lógicas<br />

e ain<strong>da</strong> fotografias aéreas obti<strong>da</strong>s através de câmaras digitais.<br />

Fig.1. Área voa<strong>da</strong> em Novembro<br />

de 2004.<br />

Depois de a<strong>na</strong>lisar as vantagens e desvantagens de ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s alter<strong>na</strong>tivas, a<br />

escolha recaiu sobre as fotografias aéreas obti<strong>da</strong>s por câmaras digitais. Na base<br />

desta preferência esteve a conjugação de duas características inerentes a este tipo<br />

de tecnologia: rapidez <strong>na</strong> obtenção <strong>da</strong>s fotografias e excelente quali<strong>da</strong>de radiométrica<br />

<strong>da</strong>s imagens digitais. Pela primeira vez em Portugal foi realizado um voo com<br />

uma câmara aérea digital. No ano de 2004 foi coberto aproxima<strong>da</strong>mente 40% do<br />

território de Portugal Continental com fotografia aérea digital de raiz. (Fig.1).<br />

A DGRF estabeleceu um protocolo com o <strong>Instituto</strong> Geográfico Português (IGP)<br />

para a verificação <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de do voo e para a produção dos respectivos ortofotomapas.<br />

Esta ortofotocartografia será utiliza<strong>da</strong>, entre outros fins, para realizar o<br />

próximo inventário florestal <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.


Artigo<br />

40<br />

Câmaras Digitais<br />

As câmaras fotográficas aéreas digitais já existem há alguns<br />

anos mas ape<strong>na</strong>s agora começam a ser usa<strong>da</strong>s de forma<br />

sistemática. A redução dos custos de aquisição destas câmaras<br />

está a contribuir de forma relevante para a crescente<br />

implantação deste tipo de tecnologia.<br />

À semelhança do que acontece com as máqui<strong>na</strong>s fotográficas<br />

digitais de uso comum, também as câmaras aéreas têm<br />

como principal característica o facto de permitirem obter<br />

uma fotografia directamente em suporte digital. O desenvolvimento<br />

dos sensores CCD (Charge-Coupled Device),<br />

usados por este tipo de câmaras, permite considerar a utilização<br />

desta tecnologia para fins cartográficos. A metodologia<br />

de aquisição de cartografia com recurso a fotografias<br />

aéreas irá, nos próximos anos, passar necessariamente pelas<br />

câmaras digitais.<br />

O processo de produção cartográfica, com recurso a voos fotogramétricos,<br />

tem utilizado <strong>na</strong>s últimas déca<strong>da</strong>s fotografias<br />

obti<strong>da</strong>s a partir de câmaras a<strong>na</strong>lógicas, câmaras que utilizam<br />

um rolo fotográfico, que depois é revelado em laboratório.<br />

Inicialmente os aparelhos de restituição fotogramétrica usavam<br />

os diapositivos <strong>da</strong>s fotografias em formato a<strong>na</strong>lógico<br />

para recolher a informação. Posteriormente, com a chega<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong>s estações gráficas digitais, passou a ser necessário proceder<br />

à digitalização <strong>da</strong>s fotografias aéreas. Este procedimento<br />

é realizado por scanners fotogramétricos, aparelhos que<br />

fazem a conversão de <strong>da</strong>dos em formato a<strong>na</strong>lógico para<br />

formato digital. A produção de ortofotomapas a partir de<br />

ficheiros digitais obriga também à digitalização do filme.<br />

Com a chega<strong>da</strong> <strong>da</strong>s câmaras digitais elimi<strong>na</strong>-se o último<br />

elo, no processo de aquisição cartográfica através de voos<br />

fotogramétricos, que ain<strong>da</strong> não era digital. Neste momento<br />

já é possível estabelecer uma cadeia de produção de informação<br />

cartográfica exclusivamente digital.<br />

As vantagens <strong>da</strong>s câmaras aéreas não se esgotam no facto<br />

de permitirem obter directamente um ficheiro digital. Muitas<br />

permitem obter em simultâneo fotografias <strong>na</strong> composição<br />

RGB (composição vermelho, verde e azul) e também em<br />

NIR (infravermelho próximo), algo que com as câmaras<br />

convencio<strong>na</strong>is normalmente só se conseguia recorrendo a<br />

dois voos, ca<strong>da</strong> um usando um tipo filme.<br />

Outra característica importante deste tipo de tecnologia está<br />

relacio<strong>na</strong><strong>da</strong> com a rapidez <strong>na</strong> aquisição dos <strong>da</strong>dos, quando<br />

compara<strong>da</strong> com as câmaras convencio<strong>na</strong>is. Como os<br />

processos de revelação fotográfica em laboratório e digitalização<br />

em scanners fotogramétricos deixam de ser necessários,<br />

é possível dispor do ficheiro digital de forma quase<br />

imediata ao voo. A primeira avaliação <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s imagens<br />

pode inclusive ser realiza<strong>da</strong> durante o voo.<br />

Relacio<strong>na</strong>do com este aspecto está também a diminuição<br />

dos custos de aquisição <strong>da</strong> informação. Como deixa de ser<br />

necessário proceder à revelação e digitalização dos filmes,<br />

diminui-se de forma significativa os custos materiais e humanos<br />

no processo de aquisição <strong>da</strong>s imagens digitais.<br />

A quali<strong>da</strong>de radiométrica <strong>da</strong>s imagens obti<strong>da</strong>s a partir <strong>da</strong>s<br />

câmaras digitais surge também como uma mais valia neste<br />

tipo de tecnologia. Como o processo de digitalização em<br />

scanners é dispensado, as imagens não apresentam o “ruído”<br />

inerente a este tipo de procedimento. A informação<br />

surge de forma mais níti<strong>da</strong>, garantindo uma melhor definição<br />

dos objectos. Em algumas câmaras as imagens são<br />

também adquiri<strong>da</strong>s com uma resolução radiométrica de 12<br />

bits, em vez dos tradicio<strong>na</strong>is 8 bits obtidos <strong>na</strong> digitalização<br />

em scanner. Comparando duas imagens com a mesma resolução<br />

geométrica no terreno, uma obti<strong>da</strong> a partir de uma<br />

câmara convencio<strong>na</strong>l e posteriormente digitaliza<strong>da</strong>, e outra<br />

adquiri<strong>da</strong> por uma câmara digital, é possível constatar a quali<strong>da</strong>de<br />

radiométrica significativamente superior <strong>da</strong> segun<strong>da</strong><br />

(Fig. 2).<br />

A melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> imagem é também devi<strong>da</strong> ao<br />

facto destas câmaras fazerem um melhor aproveitamento<br />

<strong>da</strong> luminosi<strong>da</strong>de existente, o que permite considerar a<br />

possibili<strong>da</strong>de de realizar voos com o Sol mais baixo que<br />

anteriormente. Ou seja, com este tipo de câmaras aumenta<br />

o número de horas em que é possível captar imagens ao<br />

longo do ano, tendo sempre em consideração o objectivo<br />

pretendido para as fotografias.


Artigo<br />

41<br />

Fig.2. Aeroporto de Lisboa.<br />

À esquer<strong>da</strong>: fotografia obti<strong>da</strong> com uma câmara a<strong>na</strong>lógica,1999. À direita: fotografia obti<strong>da</strong> com uma câmara digital,<br />

2004. Resolução no terreno de ambas as imagens: 50 centímetros.<br />

As câmaras aéreas digitais podem ser classifica<strong>da</strong>s, quanto à<br />

forma de aquisição <strong>da</strong>s imagens, em dois tipos: câmaras lineares<br />

e câmaras matriciais. Nas câmaras lineares (Exemplo<br />

<strong>na</strong> figura 3) a informação é recolhi<strong>da</strong> por fia<strong>da</strong>s de pixels.<br />

Nas câmaras matriciais (Exemplos <strong>na</strong>s figuras 4, 5 e 6) a<br />

imagem é recolhi<strong>da</strong> através de uma projecção cónica, usando<br />

o mesmo princípio <strong>da</strong>s câmaras a<strong>na</strong>lógicas. Em ca<strong>da</strong><br />

disparo é recolhi<strong>da</strong> uma determi<strong>na</strong><strong>da</strong> área do terreno.<br />

Fig.3. Exemplo de uma<br />

câmara linear – ADS40 ,<br />

Leica.<br />

Fig.4. Exemplo de uma<br />

câmara matricial –<br />

DMC, Intergraph Z/I<br />

Imaging.<br />

Fig.5. Exemplo de uma<br />

câmara matricial –<br />

DIMAC, Dimac Systems.<br />

Fig.6. Exemplo de uma<br />

câmara matricial -<br />

Ultracam-D, Vexcel.


Artigo<br />

42<br />

Voo 2004<br />

O voo realizado em Novembro de 2004 foi executado com<br />

uma câmara Ultracam-D <strong>da</strong> Vexcel (Fig.6 e Quadros 1 e 2).<br />

A metodologia de aquisição de imagens aéreas neste tipo<br />

de câmara é consideravelmente diferente <strong>da</strong> usa<strong>da</strong> pelas<br />

câmaras convencio<strong>na</strong>is. No caso concreto <strong>da</strong> câmara Ultracam<br />

as imagens são obti<strong>da</strong>s a partir dos 8 cones que a<br />

compõem. (Fig. 6).<br />

A forma de aquisição <strong>da</strong>s imagens é bastante peculiar. É<br />

obti<strong>da</strong> uma imagem a preto e branco de alta resolução,<br />

desig<strong>na</strong><strong>da</strong> Pancromática, a partir dos 4 cones centrais <strong>da</strong><br />

câmara. Ca<strong>da</strong> cone recolhe ape<strong>na</strong>s uma parte <strong>da</strong> imagem.<br />

Como ca<strong>da</strong> um destes troços possui uma zo<strong>na</strong> de sobreposição<br />

com os adjacentes, a imagem completa é construí<strong>da</strong><br />

através do mosaico de to<strong>da</strong>s as partes. (Fig.7)<br />

Os 4 cones restantes permitem obter as imagens multiespectrais:<br />

vermelho, verde, azul e infravermelho próximo,<br />

uma por ca<strong>da</strong> cone. Estas imagens possuem uma resolução<br />

no terreno inferior à <strong>da</strong> imagem Pancromática, numa relação<br />

de 1 para 2,8.<br />

As imagens fi<strong>na</strong>is a cores, RGB e NIR, de alta resolução,<br />

resultam <strong>da</strong> fusão entre a imagem Pancromática de alta<br />

resolução e as imagens multiespectrais de menor resolução,<br />

num procedimento desig<strong>na</strong>do por Pan-Sharpening.<br />

Esta metodologia é comum no processamento de imagens<br />

de satélite.<br />

As imagens anteriores ao processo de fusão são desig<strong>na</strong><strong>da</strong>s<br />

por imagens de Nível 2, posteriormente à fusão denomi<strong>na</strong>m-se<br />

como imagens de Nível 3.<br />

Fig. 7. Extracto de uma<br />

imagem Pancromática.


Artigo<br />

43<br />

Dimensão <strong>da</strong> imagem pancromática<br />

Dimensão pixel - pancromática<br />

Plano focal - formato<br />

Distância focal - pancromática<br />

Abertura Lentes - pancromática<br />

Campo de visão, cross-track (along track)<br />

11500 x 7500 pixels<br />

9 μm<br />

103.5 x 67.5 mm<br />

100 mm<br />

F = 1/5.6<br />

55º (37º)<br />

Cor (capaci<strong>da</strong>de multiespectral)<br />

Dimensão imagem - Cor (nível 2)<br />

4 ca<strong>na</strong>is RGB & NIR<br />

4008 x 2672 pixels<br />

9 μm<br />

Quadro 1. Câmara<br />

Ultracam-D, Vexcel.<br />

Especificações técnicas<br />

dos sensores.<br />

28 mm<br />

F = 1/4.0<br />

61º (42º)<br />

Câmara<br />

Ulracam Vexcel<br />

Data do voo<br />

Novembro de 2004<br />

Área voa<strong>da</strong><br />

Ver Fig.1<br />

Número de imagens<br />

7056<br />

Área aproxima<strong>da</strong> coberta por ca<strong>da</strong> imagem<br />

5750 m x 3750 m<br />

Sobreposição longitudi<strong>na</strong>l entre fotos<br />

60%<br />

Sobreposição lateral entre fotos<br />

30%<br />

Altitude de voo (aprox.)<br />

5800 m<br />

Quadro 2. Informação<br />

sobre o voo realizado<br />

em Novembro de 2004.<br />

Resolução no terreno <strong>da</strong> imagem pancromática<br />

Imagens disponibiliza<strong>da</strong>s<br />

0.5m<br />

RGB e NIR (Nível 3)


Artigo<br />

44<br />

Verificação do Voo<br />

O IGP realizou o controlo de quali<strong>da</strong>de deste voo a<strong>na</strong>lisando<br />

uma amostra com 2820 imagens, aproxima<strong>da</strong>mente<br />

40% do total <strong>da</strong>s fotografias. A verificação incidiu sobre os<br />

seguintes aspectos: existência de nuvens, quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> cor,<br />

presença de manchas, má definição <strong>da</strong> imagem e zo<strong>na</strong>s<br />

sem informação.<br />

Em virtude do elevado peso <strong>da</strong>s imagens - <strong>na</strong> composição<br />

RGB a 16 bits de resolução radiométrica ca<strong>da</strong> imagem ocupa<br />

aproxima<strong>da</strong>mente 518 MB - o IGP desenvolveu uma<br />

aplicação para facilitar a visualização dos ficheiros. To<strong>da</strong>s as<br />

imagens foram comprimi<strong>da</strong>s no formato ECW (Enhanced<br />

Compressed Wavelet) e disponibiliza<strong>da</strong>s aos operadores no<br />

browser <strong>da</strong> Internet, através de um servidor de imagens. A<br />

aplicação permite ain<strong>da</strong> registar numa base de <strong>da</strong>dos to<strong>da</strong>s<br />

as anomalias detecta<strong>da</strong>s (Fig. 8).<br />

processamentos informáticos (conversão de formatos, pansharpening,<br />

etc.) e 2% deficiências relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s com as<br />

condições de aquisição <strong>da</strong>s fotografias (nuvens, luminosi<strong>da</strong>de<br />

deficiente). Os primeiros foram suplantados realizando<br />

novos processamentos. Os segundos não são passíveis de<br />

correcção sem efectuar novo voo.<br />

Ortorrectificação<br />

Para além <strong>da</strong> câmara propriamente dita, este voo foi realizado<br />

com dois equipamentos adicio<strong>na</strong>is: GPS (Global Positioning<br />

System) e IMU (Inertial Measurement Unit). O equipamento<br />

GPS permite registar as coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s do centro<br />

de projecção de ca<strong>da</strong> fotograma. O IMU recolhe os ângulos<br />

heading pitch e roll que são posteriormente transformados<br />

nos ângulos omega, phi e kappa.<br />

Os resultados deste controlo de quali<strong>da</strong>de foram os seguintes:<br />

4% <strong>da</strong>s imagens apresentavam erros provocados pelos<br />

Fig.8. Aplicação para controlo de quali<strong>da</strong>de do voo.


