O Papel da Informação Geográfica na Sociedade - Instituto ...
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Destaque<br />
24<br />
causa, ou seja, sobre o produto e não sobre o processo de<br />
produção ou sobre a versão impressa.<br />
A interpretação posicio<strong>na</strong>l <strong>da</strong>s linhas impressas, às quais<br />
pode estar associado o valor legal, não é isenta de problemas.<br />
Esta deve ser feita com conhecimento do que realmente<br />
significa uma linha desenha<strong>da</strong> <strong>na</strong> cartografia e do<br />
processo matemático que lhe atribui coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s numa<br />
versão digital e não através <strong>da</strong> sobreposição ingénua de<br />
mapas, frequentemente muito distorcidos. A citação de<br />
abertura desta secção é um exemplo, caricato é certo, <strong>da</strong><br />
ideia de atribuir um valor legal em função <strong>da</strong> base em que<br />
está feito o desenho.<br />
É actualmente reconhecido que grande parte dos Planos<br />
Municipais de Orde<strong>na</strong>mento do Território têm expressão<br />
cartográfica deficiente, com níveis de exactidão posicio<strong>na</strong>l<br />
baixos que não são atribuíveis à cartografia de base. Ora o<br />
si<strong>na</strong>l que tem passado para o nível político aparenta ser o<br />
de que o problema deriva <strong>da</strong> actuali<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong> cartografia de base – o que pode acontecer mas não é<br />
a causa única, nem talvez a maior – induzindo a produção<br />
de regulamentação incidindo no alvo errado e a adopção<br />
de priori<strong>da</strong>des de investimento que só indirectamente contribuem<br />
para melhorar a quali<strong>da</strong>de cartográfica dos instrumentos<br />
de gestão do território.<br />
Quarto mito: O mito <strong>da</strong>s regras<br />
“Na ver<strong>da</strong>de a Lei obrigava os donos dos prédios a mu<strong>da</strong>rem-nos<br />
todos os dias de orientação e de rua, segundo<br />
um plano de barafun<strong>da</strong> paranóica estabelecido por poetas<br />
surrealistas reformados.”<br />
José Gomes Ferreira, in. “As Aventuras de João Sem Medo”<br />
Um mito muito corrente no que respeita a informação geográfica<br />
é o de que se não há formatos e estruturas uniformes<br />
então “ninguém se entende”. Esta é uma ideia muito perigosa,<br />
porque se é um facto que a normalização comporta vantagens<br />
– e conce<strong>da</strong>m-me o crédito de ter gasto muito tempo<br />
<strong>na</strong> elaboração e <strong>na</strong> promoção a nível <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l <strong>da</strong>s normas<br />
ISO 19100, o que me iliba de acusações de defender uma<br />
visão radical anti-regulamentação –, se for leva<strong>da</strong> longe demais<br />
acaba por induzir à adopção de soluções i<strong>na</strong>dequa<strong>da</strong>s<br />
e levantar mais problemas do que os que possa resolver.<br />
Os aspectos fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> regulamentação são a garantia<br />
<strong>da</strong> interoperabili<strong>da</strong>de e a especificação de níveis de<br />
quali<strong>da</strong>de aceitáveis para fins específicos. O resto depende<br />
<strong>da</strong> boa prática profissio<strong>na</strong>l, que deve ser valoriza<strong>da</strong> e não<br />
restringi<strong>da</strong>.<br />
Por alguma razão ficou associa<strong>da</strong> à informação geográfica a<br />
ideia de que depende exclusivamente de regras, as “regras<br />
<strong>da</strong> cartografia”, e neste enquadramento facilmente se confundem<br />
regras com regulamentos.<br />
Esta crença, sustenta<strong>da</strong> pelos três primeiro mitos, faz mais<br />
ou menos o mesmo sentido que dispensar o exercício <strong>da</strong><br />
arquitectura e <strong>da</strong> engenharia civil porque existem normas<br />
de construção, ou do urbanismo porque existem normas<br />
urbanísticas.<br />
Quinto mito: O mito do SIG<br />
“…quiserão isto acometer […] grosseiramente e quasi per<br />
cõjeitura. E errarão em muitas cousas: saindo <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>deyra<br />
figuração: pollo desconcerto e confusão <strong>da</strong> sua instituição:<br />
como podera considerar quem disso quiser tomar<br />
experiencia.”<br />
Pedro Nunes, in. “Tratado <strong>da</strong> Sphera”.<br />
A utilização de informação geográfica é apresenta<strong>da</strong> como<br />
um salto abrupto para a moderni<strong>da</strong>de. É-o em parte, mas<br />
essa evolução é relativamente gradual, não é determi<strong>na</strong><strong>da</strong><br />
pela aquisição do software nem dos <strong>da</strong>dos mas pela sua<br />
introdução eficaz nos processos de trabalho, sejam estes<br />
simples ou complexos.<br />
A própria desig<strong>na</strong>ção de Sistema de Informação Geográfica,<br />
<strong>na</strong>sci<strong>da</strong> no início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 70 e que agregou as<br />
múltiplas desig<strong>na</strong>ções sectoriais atribuí<strong>da</strong>s a sistemas de informação<br />
e programas que operavam com informação geográfica<br />
digital, presta-se actualmente a mal entendidos. Seria<br />
mais claro, no contexto actual, falar distintamente de <strong>da</strong>dos<br />
geográficos, de sistemas de informação e de software que<br />
permite a utilização de informação geográfica. É hoje mais<br />
ou menos irrelevante fazer doutri<strong>na</strong> <strong>da</strong> diferenciação entre<br />
CAD, SIG, folha de cálculo, browser ou sistema de gestão de<br />
base de <strong>da</strong>dos, tal é a promiscui<strong>da</strong>de de funcio<strong>na</strong>li<strong>da</strong>des. O<br />
fun<strong>da</strong>mental é que se utiliza informação geográfica digital<br />
para alcançar um determi<strong>na</strong>do objectivo e que para isso se<br />
deve utilizar a plataforma mais adequa<strong>da</strong>.