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Lendo as ondas do “Movimento de Acesso à Justiça”: epistemologia ...

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KIM ECONOMIDES 65<br />

sociólogo <strong>do</strong> direito polonês que investigou a atitu<strong>de</strong> <strong>do</strong> público em geral a respeito<br />

da justiça. 9 Com o benefício da visão retrospectiva, alguns <strong>de</strong>sses estu<strong>do</strong>s<br />

parecem-nos agora um tanto limita<strong>do</strong>s em seus objetivos, pois <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar<br />

os complexos processos que influem na <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> recorrer ao sistema judiciário.<br />

Menos <strong>do</strong> que por ignorância ou falta <strong>de</strong> meios econômicos, o não<br />

acesso à justiça po<strong>de</strong> muit<strong>as</strong> vezes ser conseqüência <strong>de</strong> opção, sen<strong>do</strong> atualmente<br />

questionável, à luz <strong>do</strong> <strong>de</strong>bate sobre os mecanismos para se evitarem disput<strong>as</strong>,<br />

a presunção <strong>de</strong> que a maioria da população <strong>de</strong>seja ou precisa <strong>de</strong> acesso ao<br />

sistema judiciário. 10 Algum<strong>as</strong> d<strong>as</strong> primeir<strong>as</strong> pesquis<strong>as</strong>, portanto, revelaram um<br />

entendimento pouco sofistica<strong>do</strong> d<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> <strong>do</strong>s clientes e <strong>do</strong>s serviços jurídicos<br />

que, supostamente, seriam procura<strong>do</strong>s, enquanto outr<strong>as</strong> <strong>de</strong>ram uma ênf<strong>as</strong>e<br />

talvez exagerada a uma explicação econômica grosseira — a pobreza —<br />

para o uso, ou não uso, <strong>de</strong> serviços jurídicos.<br />

Nos anos 60, um importante trabalho <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />

por Carlin e Howard, ao revelar que, em muitos c<strong>as</strong>os, os pobres tinham efetivamente<br />

acesso à justiça, especialmente quan<strong>do</strong> recebiam auxílio para <strong>as</strong>sistência<br />

jurídica, pôs em xeque a explicação econômica <strong>do</strong>minante para a falta<br />

<strong>de</strong> acesso à justiça. 11 Este estu<strong>do</strong> foi ainda <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância porque<br />

i<strong>de</strong>ntificou quatro estágios cruciais pelos quais os cidadãos têm <strong>de</strong> p<strong>as</strong>sar antes<br />

<strong>de</strong> ingressarem <strong>de</strong> fato nos tribunais:<br />

“A falta <strong>de</strong> recursos econômicos representa apen<strong>as</strong> um <strong>do</strong>s elementos <strong>de</strong> um<br />

processo social complexo que leva um indivíduo a procurar e obter representação<br />

jurídica. Pelo menos quatro estágios estão envolvi<strong>do</strong>s: 1) a consciência,<br />

ou o reconhecimento <strong>de</strong> que <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> problema é um problema jurídico;<br />

2) a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> iniciar ação judicial para solucioná-lo; 3) a procura <strong>de</strong><br />

um advoga<strong>do</strong>; e, 4) a sua contratação efetiva.” 12<br />

Também naquele momento, começou a se tornar evi<strong>de</strong>nte que os ricos<br />

e <strong>as</strong> instituições optavam, freqüentemente, pela não utilização <strong>do</strong> Judiciário,<br />

resolven<strong>do</strong> su<strong>as</strong> disput<strong>as</strong> por meios mais priva<strong>do</strong>s ou informais. 13 Apesar<br />

9 Adam Podgorecki et alii, Knowledge and opinion about law (Lon<strong>do</strong>n, M. Robertson, 1973). Ver<br />

também M. Cain & K. Kulcsar (eds.), Disputes and the law (Budapest, Aka<strong>de</strong>miai Kiato, 1983).<br />

10 William Felstiner, Influences of social organisation on dispute processing. Law & Society<br />

Review, 9(63), 1974. Ver também o <strong>de</strong>bate entre Felstiner e Danzig & Lowy, Law & Society<br />

Review, 9(675, 695), 1975; e Robert Kid<strong>de</strong>r, The end of the road Problems in the analysis of<br />

disputes. Law & Society Review, 15(717), 1980/81.<br />

11 J. Carlin & J. Howard, Legal representation and cl<strong>as</strong>s justice. Ucla Law Review, 32(717),<br />

1980/81.<br />

12 Ibid., p. 423.<br />

13 Stewart Macaulay, Non-contractual relations in business: a preliminary study. American Sociological<br />

Review, 18(55), 1963; e Lawyers and consumer protection laws. Law & Society Review,<br />

14(115), 1979.

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