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UNIVERSIDADE DE TAUBATÉCatarina Barb<strong>os</strong>a da Silva RizzoA REPRESENTAÇÃO SOCIAL DO TRABALHOPARA OS ADOLESCENTES AO INICIAREMUMA ATIVIDADE PROFISSIONALDissertação apresentada <strong>para</strong> obtenção <strong>do</strong>Título de Mestre em Gestão eDesenvolvimento Regional <strong>do</strong> Departamentode Economia, Contabilidade, Administração eSecretaria<strong>do</strong> da Universidade de Taubaté.Orienta<strong>do</strong>r: Profª. Dra. Edna Maria Queri<strong>do</strong> deOliveira Chamon.Taubaté – SP2008


CATARINA BARBOSA DA SILVA RIZZOA REPRESENTAÇÃO SOCIAL DO TRABALHO PARA OS ADOLESCENTESAO INICIAREM UMA ATIVIDADE PROFISSIONALDissertação apresentada <strong>para</strong> obtenção <strong>do</strong>Título de Mestre em Gestão eDesenvolvimento Regional <strong>do</strong> Departamentode Economia, Contabilidade, Administração eSecretaria<strong>do</strong> da Universidade de Taubaté.Área de Concentração: Gestão de Pessoas.Orienta<strong>do</strong>ra: Profa. Dra. Edna M. O. Q.Chamon.Data: __________________Resulta<strong>do</strong>: ______________BANCA EXAMINADORAProf. _______________________________________Assinatura __________________________________Universidade de TaubatéProf. _______________________________________Assinatura ______________________________________________________Prof. _______________________________________Assinatura ______________________________________________________


Dedico este <strong>trabalho</strong>a<strong>os</strong> meus paisao meu <strong>com</strong>panheiro emari<strong>do</strong> Mario, aomeu ama<strong>do</strong> filhoMatheus e a Deus.


AGRADECIMENTOSÀ Profª. Dra. Edna Maria Queri<strong>do</strong> de Oliveira Chamon, minha orienta<strong>do</strong>ra e grandeincentiva<strong>do</strong>ra nessa árdua tarefa.À Profª Adriana Leônidas de Oliveira pelo carinho e pelo olhar meto<strong>do</strong>lógico.Ao Professor Celso Pereira de Sá, por aceitar participar da banca e por toda contribuição aTeoria das Representações Sociais.À Therezinha da Silva Miragaia, Assistente Social da SOAPRO, por todas as informaçõesfornecidas so<strong>br</strong>e a entidade e principalmente pela amizade.A<strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes que serviram de objeto de pesquisa e que muito me ensinaram, nãoapenas so<strong>br</strong>e representações sociais, mas so<strong>br</strong>e a vida.A to<strong>do</strong>s <strong>os</strong> professores que, to<strong>do</strong>s esses an<strong>os</strong>, contribuíram <strong>com</strong> seus ensinament<strong>os</strong> e quevárias vezes me serviram de modelo.E principalmente ao meus pais Gildiléa Barb<strong>os</strong>a da Silva Rizzo e Laet Rizzo pelo exemplode amor e por mesmo sem estu<strong>do</strong>, terem sempre me incentiva<strong>do</strong>.Ao meu mari<strong>do</strong> Mario Heleno Guedes <strong>do</strong>s Sant<strong>os</strong> e ao meu filhinho Matheus Rizzo <strong>do</strong>sSant<strong>os</strong> pelo amor e pela <strong>com</strong>preensão em quase todas as minhas ausências.


Um homem também chora(Guerreiro menino) (1983)Comp<strong>os</strong>ição : GonzaguinhaUm homem também chora, menina morenaTambém deseja colo, palavras amenasPrecisa de carinho, precisa de ternuraPrecisa de um a<strong>br</strong>aço, da própria canduraGuerreir<strong>os</strong> são pessoas, são fortes, são frágeisGuerreir<strong>os</strong> são menin<strong>os</strong>, no fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> peitoPrecisam de um descanso, precisam de um remansoPrecisam de um sonho, que <strong>os</strong> tornem perfeit<strong>os</strong>É triste ver meu homem, guerreiro meninoCom a barra de seu tempo, por so<strong>br</strong>e seus om<strong>br</strong><strong>os</strong>Eu vejo que ele berra, eu vejo que ele sangraA <strong>do</strong>r que tem no peito, pois ama e amaUm homem se humilha, se castram seu sonhoSeu sonho é sua vida, e vida é <strong>trabalho</strong>E sem o seu <strong>trabalho</strong>, um homem não tem honraE sem a sua honra, se morre, se mataNão dá pra ser felizNão dá pra ser feliz


RESUMOO presente <strong>trabalho</strong> teve <strong>com</strong>o objetivo apreender as representações sociais que <strong>os</strong>a<strong>do</strong>lescentes têm <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> diante da sua inserção no merca<strong>do</strong>. Foi utilizada a teoria dasrepresentações sociais (TRS), que caracteriza a organização de element<strong>os</strong> cognitiv<strong>os</strong>,crenças, valores, atitudes, opiniões, <strong>com</strong>o um saber prático, de senso <strong>com</strong>um, so<strong>br</strong>e arealidade. É esta <strong>representação</strong> <strong>social</strong> <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>para</strong> o a<strong>do</strong>lescente que se encontrou nocentro da investigação desta pesquisa, <strong>com</strong> a tarefa de descrevê-la, analisá-la, e explicarsuas dimensões. A pesquisa baseou-se em entrevistas individuais <strong>com</strong> 30 a<strong>do</strong>lescentes, naanálise de 5 diári<strong>os</strong> de <strong>trabalho</strong> e na aplicação de um questionário a um total de 173a<strong>do</strong>lescentes. Os a<strong>do</strong>lescentes pesquisa<strong>do</strong>s p<strong>os</strong>suem idade entre 16 e 18 an<strong>os</strong> efrequentam o curso “Treinamento <strong>para</strong> o Merca<strong>do</strong> de Trabalho” da Organização NãoGovernamental Sociedade de Amparo e Promoção - SOAPRO, na cidade de Taubaté-SP.Os da<strong>do</strong>s foram trata<strong>do</strong>s pelo software ALCESTE 4.5 – Analyse Lexicale par Contexte d’umEnsemble de Segments de Texte e <strong>os</strong> resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s <strong>com</strong> as entrevistas puderam serorganiza<strong>do</strong>s em três classes de discurso: classe 1: Vida profissional, classe 2: Trabalho,lazer e família e classe 3: Projeto pessoal. Também foram analisadas as representaçõessociais apreendidas por meio <strong>do</strong>s questionári<strong>os</strong> onde se destacam <strong>os</strong> significa<strong>do</strong>s atribuí<strong>do</strong>sao <strong>trabalho</strong>, <strong>com</strong>o de lhes garantir um futuro melhor, bem <strong>com</strong>o a mudança de classe <strong>social</strong>.Essa experiência também é elaborada pelo a<strong>do</strong>lescente <strong>com</strong> o senti<strong>do</strong> de uma segundaopção que o ajuda a ficar longe de coisas erradas. Destaca-se o processo de “adultização” ea inversão de papéis provoca<strong>do</strong> no a<strong>do</strong>lescente, por meio <strong>do</strong> qual ele assume papéis sociaisdestina<strong>do</strong>s ao adulto e passa a vivenciar um novo status: ao invés de consumi<strong>do</strong>r da rendafamiliar, passa a ser prove<strong>do</strong>r; ele se sente coagi<strong>do</strong> <strong>para</strong> assumir esse papel ao mesmotempo em que se sente valoriza<strong>do</strong> por esse lhe ser atribuí<strong>do</strong>. Por fim, destaca-se aconsciência desses jovens de que a experiência profissional que eles vivenciam hoje éimportante, mas muito mais determinante é o investimento no seu futuro <strong>com</strong>o estudantes eque realmente se dediquem e busquem seu sonho de constituir uma profissão por meio daeducação e <strong>do</strong> conhecimento.Palavras-chave: Representação Social. A<strong>do</strong>lescência. Merca<strong>do</strong> de Trabalho.


13THE SOCIAL REPRESENTATION OF THE JOB TO ADOLESCENT WHEN THEY BEGIN APROFESSIONAL ACTIVITY.ABSTRACTThe present work had as objective to study as the a<strong>do</strong>lescent perceives the work and <strong>social</strong>representations that the same ones elaborate ahead of its insertion in the work market. Itwas used the theory of the <strong>social</strong> representations. The theory talks about the organization ofelements cognitive , beliefs , values , attitudes , opinions , like a know practical , of <strong>com</strong>monsense , above the reality. This <strong>social</strong> representation of the I work to the teenager that youwill be find at this research , with the job of it will describe, analyzable and explain itsdimensions. The search based on individual interviews with 30 a<strong>do</strong>lescents , on analysis of 5journals' work and on application by one questionnaire to 173 a<strong>do</strong>lescents. The study was<strong>com</strong>p<strong>os</strong>ed for a<strong>do</strong>lescents with age between 16 and 18 years that <strong>do</strong> the course Training forthe Market of Work of the Organization Not Governmental Society of Support and Promotion- SOAPRO, in the city of Taubaté-SP. The informations were treated at software ALCESTE4.5 – Analyse Lexicale par Contexte d’um Ensemble de Segments of Text and the interview'sresults were organized into three classes of speech : class 1: Life professional , class 2:Work , leisure and family and class 3: Personal project. Also were analyzed the sociaisrepresentations grasped by the questionnaires where if detachment the significances of work, like to have a good future, and change the <strong>social</strong> class.This know-how it is also draws bya<strong>do</strong>lescent with the grieved from a second option which helps you the remain distant fromthings mistaken. Stands out from the crowd - in case that the process as of “adultização”AND the inversion as of papéis which was caused by at the juvenile, for half a from the whathe assumes papéis sociais aimed at to the adult AND raisin the one vivenciar um new status: instead of consumer from the annuity familiar,raisin the one being provider ; he in case thathe feels coagi<strong>do</strong> for assuming that paper at the same moment where you he feels to rise invalue By that for it being allotted. Lastly , highlighted the consciousness of this youngsters ofwhat the experience professional than they <strong>do</strong> today is important , but much more importantis the investment in their future like students and that really they study and the picked theirdream of <strong>com</strong>p<strong>os</strong>e a profession with education and knowledge.Key words:Social representation. A<strong>do</strong>lescence. Job.LISTA DE TABELAS


14Tabela 1: Rend. médio por hora <strong>do</strong>s homens ocupa<strong>do</strong>s no trab. principal 139Tabela 2: Rend. médio por hora das mulheres ocupadas no trab. principal 139Tabela 3: Quantidade de pessoas que residem em casa 183Tabela 4: Quantidade de cômo<strong>do</strong>s em casa 184LISTA DE FIGURASFigura 1: Localização geográfica de Taubaté 100Figura 2: Quantidade de a<strong>do</strong>lescentes no merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong> 101


15Figura 3: Gênero 111Figura 4: Idade 111Figura 5: Escolaridade 112Figura 6: Primeiro emprego 112Figura 7: Iniciativa própria / Incentivo da família 113Figura 8: Número de pessoas que residem em casa 114Figura 9: Número de cômo<strong>do</strong>s em casa 114Figura 10: Pessoas trabalhan<strong>do</strong> em casa (além <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente) 115Figura 11: Renda <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes 116Figura 12: Renda da família 116Figura 13 – Renda média da população taubateana em S.M. 118Figura 14 – Distribuição das UCE’s no discurso 119Figura 15 – Classe 1 121Figura 16 – Conclusão da Classe 1 137Figura 17 – Classe 2 145Figura 18 – Conclusão da Classe 2 156Figura 19 – Classe 3 160Figura 20 – Conclusão da Classe 3 166Figura 21: Diári<strong>os</strong> 171Figura 22: Gênero 179Figura 23: Idade 180Figura 24: Esta<strong>do</strong> Civil 180Figura 25: Filh<strong>os</strong> 181Figura 26: Escolaridade 182Figura 27: Primeiro emprego 182Figura 28: Renda <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes 184Figura 29: Renda <strong>do</strong> pai 185Figura 30: Renda da mãe 186Figura 31: O bom trabalha<strong>do</strong>r 188Figura 32: Trabalhar é 190Figura 33: O <strong>trabalho</strong> traz 192Figura 34: O <strong>trabalho</strong> traz 194Figura 35: O significa<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> 196Figura 36: Quem sou eu 199


17LISTA DE QUADROSQuadro 1: Características da pesquisa qualitativa e quantitativa 93Quadro 2: Classes <strong>do</strong> Alceste – Junção das três classes 119Quadro 3: Palavras <strong>para</strong> identificação das classes – Junção das três classes 120


18SUMÁRIO1 Introdução ...................................................................................................131.1 O problema ................................................................................................... ....151.2 Objetiv<strong>os</strong> .................................................................................................... ......151.2.1 Objetivo geral ..................................................................................................151.2.2 Objetiv<strong>os</strong> específic<strong>os</strong> ..................................................................................... 151.3 Delimitação <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> ........................................................................................161.4 Relevância <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>......................................................................................... 161.5 Organização <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> ................................................................................... 172 A<strong>do</strong>lescência e <strong>trabalho</strong>.......................................................................................192.1 A criança e o a<strong>do</strong>lescente ...................................................................................192.2 Trabalho ..............................................................................................................302.3 O <strong>trabalho</strong> na vida <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente.....................................................................433 Representações Sociais: reflexões ....................................................................593.1 O conceito de Representação Social...................................................................593.2 A Relação sujeito / objeto....................................................................................763.3 Funções das representações sociais...................................................................823.4 Ancoragem e objetivação.....................................................................................844 Méto<strong>do</strong> ................................................................................................................. 924.1 Classificação da pesquisa ..................................................................................924.2 Instrument<strong>os</strong>........................................................................................................944.2.1 Entrevistas .......................................................................................................944.2.2 Questionári<strong>os</strong> ..................................................................................................984.2.3 Diári<strong>os</strong> ............................................................................................................994.3 Lócus da pesquisa ............................................................................................1004.4 População e am<strong>os</strong>tra ........................................................................................1024.5 Procediment<strong>os</strong> <strong>para</strong> coleta de da<strong>do</strong>s ................................................................1034.6 Tratamento <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s ......................................................................................1055 Resulta<strong>do</strong>s das entrevistas ..............................................................................1105.1 Entrevistas ........................................................................................................1105.2 Diári<strong>os</strong> ...............................................................................................................1706 Resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s questionári<strong>os</strong> ....................................................................1787 Considerações Finais ..................................................................................201


19Referências ......................................................................................................207Anexo A – Lei 10097 .........................................................................................214Anexo B – Autorização <strong>do</strong> Comitê de Ética.......................................................219


201 INTRODUÇÃOA presença de a<strong>do</strong>lescentes na força de <strong>trabalho</strong> tem si<strong>do</strong> encorajada na n<strong>os</strong>sasociedade por meio de políticas governamentais expressas pelo Programa PrimeiroEmprego, que favorecem o ingresso precoce <strong>do</strong>s jovens no merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>.Destaca-se a difícil situação desses jovens trabalha<strong>do</strong>res que tentam conciliarestu<strong>do</strong> e <strong>trabalho</strong> na tentativa de ajudar sua família a so<strong>br</strong>eviver e prover suaspróprias necessidades e desej<strong>os</strong> de consumo.A título de esclarecimento é importante destacar que a presente pesquisa toma<strong>com</strong>o definição de <strong>trabalho</strong>, principalmente, a prop<strong>os</strong>ta por Tittoni (1994), onde oautor define <strong>com</strong>o <strong>trabalho</strong> uma p<strong>os</strong>sibilidade de inscrição nas relações sociais e<strong>com</strong>o meio por meio <strong>do</strong> qual o trabalha<strong>do</strong>r sente-se útil e produzin<strong>do</strong> coisas,consideran<strong>do</strong>-se também as limitações e características <strong>do</strong> processo de <strong>trabalho</strong>.O conceito de <strong>trabalho</strong> vai muito além daquele remunera<strong>do</strong> e <strong>com</strong> tempodetermina<strong>do</strong>, imprescindível <strong>para</strong> suprir as necessidades financeiras, o <strong>trabalho</strong>também se expande <strong>para</strong> a realização e o bem-estar pessoal, <strong>para</strong> aquele <strong>trabalho</strong>volta<strong>do</strong> <strong>para</strong> o próprio indivíduo e <strong>para</strong> a sua família. Enfim, além de atender asnecessidades biológicas <strong>com</strong>o: nutrição, a<strong>br</strong>igo, proteção e tratamento médico, o<strong>trabalho</strong> também deve ser capaz de suprir outras necessidades <strong>com</strong>o: lazer, moradiae vestuário.


21O presente <strong>trabalho</strong> tem <strong>com</strong>o objetivo apreender as representações sociais que <strong>os</strong>a<strong>do</strong>lescentes têm <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> diante da sua inserção no merca<strong>do</strong>, basea<strong>do</strong> na teoriadas representações sociais de Serge M<strong>os</strong>covici (1978).O estu<strong>do</strong> foi realiza<strong>do</strong> <strong>com</strong> a<strong>do</strong>lescentes, <strong>com</strong> idade entre 16 e 18 an<strong>os</strong>, quefreqüentam a Organização-Não-Governamental - ONG, Sociedade de Amparo ePromoção – SOAPRO, localizada na cidade de Taubaté - SP.Os da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s <strong>com</strong> as entrevistas foram trata<strong>do</strong>s pelo software ALCESTE 4.5 –Analyse Lexicale par Contexte d’um Ensemble de Segments de Texte e de acor<strong>do</strong><strong>com</strong> <strong>os</strong> resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s nas entrevistas puderam ser organizadas em três classesde discurso: classe 1: Vida profissional, classe 2: Trabalho, lazer e família e classe 3:Projeto pessoal. Na primeira classe evidenciaram-se as subclasses: relevância<strong>social</strong>, autonomia, aprendizagem / conhecimento e conquistas / reconhecimento; nasegunda classe observaram-se as subclasses: família / filh<strong>os</strong>, estu<strong>do</strong>, <strong>trabalho</strong>formal e <strong>trabalho</strong> informal; e na terceira classe destacaram-se as subclasses:estu<strong>do</strong>, <strong>trabalho</strong> e carreira / profissão.Por meio <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s <strong>com</strong> <strong>os</strong> diári<strong>os</strong> foram elaboradas três classes: Primeiroemprego, Estu<strong>do</strong> e Trabalho que descrevem a realidade vivida pel<strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentesque tentam conciliar essa tríade de <strong>trabalho</strong>, estu<strong>do</strong> e profissão. Essa técnica depesquisa foi especialmente importante por ter destaca<strong>do</strong> aspect<strong>os</strong> negativ<strong>os</strong> <strong>do</strong><strong>trabalho</strong> <strong>com</strong>o a dificuldade de conciliar o <strong>trabalho</strong> e o estu<strong>do</strong>, bem <strong>com</strong>o ficar maisafasta<strong>do</strong> da família.


22Os da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s <strong>com</strong> <strong>os</strong> questionári<strong>os</strong> foram trata<strong>do</strong>s <strong>com</strong> o auxílio <strong>do</strong> softwareSPHINX 5.0 e confirmam as representações sociais apontadas nas entrevistas erevelam as representações sociais <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>para</strong> <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes.Por fim, <strong>os</strong> da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s <strong>com</strong> as técnicas empregadas demonstram que oa<strong>do</strong>lescente busca alcançar uma vida melhor por meio <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>. Essa inserção nomerca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong> é vista <strong>com</strong>o uma garantia de que ele terá um futuro digno <strong>para</strong>si e <strong>para</strong> sua família, longe da criminalidade, das drogas e feliz.1.1 O PROBLEMAQuais são as representações sociais que <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes elaboram so<strong>br</strong>e o <strong>trabalho</strong>quan<strong>do</strong> se inserem em uma atividade profissional?1.2 OBJETIVOS1.2.1 Objetivo GeralApreender as representações sociais <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> que <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes têm a partirda sua inserção profissional.1.2.2 Objetiv<strong>os</strong> Específic<strong>os</strong>Caracterizar o <strong>trabalho</strong> <strong>com</strong>o objeto de <strong>representação</strong> <strong>social</strong> por meio da revisão deliteratura.Verificar <strong>com</strong>o a experiência <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> pode influenciar na p<strong>os</strong>tura <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescentediante da sua família e <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s.


23Descrever as conquistas que o a<strong>do</strong>lescente adquire ao <strong>com</strong>eçar a trabalhar.Identificar <strong>com</strong>o essa experiência profissional influencia n<strong>os</strong> ansei<strong>os</strong> <strong>para</strong> o futuro <strong>do</strong>a<strong>do</strong>lescente.1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDOO estu<strong>do</strong> foi realiza<strong>do</strong> <strong>com</strong> a<strong>do</strong>lescentes <strong>do</strong> sexo feminino e masculino, <strong>com</strong> idadeentre 16 e 18 an<strong>os</strong>, que estavam matricula<strong>do</strong>s na escola, no “Treinamento <strong>para</strong> oMerca<strong>do</strong> de Trabalho” da Organização-não-governamental SOAPRO e inseri<strong>do</strong>s nomerca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>.1.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDOO estu<strong>do</strong> objetivou contribuir <strong>com</strong> o processo de construção de conhecimento em<strong>representação</strong> <strong>social</strong> ten<strong>do</strong> <strong>com</strong>o objeto o <strong>trabalho</strong> e <strong>com</strong>o sujeito o a<strong>do</strong>lescente.Além disso, buscou-se <strong>com</strong>preender a formação <strong>do</strong> conceito de <strong>trabalho</strong> <strong>para</strong> oa<strong>do</strong>lescente, o que mu<strong>do</strong>u na visão da família em relação a ele após a inserção nomerca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>, quais foram as conquistas adquiridas quan<strong>do</strong> o jovem<strong>com</strong>eçou a trabalhar e qual foi a leitura que o a<strong>do</strong>lescente fez <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> em relaçãoa experiência de <strong>trabalho</strong>.


24Acredita-se ainda que por meio dessa pesquisa o leitor pesquisa<strong>do</strong>r p<strong>os</strong>sa<strong>com</strong>preender um pouco mais da realidade vivida por esses a<strong>do</strong>lescentes e a partirde então desenvolver um p<strong>os</strong>tura crítica so<strong>br</strong>e a<strong>do</strong>lescência e <strong>trabalho</strong>.1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHOO <strong>trabalho</strong> foi organiza<strong>do</strong> em 7 capítul<strong>os</strong>:No Capítulo 1, é apresentada uma introdução <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>, qual é o problema, <strong>os</strong>objetiv<strong>os</strong>, a delimitação e a relevância <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>.No Capítulo 2, é exp<strong>os</strong>to o conceito de a<strong>do</strong>lescência, o conceito de <strong>trabalho</strong> e asconsiderações <strong>do</strong>s pesquisa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> e da a<strong>do</strong>lescência.No Capítulo 3, é apresentada a teoria das representações sociais desenvolvida porSerge M<strong>os</strong>covici, bem <strong>com</strong>o a contribuição de outr<strong>os</strong> psicólog<strong>os</strong> sociais.No capítulo 4 é apresentada a Meto<strong>do</strong>logia de Pesquisa, destacam-se <strong>os</strong> critéri<strong>os</strong><strong>para</strong> <strong>com</strong>p<strong>os</strong>ição da am<strong>os</strong>tra, a técnica e <strong>os</strong> procediment<strong>os</strong> <strong>para</strong> a coleta e análise<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, bem <strong>com</strong>o a forma de tratamento <strong>do</strong>s mesm<strong>os</strong>. Faz parte desse capítuloum histórico da instituição onde a pesquisa foi desenvolvida.


25No capítulo 5, são apresenta<strong>do</strong>s <strong>os</strong> “Resulta<strong>do</strong>s e as Discussões” a partir da análisedas entrevistas e <strong>do</strong>s diári<strong>os</strong>.No capítulo 6, são apresenta<strong>do</strong>s <strong>os</strong> “Resulta<strong>do</strong>s e a Discussão” a partir da análise<strong>do</strong>s questionári<strong>os</strong>.No capítulo 7, descreve-se as Considerações Finais.


262 ADOLESCÊNCIA E TRABALHO2.1 A criança e o a<strong>do</strong>lescenteConsideran<strong>do</strong> que o presente <strong>trabalho</strong> tratará das representações sociaiselaboradas por indivídu<strong>os</strong> que fazem parte de uma fase específica <strong>do</strong>desenvolvimento humano, que é a a<strong>do</strong>lescência, faz-se necessário uma reflexã<strong>os</strong>o<strong>br</strong>e seu conceito.López (1995) destaca que a criança quan<strong>do</strong> nasce já é mem<strong>br</strong>o de um grupo <strong>social</strong>,pois suas necessidades básicas estão inevitavelmente ligadas a<strong>os</strong> demais e préprogramadas<strong>para</strong> serem satisfeitas em sociedade. O grupo <strong>social</strong> onde a criançanasce necessita também da incorporação desta <strong>para</strong> manter-se e so<strong>br</strong>eviver e, porisso, além de satisfazer suas necessidades, transmite-lhe a cultura acumulada aolongo de to<strong>do</strong> o decurso <strong>do</strong> desenvolvimento da espécie. Essa transmissão culturalenvolve valores, normas, c<strong>os</strong>tumes, atribuição de papéis, ensino da linguagem,habilidades e conteú<strong>do</strong>s escolares, bem <strong>com</strong>o tu<strong>do</strong> aquilo que cada grupo <strong>social</strong> foiacumulan<strong>do</strong> ao longo da história e que é realiza<strong>do</strong> por meio de determina<strong>do</strong>sagentes sociais.Cubero (1995) destaca a importância desses agentes sociais ao afirmar que é nafamília que ocorre n<strong>os</strong>so primeiro passo visan<strong>do</strong> a <strong>social</strong>ização, ou seja, a família éum contexto de <strong>social</strong>ização especialmente relevante <strong>para</strong> a criança, já que durantemuit<strong>os</strong> an<strong>os</strong> é o único e/ou principal no qual cresce e, além disso, age <strong>com</strong>o chaveou filtro que seleciona a abertura da criança a outr<strong>os</strong> context<strong>os</strong>: são <strong>os</strong> pais que


27decidem o momento de incorporação da criança à creche, são eles que n<strong>os</strong>primeir<strong>os</strong> moment<strong>os</strong> p<strong>os</strong>sibilitam <strong>os</strong> contat<strong>os</strong> sociais da criança <strong>com</strong> pessoas alheiasà família e que p<strong>os</strong>teriormente escolherão o tipo de escola que seus filh<strong>os</strong>freqüentarão.Conforme n<strong>os</strong> confirma New<strong>com</strong>be (1999), o desenvolvimento de um senso deidentidade não <strong>com</strong>eça nem termina na a<strong>do</strong>lescência, pois a identidade de umindivíduo já está sen<strong>do</strong> formada durante perío<strong>do</strong>s anteriores, <strong>com</strong>eçan<strong>do</strong> <strong>com</strong> oestabelecimento de uma confiança básica ou de desconfiança por parte das pessoase <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> que circundam o bebê.A <strong>social</strong>ização, segun<strong>do</strong> Lopéz (1995) é, por conseguinte, um processo interativo,necessário à criança e ao grupo <strong>social</strong> onde nasce, por meio <strong>do</strong> qual a criançasatisfaz suas necessidades e assimila a cultura, ao mesmo tempo que,reciprocamente, a sociedade se perpetua e desenvolve. Sob o ponto de vista dacriança (que é, obviamente, o que n<strong>os</strong> interessa aqui) a <strong>social</strong>ização pressupõe aaquisição de valores, normas, c<strong>os</strong>tumes, papéis, conheciment<strong>os</strong> e condutas que asociedade transmite e exige dela.Podem<strong>os</strong> dizer que já nessa fase da primeira infância a criança <strong>com</strong>eça a ser<strong>social</strong>izada <strong>com</strong> <strong>os</strong> valores, crenças, condutas e por que não dizer, <strong>com</strong> asrepresentações sociais de seus pais, transmitin<strong>do</strong> seus conheciment<strong>os</strong> acumula<strong>do</strong>spor meio <strong>do</strong>s an<strong>os</strong> e influencian<strong>do</strong> na formação de sua personalidade econsequentemente nas escolhas que esse indivíduo irá fazer no futuro.


