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Lendo as ondas do “Movimento de Acesso à Justiça”: epistemologia ...

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72 CIDADANIA, JUSTIÇA E VIOLÊNCIA<br />

rem oferecid<strong>as</strong> aos cidadãos soluções pacífic<strong>as</strong>, possivelmente até soluções<br />

com <strong>as</strong> quais possam ficar extremamente contentes e felizes, que, no entanto,<br />

permanecem aquém <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> p<strong>as</strong>sível <strong>de</strong> ser obti<strong>do</strong> c<strong>as</strong>o os direitos legais<br />

fossem exerci<strong>do</strong>s por intermédio <strong>do</strong> sistema judiciário formal. Há, portanto,<br />

um perigo real nessa ubíqua tendência para o informalismo judicial, atualmente<br />

em voga, <strong>de</strong> se negar muito <strong>do</strong>s valores, da importância e da significação<br />

histórica <strong>do</strong> formalismo da justiça. 33 Talvez a metáfora d<strong>as</strong> “ond<strong>as</strong>” seja<br />

simplista, m<strong>as</strong> serve para i<strong>de</strong>ntificar f<strong>as</strong>es cruciais <strong>do</strong>s <strong>de</strong>senvolvimentos, intelectual<br />

e político, produzi<strong>do</strong>s por este importante movimento global <strong>de</strong> acesso<br />

à justiça.<br />

Uma quarta onda<br />

Nesta conclusão, parto da observação <strong>de</strong> Mangabeira Unger — “[é]<br />

possível, <strong>as</strong>sim, explicar uma experiência básica e comum na socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna<br />

que, <strong>de</strong> outro mo<strong>do</strong>, seria incompreensível: a sensação <strong>de</strong> estar-se ro<strong>de</strong>a<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> injustiça, ao mesmo tempo em que não se sabe on<strong>de</strong> a justiça está.<br />

Esta situação é o la<strong>do</strong> mais político daquele sentimento mais geral <strong>de</strong> arbitrarieda<strong>de</strong><br />

e até mesmo <strong>de</strong> absur<strong>do</strong> que gradualmente penetra a consciência <strong>de</strong><br />

to<strong>do</strong>s os grupos” 34 — para i<strong>de</strong>ntificar uma quarta, e talvez última, onda <strong>do</strong><br />

movimento <strong>de</strong> acesso à justiça: o acesso <strong>do</strong>s opera<strong>do</strong>res <strong>do</strong> direito (inclusive<br />

<strong>do</strong>s que trabalham no sistema judicial) à justiça.<br />

Dentro da consciência da profissão jurídica existe um para<strong>do</strong>xo curioso,<br />

qu<strong>as</strong>e invisível: como os advoga<strong>do</strong>s, que diariamente administram justiça,<br />

percebem e têm, eles mesmos, “acesso à justiça” A experiência quotidiana<br />

<strong>do</strong>s advoga<strong>do</strong>s e a proximida<strong>de</strong> da Justiça cegam a profissão jurídica em relação<br />

a concepções mais profund<strong>as</strong> <strong>de</strong> justiça (interna ou social) e, conseqüentemente,<br />

fazem com que a profissão ignore a relação entre justiça civil e justiça<br />

cívica. Nossa “quarta onda” expõe <strong>as</strong> dimensões ética e política da administração<br />

da justiça e, <strong>as</strong>sim, indica importantes e novos <strong>de</strong>safios tanto para a<br />

responsabilida<strong>de</strong> profissional como para o ensino jurídico. 35<br />

O problema atual não é, simplesmente, medir o acesso <strong>do</strong>s cidadãos à<br />

justiça, lançan<strong>do</strong> mão, por exemplo, <strong>do</strong> mapeamento <strong>de</strong> espaços na oferta<br />

<strong>do</strong>s serviços jurídicos, m<strong>as</strong>, antes, abrir nov<strong>as</strong> perspectiv<strong>as</strong> na <strong>de</strong>finição da<br />

33 Richard Abel (ed.), The politics of informal justice (New York, Aca<strong>de</strong>mic Press, 1982); Conservative<br />

conflict and the reproduction of capitalism: the role of informal justice. International<br />

Journal of the Sociology of Law, 9(245), 1981.<br />

34 Roberto Mangabeira Unger, op. cit., p. 186.<br />

35 Kim Economi<strong>de</strong>s (ed.). Ethical challenges to legal education and conduct (Oxford, Hart,<br />

1998).

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