O Papel da Informação Geográfica na Sociedade - Instituto ...
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Destaque<br />
19<br />
sector público poderá transformar este recurso num valioso<br />
activo para os ci<strong>da</strong>dãos, as empresas e as administrações <strong>da</strong><br />
Europa. Os ci<strong>da</strong>dãos e as empresas podem beneficiar significativamente<br />
com uma boa oferta de informação do sector<br />
público <strong>na</strong> Internet, que facilitará a sua comunicação com<br />
a administração pública e potenciará a sua participação no<br />
processo democrático”. Na COM(2002) 207 é referido que:<br />
“as amplas possibili<strong>da</strong>des de reutilização existentes nos EUA<br />
criaram um mercado <strong>da</strong> informação assente <strong>na</strong> informação<br />
do sector público que se estima ser quase cinco vezes maior<br />
que o <strong>da</strong> UE. As principais empresas america<strong>na</strong>s do sector<br />
registaram nos últimos seis anos taxas de crescimento<br />
<strong>da</strong> ordem dos 10 a 30%”; ”é importante compreender<br />
que a i<strong>na</strong>cção neste domínio tem custos. Custos para o<br />
sector <strong>da</strong> informação e também para o mercado e a socie<strong>da</strong>de<br />
europeus”.<br />
Além <strong>da</strong>s questões de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, há problemas muito concretos<br />
e de grande sensibili<strong>da</strong>de política para os quais a informação<br />
geográfica é instrumental e imprescindível, como<br />
os aspectos operacio<strong>na</strong>is e de prevenção no domínio <strong>da</strong><br />
protecção civil, o licenciamento de construção, a gestão de<br />
recursos hídricos e os impostos sobre a proprie<strong>da</strong>de, para<br />
só citar alguns. Veja-se o caso recente, amplamente comentado<br />
nos meios de comunicação social, relativo ao licenciamento<br />
de uma grande área comercial, e em que “…a<br />
alteração dos limites <strong>da</strong> zo<strong>na</strong> de protecção foi feita “exclusivamente<br />
por imperativos técnicos, <strong>da</strong><strong>da</strong> a incongruência<br />
cartográfica dos limites anteriores””(Público, 12/02/2005).<br />
Desconheço a matéria deste caso concreto e não posso<br />
corroborar a tal incongruência cartográfica, mas posso assegurar<br />
que há muitos casos onde ela existe e pode gerar este<br />
tipo de incidentes.<br />
O pouco que foi aqui dito, retirado do muito que já foi escrito<br />
e com mais autori<strong>da</strong>de, não precisará de reforço para<br />
justificar o interesse político <strong>da</strong> matéria, que deverá ser traduzi<strong>da</strong><br />
em instrumentos legais e administrativos que funcionem<br />
e que perdurem enquanto funcio<strong>na</strong>rem.<br />
A viabili<strong>da</strong>de económica<br />
Os custos <strong>da</strong> produção e actualização de informação geográfica<br />
são significativos, <strong>da</strong>í que por um lado exista expectativa<br />
quanto à disponibilização de <strong>da</strong>dos públicos e,<br />
por outro, que as instituições públicas que os produzem<br />
necessitem de se fi<strong>na</strong>nciar com a ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> informação. Ao<br />
serem quantificados unicamente os custos, sem considerar<br />
os benefícios, então obviamente que o cenário de investimento<br />
é pouco atractivo.<br />
A este respeito invoco novamente a COM (2001) 607:<br />
“com efeito, os ganhos económicos decorrentes de um<br />
sistema de exploração mais aberto excedem de longe as<br />
receitas directas que poderiam obter com a ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> informação”;<br />
”acresce que, <strong>na</strong>lguns casos, o poder de mercado<br />
dos organismos do sector público numa <strong>da</strong><strong>da</strong> área permitelhes<br />
estabelecer preços muito elevados, o que, <strong>na</strong> prática,<br />
impede a reutilização <strong>da</strong> informação”.<br />
A reutilização <strong>da</strong> informação é um factor crítico para o retorno<br />
do investimento. Outro factor com impacto económico,<br />
neste caso negativo, é a duplicação de trabalhos. Os dois estão<br />
relacio<strong>na</strong>dos, duplicar só é uma opção quando o que já<br />
foi produzido não está disponível para ser reutilizado. Notese<br />
que o princípio de evitar a duplicação de informação é<br />
legítimo mas deve ser aplicado com bom senso, sem que<br />
se retarde ou deixe de produzir informação com receio de<br />
que mais tarde venha a ser duplica<strong>da</strong>.<br />
Perante uma situação de disponibili<strong>da</strong>de fi<strong>na</strong>nceira limita<strong>da</strong><br />
seria forçosa a concepção de um plano de produção de<br />
<strong>da</strong>dos geográficos com sóli<strong>da</strong> sustentação técnica e regido<br />
por priori<strong>da</strong>des justifica<strong>da</strong>s, mas tal pode não acontecer. Se<br />
isso fosse feito, talvez se verificasse que afi<strong>na</strong>l os valores<br />
necessários não são incomportáveis. Em geral, basta optar<br />
pela solução simples que funcio<strong>na</strong> em detrimento <strong>da</strong> solução<br />
complexa que nunca se conclui.<br />
A este respeito não resisto a citar, de um modo muito livre,<br />
um excerto <strong>da</strong> História de Portugal de Oliveira Martins.<br />
Perante um projecto de construção de uma importante estra<strong>da</strong>,<br />
no Portugal do século XIX, alguém sugeriu que ela<br />
fosse um modelo de requinte, o que seria alcançado se os<br />
marcos colocados a ca<strong>da</strong> milha tivessem um relógio de sol.<br />
A ideia foi aceite mas constatou-se que haveria marcos que<br />
ficariam permanentemente à sombra, para o que haveria<br />
duas soluções: ou o marco não era colocado <strong>na</strong> milha certa<br />
ou era colocado sem relógio de sol. O debate em torno<br />
destas duas alter<strong>na</strong>tivas foi tão intenso que acabou por não<br />
se construir a estra<strong>da</strong>.