Artigo<br />

45<br />

As coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s do centro de projecção juntamente com os<br />

ângulos omega, phi e kappa constituem os parâmetros de<br />

orientação exter<strong>na</strong> de ca<strong>da</strong> fotografia. Os sistemas inerciais<br />

de <strong>na</strong>vegação atingiram um grau de precisão tal que permitem<br />

a utilização directa dos seus <strong>da</strong>dos para produção<br />

de ortofotos e modelos digitais de superfície. A obtenção<br />

dos parâmetros de orientação exter<strong>na</strong> directamente a partir<br />

do voo permite dispensar o processo de aerotriangulação,<br />

tor<strong>na</strong>ndo o processo de produção dos ortofotos significativamente<br />

mais rápido. Houve, no entanto, alguns casos em<br />

que estes parâmetros não garantiam a precisão requeri<strong>da</strong>,<br />

tendo sido necessário realizar a aerotriangulação para obter<br />

novos parâmetros.<br />

A ortorrectificação foi realiza<strong>da</strong> utilizando um modelo digital<br />

do terreno com um espaçamento de 5 metros. Este modelo<br />

foi gerado a partir <strong>da</strong> informação altimétrica vectorial <strong>da</strong><br />

Série Ortofotocartográfica à escala 1: 10 000, do IGP e <strong>da</strong><br />

Série Cartográfica Nacio<strong>na</strong>l à escala 1: 10 000, também do<br />

IGP. Em algumas zo<strong>na</strong>s houve, no entanto, necessi<strong>da</strong>de de<br />

recolher informação altimétrica de raiz. Foram obtidos, de<br />

forma automática, modelos digitais de superfície e posteriormente<br />

editados para produzir os modelos do terreno.<br />

Os processos de ortorrectificação e mosaico foram realizados<br />

usando o software ImageStation Base Rectifier e ImageStation<br />

OrthoPro, Intergraph. Os ortofotomapas fi<strong>na</strong>is,<br />

abrangendo ca<strong>da</strong> ficheiro uma área de 4 km x 5 km, possuem<br />

uma nomenclatura basea<strong>da</strong> <strong>na</strong>s séries cartográficas à<br />

escala 1:10 000 do IGP e <strong>na</strong> escala 1: 25 000 do <strong>Instituto</strong><br />

Geográfico do Exército (IGeoE) (Fig. 9).<br />

Controlo de Quali<strong>da</strong>de<br />

O controlo de quali<strong>da</strong>de dos ortofotomapas foi realizado de<br />

forma sistemática, ou seja, todos os ficheiros foram a<strong>na</strong>lisados<br />

em pormenor. A verificação incidiu sobre seguintes<br />

aspectos: controlo posicio<strong>na</strong>l <strong>da</strong> informação e quali<strong>da</strong>de<br />

radiométrica e geométrica <strong>da</strong>s imagens.<br />

004241A 004241B 004242A 004242B<br />

004243A 004243B 004244A 004244B<br />

Fig.9. Seccio<strong>na</strong>mento dos Ortofotomapas, baseado<br />

no seccio<strong>na</strong>mento <strong>da</strong>s Séries Cartográficas à escala<br />

1:10 000 e 1:25 000.<br />

Um aspecto que atesta a quali<strong>da</strong>de destas imagens consiste<br />

no facto de muitos marcos geodésicos serem claramente<br />

visíveis, o que até agora, normalmente, não acontecia em<br />

ortofotos com igual resolução no terreno. Esta circunstância<br />

permitiu que a informação geodésica fosse também usa<strong>da</strong><br />

para a avaliação <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de posicio<strong>na</strong>l dos ortofotomapas.<br />

Encontra-se planea<strong>da</strong> a realização de um controlo posicio<strong>na</strong>l<br />

rigoroso, com a coorde<strong>na</strong>ção de pontos de controlo<br />

no campo.<br />

Um dos procedimentos do controlo de quali<strong>da</strong>de incidiu<br />

sobre a uniformi<strong>da</strong>de radiométrica no interior de ca<strong>da</strong> ortofotomapa.<br />

Como ca<strong>da</strong> ortofoto resulta do mosaico de várias<br />

fotografias, é necessário que as características radiométricas<br />

<strong>da</strong>s fotografias, envolvi<strong>da</strong>s no mosaico, sejam muito semelhantes,<br />

por forma a não gerar zo<strong>na</strong>s de descontinui<strong>da</strong>de de<br />

cor <strong>na</strong> imagem fi<strong>na</strong>l.<br />

O controlo geométrico foi realizado com o objectivo de<br />

detectar deformações <strong>na</strong>s imagens causa<strong>da</strong>s pelo modelo<br />

digital do terreno. A desactualização <strong>da</strong> informação altimétrica<br />

provoca, por vezes, uma deficiente ortorrectificação <strong>da</strong>s<br />

fotografias. A correcção/actualização do modelo do relevo<br />

permite corrigir este tipo de erros, habitualmente presentes<br />

em vias de comunicação e obras de arte.<br />

O controlo posicio<strong>na</strong>l <strong>da</strong> ortorectificação foi realizado estabelecendo<br />

o confronto dos ortofotomapas com informação<br />

georreferencia<strong>da</strong>. Para este fim utilizou-se a informação<br />

vectorial <strong>da</strong> Série Cartográfica Nacio<strong>na</strong>l à escala 1: 10 000<br />

do IGP e os ortofotomapas <strong>da</strong> Série Ortofotocartográfica à<br />

escala 1:10 000, também do IGP.


Artigo<br />

46<br />

Fig.10. Composição com<br />

Infravermelho Próximo (Nível 3)<br />

Fig.11. Extracto de um ortofotomapa<br />

<strong>na</strong> composição RGB (Nível 3)<br />

Fig.12. Extracto de um ortofotomapa<br />

<strong>na</strong> composição RGB (Nível 3)


Artigo<br />

47<br />

Fig.13. Extracto de um ortofotomapa<br />

<strong>na</strong> composição RGB (Nível 3)


Artigo<br />

48<br />

Conclusão<br />

Os ortofotomapas têm vindo a estabelecer-se ca<strong>da</strong> vez mais<br />

como uma ferramenta de trabalho preferencial para muitos<br />

utilizadores de cartografia. Esta circunstância não é alheia<br />

ao facto <strong>da</strong> produção <strong>da</strong> ortofotocartografia ser significativamente<br />

mais rápi<strong>da</strong> que a <strong>da</strong> cartografia vectorial, e consequentemente<br />

menos dispendiosa. Apesar <strong>da</strong> área de acção<br />

de uma e de outra ser diferente, uma imagem ortorrectifica<strong>da</strong><br />

constitui um excelente documento de trabalho para<br />

variadíssimas aplicações. Nos últimos anos temos vindo a<br />

assistir a uma procura generaliza<strong>da</strong> de ortofotos, por parte<br />

dos utilizadores para quem a actuali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> informação cartográfica<br />

é uma factor determi<strong>na</strong>nte <strong>na</strong> escolha do produto<br />

cartográfico ideal.<br />

As câmaras aéreas digitais, que até há relativamente pouco<br />

tempo eram ape<strong>na</strong>s fruto de investigação, são hoje um<br />

equipamento funcio<strong>na</strong>l e ao alcance do mercado dos produtores<br />

de cartografia.<br />

Em Agosto e Setembro de 2005 foram voados mais 40%<br />

do território de Portugal Continental, e em Maio/Junho de<br />

2006 foram cobertos os restantes 20%.<br />

Bibliografia<br />

KARSUNKE, C. E. Operación Con La Cámara Fotogramétrica<br />

Digital Aérea Dmc. 6ª Sema<strong>na</strong> Geomática. Barcelo<strong>na</strong>,<br />

2005.<br />

LEBERL, F. ; GRUBER, M. Flying The New Large Format Digital<br />

Aerial Camera Ultracam-D. Proceedings of the Photogrammetric<br />

Week 2003. Stuttgart University, 2003.<br />

LEBERL, F. ; GRUBER, M. Economical Large Format Aerial<br />

Digital Camera. GIM Inter<strong>na</strong>tio<strong>na</strong>l, Junho 2003.<br />

LEBERL, F. ; GRUBER, M. ; PONTICELLI, M. ; BERNOEGGER,<br />

S. ; PERKO, R. The Ultracam Large Format Aerial Digital<br />

Camera System. Proceedings of the ASPRS Annual Convention.<br />

Anchorage USA, 2003.<br />

YASTIKLI, N. ; JACOBSEN, K. Investigation of Direct Sensor<br />

Orientation for Dem Generation. Proceedings of ISPRS - Comission<br />

1. Denver, 2002.<br />

Internet<br />

Num espaço de tempo relativamente curto disporemos de<br />

uma cobertura integral de ortofotomapas de Portugal Continental.<br />

O protocolo estabelecido entre o <strong>Instituto</strong> Geográfico<br />

Português e a Direcção-Geral de Recursos Florestais veio<br />

provar que é possível reunir sinergias entre organismos públicos,<br />

com o objectivo último de melhor servir o ci<strong>da</strong>dão.<br />

Num país em que está <strong>na</strong> ordem do dia a contenção de<br />

despesas públicas, este acordo entre os dois organismos<br />

demonstrou que é viável realizar investimentos, no domínio<br />

<strong>da</strong> informação geográfica, que sirvam múltiplos interesses e<br />

que se adeqúem a diversos propósitos, evitando a duplicação<br />

de custos e esforços n<br />

ADS40 Camera<br />

http://www.gis.leica-geosystems.com/products/ads40/default.asp<br />

(acedido em Julho 2005)<br />

Dmc Camera<br />

http://www.intergraph.com/dmc/ (acedido em Julho 2005)<br />

Dimac Camera<br />

http://www.dimacsystems.com (acedido em Julho 2005)<br />

Ultracam-D Camera<br />

http://www.vexcel.com/products/photogram/ultracam/<br />

(acedido em Julho 2005)<br />

Paulo Patrício, Eng.º Geógrafo, <strong>Instituto</strong> Geográfico Português.<br />

(ppatricio@igeo.pt)


Artigo<br />

49<br />

Relações inter-institucio<strong>na</strong>is descentraliza<strong>da</strong>s:<br />

O caso dos estágios efectuados por alunos de engenharia topográfica<br />

<strong>na</strong>s delegações regio<strong>na</strong>is do Alentejo e Algarve<br />

“Aprender é inteiramente diferente de acumular conhecimentos.”<br />

Krish<strong>na</strong>murti in “O despertar <strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong>de”<br />

Van<strong>da</strong> Soares Machado<br />

Actualmente, a competência relativa à definição <strong>da</strong>s<br />

orientações estratégicas do IGP (I.P.), bem como ao<br />

acompanhamento <strong>da</strong> sua execução, é exerci<strong>da</strong> pelo Ministro<br />

do Ambiente, do Orde<strong>na</strong>mento do Território e do Desenvolvimento<br />

Regio<strong>na</strong>l em articulação com o Ministro de<br />

Estado e <strong>da</strong> Administração Inter<strong>na</strong>, conforme ponto 7 do<br />

Artigo16º do Decreto-Lei nº 79/2005, de 15 de Abril.<br />

Serve esta introdução para nos situarmos em termos do<br />

enquadramento legal necessário de modo que o IGP desenvolva<br />

as suas varia<strong>da</strong>s activi<strong>da</strong>des. No entanto, e porque<br />

o nosso objectivo é apresentar e reflectir sobre os casos de<br />

sucesso dos estágios realizados <strong>na</strong> área do ca<strong>da</strong>stro, a partir<br />

deste momento, no presente texto, a relevância passará a<br />

ser <strong>da</strong><strong>da</strong> a este tema.<br />

Continua o IGP a ser o organismo responsável pela execução<br />

<strong>da</strong> política de informação geográfica (IG) <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.<br />

As respectivas missão e atribuições estão consagra<strong>da</strong>s nos<br />

seus Estatutos, aprovados pelo Decreto-Lei nº 59/2002,<br />

de 15 de Março e para além de consig<strong>na</strong>r o IGP como Autori<strong>da</strong>de<br />

Nacio<strong>na</strong>l de Cartografia, desig<strong>na</strong>-o ain<strong>da</strong> como responsável<br />

pela produção de IG oficial, nomea<strong>da</strong>mente <strong>na</strong>s<br />

áreas <strong>da</strong> Geodesia, Cartografia e Ca<strong>da</strong>stro, pelo desenvolvimento<br />

e coorde<strong>na</strong>ção do Sistema Nacio<strong>na</strong>l de Informação<br />

Geográfica, pela investigação em ciências e tecnologias<br />

de IG (<strong>na</strong>s mais diversas áreas), pela formação científica e<br />

técnica no domínio <strong>da</strong>s ciências geográficas e pela grandiosa<br />

tarefa que é a di<strong>na</strong>mização <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> informação e<br />

do conhecimento.<br />

Em termos organizacio<strong>na</strong>is, O IGP, para além <strong>da</strong>s suas instalações<br />

em Lisboa, onde existe um Centro para a Informação<br />

Ca<strong>da</strong>stral (CIC) 1 , que compreende os Departamentos para<br />

a Execução Ca<strong>da</strong>stral (DEC) e para a Conservação Ca<strong>da</strong>stral<br />

(DCC) mantém Serviços Desconcentrados, em diferentes<br />

zo<strong>na</strong>s geográficas de Portugal Continental e <strong>na</strong>s Regiões<br />

Autónomas como se pode ver <strong>na</strong> figura1.<br />

1 Cujas funções são a promoção e o desenvolvimento de estudos ca<strong>da</strong>strais,<br />

a obtenção e tratamento de informação ca<strong>da</strong>stral e a certificação<br />

dos elementos ca<strong>da</strong>strais dos prédios, competindo-lhe em<br />

especial: referenciar a proprie<strong>da</strong>de imobiliária, rústica e urba<strong>na</strong>;<br />

identificar os prédios referenciados e emitir os respectivos cartões<br />

de identificação predial; proceder à caracterização geométrica<br />

dos prédios identificados; prestar apoio ao processo de avaliação<br />

<strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de imobiliária; assegurar a conservação do ca<strong>da</strong>stro e<br />

certificar os elementos ca<strong>da</strong>strais relativos a ca<strong>da</strong> prédio.


Artigo<br />

50<br />

Desta forma, encontram-se abertas ao público as seguintes<br />

Delegações Regio<strong>na</strong>is (DR):<br />

· DR dos Açores;<br />

· DR do Alentejo;<br />

· DR do Algarve;<br />

· DR do Centro e respectivo pólo desconcentrado em Coimbra;<br />

· DR de Lisboa e Vale do Tejo;<br />

· DR do Norte e respectivo pólo desconcentrado em Santa<br />

Maria <strong>da</strong> Feira<br />

· DR <strong>da</strong> Madeira: Regio<strong>na</strong>liza<strong>da</strong> em 2003, através do Decreto-lei<br />

n.º 13/2003, de 28 de Janeiro. Actual Direcção<br />

Regio<strong>na</strong>l de Geografia e Ca<strong>da</strong>stro.<br />

Fig.1. Localização <strong>da</strong>s DR do IGP<br />

As DR espalha<strong>da</strong>s pelo país, assim como o DCC em Lisboa,<br />

são responsáveis, entre outras activi<strong>da</strong>des, pela Conservação<br />

do Ca<strong>da</strong>stro Geométrico <strong>da</strong> Proprie<strong>da</strong>de Rústica (CCGPR).<br />

Assim, as DR mencio<strong>na</strong><strong>da</strong>s no presente texto, à semelhança<br />

<strong>da</strong>s suas congéneres têm áreas de actuação bem defini<strong>da</strong>s,<br />

isto é, a DR do Alentejo visa servir todo o distrito de Évora<br />

e de Beja enquanto que a DR do Algarve visa servir to<strong>da</strong> a<br />

região do Algarve, contando ca<strong>da</strong> uma, para tal, com uma<br />

equipa de funcionários, desde técnicos superiores a auxiliares<br />

administrativos.<br />

Ao abrigo <strong>da</strong> devi<strong>da</strong> regulamentação legislativa, transposta<br />

actualmente para o Código do Imposto Municipal sobre<br />

Imóveis (CIMI), são considerados em regime de ca<strong>da</strong>stro<br />

134 concelhos do País conforme a figura 2. O Ca<strong>da</strong>stro Geométrico<br />

<strong>da</strong> Proprie<strong>da</strong>de Rústica (CGPR), é <strong>na</strong> ver<strong>da</strong>de, o<br />

único ca<strong>da</strong>stro que descreve a reali<strong>da</strong>de física, em termos<br />

cartográficos, oficialmente em vigor, tendo sido elaborado ao<br />

longo de várias déca<strong>da</strong>s com um objectivo essencialmente<br />

fiscal. Neste contexto, é responsabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s Direcções de<br />

Fi<strong>na</strong>nças <strong>da</strong> Direcção Geral dos Impostos, a emissão <strong>da</strong>s desig<strong>na</strong><strong>da</strong>s<br />

Cadernetas Prediais que contêm, nomea<strong>da</strong>mente,<br />

a identificação unívoca do prédio em causa (o artigo matricial<br />

que permite a sua geo-referenciação), a sua configuração<br />

geométrica e respectiva área bem como a informação<br />

relativa ao seu titular, para além dos <strong>da</strong>dos tributários.<br />

Uma vez que to<strong>da</strong> a informação relativa ao CGPR, tanto<br />

<strong>na</strong> sua vertente gráfica, as secções ca<strong>da</strong>strais, como <strong>na</strong> sua<br />

vertente alfanumérica, as fichas de prédio, existia ape<strong>na</strong>s<br />

em suporte a<strong>na</strong>lógico, um dos projectos em curso no IGP,


Artigo<br />

51<br />

1940 a 1949<br />

Ilha de Porto Santo<br />

1950 a 1959<br />

Ilha <strong>da</strong> Madeira<br />

1960 a 1969<br />

1970 a 1979<br />

Ilha de S. Miguel<br />

1980 a 1989<br />

1990 a 1995<br />

Fig.2. Ca<strong>da</strong>stro geométrico <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de rústica. Déca<strong>da</strong>s de Entra<strong>da</strong> em Vigor.<br />

desde há uns anos a esta parte, tem sido precisamente a<br />

Informatização do Ca<strong>da</strong>stro Geométrico <strong>da</strong> Proprie<strong>da</strong>de<br />