28Apesar da família constituir em um primeiro momento o meio de desenvolvimentomais imediato <strong>para</strong> a criança, a escola transforma-se logo em um importantecontexto de <strong>social</strong>ização, contribuin<strong>do</strong> <strong>para</strong> sua formação pessoal.Ao falar da importância da <strong>social</strong>ização <strong>para</strong> o amadurecimento dessa criança edesse a<strong>do</strong>lescente, destacam<strong>os</strong> Jodelet (2001) que diz que quan<strong>do</strong> representam<strong>os</strong>,dizem<strong>os</strong> algo de nós mesm<strong>os</strong>; revelam<strong>os</strong> aspect<strong>os</strong> da n<strong>os</strong>sa identidade. Além disso,aderir a uma <strong>representação</strong> é participar de um grupo, de um <strong>com</strong>promisso <strong>social</strong>, oque n<strong>os</strong> leva ao sujeito <strong>social</strong>. Quem representa, é um sujeito que tem umapertinência num grupo, numa classe ou numa p<strong>os</strong>ição <strong>social</strong> e que se relaciona <strong>com</strong>outr<strong>os</strong> por meio de diferentes formas de <strong>com</strong>unicação e participan<strong>do</strong> da construçãode um mun<strong>do</strong> <strong>com</strong>um. Portanto, destacam-se aí <strong>os</strong> sujeit<strong>os</strong> coletiv<strong>os</strong>; aquelesinseri<strong>do</strong>s em grup<strong>os</strong> que têm um mesmo tipo de pensamento ou conhecimento,n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes.Com essa contribuição de Jodelet, podem<strong>os</strong> observar a relação entre <strong>social</strong>ização,indivíduo, grupo, e consequentemente <strong>representação</strong> <strong>social</strong>, bem <strong>com</strong>o o quanto apercepção e a vivência <strong>do</strong> indivíduo são importantes <strong>para</strong> que ele se p<strong>os</strong>icione e sesitue no mun<strong>do</strong>.É importante pontuar que de acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> Sprinthall (2003), a a<strong>do</strong>lescência foireconhecida <strong>com</strong>o um perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> desenvolvimento humano, há relativamente poucotempo. Em term<strong>os</strong> históric<strong>os</strong>, a idade <strong>do</strong>s 12 a<strong>os</strong> 13 an<strong>os</strong> era considerada omomento exato <strong>para</strong> assumir responsabilidades e <strong>para</strong> o desempenho de papéisliga<strong>do</strong>s à vida adulta. Apenas no último século, a educação pública o<strong>br</strong>igatória foi


29alargada a<strong>os</strong> an<strong>os</strong> da a<strong>do</strong>lescência, e foram oficializadas outras definições legais davida adulta, as quais ajudaram a definir a a<strong>do</strong>lescência <strong>com</strong>o distinta da idadeadulta.Segun<strong>do</strong> Outeiral (1994), a palavra "a<strong>do</strong>lescência" tem uma dupla origemetimológica e caracteriza muito bem as peculiaridades desta etapa da vida. Ela vem<strong>do</strong> latim ad (a, <strong>para</strong>) e olescer (crescer), significan<strong>do</strong> a condição ou processo decrescimento, em resumo o indivíduo apto a crescer. A<strong>do</strong>lescência também deriva dea<strong>do</strong>lescer (<strong>do</strong> latim a<strong>do</strong>lescere, que significa a<strong>do</strong>ecer, enfermar), origem da palavraa<strong>do</strong>ecer. Tem<strong>os</strong> assim, nesta dupla origem etimológica, um elemento <strong>para</strong> pensaresta etapa da vida: aptidão <strong>para</strong> crescer (não apenas no senti<strong>do</strong> físico, mas tambémpsíquico) e <strong>para</strong> a<strong>do</strong>ecer (em term<strong>os</strong> de sofrimento emocional), <strong>com</strong> astransformações biológicas e mentais que operam nesta faixa etária da vida.De acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> Osório (1989), a a<strong>do</strong>lescência é descrita <strong>com</strong>o uma etapa evolutivapeculiar ao ser humano, onde culmina to<strong>do</strong> o processo maturativo biopsic<strong>os</strong><strong>social</strong> <strong>do</strong>indivíduo. Por isto, não podem<strong>os</strong> <strong>com</strong>preender a a<strong>do</strong>lescência estudan<strong>do</strong>se<strong>para</strong>damente <strong>os</strong> aspect<strong>os</strong> biológic<strong>os</strong>, psicológic<strong>os</strong>, sociais ou culturais. Eles sãoindissociáveis e é justamente o conjunto de suas características que confereunidade ao fenômeno da a<strong>do</strong>lescência.New<strong>com</strong>be (1999), ressalta que o perío<strong>do</strong> chama<strong>do</strong> de a<strong>do</strong>lescência varia emextensão, pode ser <strong>br</strong>eve, <strong>com</strong>o em algumas sociedade mais simples, ourelativamente prolonga<strong>do</strong>, <strong>com</strong>o é o caso da n<strong>os</strong>sa sociedade <strong>com</strong>plexa.


30Papalia (1981; 2000), relaciona o significa<strong>do</strong> da a<strong>do</strong>lescência ao latim, designan<strong>do</strong>crescer <strong>para</strong> a maturidade, crescer <strong>para</strong> ficar adulto e afirma que a a<strong>do</strong>lescênciaconsiste em uma transição no desenvolvimento entre a infância e a idade adulta,que envolve grandes e interligadas mudanças físicas, cognitivas e psic<strong>os</strong>sociais. É aamplitude de tempo entre a meninice e o esta<strong>do</strong> adulto. A a<strong>do</strong>lescência dura quaseuma década, aproximadamente <strong>do</strong>s 12 ou 13 an<strong>os</strong> até o início <strong>do</strong>s 20 an<strong>os</strong> e iniciasena puberdade, o processo que leva à maturidade sexual, ou fertilidade – acapacidade de reprodução.Há algum tempo, a a<strong>do</strong>lescência era considerada meramente uma etapa detransição entre a infância e a idade adulta e sua caracterização era feita a partir <strong>do</strong>s<strong>com</strong>emorativ<strong>os</strong> biológic<strong>os</strong> que marcavam esse momento evolutivo <strong>do</strong> ser humano.Nas últimas décadas, contu<strong>do</strong>, a a<strong>do</strong>lescência vem sen<strong>do</strong> considerada o momentocrucial <strong>do</strong> desenvolvimento <strong>do</strong> indivíduo, aquele que marca não só a aquisição daimagem corporal definitiva <strong>com</strong>o também a estruturação final da personalidade. Éuma idade não só <strong>com</strong> características biológicas próprias, mas <strong>com</strong> uma psicologiae até mesmo uma sociologia peculiar, <strong>com</strong>o n<strong>os</strong> pontua Osório (1989).Bee (1996), destaca que o início da a<strong>do</strong>lescência é, quase por definição, uma épocade transição, uma época em que existem mudanças significativas em quase to<strong>do</strong>s<strong>os</strong> aspect<strong>os</strong> <strong>do</strong> funcionamento da criança. O final da a<strong>do</strong>lescência é mais umaépoca de consolidação, quan<strong>do</strong> o jovem estabelece uma nova identidade coesa,<strong>com</strong> objetiv<strong>os</strong> e <strong>com</strong>promiss<strong>os</strong> de papel mais clar<strong>os</strong>.Paláci<strong>os</strong> é bem determinante ao descrever a a<strong>do</strong>lescência:


31C<strong>os</strong>tumam<strong>os</strong> entender a<strong>do</strong>lescência <strong>com</strong>o a etapa que se estende, agr<strong>os</strong>so mo<strong>do</strong>, <strong>do</strong>s 12-13 an<strong>os</strong> até aproximadamente o final da segundadécada da vida. Trata-se de uma etapa de transição, na qual não se émais criança, mas ainda não se tem o status de adulto (PALÁCIOS,1995, p.263).De acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> Rappaport (1982), a a<strong>do</strong>lescência é caracterizada <strong>com</strong>o perío<strong>do</strong> deorganização final das aquisições, a a<strong>do</strong>lescência atualiza e reflete todas as crises edificuldades conquistadas no processo de desenvolvimento. Momento ambíguo, deaquisições e de perdas, é necessário que as etapas anteriores tenham si<strong>do</strong>adequadamente vividas, <strong>para</strong> que as perdas se elaborem no plano simbólico, semameaçar a estrutura real. O corpo de infância é perdi<strong>do</strong>. A elaboração <strong>do</strong> luto devepermitir preservar internamente a imagem de uma infância valorizada, quesimultaneamente so<strong>br</strong>evive <strong>com</strong>o processo de construção e é perdida <strong>com</strong>orealidade passada. Não haverá mais a proteção dada pel<strong>os</strong> pais durante a infância,mas a proteção que eles deram permitiu crescer, e é a segurança <strong>do</strong> crescimentoque permitirá ao a<strong>do</strong>lescente deixar a casa paterna <strong>para</strong> assumir o rol adulto.Sprinthall (2003) destaca que o crescimento durante a a<strong>do</strong>lescência engloba umaação <strong>com</strong>binada entre as nítidas modificações biológicas, sociais e cognitivas <strong>do</strong>sindivídu<strong>os</strong>, e <strong>os</strong> context<strong>os</strong> ou <strong>do</strong>míni<strong>os</strong>, n<strong>os</strong> quais eles experienciam as exigências eoportunidades que afetam o seu desenvolvimento psicológico. À medida que <strong>os</strong>indivídu<strong>os</strong> se tornam física e intelectualmente madur<strong>os</strong>, eles são coloca<strong>do</strong>s emníveis diferentes, <strong>com</strong>o por exemplo, em escolas intermediárias ao invés de escolaselementares.O autor destaca ainda que <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes são mais livres <strong>para</strong> passar mais tempo<strong>com</strong> outr<strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes e, uma parte menor desse tempo é passada em casa, <strong>com</strong>


32a família. Frequentemente, pode experenciar uma gama mais vasta de influências(por exemplo, música e filmes <strong>para</strong> a<strong>do</strong>lescentes). Enfim, tanto as modificaçõesindividuais <strong>com</strong>o as condições e oportunidades sociais que <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentesencontram influenciam as experiências da a<strong>do</strong>lescência e de desenvolvimentofuturo.Segun<strong>do</strong> Nascimento (2003), as concepções so<strong>br</strong>e a a<strong>do</strong>lescência, embora <strong>com</strong>algumas nuanças de diferenças entre si, evidenciam que ela é um momento de crisede transformações que culminam <strong>com</strong> um processo de construção da identidade,diferencia<strong>do</strong> <strong>do</strong> processo anterior ocorri<strong>do</strong> na infância. Neste processo novasbuscas, papéis, escolhas e relações se estruturam, o que provoca, em grande parte<strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes, ansiedade, me<strong>do</strong> e insegurança.Erikson (1987), um <strong>do</strong>s precursores n<strong>os</strong> estu<strong>do</strong>s so<strong>br</strong>e a<strong>do</strong>lescência é conheci<strong>do</strong><strong>com</strong>o “o autor que deu à a<strong>do</strong>lescência uma crise de identidade”. O autor destacaque a a<strong>do</strong>lescência representa uma importante descontinuidade no processo decrescimento. Dessa forma, ele considerou um <strong>do</strong>s seus pont<strong>os</strong> crític<strong>os</strong>, ou seja, aresolução da crise da identidade pessoal, <strong>com</strong>o a principal tarefa deste estágio.Destaca-se que o conceito que p<strong>os</strong>suím<strong>os</strong> <strong>do</strong> eu, a forma <strong>com</strong>o n<strong>os</strong> vem<strong>os</strong> e omo<strong>do</strong> <strong>com</strong>o som<strong>os</strong> vist<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> outr<strong>os</strong>, constitui a base da n<strong>os</strong>sa personalidadeadulta. Dessa forma, se esse alicerce for firme e forte, dele resultará uma sólidaidentidade pessoal. Essa formação da identidade é encarada <strong>com</strong>o um processointegra<strong>do</strong>r destas transformações pessoais, das exigências sociais e dasexpectativas em relação ao futuro e envolve “a criação de um senti<strong>do</strong> de unicidade;


33a unidade da personalidade é sentida, agora, pelo indivíduo e reconhecida pel<strong>os</strong>outr<strong>os</strong>, <strong>com</strong>o ten<strong>do</strong> uma certa consistência ao longo <strong>do</strong> tempo – <strong>com</strong>o se f<strong>os</strong>se, porassim dizer, um fato histórico irreversível.”Segun<strong>do</strong> Erikson (1987), a a<strong>do</strong>lescência é, geralmente, considerada o momentoótimo <strong>para</strong> a formação da identidade – a consciência <strong>do</strong> eu – que engloba, quer ahistória passada <strong>do</strong> indivíduo, quer as capacidades necessárias a uma vidapsicológica saudável na idade adulta. Na a<strong>do</strong>lescência, o rápi<strong>do</strong> e vastodesenvolvimento físico, a modificação das expectativas que <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> têm emrelação ao <strong>com</strong>portamento e a<strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong> futur<strong>os</strong> <strong>do</strong> indivíduo e a maturação dascapacidades <strong>para</strong> raciocinar acerca <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> das coisas, <strong>do</strong>s aconteciment<strong>os</strong>, daspessoas e das relações, p<strong>os</strong>sibilitam a obtenção de uma maior quantidade evariedade de informações, so<strong>br</strong>e o presente e o futuro. É esta expl<strong>os</strong>ão deinformação e as próprias reações emocionais <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes a tu<strong>do</strong> isso que dãoorigem à impressão de que a a<strong>do</strong>lescência é, inevitavelmente, um perío<strong>do</strong> de crisede identidade.Piaget (1989), n<strong>os</strong> pontua que ao <strong>com</strong><strong>para</strong>r uma criança e um a<strong>do</strong>lescente, oa<strong>do</strong>lescente deve ser visto <strong>com</strong>o um indivíduo que constrói sistemas e “teorias”,enquanto que a criança não constrói sistemas, ela <strong>os</strong> tem inconscientemente ou préconscientemente,Por volta <strong>do</strong>s onze a <strong>do</strong>ze an<strong>os</strong> efetua-se uma transformação fundamental nopensamento da criança, que marca o término das operações construídas durante asegunda infância; é a passagem <strong>do</strong> pensamento concreto <strong>para</strong> o “formal”. Até esta


34idade, as operações da inteligência infantil são, unicamente, concretas, isto é, só sereferem à própria realidade e em particular a<strong>os</strong> objet<strong>os</strong> tangíveis, suscetíveis deserem manipula<strong>do</strong>s e submeti<strong>do</strong>s a experiências efetivas, por volta <strong>do</strong>s 11 a 12an<strong>os</strong>, se torna p<strong>os</strong>sível a construção <strong>do</strong>s sistemas que caracterizam a a<strong>do</strong>lescência.As operações formais fornecem ao pensamento um novo poder, que consiste emdestacá-lo e libertá-lo <strong>do</strong> real, permitin<strong>do</strong>-lhe assim, construir a seu mo<strong>do</strong> asreflexões e teorias. Esta é uma das novidades essenciais que opõe a a<strong>do</strong>lescência àinfância: a livre atividade da reflexão espontânea.Segun<strong>do</strong> Faria (1989), em <strong>para</strong>lelo <strong>com</strong> a elaboração das operações formais e <strong>com</strong>o término das construções <strong>do</strong> pensamento, a vida afetiva <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente afirma-sepor meio da dupla conquista da personalidade e de sua inserção na sociedadeadulta.Além da construção das estruturas de pensamento, ocorre a formação da afetividadeque, nesta fase, consiste na conquista da personalidade e de sua participação nasociedade adulta. Essa é a característica fundamental da a<strong>do</strong>lescência, a integração<strong>do</strong> indivíduo na sociedade adulta e o critério <strong>para</strong> determinar o seu início é sóciocultural,pois se baseia principalmente na transição <strong>social</strong>. Essa integração <strong>do</strong>a<strong>do</strong>lescente ao meio <strong>social</strong> <strong>do</strong> adulto supõe uma reestruturação da personalidade erequer nov<strong>os</strong> instrument<strong>os</strong>: intelectuais e afetiv<strong>os</strong>.Na verdade é difícil encontrar um consenso na literatura <strong>para</strong> se definir a faixa etáriacaracterística da a<strong>do</strong>lescência e inclusive em muitas sociedades essa faixa etáriasequer é caracterizada ou percebida, conforme constata<strong>do</strong> nas pesquisas daantropóloga Mead (1928), n<strong>os</strong> an<strong>os</strong> 20, seus estu<strong>do</strong>s <strong>com</strong> a<strong>do</strong>lescentes nativ<strong>os</strong> da


35ilha de Samoa, demonstraram que a a<strong>do</strong>lescência na sociedade de Samoa, longe deser um perío<strong>do</strong> de agitação e tensão, era um agradável momento da vida.Watarai (2005) destaca que mesmo se n<strong>os</strong> limitarm<strong>os</strong> ao ocidente, esse limite deidade <strong>para</strong> classificar crianças, a<strong>do</strong>lescentes e jovens é difícil de ser estabeleci<strong>do</strong>.Tomar-se-a então o critério nacional estabeleci<strong>do</strong> pelo Estatuto da Criança e <strong>do</strong>A<strong>do</strong>lescente - ECA (1990) <strong>com</strong>o nortea<strong>do</strong>r <strong>do</strong> presente <strong>trabalho</strong>, que situa aa<strong>do</strong>lescência na faixa etária que vai de 12 a 18 an<strong>os</strong> in<strong>com</strong>plet<strong>os</strong> e que também é oa<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> pela instituição onde a pesquisa foi realizada.Dessa forma, pode-se observar um consenso entre <strong>os</strong> autores de que aa<strong>do</strong>lescência se caracteriza <strong>com</strong>o um perío<strong>do</strong> de transição da infância <strong>para</strong> a vidaadulta, de muitas mudanças físicas e psíquicas e onde se vive um constantequestionamento, não se é criança e não se é adulto. Essa fase irá coincidir <strong>com</strong> aconstrução de uma nova identidade mais coesa, <strong>com</strong> papéis mais clar<strong>os</strong> e maisdefini<strong>do</strong>s <strong>social</strong>mente. É <strong>com</strong>um nessa fase o a<strong>do</strong>lescente buscar experiênciasnovas <strong>com</strong> outras pessoas de fora <strong>do</strong> seu grupo familiar, <strong>para</strong> diversão,relacionamento amor<strong>os</strong>o e até <strong>trabalho</strong>.Faw (1981) destaca a preocupação <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente em se relacionar <strong>com</strong> seuspares, ao dizer que o grupo de pares é mais importante durante a a<strong>do</strong>lescência <strong>do</strong>que em qualquer outro estágio <strong>do</strong> desenvolvimento. Este fato decorre de quatrocaracterísticas <strong>do</strong>s an<strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes.


361. O a<strong>do</strong>lescente está procuran<strong>do</strong> independência e precisa romper <strong>os</strong> laç<strong>os</strong> <strong>com</strong><strong>os</strong> pais e a família <strong>para</strong> que p<strong>os</strong>sa conseguir o que deseja.2. Os relacionament<strong>os</strong> <strong>com</strong> <strong>os</strong> pares são <strong>os</strong> protótip<strong>os</strong> <strong>do</strong>s relacionament<strong>os</strong>adult<strong>os</strong> madur<strong>os</strong>; assim, servem <strong>com</strong>o um campo de provas <strong>para</strong> odesenvolvimento de habilidades sociais adultas.3. O a<strong>do</strong>lescente necessita de um confidente <strong>com</strong> quem p<strong>os</strong>sa falar a respeitodas experiências que teve.4. Embora em um esta<strong>do</strong> fluí<strong>do</strong> de mudança, o a<strong>do</strong>lescente ainda procuraestabilidade. O grupo de pares pode atender a esta necessidade.Vê-se então <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes se relacionarem <strong>com</strong> grup<strong>os</strong> de sua faixa etária,buscan<strong>do</strong> resp<strong>os</strong>ta <strong>para</strong> suas dúvidas, troca de experiência e até conforto <strong>para</strong> seusansei<strong>os</strong>, em uma tentativa de amenizar todas essas mudanças pelas quais eles têmque passar <strong>para</strong> alcançar um grau maior de amadurecimento.A verdade é que são pouc<strong>os</strong> <strong>os</strong> adult<strong>os</strong> que relatam terem vivi<strong>do</strong> uma a<strong>do</strong>lescênciatranqüila, na n<strong>os</strong>sa sociedade é muito mais <strong>com</strong>um as pessoas descreverem aa<strong>do</strong>lescência <strong>com</strong>o porta<strong>do</strong>ra de muitas dúvidas e sofrimento: por amor, porinsatisfação <strong>com</strong> a aparência, por in<strong>com</strong>preensão, pelas regras imp<strong>os</strong>tas pel<strong>os</strong> paisou ainda pela dependência, e uma forma <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente tentar mudar essadependência é buscan<strong>do</strong> emprego, <strong>para</strong> ter <strong>com</strong>o se manter financeiramente e atése sentir mais amadureci<strong>do</strong> e porque não dizer, valoriza<strong>do</strong>.


372.2 TrabalhoDestaca-se o quanto é importante notar o caráter histórico deste fenômeno,segun<strong>do</strong> Gorz (2003), nas sociedades pré-modernas européias o <strong>trabalho</strong> chegava aser considera<strong>do</strong> <strong>com</strong>o um princípio de exclusão. Essa necessidade que tem ohomem de produzir sua subsistência <strong>com</strong> o “suor <strong>do</strong> seu r<strong>os</strong>to”, <strong>com</strong> efeito, jamaisfoi o fator de integração <strong>social</strong>, aqueles que o realizavam, principalmente <strong>os</strong>escrav<strong>os</strong>, eram considera<strong>do</strong>s inferiores, <strong>com</strong>o se pertencessem ao reino natural, nãoao reino humano, <strong>os</strong> trabalha<strong>do</strong>res estavam submeti<strong>do</strong>s à necessidade e eramconsidera<strong>do</strong>s incapazes de elevação <strong>do</strong> espírito e de tu<strong>do</strong> aquilo que habilitava aocupar-se <strong>do</strong>s assunt<strong>os</strong> da política.Como o demonstra Arendt (2005), o <strong>trabalho</strong> necessário à satisfação dasnecessidades vitais era, na Antiguidade, uma ocupação servil, que excluía dacidadania (isto é, da participação na Cidade) aqueles que o realizavam. O <strong>trabalho</strong>era indigno <strong>do</strong> cidadão, não porque f<strong>os</strong>se reserva<strong>do</strong> às mulheres e a<strong>os</strong> escrav<strong>os</strong>,mas, ao contrário ele era reserva<strong>do</strong> às mulheres e a<strong>os</strong> escrav<strong>os</strong> porque “trabalharera sujeitar-se à necessidade”. E só podia aceitar o assujeitamento aquele que,<strong>com</strong>o o escravo, preferia a vida à liberdade, dan<strong>do</strong> assim m<strong>os</strong>tra <strong>do</strong> espírito servil.Pode-se observar que o <strong>trabalho</strong> estava relaciona<strong>do</strong> a condição <strong>social</strong> <strong>do</strong> indivíduo,à necessidade, servin<strong>do</strong> <strong>para</strong> caracterizar o indivíduo <strong>com</strong>o inferior a<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> e<strong>com</strong>o inseri<strong>do</strong> em uma condição <strong>social</strong> que a ele não era da<strong>do</strong> o direito ou opção demudar. O <strong>trabalho</strong> p<strong>os</strong>suía um senti<strong>do</strong> negativo e podava o indivíduo de sualiberdade.


38Dessa forma, Sottilli (2000) concorda quan<strong>do</strong> diz que partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> conceito de<strong>trabalho</strong>, que, na antiguidade, remetia fundamentalmente às tarefas desempenhadaspel<strong>os</strong> escrav<strong>os</strong>; e atravessan<strong>do</strong> a época clássica, em que ele aparece liga<strong>do</strong>centralmente às prestações <strong>do</strong>s serv<strong>os</strong>, a concepção <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> se moderniza,atravessan<strong>do</strong> um perío<strong>do</strong> de qualificação artesanal.Assim <strong>com</strong>o n<strong>os</strong> confirma Gorz (2003), a maior parte da produção <strong>do</strong> necessário erarealizada na esfera <strong>do</strong>méstica privada (oik<strong>os</strong>), não existia esfera econômica públicano senti<strong>do</strong> que dam<strong>os</strong> hoje ao termo. Cada lar produzia seu próprio alimento, fiava,tecia, fazia sua roupa e produzia seu aquecimento. Não contavam seu tempo (aliás,não sabiam calcular) e viviam conforme duas lógicas: “É preciso o tempo que forpreciso” e “O que basta é quanto basta”.Sottilli (2000), destaca que neste último perío<strong>do</strong>, imediatamente anterior à sociedadeindustrial, surgem as generalizações técnicas por ofíci<strong>os</strong>, que vão dar lugar a<strong>os</strong>urgimento da ordem fa<strong>br</strong>il, e, por conseqüência, ao proletaria<strong>do</strong>, ou seja, a<strong>os</strong>trabalha<strong>do</strong>res, tal <strong>com</strong>o <strong>os</strong> conhecem<strong>os</strong> até n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> dias. Hoje, já entra em questão ap<strong>os</strong>ição mesma <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r, <strong>com</strong>o produtor de riqueza, e, a partir de aí, tambémo sistema de valor que, faz pouco tempo, regulava sua p<strong>os</strong>ição <strong>social</strong>.Gorz (2003) ressalta que a idéia contemporânea <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> só surge, efetivamente,<strong>com</strong> o capitalismo manufatureiro. Até o século XVIII, então, o termo “<strong>trabalho</strong>”(labour, arbeit, lavoro) designa a labuta <strong>do</strong>s serv<strong>os</strong> e <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res por jornada,produtores <strong>do</strong>s bens de consumo e <strong>do</strong>s serviç<strong>os</strong> necessári<strong>os</strong> à so<strong>br</strong>evivência que,dia após dia, exigem ser renova<strong>do</strong>s e rep<strong>os</strong>t<strong>os</strong>.


