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O Papel da Informação Geográfica na Sociedade - Instituto ...

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Destaque<br />

6<br />

E se os utilizadores <strong>da</strong> informação<br />

geográfica se revoltassem?<br />

laoret fare<br />

Algumas reflexões de desafio à cartografia portuguesa<br />

“(…) Eu especulo. Os criadores de mapas têm de especular, pois sabem que<br />

não estão <strong>na</strong> posse de todos os <strong>da</strong>dos. Estamos sempre a li<strong>da</strong>r com <strong>na</strong>rrativas<br />

em segun<strong>da</strong> mão, resumos de impressões. Não trabalhamos com uma ciência<br />

exacta. (…)<br />

Maria Hele<strong>na</strong> Dias<br />

Os criadores de mapas enfeitam o mundo, e eu não sou excepção. Os meus<br />

mapas são elaborados para transmitir uma ilusão, disso tenho a certeza. (…)<br />

Ocorreu-me a ideia de fazer um mapa que desafiasse qualquer categoria e<br />

género. Esse mapa conteria todos os mapas, um mapa difícil de ser definido;<br />

devido a essa falta de definição, no entanto, esse mapa seria em si uma definição<br />

mais precisa.<br />

Não se desti<strong>na</strong>ria a advogar qualquer política ou convicção particular. Pelo contrário,<br />

queria que o meu mapa mostrasse a terra no céu e o céu <strong>na</strong> terra; um mapa<br />

que fosse o protótipo de todos os mapas espalhados no espaço e no tempo. Seria<br />

um projecto pelo qual o mundo poderia entregar-se, em fragmentos, ao olhar<br />

aberto e inquisidor de todos. Tinha muita esperança de que tal mapa pudesse <strong>da</strong>r<br />

origem a outro mapa, e a outro ain<strong>da</strong>, para além dele. (…) Acredito realmente<br />

que o meu mapa é uma distorção. To<strong>da</strong>s as representações de terras e oceanos<br />

são ape<strong>na</strong>s a manifestação do que captei (…). Agora percebo que o mundo só é<br />

real no modo como ca<strong>da</strong> um imprime nele a sua própria sensibili<strong>da</strong>de. (…)<br />

Os continentes e os povos só se afirmam como tal a partir <strong>da</strong> imagem que constroem<br />

de si próprios. To<strong>da</strong> a localização geográfica provou ser ilusória. A conclusão<br />

lógica é que a ver<strong>da</strong>deira localização do mundo, com os seus países, as<br />

montanhas, os rios e as ci<strong>da</strong>des, depende dos olhos dos observadores. É ali que<br />

as representações individuais participam <strong>da</strong> condição de sonho que as pessoas<br />

associam à invenção. (…) Fi<strong>na</strong>lmente compus o mundo. (…) Olhando o mapa,<br />

começo a ver nele o meu retrato. (…)”.<br />

As meditações de Fra Mauro em “O sonho do cartógrafo” de James Cowan, 2000

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