Rústica 2 (ICGPR).<br />

Este projecto começou por ser adjudicado, por Concelhos,<br />

a empresas priva<strong>da</strong>s, ain<strong>da</strong> no tempo do Ex-<strong>Instituto</strong> Português<br />

de Cartografia e Ca<strong>da</strong>stro, tendo sido elaborados cinco<br />

Concelhos do Distrito de Faro, a saber, Castro Marim, Lagoa,<br />

Lagos, Portimão e Vila Real de Santo António. Presentemente,<br />

este trabalho está a ser efectuado, essencialmente, mediante<br />

protocolos assi<strong>na</strong>dos entre o IGP e Municípios ou<br />

Associações de Municípios que por sua vez poderão, se assim<br />

o entenderem, adjudicar a empresas priva<strong>da</strong>s. Nestes<br />

protocolos, o IGP fornece a informação ca<strong>da</strong>stral existente<br />

em formato raster e cópias parciais <strong>da</strong>s fichas de prédio (de<br />

modo a garantir a confidenciali<strong>da</strong>de dos <strong>da</strong>dos) bem como<br />

assegura a formação e acompanhamento necessário sobre<br />

as metodologias a seguir e em troca, recebe a informação<br />

vectoriza<strong>da</strong> e numeriza<strong>da</strong> segundo as regras defini<strong>da</strong>s.<br />

2 Não se entrará em grandes detalhes explicativos dos aspectos técnicos<br />

deste projecto uma vez que tal pode ser consultado em vários<br />

artigos subordi<strong>na</strong>dos a este tema, constantes <strong>na</strong> Bibliografia.<br />

Muito se evoluiu e se espera assim continuar desde os primeiros<br />

trabalhos até ao momento, existindo actualmente<br />

publica<strong>da</strong>s pelo CIC, as Especificações Técnicas 2.4 3 . Estas<br />

são o resultado de uma interactivi<strong>da</strong>de francamente positiva<br />

entre quem produz e quem regula, reflectindo por isso, as<br />

necessárias a<strong>da</strong>ptações que se vão efectuando ao longo do<br />

tempo, de modo a que este trabalho melhor cumpra os<br />

objectivos a que se propõe.<br />

Quantifique-se pois o que se pretende atingir: informatizar<br />

os elementos gráficos e alfanuméricos do CGPR, constantes<br />

<strong>da</strong>s cerca de 24 mil secções ca<strong>da</strong>strais, que cobrem mais<br />

de 50% do País e as fichas de prédio que representam os<br />

cerca de 2 milhões de prédios existentes. Tal permitirá:<br />

· Produzir cópias de segurança <strong>da</strong> informação existente<br />

e evitar a sua deterioração;<br />

· Facilitar o seu armaze<strong>na</strong>mento e manuseamento, com<br />

o intuito de melhorar o acesso à informação por parte<br />

do ci<strong>da</strong>dão;<br />

3 Referencia<strong>da</strong>s <strong>na</strong> Bibliografia.


Artigo<br />

52<br />

· Integrar os <strong>da</strong>dos num sistema de gestão <strong>da</strong> informação<br />

ca<strong>da</strong>stral, que permitirá a actualização <strong>da</strong> informação, man-<br />

tendo-se o registo histórico dos <strong>da</strong>dos e meta<strong>da</strong>dos;<br />

· Facilitar as futuras operações de renovação ca<strong>da</strong>stral.<br />

Cumprir estes objectivos conduz-nos aos ideais básicos em<br />

que assenta a Socie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Informação e do Conhecimento:<br />

“A informação não deve somente existir, mas deve ser<br />

fácil identificar onde é possível obtê-la, se é adequa<strong>da</strong> para<br />

um objectivo concreto, saber como pode ser acedi<strong>da</strong> e se<br />

pode ser integra<strong>da</strong> com outra informação” 4 .<br />

Conhecidos os objectivos, caracterize-se a informação em<br />

causa. Corresponderá a representação gráfica e geo-referencia<strong>da</strong><br />

de um conjunto contíguo de prédios, as já aqui<br />

referi<strong>da</strong>s secções ca<strong>da</strong>strais, à reali<strong>da</strong>de actual encontra<strong>da</strong><br />

no terreno? E estarão os seus atributos descritos <strong>na</strong>s fichas<br />

de prédios actualizados? A resposta não é linear e não se<br />

resume a um sim nem a um não. Tem que ser contextualiza<strong>da</strong>,<br />

explicitando, para tal, em que consiste a CCGPR.<br />

A conservação consiste no processo de actualização individual<br />

dos <strong>da</strong>dos que caracterizam e identificam ca<strong>da</strong> um<br />

dos prédios existentes numa determi<strong>na</strong><strong>da</strong> área geográfica.<br />

Os processos de reclamação administrativa que os proprietários<br />

ou seus representantes organizam junto dos Serviços<br />

de Fi<strong>na</strong>nças a que respeita o(s) prédio(s) serão resolvidos,<br />

sem aguar<strong>da</strong>r a operação de renovação ca<strong>da</strong>stral, desde<br />

que estes assegurem a cobertura dos correspondentes custos.<br />

Ou seja, para responder à questão formula<strong>da</strong> anteriormente,<br />

existirão zo<strong>na</strong>s que reflectem a reali<strong>da</strong>de no terreno<br />

enquanto que outras, eventualmente dentro <strong>da</strong> mesma<br />

secção, não.<br />

Compreende-se então que a ICGPR seja mais do que uma<br />

necessi<strong>da</strong>de, uma urgência 5 e que possa servir de base para<br />

um ca<strong>da</strong>stro totalmente informatizado, inserido num sistema<br />

de gestão e exploração de informação ca<strong>da</strong>stral, com<br />

actualizações mais rápi<strong>da</strong>s, eficazes e que melhor sirvam o<br />

ci<strong>da</strong>dão respondendo às solicitações em tempo útil como<br />

factor de uma maior equi<strong>da</strong>de e justiça social. Até porque<br />

4 Ver apresentação do Vice-Presidente do IGP, Professor Rui Pedro<br />

Julião “Que futuro para o Sistema Nacio<strong>na</strong>l de Informação Geográfica?”,<br />

referencia<strong>da</strong> <strong>na</strong> Bibliografia.<br />

5 Ver relatório “Harmonização do ca<strong>da</strong>stro com o registo e matriz<br />

prediais” referenciado <strong>na</strong> Bibliografia.<br />

o facto de as características envolvi<strong>da</strong>s, localização administrativa<br />

e geográfica, configuração geométrica e área, serem<br />

geo-referenciáveis facilita em muito a identificação dos<br />

atributos que lhe estão associados pois é ver<strong>da</strong>de que “a<br />

conceptualização no espaço surge <strong>na</strong>turalmente no modo<br />

de percepcio<strong>na</strong>r a reali<strong>da</strong>de” 6 .<br />

E que melhor garante de um correcto modo de percepcio<strong>na</strong>r<br />

a reali<strong>da</strong>de, senão apostar <strong>na</strong> complementação <strong>da</strong> formação<br />

de quem já é iniciado nestas matérias e poderá no<br />

futuro vir a trabalhar directamente nestas áreas? É aqui que,<br />

em nosso entender, está, em parte, a importância dos estágios<br />

realizados <strong>na</strong>s DR submetidos à temática <strong>da</strong> ICGPR.<br />

Por outro lado, o sucesso destes estágios também decorre<br />

parcialmente pelo facto <strong>da</strong> informação trabalha<strong>da</strong> ser local.<br />

Isto é, pode <strong>da</strong>r-se visibili<strong>da</strong>de local à IG utilizando-a e dissemi<strong>na</strong>ndo-a<br />

de acordo com as possibili<strong>da</strong>des técnicas e<br />

torná-la interoperável. Não só, inter<strong>na</strong>mente, este é um factor<br />

de motivação para a necessária requalificação dos recursos<br />

humanos existentes (serviu, inclusivé, para que a DR do<br />

Algarve passasse a dispor de software específico que não<br />

possuía à <strong>da</strong>ta de início do estágio, estando actualmente a<br />

ser utilizado pelos técnicos <strong>da</strong>quela Delegação) como para<br />

a comuni<strong>da</strong>de exterior, em que estão as DR do IGP inseri<strong>da</strong>s,<br />

se pode tor<strong>na</strong>r uma mais valia por permitir um tipo de<br />

acesso mais aberto e dinâmico <strong>da</strong>ndo um novo contributo<br />

para as relações com os parceiros locais, sejam eles, autarquias,<br />

estabelecimentos de ensino superior, delegações<br />

regio<strong>na</strong>is <strong>da</strong> administração central, empresas públicas, priva<strong>da</strong>s<br />

e sobretudo com o utente desta informação que se<br />

depara actualmente com insuportáveis entraves burocráticos<br />

e demora meses para concretizar alguma acção sobre<br />

o(s) seu(s) prédios, como uma divisão de prédio ou um<br />

destaque de área urba<strong>na</strong> ou qualquer outra situação específica.<br />

Este processo causa-efeito não será visível a curto<br />

prazo. No entanto, é seguramente um princípio para aproximar<br />

instituições que trabalham para um mesmo fim mas<br />

individualmente. Tal distanciamento tor<strong>na</strong>, por exemplo, o<br />

trajecto de um Processo de Reclamação Administrativa algo<br />

arrastado de repartição em repartição... Efectivamente, a<br />

partir do momento em que to<strong>da</strong> a informação se encontre<br />

6 João Luis Matos em “Fun<strong>da</strong>mentos de Informação Geográfica”<br />

referenciado <strong>na</strong> Bibliografia.


Artigo<br />

53<br />

em formato digital, de preferência inseri<strong>da</strong> num sistema de<br />

informação geográfica (SIG), a actualização passará a ser<br />

menos morosa e se, além disto, existirem plataformas que<br />

permitam a ligação dos vários organismos envolvidos para<br />

partilha de informação, todos beneficiaremos certamente<br />

de uma administração mais expedita.<br />

Talvez valha a pe<strong>na</strong> fazer um pequeno parêntesis para ver<br />

o que dizem alguns responsáveis pelo desenvolvimento<br />

regio<strong>na</strong>l: este passa por fomentar o surgimento de dinâmicas<br />

participativas que reforcem as sinergias locais e de uma<br />

nova cultura de cooperação e parceria 7 .<br />

E estamos a falar do presente pois ao consultar as pági<strong>na</strong>s<br />

<strong>da</strong> Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Regio<strong>na</strong>l<br />

(APDR) ou de Agências para o Desenvolvimento Regio<strong>na</strong>l 8<br />

é já um lugar comum falar-se de uma socie<strong>da</strong>de basea<strong>da</strong><br />

no conhecimento. Falar-se que este pode ser adquirido com<br />

as novas tecnologias <strong>da</strong> informação e comunicação (onde<br />

se insere obviamente a IG e eventualmente, de acordo com<br />

normas específicas a definir, a sua disponibilização <strong>na</strong> web)<br />

sendo motor de crescimento e de competitivi<strong>da</strong>de. Para<br />

este desenvolvimento não será alheia a utilização <strong>da</strong>s potenciali<strong>da</strong>des<br />

do e-government <strong>na</strong> gestão, ao permitir melhorar<br />

e alargar (em termos de oferta e disponibili<strong>da</strong>de) os<br />

serviços prestados pelas várias enti<strong>da</strong>des.<br />

É neste âmbito de interacção e profun<strong>da</strong> articulação entre<br />

as áreas <strong>da</strong> educação, <strong>da</strong> formação e dos vários sistemas de<br />

informação temáticos que os grandes pólos di<strong>na</strong>mizadores<br />

de to<strong>da</strong> uma região como são os casos <strong>da</strong>s Universi<strong>da</strong>des<br />

e Politécnicos (no caso de Beja, constituíram factor determi<strong>na</strong>nte<br />

não só para o desenvolvimento <strong>da</strong> região, mas também<br />

um poderoso instrumento de luta contra as assimetrias<br />

regio<strong>na</strong>is e contra a desertificação huma<strong>na</strong> do interior do<br />

país, desempenhando um importante papel no processo de<br />

7 Ver texto do Coorde<strong>na</strong>dor Executivo <strong>da</strong> Associação Alentejo XXI,<br />

Miguel Quaresma em “Desenvolver, (des)envolvendo”.<br />

8 Ver sites <strong>da</strong> Internet no fim do texto.<br />

Fig.3. Informatização do Ca<strong>da</strong>stro Geométrico<br />

<strong>da</strong> Proprie<strong>da</strong>de Rústica


Artigo<br />

54<br />

Compreende-se, assim, o interesse que os estabelecimentos<br />

de ensino superior locais tenham em enviar a esta casa<br />

os seus formandos pois eles vêm aprender e aju<strong>da</strong>r a produzir<br />

informação digital com quali<strong>da</strong>de e respeitadora <strong>da</strong>s<br />

especificações técnicas defini<strong>da</strong>s para o efeito. Este interesse<br />

é bem manifestado <strong>na</strong> solicitação de mais um estágio no<br />

presente ano e é com agrado que se passa a citar:<br />

“Tendo em conta as boas relações existentes entre o IGP e<br />

a ESTIG do IPB, bem como o contributo que ambas as instituições<br />

desempenham para o progresso e desenvolvimento<br />

<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de portuguesa, vem a Coorde<strong>na</strong>ção do Curso de<br />

Engenharia Topográfica solicitar...”<br />

8 Áreas escolhi<strong>da</strong>s<br />

Fig.4. Área de<br />

trabalho <strong>da</strong> Freguesia<br />

Delimitação <strong>da</strong>s 24 Secções do Concelho de Faro<br />

democratização <strong>da</strong> informação e <strong>da</strong> modernização local) intervêm<br />

como actores preferenciais pois são eminentemente<br />

agentes incubadores de inovação em que a aprendizagem<br />

surge como uma resposta a uma necessi<strong>da</strong>de. Não será<br />

por acaso, passe a publici<strong>da</strong>de, que decorrerá em Faro, <strong>na</strong><br />

Facul<strong>da</strong>de de Economia <strong>da</strong> UALG, em Setembro de 2005,<br />

o 11º Congresso <strong>da</strong> APDR, cujo tema está relacio<strong>na</strong>do directamente<br />

com o que aqui se tem abor<strong>da</strong>do, “O <strong>Papel</strong> <strong>da</strong>s<br />

Universi<strong>da</strong>des no Desenvolvimento <strong>da</strong>s Regiões”.<br />

É do conhecimento geral que os estabelecimentos de Ensino<br />

Superior se encontram, <strong>na</strong> actuali<strong>da</strong>de, perante enormes<br />

desafios lançados pela crescente competitivi<strong>da</strong>de económica<br />

basea<strong>da</strong> no conhecimento e pelas novas estratégias e<br />

novos desempenhos que estes terão de encontrar de modo<br />

a gerar mais valias <strong>na</strong>s regiões que as acolhem.<br />

Feito o parêntesis para falar no Desenvolvimento Regio<strong>na</strong>l,<br />

qual o desempenho do IGP no meio disto tudo? É que soa<br />

bem falar <strong>na</strong> Socie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Informação e do Conhecimento<br />

mas para tal terá de existir o elemento primordial – Informação!<br />

Digital e Acessível! E é o IGP, o fiel depositário de um rol<br />

inestimável de informação ca<strong>da</strong>stral construído ao longo de<br />

várias déca<strong>da</strong>s.<br />

Concretizando, durante a realização destes estágios, são<br />

atribuí<strong>da</strong>s peque<strong>na</strong>s áreas de trabalho. O facto de se escolher<br />

zo<strong>na</strong>s com uma dimensão reduzi<strong>da</strong> tem somente que<br />

ver com o propósito de o aluno elaborar to<strong>da</strong>s as fases do<br />

projecto num curto intervalo de tempo, normalmente quatro<br />

meses. Assim, a realização prática de todos os passos<br />

do processo, desde a rasterização <strong>da</strong>s secções ca<strong>da</strong>strais<br />

e numerização <strong>da</strong>s fichas de prédio numa base de <strong>da</strong>dos<br />

alfanumérica até à integração <strong>da</strong> informação produzi<strong>da</strong> num<br />

sistema de informação ca<strong>da</strong>stral explorando as óbvias vantagens<br />

inerentes, permite ao aluno, o contacto com os problemas<br />

reais que se colocam, a confrontação <strong>da</strong> prática com<br />

o que foi apreendido <strong>na</strong> escola, e ir mais além.<br />

Efectivamente, as condições de sucesso <strong>na</strong> aprendizagem<br />

são, por parte do estagiário, uma imagem positiva de si<br />

próprio enquanto formando, como pessoa no presente e<br />

no futuro. Dependem ain<strong>da</strong> de uma atitude positiva em<br />

relação à mu<strong>da</strong>nça (com o compreensível ímpeto juvenil<br />

que lhes é próprio, e ain<strong>da</strong> bem, é-lhes difícil aceitar os<br />

métodos com que ain<strong>da</strong> hoje se trabalha e desejam logo<br />

partir para o trabalho em SIG, por exemplo); de uma atitude<br />

activa relativamente ao projecto e aos seus pré-requisitos. O<br />

interesse demonstrado pela tarefa a desempenhar e uma<br />

boa percepção dos critérios que permitem apreciar o estado<br />

<strong>da</strong> realização, juntamente com uma atitude favorável<br />

relativamente às condições disponíveis, às pessoas e, de<br />

um modo geral, em relação ao meio ambiente tem sido um<br />

factor comum nos estágios realizados conduzindo também<br />

ao seu sucesso não só no IGP, como <strong>na</strong> sua apresentação<br />

junto <strong>da</strong> escola.