39Como n<strong>os</strong> destaca Braverman (1987), embora a <strong>com</strong>pra e venda de força de<strong>trabalho</strong> exista desde a Antigüidade; até o século XIV não <strong>com</strong>eçara a se constituiruma considerável classe de trabalha<strong>do</strong>res assalaria<strong>do</strong>s na Europa, e ela não setornou numericamente importante até o advento <strong>do</strong> capitalismo industrial; desdeentão, o trabalha<strong>do</strong>r faz o contrato de <strong>trabalho</strong> porque as condições sociais não lhedão outra alternativa <strong>para</strong> ganhar a vida. O emprega<strong>do</strong>r, por outro la<strong>do</strong>, é op<strong>os</strong>sui<strong>do</strong>r de uma unidade de capital que ele se esforça por ampliar e <strong>para</strong> issoconverte parte dele em salári<strong>os</strong>.Desse mo<strong>do</strong> põe-se a funcionar o processo de <strong>trabalho</strong>, visto em geral <strong>com</strong>o umprocesso <strong>para</strong> criar valores, <strong>para</strong> a expansão <strong>do</strong> capital e criação de lucro. Umespaço onde o trabalha<strong>do</strong>r não tem vontade, ansei<strong>os</strong> ou necessidades e é apenasparte de um processo.De acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> Gorz (2003), o <strong>trabalho</strong> <strong>com</strong> finalidade econômica nem sempre foi aatividade humana <strong>do</strong>minante, ele se tornou <strong>do</strong>minante na escala de toda asociedade depois <strong>do</strong> aparecimento <strong>do</strong> capitalismo industrial, há aproximadamenteduzent<strong>os</strong> an<strong>os</strong>. Antes disso, nas sociedades pré-capitalistas que subsistem aindahoje, trabalhava-se muito men<strong>os</strong> que hoje. A tal ponto que <strong>os</strong> primeir<strong>os</strong> industriais,n<strong>os</strong> sécul<strong>os</strong> XVIII e XIX, tinham grandes dificuldades <strong>para</strong> o<strong>br</strong>igar sua mão de o<strong>br</strong>a atrabalhar o dia inteiro.De acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> o referi<strong>do</strong> autor, aquilo que <strong>os</strong> anglo-saxões chamam “a ética <strong>do</strong><strong>trabalho</strong>” e “a sociedade <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>” significa que o <strong>trabalho</strong> é considera<strong>do</strong> ao


40mesmo tempo um dever moral, uma o<strong>br</strong>igação <strong>social</strong> e também a via <strong>para</strong> o sucessoprofissional. A ideologia <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> tem por certo que:• quanto mais cada um trabalha, melhor vivem to<strong>do</strong>s;• aqueles que trabalham pouco, ou aqueles que não trabalham, prejudicam acoletividade e não merecem ser seus mem<strong>br</strong><strong>os</strong>;• quem trabalha <strong>com</strong>o deve é <strong>social</strong>mente um vence<strong>do</strong>r e quem não obtémsucesso é responsável por seu insucesso.Segun<strong>do</strong> Gorz (2003), o que chamam<strong>os</strong> “<strong>trabalho</strong>” é uma invenção da modernidade.A forma sob a qual o conhecem<strong>os</strong> e praticam<strong>os</strong>, aquilo que é o cerne da n<strong>os</strong>saexistência, individual e <strong>social</strong>, foi uma invenção <strong>do</strong> industrialismo. O “<strong>trabalho</strong>”, n<strong>os</strong>enti<strong>do</strong> contemporâneo <strong>do</strong> termo, não se confunde nem <strong>com</strong> <strong>os</strong> afazeres, repeti<strong>do</strong>sdia após dia, necessári<strong>os</strong> à manutenção e à reprodução da vida de cada um; nem<strong>com</strong> o labor, por mais pen<strong>os</strong>o que seja, que um indivíduo realiza <strong>para</strong> cumprir umatarefa da qual ele mesmo e seus próxim<strong>os</strong> serão <strong>os</strong> destinatári<strong>os</strong> e <strong>os</strong> beneficiári<strong>os</strong>;nem <strong>com</strong> o que empreendem<strong>os</strong> por conta própria, sem medir n<strong>os</strong>so tempo eesforço, cuja finalidade só interessa a nós mesm<strong>os</strong> e que ninguém poderia realizarem n<strong>os</strong>so lugar.Em Arendt (2005), encontra-se uma distinção entre labor e <strong>trabalho</strong> bastanteinteressante e esclarece<strong>do</strong>ra, onde labor é defini<strong>do</strong> <strong>com</strong>o correspondente aoprocesso biológico <strong>do</strong> corpo humano, cujo crescimento espontâneo, metabolismo eeventual declínio têm a ver <strong>com</strong> as necessidades vitais produzidas e introduzidaspelo labor no processo de vida, ou seja, a própria vida; já o <strong>trabalho</strong> é visto <strong>com</strong>o a


41atividade correspondente ao artificialismo da existência humana, o <strong>trabalho</strong> produzum mun<strong>do</strong> artificial de coisas e a condição humana <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> é a mundanidade.Assim <strong>os</strong> <strong>do</strong>is autores, Gorz (2003) e Arendt (2005), encontram suas idéias de<strong>trabalho</strong> e labor; onde o <strong>trabalho</strong> e seu produto emprestam certa permanência edurabilidade à futilidade da vida mortal e o labor assegura não apenas aso<strong>br</strong>evivência <strong>do</strong> indivíduo, mas a vida em espécie e por meio <strong>do</strong> labor ele mesmo eseus próxim<strong>os</strong> serão <strong>os</strong> destinatári<strong>os</strong> e <strong>os</strong> beneficiári<strong>os</strong>.Mielnik (1987), ao falar so<strong>br</strong>e a mudança no senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> por meio da história<strong>do</strong> homem, destaca que o <strong>trabalho</strong> já foi considera<strong>do</strong> uma atividade convencional,que visava o sustento biológico da criatura humana (cultivo agrário, artesanato),sen<strong>do</strong> que modernamente o homem atribui ao <strong>trabalho</strong> um significa<strong>do</strong> e importânciaque evoluíram.Dessa forma, o autor esclarece que o <strong>trabalho</strong> torna-se o<strong>br</strong>igatório, <strong>com</strong>o meio erecurso de so<strong>br</strong>evivência, fornecen<strong>do</strong> ao homem uma remuneração, um saláriodestina<strong>do</strong> a prover seu sustento biológico, sua so<strong>br</strong>evivência econômica, umasatisfação psicoemocional profunda e importante, a realização de sua personalidadee uma p<strong>os</strong>ição <strong>social</strong> irrefutável, entre <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> <strong>do</strong> seu grupo <strong>social</strong>; o <strong>trabalho</strong> podese tornar ainda um inconveniente e até mesmo perig<strong>os</strong>o à saúde humana, quan<strong>do</strong>excessivo ou patogênico, acarretan<strong>do</strong> moléstias profissionais ou estressepsicoemocional grave.


42Observam<strong>os</strong> uma mudança <strong>do</strong> valor atribuí<strong>do</strong> ao <strong>trabalho</strong> da antigüidade <strong>para</strong> amodernidade. Na antigüidade o <strong>trabalho</strong> era atribuí<strong>do</strong> a<strong>os</strong> escrav<strong>os</strong> e às mulheres eesses não tinham a opção de aceitá-lo ou não, pois isso estava determina<strong>do</strong> pelasua própria condição, atualmente vem<strong>os</strong> o <strong>trabalho</strong> <strong>com</strong> o senti<strong>do</strong> de integração<strong>social</strong>, algo o<strong>br</strong>igatório a to<strong>do</strong>s e que pode ser mantene<strong>do</strong>r de uma satisfaçãopsic<strong>os</strong><strong>social</strong>, realização pessoal e p<strong>os</strong>ição <strong>social</strong>, não trabalhar na sociedade dehoje tem uma conotação negativa. Tais mudanças no conceito de <strong>trabalho</strong> só vêmn<strong>os</strong> confirmar que qualquer definição depende essencialmente da sociedade, <strong>do</strong>meio cultural e da época em que está inseri<strong>do</strong>.Ribeiro (2004) concorda ao destacar que o <strong>trabalho</strong> precisa estar integra<strong>do</strong> à vida,ter um senti<strong>do</strong>, não pode se restringir a ser um meio de so<strong>br</strong>evivência. O indivíduoprecisa vislum<strong>br</strong>ar a p<strong>os</strong>sibilidade de realização <strong>do</strong>s seus plan<strong>os</strong> e projet<strong>os</strong>,desvincula<strong>do</strong>s <strong>do</strong> mero acesso a bens materiais e suas simbologias. Uma atividadeprofissional que incorpora um significa<strong>do</strong> intrínseco, que tem valor por si mesma,ajudará na construção de uma nova sociabilidade, marcada por valores étic<strong>os</strong>.Tittoni (1994), destaca que o <strong>trabalho</strong> pode ser descrito so<strong>br</strong>e várias classes, elepode ser visto sob a ótica da classe mitológica, lexicográfica, marxista ou ainda daclasse freudiana, onde:a) a mitológica, destaca que o <strong>trabalho</strong> era considera<strong>do</strong> um castigo ou <strong>com</strong>o um atode <strong>br</strong>avura <strong>com</strong>o, respectivamente, no caso <strong>do</strong> Mito de Sísifo e na lenda <strong>do</strong>s <strong>do</strong>ze<strong>trabalho</strong>s de Hércules.


43Gorz (2003), destaca o senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>para</strong> Sísifo que <strong>com</strong>o castigo <strong>do</strong>s deusesrecebeu a tarefa rotineira e mecânica de rolar um roche<strong>do</strong>, se destaca a deplorávelrotina de um labor interminável, em que o mesmo processo mecânico se renova sem<strong>para</strong>r e o peso <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> volta sempre a cair so<strong>br</strong>e o operário esgota<strong>do</strong>.b) a lexicográfica, destaca que a diversidade de senti<strong>do</strong>s adquire diferentes matizes,o <strong>trabalho</strong> implica numa relação <strong>do</strong> homem <strong>com</strong> a natureza nas diversas situaçõescotidianas.c) a marxista, onde o conceito de <strong>trabalho</strong> adquire uma função atual detransformação da natureza e <strong>do</strong> próprio ser humano enquanto ser genérico. Estaidéia de atividade vital é a base <strong>para</strong> a formulação <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> aliena<strong>do</strong>, p<strong>os</strong>to queeste é a se<strong>para</strong>ção da força de <strong>trabalho</strong> e <strong>do</strong> produto <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>.d) a freudiana, segun<strong>do</strong> o qual o <strong>trabalho</strong> representa um meio de relação <strong>do</strong>indivíduo <strong>com</strong> a natureza, de forma a constituir-se por meio de um processo debusca de prazer e evitação <strong>do</strong> sofrimento.Também em Freud, observa-se que o termo <strong>trabalho</strong> registra inúmer<strong>os</strong> níveis deatividades realizadas pelo homem, mas também outras, realizadas no homem.De acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> Iamamoto (2001), o <strong>trabalho</strong>, em sua temporalidade <strong>com</strong>o atividade<strong>do</strong> sujeito, envolve a mobilização de energias físicas e mentais, emoções esentiment<strong>os</strong>. A vivência <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> tem centralidade na vida <strong>do</strong>s indivídu<strong>os</strong> sociais,extrapola o ambiente da produção e se espraia <strong>para</strong> outras dimensões da vida,


44envolven<strong>do</strong> as relações familiares, a fruição <strong>do</strong>s afet<strong>os</strong>, o lazer e o tempo dedescanso, <strong>com</strong>prometen<strong>do</strong> a rep<strong>os</strong>ição das energias físicas e mentais, a duração davida, bem <strong>com</strong>o <strong>os</strong> limites da noite e <strong>do</strong> dia.Analisadas todas essas perspectivas, a autora toma <strong>com</strong>o definição de <strong>trabalho</strong>:Uma p<strong>os</strong>sibilidade de inscrição nas relações sociais e <strong>com</strong>o meiopor meio <strong>do</strong> qual o trabalha<strong>do</strong>r sente-se útil e produzin<strong>do</strong> coisas,consideran<strong>do</strong>-se também as limitações e características <strong>do</strong>processo de <strong>trabalho</strong>. (TITTONI, 1994, p. 25).Gorz (2003) destaca que “por <strong>trabalho</strong>”, habituamo-n<strong>os</strong> a entender uma atividadepaga, cumprida por conta de um terceiro (o emprega<strong>do</strong>r), em vistas de fins que nãoescolhem<strong>os</strong> e segun<strong>do</strong> modalidades e horári<strong>os</strong> fixa<strong>do</strong>s por quem n<strong>os</strong> paga.Dessa forma, vê-se o <strong>trabalho</strong> <strong>com</strong> algo central, que vai além <strong>do</strong> ambiente daempresa e está presente em várias dimensões da n<strong>os</strong>sa vida, nas relações <strong>com</strong> <strong>os</strong>amig<strong>os</strong> e <strong>com</strong> a família, algo que n<strong>os</strong> faz sentir útil, relaciona<strong>do</strong> a um dispêndio deenergia e que n<strong>os</strong> garante um retorno não só financeiro mas <strong>social</strong> e psicológicotambém. Na realidade, nem todas as atividades que realizam<strong>os</strong> são <strong>trabalho</strong> e nemto<strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> é necessariamente remunera<strong>do</strong> financeiramente, dessa forma Gorz(2003) distingue três tip<strong>os</strong> de <strong>trabalho</strong>.1. O <strong>trabalho</strong> <strong>com</strong> finalidade econômica:O <strong>trabalho</strong> que se cumpre em vista de um pagamento. O dinheiro, isto é, a trocamercantil é sua principal finalidade. Trabalha-se, antes de tu<strong>do</strong>, de “ganhar a vida” esó acessoriamente visam<strong>os</strong> <strong>com</strong> ele satisfação ou prazer. A isto chamam<strong>os</strong> <strong>trabalho</strong><strong>com</strong> fins econômic<strong>os</strong>.


452. O <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong>méstico e o <strong>trabalho</strong> <strong>para</strong> si:O <strong>trabalho</strong> que se cumpre, não em vista de uma troca mercantil, mas em vista de umresulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> qual som<strong>os</strong>, diretamente, o principal destinatário e beneficiário. É ocaso, entre outr<strong>os</strong>, <strong>do</strong> “<strong>trabalho</strong> de reprodução”, isto é, <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong>méstico que,dia após dia, garante as bases necessárias imediatas à so<strong>br</strong>evivência: pre<strong>para</strong>r a<strong>com</strong>ida, cuidar da limpeza <strong>do</strong> próprio corpo e da própria casa, pôr no mun<strong>do</strong> e criaras crianças. Este <strong>trabalho</strong> foi e ainda é, em geral, imp<strong>os</strong>to às mulheres, além <strong>do</strong><strong>trabalho</strong> de fins econômic<strong>os</strong> que cumprem.3. A atividade autônoma:Trata-se de todas as atividades vividas <strong>com</strong>o capazes de n<strong>os</strong> aperfeiçoar,enriquece<strong>do</strong>ras, fontes de senti<strong>do</strong> e de alegria: as atividades artísticas, fil<strong>os</strong>óficas,científicas, relacionais, educativas, caritativas, de ajuda mútua e de auto-produção.Todas essas atividades requerem um “<strong>trabalho</strong>”, no senti<strong>do</strong> de esforço, de aplicaçãometódica, mas p<strong>os</strong>suem senti<strong>do</strong> e re<strong>com</strong>pensam tanto quan<strong>do</strong> as cumprim<strong>os</strong>,quanto por seu resulta<strong>do</strong>: formam uma unidade <strong>com</strong> o tempo da vida.Outra contribuição importante, é apontada por Ruffino (2000), que afirma que o<strong>trabalho</strong> é uma atividade exercida por homens e mulheres na realidade histórica,atividade pela qual aqueles que a exercem inscrevem sua marca no mun<strong>do</strong> eexpressam-se nele pela sua assinatura. O autor inclui tanto aquela atividade que omun<strong>do</strong> exige da maioria <strong>do</strong>s homens e mulheres, <strong>com</strong> ou sem pagamento justo,chamada pelo nome de <strong>trabalho</strong>, onde a maioria <strong>do</strong>s human<strong>os</strong> vem ten<strong>do</strong> muitopouco êxito ao longo da história, quanto uma outra classe de atividade decidida e


46conscientemente intencionada que, apesar de metodicamente organizada, <strong>os</strong> que arealizam não a fariam se nelas não tivessem investi<strong>do</strong> muita paixão e onde, nãoobstante o <strong>com</strong>promisso, <strong>os</strong> pouc<strong>os</strong> que a essa classe de <strong>trabalho</strong> se dedicam, nemsempre dele podem extrair prestígio e menor ainda é o número <strong>do</strong>s que delaextraem o sustento.Dessa forma pode-se observar que o conceito de <strong>trabalho</strong> vai muito além daqueleremunera<strong>do</strong> e <strong>com</strong> tempo determina<strong>do</strong> que serve <strong>para</strong> suprir as necessidadesfinanceiras, o conceito de <strong>trabalho</strong> se expande <strong>para</strong> a realização e o bem-estarpessoal e se estende também <strong>para</strong> aquele <strong>trabalho</strong> que é volta<strong>do</strong> <strong>para</strong> o próprioindivíduo e <strong>para</strong> a sua família.Mielnik (1987) ao falar de <strong>trabalho</strong> destaca o significa<strong>do</strong> psicoemocional que esseexerce sob o indivíduo, ressaltan<strong>do</strong> que é necessário que se considerem algumasfunções <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>. A primeira dessas funções, e a mais importante, considera oaspecto da so<strong>br</strong>evivência individual: o <strong>trabalho</strong> atende às necessidades biológicasde manutenção, <strong>com</strong>o nutrição, a<strong>br</strong>igo e proteção, tratamento médico, lazer,moradia, vestuário e outras necessidades igualmente básicas, <strong>com</strong>o a manutençãoda família.Uma segunda função é representada pelo fato <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> proporcionar ao indivíduoa aprovação <strong>social</strong> de seus <strong>com</strong>panheir<strong>os</strong> de grupo <strong>social</strong>. Essa aprovação ereconhecimento constituem uma fonte de satisfação especial, que acrescenta muitoao status de quem trabalha, <strong>com</strong>o elemento útil, <strong>com</strong>petente e ativo.


47Em terceiro lugar, a atividade humana alivia as tensões emocionais, constituin<strong>do</strong>-senuma válvula de escoamento de energias, uma derivação <strong>para</strong> as emoçõesacumuladas e que, reprimidas, poderiam neurotizar e traumatizar o indivíduo.Em quarto lugar, o <strong>trabalho</strong> estimula n<strong>os</strong>sa imaginação e ativa a criatividade, agin<strong>do</strong>poder<strong>os</strong>amente <strong>com</strong>o fonte de expressão de n<strong>os</strong>sa produtividade, inclusive de formainconsciente. Finalmente, o <strong>trabalho</strong> condiciona o progresso e bem estar human<strong>os</strong>.Complementan<strong>do</strong> <strong>com</strong> uma afirmação de Iamamoto (2001), pode-se dizer ainda queoutra caracaterística <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> está em que o ser que trabalha constróii <strong>para</strong> si,por meio de sua atividade, mo<strong>do</strong>s de agir e de pensar, ou seja, uma maneiraespecificamente humana de se relacionar <strong>com</strong> as circunstâncias objetivamenteexistentes, delas se aproprian<strong>do</strong> ten<strong>do</strong> em vista a consecução de fins prop<strong>os</strong>t<strong>os</strong> pel<strong>os</strong>ujeito na criação de objet<strong>os</strong> capazes de desempenhar funções sociais e valores.Observa-se assim, o quanto o conceito de <strong>trabalho</strong> se ampliou na história dahumanidade, deixou de ser apenas um prove<strong>do</strong>r das necessidades básicas, algomaçante e relaciona<strong>do</strong> ao sacrifício e atualmente pode ser visto <strong>com</strong>o facilita<strong>do</strong>r deuma gratificação pessoal e <strong>social</strong>, é claro que muitas funções ainda estãorelacionadas a um grande sacrifício físico, mas mesmo <strong>para</strong> essas funções o<strong>trabalho</strong> pode ser visto <strong>com</strong>o sinônimo de esforço e realização pessoal.De acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> Leite (2003), as novas características que o <strong>trabalho</strong> vem assumin<strong>do</strong>na sociedade atual apontam <strong>para</strong> uma realidade extremamente <strong>com</strong>plexa emultifacetada, na qual convivem experiências muito diferentes, que assinalam


48senti<strong>do</strong>s divers<strong>os</strong>, quan<strong>do</strong> não totalmente op<strong>os</strong>t<strong>os</strong>. Tais características vêm seafirman<strong>do</strong> no contexto das profundas transformações por que vem passan<strong>do</strong> aeconomia mundial e também caracterizan<strong>do</strong> o <strong>trabalho</strong> <strong>com</strong> o crescimento <strong>do</strong>desemprego, precarização <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> e <strong>do</strong>s víncul<strong>os</strong> empregatíci<strong>os</strong>, diminuição <strong>do</strong>ssalári<strong>os</strong>, aumento assusta<strong>do</strong>r da instabilidade, enfim, uma elevação <strong>br</strong>utal, dasdesigualdades e da exclusão <strong>social</strong>, num processo de profunda regressão emterm<strong>os</strong> sociais, ainda que existam setores de trabalha<strong>do</strong>res que p<strong>os</strong>sam estar delese benefician<strong>do</strong>.Ainda dentro dessa dimensão indivíduo / sociedade, o <strong>trabalho</strong> é capaz de participarda vida de uma pessoa no aspecto emocional, pois:Atinge o indivíduo de maneira a lhe proporcionar afeto, noção depertencer ao grupo, <strong>com</strong>panhia <strong>do</strong>s outr<strong>os</strong>, realização, novasexperiências, segurança e, ainda, <strong>com</strong>o fator de otimismo <strong>com</strong> opróprio <strong>trabalho</strong> realiza<strong>do</strong>. Como elemento de satisfação <strong>social</strong>, o<strong>trabalho</strong> contribui <strong>para</strong> a integração <strong>social</strong>, entr<strong>os</strong>an<strong>do</strong> o indivíduono seu ambiente de <strong>trabalho</strong> <strong>com</strong> <strong>os</strong> colegas de serviço econtribuin<strong>do</strong>, ainda, <strong>para</strong> que se considere aceito e fazen<strong>do</strong> parte,socioculturalmente, <strong>do</strong> grupo e da equipe de <strong>trabalho</strong>. (MIELNIK,1987, p. 279).Observa-se ainda que de acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> Braverman (1987), o <strong>trabalho</strong>, <strong>com</strong>o to<strong>do</strong>s <strong>os</strong>process<strong>os</strong> vitais e funções <strong>do</strong> corpo, é uma propriedade inalienável <strong>do</strong> indivíduohumano. Múscul<strong>os</strong> e cére<strong>br</strong><strong>os</strong> não podem ser se<strong>para</strong><strong>do</strong>s de pessoas que <strong>os</strong>p<strong>os</strong>suem; não se pode <strong>do</strong>tar alguém <strong>com</strong> sua própria capacidade <strong>para</strong> o <strong>trabalho</strong>,seja a que preço for, assim <strong>com</strong>o não se pode <strong>com</strong>er, <strong>do</strong>rmir ou ter relações sexuaisem lugar de outra pessoa. Deste mo<strong>do</strong>, na troca, o trabalha<strong>do</strong>r não entrega aocapitalista a sua capacidade <strong>para</strong> o <strong>trabalho</strong>. O trabalha<strong>do</strong>r a retém, e o capitalistasó pode obter vantagem na barganha se fixar o trabalha<strong>do</strong>r no <strong>trabalho</strong>.Compreende-se claramente que <strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> vali<strong>os</strong><strong>os</strong> ou produt<strong>os</strong> <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>


49pertencem ao capitalista. O que o trabalha<strong>do</strong>r vende e o que o capitalista <strong>com</strong>pranão é uma quantidade contratada de <strong>trabalho</strong>, mas a força <strong>para</strong> trabalhar por umperío<strong>do</strong> de tempo. Esta incapacidade de <strong>com</strong>prar <strong>trabalho</strong>, que é uma função físicae mental inalienável, e a necessidade de <strong>com</strong>prar a força <strong>para</strong> executá-lo é tãorepleta de conseqüências <strong>para</strong> to<strong>do</strong> o mo<strong>do</strong> capitalista de produção que deve serestudada mais de perto.Mas talvez a característica mais importante desse <strong>trabalho</strong> - que “tem-se”, “procurase”,“oferece-se”- é segun<strong>do</strong> Gorz (2003) o fato <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> ser uma atividade que serealiza na esfera pública, solicitada, definida e reconhecida útil por outr<strong>os</strong> além denós e, a este título, remunerada. É pelo <strong>trabalho</strong> remunera<strong>do</strong> (mais particularmente,pelo <strong>trabalho</strong> assalaria<strong>do</strong>) que pertencem<strong>os</strong> à esfera pública, adquirim<strong>os</strong> umaexistência e uma identidade sociais (isto é, uma “profissão”), inserimo-n<strong>os</strong> em umarede de relações e de intercâmbi<strong>os</strong>, onde a outr<strong>os</strong> som<strong>os</strong> equi<strong>para</strong><strong>do</strong>s e so<strong>br</strong>e <strong>os</strong>quais vem<strong>os</strong> conferi<strong>do</strong>s cert<strong>os</strong> direit<strong>os</strong>, em troca de cert<strong>os</strong> deveres. O <strong>trabalho</strong><strong>social</strong>mente remunera<strong>do</strong> e determina<strong>do</strong> – mesmo <strong>para</strong> aqueles e aquelas que oprocuram, <strong>para</strong> aqueles que a ele se pre<strong>para</strong>m ou <strong>para</strong> aqueles a quem falta<strong>trabalho</strong> – é, de longe, o fator mais importante da <strong>social</strong>ização. Por isso, a sociedadeindustrial pode perceber a si mesma <strong>com</strong>o uma “sociedade de trabalha<strong>do</strong>res”,distinta de todas as demais que a precederam.Concluin<strong>do</strong>, sem dúvida pode-se observar que o <strong>trabalho</strong> pode trazer muit<strong>os</strong> ganh<strong>os</strong><strong>para</strong> o indivíduo, p<strong>os</strong>itiv<strong>os</strong> e até negativ<strong>os</strong>; financeir<strong>os</strong>, de realização pessoal quemexam <strong>com</strong> a sua auto-estima e <strong>com</strong> o seu sentimento de utilidade e valorizaçãodiante da sua família ou <strong>do</strong> seu grupo de amig<strong>os</strong>. Se o <strong>trabalho</strong> é importante <strong>para</strong>um adulto, imagine então o que significa o <strong>trabalho</strong> <strong>para</strong> um a<strong>do</strong>lescente, um


