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Lendo as ondas do “Movimento de Acesso à Justiça”: epistemologia ...

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76 CIDADANIA, JUSTIÇA E VIOLÊNCIA<br />

A responsabilida<strong>de</strong> pela promoção e ampliação <strong>do</strong> acesso à educação<br />

jurídica, à lei e à justiça po<strong>de</strong> vir a ser mais um projeto <strong>de</strong> colaboração <strong>do</strong>s<br />

cursos <strong>de</strong> direito com o governo e os organismos profissionais. Quais são <strong>as</strong><br />

responsabilida<strong>de</strong>s d<strong>as</strong> faculda<strong>de</strong>s em equipar os futuros advoga<strong>do</strong>s para aten<strong>de</strong>rem<br />

às necessida<strong>de</strong>s legais <strong>do</strong> público, não apen<strong>as</strong> inculcan<strong>do</strong> conhecimento,<br />

em termos <strong>do</strong> ensino <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> e <strong>do</strong> ofício legais, m<strong>as</strong> comunican<strong>do</strong> algo<br />

<strong>do</strong> valor e <strong>do</strong> potencial da lei em termos <strong>de</strong> seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> transformar <strong>as</strong> relações<br />

sociais e melhorar a condição humana Será que um compromisso formal<br />

é suficiente para garantir uma responsabilida<strong>de</strong> ética <strong>do</strong>s advoga<strong>do</strong>s Para<br />

respon<strong>de</strong>r a esta pergunta, seria importante analisar como os futuros advoga<strong>do</strong>s<br />

interpretam este compromisso e como <strong>as</strong> faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> direito atuam para<br />

elevar o grau <strong>de</strong> conscientização a respeito da responsabilida<strong>de</strong> profissional. 44<br />

Os organismos profissionais, como a Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong>s Advoga<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Br<strong>as</strong>il,<br />

também têm responsabilida<strong>de</strong>s e um papel a representar no direcionamento<br />

<strong>do</strong>s serviços jurídicos para o preenchimento <strong>do</strong>s espaços que o merca<strong>do</strong> <strong>de</strong>ixa<br />

a <strong>de</strong>scoberto. Até que ponto os organismos profissionais po<strong>de</strong>m contribuir<br />

para formar um novo i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> serviço jurídico, substituin<strong>do</strong> a motivação <strong>do</strong><br />

lucro que <strong>do</strong>mina tantos sistem<strong>as</strong> legais Encontramos no Br<strong>as</strong>il, como acontece<br />

em muitos outros sistem<strong>as</strong> jurídicos, o dissemina<strong>do</strong> cinismo corrosivo — ou<br />

“jeitinho” — que precisa ser combati<strong>do</strong>, já que fornece uma b<strong>as</strong>e ina<strong>de</strong>quada<br />

para a prática da lei e <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> disput<strong>as</strong> na socieda<strong>de</strong> br<strong>as</strong>ileira 45<br />

Finalizan<strong>do</strong>, apesar da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conceber <strong>as</strong> três — ou, agora,<br />

quatro — ond<strong>as</strong> <strong>do</strong> movimento <strong>de</strong> acesso à justiça como complementares e<br />

dirigid<strong>as</strong> para objetivos essencialmente progressivos, <strong>de</strong>vemos reconhecer também<br />

que est<strong>as</strong> ond<strong>as</strong> po<strong>de</strong>m, algum<strong>as</strong> vezes, colidir, entrar em conflito e, mesmo,<br />

contradizer um<strong>as</strong> às outr<strong>as</strong>. 46 Afinal, como observa outro autor italiano,<br />

Italo Calvino, ao discorrer, em seu romance Palomar, sobre a “leitura” <strong>de</strong> uma<br />

onda a partir da perspectiva <strong>do</strong>s penh<strong>as</strong>cos que se <strong>de</strong>bruçam sobre uma baía:<br />

“…não se po<strong>de</strong> observar uma onda sem levar em conta os <strong>as</strong>pectos complexos<br />

que concorrem para formá-la e aqueles, também complexos, a que ela dá<br />

ensejo”. 47<br />

44 Ver, Eliane Junqueira, The teaching of legal ethics...<br />

45 K. Rosenn, The jeito: Brazil’s institutional byp<strong>as</strong>s of the formal legal system and its <strong>de</strong>velopmental<br />

implications. American Journal of Comparative Law, 19(514), 1971.<br />

46 Lewis observa que a metáfora <strong>de</strong> “ond<strong>as</strong>” ou “tendênci<strong>as</strong>” não é totalmente satisfatória,<br />

“...não apen<strong>as</strong> porque os jurist<strong>as</strong> <strong>de</strong> direito compara<strong>do</strong> presumem que <strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> aten<strong>de</strong>m<br />

a necessida<strong>de</strong>s similares, m<strong>as</strong> porque presumem também que só apresentamos resulta<strong>do</strong>s<br />

positivos porque mostramos a existência <strong>de</strong> países aparentemente similares, quan<strong>do</strong>, na<br />

verda<strong>de</strong>, isto é apen<strong>as</strong> o início d<strong>as</strong> indagações sobre <strong>as</strong> circunstânci<strong>as</strong> subjacentes a ess<strong>as</strong> similarida<strong>de</strong>s”.<br />

Richard Abel & Philip Lewis (eds.), Lawyers in society: comparative theories<br />

(Berkeley, University of California Press, 1989. p. 71).<br />

47 Italo Calvino, Palomar (São Paulo, Companhia d<strong>as</strong> Letr<strong>as</strong>, 1994. p. 8).

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