Artigo<br />

55<br />

Como orientadora de estágios, tenho sentido que a vontade<br />

de ir mais além por parte dos estagiários e confesso,<br />

que também minha, não se fica só pelo gabinete mas sim<br />

<strong>na</strong> possibili<strong>da</strong>de de acompanhar os trabalhos de campo<br />

utilizando sempre que possível tecnologias como o GPS e<br />

de efectuar a actualização <strong>da</strong> informação produzi<strong>da</strong> já em<br />

ambiente SIG ou ain<strong>da</strong> a participação num projecto de execução<br />

ca<strong>da</strong>stral de raiz, à luz do Regulamento do Ca<strong>da</strong>stro<br />

Predial. Esta seria uma mais valia que também nós IGP receberíamos,<br />

pois como já foi afirmado anteriormente, estes<br />

potenciais candi<strong>da</strong>tos ao mercado de trabalho trazem em si<br />

mesmo a abertura de espírito necessária à mu<strong>da</strong>nça e aos<br />

métodos de trabalho.<br />

Têm existido, porém, determi<strong>na</strong><strong>da</strong>s condicio<strong>na</strong>ntes que impossibilitam<br />

a conjugação no estágio de uma componente<br />

de gabinete e outra componente de campo. Acredita-se, no<br />

entanto, que mais cedo ou mais tarde, tal será ultrapassado<br />

e <strong>da</strong>í se retirará os respectivos dividendos.<br />

Pareceu-nos interessante ouvir a opinião de quem fez o estágio<br />

e apresenta-se, a seguir, o testemunho solicitado à<br />

estagiária do ano de 2004, já diploma<strong>da</strong> e em vias de começar<br />

um estágio profissio<strong>na</strong>l no Algarve, Marta Calé, para<br />

inserção neste texto:<br />

“A Universi<strong>da</strong>de do Algarve, <strong>na</strong> Área Departamental de Engenharia<br />

Civil, ministra, já há alguns anos, o curso de Engenharia<br />

Topográfica. Esta formação, com a duração de três<br />

anos, proporcio<strong>na</strong> não só os conhecimentos teóricos, como<br />

também, <strong>na</strong> sua recta fi<strong>na</strong>l, pretende fazer a ligação ao mundo<br />

do trabalho, através <strong>da</strong> obrigatorie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> frequência de<br />

um Estágio Curricular.<br />

Assim, efectuei no <strong>Instituto</strong> Geográfico Português, <strong>na</strong> Delegação<br />

do Algarve, o meu Estágio Curricular, no qual me<br />

foi proposto, pela respectiva orientadora, a concretização<br />

<strong>da</strong> Informatização do Ca<strong>da</strong>stro Geométrico <strong>da</strong> Proprie<strong>da</strong>de<br />

Rústica, <strong>na</strong> totali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Freguesia <strong>da</strong> Conceição do Concelho<br />

de Faro.<br />

Inicialmente, e porque necessitava de utilizar aplicações informáticas<br />

que me não eram familiares, senti a dificul<strong>da</strong>de<br />

inerente ao que é trabalhado pela primeira vez. No entanto,<br />

os conhecimentos teóricos adquiridos ao longo do curso,<br />

<strong>na</strong> área de informática, permitiram uma a<strong>da</strong>ptação rápi<strong>da</strong> e<br />

eficiente ao variado software utilizado <strong>na</strong> enti<strong>da</strong>de promotora<br />

do estágio.<br />

Durante as dezasseis sema<strong>na</strong>s, durante as quais decorreu<br />

a formação prática, foram, por mim, rasteriza<strong>da</strong>s, geo-referencia<strong>da</strong>s<br />

e vectoriza<strong>da</strong>s as secções ca<strong>da</strong>strais <strong>da</strong> Freguesia<br />

<strong>da</strong> Conceição, do Concelho de Faro. Contudo, devido à escassez<br />

de tempo, não foi possível inseri-las to<strong>da</strong>s num SIG,<br />

ape<strong>na</strong>s 8 delas foram concretiza<strong>da</strong>s.<br />

Sendo um estágio essencialmente prático, permitiu-me, por<br />

um lado, o conhecimento aprofun<strong>da</strong>do do Ca<strong>da</strong>stro Geométrico,<br />

desig<strong>na</strong><strong>da</strong>mente quanto às suas normas e especificações<br />

técnicas, tendo complementado as noções obti<strong>da</strong>s<br />

<strong>na</strong> discipli<strong>na</strong> de Ca<strong>da</strong>stro e Legislação do Curso de Eng.<br />

Topográfica <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de do Algarve, e, por outro lado,<br />

possibilitou-me o conhecimento e o domínio prático de<br />

software variado, nomea<strong>da</strong>mente Microstation, IrasC, NgXis<br />

e Geomedia Profissio<strong>na</strong>l versão 5.1.<br />

Em suma, reconheço que a ligação <strong>da</strong> teoria académica às<br />

práticas inerentes ao mundo do trabalho só podem ser bem<br />

sucedi<strong>da</strong>s através <strong>da</strong> execução de tarefas reais e concretas,<br />

devi<strong>da</strong>mente acompanha<strong>da</strong>s por alguém que domine o<br />

tema em questão.”<br />

Acrescenta-se, ain<strong>da</strong> em tempo útil, a informação de que o<br />

estagiário oriundo <strong>da</strong> Madeira, Henrique Freitas que realizou<br />

o estágio <strong>na</strong> DR do Alentejo, está desde dia 2 de Maio <strong>na</strong><br />

Direcção Regio<strong>na</strong>l de Geografia e Ca<strong>da</strong>stro, em estágio profissio<strong>na</strong>l.<br />

Esperamos, sinceramente, que este novo elemento,<br />

já com conhecimentos práticos <strong>na</strong> área, possa interessar<br />

e participar activamente <strong>na</strong> tarefa de informatização de secções<br />

ca<strong>da</strong>strais que também esta Direcção Regio<strong>na</strong>l está a<br />

levar a cabo. Aguar<strong>da</strong>remos por mais notícias.<br />

Existindo outros estabelecimentos de ensino superior em<br />

outras regiões do país que leccio<strong>na</strong>m cursos com uma componente<br />

topo-ca<strong>da</strong>stral e existindo, como se disse no início,<br />

várias Delegações Regio<strong>na</strong>is do IGP (em áreas onde vigora<br />

o ca<strong>da</strong>stro geométrico <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de rústica e/ou onde estão<br />

sendo realizados projectos vários de execução de ca<strong>da</strong>stro),<br />

é minha opinião que este encontro de vontades, esta<br />

comunicação entre diferentes ministérios, poderá, e utilize-


Artigo<br />

56<br />

mos a palavra no seu melhor sentido, evangelizar 9 aqueles<br />

que podem vir a desempenhar funções “ca<strong>da</strong>strais”. Não<br />

com uma acção moralizadora inflexível mas com a postura<br />

de que é ensi<strong>na</strong>ndo que mais se aprende.<br />

Creio pois, poder o IGP atingir, com a promoção destes estágios,<br />

algumas <strong>da</strong>s metas estabeleci<strong>da</strong>s nos seus estatutos,<br />

valorizando ao mesmo tempo a sua participação, que se<br />

quer sempre mais activa, <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de e demonstrando<br />

que a importância <strong>da</strong> IG <strong>na</strong> mesma é irreversível.<br />

Ao termi<strong>na</strong>r este artigo, agradeço a colaboração, manifesta<strong>da</strong><br />

com to<strong>da</strong> a disponibili<strong>da</strong>de, <strong>na</strong> revisão, crítica construtiva<br />

e sugestões que me permitiram a sua melhoria, do Engº<br />

Paulo Martins que desempenha funções no Centro para<br />

a Regulamentação, Acreditação e Homologação do IGP e<br />

leccio<strong>na</strong> também as discipli<strong>na</strong>s de Sistemas de Informação<br />

Geográfica nos cursos de Topógrafo-Geometra e de Técnico<br />

de Cartografia e de Detecção Remota no curso de Técnico<br />

de Cartografia <strong>da</strong> Escola Profissio<strong>na</strong>l de Ciências Geográficas.<br />

Já agora, parece oportuno referir que alguns destes<br />

alunos, decidindo envere<strong>da</strong>r pela continuação dos estudos,<br />

optam por fazê-lo no Curso de Engenharia Topográfica, sendo<br />

Beja uma <strong>da</strong>s primeiras opções n<br />

Bibliografia:<br />

Livros:<br />

ALBINO, J. Desenvolver (des)envolvendo - Reflexões e Pistas<br />

para o Desenvolvimento Local. ESDIME, Agência para o Desenvolvimento<br />

Local no Alentejo Sudoeste. Messeja<strong>na</strong>, 2001.<br />

FREITAS, H. ; MACHADO, V. ; OLIVEIRA, O. Informatização<br />

do Ca<strong>da</strong>stro Geométrico <strong>da</strong> Proprie<strong>da</strong>de Rústica. Actas <strong>da</strong><br />

IV Conferência Nacio<strong>na</strong>l de Cartografia e Geodesia, Lidel -<br />

Edições Técnicas, L<strong>da</strong>. Lisboa, 2005.<br />

IGP. CIC - Especificações Técnicas para a Informatização<br />

do Ca<strong>da</strong>stro Geométrico <strong>da</strong> Proprie<strong>da</strong>de Rústica. Lisboa,<br />

2005.<br />

JULIÃO, R. P. Que futuro para o Sistema Nacio<strong>na</strong>l de Informação<br />

Geográfica?. Apresentação no Geografia Digital<br />

2004, GISMÉDIA. Carcavelos, 2004.<br />

MACHADO, V. Harmonização do ca<strong>da</strong>stro com o registo e<br />

matriz prediais. Relatório de Estágio, IPCC. Lisboa, 2001.<br />

DL 59/2002. Estatutos do <strong>Instituto</strong> Geográfico Português.<br />

Diário <strong>da</strong> República nº 63, Série I-A. Lisboa, 2002.<br />

Outras:<br />

Algumas <strong>da</strong>s pági<strong>na</strong>s consulta<strong>da</strong>s <strong>na</strong> Internet em Abril 2005:<br />

http://www.igeo.pt/;<br />

http://www.estig.ipbeja.pt/;<br />

http://www.ualg.pt/est/;<br />

http://www.ep-ciencias-geograficas.rcts.pt/;<br />

http://www.dgci.min-fi<strong>na</strong>ncas.pt/;<br />

http://www.apdr.pt/;<br />

http://www.adral.pt/;<br />

http://www.cm-beja.pt/.<br />

BERBAUM, J. Desenvolver a Capaci<strong>da</strong>de de Aprendizagem,<br />

Escola Superior de Educação João de Deus. Lisboa, 1992.<br />

MATOS, J. Fun<strong>da</strong>mentos de Informação Geográfica, Lidel<br />

- Edições Técnicas, L<strong>da</strong>. Lisboa, 2001.<br />

Artigos:<br />

CALÉ, M. Informatização do Ca<strong>da</strong>stro Geométrico <strong>da</strong> Proprie<strong>da</strong>de<br />

Rústica. Relatório de Estágio, EST/IGP. Faro, 2004.<br />

9 Evangelizar, v. tr. divulgar, ensi<strong>na</strong>r... (Dicionário <strong>da</strong> Língua Portuguesa<br />

<strong>da</strong> Porto Editora).<br />

Van<strong>da</strong> Soares Machado, <strong>Instituto</strong> Geográfico Português – Delegação<br />

Regio<strong>na</strong>l do Alentejo (vmachado@igeo.pt).


Artigo<br />

58<br />

O Convénio Cartográfico Luso-Brasileiro de 1867<br />

Génese <strong>da</strong> Cartoteca do <strong>Instituto</strong> Geográfico Português<br />

Comunicação apresenta<strong>da</strong> no I Simpósio Luso-Brasileiro, Setembro 2005, Rio de Janeiro<br />

Paulo Jorge Estrela<br />

O I Simpósio Luso-Brasileiro de Cartografia Histórica, a decorrer<br />

no Rio de Janeiro (Brasil) neste ano de 2005, é sem<br />

dúvi<strong>da</strong> um evento que, acreditamos, ficará registado como<br />

pedra basilar no retomar de velhos laços institucio<strong>na</strong>is lusobrasileiros,<br />

nomea<strong>da</strong>mente aos que se dedicam, de uma<br />

forma ou outra, a esta área do conhecimento, <strong>da</strong> representação<br />

do território - a Cartografia, e em especial ao que<br />

podemos chamar de Cartografia Histórica.<br />

Marco absolutamente inolvidável nestas ancestrais relações,<br />

foi o Convénio Cartográfico Luso-Brasileiro de 1867, uma<br />

referência chave <strong>na</strong>s relações culturais e diplomáticas de<br />

Portugal e Brasil no que se refere à Cartografia Histórica<br />

dos dois países. No entanto, com a aproximação <strong>da</strong>s comemorações<br />

dos 140 anos <strong>da</strong> sua assi<strong>na</strong>tura, verifica-se<br />

que é, ain<strong>da</strong>, um processo pouco divulgado <strong>na</strong> comuni<strong>da</strong>de<br />

técnico-científica luso-brasileira.<br />

Como se irá tentar <strong>da</strong>r a conhecer (e a alguns somente<br />

recor<strong>da</strong>r), em meados do século XIX muito se fez neste<br />

campo, por ambos os países, havendo ain<strong>da</strong> muito a fazer,<br />

e talvez este Simpósio (e os que se seguirem) seja o momento<br />

certo para lançar novas sementes de cooperação...<br />

Com esta Comunicação pretende-se introduzir o tema do<br />

Convénio Cartográfico Luso-Brasileiro de 1867 e a sua grande<br />

importância para ambas as <strong>na</strong>ções e como este foi essencial<br />

para a constituição <strong>da</strong> actual Cartoteca do <strong>Instituto</strong><br />

Geográfico Português (IGP). Como, provavelmente, alguns<br />

dos participantes neste Simpósio não conhecem esta enti<strong>da</strong>de<br />

pública portuguesa, será necesssário explicar, em traços<br />

gerais, o que é o IGP, o seu enquadramento institucio<strong>na</strong>l,<br />

a sua missão e a forma como o seu valioso património<br />

histórico-científico está a ser gerido.<br />

O IGP é uma enti<strong>da</strong>de pública (civil) <strong>da</strong> Administração Central,<br />

cria<strong>da</strong> em 2002, por fusão de dois organismos: CNIG<br />

– Centro Nacio<strong>na</strong>l de Informação Geográfica e o IPCC – <strong>Instituto</strong><br />

Português de Cartografia e Ca<strong>da</strong>stro. Com sede em<br />

Lisboa, actualmente presidido pelo Sr. Coronel de Artilharia,<br />

Engenheiro Geógrafo, Arménio Castanheira é, em Portugal,<br />

o organismo responsável pela execução <strong>da</strong> política de Informação<br />

Geográfica, sob a tutela gover<strong>na</strong>mental do Ministério<br />

do Ambiente, do Orde<strong>na</strong>mento do Território e do Desenvolvimento<br />

Regio<strong>na</strong>l.<br />

O IGP, além de ser a Autori<strong>da</strong>de Nacio<strong>na</strong>l de Cartografia,<br />

Geodesia e Ca<strong>da</strong>stro, tem como principais missões: a produção<br />

de informação geográfica oficial; o desenvolvimento<br />

e coorde<strong>na</strong>ção do Sistema Nacio<strong>na</strong>l de Informação Geográfica<br />

(SNIG); a investigação em ciências e tecnologias de<br />

informação geográfica (<strong>na</strong>s áreas do ambiente, orde<strong>na</strong>mento<br />

do território, sócio-economia, detecção remota, geodesia,<br />

cartografia e ca<strong>da</strong>stro); a formação científica e técnica no<br />

domínio <strong>da</strong>s ciências geográficas e a di<strong>na</strong>mização <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> informação.<br />

Entre outros Departamentos técnicos e operacio<strong>na</strong>is, o IGP<br />

conta <strong>na</strong> sua orgânica com o CDI - Centro para a Documentação<br />

e Informação que, entre outras atribuições, compete<br />

o tratamento de to<strong>da</strong> a documentação, seja bibliográfica,<br />

cartográfica ou museológica, sua conservação e divulgação<br />

de acordo com o interesse científico, histórico e cultural.<br />

Para tal, é essencial a coorde<strong>na</strong>ção <strong>da</strong> acção <strong>da</strong>s suas várias<br />

uni<strong>da</strong>des orgânicas, que processam todo o património<br />

histórico-científico de que o IGP é herdeiro e fiel depositário:<br />

a Cartoteca, a Biblioteca, o Nucleo Museológico e o<br />

Arquivo Histórico.