50indivíduo em formação, que ainda não tem uma profissão estabelecida mas que poroutro la<strong>do</strong> precisa <strong>do</strong> salário que ganha, por meio <strong>do</strong> seu <strong>trabalho</strong>, <strong>para</strong> se manter emuitas vezes <strong>para</strong> manter a família; um indivíduo que ainda que não tem experiênciaprofissional, não tem <strong>os</strong> estu<strong>do</strong>s concluí<strong>do</strong>s e muito men<strong>os</strong> sua personalidadeformada.2. 3 O <strong>trabalho</strong> na vida <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescenteDiante de tantas dúvidas: a respeito de seu corpo, seus interesses e suapersonalidade, vê-se esse a<strong>do</strong>lescente procurar independência e buscar romper <strong>os</strong>laç<strong>os</strong> <strong>com</strong> <strong>os</strong> pais e se reafirmar diante de seu grupo, em fim, buscar uma ocupaçãono merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>.Nascimento (2003), destaca que o crescimento anual da geração de a<strong>do</strong>lescentesfortalece a afirmação de que o Brasil é um país jovem e justifica a retomada, n<strong>os</strong>últim<strong>os</strong> an<strong>os</strong>, de discussões em torno <strong>do</strong> tema A<strong>do</strong>lescência, <strong>com</strong> a preocupação de<strong>com</strong>preender quem são estes sujeit<strong>os</strong>-a<strong>do</strong>lescentes que em cada geraçãodesenvolvem estil<strong>os</strong> de vida, <strong>com</strong>portament<strong>os</strong> peculiares e buscam de forma radicalquestionar regras e valores vigentes, e em quais condições vivem, o que pensam, oque sentem e <strong>com</strong>o agem em relação às suas vidas e a seus projet<strong>os</strong> de futuro.Introduzin<strong>do</strong> <strong>os</strong> temas <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong> e a<strong>do</strong>lescência, observa-se que empesquisa divulgada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estu<strong>do</strong>sSocioeconômic<strong>os</strong> (Dieese), em 2001, destaca-se a difícil situação <strong>do</strong>s jovens(trabalha<strong>do</strong>res entre 16 e 24 an<strong>os</strong>) 60% <strong>do</strong>s quais se encontram no merca<strong>do</strong> de


51<strong>trabalho</strong> “na condição de desocupa<strong>do</strong>s”. A análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s revela que a inserção<strong>do</strong>s jovens tem forte característica de precariedade, <strong>com</strong> presença significativa deindivídu<strong>os</strong> ocupa<strong>do</strong>s sem contrato de <strong>trabalho</strong> e proteção da legislação trabalhista.O quadro de precariedade<strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> juvenil se <strong>com</strong>pleta <strong>com</strong> <strong>os</strong> baix<strong>os</strong>rendiment<strong>os</strong>, em média entre 38,3% e 55,6% <strong>do</strong> rendimento médio mensal <strong>do</strong> total<strong>do</strong>s ocupa<strong>do</strong>s <strong>com</strong> mais de 16 an<strong>os</strong> nas diferentes regiões estudadas. Já empesquisa mais recente, datada de 14/09/06, 45,5% <strong>do</strong> total de desemprega<strong>do</strong>s<strong>br</strong>asileir<strong>os</strong> têm entre 16 e 24 an<strong>os</strong>. O levantamento, feito <strong>com</strong> númer<strong>os</strong> de 2005,identificou 3,241 milhões de desemprega<strong>do</strong>s no Distrito Federal e nas regiõesmetropolitanas de São Paulo (SP), Porto Alegre (RS), Belo Horizonte (MG), Recife(PE) e Salva<strong>do</strong>r (BA).Para o Dieese, faltam oportunidades <strong>para</strong> jovens no merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>. Segun<strong>do</strong>o órgão, essa faixa etária tem uma taxa de desemprego de quase o triplo dasdemais. O estu<strong>do</strong> m<strong>os</strong>tra a fragilidade <strong>do</strong>s jovens, principalmente de baixa renda.São necessárias políticas públicas que permitam que o jovem continue a estudar eaumente sua escolaridade antes de ingressar no merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>.Segun<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s da Rede de Informação Tecnológica Latino Americana – RITLA,divulga<strong>do</strong>s na recente reportagem <strong>do</strong> jornal O Globo (dezem<strong>br</strong>o de 2007), são quasesete milhões de <strong>br</strong>asileir<strong>os</strong> <strong>com</strong> idade entre 15 e 24 an<strong>os</strong>, o equivalente a 19% dapopulação nessa faixa etária, que não estuda e não trabalha, um equivalente de umem cada cinco jovens.


52Pereira (1994) destaca que, historicamente o <strong>trabalho</strong> sempre esteve presente navida das crianças e a<strong>do</strong>lescentes das camadas populares mais baixas. Tal fatopode ser observa<strong>do</strong> n<strong>os</strong> divers<strong>os</strong> moment<strong>os</strong> históric<strong>os</strong> que, independentemente <strong>do</strong>grau de desenvolvimento <strong>do</strong> capitalismo e <strong>do</strong> avanço científico e tecnológico,encontram as mais variadas formas <strong>para</strong> a sua continuidade. O modelo pelo qual seorganiza a sociedade <strong>br</strong>asileira gera desigualdades e impede a criação demecanism<strong>os</strong> que revertam o processo de concentração da renda e da propriedade.Na verdade, o que muda no tempo, é a proporção da demanda e da oferta, asformas de inserção no merca<strong>do</strong> e as próprias condições de <strong>trabalho</strong> destina<strong>do</strong> aeste segmento. A po<strong>br</strong>eza, persistente na história da humanidade, leva <strong>os</strong> adult<strong>os</strong> alançarem mão de seus filh<strong>os</strong> nas estratégias de so<strong>br</strong>evivência <strong>do</strong> grupo familiar e omerca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong> oferece espaç<strong>os</strong> e até incentiva a incorporação dessa mão-deo<strong>br</strong>a.Mas não se deve esquecer que o Brasil tem uma longa história de exploração demão-de-o<strong>br</strong>a e não seria diferente <strong>com</strong> a mão-de-o<strong>br</strong>a infantil. As crianças po<strong>br</strong>essempre trabalharam <strong>para</strong> manterem a si e as sua famílias.Ram<strong>os</strong> (1999) ressalta que a referência mais antiga que se encontra na história <strong>do</strong>n<strong>os</strong>so país ao <strong>trabalho</strong> infanto-juvenil, data <strong>do</strong> século XVI, onde oficiais faziamembarcar seus própri<strong>os</strong> parentes <strong>com</strong>o pagens, sublinhan<strong>do</strong> o prestígio da classe ea p<strong>os</strong>sibilidade de ascensão a<strong>os</strong> mais alt<strong>os</strong> carg<strong>os</strong>. As crianças embarcadas porseus próxim<strong>os</strong> tinham a função básica de aprendizes, eram ajudantes n<strong>os</strong> navi<strong>os</strong>que saiam da Europa e vinham <strong>para</strong> o Brasil, sen<strong>do</strong> submeti<strong>do</strong>s a toda sorte deperig<strong>os</strong>, maus trat<strong>os</strong>, humilhações, abus<strong>os</strong> e passan<strong>do</strong> por sérias necessidades,


53inclusive uma grande quantidade dessas crianças e a<strong>do</strong>lescentes não so<strong>br</strong>eviviamàs longas viagens marítimas e pereciam.De acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> Meira (2000), no século XVII o <strong>trabalho</strong> infantil era facilmenteobserva<strong>do</strong> n<strong>os</strong> setores rurais ou nas manufaturas, o que teve um considerávelincremento <strong>com</strong> a sociedade industrial.Observa-se que no século XVIII, a sorte das crianças ainda não era muito diferente,<strong>com</strong>o m<strong>os</strong>tra Gorz (1996), ao falar so<strong>br</strong>e as crianças que vinham da AssistênciaPública e eram vendidas pelas autoridades paroquiais <strong>com</strong>o “aprendizes de fá<strong>br</strong>ica”.Essas crianças prestavam serviço por um perío<strong>do</strong> que podia atingir dez an<strong>os</strong> oumais, a fim de poupar ao contribuinte, local e preço de sua alimentação, vestuário esua moradia, esses jovens não tinham a menor p<strong>os</strong>sibilidade de escolha. Aaprendizagem, nessa época não era nova, tal <strong>com</strong>o não era a colocação dascrianças assistidas pelas autoridades paroquiais. Mas no fim <strong>do</strong> século XVIII, ainstituição <strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong> deixara de ser um meio de limitar o acesso a ofíci<strong>os</strong> eprofissões e garantir-lhes o nível. De acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> as exigências da empresacapitalista fa<strong>br</strong>il, a aprendizagem tornara-se um sistema de servidão a longo prazo.À medida que as fá<strong>br</strong>icas iam aparecen<strong>do</strong> tornaram-se freqüentes anúnci<strong>os</strong> <strong>com</strong>oestes: “Aluga-se o <strong>trabalho</strong> de 260 criancas, <strong>com</strong> teares e to<strong>do</strong> o mais necessário <strong>para</strong>tratar o algodão.” (GORZ, 1996, p.72).Em mea<strong>do</strong>s da década de 1870, essa realidade não era muito diferente, é o quedestaca Moura (1999) enfatizan<strong>do</strong> que <strong>os</strong> anúnci<strong>os</strong> de estabeleciment<strong>os</strong> industriaissolicitan<strong>do</strong> crianças e a<strong>do</strong>lescentes <strong>para</strong> trabalharem principalmente no setor têxtil,<strong>com</strong>eçaram a multiplicar-se na imprensa paulistana e em princípi<strong>os</strong> <strong>do</strong> século XX <strong>os</strong>


54term<strong>os</strong> usa<strong>do</strong>s <strong>para</strong> caracterizar minimamente a mão-de-o<strong>br</strong>a requerida – menin<strong>os</strong>,meninas, assim <strong>com</strong>o crianças e aprendizes – enfatizavam a inserção precoce naatividade produtiva.Rizzini (1999) ressalta que a extinção da escravatura no Brasil foi um divisor deáguas no que diz respeito ao <strong>trabalho</strong> infantil; multiplicaram-se, a partir de então,iniciativas privadas e públicas, dirigidas ao preparo da criança e <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente <strong>para</strong>o <strong>trabalho</strong>, na indústria e na agricultura. O debate so<strong>br</strong>e a teoria de que o <strong>trabalho</strong>seria a solução <strong>para</strong> o “problema <strong>do</strong> menor aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> e/ou delinqüente”<strong>com</strong>eçava, na mesma época, a ganhar visibilidade. A experiência da escravidãohavia demonstra<strong>do</strong> que a criança e o jovem trabalha<strong>do</strong>r constituíam-se em mão-deo<strong>br</strong>amais dócil, mais barata e <strong>com</strong> mais facilidade de adaptação ao <strong>trabalho</strong>. Nessaperspectiva, muitas crianças e jovens eram recruta<strong>do</strong>s n<strong>os</strong> asil<strong>os</strong> de caridade,algumas a partir de cinco an<strong>os</strong> de idade, sob a alegação de propiciar-lhes umaocupação considerada mais útil, capaz de <strong>com</strong>bater a vagabundagem e acriminalidade. Trabalhavam 12 horas por dia em ambiente insalu<strong>br</strong>es, sob rígidadisciplina.Em 1890, segun<strong>do</strong> a Repartição de Estatística e o Arquivo <strong>do</strong>Esta<strong>do</strong>, aproximadamente 15% <strong>do</strong> total de mão-de-o<strong>br</strong>a absorvi<strong>do</strong>em estabeleciment<strong>os</strong> industriais da cidade eram crianças ea<strong>do</strong>lescentes. Em 1920, o já cita<strong>do</strong> recenseamento concluía que,considerada a totalidade <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de São Paulo, 7% da mão-deo<strong>br</strong>aempregada no setor secundário eram constituí<strong>do</strong>s por essestrabalha<strong>do</strong>res. (MOURA, 1999, p.262).Moura (1999) esclarece que sem dúvida, o leque significativo de funções nas quaisesses trabalha<strong>do</strong>res eram emprega<strong>do</strong>s no setor secundário sinalizava <strong>para</strong> o fato deque a relação produtividade da mão-de-o<strong>br</strong>a <strong>do</strong> menor versus cust<strong>os</strong> da produçãoera plenamente satisfatória. No entanto, concebi<strong>do</strong>s <strong>com</strong>o mão-de-o<strong>br</strong>a


55profissionalmente pouco ou nada experiente, oportunamente avaliada na óticapatronal <strong>com</strong>o sen<strong>do</strong> de menor produtividade, porque tecnicamente desqualificada,crianças e a<strong>do</strong>lescentes encontram no salário – entendi<strong>do</strong> por sua vez, <strong>com</strong><strong>os</strong>ubsidiário no orçamento familiar – o elemento que definitivamente iria diferenciá-l<strong>os</strong>no merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>. Os salári<strong>os</strong> eram, portanto, inferiores e em relação à mãode-o<strong>br</strong>aadulta, aproximavam-se mais <strong>do</strong>s salári<strong>os</strong> feminin<strong>os</strong> e distanciavam-sesignificativamente <strong>do</strong>s salári<strong>os</strong> masculin<strong>os</strong>. Muitas vezes em nome de adquiriremhabilidades no exercício de uma profissão ou função, <strong>os</strong> aprendizes não recebiamsalário algum e passaram a representar a classe mais explorada entre <strong>os</strong>trabalha<strong>do</strong>res.Segun<strong>do</strong> Moura (1999), não foram poucas as crianças e foram muit<strong>os</strong> <strong>os</strong>a<strong>do</strong>lescentes vitima<strong>do</strong>s em acidentes de <strong>trabalho</strong>, em decorrência <strong>do</strong> exercício defunções impróprias <strong>para</strong> a idade, das instalações precárias <strong>do</strong>s estabeleciment<strong>os</strong>industriais, enfim, de condições de <strong>trabalho</strong> deploráveis.Esses jovens não tinham preparo algum antes de entrar no ambiente de <strong>trabalho</strong>,não tinha experiência e muito men<strong>os</strong> maturidade <strong>para</strong> ter consciência <strong>do</strong> perigo quecorriam, é o que destaca Moura (1999) ao afirmar que: também as constantes<strong>br</strong>incadeiras no ambiente de <strong>trabalho</strong> demonstravam, por sua vez, <strong>com</strong>o o empregoindiscrimina<strong>do</strong>de crianças e de a<strong>do</strong>lescentes em funções <strong>para</strong> as quaisfreqüentemente nãoestavam pre<strong>para</strong><strong>do</strong>s, ou que, envolviam risc<strong>os</strong>, foideterminante em relação à história desses trabalha<strong>do</strong>res. As dependências dasfá<strong>br</strong>icas e oficinas, em função das longas jornadas de <strong>trabalho</strong>, acabaram sen<strong>do</strong>,assim, o espaço no qual crianças e a<strong>do</strong>lescentes entregavam-se às <strong>br</strong>incadeiras


56próprias da idade, transforman<strong>do</strong> em <strong>br</strong>inque<strong>do</strong> aquilo que eventualmente tinham aoalcance das mã<strong>os</strong>.Assim, no decorrer das primeiras décadas republicanas, o <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong> menorpermaneceu <strong>com</strong>o importante elemento de contenção <strong>do</strong>s cust<strong>os</strong> de produção,acentuan<strong>do</strong> ainda mais a já significativa espoliação <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res n<strong>os</strong>estabeleciment<strong>os</strong> industriais e, num verdadeiro círculo vici<strong>os</strong>o, manteve-sepraticamente, <strong>com</strong>o recurso <strong>do</strong> qual a classe trabalha<strong>do</strong>ra dificilmente poderia a<strong>br</strong>irmão, no afã de so<strong>br</strong>eviver.Observa-se assim que a denominação Aprendiz não é jovem <strong>com</strong>o n<strong>os</strong> parecesugerir a Lei 10.097 de 2000, que discorre so<strong>br</strong>e o <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong> menor aprendiz(Anexo A) e que só vem a afirmar o quanto a presença de a<strong>do</strong>lescentes na força de<strong>trabalho</strong> tem si<strong>do</strong> encorajada pela sociedade, inclusive sen<strong>do</strong> prática incentivada pormeio da política governamental expressa pelo Programa Primeiro Emprego e oingresso precoce de jovens no <strong>trabalho</strong>.Recentemente, o Estatuto da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente (ECA) destacou um capítuloespecial à questão <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> – o capítulo V: <strong>do</strong> direito à profissionalização e àproteção ao <strong>trabalho</strong>, tratan<strong>do</strong> da proibição <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> antes <strong>do</strong>s 14 an<strong>os</strong>, salvo nacondição de aprendiz; da aprendizagem profissional vinculada às diretrizes e basesda legislação educacional; da garantia de bolsa-aprendizagem ao a<strong>do</strong>lescente até14 an<strong>os</strong>; e <strong>do</strong>s direit<strong>os</strong> trabalhistas e previdenciári<strong>os</strong> ao a<strong>do</strong>lescente-aprendiz, maiorde 14 an<strong>os</strong>. O ECA ve<strong>do</strong>u ainda o exercício <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> de crianças e a<strong>do</strong>lescentesnas seguintes condições:


57Noturno, realiza<strong>do</strong> entre 22 horas de um dia e 5 horas <strong>do</strong> dia seguinte; perig<strong>os</strong>o,insalu<strong>br</strong>e ou pen<strong>os</strong>o; realiza<strong>do</strong> em locais prejudiciais à sua formação e ao seudesenvolvimento físico, psíquico, moral e <strong>social</strong>; realiza<strong>do</strong> em horári<strong>os</strong> e locais quenão permitam a freqüência à escola.Dessa forma, o ECA criou condições <strong>para</strong> garantir às crianças e a<strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes ocumprimento <strong>do</strong>s direit<strong>os</strong> presentes na Constituição de 1988, buscan<strong>do</strong> defendê-l<strong>os</strong>da exploração no <strong>trabalho</strong>, bem <strong>com</strong>o garantir seus direit<strong>os</strong>.A seguir observam-se as principais conseqüências <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>para</strong> o indivíduo queestá na a<strong>do</strong>lescência.Minayo (1997) ressalta que não se pode deixar de situar alguns element<strong>os</strong> queconfiguram o significa<strong>do</strong> <strong>social</strong> <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> de crianças e a<strong>do</strong>lescentes. Existebastante consenso, na sociedade, em relação ao fato de que a criança não deveexercer nenhuma atividade laborativa, devi<strong>do</strong> a sua imaturidade biológica eemocional. Verifica-se uma maior preocupação <strong>social</strong> em garantir espaç<strong>os</strong> de lazer,educação e saúde <strong>para</strong> que <strong>os</strong> mais jovens p<strong>os</strong>sam desenvolver atividades de<strong>social</strong>ização.Na visão de Pereira (1994), as tendências observadas so<strong>br</strong>e o <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong>a<strong>do</strong>lescente podem ser resumidas n<strong>os</strong> seguintes pont<strong>os</strong>:1- Atuam na economia formal, mas so<strong>br</strong>etu<strong>do</strong> na informal e clandestina, ematividades produtivas <strong>com</strong> resulta<strong>do</strong>s econômic<strong>os</strong> visíveis, mas poucoquantificáveis.


582- São coloca<strong>do</strong>s em atividades mecânicas, repetitivas, caracterizadas pelaimobilidade.3- Não há, na maioria das inserções, mobilidade ou ascensão ocupacional. Emoutras palavras, o a<strong>do</strong>lescente vive sua a<strong>do</strong>lescência no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>,não retiran<strong>do</strong> dele nem mesmo um aprendiza<strong>do</strong> que lhe permita ascensão.Atua somente em atividades cujo ponto terminal será o mesmo <strong>do</strong> início <strong>do</strong><strong>trabalho</strong>.Vári<strong>os</strong> autores se preocu<strong>para</strong>m <strong>com</strong> <strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> negativ<strong>os</strong> e p<strong>os</strong>itiv<strong>os</strong> <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>para</strong><strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes:O <strong>trabalho</strong> desenvolvi<strong>do</strong> precocemente por a<strong>do</strong>lescentes pode serfator decisivo em suas vidas, poden<strong>do</strong> ter conseqüências p<strong>os</strong>itivas etambém negativas ao seu desenvolvimento físico e psic<strong>os</strong><strong>social</strong>,especialmente em função da <strong>com</strong>petição que se estabelece entre asatividades de <strong>trabalho</strong> extra-escolar ou <strong>do</strong>miciliar e as atividadesescolares, de esporte e lazer, portanto aquelas que p<strong>os</strong>sibilitam ummeio saudável de formação psicológica e <strong>social</strong> <strong>do</strong> jovem, dessaconstatação decorre a adjetivação <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente <strong>com</strong>oprecoce ou não. (FISCHER et al, 2003, p.2).Conforme pontua<strong>do</strong> anteriormente nesse <strong>trabalho</strong>, Minayo (1997) concorda aoafirmar que historicamente, o a<strong>do</strong>lescente de classe men<strong>os</strong> favorecida sempreesteve presente na produção econômica. O olhar da sociedade so<strong>br</strong>e este fatoacaba reforçan<strong>do</strong> esta imagem distorcida, na medida em que concebe o <strong>trabalho</strong><strong>com</strong>o importante <strong>para</strong> o a<strong>do</strong>lescente “aprender <strong>com</strong>o é a vida”, “levar a vida a sério”.Essas concepções se apresentam hoje por meio de expressões <strong>com</strong>o “ocupar o seutempo”, “tirá-lo da rua”, “tirá-lo da marginalidade”, “aprender uma profissão”, “ajudara família”.Feit<strong>os</strong>a (2002) pontua que o <strong>trabalho</strong> aparece no imaginário <strong>social</strong> <strong>com</strong>o algo quevem dar uma “resp<strong>os</strong>ta” <strong>para</strong> as questões vividas na sociedade, de mo<strong>do</strong> que essa


59p<strong>os</strong>sa se organizar simbolicamente <strong>com</strong>o coerente, homogênea e harmoni<strong>os</strong>a. Empesquisa realizada <strong>com</strong> mães de a<strong>do</strong>lescentes trabalha<strong>do</strong>res a referida autoraobserva que as mães muitas vezes têm consciência da dificuldade de colocar seusfilh<strong>os</strong> <strong>para</strong> participar de atividades <strong>com</strong>o esporte, curso de <strong>com</strong>putação ou línguas,restan<strong>do</strong> <strong>com</strong>o alternativa preencher o tempo oci<strong>os</strong>o <strong>do</strong>s jovens <strong>com</strong> o <strong>trabalho</strong>,destaca-se a presença da ameaça no imaginário dessas mães.Basea<strong>do</strong> em pesquisa realizada <strong>com</strong> a<strong>do</strong>lescentes da periferia de Porto Alegre,Sarriela et al (2001) destaca que o a<strong>do</strong>lescente vislum<strong>br</strong>a alcançar a felicidade pormeio <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>, pois <strong>para</strong> ele esse representa um caminho <strong>para</strong> uma vida melhor eum senti<strong>do</strong> de existência pessoal. A inserção no merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>, significa um“passe de mágica” <strong>para</strong> o futuro, que lhe propiciará ter seu próprio negócio, umemprego estável, uma boa qualidade de vida e um futuro digno <strong>para</strong> ele e suafamília; ou seja, ele almeja encontrar na vida profissional a plena realização daidentidade pessoal.A verdade é que a fase denominada a<strong>do</strong>lescência por ser na grande maioria dasvezes associada a um perío<strong>do</strong> de muitas mudanças e rebeldia, e por dar mais<strong>trabalho</strong> a<strong>os</strong> pais, faz <strong>com</strong> que esses procurem ocupar seus filh<strong>os</strong> <strong>com</strong> atividadesextras, no senti<strong>do</strong> de ocupar o tempo desses jovens e evitar que eles fiquemexp<strong>os</strong>t<strong>os</strong> às influências negativas. Conforme n<strong>os</strong> confirma Meira (2000), as classesfavorecidas apresentam uma tendência a preencher o tempo de seus jovens <strong>com</strong>atividades e as de mais baixa renda, ocupam seus jovens <strong>com</strong> o <strong>trabalho</strong>, ambasresponden<strong>do</strong> ao que a demanda <strong>social</strong> lhes impõe.


60Segun<strong>do</strong> Pereira (1994), nesse contexto, é <strong>com</strong>um, nas cidades, o próprioa<strong>do</strong>lescente buscar <strong>trabalho</strong>, objetivan<strong>do</strong> um aumento na renda familiar. Na maioriadas vezes, encontra-o em atividades que exigem pouca ou nenhuma qualificação eque não lhe a<strong>br</strong>em perspectivas <strong>para</strong> o futuro. As famílias também procuramempreg<strong>os</strong> <strong>para</strong> seus filh<strong>os</strong>, principalmente nas cidades de menor porte. Para tanto,se valem das relações de amizade e/ou de influência. Procuram ainda a prefeitura, oSenai/Senac e entidades não-governamentais.Watarai (2005), esclarece que mesmo que relacionem o início das atividadesremuneradas a uma decisão individual, a influência da família <strong>para</strong> que <strong>com</strong>ecem atrabalhar está freqüentemente presente, mesmo que seja de mo<strong>do</strong> indireto, mesm<strong>os</strong>em interferência direta no início de suas atividades profissionais, a simples opiniãoda família favorável ao início <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> é tida <strong>com</strong>o importante e motiva<strong>do</strong>ra pel<strong>os</strong>a<strong>do</strong>lescentes.Oliveira et al (2001) destaca que o <strong>trabalho</strong> infantil é visto <strong>com</strong>o uma p<strong>os</strong>sibilidadede deixar esse jovem longe da rua, o que traz um significa<strong>do</strong> de ocupação <strong>do</strong> tempooci<strong>os</strong>o, e <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>com</strong>o p<strong>os</strong>sibilidade de distanciamento da criminalidade e <strong>do</strong>uso de drogas, tão presentes na vida <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes n<strong>os</strong> grandes centr<strong>os</strong>urban<strong>os</strong>, mas deve-se destacar que, ao ocupar o tempo oci<strong>os</strong>o, ocupa-se também otempo disponível <strong>para</strong> o lazer e <strong>para</strong> o estu<strong>do</strong>, uma vez que o <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong>a<strong>do</strong>lescente não recebe qualquer tratamento diferencia<strong>do</strong> que p<strong>os</strong>sibilite a suaintegração a atividade escolar, mas é trata<strong>do</strong> e representa<strong>do</strong> <strong>com</strong>o atividade<strong>com</strong>petitiva <strong>com</strong> a escolarização, submetida às mesmas regras <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> adulto.


