O Papel da Informação Geográfica na Sociedade - Instituto ...
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Artigo<br />
67<br />
Filipe de Sousa Folque (1800-1874), Oficial General do<br />
Exército, oriundo <strong>da</strong> Arma de Engenharia (não obstante os<br />
seus estudos militares iniciais terem sido feitos <strong>na</strong> Academia<br />
de Marinha), era filho de um outro distinto Oficial de Engenharia<br />
e grande especialista em cartografia – Pedro Folque,<br />
e cedo começou a ter contacto com esta ciência e arte.<br />
Graduou-se em Matemática <strong>na</strong> Universi<strong>da</strong>de de Coimbra<br />
e começou a partilhar com o seu pai a coorde<strong>na</strong>ção dos<br />
trabalhos geográficos do Reino tendo-lhe sucedido <strong>na</strong> sua<br />
chefia. Recorde-se que o pai, Pedro Folque faleceu com 104<br />
anos de i<strong>da</strong>de e esteve à frente dos serviços cartográficos<br />
até aos 102 anos!<br />
Entre outras activi<strong>da</strong>des desenvolvi<strong>da</strong>s em paralelo com a<br />
sua profissão, Filipe Folque foi um músico exímio de reconhecidos<br />
méritos (além de co-fun<strong>da</strong>dor do Conservatório<br />
Real, juntamente com Almei<strong>da</strong> Garrett), Deputado por<br />
Portalegre (sua terra <strong>na</strong>tal) e por Lisboa, além de membro<br />
de várias academias e socie<strong>da</strong>des científicas, <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is<br />
e estrangeiras.<br />
Lente de Astronomia <strong>na</strong> Escola Politécnica de Lisboa, organizou<br />
e chefiou o Real Observatório Astronómico <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong><br />
(Lisboa). Igualmente mentor do curso de Hidrografia para<br />
Oficiais de Marinha, passando a cartografia <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l a contar<br />
com engenheiros hidrógrafos a ombrear de igual, com os<br />
engenheiros geógrafos (Oficiais do Exército), assim como<br />
em 1864 apadrinha a criação do Corpo de Engenharia Civil<br />
junto do Ministério <strong>da</strong>s Obras Públicas. Agraciado com<br />
inúmeras condecorações estrangeiras e <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, recebeu<br />
ain<strong>da</strong> os títulos régios de Conselheiro e de Par do Reino,<br />
tendo sido professor particular dos Príncipes Reais, nomea<strong>da</strong>mente<br />
de dois Reis de Portugal, D. Pedro V e seu irmão,<br />
D. Luís I, tendo-os acompanhado, enquanto jovens adolescentes,<br />
<strong>na</strong>s suas visitas às cortes europeias.<br />
Mas é <strong>na</strong> sua vertente de 41 anos de serviço dedicados à<br />
cartografia <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l (oficialmente 26 como responsável máximo)<br />
que vai buscar o respeito e os conhecimentos para<br />
coorde<strong>na</strong>r e assi<strong>na</strong>r, man<strong>da</strong>tado pelo Governo Português,<br />
um projecto inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de tal importância, como é o do<br />
Convénio Cartográfico Luso-Brasileiro.<br />
Atendendo aos inúmeros afazeres de Filipe Folque, será<br />
num dos seus melhores subordi<strong>na</strong>dos do <strong>Instituto</strong> Geogra-<br />
phico, o Oficial do Exército e brilhante Geodeta, Francisco<br />
de Brito Limpo (inventor premiado inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lmente com<br />
um instrumento de nivelamento) que recairá a importante<br />
missão de inventariar todos os documentos a permutar.<br />
Após meses de árduo trabalho, são avalia<strong>da</strong>s as cartas uma<br />
a uma e elabora<strong>da</strong>s listas detalha<strong>da</strong>s, com muita informação<br />
adicio<strong>na</strong>l além de pareceres pessoais sobre a importância<br />
<strong>da</strong>s mesmas. Para uma apreciação mais detalha<strong>da</strong> sobre<br />
o esforço que envolveu a elaboração destas listas e seu<br />
conteúdo, há agora que salientar o excelente trabalho efectuado<br />
há cerca de 20 anos atrás, pelo Engº Gabriel Mendes<br />
e publicado <strong>na</strong> Revista nº 3 do então <strong>Instituto</strong> Geográfico<br />
e Ca<strong>da</strong>stral.<br />
Assim, e numa primeira fase foram reunidos no <strong>Instituto</strong><br />
Geographico, os espécimes cartográficos vindos do Brasil e<br />
que já se encontravam <strong>na</strong> Embaixa<strong>da</strong> do Brasil em Lisboa<br />
(em 157 lotes), e elabora<strong>da</strong> uma relação geral. No fi<strong>na</strong>l, são<br />
inventariados cerca de 1200 espécimes, o que ain<strong>da</strong> mais<br />
atesta o esforço de inventariação ! Muitos dos lotes eram<br />
compostos por múltiplas folhas, sendo que estes eram de<br />
importância variável. Além <strong>da</strong> cartografia propriamente dita,<br />
este património era de grande importância em termos iconográficos,<br />
tendo-se revelado para Portugal muito melhor<br />
troca do que inicialmente se podia ter ideia. Ressalva-se no<br />
entanto, que o Barão Ponte Ribeiro nunca sentiu, e sempre<br />
acreditou, que esta era uma permuta que o Brasil tinha que<br />
garantir, a bem <strong>da</strong> delimitação <strong>da</strong>s suas fronteiras (e como<br />
tal <strong>da</strong> sua economia), e como tal só tinha a ganhar. Começou-se<br />
então a reunir no mesmo organismo, as colecções<br />
cartográficas envia<strong>da</strong>s pelos três arquivos que iriam devolver<br />
cartas do Brasil, sendo que o último foi o Real Arquivo<br />
Militar, pois tinha estado a decorrer o moroso processo de<br />
cópia <strong>da</strong>s mesmas. Foram então elabora<strong>da</strong>s novas listas detalha<strong>da</strong>s<br />
e <strong>da</strong>do o parecer positivo para que o protocolo<br />
fosse assi<strong>na</strong>do por ambas as partes.<br />
Uns meses mais tarde, após estes trabalhos preparatórios<br />
termi<strong>na</strong>rem e serem efectua<strong>da</strong>s algumas reuniões preparatórias,<br />
tudo estava pronto para assi<strong>na</strong>tura do Convénio<br />
e para que acontecesse, de facto, a importante permuta<br />
cartográfica. Em 14 de Janeiro de 1867, <strong>na</strong>s instalações do<br />
<strong>Instituto</strong> Geographico (no Palácio <strong>da</strong>s Cortes, em S. Bento),<br />
é assi<strong>na</strong>do por ambas as partes, o Convénio Cartográfico<br />
Luso-Brasileiro. A título de curiosi<strong>da</strong>de, transcreve-se o texto