Artigo<br />

59<br />

CA 135. “Copia <strong>da</strong> Planta pertencente à Carta Geografica do Reyno”,<br />

D. Francisco Antonio Ciera (ca. 1805)


Artigo<br />

60<br />

O CDI, à luz <strong>da</strong> política em vigor em todo o <strong>Instituto</strong>, tem<br />

vindo a <strong>da</strong>r um especial ênfase à utilização <strong>da</strong>s novas tecnologias<br />

no cumprimento <strong>da</strong> sua missão, criando novas formas<br />

do grande público aceder ao seu património através<br />

<strong>da</strong> Internet. São exemplos de tal actuação a Base de Dados<br />

Bibliográfica online, o Museu virtual (em desenvolvimento),<br />

os Serviços de Digitalização e de Fotografia Digital de Alta<br />

Resolução e por último, a recém cria<strong>da</strong> Base de Dados Cartográfica<br />

online.<br />

Esta última plataforma, que há muito era necessária e solicita<strong>da</strong><br />

no mundo académico, está numa fase inicial mas<br />

os resultados obtidos são muito estimulantes para o futuro.<br />

Nesta primeira fase do projecto, e com base no Catálogo de<br />

Cartas Antigas <strong>da</strong> Mapoteca do ex-IPPC “Catálogo Gabriel<br />

Mendes” estão disponíveis, online, mais de 650 exemplares<br />

de cartografia histórica (incluindo alguns exemplares do Brasil<br />

e Guia<strong>na</strong> Francesa). Com uma Base de Dados simples<br />

(limita<strong>da</strong> a alguns campos pertinentes) é possível visualizar<br />

(e copiar) em formato A5 a 72dpis, os respectivos espécimes<br />

cartográficos.<br />

É possível aceder a esta pági<strong>na</strong> através do sítio do IGP (www.<br />

igeo.pt), seguindo o links “Serviços” e “Cartoteca Digital”, podendo<br />

o ci<strong>da</strong>dão mais exigente consultar, presencialmente,<br />

uma potente Base de Dados com visualização de imagens<br />

de alta resolução, além dos outros serviços disponíveis.<br />

Tal como já se referiu, as origens imediatas do IGP remontam<br />

a 2002, mas este organismo, por também derivar directamente<br />

do ex-<strong>Instituto</strong> Português de Cartografia e Ca<strong>da</strong>stro,<br />

é a enti<strong>da</strong>de sucessora de uma série de organismos<br />

públicos cuja génese remonta aos fi<strong>na</strong>is do século XVIII - <strong>da</strong><br />

então cria<strong>da</strong> Comissão para os Trabalhos de Triangulação<br />

Geral do Reino.<br />

Após algumas mu<strong>da</strong>nças de nomes, passando por entre outros,<br />

Direcção-Geral dos Trabalhos Geodésicos, Topográficos<br />

e Ca<strong>da</strong>strais do Reino ou por Direcção-Geral dos Trabalhos<br />

Geodésicos, Corográficos, Hidrográficos e Geológicos do<br />

Reino, é criado, em 1864, um grande organismo científico<br />

denomi<strong>na</strong>do “<strong>Instituto</strong> Geographico” (sob a tutela do Ministério<br />

<strong>da</strong>s Obras Públicas, Comércio e Indústria), dirigido pela<br />

figura incontornável <strong>da</strong> história <strong>da</strong> Cartografia Portuguesa, o<br />

General Conselheiro Filipe Folque.<br />

Será este organismo em Portugal o grande parceiro neste Convénio,<br />

e é ao seu Director-Geral, que o Governo Português delegará<br />

competências para, em seu nome, assi<strong>na</strong>r o Convénio<br />

e levar a cabo a sua supervisão e imediata execução.<br />

Resumi<strong>da</strong>s as origens do IGP e do seu antecessor <strong>na</strong> déca<strong>da</strong><br />

de sessenta do século XIX (por forma a melhor entendermos<br />

o papel deste Organismo no Convénio), há, obrigatoriamente,<br />

que falar <strong>na</strong> ilustre figura e mentora de todo o<br />

projecto, e falamos do Barão de Ponte Ribeiro. O Dr. Duarte<br />

<strong>da</strong> Ponte Ribeiro, de título imperial Barão de Ponte Ribeiro<br />

é uma figura muito conheci<strong>da</strong> no Brasil e em especial


Artigo<br />

61<br />

lia real portuguesa para o continente sul-americano. Já no<br />

Brasil, e somente com16 anos, é aprovado como Cirurgião<br />

pela Escola Médico-Cirúrgica. Em 1822, adoptou a causa<br />

<strong>da</strong> independência do Brasil e opta pela <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de Brasileira,<br />

e pouco tempo depois, abraça a carreira diplomática.<br />

Começam então anos de uma frenética activi<strong>da</strong>de política e<br />

diplomática, viajando e residindo em deze<strong>na</strong>s de países <strong>na</strong>s<br />

Américas e <strong>na</strong> Europa, muitos deles onde decorriam guerras<br />

inter<strong>na</strong>s e exter<strong>na</strong>s (chegando a ser ferido) e onde as<br />

condições de vi<strong>da</strong> e de viagem eram extremamente precárias,<br />

tendo adoecido gravemente algumas vezes. Entre outras<br />

activi<strong>da</strong>des, procurou o Barão de Ponte Ribeiro, obter,<br />

sempre, o máximo de informação acerca dos limites fronteiriços<br />

Brasileiros.<br />

É nesta área <strong>da</strong> sua activi<strong>da</strong>de diplomática, de tão grande<br />

importância sócio-económica para o Brasil, que lhe <strong>na</strong>sce a<br />

paixão pela Cartografia e que o vai tor<strong>na</strong>r num dos maiores<br />

especialistas <strong>na</strong> área do século XIX. To<strong>da</strong> a sua vi<strong>da</strong> (faleceu<br />

com 83 anos) foi passa<strong>da</strong> a investigar, rigorosamente,<br />

arquivos e bibliotecas, a reunir colecções particulares e institucio<strong>na</strong>is,<br />

recuperando e levando para o Brasil inúmeros<br />

espécimes cartográficos e relatórios escritos. Um dos seus<br />

biógrafos, Goycochêa, em 1943, acaba mesmo por <strong>da</strong>r a<br />

um livro seu, acerca desta perso<strong>na</strong>gem histórica, um título<br />

que muito bem resume a importância do Barão de Ponte<br />

Ribeiro: “O Fronteiro-mor do Império”.<br />

CA 269. “Mappa Topografico do sitio e ribeira d’Arão”,<br />

Jozé de Sande Vasconcellos (1794)<br />

dentro do mundo diplomático e <strong>da</strong>s ciências cartográficas.<br />

Muito se tem escrito sobre si e sobre os seus inúmeros<br />

trabalhos. No entanto, e porque este é um Simpósio Luso-<br />

Brasileiro, iremos aflorar um pouco a sua enorme e distinta<br />

biografia, para que outros possam, também, avaliar os seus<br />

méritos.Português de <strong>na</strong>scimento (1795, perto de Viseu),<br />

filho de cirurgião, em 1807, ain<strong>da</strong> jovem seguiu para o Brasil,<br />

numa <strong>da</strong>s <strong>na</strong>us <strong>da</strong> Esquadra que transportou a famí-<br />

Foi graças ao incansável trabalho do Barão de Ponte Ribeiro,<br />

que este Convénio foi obtido após anos de pesquisa em<br />

arquivos de ambos os lados do Atlântico (em especial devido<br />

à missão de estu<strong>da</strong>r a questão fronteiriça com as Guia<strong>na</strong>s<br />

francesas e inglesas). Ponte Ribeiro conseguiu sensibilizar<br />

as autori<strong>da</strong>des gover<strong>na</strong>mentais <strong>da</strong>s duas <strong>na</strong>ções para a<br />

enorme importância de uma permuta dos respectivos espólios<br />

cartográficos. Para além do valor histórico-cultural<br />

destes exemplares cartográficos para ambas as <strong>na</strong>ções, os<br />

mesmos assumiam grande importância sócio-económica<br />

devido à questão <strong>da</strong> delimitação <strong>da</strong>s fronteiras do Brasil<br />

com to<strong>da</strong> uma série de novas <strong>na</strong>ções sul-america<strong>na</strong>s.<br />

Em meados do século XIX, no Arquivo Militar Imperial do Rio<br />

de Janeiro encontravam-se muitos espécimes cartográficos<br />

portugueses que tinham ido para o Brasil por circunstâncias<br />

diversas.


Artigo<br />

62


Artigo<br />

63<br />

A i<strong>da</strong> <strong>da</strong> corte portuguesa e de D. João VI para o Brasil (em<br />

consequência <strong>da</strong> invasão francesa e espanhola), teve também<br />

como consequência a transferência para essa <strong>na</strong>ção<br />

sul-america<strong>na</strong> <strong>da</strong> Biblioteca Real (com muitas e importantes<br />

colecções cartográficas) e grande parte do arquivo cartográfico<br />

<strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de Real Marítima Militar e Geográfica para<br />

o Desenho, Gravura e Impressão <strong>da</strong>s Cartas Hidrográficas,<br />

Geográficas e Militares, assim como do chamado Real Arquivo<br />

Militar, que havia sido criado em Lisboa, para servir<br />

de depósito de to<strong>da</strong> a cartografia militar e respectivas memórias<br />

descritivas. De igual forma, viajou para o Brasil, a<br />

uni<strong>da</strong>de de marinha, actualmente chama<strong>da</strong> de Escola Naval<br />

(à época Companhia dos Guar<strong>da</strong>-Marinhas) e cujo acervo<br />

cartográfico era relevante em termos hidrográficos. Existem<br />

ain<strong>da</strong> registos de “resgates” particulares, de origi<strong>na</strong>is e de<br />

CA 340. “Configuração<br />

<strong>da</strong> entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> barra<br />

de Lisboa”,<br />

Luís d’Allincourt<br />

(ca. 1760)


Artigo<br />

64<br />

cópias (incluindo alguns de importância singular visto os<br />

origi<strong>na</strong>is terem desaparecido), efectuados por Oficiais do<br />

Exército e de Marinha, durante o período <strong>da</strong> Guerra Peninsular,<br />

e que posteriormente foram entregues nos arquivos<br />

do Rio de Janeiro.<br />

Com esta resenha, começamos a perceber o quão importante<br />

era para Portugal recuperar este património. Além <strong>da</strong>s<br />

questões relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s com a defesa, recorde-se que muitos<br />

mapas eram de cariz militar (reportando-se muitos deles à<br />

época <strong>da</strong> Reforma do Exército de 1762, do Conde de Lippe,<br />

que trouxe para Portugal, deze<strong>na</strong>s de Oficiais de Engenharia<br />

estrangeiros que cartografaram o país e fizeram escola),<br />

muita <strong>da</strong> cartografia era igualmente importante do ponto<br />

de vista económico, pois o período de governo do Marquês<br />

de Pombal, típico do estado moderno, foi igualmente muito<br />

profícuo no que se refere à representação do território,<br />

nomea<strong>da</strong>mente ao seu urbanismo, arquitectura e às várias<br />

activi<strong>da</strong>des económicas, como sejam as mi<strong>na</strong>s, os portos,<br />

os pinhais, as zo<strong>na</strong>s vinhateiras, as vias fluviais, etc.<br />

Na déca<strong>da</strong> de quarenta do séc. XIX, o Barão teve acesso ao<br />

Arquivo Militar do Rio de Janeiro e vê-se confrontado com<br />

a existência <strong>da</strong> grande riqueza e importância deste espólio<br />

cartográfico “esquecido” - cerca de 950 Cartas. Rapi<strong>da</strong>mente<br />

começa a preparar duas vertentes de actuação para “recuperar”<br />

tal tesouro.<br />

A nível interno solicita que seja facultado ao Palácio do Itamaraty<br />

(Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros)<br />

um exemplar de ca<strong>da</strong> duplicado de Cartas que aí se encontravam<br />

e no caso de exemplares únicos, que se fizesse uma<br />

cópia dos mesmos que lhe seria entregue. Pensa-se ser<br />

esta a génese <strong>da</strong> actual importante Mapoteca do Itamaraty<br />

(Ministério dos Negócios Exteriores). Este núcleo central, ao<br />

qual se juntaram colecções particulares, como as do Barão<br />

de Rio Branco, Joaquim Nabuco, António Pimenta Branco,<br />

além <strong>da</strong> sua própria colecção, doa<strong>da</strong> pela viúva à posteriori,<br />

acabou por <strong>da</strong>r origem ao que se denominou então de<br />

Depósito de Cartas e Mapas Geográficos e que em 1931<br />

se transformou em Mapoteca do Itamaraty. Referência para<br />

os estudos desenvolvidos e publicados pela Drª Isa Adonias,<br />

referentes a este importante arquivo, e que a mesma teve<br />

oportuni<strong>da</strong>de de chefiar.<br />

A nível externo inceta contactos diplomáticos com várias<br />

enti<strong>da</strong>des com o fim de permutar com Portugal cópias de<br />

to<strong>da</strong> a cartografia que fosse considera<strong>da</strong> importante e de<br />

interesse para ambos os países. Recorde-se que entre as<br />

cerca de 950 cartas “encontra<strong>da</strong>s” no Arquivo Militar do Rio<br />

de Janeiro, cerca de metade eram referentes a Portugal e<br />

seus domínios ultramarinos (que não Brasil). Man<strong>da</strong>tado<br />

pelo Governo Brasileiro, vem a Lisboa em 1863 apresentar<br />

oficialmente os termos gerais do possível Convénio e simultaneamente<br />

fazer o reconhecimento pessoal do que havia<br />

em Lisboa de interesse exclusivo para o Brasil. Inicialmente,<br />

o Barão detém uma lista de 49 lotes cartográficos com interesse<br />

para Portugal para serem apresentados para possível<br />

troca. Reforça-se a ideia inicial de que o pretendido seria<br />

permutar cópias, devendo os origi<strong>na</strong>is manter-se à guar<strong>da</strong><br />

dos respectivos países.<br />

Rapi<strong>da</strong>mente recebe o apoio do Embaixador brasileiro em<br />

Lisboa, Barão de Itamaracá (um outro estadista com experiência<br />

<strong>na</strong> área <strong>da</strong> delimitação de fronteiras), que inicia os<br />

contactos formais com Ministro dos Negócios Estrangeiros<br />

português, o Duque de Loulé. De imediato houve anuência<br />

portuguesa para tal acordo, pois eram notórias as vantagens<br />

para ambas as <strong>na</strong>ções, e após as formali<strong>da</strong>des diplomáticas<br />

estarem salvaguar<strong>da</strong>s ao mais alto nível, o Governo nomeou<br />

Filipe Folque como seu representante <strong>na</strong>s negociações.<br />

Enquanto todos estes procedimentos administrativos tinham<br />

lugar, o Barão de Ponte Ribeiro deu início ao tão necessário<br />

reconhecimento presencial junto dos arquivos portugueses.<br />

Numa primeira fase, inventaria e faz conhecer ao<br />

governo protuguês, os seus desejos de permutar as cartas<br />

acha<strong>da</strong>s no Brasil por 175 cartas encontra<strong>da</strong>s em Lisboa.<br />

Foram encontrados 175 espécimes cartográficos referentes<br />

ao Brasil, e considerados de grande importância, em três<br />

organismos de Lisboa: no Real Arquivo Militar (101), no Arquivo<br />

Ultramarino de Lisboa (53) e <strong>na</strong> Biblioteca Pública de<br />

Lisboa (21). Este número elevado de exemplares deve ter<br />

surpreendido Ponte Ribeiro, que diligência junto do Barão<br />

de Itamaracá para que se tentem encontrar mais cartas de<br />

interesse para Portugal nos arquivos do Brasil. A troca teria<br />

que ser muito aliciante para Portugal para que não houvesse<br />

o perigo <strong>da</strong> tão necessária permuta ser adia<strong>da</strong> ou<br />

mesmo recusa<strong>da</strong>.