61Guimarães (2002) de certa forma concorda <strong>com</strong> o referi<strong>do</strong> autor ao dizer que noambiente de <strong>trabalho</strong>, apesar de estar submeti<strong>do</strong> ao controle que <strong>os</strong> superioresexercem so<strong>br</strong>e suas atividades laborais, o a<strong>do</strong>lescente também tem a oportunidadede conviver <strong>com</strong> iguais, isto é, <strong>com</strong> pares, e aprende a ordenar suas formas desociabilidade e suas representações, o que amplia suas experiências e contribui<strong>para</strong> o processo de amadurecimento psicológico e intelectual. Com o <strong>trabalho</strong>remunera<strong>do</strong>, o a<strong>do</strong>lescente conquista mais autonomia e, conseqüentemente, maiorliberdade diante da autoridade <strong>do</strong>s pais ou responsáveis.Pereira (1994) ao falar so<strong>br</strong>e a contribuição financeira <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente em casa,destaca que essa é significativa, principalmente consideran<strong>do</strong> a dinâmica familiar.Com o que arrecadam nas ruas, colaboram em média <strong>com</strong> 1/3 da renda familiar .Além disso, poupam a família de gast<strong>os</strong>, pois pagam sua alimentação, seu materialescolar, sua vestimenta e suas diversões. O mais grave é o que este processo de“adultização” provoca no a<strong>do</strong>lescente. Ele assume papéis sociais destina<strong>do</strong>s, emn<strong>os</strong>sa cultura ao adulto. Ao invés de ser consumi<strong>do</strong>r da renda familiar, passa a serprove<strong>do</strong>r. Essa situação não é a<strong>com</strong>panhada de um processo de amadurecimentopsicológico e traz séri<strong>os</strong> prejuíz<strong>os</strong> afetiv<strong>os</strong> e intelectuais.Agier (1990) denomina esse processo de “adultização precoce” onde <strong>os</strong> filh<strong>os</strong>passam a ter atribuições a partir de seis ou sete an<strong>os</strong>, seja por meio da atribuição detarefas <strong>do</strong>mésticas, seja no próprio merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>.De acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> Oliveira et al (2001), o <strong>trabalho</strong> precoce, geralmente, promoveefeit<strong>os</strong> negativ<strong>os</strong> no desenvolvimento físico e educacional, impedin<strong>do</strong> o jovem de


62dedicar-se a atividades extracurriculares, <strong>com</strong>o atividades lúdicas e sociais própriasda idade, trazen<strong>do</strong> isolamento <strong>do</strong>s jovens entre seus pares e familiares, bem <strong>com</strong><strong>os</strong>en<strong>do</strong> responsável pelo atraso escolar. Esses dan<strong>os</strong> são de difícil superação porquehá um tempo certo <strong>para</strong> vivenciar as várias etapas da formação da a<strong>do</strong>lescência.De acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> Mielnik (1987), o aban<strong>do</strong>no da escola estará, muitas vezes, liga<strong>do</strong> afatores <strong>com</strong>o as dificuldades econômicas <strong>do</strong>s pais, acarretan<strong>do</strong> moment<strong>os</strong> difíceis<strong>para</strong> <strong>os</strong> jovens, frustra<strong>do</strong>s e constrangi<strong>do</strong>s perante colegas financeiramenteabona<strong>do</strong>s. Em outr<strong>os</strong> cas<strong>os</strong> são a própria incapacidade, inadequadação, limitaçãointelectual que, provadas pelas repetidas reprovações, forçam o jovem a deixar aescola e procurar emprego. A idéia <strong>do</strong> lucro fácil e rápi<strong>do</strong>, incrementada pel<strong>os</strong> mei<strong>os</strong>de <strong>com</strong>unicação (televisão, cinema, teatro, jornais) pode induzir o jovem a deixar aescola, enveredan<strong>do</strong> também pelo caminho da delinqüência (roubo, associaçõessuspeitas <strong>para</strong> ganh<strong>os</strong> ilícit<strong>os</strong>, negóci<strong>os</strong> escus<strong>os</strong> <strong>com</strong>o contraban<strong>do</strong>, drogas,meretrício e amizades <strong>com</strong> marginais).Inscreven<strong>do</strong>-se, pre<strong>do</strong>minantemente, numa estratégia deso<strong>br</strong>evivência econômica das famílias mais po<strong>br</strong>es, o <strong>trabalho</strong> decrianças e a<strong>do</strong>lescentes acaba por lhes impor um custo <strong>social</strong>eleva<strong>do</strong>: a renúncia a um grau de escolarização maior, capaz delhes garantir, no futuro, melhor colocação no merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>,ou uma so<strong>br</strong>ecarga de tarefas da qual resulta considerável desgastefísico e mental, pois a atividade laborativa é uma fonte de estresseemocional de origem <strong>social</strong> na infância e a<strong>do</strong>lescência. Além disso,tal atividade diminui o tempo disponível da criança <strong>para</strong> seu lazer,vida em família, educação, e oportunidade de estabelecer relaçõesde convivência <strong>com</strong> seus pares e outras pessoas da <strong>com</strong>unidadeem geral (MINAYO, 1997, p. 138).De acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> Oliveira et al (2003), além da abordagem objetiva <strong>do</strong>s dan<strong>os</strong> à saúdee ao aproveitamento escolar, igualmente importante são as imagens que <strong>os</strong> atoressociais constroem <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> e de si própri<strong>os</strong> <strong>com</strong>o trabalha<strong>do</strong>res. Essas imagens,ou representações acabam por sustentar as práticas sociais que tendem a priorizar o


63<strong>trabalho</strong> so<strong>br</strong>e o estu<strong>do</strong> e a manutenção <strong>do</strong> jovem trabalha<strong>do</strong>r no merca<strong>do</strong> de<strong>trabalho</strong>, muitas vezes aban<strong>do</strong>nan<strong>do</strong> a escola precocemente, ainda em ummomento de escolarização o<strong>br</strong>igatória.Segun<strong>do</strong> A<strong>br</strong>eu (2002), a situação socioeconômica em que se encontra a família éum outro motivo que pode levar o a<strong>do</strong>lescente ao <strong>trabalho</strong>, ten<strong>do</strong> consistenteinfluência nas suas decisões, até mesmo na freqüência escolar. Esse fato mantém ocírculo vici<strong>os</strong>o da po<strong>br</strong>eza, fazen<strong>do</strong> <strong>com</strong> que crianças e a<strong>do</strong>lescentes tornem-seadult<strong>os</strong> que pouco poderão passar a seus filh<strong>os</strong>, além da herança da miséria e damarginalização.Já Minayo (1997) destaca que as decisões das famílias decorrem principalmente <strong>do</strong>efeito <strong>com</strong>bina<strong>do</strong> entre po<strong>br</strong>eza e merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>. Neste senti<strong>do</strong>, oentendimento <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente está longe de corresponder apenas a umindica<strong>do</strong>r de participação <strong>social</strong>, pois o seu ingresso e a sua permanência nomerca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong> pode estar significan<strong>do</strong>, em muit<strong>os</strong> cas<strong>os</strong>, um sinal depauperização. Além de ser fruto <strong>do</strong> aviltamento <strong>do</strong>s níveis salariais, constitui umfator de realimentação deste processo, por representar mão-de-o<strong>br</strong>a mais barata,contribuin<strong>do</strong> <strong>para</strong> o rebaixamento da remuneração média <strong>do</strong> conjunto detrabalha<strong>do</strong>res.Sarriela (1999) em contrapartida destaca que <strong>os</strong> jovens que tentam ingressar nomerca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong> sonham poder realizar seus projet<strong>os</strong> profissionais, constituirfamília e ter independência econômica. Porém seu sonho, na maioria das vezes, seconverte em pesadelo. As dificuldades <strong>para</strong> encontrar o primeiro emprego, são cada


64vez maiores, exigin<strong>do</strong> cada vez mais, maior escolarização e conheciment<strong>os</strong>profissionalizantes.Outro aspecto importante aponta<strong>do</strong> por Fischer et al (2003) é que: a p<strong>os</strong>itividade dadupla jornada, em muit<strong>os</strong> cas<strong>os</strong>, relaciona-se à crença e a ganh<strong>os</strong> psic<strong>os</strong>sociais,por meio <strong>do</strong>s quais <strong>os</strong> mérit<strong>os</strong> pessoais p<strong>os</strong>sibilitam superar as dificuldadesderivadas das duas atividades, <strong>trabalho</strong> e estu<strong>do</strong>, além de ser representa<strong>do</strong> <strong>com</strong>onecessário e honr<strong>os</strong>o, dá m<strong>os</strong>tras da capacidade de luta e determinação <strong>do</strong>s jovens.Spindel (1989) ressalta as vantagens <strong>do</strong> ponto de vista <strong>do</strong> emprega<strong>do</strong>r: sabe-se queesse segmento da classe trabalha<strong>do</strong>ra, apesar de seus baixíssim<strong>os</strong> níveis deremuneração, não reivindica salári<strong>os</strong>, não se organiza e não faz greve. Essa“incapacidade” é realimentada pela sociedade por meio de suas instituições, queestabelecem que o menor trabalha<strong>do</strong>r é um agente <strong>social</strong> <strong>com</strong> muitas o<strong>br</strong>igações epouc<strong>os</strong> direit<strong>os</strong>. O único direito que a sociedade lhe concede livremente é o detrabalhar. Perante a lei, é a instituição familiar que assume a sua tutela e orepresenta na assinatura e na rescisão de contrat<strong>os</strong> e na retirada <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> degarantia, e muitas vezes se beneficia <strong>do</strong> produto <strong>do</strong> seu <strong>trabalho</strong>.Neto (2006), destaca que é váli<strong>do</strong> ressaltar que a luta pela erradicação <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>infantil e a adequação da atividade laboral <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente ao preconiza<strong>do</strong> pelaConsolidação das Leis Trabalhistas - CLT e pelo Estatuto da Criança e <strong>do</strong>A<strong>do</strong>lescente - ECA, assume, também, um níti<strong>do</strong> aspecto cultural, uma vez que o"senso <strong>com</strong>um" recorre, mecanicamente, à idéia de que "é melhor trabalhar <strong>do</strong> queficar vagabundean<strong>do</strong>".


65Apesar <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> muitas vezes ser sacrificante e impedir que o jovem viva deforma íntegra uma fase importante <strong>do</strong> seu desenvolvimento, <strong>para</strong> muit<strong>os</strong> essaexperiência é determinante, no senti<strong>do</strong> de impedir o envolvimento <strong>com</strong> coisas ilícitase de <strong>com</strong>eçar a criar interesse pela vida <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>, diferente da vida fácil damarginalidade e malandragem. Entretanto reconhecem<strong>os</strong> que esta visão é simplista,reducionista e preconceitu<strong>os</strong>a pois <strong>os</strong> perig<strong>os</strong> da sociedade não rondam apenas <strong>os</strong>n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> jovens de classe C e D mas também àqueles que fazem curs<strong>os</strong> de idiomas,academias e usam tênis importa<strong>do</strong>.O que <strong>os</strong> jovens, po<strong>br</strong>es e ric<strong>os</strong> precisam é ter consciência de que somente por meio<strong>do</strong> ensino, de qualidade, eles poderão aprender a desenvolver uma consciênciacrítica, capaz de <strong>do</strong>tá-lo de um "saber" que permita ultrapassar as ideologias,conhecer e lutar por seus direit<strong>os</strong> e superar seus problemas.


663 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: REFLEXÕESSegun<strong>do</strong> Sá (1995), a denominação Representações Sociais pode ser caracterizadade três formas: <strong>com</strong>o um conjunto de fenômen<strong>os</strong>, <strong>com</strong>o o conceito relaciona<strong>do</strong> aeles e principalmente <strong>com</strong>o a teoria utilizada <strong>para</strong> explicá-l<strong>os</strong>, caracterizan<strong>do</strong> assimuma ampla área de estu<strong>do</strong>s da Psicologia Social.O autor destaca ainda que a inauguração da teoria das Representações Sociaisdeve-se ao psicólogo <strong>social</strong> francês Serge M<strong>os</strong>covici, que a apresenta à PsicologiaSocial e à ciência por meio de seu <strong>trabalho</strong> intitula<strong>do</strong> A Representação Social daPsicanálise, data<strong>do</strong> de 1978. Essa o<strong>br</strong>a esclarece <strong>com</strong>o se deu a <strong>social</strong>ização dapsicanálise na população parisiense, bem <strong>com</strong>o introduz o conceito da teoria.3.1 O conceito de Representação SocialUma <strong>representação</strong> <strong>social</strong> consiste na leitura e constante releitura que um sujeito fazde um objeto, <strong>para</strong> que essa interação ocorra é preciso que haja um indivíduo e umobjeto, esse objeto pode ser uma situação que ele vivencie, um outro indivíduo oualguma coisa.Cada vez que uma <strong>representação</strong> <strong>social</strong> é elaborada, o sujeito é influencia<strong>do</strong> porseus valores, suas crenças, sua opinião, ou seja, sua individualidade, trata-se de umprocesso cognitivo, onde o indivíduo forma um conceito, às vezes influencia<strong>do</strong> peloconceito científico, outras vezes não, mas que se caracteriza essencialmente pelo


67senso <strong>com</strong>um, onde aquilo que não lhe era familiar passa a ser assimila<strong>do</strong> ao seurol de conhecimento.A princípio um leitor desavisa<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> ouve a expressão senso <strong>com</strong>um pode ter afalsa idéia de que essa seja uma teoria simplória, mas a Teoria das RepresentaçõesSociais consiste em um conceito de difícil definição <strong>com</strong>o o próprio M<strong>os</strong>covicidefende.Segun<strong>do</strong> M<strong>os</strong>covici (1978), a teoria de Representações Sociais procura dar conta deum fenômeno urbano, em que o homem manifesta sua capacidade inventiva <strong>para</strong>apropriar-se <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> por meio de conceit<strong>os</strong>, afirmações e explicações, origina<strong>do</strong>sno dia-a-dia, durante interações sociais, a respeito de qualquer objeto, <strong>social</strong> ounatural, <strong>para</strong> torná-lo familiar e garantir <strong>com</strong>unicação no interior <strong>do</strong> grupo e também,interagir <strong>com</strong> outras pessoas e grup<strong>os</strong>.O autor esclarece que a teoria das representações sociais se refere ao conjunto deidéias desenvolvidas pel<strong>os</strong> diferentes grup<strong>os</strong> sociais a respeito de temas própri<strong>os</strong> <strong>do</strong>cotidiano de cada grupo, ou seja, a <strong>representação</strong> <strong>social</strong> é o conjunto de significa<strong>do</strong>s<strong>com</strong>partilha<strong>do</strong>s que constitui o mo<strong>do</strong> de pensar plural de um determina<strong>do</strong> grupo dasociedade.Assim, é por meio da n<strong>os</strong>sa percepção e da leitura que o indivíduo faz da realidadevivenciada, que ele elabora valores, crenças e opiniões so<strong>br</strong>e tu<strong>do</strong> que está a suavolta e dessa forma, a to<strong>do</strong> momento, se desenvolve e aumenta o saber e aexperiência.


68Outra contribuição é apontada por Jodelet (2001), <strong>para</strong> quem as representaçõessociais são fenômen<strong>os</strong> <strong>com</strong>plex<strong>os</strong> sempre ativ<strong>os</strong> e agin<strong>do</strong> na vida <strong>social</strong>. A autoradestaca que o fenômeno das representações sociais assinalam element<strong>os</strong> divers<strong>os</strong>,<strong>os</strong> quais são às vezes estuda<strong>do</strong>s de maneira isolada; esses element<strong>os</strong> podem serinformativ<strong>os</strong>, cognitiv<strong>os</strong>, ideológic<strong>os</strong>, normativ<strong>os</strong>, crenças, valores, atitudes, opiniõesou imagens; esses element<strong>os</strong> são sempre organiza<strong>do</strong>s <strong>com</strong>o uma espécie de saberque diz alguma coisa so<strong>br</strong>e o esta<strong>do</strong> da realidade. E é esta totalidade significanteque, relacionada à ação, encontra-se no centro da investigação científica. Estaassume a tarefa de descrevê-la, analisá-la, explicar suas dimensões, formas,process<strong>os</strong> e funcionamento.Dessa forma, é imprescindível concordar-se <strong>com</strong> M<strong>os</strong>covici (2003) quan<strong>do</strong> o autorafirma que todas as interações humanas, surjam elas entre duas pessoas ou entre<strong>do</strong>is grup<strong>os</strong>, pressupõem representações, ou seja, é isso que as caracteriza. Seesse fato é men<strong>os</strong>preza<strong>do</strong>, tu<strong>do</strong> o que so<strong>br</strong>a são trocas, isto é, ações e reações,que são não-específicas e, ainda mais empo<strong>br</strong>ecidas na troca. Sempre e em to<strong>do</strong>lugar, quan<strong>do</strong> o indivíduo encontra pessoas ou coisas e se familiariza <strong>com</strong> elas, taisrepresentações estão presentes. A informação que recebem<strong>os</strong> e à qual tentam<strong>os</strong>dar um significa<strong>do</strong>, está sob seu controle e não p<strong>os</strong>sui outro senti<strong>do</strong> <strong>para</strong> nós além<strong>do</strong> que elas dão a ele.De acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> Jovchelovitch (2000), a teoria das Representações Sociais searticula tanto <strong>com</strong> a vida coletiva de uma sociedade, <strong>com</strong>o <strong>com</strong> <strong>os</strong> process<strong>os</strong> deconstituição simbólica, n<strong>os</strong> quais sujeit<strong>os</strong> sociais lutam <strong>para</strong> dar senti<strong>do</strong> ao mun<strong>do</strong>,


69entendê-lo e nele encontrar o seu lugar, por meio de uma identidade <strong>social</strong>. Aindaconforme essa mesma autora (1995), é por meio <strong>do</strong>s símbol<strong>os</strong> e dessa busca designifica<strong>do</strong> e identidade que o indivíduo busca identificações <strong>com</strong> grup<strong>os</strong>. É ainteração <strong>com</strong> o mun<strong>do</strong> que enriquece a atividade simbólica, por isso é no contato<strong>com</strong> o outro que se realiza a elaboração de um mun<strong>do</strong> em <strong>com</strong>um e <strong>com</strong> <strong>os</strong>mesm<strong>os</strong> referenciais.M<strong>os</strong>covici (1986) destaca que somente as representações podem canalizar astrocas que acontecem entre nós e a realidade <strong>com</strong> que n<strong>os</strong> defrontam<strong>os</strong>. Elas sãopartilhadas por um grande número de pessoas, transmitidas de uma geração àseguinte, e imp<strong>os</strong>tas a cada um de nós sem n<strong>os</strong>so consentimento consciente.Outra contribuição importante é encontrada em Bauer (1995), quan<strong>do</strong> ele afirmaque, as representações são as produções culturais de uma <strong>com</strong>unidade, que tem<strong>com</strong>o um de seus objetiv<strong>os</strong> resistir a conceit<strong>os</strong>, conheciment<strong>os</strong> e atividades queameaçam destruir sua identidade. Em representações sociais lidam<strong>os</strong> <strong>com</strong> imagensvariáveis da realidade, por meio das quais as pessoas estabelecem um senti<strong>do</strong> deordem, transformam o não familiar em familiar, criam uma estabilidade temporária elocalizam a si própri<strong>os</strong> entre <strong>os</strong> demais por meio de um senso de identidade <strong>social</strong>.Faz-se necessária a definição de identidade pessoal e identidade <strong>social</strong>, quesegun<strong>do</strong> Brown e Turner (apud VALA, 2004), a identidade pessoal refere-se àsautodescrições em term<strong>os</strong> de atribut<strong>os</strong> pessoais ou idi<strong>os</strong>sincrátic<strong>os</strong>, tais <strong>com</strong>o traç<strong>os</strong>físic<strong>os</strong>, intelectuais ou de personalidade, enquanto que a identidade <strong>social</strong> refere-se


70a autodescrições em term<strong>os</strong> de pertencimento a categorias sociais tais <strong>com</strong>o a raça,a classe <strong>social</strong>, a nacionalidade ou o sexo.Vala (2004) n<strong>os</strong> pontua ainda que enquanto conceito, a identidade <strong>social</strong>, refere-se aum envolvimento emocional e cognitivo <strong>do</strong>s indivídu<strong>os</strong> no seu grupo e àsconseqüentes expressões <strong>com</strong>portamentais desse envolvimento no quadro darelação intergrup<strong>os</strong>.Na visão de Jodelet (2001), <strong>representação</strong> <strong>social</strong> é uma forma de conhecimento,<strong>social</strong>mente elaborada e partilhada, <strong>com</strong> um objetivo prático, e que contribui <strong>para</strong> aconstrução de uma realidade <strong>com</strong>um a um grupo. Igualmente designada <strong>com</strong>o saber<strong>do</strong> senso <strong>com</strong>um ou ainda saber ingênuo, natural, esta forma de conhecimento édiferenciada, entre outras, <strong>do</strong> conhecimento científico. Entretanto, é ti<strong>do</strong> <strong>com</strong>o umobjeto de estu<strong>do</strong> tão legítimo quanto este, devi<strong>do</strong> à sua importância na vida <strong>social</strong> eà elucidação p<strong>os</strong>sibilita<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>s process<strong>os</strong> cognitiv<strong>os</strong> e das interações sociais.A teoria das Representações Sociais tem sua relevância não só pela vida emsociedade, facilitan<strong>do</strong> as trocas entre <strong>os</strong> indivídu<strong>os</strong> e o grupo, mas também pelopapel que vem a desempenhar na formação da identidade pessoal, pois quan<strong>do</strong> nóstomam<strong>os</strong> contato <strong>com</strong> algo novo ou desconheci<strong>do</strong>, esse é assimila<strong>do</strong> e associa<strong>do</strong>ao conhecimento pré-existente, proporcionan<strong>do</strong> novamente um sentimento deconforto e de pertencimento ao grupo. É por meio dessa elaboração e busca designifica<strong>do</strong>s que o indivíduo estabelece uma identificação <strong>com</strong> o grupo, entende omun<strong>do</strong> e encontra seu lugar nele.


71Segun<strong>do</strong> M<strong>os</strong>covici (1978), esses conjunt<strong>os</strong> de conceit<strong>os</strong>, afirmações e explicações,que são as Representações Sociais, devem ser considera<strong>do</strong>s <strong>com</strong>o verdadeiras“teorias” <strong>do</strong> senso <strong>com</strong>um, “ciências coletivas” sui generis, pelas quais se procede àinterpretação e mesmo à construção das realidades sociais. Assim M<strong>os</strong>covici (2003)enfatiza que toda <strong>representação</strong> <strong>social</strong> é a interpretação de algo existente, é o olhar<strong>social</strong> <strong>para</strong> um conceito disponível na sociedade. O científico é o que considera-se<strong>com</strong>o oficial, mas o senso <strong>com</strong>um oferece outro direcionamento basea<strong>do</strong> emvivências, conheciment<strong>os</strong> e aprendiza<strong>do</strong>s. Dessa forma, podem<strong>os</strong> dizer que oconhecimento científico é aquele <strong>com</strong>um a to<strong>do</strong>s <strong>com</strong>o uma definição de um termo,enquanto que na <strong>representação</strong> <strong>social</strong> de um da<strong>do</strong> objeto influenciam <strong>os</strong> valores, ascrenças, as atitudes e experiências so<strong>br</strong>e o objeto em questão.Outro fato importante so<strong>br</strong>e as representações sociais que o leitor deve serinforma<strong>do</strong> desde o princípio é que elas, assim <strong>com</strong>o as pessoas que as vivenciam,são vivas, ou seja, encontram-se em constante movimento de reavaliação ereleitura, assim <strong>com</strong>o o próprio indivíduo que se desenvolve a cada dia, de acor<strong>do</strong><strong>com</strong> sua experiência de vida, as representações sociais são re-elaboradas dia-a-dia.M<strong>os</strong>covici (1978) defende o dinamismo da <strong>representação</strong> destacan<strong>do</strong> que o objetode <strong>representação</strong> existe em um contexto, perpassan<strong>do</strong> pela subjetividade individuale coletiva, o que significa dizer que o objeto de <strong>representação</strong> constitui-se em umuniverso dinâmico.De acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> Minayo (1995), representações sociais é um termo fil<strong>os</strong>ófico quesignifica a reprodução de uma percepção retida na lem<strong>br</strong>ança ou <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong>pensamento.


