O Papel da Informação Geográfica na Sociedade - Instituto ...

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A Fórmula do Dr. Livingstone
João Matos
screver um artigo com um tema sugerido é um desafio
E interessante mas, quando o tema é a importância da
informação geográfica para a sociedade, o desafio passa de
interessante para preocupante, pois não deve haver nada
que não tenha já sido dito. O principal problema do tema
é o consenso em torno da grande importância da informação
geográfica e das suas inúmeras aplicações, o que torna
redundantes os parágrafos mais bem intencionados. Encontrar
um profissional de informação geográfica que diga
que esta não é importante é tão difícil como encontrar um
vendedor de automóveis que defenda o recurso exclusivo
aos transportes públicos. Ou seja, a importância da informação
geográfica para a sociedade é indubitavelmente grande
e conhecida dos membros da geo-comunidade, onde presumo
que se incluam os leitores deste artigo.
Pressente-se, no entanto, uma atmosfera de insatisfação
quanto ao cumprimento das promessas originadas com a
popularização dos sistemas de informação geográfica, ou
seja, que todo esse potencial só muito lentamente se tem
vindo a converter em efectivos benefícios, perceptíveis
tanto pela geo-comunidade como pela sociedade no seu
todo. Há seguramente causas para essa insatisfação que
não têm directamente a ver com a informação geográfica,
como as baixas expectativas de qualidade nos serviços e na
produção técnica, a baixa eficiência na administração do território
e, talvez em menor grau, as condicionantes económicas.
A tese que aqui defendo é a de que o ritmo lento
de evolução se mantém devido a inconsistências na forma
como o problema da informação geográfica tem vindo a ser
abordado ao nível político e ao nível técnico. Essas inconsistências,
internas e de interacção entre os referidos níveis,
têm obstado a que os vários movimentos positivos tenham
uma continuidade construtiva e sejam consequentes.
Permitam-me portanto poupar uma dúzia de páginas de
ideias optimistas e consensuais, acreditem que as saberia
escrever, e aproveitar o verso das folhas para escrever sobre
o reverso dos velhos consensos. Permitam-me também
escrever um texto assumidamente não científico e muito
baseado na experiência profissional directa. Começarei por
expor a visão que é perceptível da importância da informação
geográfica ao nível político, este é por um lado o
reflexo da importância dada pela sociedade e, por outro, o
campo onde se podem tomar as medidas que coloquem a
informação geográfica ao serviço da sociedade. Em seguida
passarei a expor alguns mal-entendidos relativos à informação
geográfica, que designo por mitos, e que em meu
entender são responsáveis por uma parte significativa da
perturbação na adopção de boas estratégias ao nível nacional
e ao nível local.
A informação geográfica e a política
“Com esta medida (extinção do Conselho Nacional de Cartografia
e criação do Conselho Coordenador de Cartografia),
deixou de ser possível ao sector fazer chegar ao governo
opiniões fundamentadas sobre as actividades e as políticas
para a cartografia nacional que interessaria fomentar, o
que representou um considerável retrocesso para o País, e o
que também ajuda a explicar parte do processo degenerativo
que se seguiu ao longo da segunda metade da década
de 90”.
Rui Gonçalves Henriques, in. “A Informação Geográfica e a Administração
Pública em Portugal”, 2002