Artigo<br />

65<br />

Em 1865, chegam a Portugal os lotes vindos do Brasil, em<br />

número de 157, e não os origi<strong>na</strong>is e propostos 49. Eram origi<strong>na</strong>is,<br />

pois não obstante as pretensões iniciais, cedo se verificou<br />

que a reprodução dos mapas levaria demasiado tempo<br />

e mobilizaria meios técnicos e humanos incomportáveis<br />

para o normal funcio<strong>na</strong>mento dos respectivos organismos<br />

de ambas as <strong>na</strong>ções. Somente no Real Arquivo Militar de<br />

Lisboa, e graças à intervenção do Ministro <strong>da</strong> Guerra (grande<br />

conhecedor <strong>da</strong> importância <strong>da</strong> cartografia), Visconde de<br />

Sá <strong>da</strong> Bandeira, foram efectua<strong>da</strong>s atempa<strong>da</strong>mente cópias<br />

<strong>da</strong>s cartas mais importantes encontra<strong>da</strong>s nesse arquivo por<br />

Ponte Ribeiro, para essas sim, serem envia<strong>da</strong>s para o Brasil,<br />

tal como inicialmente estava planeado.<br />

No entanto, surgiram dúvi<strong>da</strong>s acerca do interesse <strong>da</strong>s cartas<br />

chega<strong>da</strong>s do Brasil, porque as relações anexas eram demasiado<br />

vagas e omissas, e como tal, urgia nomear uma<br />

comissão técnica portuguesa que avaliasse e levasse a cabo<br />

a permuta. Recorde-se que este empreendimento obrigaria<br />

em Portugal, a uma acção coorde<strong>na</strong><strong>da</strong> de vários ministérios,<br />

CA 354. “Projecto com planta <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Lisboa<br />

Eugenio dos Santos / Carlos Mardel (ca. 1760)


Artigo<br />

66<br />

CA 396. “Planta <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Tavira”,<br />

Jozé de Sande Vasconcellos (1800)<br />

o que muitas vezes dificultou e prolongou as negociações:<br />

além do Ministério dos Negócios Estrangeiros, que fazia a<br />

ligação com os representantes do Brasil, o Ministério <strong>da</strong>s<br />

Obras Públicas, Comérico e Indústria (tutela do <strong>Instituto</strong> Geographico<br />

– a autori<strong>da</strong>de <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de Cartografia à época),<br />

o Ministério do Reino (governo geral e tutela <strong>da</strong> Biblioteca<br />

Pública de Lisboa), o Ministério <strong>da</strong> Guerra (tutela do Real<br />

Arquivo Militar) e o Ministério <strong>da</strong> Marinha e Ultramar (tutela<br />

do Arquivo Ultramarino de Lisboa).<br />

Pelo protagonismo que teve <strong>na</strong> coorde<strong>na</strong>ção deste Convénio<br />

e por ser uma figura marcante <strong>na</strong> história portuguesa<br />

(infelizmente muito pouco conheci<strong>da</strong> do grande público),<br />

importa aqui realçar, de forma sucinta, a figura do General<br />

Filipe Folque no contexto científico e social <strong>da</strong> época.


Artigo<br />

67<br />

Filipe de Sousa Folque (1800-1874), Oficial General do<br />

Exército, oriundo <strong>da</strong> Arma de Engenharia (não obstante os<br />

seus estudos militares iniciais terem sido feitos <strong>na</strong> Academia<br />

de Marinha), era filho de um outro distinto Oficial de Engenharia<br />

e grande especialista em cartografia – Pedro Folque,<br />

e cedo começou a ter contacto com esta ciência e arte.<br />

Graduou-se em Matemática <strong>na</strong> Universi<strong>da</strong>de de Coimbra<br />

e começou a partilhar com o seu pai a coorde<strong>na</strong>ção dos<br />

trabalhos geográficos do Reino tendo-lhe sucedido <strong>na</strong> sua<br />

chefia. Recorde-se que o pai, Pedro Folque faleceu com 104<br />

anos de i<strong>da</strong>de e esteve à frente dos serviços cartográficos<br />

até aos 102 anos!<br />

Entre outras activi<strong>da</strong>des desenvolvi<strong>da</strong>s em paralelo com a<br />

sua profissão, Filipe Folque foi um músico exímio de reconhecidos<br />

méritos (além de co-fun<strong>da</strong>dor do Conservatório<br />

Real, juntamente com Almei<strong>da</strong> Garrett), Deputado por<br />

Portalegre (sua terra <strong>na</strong>tal) e por Lisboa, além de membro<br />

de várias academias e socie<strong>da</strong>des científicas, <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is<br />

e estrangeiras.<br />

Lente de Astronomia <strong>na</strong> Escola Politécnica de Lisboa, organizou<br />

e chefiou o Real Observatório Astronómico <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong><br />

(Lisboa). Igualmente mentor do curso de Hidrografia para<br />

Oficiais de Marinha, passando a cartografia <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l a contar<br />

com engenheiros hidrógrafos a ombrear de igual, com os<br />

engenheiros geógrafos (Oficiais do Exército), assim como<br />

em 1864 apadrinha a criação do Corpo de Engenharia Civil<br />

junto do Ministério <strong>da</strong>s Obras Públicas. Agraciado com<br />

inúmeras condecorações estrangeiras e <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, recebeu<br />

ain<strong>da</strong> os títulos régios de Conselheiro e de Par do Reino,<br />

tendo sido professor particular dos Príncipes Reais, nomea<strong>da</strong>mente<br />

de dois Reis de Portugal, D. Pedro V e seu irmão,<br />

D. Luís I, tendo-os acompanhado, enquanto jovens adolescentes,<br />

<strong>na</strong>s suas visitas às cortes europeias.<br />

Mas é <strong>na</strong> sua vertente de 41 anos de serviço dedicados à<br />

cartografia <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l (oficialmente 26 como responsável máximo)<br />

que vai buscar o respeito e os conhecimentos para<br />

coorde<strong>na</strong>r e assi<strong>na</strong>r, man<strong>da</strong>tado pelo Governo Português,<br />

um projecto inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de tal importância, como é o do<br />

Convénio Cartográfico Luso-Brasileiro.<br />

Atendendo aos inúmeros afazeres de Filipe Folque, será<br />

num dos seus melhores subordi<strong>na</strong>dos do <strong>Instituto</strong> Geogra-<br />

phico, o Oficial do Exército e brilhante Geodeta, Francisco<br />

de Brito Limpo (inventor premiado inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lmente com<br />

um instrumento de nivelamento) que recairá a importante<br />

missão de inventariar todos os documentos a permutar.<br />

Após meses de árduo trabalho, são avalia<strong>da</strong>s as cartas uma<br />

a uma e elabora<strong>da</strong>s listas detalha<strong>da</strong>s, com muita informação<br />

adicio<strong>na</strong>l além de pareceres pessoais sobre a importância<br />

<strong>da</strong>s mesmas. Para uma apreciação mais detalha<strong>da</strong> sobre<br />

o esforço que envolveu a elaboração destas listas e seu<br />

conteúdo, há agora que salientar o excelente trabalho efectuado<br />

há cerca de 20 anos atrás, pelo Engº Gabriel Mendes<br />

e publicado <strong>na</strong> Revista nº 3 do então <strong>Instituto</strong> Geográfico<br />

e Ca<strong>da</strong>stral.<br />

Assim, e numa primeira fase foram reunidos no <strong>Instituto</strong><br />

Geographico, os espécimes cartográficos vindos do Brasil e<br />

que já se encontravam <strong>na</strong> Embaixa<strong>da</strong> do Brasil em Lisboa<br />

(em 157 lotes), e elabora<strong>da</strong> uma relação geral. No fi<strong>na</strong>l, são<br />

inventariados cerca de 1200 espécimes, o que ain<strong>da</strong> mais<br />

atesta o esforço de inventariação ! Muitos dos lotes eram<br />

compostos por múltiplas folhas, sendo que estes eram de<br />

importância variável. Além <strong>da</strong> cartografia propriamente dita,<br />

este património era de grande importância em termos iconográficos,<br />

tendo-se revelado para Portugal muito melhor<br />

troca do que inicialmente se podia ter ideia. Ressalva-se no<br />

entanto, que o Barão Ponte Ribeiro nunca sentiu, e sempre<br />

acreditou, que esta era uma permuta que o Brasil tinha que<br />

garantir, a bem <strong>da</strong> delimitação <strong>da</strong>s suas fronteiras (e como<br />

tal <strong>da</strong> sua economia), e como tal só tinha a ganhar. Começou-se<br />

então a reunir no mesmo organismo, as colecções<br />

cartográficas envia<strong>da</strong>s pelos três arquivos que iriam devolver<br />

cartas do Brasil, sendo que o último foi o Real Arquivo<br />

Militar, pois tinha estado a decorrer o moroso processo de<br />

cópia <strong>da</strong>s mesmas. Foram então elabora<strong>da</strong>s novas listas detalha<strong>da</strong>s<br />

e <strong>da</strong>do o parecer positivo para que o protocolo<br />

fosse assi<strong>na</strong>do por ambas as partes.<br />

Uns meses mais tarde, após estes trabalhos preparatórios<br />

termi<strong>na</strong>rem e serem efectua<strong>da</strong>s algumas reuniões preparatórias,<br />

tudo estava pronto para assi<strong>na</strong>tura do Convénio<br />

e para que acontecesse, de facto, a importante permuta<br />

cartográfica. Em 14 de Janeiro de 1867, <strong>na</strong>s instalações do<br />

<strong>Instituto</strong> Geographico (no Palácio <strong>da</strong>s Cortes, em S. Bento),<br />

é assi<strong>na</strong>do por ambas as partes, o Convénio Cartográfico<br />

Luso-Brasileiro. A título de curiosi<strong>da</strong>de, transcreve-se o texto


Artigo<br />

68<br />

Filipe Folque, dias após a<br />

assi<strong>na</strong>tura do Convénio,<br />

remete ao Ministério <strong>da</strong><br />

Guerra, para serem reenvia<strong>da</strong>s<br />

para o Arquivo<br />

Militar, a maior parte do<br />

espólio permutado. Actualmente,<br />

esse espólio entregue<br />

à enti<strong>da</strong>de militar,<br />

está a cargo do importante<br />

arquivo cartográfico militar<br />

denomi<strong>na</strong>do de DSE<br />

(Direcção dos Serviços<br />

de Engenharia, Exército<br />

Português) e mais concretamente<br />

do seu Gabinete de Estudos Arqueológicos e de<br />

Engenharia Militar (GEAEM), em Lisboa.<br />

No então <strong>Instituto</strong> Geographico, ficaram “somente” os mapas<br />

topográficos (ditos “civis”) e alguma iconografia varia<strong>da</strong>,<br />

servindo de embrião ao valioso núcleo central <strong>da</strong> actual<br />

Cartoteca do <strong>Instituto</strong> Geográfico Português. Estamos<br />

a falar em cerca de 250 cartas devi<strong>da</strong>mente referencia<strong>da</strong>s<br />

(que juntamos relação em anexo e que simultaneamente<br />

com esta Comunicação terão oportuni<strong>da</strong>de de ver algumas<br />

reproduções digitais). Mesmo assim, acreditamos, subscreprincipal<br />

do mesmo, omitindo as respectivas listas anexas,<br />

<strong>da</strong> autoria de Brito Limpo. “Nós abaixo assig<strong>na</strong>dos, Duarte<br />

<strong>da</strong> Ponte Ribeiro, Conselheiro, e Enviado Extarordi<strong>na</strong>rio e<br />

Ministro Plenipotenciario de Sua Magestade o Imperador<br />

do Brazil, e Filippe Folque, do Conselho de Sua Magestade<br />

Fidelissima, eneral de Briga<strong>da</strong> Graduado, e Director-Geral<br />

dos Trabalhos Geographicos, Estatisticos, e de Pezos e<br />

Medi<strong>da</strong>s, comissio<strong>na</strong>dos pelos respectivos Governos para<br />

effectuar o Convenio em que ambos concor<strong>da</strong>ram, de<br />

trocar Mappas e Planos Topographicos concernentes ao<br />

territorio de Portugal que estavam no Archivo Militar do Rio de<br />

Janeiro por outros de igual classe relativos ao territorio do<br />

Brazil existentes nos archivos de Lisboa; depois de exami<strong>na</strong>dos<br />

e conferirmos os encontrados nos referidos Archivos<br />

que se acham hoje reunidos neste <strong>Instituto</strong> Geographico,<br />

realisamos nesta <strong>da</strong>ta a reciproca permutação, recebendo<br />

eu comissio<strong>na</strong>do do Governo Imperial os constantes <strong>da</strong><br />

seguinte Relação por nós assig<strong>na</strong><strong>da</strong> em duplicado”.<br />

Assi<strong>na</strong>do o Convénio, houve que processar todo aquele<br />

enorme património cartográfico e iconográfico. Quanto ao<br />

material que regressou ao Brasil com o Barão de Ponte<br />

Ribeiro, e como já se referiu, foi engrossar, mais tarde, o<br />

ca<strong>da</strong> vez maior e valioso espólio cartográfico <strong>da</strong> mapoteca<br />

do Arquivo Histórico do Palácio do Itamaraty. Quanto à<br />

situação <strong>da</strong>s cartas que vieram do Brasil para Portugal<br />

(57 lotes - cerca de 1200 espécimes cartográficos) importa<br />

agora saber o que lhe aconteceu e de que forma estão <strong>na</strong><br />

génese <strong>da</strong> Cartoteca do actual IGP. Ain<strong>da</strong> antes <strong>da</strong> assi<strong>na</strong>tura<br />

do Convénio, o reconhecido estadista (engenheiro<br />

militar e geógrafo, por si<strong>na</strong>l) Fontes Pereira de Mello, Ministro<br />

<strong>da</strong>s Obras Públicas e interi<strong>na</strong>mente Ministro <strong>da</strong> Guerra,<br />

tinha deliberado que, visto o Arquivo Militar ter cedido cerca<br />

de 100 cartas para serem envia<strong>da</strong>s para o Brasil e que muitas<br />

<strong>da</strong>s cartas que iam ser devolvi<strong>da</strong>s a Portugal eram de<br />

exclusivo cariz militar, deveriam as mesmas ser entregues<br />

ao mesmo Arquivo Militar.<br />

Seguia-se uma relação com<br />

o título “Cartas e plantas<br />

que vão para o Brazil” (26<br />

folhas escritas só de um<br />

lado e que descreviam os<br />

lotes de 1 a 135) e no<br />

fi<strong>na</strong>l: “Lisboa, no <strong>Instituto</strong><br />

Geographico, aos quatorze<br />

dias do mez de Janeiro<br />

do anno de mil oitecentos<br />

e sessenta e sete”, onde<br />

constavam as assi<strong>na</strong>turas<br />

de Duarte <strong>da</strong> Ponte Ribeiro<br />

e de Filippe Folque.<br />

Da mesma forma, existia um outro texto semelhante, mas<br />

onde se trocou a ordem de aparecimento dos nomes dos<br />

sig<strong>na</strong>tários e que termi<strong>na</strong>va: “...que se acham hoje reunidos<br />

neste <strong>Instituto</strong> Geographico, realisamos nesta <strong>da</strong>ta a reciproca<br />

permutação, recebendo eu comissio<strong>na</strong>do do Governo de<br />

Sua Magestade Fidelssima as constantes <strong>da</strong> seguinte Relação<br />

por nós assig<strong>na</strong><strong>da</strong> em duplicado”. A relação anexa tinha<br />

o título “Cartas e plantas vin<strong>da</strong>s do Brazil” (27 folhas escritas<br />

só de um lado e que descreviam os 78 lotes com que as<br />

cartas haviam sido agrupa<strong>da</strong>s) e <strong>na</strong> qual constava o mesmo<br />

local e <strong>da</strong>ta, além <strong>da</strong>s assi<strong>na</strong>turas dos dois sig<strong>na</strong>tários.