72A<strong>br</strong>ic (2001) relata que <strong>representação</strong> <strong>social</strong> é um conjunto organiza<strong>do</strong> de opiniões,de atitudes, de crenças e de informações referentes a um objeto ou a uma situação.É determinada ao mesmo tempo pelo próprio sujeito (sua história, sua vivência), pel<strong>os</strong>istema <strong>social</strong> e ideológico no qual ele está inseri<strong>do</strong> e pela natureza <strong>do</strong>s víncul<strong>os</strong>que ele mantém <strong>com</strong> esse sistema <strong>social</strong>.Segun<strong>do</strong> Eizirik (1999) toda <strong>representação</strong> <strong>social</strong> é uma forma de conhecimentoprático que auxilia a construção de n<strong>os</strong>sa realidade. Não se trata simplesmente dereprodução, mas de construção.Wagner (2000) define <strong>representação</strong> <strong>social</strong> <strong>com</strong>o um conteú<strong>do</strong> mental estrutura<strong>do</strong> –isto é, cognitivo, avaliativo, afetivo e simbólico – so<strong>br</strong>e um fenômeno <strong>social</strong>relevante, que toma a forma de imagens ou metáforas, e que é conscientemente<strong>com</strong>partilha<strong>do</strong> <strong>com</strong> outr<strong>os</strong> mem<strong>br</strong><strong>os</strong> <strong>do</strong> grupo.Nas palavras de Leme (1995), o ato de representar não deve ser encara<strong>do</strong> <strong>com</strong>o umprocesso passivo, reflexo da consciência de um objeto ou conjunto de idéias, mas<strong>com</strong>o um processo ativo, uma reconstrução <strong>do</strong> objeto em um contexto de valores,reações, regras e associações. Não se trata de meras opiniões, atitudes, mas de“teorias” internalizadas que servem <strong>para</strong> organizar a realidade.As representações sociais são entidades quase tangíveis. Elascirculam, e se cristalizam incessantemente por meio de uma fala,um gesto, um encontro, em n<strong>os</strong>so universo cotidiano. A maioria dasrelações sociais estabelecidas, <strong>os</strong> objet<strong>os</strong> produzi<strong>do</strong>s ouconsumi<strong>do</strong>s, as <strong>com</strong>unicações trocadas, delas estão impregna<strong>do</strong>s.Sabem<strong>os</strong> que as representações sociais correspondem, por um


73la<strong>do</strong>, à substância simbólica que entra na elaboração e, por outro, àprática que produz a dita substância. (MOSCOVICI, 1978, p.41).Apesar das representações sociais terem essa característica de serem dinâmicas,elas também podem ser imutáveis em algumas situações, <strong>com</strong>o destaca Spink(1995), <strong>para</strong> o referi<strong>do</strong> autor as representações sociais, em term<strong>os</strong> de estrutura,podem ser flexíveis ou imutáveis, pois à medida que surgem da interação e por meiode process<strong>os</strong> de <strong>com</strong>unicação, estão exp<strong>os</strong>tas a constantes mudanças, o que lheconfere o caráter flexível, porém as representações são capazes de seremtransmitidas de uma geração a outra, o que lhe confere o caráter imutável.Sá (1998) ressalta que <strong>os</strong> fenômen<strong>os</strong> de <strong>representação</strong> <strong>social</strong> são mais <strong>com</strong>plex<strong>os</strong><strong>do</strong> que <strong>os</strong> objet<strong>os</strong> de pesquisa que construím<strong>os</strong> a partir deles. Isto quer dizer que háuma simplificação quan<strong>do</strong> passam<strong>os</strong> <strong>do</strong> fenômeno ao objeto de pesquisa. Mas umateoria não apenas simplifica <strong>os</strong> fenômen<strong>os</strong> a<strong>os</strong> quais se aplica; ela também <strong>os</strong>organiza e <strong>os</strong> torna inteligíveis. Assim, numa primeira aproximação, podem<strong>os</strong> dizerque a construção <strong>do</strong> objeto de pesquisa é um processo pelo qual o fenômeno de<strong>representação</strong> <strong>social</strong> é simplifica<strong>do</strong> e torna<strong>do</strong> <strong>com</strong>preensível pela teoria, <strong>para</strong> afinalidade da pesquisa.Jodelet (1984), assinala seis pont<strong>os</strong> de vista so<strong>br</strong>e a construção de uma<strong>representação</strong> <strong>social</strong>:A primeira abordagem valoriza particularmente a atividade cognitiva <strong>do</strong> sujeito naatividade representativa. O sujeito é um sujeito <strong>social</strong>, porta<strong>do</strong>r de idéias, valores emodel<strong>os</strong> que vem <strong>do</strong> seu grupo ou das ideologias veiculadas de n<strong>os</strong>sa sociedade. A


74<strong>representação</strong> <strong>social</strong> constrói-se quan<strong>do</strong> o sujeito está em situação de interação<strong>social</strong> ou perante um estímulo <strong>social</strong>.A segunda abordagem insiste n<strong>os</strong> aspect<strong>os</strong> que significam a atividaderepresentativa, ou seja, o sujeito é produtor de senti<strong>do</strong>s, por meio da sua<strong>representação</strong> exprime-se o senti<strong>do</strong> que dá a sua experiência no mun<strong>do</strong> <strong>social</strong>. A<strong>representação</strong> é <strong>social</strong> porque elaborada a partir <strong>do</strong>s códig<strong>os</strong> sociais e <strong>do</strong>s valoresreconheci<strong>do</strong>s pela sociedade. É conseqüentemente o reflexo desta sociedade.Uma terceira abordagem encara as representações sob o ângulo <strong>do</strong> discurso. Assuas propriedades sociais derivam da situação de <strong>com</strong>unicação, <strong>do</strong> pertencimento eda finalidade <strong>do</strong>s seus discurs<strong>os</strong>.A prática <strong>social</strong> da pessoa é valorizada na quarta abordagem, onde o indivíduo é umator <strong>social</strong>, a <strong>representação</strong> que produz reflete as normas institucionais quedecorrem da sua p<strong>os</strong>ição ou das ideologias ligadas ao lugar que ocupa.Como quinta abordagem a autora destaca que o aspecto dinâmico dasrepresentações sociais é sublinha<strong>do</strong> pelo fato de que são as interações entre <strong>os</strong>mem<strong>br</strong><strong>os</strong> de um grupo ou entre grup<strong>os</strong> que contribuem <strong>para</strong> a construção dasrepresentações.Um último ponto de vista é característico de uma visão sociológica e analisa amanifestação das representações p<strong>os</strong>tulan<strong>do</strong> a idéia de uma reprodução <strong>do</strong>s


75model<strong>os</strong> de pensamento <strong>social</strong>mente estabeleci<strong>do</strong>s. O indivíduo é determina<strong>do</strong>pelas ideologias <strong>do</strong>minantes da sociedade na qual evolui.Novamente fica evidenciada a importância da contribuição <strong>social</strong> no surgimento deuma <strong>representação</strong> <strong>social</strong>, dessa forma, o objeto produz senti<strong>do</strong> <strong>para</strong> o indivíduo pormeio da sua atividade cognitiva e de sua experiência no mun<strong>do</strong>, ou seja, pode-sedizer que o indivíduo determina as representações sociais, mas essas, por meio dasinterações <strong>do</strong> grupo e consequentemente por meio <strong>do</strong> desenvolvimento de umaidentificação, também determinam a formação desse indivíduo.Com o objetivo de identificar o objeto na <strong>representação</strong>, Moliner (apud CHAMON,2005) destaca <strong>os</strong> seguintes critéri<strong>os</strong>:1. Quais objet<strong>os</strong> de <strong>representação</strong>?Os objet<strong>os</strong> de <strong>representação</strong> são polimorf<strong>os</strong>, ou seja, não há um único conceito de<strong>trabalho</strong>, o grupo de a<strong>do</strong>lescentes o define de várias formas, de acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> seusvalores, crenças e <strong>com</strong> a experiência vivenciada.2. Para quais grup<strong>os</strong>?Para se supor uma <strong>representação</strong> é necessário supor um grupo <strong>com</strong> algo em<strong>com</strong>um que o caracterize. Segun<strong>do</strong> Chamon (2006), é p<strong>os</strong>sível estabelecer <strong>do</strong>istip<strong>os</strong> de configurações <strong>para</strong> o grupo: estrutural e conjuntural. A configuraçãoestrutural diz respeito a<strong>os</strong> grup<strong>os</strong> em que sua existência faz senti<strong>do</strong> por meio daexistência <strong>do</strong> objeto de <strong>representação</strong> e a conjuntural, se caracteriza <strong>com</strong>o a grup<strong>os</strong>já forma<strong>do</strong>s e que são confronta<strong>do</strong>s a um objeto novo. No caso <strong>do</strong> grupo estuda<strong>do</strong>


76observa-se que eles p<strong>os</strong>suem a mesma faixa etária, 16 a 17 an<strong>os</strong>, <strong>com</strong>partilham <strong>os</strong>mesm<strong>os</strong> ansei<strong>os</strong> de adquirir bens materiais muitas vezes própri<strong>os</strong> de uma classe<strong>social</strong> mais elevada, <strong>com</strong>o: aparelh<strong>os</strong> celulares, tênis de marca, e principalmentevivenciam as mesmas experiências diante da sua inserção no merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>;justifica-se usar a configuração estrutural, uma vez que o grupo estuda<strong>do</strong> estáviven<strong>do</strong> a mesma experiência <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>.3. Com quais <strong>com</strong>promiss<strong>os</strong> em jogo?De acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> Chamon (2006) <strong>do</strong>is tip<strong>os</strong> de <strong>com</strong>promisso devem servir de basea<strong>os</strong> process<strong>os</strong> representacionais, que são a identidade e a coesão <strong>social</strong> e é pormeio desses <strong>com</strong>promiss<strong>os</strong> que o indivíduo será leva<strong>do</strong> a realizar a pressão àinferência. No caso <strong>do</strong> grupo estuda<strong>do</strong>, o <strong>com</strong>promisso aproxima-se da identidade,pois esse grupo só existe em função <strong>do</strong> objeto <strong>trabalho</strong>, <strong>do</strong> lugar que esse ocupa etambém em função deles se identificarem por meio desse objeto. Observa-se aelaboração de uma série de conceit<strong>os</strong> em torno desse objeto que faz <strong>com</strong> que essegrupo se identifique.4. Com relação a quem?Essa questão destaca o que faz <strong>com</strong> que o indivíduo se identifique <strong>com</strong> o grupo e ogrupo <strong>com</strong> o indivíduo, na medida em que o indivíduo se apresenta, se considera ese vê <strong>com</strong>o um a<strong>do</strong>lescente trabalha<strong>do</strong>r, <strong>com</strong>o uma identidade coletiva onde to<strong>do</strong>svivenciam basicamente as mesmas questões e dificuldades.5. Representação ou ideologia?


77Segun<strong>do</strong> Chamon (2006) <strong>para</strong> diferenciar <strong>representação</strong> de ideologia é precisoavaliar o nível de controle e regulação <strong>social</strong> que há no grupo. A partir <strong>do</strong> momentoem que esse controle não consegue atuar plenamente, a<strong>br</strong>e-se a p<strong>os</strong>sibilidade <strong>para</strong>a dispersão da informação e conseqüentemente há a elaboração de uma<strong>representação</strong>. O grupo busca um senti<strong>do</strong> e significa<strong>do</strong> <strong>para</strong> o <strong>trabalho</strong> e oconsegue por meio <strong>do</strong> dia-a-dia, esse processo se dá por meio de normas esituações próprias criadas pelo a<strong>do</strong>lescente e presentes no seu discurso.Jovchelovitch (1995) afirma que o espaço público de interação, no qual asdiferenças ficam evidentes, é que fornece um terreno propício <strong>para</strong> odesenvolvimento das representações sociais. É neste espaço que a história seperpetua, passan<strong>do</strong> de geração a geração. Além disso, afirma que as estruturas dasrepresentações sociais não são simplesmente as somas de representaçõesindividuais; vai muito além, é por meio da mediação entre eu e o mun<strong>do</strong> que elassurgem <strong>com</strong>o resp<strong>os</strong>ta à uma busca de senti<strong>do</strong>.Representações obviamente, não são criadas por um indivíduoisoladamente. Uma vez criadas, contu<strong>do</strong>, elas adquirem uma vidaprópria, circulam, se encontram, se atraem e se repelem e dãooportunidade ao nascimento de novas representações, enquantovelhas representações morrem. Como consequência disso, <strong>para</strong> se<strong>com</strong>preender e explicar uma <strong>representação</strong>, é necessário <strong>com</strong>eçar<strong>com</strong> aquela, ou aquelas, das quais ela nasceu. (MOSCOVICI, 2003,p.41).Novamente, destaca-se a importância <strong>do</strong> meio <strong>social</strong>, <strong>do</strong> contexto no qual ela estáinserida e <strong>do</strong> próprio indivíduo <strong>para</strong> que uma <strong>representação</strong> seja elaborada da formaque o é, mudan<strong>do</strong> cada vez que ocorrem as mudanças a sua volta ou na pessoaque a elabora. Com isso o <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>r também está sempre emmovimento pois na medida em que novas representações surgem na sociedade,


78novas p<strong>os</strong>sibilidades de pesquisa também estão aparecen<strong>do</strong>, motivan<strong>do</strong> o <strong>trabalho</strong><strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>r <strong>com</strong>o explora<strong>do</strong>r desse ambiente.Segun<strong>do</strong> Wagner (2000), a teoria das representações sociais é basicamente umateoria so<strong>br</strong>e a construção <strong>social</strong> em <strong>do</strong>is senti<strong>do</strong>s. Primeiramente, as representaçõessociais são <strong>social</strong>mente construídas por meio de discurs<strong>os</strong> públic<strong>os</strong> n<strong>os</strong> grup<strong>os</strong>. Aforma <strong>com</strong>o as pessoas pensam so<strong>br</strong>e as coisas “reais e imaginárias” <strong>do</strong> seumun<strong>do</strong>, isto é, o conhecimento que as pessoas têm <strong>do</strong> universo, é o resulta<strong>do</strong> deprocess<strong>os</strong> discursiv<strong>os</strong> e portanto, <strong>social</strong>mente construí<strong>do</strong>s. Em um segun<strong>do</strong> senti<strong>do</strong>,entretanto, esse conhecimento é cria<strong>do</strong> pelo grupo.Jodelet (1984) destaca que as representações sociais são modalidades depensamento prático orientadas <strong>para</strong> a <strong>com</strong>unicação, a <strong>com</strong>preensão e o <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong>meio ambiente <strong>social</strong>, material e ideal. Como tal, elas apresentam característicasespecíficas no plano da organização <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s, das operações mentais e dalógica. A autora destaca que as representações sociais são abordadascon<strong>com</strong>itantemente <strong>com</strong>o produto e processo de uma atividade de apropriação darealidade exterior ao pensamento e de elaboração psicológica e <strong>social</strong> dessarealidade. Isto quer dizer que há interesse por uma modalidade de pensamento, sobseu aspecto constituinte – <strong>os</strong> process<strong>os</strong> – e constituí<strong>do</strong> – <strong>os</strong> produt<strong>os</strong> ou conteú<strong>do</strong>s.Modalidade de pensamento cuja especificidade vem de seu caráter <strong>social</strong>.Sá (1998) destaca que o pesquisa<strong>do</strong>r deve estar atento <strong>para</strong> algumas condições deemergência das representações sociais:


79Dispersão da informação: existe algum tipo de conhecimento <strong>do</strong> objeto, mas não <strong>os</strong>uficiente <strong>para</strong> a <strong>com</strong>preensão <strong>do</strong> coletivo; têm-se algumas impressões, mas nadaque mantenha a home<strong>os</strong>tase. Essa insuficiência de informação pode gerar incertezae gerar um processo de reconstrução no indivíduo.Focalização: diz respeito ao interesse específico so<strong>br</strong>e alguns aspect<strong>os</strong>; algo queameace e o desinteresse por outr<strong>os</strong>; colocan<strong>do</strong> o indivíduo e o meio <strong>social</strong> emesta<strong>do</strong> de alerta.Pressão à Inferência: ocorre quan<strong>do</strong> as pessoas precisam se p<strong>os</strong>icionar perante oobjeto e não p<strong>os</strong>suem da<strong>do</strong>s suficientes <strong>para</strong> isto e por esse motivo tendem abuscar referências em algo semelhante e já vivencia<strong>do</strong>.Jodelet (2001, p. 29) n<strong>os</strong> propõe uma reflexão so<strong>br</strong>e a origem das representaçõessociais. Para tal análise a autora pontua as seguintes questões: Quem sabe e deonde sabe? So<strong>br</strong>e o que se sabe e <strong>com</strong>o se sabe? So<strong>br</strong>e o que se sabe e <strong>com</strong> queefeito?So<strong>br</strong>e o fenômeno <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>para</strong> o a<strong>do</strong>lescente podem<strong>os</strong> pensar tais questões daseguinte forma, o que o a<strong>do</strong>lescente sabe so<strong>br</strong>e o <strong>trabalho</strong> e <strong>com</strong>o ele adquiriu esseconhecimento, o que ele produz em term<strong>os</strong> de <strong>representação</strong>, em que condições equal foi o processo de formação dessas representações. Dessa forma, essasquestões n<strong>os</strong> respondem a <strong>com</strong>o são produzidas as representações sociais, <strong>com</strong>oelas circulam, quais são <strong>os</strong> process<strong>os</strong> de <strong>representação</strong> e a origem das mesmas.


80De acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> Sá (1998) é preciso se investigar a relação entre fatores <strong>com</strong>ovalores, model<strong>os</strong>, variáveis, contexto histórico, político e <strong>com</strong>o o próprio sujeito estáinseri<strong>do</strong> nesse contexto. É preciso que o objeto que gera a <strong>representação</strong> tenha“relevância cultural” ou “espessura <strong>social</strong>”. Podem<strong>os</strong> observar essa importância nodestaque que as empresas vêm dan<strong>do</strong> <strong>para</strong> a contratação de a<strong>do</strong>lescentes e pelaprópria lei que discorre so<strong>br</strong>e o <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente aprendiz, o fenômeno <strong>do</strong><strong>trabalho</strong> <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente também pode ser caracteriza<strong>do</strong> pela própria importânciaque o a<strong>do</strong>lescente dá ao <strong>trabalho</strong> e pela forma <strong>com</strong>o o simboliza.Sá (1998) destaca ainda que a forma e a intensidade de tais condições podem variaramplamente de um objeto <strong>para</strong> outro dentro de um grupo, bem <strong>com</strong>o de um grupo<strong>para</strong> outro em relação ao mesmo objeto. Consideran<strong>do</strong>-se a presente pesquisa,podem<strong>os</strong> dizer que houve dispersão da informação, pois há algum tipo deconhecimento <strong>do</strong> objeto <strong>trabalho</strong>, mas não o suficiente <strong>para</strong> <strong>com</strong>peendê-lo, <strong>os</strong>a<strong>do</strong>lescentes elaboram algumas impressões, mas nada que mantenha ahome<strong>os</strong>tase, dessa forma, a insuficiência de informação gera incerteza e o processode reconstrução no indivíduo.Jovchelovith (1995), afirma que a <strong>representação</strong> <strong>social</strong> tem duas origens: cognitiva(<strong>representação</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> externo, tal <strong>com</strong>o se apresenta) e origem psicanalítica (<strong>os</strong>ímbolo <strong>com</strong>o <strong>representação</strong>); <strong>para</strong> esta autora, representar é atribuir um senti<strong>do</strong> deconcreto à subjetividade.Segun<strong>do</strong> González-Rey (2003) a subjetividade deve ser entendida <strong>com</strong>o um<strong>com</strong>plexo e pluridetermina<strong>do</strong> sistema que sofre influência pelo próprio curso dasociedade e das pessoas que a constituem dentro <strong>do</strong> contínuo movimento das


81<strong>com</strong>plexas redes de relações que caracterizam o desenvolvimento <strong>social</strong>. O autordestaca assim a importância <strong>do</strong> meio, mas também da capacidade de criação <strong>do</strong>homem que “produz senti<strong>do</strong>s subjetiv<strong>os</strong>” a tu<strong>do</strong> que o cerca.Dessa forma, pode-se ver a presença das representações sociais por muitas vezesdefinida <strong>com</strong>o uma releitura que o indivíduo faz <strong>do</strong>s objet<strong>os</strong> e experiências que ocerca.Nesse raro momento Psicologia Social e Psicanálise se encontram e emprestam ateoria das Representações Sociais o que cada uma tem de mais característico; aPsicologia Social contribui <strong>com</strong> a vivência que o indivíduo tem a sua volta,localizan<strong>do</strong>-a em um espaço público, enquanto que a Psicanálise contribui <strong>com</strong> aleitura particular que cada um faz dessa realidade, ou seja, a contribuição subjetivade cada um.Na verdade essa relação entre o <strong>social</strong> e o individual, que Jovchelovith (1995)destaca, já havia si<strong>do</strong> menciona<strong>do</strong> no livro A <strong>representação</strong> <strong>social</strong> da Psicanálise deM<strong>os</strong>covici, (1978) onde se destaca a existência dessa dupla contribuição ao dizerque tem<strong>os</strong> de encarar a <strong>representação</strong> <strong>social</strong> tanto na medida em que ela p<strong>os</strong>suiuma contextura psicológica autônoma <strong>com</strong>o na medida em que é própria de n<strong>os</strong>sasociedade e de n<strong>os</strong>sa cultura. (grifo n<strong>os</strong>so).Vala (2004) n<strong>os</strong> destaca que a análise das relações entre as identidades sociais eas representações sociais pode ser estruturada a partir de uma dupla perspectiva:


821. as representações sociais sofrem diferentes <strong>do</strong>míni<strong>os</strong> tanto da vida <strong>social</strong>,quanto das relações sociais, geran<strong>do</strong> <strong>os</strong> grup<strong>os</strong> ou as categorias sociais <strong>com</strong>as quais <strong>os</strong> indivídu<strong>os</strong> se identificam;2. as categorias e <strong>os</strong> grup<strong>os</strong> sociais <strong>com</strong> <strong>os</strong> quais <strong>os</strong> indivídu<strong>os</strong> se identificamconstituem <strong>os</strong> espaç<strong>os</strong> sociais de criação, transformação e aprendizagem dasrepresentações sociais.Dessa forma, o autor n<strong>os</strong> propõe que <strong>os</strong> indivídu<strong>os</strong> constroem representações so<strong>br</strong>ea própria estrutura <strong>social</strong> e é nesse quadro que eles se autop<strong>os</strong>icionam edesenvolvem redes de relações, no interior da qual produzem e transformam asmesmas representações sociais.Segun<strong>do</strong> Minayo (1995), as representações sociais se manifestam em palavras,sentiment<strong>os</strong> e condutas e se institucionalizam, portanto, podem e devem seranalisadas a partir da <strong>com</strong>preensão das estruturas e <strong>do</strong>s <strong>com</strong>portament<strong>os</strong> sociais.Sua mediação privilegiada, porém, é a linguagem, tomada <strong>com</strong>o forma deconhecimento e de interação <strong>social</strong>.Dessa forma Minayo (1995) concorda <strong>com</strong> M<strong>os</strong>covici (2003) que ressalta que aconversação está no centro de n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> univers<strong>os</strong> consensuais, porque ela configurae anima as representações sociais e desse mo<strong>do</strong> lhes dá uma vida própria. AsRepresentações Sociais são <strong>com</strong>o mei<strong>os</strong> de re-criar a realidade. Por meio da<strong>com</strong>unicação, as pessoas e <strong>os</strong> grup<strong>os</strong> concedem uma realidade física a idéias eimagens, a sistemas de classificação e fornecimento de nomes.


83Wagner (2000) ainda ressalta que o denomina<strong>do</strong>r <strong>com</strong>um <strong>do</strong>s diferentes tip<strong>os</strong> de<strong>representação</strong> <strong>social</strong> discuti<strong>do</strong>s até agora é elas serem <strong>social</strong>mente elaboradas ecoletivamente <strong>com</strong>partilhadas.Assim, o termo representações sociais é concebi<strong>do</strong>, <strong>com</strong>o um processo de<strong>com</strong>unicação em desenvolvimento n<strong>os</strong> grup<strong>os</strong> sociais e por outro la<strong>do</strong>, <strong>com</strong>o oresulta<strong>do</strong> desse processo, o que novamente confirma o fato das representaçõessociais criarem o indivíduo em sua forma de agir, pensar e se p<strong>os</strong>icionar no mun<strong>do</strong> e<strong>do</strong> indivíduo também criar suas representações sociais.É justamente essa busca de senti<strong>do</strong> da experiência vivenciada pelo a<strong>do</strong>lescentediante <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>, que se busca identificar <strong>com</strong> a Teoria das RepresentaçõesSociais, onde a<strong>do</strong>lescente e <strong>trabalho</strong> em uma relação de sujeito e objeto são aomesmo tempo un<strong>os</strong> e distint<strong>os</strong> e onde a experiência <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> influencia dia apósdia na formação de um conceito, um valor e nas próprias atitudes que esse jovemtoma.3.2 A relação sujeito / objetoM<strong>os</strong>covici (1978), destaca que quan<strong>do</strong> se fala de representações sociais, deve-separtir de duas premissas. Em primeiro lugar, deve-se considerar que não existe umcorte da<strong>do</strong> entre o universo exterior e o universo <strong>do</strong> indivíduo (ou <strong>do</strong> grupo), que <strong>os</strong>ujeito e o objeto não são absolutamente heterogêne<strong>os</strong>. O objeto está inscrito numcontexto ativo, dinâmico, pois que é parcialmente concebi<strong>do</strong> pela pessoa ou a


84coletividade <strong>com</strong>o prolongamento de seu <strong>com</strong>portamento e só existe <strong>para</strong> elesenquanto função <strong>do</strong>s mei<strong>os</strong> e <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s que permitem conhecê-lo.Jovchelovitch (1995, 2000), destaca três aspect<strong>os</strong> centrais <strong>para</strong> a construção dasrepresentações sociais: as representações sociais sempre são a referência dealguém <strong>para</strong> alguma coisa; p<strong>os</strong>suem caráter imaginativo e construtivo, que a fazautônoma e criativa e finalmente sua natureza <strong>social</strong>. Quan<strong>do</strong> nós falam<strong>os</strong> emrepresentações sociais, a análise desloca-se <strong>para</strong> um outro nível; ela já não secentra no sujeito individual, mas n<strong>os</strong> fenômen<strong>os</strong> produzi<strong>do</strong>s pelas construçõesparticulares da realidade <strong>social</strong>, assim as representações sociais enquantofenômeno psic<strong>os</strong><strong>social</strong>, estão necessariamente radicadas no espaço público e n<strong>os</strong>process<strong>os</strong> por meio <strong>do</strong>s quais o ser humano desenvolve uma identidade, criasímbol<strong>os</strong> e se a<strong>br</strong>e <strong>para</strong> a diversidade de um mun<strong>do</strong> de Outr<strong>os</strong>. Elas não teriamqualquer utilidade em um mun<strong>do</strong> de indivídu<strong>os</strong> isola<strong>do</strong>s, ou melhor, elas nãoexistiriam.Jodelet (1984) ressalta que a <strong>representação</strong> <strong>social</strong> é definida por um conteú<strong>do</strong>:informações, imagens, opiniões e atitudes e esse conteú<strong>do</strong> diz respeito a umobjeto: um <strong>trabalho</strong> a fazer, um evento econômico e um personagem <strong>social</strong>. Deoutro la<strong>do</strong>, ela é a <strong>representação</strong> <strong>social</strong> de um sujeito (indivíduo, família, grupo,classe ...) em relação a outro sujeito.A<strong>br</strong>ic (2000) destaca que toda <strong>representação</strong> é, portanto, uma forma de visão globale unitária de um objeto, mas também de um sujeito. Esta <strong>representação</strong> reestruturaa realidade <strong>para</strong> permitir a integração das características objetivas <strong>do</strong> objeto, das


85experiências anteriores <strong>do</strong> sujeito e <strong>do</strong> seu sistema de atitudes e de normas. Istopermite definir a <strong>representação</strong> <strong>com</strong>o uma visão funcional <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, que, por suavez, permite ao indivíduo ou ao grupo dar um senti<strong>do</strong> às suas condutas e<strong>com</strong>preender a realidade por meio de seu próprio sistema de referências; permitin<strong>do</strong>assim ao indivíduo se adaptar e encontrar um lugar nesta realidade.A<strong>br</strong>ic (2001) reforça que as representações sociais procuram apreender o carátersimbólico <strong>do</strong>s fenômen<strong>os</strong> e não o <strong>com</strong>portamento empírico. Afirma que estudar<strong>representação</strong> <strong>social</strong> não é apenas trabalhar <strong>com</strong> <strong>com</strong>portament<strong>os</strong> empíric<strong>os</strong>, mas<strong>com</strong>preender o processo de simbolização <strong>do</strong> indivíduo. Aponta <strong>com</strong>o primeiro objetode estu<strong>do</strong> m<strong>os</strong>trar que <strong>os</strong> <strong>com</strong>portament<strong>os</strong> não são determina<strong>do</strong>s pelascaracterísticas objetivas <strong>do</strong> momento, mas pela <strong>representação</strong> desse momento. A<strong>representação</strong> ocupa o lugar de influência nas ações e <strong>com</strong>portament<strong>os</strong> daspessoas, mas não é o <strong>com</strong>portamento em si.De acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> Sá (1998) não podem<strong>os</strong> falar em <strong>representação</strong> de alguma coisasem especificar o sujeito – a população ou conjunto <strong>social</strong> – que mantém tal<strong>representação</strong>. Da mesma maneira, não faz senti<strong>do</strong> falar nas representações de umda<strong>do</strong> sujeito <strong>social</strong> sem especificar <strong>os</strong> objet<strong>os</strong> representa<strong>do</strong>s. Dizen<strong>do</strong> de outramaneira, na construção <strong>do</strong> objeto de pesquisa precisam<strong>os</strong> levar em contasimultaneamente o sujeito e o objeto da <strong>representação</strong> que querem<strong>os</strong> estudar.Dessa forma, observa-se que a relação entre sujeito e objeto na elaboração dasrepresentações sociais, onde o sujeito toma <strong>com</strong>o referência sua opiniões e atitudesde forma a imaginar e construir um conteú<strong>do</strong> a respeito de um objeto. Essa visão


86unitária e ao mesmo tempo global, elaborada pelo sujeito e influenciada pelo seumeio e por suas próprias referências é que faz <strong>com</strong> que <strong>os</strong> mem<strong>br</strong><strong>os</strong> de um grupo seidentifiquem e integrem uma identidade de forma a constituir representações sociaisso<strong>br</strong>e um da<strong>do</strong> objeto.Jodelet (2001) destaca que de fato, representar ou se representar corresponde a umato de pensamento pelo qual um sujeito se reporta a um objeto. Este pode ser tantouma pessoa, quanto uma coisa, um acontecimento material, psíquico ou <strong>social</strong>, umfenômeno natural, uma idéia, uma teoria; pode ser tanto real quanto imaginário oumítico, mas é sempre necessário. Não há <strong>representação</strong> sem objeto.Wagner (2000) ressalta que agin<strong>do</strong> no sistema de <strong>representação</strong>, <strong>os</strong> mem<strong>br</strong><strong>os</strong> deum grupo criam o objeto representa<strong>do</strong>, dão-lhe significa<strong>do</strong> e realidade. A interaçãoentre as pessoas expressa e confirma suas crenças subjacentes; de fato, a<strong>representação</strong> <strong>social</strong> é sempre uma unidade <strong>do</strong> que as pessoas pensam e <strong>do</strong> mo<strong>do</strong><strong>com</strong>o fazem. Assim, uma <strong>representação</strong> é mais <strong>do</strong> que uma imagem estática de umobjeto na mente das pessoas; ela <strong>com</strong>preende também seu <strong>com</strong>portamento eprática interativa de um grupo. É ao mesmo tempo uma teoria so<strong>br</strong>e o conhecimentorepresenta<strong>do</strong>, assim <strong>com</strong>o uma teoria so<strong>br</strong>e a construção <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.Representações são sempre construtivas; elas constituem o mun<strong>do</strong> talqual ele é conheci<strong>do</strong> e as identidades que elas sustentam garantemao sujeito um lugar nesse mun<strong>do</strong>. Assim, ao serem internalizadas, asrepresentações passam a expressar a relação <strong>do</strong> sujeito <strong>com</strong> omun<strong>do</strong> que ele conhece e, ao mesmo tempo, elas o situam nessemun<strong>do</strong>. É essa dupla operação de definir o mun<strong>do</strong> e localizar um lugarnele que fornece às representações o seu valor simbólico. (DUVEEN,1995, p.267).


