O Papel da Informação Geográfica na Sociedade - Instituto ...
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Destaque<br />
25<br />
A divulgação dos SIG em Portugal já tem pelo menos quinze<br />
anos, já foi há muito ultrapassa<strong>da</strong> a fase do pioneirismo e<br />
do amadorismo, não é uma nova tecnologia, é o instrumento<br />
de trabalho <strong>na</strong>tural para quem utiliza informação geográfica.<br />
O facto de se utilizar informação geográfica em forma<br />
digital não implica que o processo seja correcto e o facto de<br />
não a utilizar nessa forma também não desculpabiliza a má<br />
prática com informação geográfica. Em suma, o mito está<br />
em focalizar a atenção <strong>na</strong> utilização de SIG quando deveria<br />
estar nos resultados.<br />
Não sendo o custo do software e do hardware impeditivos<br />
<strong>da</strong> utilização, existindo CDG acessíveis – ou sendo a sua<br />
produção parte do processo ou a dificul<strong>da</strong>de que obrigatoriamente<br />
será ultrapassa<strong>da</strong> – resta a questão <strong>da</strong> formação<br />
que garanta a boa prática. Essa formação é a que induz<br />
a competência para a prática do projecto com informação<br />
geográfica e renega os mitos cartográficos.<br />
Nos domínios mais próximos do planeamento, <strong>da</strong> gestão<br />
do território e <strong>da</strong> gestão dos recursos <strong>na</strong>turais, a formação<br />
em SIG está dissemi<strong>na</strong><strong>da</strong> e bem implanta<strong>da</strong>, embora a<br />
componente de sistemas de informação seja tradicio<strong>na</strong>lmente<br />
descura<strong>da</strong>. Na engenharia geográfica, onde é <strong>da</strong><strong>da</strong><br />
a formação no que diz respeito a determi<strong>na</strong>ção de posição,<br />
não há igual preocupação com o conteúdo nem com a vertente<br />
de sistema de informação. Na engenharia informática<br />
está <strong>na</strong>turalmente presente a componente de sistemas<br />
de informação mas nenhuma <strong>da</strong>s outras. O problema <strong>da</strong><br />
formação incompleta é que, frequentemente, em vez de<br />
contribuir para gerar equipas que agregam especiali<strong>da</strong>des<br />
complementares, acaba por resultar numa tendência para<br />
ignorar a existência de outros domínios de especiali<strong>da</strong>de.<br />
É <strong>da</strong>qui que vem a espécie de “amadorismo parcial” que<br />
é característica <strong>da</strong> activi<strong>da</strong>de <strong>na</strong> área dos sistemas de informação<br />
geográfica.<br />
Em larga medi<strong>da</strong>, a utilização de SIG é simplesmente instrumental<br />
<strong>na</strong> maior parte dos domínios, sendo o conhecimento<br />
fun<strong>da</strong>mental aquele que respeita ao domínio de<br />
aplicação. A ideia de pluridiscipli<strong>na</strong>ri<strong>da</strong>de é no entanto facilmente<br />
converti<strong>da</strong> em não-discipli<strong>na</strong>ri<strong>da</strong>de, ou seja, não é<br />
preciso saber <strong>na</strong><strong>da</strong>. Para a realização de estudos de reduzi<strong>da</strong><br />
complexi<strong>da</strong>de, ou de reduzido impacto, a falta de formação<br />
específica não será dramática. Já para a elaboração<br />
de sistemas ou de estudos de grande complexi<strong>da</strong>de, ou de<br />
grande responsabili<strong>da</strong>de, é importante que se evitem erros<br />
básicos e que o projecto conte com a contribuição de técnicos<br />
ver<strong>da</strong>deiramente conhecedores dos aspectos que são<br />
específicos <strong>da</strong> informação geográfica, independentemente<br />
do campo de aplicação.<br />
Conclusão<br />
“Só posso supor que os triângulos feitos pelo Dr. Livingstone<br />
<strong>da</strong> ilha do Jardim foram resolvidos só com os ângulos, porque<br />
lados não podia <strong>da</strong>quele ponto medir nenhum. Pe<strong>na</strong> é<br />
que não ficasse a fórmula.”<br />
Serpa Pinto, in. “Como Eu Atravessei a África”.<br />
Uma coisa se pode atestar, a crença nos mitos referidos produz<br />
uma obstrução imensa ao desenvolvimento e à prossecução<br />
de qualquer estratégia.<br />
Se a vontade política, a viabili<strong>da</strong>de económica e viabili<strong>da</strong>de<br />
tecnológica são os ângulos de um triângulo, então a correcta<br />
abor<strong>da</strong>gem técnica é o lado que falta para a sua resolução,<br />
é o nosso lado. Quem o conseguir só com os ângulos<br />
que deixe a fórmula n<br />
Também <strong>na</strong> qualificação profissio<strong>na</strong>l requeri<strong>da</strong> há pequenos<br />
mitos, que curiosamente são contraditórios. Por um lado, o<br />
de que a utilização de SIG é muito difícil e requer grande<br />
especialização, fora do alcance de gabinetes de projecto e<br />
de autarquias – o que talvez fosse ver<strong>da</strong>de <strong>na</strong> primeira metade<br />
<strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 90 –; e por outro lado o de que uns<br />
recém-licenciados com “jeito para computadores” resolvem<br />
o assunto.<br />
João Matos, ICIST - <strong>Instituto</strong> de Engenharia de Estruturas, Território<br />
e Construção / <strong>Instituto</strong> Superior Técnico<br />
(jmatos@civil.ist.utl.pt)