Artigo<br />

69<br />

vendo a opinião de Gabriel Mendes <strong>na</strong> sua monografia,<br />

que muitas outras terão igualmente ficado neste <strong>Instituto</strong>,<br />

só que devido à exígua informação <strong>da</strong>s relações efectua<strong>da</strong>s<br />

(ausência de dimensões e escala gráfica) e não obstante o<br />

já referenciado esforço desenvolvido, não se conseguiu, até<br />

ao momento, estabelecer a relação credível <strong>da</strong>s mesmas.<br />

Sabemos ain<strong>da</strong> que os critérios gerais de divisão do espólio<br />

não foram rigorosamente levados a efeito, pois a Cartoteca<br />

do IGP, dentro <strong>da</strong>s recepcio<strong>na</strong><strong>da</strong>s após a permuta, obteve<br />

cartas eminentemente militares assim como outras, que de<br />

acordo com relações elabora<strong>da</strong>s, seriam “civis” e que passaram<br />

para o Arquivo Militar! Infelizmente, também algumas<br />

colecções temáticas foram dividi<strong>da</strong>s entre estas duas<br />

enti<strong>da</strong>des, o que nem sempre facilita a vi<strong>da</strong> à investigação<br />

obrigando, a uma pesquisa em ambas as instituições.<br />

Em resumo, constatamos que existem ain<strong>da</strong> dúvi<strong>da</strong>s sobre<br />

algumas <strong>da</strong>s cartas que vieram para Portugal e de quem as<br />

tem a seu cargo. Preparamos agora, um trabalho conjunto<br />

com o Exército Português, no sentido de tentar reestabelecer,<br />

com a máxima precisão, o inventário coevo do Convénio<br />

e saber se to<strong>da</strong>s as cartas sobreviveram às vicissitudes<br />

pelas quais to<strong>da</strong>s as instituições têm passado ao longo dos<br />

tempos. O Convénio além <strong>da</strong> sua importância pelas razões<br />

já aponta<strong>da</strong>s, é um marco <strong>na</strong>s relações bilaterais entre Portugal<br />

e o Brasil, pois muitos dos convénios preparados e elaborados<br />

não passaram do papel tendo ficado pelo simples<br />

exercício de meras intenções.<br />

Graças ao árduo e apaixo<strong>na</strong>do trabalho de Ponte Ribeiro<br />

e de todos aqueles que trabalharam para a concretização<br />

deste Convénio, em especial Filipe Folque e Brito Limpo, o<br />

Brasil e Portugal viram resgatado parte do seu património<br />

cartográfico que até então, corria o risco de ficar esquecido<br />

nos arquivos de algumas instituições ou mesmo desaparecer.<br />

Trabalhos recentes efectuados nos dois lados do<br />

Atlântico, testemunhos de alguns investigadores, levam a<br />

acreditar que ain<strong>da</strong> existe a necessi<strong>da</strong>de de um novo esforço<br />

de pesquisa e identificação de situações semelhantes às<br />

verifica<strong>da</strong>s no século XIX.<br />

Se foi possível levar a cabo tal tarefa, numa altura em que<br />

as comunicações eram tão exíguas, e trocaram-se ideias,<br />

pareceres, decisões e por fim cartografia, acreditamos que<br />

volvidos cerca de 140 anos, conseguir-se-à <strong>da</strong>r continui<strong>da</strong>de<br />

a estes pioneiros. O advento <strong>da</strong>s novas tecnologias, que<br />

possibilitam uma melhor e mais rápi<strong>da</strong> comunicação entre<br />

um número ca<strong>da</strong> vez maior de enti<strong>da</strong>des, vai ao encontro<br />

do espírito de abertura e de sã ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia que deve pautar<br />

as instituições envolvi<strong>da</strong>s.<br />

Haja o engenho, que sempre norteou estes visionários, que<br />

a força de vontade para levar a cabo tal missão, está bem<br />

patente no espírito de todos aqueles que participam, de<br />

uma forma ou outra, neste I Simpósio Luso-Brasileiro de<br />

Cartografia Histórica n<br />

Bibliografia:<br />

MANIQUE, P. Plantas Topográficas de Lisboa. A colecção<br />

leva<strong>da</strong> para o Brasil durante as invasões. Volume II dos<br />

“Subsídios para a História de Lisboa e seu termo”, 1947.<br />

MANIQUE, P. O Convénio Luso-Brasileiro de 1867 sobre<br />

Cartografia Portuguesa. IV Congresso de História Nacio<strong>na</strong>l.<br />

Baía, 1949. IV Volume dos A<strong>na</strong>is do <strong>Instituto</strong> Histórico e<br />

Geográfico Brasileiro, 1950.<br />

MENDES, G. O Convénio Cartográfico Luso-Brasileiro. A<br />

Cartografia Portuguesa ao serviço <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong>de Luso-<br />

Brasileira. Revista nº 3 do <strong>Instituto</strong> Geográfico e Ca<strong>da</strong>stral.<br />

1983.<br />

ADONIAS, I. Mapas e Planos manuscritos relativos ao Brasil<br />

colonial. Ministério <strong>da</strong>s Relações Exteriores. Comemorações<br />

do 5º Centenário <strong>da</strong> morte do Infante D. Henrique. 1960.<br />

Paulo Estrela, colaborador do Núcleo Museológico e Cartoteca do<br />

IGP (pestrela@igeo.pt).


Espaço SNIG<br />

70<br />

INSPIRE<br />

Infrastructure<br />

for Spatial<br />

Information<br />

in Europe<br />

A iniciativa INSPIRE<br />

O INSPIRE, surgiu como uma iniciativa <strong>da</strong> Comissão Europeia,<br />

pretendendo promover a disponibilização de informação<br />

de <strong>na</strong>tureza espacial, utilizável <strong>na</strong> formulação, implementação<br />

e avaliação <strong>da</strong>s políticas ambientais <strong>da</strong> União<br />

Europeia. O seu objectivo é estabelecer um enquadramento<br />

legal para a criação gradual e harmoniza<strong>da</strong> de uma infra-<br />

-estrutura europeia de informação geográfica.<br />

A iniciativa INSPIRE incide inicialmente <strong>na</strong>s necessi<strong>da</strong>des<br />

de informação geográfica para as políticas ambientais, mas<br />

sendo uma iniciativa de <strong>na</strong>tureza inter-sectorial, expandir-<br />

-se-á gradualmente para os outros sectores (agricultura,<br />

transportes,...).<br />

A criação <strong>da</strong> Infra-estrutura Europeia de Informação Geográfica<br />

pretende conduzir à disponibilização junto dos<br />

utilizadores, de serviços integrados de informação de <strong>na</strong>tureza<br />

espacial.<br />

Alexandra Fonseca<br />

Qualquer utilizador deverá poder identificar e aceder a informação<br />

geográfica proveniente de diversas fontes, desde o<br />

nível local até ao nível global, de um modo interoperável e<br />

para uma grande varie<strong>da</strong>de de utilizações.<br />

Os utilizadores alvo <strong>da</strong> iniciativa INSPIRE incluem os responsáveis<br />

pela definição e implementação <strong>da</strong>s políticas ambientais<br />

aos níveis Europeu, <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e local bem como os<br />

ci<strong>da</strong>dãos e as suas organizações.<br />

Potenciais serviços incluirão a visualização de diferentes níveis<br />

de informação, a sobreposição de informação proveniente<br />

de diferentes fontes, a análise espacial e temporal<br />

dessa informação, entre outros.<br />

Em preparação pela Comissão Europeia desde 2001 (pela<br />

DG Environment e Eurostat, com o apoio do Institute for<br />

Environment and Sustai<strong>na</strong>bility (IES) do Joint Research Center<br />

e <strong>da</strong> Agência Europeia do Ambiente), a iniciativa contou<br />

com o contributo de diversos grupos de trabalho (GT)<br />

vocacio<strong>na</strong>dos para a<strong>na</strong>lisar a <strong>na</strong>tureza e as especifici<strong>da</strong>des<br />

técnicas <strong>da</strong>s componentes <strong>da</strong> infra-estrutura. De Janeiro a<br />

Outubro de 2002, foi desenvolvido trabalho no âmbito dos<br />

seguintes grupos:


Espaço SNIG<br />

71<br />

· Dados de Referência e Meta<strong>da</strong>dos<br />

· Arquitectura e Stan<strong>da</strong>rds<br />

· Aspectos Legais e Política de Dados<br />

· Fi<strong>na</strong>nciamento e Estruturas de Implementação<br />

· Análise de Impacte<br />

· Informação Temática Ambiental<br />

Os position papers produzidos no âmbito destes GT serviriam<br />

de suporte à elaboração do texto <strong>da</strong> proposta de directiva<br />

que viria a ser adopta<strong>da</strong> pela Comissão em Julho<br />

de 2004.<br />

(GSDI) Association e de Marc Vanderhaegen <strong>da</strong> DG Environment<br />

<strong>da</strong> Comissão Europeia, um dos elementos associados<br />

à criação <strong>da</strong> iniciativa.<br />

Nesta sessão, foi anuncia<strong>da</strong> a criação de uma pági<strong>na</strong> sobre<br />

o INSPIRE no Sistema Nacio<strong>na</strong>l de Informação Geográfica<br />

(SNIG), http://snig.igeo.pt/inspire/ com o objectivo<br />

de promover a divulgação, junto <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l<br />

de IG, dos desenvolvimentos associados a esta iniciativa<br />

(Fig.1).<br />

Em Junho, Julho e Agosto de 2003 foram produzidos<br />

estudos como resultado do trabalho desenvolvido por novos<br />

GT, que contribuíram também para a consoli<strong>da</strong>ção desta<br />

iniciativa:<br />

· Estratégias de Implementação (Junho de 2003)<br />

· Extended Impact Assessment (Julho de 2003)<br />

· SDI State of Play (Agosto de 2003)<br />

Depois de não ter sido adopta<strong>da</strong> pela Comissão Europeia<br />

em Outubro de 2003 a proposta de directiva viria a ser<br />

reformula<strong>da</strong> com o objectivo de conduzir a uma redefinição<br />

do âmbito e a uma consequente redução de custos. Esta<br />

reformulação foi bem sucedi<strong>da</strong> tendo a proposta sido adopta<strong>da</strong><br />

pela Comissão Europeia em Julho de 2004, tal como já<br />

foi referido. O texto origi<strong>na</strong>l <strong>da</strong> directiva pode ser consultado<br />

no site do INSPIRE (http://www.ec-gis.org/inspire/), bem<br />

como os estudos anteriormente referidos. A proposta de<br />

directiva encontra-se em fase de discussão no Conselho<br />

(Grupo Ambiente) e Parlamento Europeus desde Novembro<br />

de 2004. A Presidência Luxemburguesa pretende obter<br />

um acordo político até Junho próximo.<br />

O processo de elaboração <strong>da</strong> proposta de directiva incluiu<br />

também uma fase de Consulta <strong>na</strong> Internet, realiza<strong>da</strong> entre<br />

Abril e Maio de 2003, que permitiu à Comissão aferir a<br />

sensibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des interessa<strong>da</strong>s nos EM, relativamente<br />

aos princípios fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> iniciativa INSPIRE.<br />

Em Outubro de 2003 foi realizado conjuntamente pelo <strong>Instituto</strong><br />

Geográfico Português (IGP) e pelo <strong>Instituto</strong> do Ambiente<br />

(IA), uma “Sessão de divulgação <strong>da</strong> iniciativa INSPI-<br />

RE”, no Auditório do IA, que contou com a participação de<br />

Ian Masser, Presidente <strong>da</strong> Global Spatial Data Infrastructure<br />

Fig.1. Pági<strong>na</strong> sobre o INSPIRE no SNIG (http://snig.<br />

igeo.pt/inspire/).<br />

Proposta de Directiva INSPIRE<br />

A proposta de Directiva que estabelece uma infra-estrutura<br />

de informação espacial <strong>na</strong> Europa (INSPIRE) foi adopta<strong>da</strong><br />

pela Comissão Europeia em Julho de 2004. Trata-se<br />

de uma framewok directive que depende <strong>da</strong> definição<br />

futura de Regras de Implementação (RI), pelo processo<br />

de comitologia. A proposta de directiva resulta, tal<br />

como já foi referido, do esforço desenvolvido ao longo de<br />

dois anos e meio pela DG Environment e Eurostat, com o apoio<br />

do Institute for Environment and Sustai<strong>na</strong>bility (IES) do<br />

Joint Research Center e <strong>da</strong> Agência Europeia do Ambiente,<br />

e zain<strong>da</strong> de Grupos de Trabalho que para o efeito foram<br />

sendo constituídos.<br />

A proposta de directiva requer a existência em ca<strong>da</strong> Estado-<br />

-Membro (EM), de uma Infra-estrutura de Informação Geográfica<br />

(IIG), disponível <strong>na</strong> Internet ou através de qualquer<br />

outro meio adequado de telecomunicações à disposição


Espaço SNIG<br />

72<br />

do público. A IIG deverá permitir, de forma gratuita, a pesquisa<br />

e visualização dos meta<strong>da</strong>dos e a visualização <strong>da</strong> própria<br />

informação geográfica (IG). A infra-estrutura deverá ain<strong>da</strong><br />

permitir proceder ao download <strong>da</strong> IG, recorrendo a serviços<br />

de cibercomércio nos casos em que tal for necessário.<br />

Deverá igualmente permitir ter acesso a serviços de transformação<br />

<strong>da</strong> IG, bem como a serviços de acesso a serviços<br />

de <strong>da</strong>dos espaciais, que podem também estar sujeitos a<br />

taxas de utilização.<br />

diversi<strong>da</strong>de de situações existentes nos Estados Membros.<br />

O processo de desenvolvimento <strong>da</strong>s regras de implementação<br />

deverá ser suficientemente aberto à participação dos<br />

diferentes intervenientes associados a todo este processo.<br />

A proposta de directiva levanta preocupações relativamente<br />

aos custos e à viabili<strong>da</strong>de de implementação. Seria<br />

importante que fosse feita uma identificação de instrumentos<br />

fi<strong>na</strong>nceiros à disposição dos Estados Membros neste<br />

âmbito.<br />

A informação produzi<strong>da</strong> ou actualiza<strong>da</strong> depois <strong>da</strong> entra<strong>da</strong><br />

em vigor <strong>da</strong> directiva deverá passar a estar harmoniza<strong>da</strong> de<br />

acordo com as RI.<br />

Em termos globais a proposta de directiva inclui sete capítulos<br />

e três anexos (http://snig.igeo.pt/inspire/):<br />

· Capítulo I – Disposições Gerais<br />

· Capítulo II – Meta<strong>da</strong>dos<br />

· Capítulo III – Interoperabili<strong>da</strong>de dos conjuntos e serviços<br />

de <strong>da</strong>dos espaciais<br />

· Capítulo IV – Serviços em Rede<br />

· Capítulo V – Partilha e reutilização dos <strong>da</strong>dos<br />

· Capítulo VI – Coorde<strong>na</strong>ção e medi<strong>da</strong>s complementares<br />

· Capítulo VII – Disposições fi<strong>na</strong>is<br />

· Anexo I, II, III<br />

Um aspecto positivo está associado ao facto <strong>da</strong> proposta de<br />

directiva afirmar que a IIG Europeia terá como base as IIG<br />

existentes nos Estados Membros.<br />

Por outro lado, é muito importante a consideração <strong>da</strong>s iniciativas<br />

inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is já existentes nos domínios associados<br />

a esta temática, como por exemplo os desenvolvimentos<br />

no âmbito dos meta<strong>da</strong>dos e <strong>da</strong> interoperabili<strong>da</strong>de (CEN,<br />

ISO, OGC).<br />

Apesar de se tratar de uma framework directive, a proposta<br />

de directiva apresenta demasia<strong>da</strong> dependência do processo<br />

de comitologia que deverá conduzir à produção de regras<br />

de implementação traduzindo as especificações técnicas<br />

associa<strong>da</strong>s às diferentes componentes <strong>da</strong> infra-estrutura.<br />

Prevê-se que as regras de implementação venham a ser<br />

suficientemente flexíveis para que seja possível abarcar a<br />

Um dos aspectos que se manifesta como de grande<br />

importância é a necessi<strong>da</strong>de de articulação desta proposta<br />

com as Directivas 2003/98/EG (Re-use of Public Sector<br />

Information) e 2003/4/EG (Public access to environmental<br />

information).<br />

Os três Anexos apresentam diferentes necessi<strong>da</strong>des de harmonização<br />

e diferentes timings para a sua concretização. A<br />

distribuição dos temas pelos anexos deveria considerar a<br />

lógica associa<strong>da</strong> à criação de uma infra-estrutura deste tipo<br />

no domínio do Ambiente, mas também a sua exequibili<strong>da</strong>de<br />

pelo conjunto dos Estados Membros.<br />

De realçar que a proposta de directiva não requer a produção<br />

de novos <strong>da</strong>dos, pretendendo sim promover o acesso<br />

aos <strong>da</strong>dos já existentes e conduzir à harmonização prioritária<br />

dos <strong>da</strong>dos produzidos ou actualizados depois <strong>da</strong> entra<strong>da</strong><br />

em vigor <strong>da</strong> directiva.<br />

Um outro aspecto muito importante que a proposta de directiva<br />

prevê, é a participação de terceiros <strong>na</strong> IIG, já que o<br />

sector privado pode ter um papel bastante relevante em<br />

todo este processo.<br />

É muito importante que a implementação seja fasea<strong>da</strong> e<br />

que a harmonização seja reduzi<strong>da</strong> ao mínimo essencial. A<br />

consideração dos requisitos dos utilizadores é um aspecto<br />

essencial que deverá estar sempre presente <strong>na</strong>s várias fases<br />

de criação <strong>da</strong> infra-estrutura. O texto <strong>da</strong> proposta de directiva<br />

parece traduzir até certo ponto esta preocupação.<br />

Por outro lado, prevê-se uma articulação com iniciativas relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s,<br />

como é o caso do Global Monitoring for the<br />

Environment and Security (GMES) e do Galileo, que podem


Espaço SNIG<br />

73<br />

suportar desenvolvimentos que contribuam para a criação<br />

<strong>da</strong> infra-estrutura Europeia, cuja implementação também<br />

trará benefícios para a concretização dos objectivos dos referidos<br />

programas.<br />

Em termos de <strong>da</strong>tas, prevê-se, por exemplo, que os meta<strong>da</strong>dos<br />