87Jodelet (2001) destaca que a <strong>representação</strong> <strong>social</strong> tem <strong>com</strong> seu objeto uma relaçãode simbolização (substituin<strong>do</strong>-o) e de interpretação (conferin<strong>do</strong>-lhe significações).Estas representações resultam de uma atividade que faz da <strong>representação</strong> umaconstrução e uma expressão <strong>do</strong> sujeito. Esta atividade pode remeter a process<strong>os</strong>cognitiv<strong>os</strong> – o sujeito não é então considera<strong>do</strong> de um ponto de vista epistêmico-,assim <strong>com</strong>o a mecanism<strong>os</strong> intrapsíquic<strong>os</strong> (projeções fantasmáticas, investiment<strong>os</strong>pulsionais, identitári<strong>os</strong> e motivações.) – o sujeito é considera<strong>do</strong> de um ponto de vistapsicológico. Mas a particularidade <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> das representações sociais é o fato deintegrar na análise desses process<strong>os</strong> o pertencimento e a participação, sociais ouculturais, <strong>do</strong> sujeito.Segun<strong>do</strong> Lane (1995), nas representações pode-se detectar <strong>os</strong> valores, a ideologiae as contradições, enfim, aspect<strong>os</strong> fundamentais <strong>para</strong> a <strong>com</strong>preensão <strong>do</strong><strong>com</strong>portamento <strong>social</strong>, sem a necessidade de inferir predisp<strong>os</strong>ições que poucogarantem uma relação causal <strong>com</strong> <strong>com</strong>portament<strong>os</strong>. E mais, a RepresentaçãoSocial caracteriza-se <strong>com</strong>o um <strong>com</strong>portamento observável e registrável, e <strong>com</strong>o umproduto, simultaneamente, individual e <strong>social</strong>, estabelecen<strong>do</strong> um forte elo conceitualentre a psicologia <strong>social</strong> e a sociologia.De acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> M<strong>os</strong>covici (1978) as representações sociais p<strong>os</strong>suem trêsdimensões: a atitude, a informação e o campo de <strong>representação</strong> ou a imagem.• Atitude - expressa a orientação global em relação ao objeto de <strong>representação</strong>,envolve “tomada de p<strong>os</strong>ição”, implican<strong>do</strong> juízo de valor em relação ao objetorepresenta<strong>do</strong>, qualifican<strong>do</strong>-o <strong>com</strong>o p<strong>os</strong>itivo, negativo ou neutro.


88• Informação - corresponde à “organização <strong>do</strong>s conheciment<strong>os</strong> que um grupop<strong>os</strong>sui a respeito de um objeto <strong>social</strong>” (MOSCOVICI, 1978, p. 67).• Campo de <strong>representação</strong> - refere-se à idéia de imagem, modelo <strong>social</strong>, aoconteú<strong>do</strong> concreto e limita<strong>do</strong> das prop<strong>os</strong>ições referentes a um aspectopreciso <strong>do</strong> objeto de <strong>representação</strong>, ou seja, refere-se ao conteú<strong>do</strong> específicodas prop<strong>os</strong>ições e das afirmações <strong>do</strong> sujeito a respeito <strong>do</strong> objeto da<strong>representação</strong>.Jodelet (2001), destaca que as Representações Sociais devem ser estudadasarticulan<strong>do</strong> element<strong>os</strong> afetiv<strong>os</strong>, mentais e sociais e integran<strong>do</strong>, ao la<strong>do</strong> da cognição,da linguagem e da <strong>com</strong>unicação, a consideração das relações sociais que afetam asrepresentações e a realidade material, <strong>social</strong> e ideal so<strong>br</strong>e as quais elas vão intervir.Concluin<strong>do</strong> e concordan<strong>do</strong> <strong>com</strong> Chamon (2006), o conceito de <strong>representação</strong> <strong>social</strong>não é simples de definir, pois, se algumas interpretações são fáceis de apresentar,elas não descartam o perigo de considerar tu<strong>do</strong> <strong>com</strong>o <strong>representação</strong> <strong>social</strong>.Além disso, a autora também destaca que o pesquisa<strong>do</strong>r corre o risco de não ver,nesse tipo de definição, o caráter <strong>social</strong> das representações, sua especificidade emrelação ao grupo, sua função de orientação e de <strong>com</strong>unicação. Esse tipo decaracterização, que é inegavelmente útil <strong>para</strong> a pesquisa empírica, não se justifica amen<strong>os</strong> que haja uma conceituação mais ampla que a sustente.É preciso, então, poder precisar de mo<strong>do</strong> mais claro o que é (e o que não é) uma<strong>representação</strong> <strong>social</strong>, em que circunstâncias podem<strong>os</strong> esperar identificá-la e <strong>para</strong>quais grup<strong>os</strong> sociais, além de estar atento das influências que operam so<strong>br</strong>e aquele


89grupo, interangin<strong>do</strong>, caracterizan<strong>do</strong> e constituin<strong>do</strong>-o <strong>com</strong>o um grupo; essasinfluências podem ser outras pessoas <strong>com</strong> as quais esse grupo convive e suaprópria opinião a respeito <strong>do</strong> objeto da <strong>representação</strong> <strong>social</strong>.Resumin<strong>do</strong>, sujeito e objeto são fundamentalmente indispensáveis <strong>para</strong> que seelaborem representações sociais, onde esse processo de elaboração se caracteriza<strong>com</strong>o um ato de pensamento de um sujeito em relação a um da<strong>do</strong> objeto e esse fatopor si só justifica a ligação e o fato <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is serem inseparáveis.É preciso que o pesquisa<strong>do</strong>r <strong>com</strong>preenda esse processo de simbolização <strong>do</strong>indivíduo onde por meio de um ato de pensamento, sujeito e objeto se reportammutuamente.3.3 Funções das Representações SociaisSegun<strong>do</strong> M<strong>os</strong>covici (2003), a teoria das representações sociais, toma <strong>com</strong>o ponto departida, a diversidade <strong>do</strong>s indivídu<strong>os</strong>, atitudes e fenômen<strong>os</strong>, em toda sua estranhezae imprevisibilidade e seu objetivo é desco<strong>br</strong>ir <strong>com</strong>o <strong>os</strong> indivídu<strong>os</strong> e grup<strong>os</strong> podemconstruir um mun<strong>do</strong> estável, previsível, a partir de tal diversidade.Para o referi<strong>do</strong> autor, as representações sociais p<strong>os</strong>suem precisamente duasfunções:a) Em primeiro lugar, elas convencionam <strong>os</strong> objet<strong>os</strong>, pessoas ou aconteciment<strong>os</strong>que encontram.


90b) Em segun<strong>do</strong> lugar, representações sociais são prescritivas, isto é, elas se impõemso<strong>br</strong>e nós <strong>com</strong> uma força irresistível.Segun<strong>do</strong> Jodelet (2001), reconhece-se geralmente, as representações sociais,enquanto sistemas de interpretação que regem n<strong>os</strong>sa relação <strong>com</strong> o mun<strong>do</strong> e <strong>com</strong><strong>os</strong> outr<strong>os</strong>, orientan<strong>do</strong> e organizan<strong>do</strong> n<strong>os</strong>sas condutas e as <strong>com</strong>unicações sociais.Igualmente as representações sociais intervêm em process<strong>os</strong> tão varia<strong>do</strong>s quanto adifusão e a assimilação <strong>do</strong>s conheciment<strong>os</strong>, o desenvolvimento individual e coletivo,a definição das identidades pessoais e sociais, a expressão <strong>do</strong>s grup<strong>os</strong> e astransformações sociais.Em seu <strong>trabalho</strong> Jodelet (1984) já havia defini<strong>do</strong> as funções das representaçõessociais, <strong>com</strong>o cognitivas, de interpretação e construção da realidade, de orientaçãodas condutas e <strong>com</strong>portament<strong>os</strong>, de identidades e de justificação das práticas,concordan<strong>do</strong> <strong>com</strong> M<strong>os</strong>covici so<strong>br</strong>e o quanto as representações sociais se impõema<strong>os</strong> sujeit<strong>os</strong> a autora destaca <strong>com</strong>o as representações são importantes <strong>para</strong> aformação <strong>do</strong> indivíduo.• Funções cognitivas:As representações sociais permitem a<strong>os</strong> indivídu<strong>os</strong> integrar da<strong>do</strong>s nov<strong>os</strong> a<strong>os</strong> seusquadr<strong>os</strong> de pensamento.• Funções de interpretação e construção da realidade:São uma maneira de pensar e interpretar o mun<strong>do</strong> e a vida diária.


91• Funções de orientação das condutas e <strong>com</strong>portament<strong>os</strong>:As representações sociais são porta<strong>do</strong>ras de senti<strong>do</strong>s, criam uma relação e têm umafunção <strong>social</strong>. Ajudam as pessoas a se <strong>com</strong>unicarem, dirigir-se no seu ambiente eagir. Geram por conseguinte atitudes, opiniões e <strong>com</strong>portament<strong>os</strong>.• Funções de identidades:As representações têm também por função situar <strong>os</strong> indivídu<strong>os</strong> e <strong>os</strong> grup<strong>os</strong> nocampo <strong>social</strong>, ou seja, elas permitem a elaboração de uma identidade <strong>social</strong> epessoal gratificante, ou seja, <strong>com</strong>patível <strong>com</strong> sistemas de normas e de valoressociais e historicamente determina<strong>do</strong>s.• Funções de justificação das práticas:Referem-se particularmente às relações entre grup<strong>os</strong> e as representações que cadagrupo vai fazer em relação a outro grupo, justifican<strong>do</strong> a p<strong>os</strong>teriori tomadas dep<strong>os</strong>ição e <strong>com</strong>portament<strong>os</strong>.Dessa forma também se justifica o uso da teoria das representações sociais <strong>para</strong> seconhecer o <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes, pois por meio da referida teoria objetivam<strong>os</strong>conhecer qual é a interpretação que <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes elaboram dessa experiência<strong>com</strong> o merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>, <strong>com</strong>o eles se orientam e se organizam, quais são <strong>os</strong>conceit<strong>os</strong> assimila<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> o seu desenvolvimento e <strong>com</strong> a identidade queeles estão desenvolven<strong>do</strong>.


923.4 Ancoragem e objetivaçãoM<strong>os</strong>covici (2003) n<strong>os</strong> destaca <strong>do</strong>is process<strong>os</strong> que geram as representações sociaise que são denomina<strong>do</strong>s de ancoragem e objetivação.AncoragemNas palavras de M<strong>os</strong>covici (2003), a ancoragem tenta ancorar idéias estranhas,reduzí-las a classes e a imagens <strong>com</strong>uns, colocá-las em um contexto familiar;ancorar é, pois, classificar e dar nome a alguma coisa. Coisas que não sãoclassificadas e que não p<strong>os</strong>suem nome são estranhas, não existentes e ao mesmotempo ameaça<strong>do</strong>ras. Nós experimentam<strong>os</strong> uma resistência, um distanciamento,quan<strong>do</strong> não som<strong>os</strong> capazes de avaliar algo, de descrevê-lo a nós mesm<strong>os</strong> ou aoutras pessoas.Em M<strong>os</strong>covici (2003), observam<strong>os</strong> que o processo de ancoragem envolve ainda aclassificação daquilo que é observa<strong>do</strong> e que é estranho, segun<strong>do</strong> as pré-condiçõese a capacidade de categorização <strong>do</strong> indivíduo transforman<strong>do</strong>-o em um sistemaparticular de categorias. Esta classificação p<strong>os</strong>sibilita ao indivíduo a p<strong>os</strong>sibilidade derepresentar um objeto segun<strong>do</strong> seus própri<strong>os</strong> <strong>para</strong>digmas, estabelecen<strong>do</strong>associações que o levem a montar uma estrutura de representações em relação aeste objeto.A ancoragem corresponde à integração cognitiva <strong>do</strong> objeto - nov<strong>os</strong>element<strong>os</strong> de saber que são estranh<strong>os</strong>, não existentes e ao mesmotempo ameaça<strong>do</strong>res - representa<strong>do</strong> em um sistema de pensamento<strong>social</strong> pré-existente (SÁ, 1996, p.19).


93Nas palavras de Guareschi (1995), ancorar é trazer <strong>para</strong> classes e imagensconhecidas o que ainda não está classifica<strong>do</strong> e rotula<strong>do</strong>.M<strong>os</strong>covici (2003) destaca que, categorizar alguém ou alguma coisa significaescolher um <strong>do</strong>s <strong>para</strong>digmas estoca<strong>do</strong>s em n<strong>os</strong>sa memória e estabelecer umarelação p<strong>os</strong>itiva ou negativa <strong>com</strong> ele. Pode-se dizer, contu<strong>do</strong>, que em sua grandemaioria essas classificações são feitas <strong>com</strong><strong>para</strong>n<strong>do</strong> as pessoas a um protótipo,geralmente aceito <strong>com</strong>o representante de uma classe e que o primeiro é defini<strong>do</strong> pormeio da aproximação, ou da coincidência <strong>com</strong> o último.Vala (2004) n<strong>os</strong> destaca que a ancoragem das representações sociais refere-se aopapel enquanto âncoras que apóiam a construção de categorias identitárias, declivagens sociais e de p<strong>os</strong>ições sociais, ou seja, às suas conseqüências oufuncionalidade <strong>social</strong>. Dessa forma observa-se que nesse primeiro senti<strong>do</strong> daancoragem, as Representações Sociais encontram-se a montante das identidadessociais e das relações entre grup<strong>os</strong>. Um segun<strong>do</strong> nível de análise da ancoragem,destaca as âncoras necessárias ao processo de construção das RepresentaçõesSociais.Resumin<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> n<strong>os</strong> de<strong>para</strong>m<strong>os</strong> <strong>com</strong> objet<strong>os</strong> estranh<strong>os</strong>, esses são considera<strong>do</strong>sameaça<strong>do</strong>res e vivenciam<strong>os</strong> uma resistência e um distanciamento, a tendência éclassificá-l<strong>os</strong> de acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> categorias que já p<strong>os</strong>suím<strong>os</strong>, estabelecen<strong>do</strong> assim umarelação <strong>com</strong> esse objeto.Objetivação


94A objetivação consiste em transformar algo abstrato em algo quase concreto, queexista no mun<strong>do</strong> físico.A objetivação é uma operação imageante e estruturante, porintermédio da qual se dá uma forma, ou figura, específica aoconhecimento so<strong>br</strong>e o objeto, tornan<strong>do</strong>, assim, concreto, quasetangível, o conceito abstrato, tal <strong>com</strong>o se materializa a palavra.Objetivar é, portanto, achar a qualidade icônica de uma idéia, éreproduzir um conceito em uma imagem (SÁ, 1996, p.18).Leme (1995) destaca que pela objetivação transformam<strong>os</strong> noções, idéias e imagensem coisas concretas e materiais que constituem a realidade.Assim M<strong>os</strong>covici (1978) definiu que a função de duplicar um senti<strong>do</strong> por uma figura,dar materialidade a um objeto abstrato, “naturalizá-lo”, foi chamada de “objetivar”. Afunção de duplicar um figura por um senti<strong>do</strong>, fornecer um contexto inteligível aoobjeto, interpretá-lo, foi chamada de “ancorar”.Complementan<strong>do</strong>, Chamon (2006) n<strong>os</strong> coloca que a objetivação consiste em umprocesso que torna concreto o que é abstrato, que materializa a palavra,transforman<strong>do</strong> o conceito em coisa e o substituin<strong>do</strong> pelo percepto, ou seja, o objetopela sua imagem e a imagem transforman<strong>do</strong>-se no objeto e não em sua<strong>representação</strong>. Ou seja, ela substititui o conceito pelo que é percebi<strong>do</strong>, o objeto pelasua imagem e não sua <strong>representação</strong>.Resumin<strong>do</strong>, ancorar é o processo onde o indivíduo assimila idéias novas e que atéentão eram estranhas, associan<strong>do</strong>-as a um contexto já existente em sua memória;enquanto que objetivar consiste em transformar uma idéia em algo quase real,concreto.


95Como forma de <strong>com</strong>preender esses <strong>do</strong>is process<strong>os</strong> o leitor pode imaginar umarquivo mental, onde cada vez que o indivíduo vivencia uma experiência nova elea<strong>br</strong>e uma gaveta desse arquivo e procura todas as experiências similares econtrárias que estão relacionadas àquela nova, <strong>com</strong>o uma tentativa de <strong>com</strong>preendero que essa experiência nova significa, o que ele já viveu de pareci<strong>do</strong> que pode lheajudar a se familiarizar <strong>com</strong> essa nova experiência, essa seria uma forma de explicara ancoragem; enquanto que a objetivação consiste em você associar uma imagem,forma ou figura a um conceito, imagine-se <strong>com</strong>o um pequeno estudante primário queprecisa decorar o significa<strong>do</strong> de uma palavra nova <strong>para</strong> a prova, você chega emcasa e <strong>com</strong>eça a desenhar em várias folhas de papel e na sua mente coisas que olem<strong>br</strong>em <strong>do</strong> significa<strong>do</strong> daquela palavra.Esses mecanism<strong>os</strong> n<strong>os</strong> ajudam a transformar tu<strong>do</strong> aquilo que é não-familiar emfamiliar, e uma forma de fazer isso é transferin<strong>do</strong> esse conhecimento novo a n<strong>os</strong>saprópria esfera particular, <strong>com</strong>o denomina M<strong>os</strong>covici, dessa forma nós som<strong>os</strong>capazes de <strong>com</strong><strong>para</strong>r e interpretar essa nova experiência am<strong>para</strong><strong>do</strong>s no que jávivenciam<strong>os</strong>.Segun<strong>do</strong> Jodelet (1984), em um primeiro momento, há uma seleção edescontextualização de alguns element<strong>os</strong> da teoria que ocorrem em conformidade<strong>com</strong> critéri<strong>os</strong> culturais - que definem o acesso de cada grupo às informaçõescirculantes - e critéri<strong>os</strong> normativ<strong>os</strong> - que indicam quais element<strong>os</strong> da teoria estão deacor<strong>do</strong> <strong>com</strong> o sistema de valores sociais vigentes. Os element<strong>os</strong> que sãoconflitantes <strong>com</strong> <strong>os</strong> valores sociais são simplesmente excluí<strong>do</strong>s. Com isso, as


96informações selecionadas são destacadas da área científica à qual pertencem e sãoapropriadas pelo público leigo por meio de uma projeção no seu próprio universo.Enquanto que em um segun<strong>do</strong> momento, <strong>os</strong> element<strong>os</strong> seleciona<strong>do</strong>s e devidamentecontextualiza<strong>do</strong>s são reagrupa<strong>do</strong>s, forman<strong>do</strong> um núcleo figurativo onde a imagemreproduzirá a estrutura conceitual. Esta imagem formada integra as novasinformações <strong>com</strong> as experiências anteriores - individuais e coletivas - <strong>do</strong> sujeito.Desta forma, <strong>os</strong> conceit<strong>os</strong> retira<strong>do</strong>s da teoria original passam a formar um conjuntointernamente coerente e <strong>com</strong>patível <strong>com</strong> a visão de mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> sujeito.Finalmente, acontece a naturalização, onde <strong>os</strong> conceit<strong>os</strong> abstrat<strong>os</strong> sãoconcretiza<strong>do</strong>s, ganham vida própria e, assim, o modelo figurativo adquire status deevidência e é <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de realidade.De acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> M<strong>os</strong>covici (2003), é dessa soma de experiências e memórias<strong>com</strong>uns que nós extraím<strong>os</strong> as imagens, a linguagem e <strong>os</strong> gest<strong>os</strong> necessári<strong>os</strong> <strong>para</strong>superar o não familiar, <strong>com</strong> suas conseqüentes ansiedades. As experiências ememórias não são tão inertes, nem mortas. Elas são dinâmicas e imortais.Doise (2001) n<strong>os</strong> sugere que a análise da ancoragem das representações sociaisseja feita a partir da classificação em três modalidades:1. Ancoragem <strong>do</strong> tipo psicológica – refere-se às crenças ou valores geraisque podem organizar as relações simbólicas <strong>com</strong> o outro;


972. Ancoragem <strong>do</strong> tipo psic<strong>os</strong>sociológica – refere-se a maneira <strong>com</strong>o oindivíduo se situa simbolicamente nas relações sociais e nas divisõesp<strong>os</strong>icionais e categorias próprias a um campo <strong>social</strong> defini<strong>do</strong>;3. Ancoragem <strong>do</strong> tipo sociológica – refere-se a maneira <strong>com</strong>o as relaçõessimbólicas entre grup<strong>os</strong> intervêm na apropriação <strong>do</strong> objeto.M<strong>os</strong>covici (2003), n<strong>os</strong> destaca que ancoragem e objetivação são, pois, maneiras delidar <strong>com</strong> a memória. A primeira mantém a memória em movimento e a memória édirigida <strong>para</strong> dentro, está sempre colocan<strong>do</strong> e tiran<strong>do</strong> objet<strong>os</strong>, pessoas eaconteciment<strong>os</strong>, que ela classifica de acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> um tipo e <strong>os</strong> rotula <strong>com</strong> um nome.A segunda, sen<strong>do</strong> mais ou men<strong>os</strong> direcionada <strong>para</strong> fora (<strong>para</strong> outr<strong>os</strong>) tira daíconceit<strong>os</strong> e imagens <strong>para</strong> juntá-l<strong>os</strong> e reproduzí-l<strong>os</strong> no mun<strong>do</strong> exterior, <strong>para</strong> fazer ascoisas conhecidas a partir <strong>do</strong> que já é conheci<strong>do</strong>.Na visão de Jovchelovitch (2000), <strong>os</strong> process<strong>os</strong> de ancoragem e objetivaçãomantêm e desafiam, reproduzem e superam, se formam e, ao mesmo tempo,ajudam a formar a vida <strong>social</strong> de uma <strong>com</strong>unidade.Segun<strong>do</strong> Chamon M. A.(2006), esses <strong>do</strong>is process<strong>os</strong>, objetivação e ancoragem, são<strong>com</strong>plementares, ainda que aparentemente op<strong>os</strong>t<strong>os</strong>: enquanto um busca criarverdades óbvias <strong>para</strong> to<strong>do</strong>s e independentes de to<strong>do</strong> determinismo <strong>social</strong> epsicológico, o outro, refere-se à intervenção de tais determinism<strong>os</strong> na gênese etransformação dessas verdades. A primeira cria a realidade em si e a segunda lhedá significação.Diante de to<strong>do</strong> esse processo de conhecimento e assimilação,observa-se que: as representações emergem <strong>com</strong>o uma modalidadede conhecimento prático orienta<strong>do</strong> <strong>para</strong> a <strong>com</strong>preensão <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e


98<strong>para</strong> a <strong>com</strong>unicação e precisam ser entendidas a partir <strong>do</strong> contextoque as engendram e a partir de sua funcionalidade nas interaçõessociais <strong>do</strong> cotidiano. As representações sociais, por serem formasde conhecimento prático, inserem-se mais especificamente entre ascorrentes que estudam o conhecimento <strong>do</strong> senso <strong>com</strong>um. Comrelação à atividade <strong>do</strong> sujeito na elaboração das representaçõessociais, é importante notar que este sujeito é um sujeito <strong>social</strong> e,portanto, se tomam em consideração as resp<strong>os</strong>tas individuaisenquanto manifestações de tendências <strong>do</strong> grupo na qual <strong>os</strong>indivídu<strong>os</strong> participam (SPINK, 1995, p.16).Após a apresentação da Teoria das Representações Sociais que norteia a pesquisa,torna-se necessária a apresentação <strong>do</strong>s conceit<strong>os</strong> de a<strong>do</strong>lescência e <strong>trabalho</strong>, deforma a <strong>com</strong>preender <strong>com</strong>o a Psicologia vê o fenômeno da a<strong>do</strong>lescência e <strong>com</strong>o aAdministração e a Sociologia vêem o fenômeno <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> e sua mudança ao longoda história, <strong>para</strong> a partir de então observarm<strong>os</strong> quais são as representações sociaisque esses a<strong>do</strong>lescentes elaboram <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>.