<strong>da</strong> informação incluí<strong>da</strong> nos Anexos I e II devam<br />

passar a estar disponíveis 3 anos após entra<strong>da</strong> em vigor <strong>da</strong><br />

directiva e 7 anos no caso <strong>da</strong> informação do Anexo III.<br />

teressados <strong>na</strong> referi<strong>da</strong> fase preparatória em que as regras<br />

de implementação vão ser concebi<strong>da</strong>s. Esta Call permite a<br />

criação de Spatial Data Interest Communities (SDICs) ou a<br />

inscrição de instituições como Legally Man<strong>da</strong>ted Organizations<br />

(LMO). A Call foi disponibiliza<strong>da</strong> no site <strong>da</strong> iniciativa<br />

(http://www.ec-gis.org/inspire/) a 11 de Março, encontrando-se<br />

aberta em permanência, embora a composição inicial<br />

<strong>da</strong>s equipas de trabalho venha a ter por base os que tiverem<br />

manifestado o seu interesse até 29 de Abril.<br />

Em termos de harmonização, os novos <strong>da</strong>dos ou os <strong>da</strong>dos<br />

actualizados do Anexo I deverão estar disponíveis de forma<br />

interoperável e de acordo com as regras de harmonização<br />

previstas, 4 anos após a entra<strong>da</strong> em vigor <strong>da</strong> directiva. No<br />

caso dos Anexos II e III o prazo é de 7 anos.<br />

No âmbito <strong>da</strong> iniciativa foi ain<strong>da</strong> produzido o documento<br />

INSPIRE Work Programme Preparatory Phase 2005-<br />

-2006 que deverá conduzir à elaboração <strong>da</strong>s regras de<br />

implementação.<br />

Foi lança<strong>da</strong> uma Call for Expression of Interest for INSPI-<br />

RE development (preparatory phase 2005 - 2006), com<br />

o objectivo de promover o envolvimento dos principais in-<br />

A discussão no Conselho e Parlamento Europeus tem incidido<br />

predomi<strong>na</strong>ntemente sobre alguns aspectos, como por<br />

exemplo as questões associa<strong>da</strong>s a: excessivo peso <strong>da</strong> comitologia;<br />

possibili<strong>da</strong>de de alteração <strong>da</strong> distribuição dos temas<br />

pelos anexos; análise <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des de articulação com<br />

outras directivas (e.g. as Directivas 2003/98/EC, Re-use of<br />

Public Sector Information e 2003/4/EC; Public access to<br />

environmental information); consideração de restrições em<br />

termos de confidenciali<strong>da</strong>de estatística, protecção de <strong>da</strong>dos<br />

pessoais e direitos de proprie<strong>da</strong>de intelectual no acesso de<br />

informação ao público e <strong>na</strong> partilha de informação entre<br />

autori<strong>da</strong>des públicas.<br />

Esta iniciativa vai ter implicações <strong>na</strong>s IIG dos Estados Membros,<br />

e por exemplo, nos mecanismos de disponibilização<br />

de informação pelas enti<strong>da</strong>des envolvi<strong>da</strong>s, <strong>na</strong>s políticas de<br />

partilha e acesso à informação, <strong>na</strong>s formas de produção de<br />

informação, entre outros.<br />

A criação <strong>da</strong> Infra-estrutura Europeia de Informação Geográfica<br />

pode, no entanto, representar uma oportuni<strong>da</strong>de real<br />

de conduzir a um acesso facilitado à informação geográfica<br />

por todos os ci<strong>da</strong>dãos, e a uma partilha efectiva de informação<br />

entre autori<strong>da</strong>des públicas, factores de grande relevância<br />

para o desenvolvimento económico, social e cultural dos<br />

EM e <strong>da</strong> própria Europa n<br />

Fig.2. Disponibilização do documento INSPIRE Work<br />

Programme Preparatory Phase 2005 – 2006 no site<br />

do INSPIRE (http://www.ec-gis.org/inspire/).<br />

Alexandra Fonseca, Investigadora Auxiliar, <strong>Instituto</strong> Geográfico<br />

Português (afonseca@igeo.pt).


Online<br />

74<br />

Sites Interessantes<br />

http://earth.google.com/<br />

Quase dispensa apresentação, <strong>da</strong>do que já vai sendo<br />

conhecido por uma grande comuni<strong>da</strong>de de utilizadores.<br />

É em todo o caso um excelente exemplo de<br />

cartografia à escala global com possibili<strong>da</strong>de de utilização<br />

para alguns estudos geográficos em diversas<br />

escala de análise, <strong>da</strong>do que possui desde fotografia<br />

por satélite a fotografia aérea. Nem to<strong>da</strong> a cartografia<br />

está actualiza<strong>da</strong>, mas representa no mínino um bom<br />

modelo a desenvolver.<br />

http://www.skylinesoft.com/corporate/<br />

corporate_home.asp<br />

Este sítio refere-se a activi<strong>da</strong>des geográficas e cartográficas,<br />

e inclui o programa de visualização de fotografia<br />

aérea em 3D, Terra Explorer, bastante bem concebido<br />

e com possibili<strong>da</strong>de de poder ser carregado<br />

gratuitamente e trazer alguns exemplos com ci<strong>da</strong>des<br />

de todo o Mundo, que servem para testar as possibili<strong>da</strong>des<br />

do “software”.<br />

http://www.cienciaviva.pt<br />

Agência Nacio<strong>na</strong>l para a Cultura Científica e Tecnológica,<br />

que inclui o segmento Ciência Viva, lançado em<br />

Julho de 1996 - o Ciência Viva tem como missão a<br />

promoção <strong>da</strong> cultura científica e tecnológica junto <strong>da</strong><br />

população portuguesa.


Publicações<br />

75<br />

Espaço dedicado a<br />

publicações adquiri<strong>da</strong>s pelo<br />

Centro de Documentação<br />

Remote<br />

Sensing for<br />

GIS Ma<strong>na</strong>gers<br />

Stan Aronoff<br />

Remote Sensing for GIS Ma<strong>na</strong>gers<br />

Das profundezas do oceano às vastas distâncias do<br />

espaço, a crescente disponibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> tecnologia de<br />

Detecção Remota tem-nos aju<strong>da</strong>do a observar, estu<strong>da</strong>r<br />

e a aprender àcerca do nosso mundo de um modo<br />

que não poderíamos imaginá-lo à gerações atrás.<br />

Neste livro, Stan Aronoff, guia-nos através dos usos,<br />

dos conceitos, <strong>da</strong>s práticas e <strong>da</strong> história <strong>da</strong> Detecção<br />

Remota numa comuni<strong>da</strong>de de Sistemas de Informação<br />

Geográfica em rápido crescimento. Recheado de<br />

cente<strong>na</strong>s de imagens e ilustrações a cores, Remote<br />

Sensing for Ma<strong>na</strong>gers desmistifica o uso desta poderosa<br />

tecnologia em áreas como a agricultura, floresta,<br />

arqueologia, economia, planeamento urbano e aplicações<br />

militares, contendo referências a diversos web<br />

sites sobre a temática motivando o leitor a pesquisar<br />

essas fontes. Desti<strong>na</strong>do aos novos profissio<strong>na</strong>is bem<br />

como aos profissio<strong>na</strong>is com experiência <strong>na</strong> interpretação<br />

de informação de fotografia aérea, ra<strong>da</strong>r, satélites<br />

ou outros métodos de Detecção Remota.<br />

ISBN: 1-58948-081-3,<br />

2005, 524p.<br />

URL: ww.esri.com<br />

GIS, Spatial A<strong>na</strong>lysis, and Modeling<br />

Para os a<strong>na</strong>listas geógrafos, engenheiros de software,<br />

e profissio<strong>na</strong>is SIG, o ‘GIS, Spatial A<strong>na</strong>lysis, and Modeling’<br />

apresenta aplicações e ensaios sobre ferramentas<br />

e métodos actualmente ao dispor para a modelação e<br />

a análise espacial no quadro dos SIG. Escrito por notáveis<br />

escritores com experiência em modelação de<br />

SIG, este livro coloca algumas questões centrais:<br />

Quais as melhores soluções para abor<strong>da</strong>r aproximações<br />

em projectos de simulação geográfica?<br />

Que software está disponível para modelar as dinâmicas<br />

do tempo e do espaço?<br />

Como é que a análise espacial e a modelação têm<br />

sido aplica<strong>da</strong>s a problemas do mundo real?<br />

São algumas <strong>da</strong>s muitas questões respondi<strong>da</strong>s neste<br />

Manual.<br />

GIS, Spatial<br />

A<strong>na</strong>lysis,<br />

and Modeling<br />

Michael Batty;<br />

David Maguire; Michael<br />

Goodchild (Eds.)<br />

ISBN: 1-58948-130-5,<br />

2005, 498 p.<br />

Frontiers of Geographic<br />

Information Technology<br />

Ra<strong>na</strong>, Sanjay;<br />

Sharma, Jayant (Eds.)<br />

2006, X, 326 p. 112 ill.,<br />

21 a cores, Hardcover<br />

ISBN: 3-540-25685-7<br />

December, 2005, 123p.<br />

URL: www.springeronline.com


Normas de Publicação<br />

76<br />

Regras para desenvolvimento<br />

de conteúdos<br />

1. A revista Fórum Geográfico é um espaço aberto ao exterior e à promoção<br />

<strong>da</strong> Informação Geográfica, do seu conhecimento, <strong>da</strong> sua evolução e do seu<br />

debate, bem como <strong>da</strong>s tecnologias que lhe estão associa<strong>da</strong>s, tendo<br />

como propósito <strong>da</strong>r a conhecer os desenvolvimentos <strong>na</strong> investigação científica<br />

no domínio <strong>da</strong>s Ciências Geográficas. Os artigos a apresentar poderão<br />

ser redigidos numa <strong>da</strong>s seguintes línguas: português, inglês, francês<br />

e espanhol.<br />

2. Os artigos publicados são <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de exclusiva dos seus autores<br />

não transmitindo a posição institucio<strong>na</strong>l do <strong>Instituto</strong> Geográfico Português.<br />

3. Os origi<strong>na</strong>is submetidos serão apreciados pelo <strong>Instituto</strong> Geográfico Português<br />

(IGP) que aceitará ou não o artigo proposto para publicação pressupondo<br />

que o mesmo não foi publicado previamente e que não estará a<br />

ser submetido em simultâneo a outras revistas. Os critérios norteadores<br />

para aceitação dos trabalhos pelo IGP são, fun<strong>da</strong>mentalmente, a relevância<br />

científica, a origi<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de e a clareza dos textos apresentados.<br />

4. É <strong>da</strong> exclusiva competência dos autores a obtenção de autorização para a<br />

reprodução de material sujeito a direitos de autor.<br />

5. Os artigos não devem exceder 20 pági<strong>na</strong>s A4, incluindo a bibliografia, as<br />

figuras e os quadros. As notas não devem exceder 10 pági<strong>na</strong>s A4, e as<br />

recensões 3 pági<strong>na</strong>s A4.<br />

6. Os artigos apresentados deverão fazer-se acompanhar de um resumo em<br />

português sobre o essencial do artigo, o qual não deverá exceder os 2000<br />

caracteres (cerca de 320 palavras).<br />

7. Normas para a apresentação de origi<strong>na</strong>is:<br />

7.1. Os origi<strong>na</strong>is submetidos para apreciação deverão ser enviados em<br />

digital (documento Word), formatado em pági<strong>na</strong>s A4 com as seguintes<br />

margens (esq. 3 cm; dir. 2,5 cm; topo 2,5 cm; base 2,5 cm), tipo de letra:<br />

Arial, corpo 12 pts, espaçamento 1,5 linhas, títulos a bold; estrangeirismos<br />

a itálico; citações entre aspas.<br />

7.2. As indicações bibliográficas <strong>da</strong>s citações, bem como as notas surgi<strong>da</strong>s<br />

no decurso do artigo deverão ser coloca<strong>da</strong>s em notas de ro<strong>da</strong>pé.<br />

7.3. Os textos apresentados, quando incluírem materiais gráficos, devem<br />

fazer-se acompanhar dos respectivos origi<strong>na</strong>is em bom estado. As figuras<br />

e imagens devem ser entregues em digital (tif ou jpg) com quali<strong>da</strong>de<br />

eleva<strong>da</strong> segundo a regra: dimensão de publicação em resolução igual ou<br />

superior a 300 dpi, as imagens deverão ser faculta<strong>da</strong>s <strong>na</strong> sua maior dimensão<br />

e resolução possível de modo a permitir uma pagi<strong>na</strong>ção livre<br />

dos conteúdos. Os ficheiros de imagem devem ser entregues à parte,<br />

no entanto, devem ser incluídos no texto como sugestão <strong>da</strong> sequência<br />

pretendi<strong>da</strong> dos conteúdos. Solicita-se uma indicação clara <strong>da</strong>s respectivas<br />

legen<strong>da</strong>s. Os quadros e figuras deverão ser referidos no texto e os títulos<br />

deverão ser curtos e claros.<br />

7.4. Os origi<strong>na</strong>is apresentados devem contemplar o endereço electrónico<br />

profissio<strong>na</strong>l do autor e a função (profissão) exerci<strong>da</strong>.<br />

8. Normas para a descrição <strong>da</strong> bibliografia.<br />

8.1. Na bibliografia devem estar presentes to<strong>da</strong>s as referências cita<strong>da</strong>s no<br />

texto. As referências bibliográficas deverão ser elabora<strong>da</strong>s <strong>da</strong> seguinte forma:<br />

a. Monografias, livros e obras:<br />

· APELIDO, Nome próprio (ano), Título, Local <strong>da</strong> Edição, Editora,<br />

Ano (eventual referência à edição).<br />

- MERRICK, Lewis F. (2006), Geographic information systems: an introduction,<br />

London, Pergamon Press, 2005 (3ª ed.).<br />

- CANVENDISH, Larry F. et al (2006), Geographic information systems:<br />

an introduction, London, Pergamon Press, 2005 (3ª ed.).<br />

b. Artigo publicado em Monografia e obras compila<strong>da</strong>s:<br />

· APELIDO, Nome próprio, APELIDO, Nome próprio, Título do Artigo,<br />

in APELIDO, Nome próprio (org.) / (ed.) / (comp.) (ano),<br />

Título <strong>da</strong> Colectânea, Local <strong>da</strong> Edição, Editor.<br />

- SMITH, J., CARTER, P., MERRICK, L., Geographical information from<br />

research to application through cooperation in MARVEL, John H. (org.)<br />

(2005), Hearth Sciences, London, Taylor & Francis.<br />

c. Artigo publicado em Revistas e publicações em série:<br />

· APELIDO, Nome próprio, Título do Artigo, Nome <strong>da</strong> Revista,<br />

Volume, Número, Data, Pági<strong>na</strong>s.<br />

- SMITH, J.; CARTER, P.; MERRICK, L., Visualising different geofuture, Inter<strong>na</strong>tio<strong>na</strong>l<br />

Jour<strong>na</strong>l of Information Systems, Vol. XXI, Nº 4, 2005, p.23-55.<br />

d. Documentos electrónicos:<br />

· APELIDO, Nome próprio, Título do Artigo, tipo de suporte, endereço<br />

electrónico, <strong>da</strong>ta <strong>da</strong> consulta.<br />

- SMITH, J. and CARTER, P., Visualising different geofuture,<br />

http://www.igo.pt, 2004.<br />

8.2. O apelido dos autores citados no texto deverá ser escrito em maíusculas,<br />

sem sublinhados nem itálicos, seguido do ano de publicação. Quando<br />

forem citados em bibliografia dois ou mais autores com o mesmo apelido<br />

dever-se-á indicar as iniciais do nome próprio. Caso a referência bibliográfica<br />

seja composta por mais de três autores, cita-se só o primeiro autor<br />

seguido de et al.<br />

9. Todos os autores receberão 5 exemplares <strong>da</strong> Revista Fórum Geográfico.<br />

10. Direitos de Edição – Todos os direitos de edição pertencem ao <strong>Instituto</strong><br />

Geográfico Português.

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