994 MÉTODO4.1 Classificação da pesquisaO presente <strong>trabalho</strong> tratou-se de um estu<strong>do</strong> de caso cujo objetivo foi investigar asrepresentações sociais <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> que <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes elaboram quan<strong>do</strong> sãoinseri<strong>do</strong>s no merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>. A justificativa da escolha <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> de estu<strong>do</strong> decaso pode ser dada de acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> Gil (1991), que define que o estu<strong>do</strong> de caso écaracteriza<strong>do</strong> pelo estu<strong>do</strong> profun<strong>do</strong> e exaustivo de um ou pouc<strong>os</strong> objet<strong>os</strong>, demaneira que permita o seu amplo e detalha<strong>do</strong> conhecimento.Cervo (1996) destaca que o estu<strong>do</strong> de caso se justifica quan<strong>do</strong> a pesquisa é so<strong>br</strong>eum determina<strong>do</strong> indivíduo, família, grupo ou <strong>com</strong>unidade <strong>para</strong> examinar aspect<strong>os</strong>varia<strong>do</strong>s de sua vida.Martins (1994) n<strong>os</strong> pontua que o estu<strong>do</strong> de caso dedica-se ao estu<strong>do</strong> intensivo <strong>do</strong>passa<strong>do</strong>, presente e de interações ambientais de uma (ou algumas) unidade <strong>social</strong>:indivíduo, grupo, instituição, <strong>com</strong>unidade... que são validadas pelo rigor <strong>do</strong> protocoloestabeleci<strong>do</strong>.Segun<strong>do</strong> Gil (1991), a maior utilidade <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> de caso é verificada nas pesquisasexploratórias. Por sua flexibilidade, é re<strong>com</strong>endável nas fases iniciais de umainvestigação so<strong>br</strong>e temas <strong>com</strong>plex<strong>os</strong>, <strong>para</strong> a construção de hipóteses oureformulação <strong>do</strong> problema. Também se aplica <strong>com</strong> pertinência nas situações em queo objeto de estu<strong>do</strong> já é suficientemente conheci<strong>do</strong> a ponto de ser enquadra<strong>do</strong> emdetermina<strong>do</strong> tipo ideal.


100Destaca-se que <strong>para</strong> a elaboração da pesquisa foram utilizadas as abordagensqualitativa e quantitativa, buscan<strong>do</strong> contribuir <strong>para</strong> o enriquecimento e <strong>para</strong> a análise<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s. Dessa forma segue uma tabela, baseada nas contribuições de Alves-Mazzotti (2004), Go<strong>do</strong>y (1995), Hayati (2006), Ludke (1986) e Neves (1996) quantoàs contribuições da pesquisa qualitativa e quantitativa e seus aspect<strong>os</strong> p<strong>os</strong>itiv<strong>os</strong> enegativ<strong>os</strong>:Quadro 1: Características da pesquisa qualitativa e quantitativaPesquisa Qualitativa QuantitativaPlano de ação• Concepção• Planejamento• EstratégiaInstrument<strong>os</strong> <strong>para</strong>a coleta de da<strong>do</strong>sContexto <strong>social</strong> /TeoriaApresentação <strong>do</strong>sresulta<strong>do</strong>sAnálise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>sConclusõesEvolui durante o seudesenvolvimento, uma vez que asestratégias que utiliza permitemdesco<strong>br</strong>ir relações entre fenômen<strong>os</strong> emuitas vezes fazem surgir nov<strong>os</strong>pressup<strong>os</strong>t<strong>os</strong>.O pesquisa<strong>do</strong>r atua <strong>com</strong>o instrumentoprincipal nesta atividade.Utiliza-se de entrevista, observação,investigação participativa, entreoutr<strong>os</strong>.Tende a buscar significa<strong>do</strong>s emcontext<strong>os</strong> <strong>social</strong> e culturalmenteespecífic<strong>os</strong>, porém também pode seutilizar de generalização teórica.Normalmente, apresenta a descriçãoe análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s por meio de umasíntese narrativa, descritiva.Utiliza-se de enfoque indutivo ou seja,generalizações e observaçõesespecíficas <strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>r.Βusca da <strong>com</strong>preensão <strong>do</strong>sfenômen<strong>os</strong>, pelo investiga<strong>do</strong>r, a partirda perspectiva <strong>do</strong>sparticipantes.Pré-estabeleci<strong>do</strong>, <strong>com</strong> o intuito deenumerar ou medir event<strong>os</strong>.Utiliza-se de questionári<strong>os</strong> <strong>com</strong>questões fechadas e testes aplica<strong>do</strong>sa partir de entrevistas individuais.Normalmente trata-se de umquestionário convencional que podeser impresso ou eletrônico.Utiliza-se da teoria <strong>para</strong> desenvolveras hipóteses e as variáveis dapesquisa.Geralmente, emprega <strong>para</strong> a análise<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s uma ferramentaestatística.Examina as relações entre asvariáveis por méto<strong>do</strong>s experimentaisou semi-experimentais.Confirma as hipóteses da pesquisaou descobertas por dedução, ou seja,realiza predições específicas deprincípi<strong>os</strong>, observações ouexperiências.


101Dessa forma, ao utilizar-se <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> qualitativo e quantitativo <strong>para</strong> o estu<strong>do</strong> dasrepresentações sociais <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>para</strong> <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes, utilizou-se a triangulaçãode méto<strong>do</strong>s, que se refere à <strong>com</strong><strong>para</strong>ção de da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s em ambas asabordagens ou seja, buscou-se a<strong>do</strong>tar méto<strong>do</strong>s divers<strong>os</strong> <strong>para</strong> a análise de umobjeto de estu<strong>do</strong>, o <strong>trabalho</strong> na a<strong>do</strong>lescência.Conforme Go<strong>do</strong>y (2005) pode-se utilizar da <strong>com</strong>binação alternada ou da utilizaçã<strong>os</strong>imultânea <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is méto<strong>do</strong>s <strong>para</strong> responder à questão de pesquisa. Portanto, asabordagens podem ser <strong>com</strong>plementares e adequadas <strong>para</strong> minimizar a subjetividadee aproximar o pesquisa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> objeto de estu<strong>do</strong>, responden<strong>do</strong> às principais críticasdas abordagens qualitativa e quantitativa e proporcionan<strong>do</strong> maior confiabilidade a<strong>os</strong>da<strong>do</strong>s.4.2 Instrument<strong>os</strong>4.2.1 EntrevistasA primeira técnica empregada <strong>para</strong> a coleta <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s foi a entrevista (Apêndice A),visan<strong>do</strong> proporcionar a visão que <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes têm <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> diante da suainserção no merca<strong>do</strong>. Tal técnica objetiva entender o <strong>com</strong>portamento humano apartir <strong>do</strong> discurso <strong>do</strong> entrevista<strong>do</strong>. Justifica-se o uso da entrevista semi-estruturadapor ser um instrumento que proporciona melhor acesso à <strong>com</strong>unicação;principalmente, por ser a fala a principal fonte de informação das representaçõessociais.


102De acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> Marconi (1999), a entrevista é um encontro entre duas pessoas, afim de que uma delas obtenha informações de determina<strong>do</strong> assunto, mediante umaconversação de natureza profissional. É um procedimento utiliza<strong>do</strong> na investigação<strong>social</strong>, <strong>para</strong> a coleta de da<strong>do</strong>s ou <strong>para</strong> ajudar no diagnóstico ou no tratamento de umproblema <strong>social</strong>.Marconi (1999), ressalta ainda que a entrevista é um importante instrumento de<strong>trabalho</strong> n<strong>os</strong> vári<strong>os</strong> camp<strong>os</strong> das ciências sociais ou de outr<strong>os</strong> setores de atividades,<strong>com</strong>o da Sociologia, da Antropologia, da Psicologia Social, da Política, <strong>do</strong> ServiçoSocial, <strong>do</strong> Jornalismo, das Relações Públicas, da Pesquisa de Merca<strong>do</strong> e outras.O modelo de entrevista utilizada foi a semi-estruturada e inicialmente foi aplica<strong>do</strong> umpré-teste, por meio <strong>do</strong> qual se verificou a necessidade de refazer uma questão quenão estava clara <strong>para</strong> <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes.M<strong>os</strong>covici (2003) e Sá (1998) destacam que a entrevista se constitui em um itemfundamental <strong>para</strong> o levantamento de da<strong>do</strong>s em representações sociais, sen<strong>do</strong>seguida de conveniente análise de conteú<strong>do</strong>, além disso, <strong>com</strong>o destaca Sá (1998)outra característica importante da entrevista é que ela tem o caráter maisespontâneo p<strong>os</strong>sível. O autor destaca ainda, que a partir <strong>do</strong> momento em que seidentifica a existência de uma <strong>representação</strong> <strong>para</strong> um determina<strong>do</strong> grupo, estas serepetem <strong>para</strong> um grupo maior, o que justifica o fato de não haver necessidade derealizar um número grande de entrevistas.


103Segun<strong>do</strong> Jodelet (2001), <strong>para</strong> a abordagem das representações sociais, alinguagem p<strong>os</strong>sibilita que se entreveja o que, da história pessoal e profunda de cadaum, o objeto representa<strong>do</strong> mobiliza, as filtragens, as descontextualizações, asassociações que a mobilização suscita, bem <strong>com</strong>o a moldagem deste dinamismopela história e pela cultura <strong>do</strong>s sujeit<strong>os</strong>, em seus grup<strong>os</strong> de identificação. É a partirdeste espaço, a um tempo particular e <strong>com</strong>um, que vêm ao indivíduo as condiçõesde apreender e de decodificar as mensagens, articulan<strong>do</strong>-as a partir de camp<strong>os</strong> designificações, <strong>com</strong>o uma espécie de “filtro interpretativo”.Segun<strong>do</strong> Wagner (1995), <strong>com</strong>o a <strong>representação</strong> <strong>social</strong> inclui <strong>com</strong>unicação ediscurso <strong>para</strong> a elaboração de significa<strong>do</strong>s, faz-se necessário conhecer estesconteú<strong>do</strong>s por meio da fala <strong>do</strong> indivíduo.Assim, procurou-se <strong>com</strong> esse estu<strong>do</strong> identificar <strong>com</strong>o <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes elaboram a<strong>representação</strong> <strong>social</strong> <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>.Como parte final da entrevista foram apresenta<strong>do</strong>s a<strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes 8 figurasrecortadas de jornais e revistas, onde eles recebiam a seguinte instrução:“O que você vê nessa figura?” “O que ela significa <strong>para</strong> você?”Destaca-se que o objetivo da apresentação dessas figuras justificou-se na tentativade investigar <strong>com</strong>o <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes organizam suas representações sociais arespeito <strong>do</strong> objeto estuda<strong>do</strong>, <strong>com</strong>plementan<strong>do</strong> as questões semi-estruturadas jáprop<strong>os</strong>tas.


104A seguir segue a descrição <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> das figuras:1. Pessoas trabalhan<strong>do</strong> em uma monta<strong>do</strong>ra de automóveis;2. Uma pessoa trabalhan<strong>do</strong> informalmente <strong>com</strong>o feirante;3. Estudantes realizan<strong>do</strong> uma prova;4. Pessoas trabalhan<strong>do</strong> no campo;5. Um pai, uma mãe e <strong>do</strong>is filh<strong>os</strong> empinan<strong>do</strong> uma pipa;6. Pessoas trabalhan<strong>do</strong> em uma fá<strong>br</strong>ica, encaixotan<strong>do</strong>;7. Joga<strong>do</strong>res de futebol;8. Pessoas assistin<strong>do</strong> a uma aula.Loiz<strong>os</strong> (2002) se refere ao uso de fot<strong>os</strong> e vídeo <strong>com</strong>o méto<strong>do</strong>s de pesquisaqualitativa e o justifica dizen<strong>do</strong> que a imagem é um excelente recurso, pois ofereceum registro restrito, mas poder<strong>os</strong>o, das ações temporais e <strong>do</strong>s aconteciment<strong>os</strong> reaise embora a pesquisa <strong>social</strong> esteja tipicamente a serviço de <strong>com</strong>plexas questõesteóricas e abstratas, ela pode empregar <strong>com</strong>o da<strong>do</strong>s primári<strong>os</strong> a informação visual.Outra contribuição importante é apontada pelo autor ao afirmar que o mun<strong>do</strong> em quevivem<strong>os</strong> é crescentemente influencia<strong>do</strong> pel<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> de <strong>com</strong>unicação, cuj<strong>os</strong>resulta<strong>do</strong>s, muitas vezes, dependem de element<strong>os</strong> visuais. Consequentemente, o“visual” e a “mídia” desempenham papéis importantes na vida <strong>social</strong>, política eeconômica.


105O que dizer então desses a<strong>do</strong>lescentes, falantes mais intimida<strong>do</strong>s diante deperguntas que <strong>os</strong> fazem refletir so<strong>br</strong>e a realidade que <strong>os</strong> cerca. Dessa forma, asimagens foram sugeridas também <strong>com</strong>o forma de apreender <strong>os</strong> conteú<strong>do</strong>sespontâne<strong>os</strong>, a partir da evocação de imagens nas entrevistas e ao mesmo tempo<strong>para</strong> incentivá-l<strong>os</strong> a falar so<strong>br</strong>e <strong>os</strong> mesm<strong>os</strong>.4.2.2 Questionári<strong>os</strong>Conforme menciona<strong>do</strong> anteriormente, após as entrevistas foi elabora<strong>do</strong> oquestionário, objetivan<strong>do</strong>-se obter da<strong>do</strong>s <strong>para</strong> uma análise quantitativa.Segun<strong>do</strong> Chamon M. A. (2006) o questionário pode ser defini<strong>do</strong> <strong>com</strong>o uminstrumento de coleta de informações basea<strong>do</strong> na análise das resp<strong>os</strong>tas dadas auma série de questões apresentadas. O questionário é muito utiliza<strong>do</strong> em grandesam<strong>os</strong>tras e se presta ao tratamento quantitativo, a outra vantagem <strong>do</strong> questionárioconsiste na padronização que ele permite, reduzin<strong>do</strong> <strong>os</strong> risc<strong>os</strong> subjetiv<strong>os</strong> que podemser causa<strong>do</strong>s pela variação de pesquisa<strong>do</strong>res e reduzin<strong>do</strong> também as variações deinterpretação de indivídu<strong>os</strong>. Com base nessas vantagens optou-se por utilizar oquestionário de forma a <strong>com</strong>plementar <strong>os</strong> resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s <strong>com</strong> as entrevistas.


106Gil (1991) n<strong>os</strong> destaca que as questões formuladas no questionário devem serpreferencialmente fechadas, mas conten<strong>do</strong> alternativas suficientemente exaustivas<strong>para</strong> conter a maior gama de resp<strong>os</strong>tas p<strong>os</strong>síveis.4.2.3 Diári<strong>os</strong>Como <strong>com</strong>plementação às entrevistas e <strong>com</strong>o forma de coletar as representaçõessociais <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes em relação ao <strong>trabalho</strong> utilizou-se também a técnica <strong>do</strong>registro em diári<strong>os</strong>.Ludke (1986) destaca que a análise <strong>do</strong>cumental pode se constituir em uma técnicavali<strong>os</strong>a de abordagem de da<strong>do</strong>s qualitativ<strong>os</strong>, ora <strong>com</strong>plementan<strong>do</strong> as informaçõesobtidas por outras técnicas, ora desvendan<strong>do</strong> aspect<strong>os</strong> nov<strong>os</strong> de um tema ouproblema. Podem ser considera<strong>do</strong>s <strong>do</strong>cument<strong>os</strong> “quaisquer materiais escrit<strong>os</strong> quep<strong>os</strong>sam ser usa<strong>do</strong>s <strong>com</strong>o fonte de informação so<strong>br</strong>e o <strong>com</strong>portamento humano”,desde leis e regulament<strong>os</strong>, até cartas, memoran<strong>do</strong>s, diári<strong>os</strong> pessoais, discurs<strong>os</strong>,autobiografias, revistas, roteir<strong>os</strong> de programas de televisão, livr<strong>os</strong>, estatísticas earquiv<strong>os</strong> escolares. Esses <strong>do</strong>cument<strong>os</strong> constituem também uma fonte poder<strong>os</strong>a deonde podem ser retiradas evidências que fundamentem afirmações e declarações <strong>do</strong>pesquisa<strong>do</strong>r e representam ainda uma fonte “natural” de informação contextualizada,pois surgem em um determina<strong>do</strong> contexto.Neves (1996) destaca que a pesquisa <strong>do</strong>cumental é constituída pelo exame demateriais que ainda não receberam um tratamento analítico ou que podem serreexamina<strong>do</strong>s <strong>com</strong> vistas a uma interpretação nova ou <strong>com</strong>plementar.


1074.3 Lócus de pesquisaApós a descrição das técnicas utilizadas, faz-se necessária uma descrição dainstituição onde a pesquisa foi realizada. A Sociedade de Amparo e Promoção –SOAPRO consiste em uma organização não governamentale foi fundada em22/09/76 por uma benfeitora que idealizou fundar uma instituição <strong>para</strong> desenvolverum <strong>trabalho</strong> <strong>social</strong> <strong>com</strong> a<strong>do</strong>lescentes carentes da cidade de Taubaté – SP.A cidade de Taubaté está localizada no médio Vale <strong>do</strong> Paraíba Paulista e entre <strong>os</strong>maiores centr<strong>os</strong> de produção e consumo <strong>do</strong> país: São Paulo, Rio de Janeiro e MinasGerais.Figura 1: Localização geográfica de TaubatéFonte: Elabora<strong>do</strong> por Pra<strong>do</strong> (2007) a partir <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> IBGE


108Voltan<strong>do</strong> à instituição onde a pesquisa foi realizada, a SOAPRO demorou muit<strong>os</strong>an<strong>os</strong> <strong>para</strong> conseguir se estruturar e se organizar <strong>com</strong>o uma instituição deaprendizagem, pois, no início <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes vinham e realizavam pequenasatividades de manutenção, conservação e limpeza da própria instituição até quesurgisse uma oportunidade de <strong>trabalho</strong>. Nessa época eram pouc<strong>os</strong> <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentesinseri<strong>do</strong>s no merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>. Em 2001 a instituição inaugurou <strong>os</strong> curs<strong>os</strong> deartesanato, artes cênicas, bicicletaria e elétrica residencial e aumentou também aparceria <strong>com</strong> as empresas onde <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes trabalhariam <strong>com</strong>o presta<strong>do</strong>res deserviço.O gráfico abaixo n<strong>os</strong> <strong>com</strong>prova <strong>com</strong>o a instituição cresceu a partir de 2001: ampliouseus curs<strong>os</strong> e aumentou a quantidade de a<strong>do</strong>lescentes no merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>.HISTÓRICO DOS ADOLESCENTES DA SOAPRO NO MERCADO DE TRABALHOQuantidade de a<strong>do</strong>lescentes3002502001501005018325677138 13817325126227301998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007AnoFigura 2: Quantidade de a<strong>do</strong>lescentes no merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>Gráfico elabora<strong>do</strong> pela autora <strong>com</strong> da<strong>do</strong>s forneci<strong>do</strong>s pela SOAPRO.


109Atualmente a SOAPRO conta <strong>com</strong> 12 curs<strong>os</strong> ministra<strong>do</strong>s por meio de parceria <strong>com</strong> aPrefeitura Municipal de Taubaté, o SENAC e o SENAI. A parceria <strong>com</strong> a PrefeituraMunicipal de Taubaté fornece <strong>os</strong> professores e o material <strong>para</strong> a realização <strong>do</strong>scurs<strong>os</strong>: Datilografia, Artesanato, Cabeleireiro, Manicure e Panificação. A parceria<strong>com</strong> o SENAI fornece supervisão técnica <strong>para</strong> <strong>os</strong> curs<strong>os</strong> de Bicicletaria e ElétricaResidencial e a parceria <strong>com</strong> o SENAC fornece capacitação técnica <strong>para</strong> <strong>os</strong><strong>do</strong>centes da instituição que ministram o curso de Treinamento <strong>para</strong> o Merca<strong>do</strong> deTrabalho, existem ainda alguns curs<strong>os</strong> que são totalmente promovi<strong>do</strong>s pelainstituição que são informática, inglês, desenho e artes cênicas.4.4 População e am<strong>os</strong>traMenin (2004), destaca que é essencial se conhecer <strong>os</strong> sujeit<strong>os</strong> das representaçõessociais <strong>para</strong> se <strong>com</strong>preender porque falam o que falam, dessa forma, falarem<strong>os</strong> umpouco da população e am<strong>os</strong>tra.A população é <strong>com</strong>p<strong>os</strong>ta por 1250 a<strong>do</strong>lescentes, <strong>do</strong> sexo feminino e masculino,<strong>com</strong> idade entre 11 e 17 an<strong>os</strong>, que se encontram fazen<strong>do</strong> curs<strong>os</strong> na instituição eo<strong>br</strong>igatoriamente freqüentan<strong>do</strong> a escola.A am<strong>os</strong>tra foi constituída de a<strong>do</strong>lescentes, <strong>com</strong> idade entre 16e 18 an<strong>os</strong>,matricula<strong>do</strong>s principalmente no Ensino Médio e cursan<strong>do</strong> o Curso de CapacitaçãoProfissional – “Treinamento <strong>para</strong> o Merca<strong>do</strong> de Trabalho” da SOAPRO e inseri<strong>do</strong>sno merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>. Esse grupo de a<strong>do</strong>lescentes trabalha<strong>do</strong>res totaliza 265.


110Destaca-se ainda que esses a<strong>do</strong>lescentes que estão inseri<strong>do</strong>s no merca<strong>do</strong> de<strong>trabalho</strong> não podem repetir de ano na escola, pois <strong>do</strong> contrário são desliga<strong>do</strong>s <strong>do</strong><strong>trabalho</strong>.É importante destacar que apesar <strong>do</strong> ECA e da Lei <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente Aprendizdeterminarem a idade mínima <strong>para</strong> trabalhar a partir de 14 an<strong>os</strong>, a instituição prefereencaminhar <strong>para</strong> o merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong> a<strong>do</strong>lescentes entre 16 an<strong>os</strong> e 18 an<strong>os</strong>. Com18 an<strong>os</strong> <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes são desliga<strong>do</strong>s da instituição, dessa forma, n<strong>os</strong>sa am<strong>os</strong>trafoi limitada a a<strong>do</strong>lescentes <strong>com</strong> idade de 16 e 17 an<strong>os</strong>.4.5 Procediment<strong>os</strong> de coleta de da<strong>do</strong>sNa primeira fase da pesquisa – entrevista – partici<strong>para</strong>m 30 a<strong>do</strong>lescentes. Asentrevistas foram feitas individualmente na instituição; foram gravadas ep<strong>os</strong>teriormente transcritas <strong>para</strong> serem disponibilizadas no software ALCESTE 4.5.Elas foram destruídas após a transcrição.Outro fato importante é que o total de entrevistas foi defini<strong>do</strong> pelo critério dasaturação, isto significa que à medida que as resp<strong>os</strong>tas dadas pel<strong>os</strong> sujeit<strong>os</strong> depesquisa se assemelhassem consideram<strong>os</strong> <strong>com</strong>o suficiente a am<strong>os</strong>tra coletada; ouseja, a saturação foi considerada por meio da repetição <strong>do</strong> discurso. A previsãoinicial era de 60 entrevistas, mas consideram<strong>os</strong> 30 suficientes.Tais a<strong>do</strong>lescentes foram seleciona<strong>do</strong>s aleatoriamente.


111Na segunda fase – aplicação <strong>do</strong> questionário - foi feita uma aplicação em sala deaula, <strong>para</strong> <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes que estão trabalhan<strong>do</strong>. Destaca-se que <strong>os</strong> 30a<strong>do</strong>lescentes entrevista<strong>do</strong>s p<strong>os</strong>sivelmente também responderam ao questionário.O questionário foi <strong>com</strong>p<strong>os</strong>to de 63 questões (Apêndice B) e visou verificar arelevância das <strong>do</strong>ze subclasses pontuadas na análise <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> e destacadaspelo Alceste ( relevância <strong>social</strong>, autonomia, aprendizagem / conhecimento,conquistas / reconhecimento, amizade, família / filh<strong>os</strong>, estu<strong>do</strong>, <strong>trabalho</strong> formal,<strong>trabalho</strong> informal, estu<strong>do</strong>, <strong>trabalho</strong> e carreira / profissão.Inicialmente o questionário foi aplica<strong>do</strong> a 20 a<strong>do</strong>lescentes <strong>com</strong>o forma de pré-teste everificou-se a necessidade de esclarecer melhor e reescrever duas questões.Destaca-se que o questionário foi aplica<strong>do</strong> a<strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes durante o horário <strong>do</strong>curso na instituição e que o objetivo inicial da pesquisa era aplicar o questionário a<strong>os</strong>265 a<strong>do</strong>lescentes inseri<strong>do</strong>s no merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>, sen<strong>do</strong> que só foi p<strong>os</strong>sívelaplicá-lo a 173 a<strong>do</strong>lescentes, o que significa um alcance de 65,3% da am<strong>os</strong>trapretendida, <strong>os</strong> da<strong>do</strong>s foram tabula<strong>do</strong>s pelo software SPHINX 5.0.Outro méto<strong>do</strong> <strong>para</strong> coleta de informações foi o diário, onde <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentesdeveriam registrar a rotina de <strong>trabalho</strong>, suas impressões e seus sentiment<strong>os</strong> so<strong>br</strong>e omesmo. Os diári<strong>os</strong> (Apêndice C) foram distribuí<strong>do</strong>s <strong>para</strong> 10 a<strong>do</strong>lescentesquemanifestaram interesse em preenchê-l<strong>os</strong> e <strong>com</strong> o propósito de permanecer <strong>com</strong>eles por sessenta dias.


112Os a<strong>do</strong>lescentes foram orienta<strong>do</strong>s a registrar suas experiências, impressões eopiniões no que diz respeito ao seu <strong>trabalho</strong>, incluin<strong>do</strong> o ambiente, as atividades,a orientação, a relação <strong>com</strong> <strong>os</strong> colegas no <strong>trabalho</strong> ou fora dele, a rotina quan<strong>do</strong>ele chega ao <strong>trabalho</strong>, se por acaso ele se encontra <strong>com</strong> <strong>os</strong> colegas fora <strong>do</strong><strong>trabalho</strong> o que eles fazem e também a anotar as relações entre o <strong>trabalho</strong> e outrasatividades que ele desenvolve, por exemplo a escola.Obtivem<strong>os</strong> a devolução de cinco diári<strong>os</strong>.4.6 Tratamento <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>sA técnica utilizada <strong>para</strong> análise das entrevistas foi a análise de categorias, que éuma das formas mais utilizadas <strong>para</strong> a análise de conteú<strong>do</strong> de entrevistas,permitin<strong>do</strong> assim, a reconstrução <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> da <strong>representação</strong> <strong>social</strong>.Camargo (2005) ressalta que, a análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s textuais, parte importante daanálise de conteú<strong>do</strong>, utiliza a linguagem escrita ou transcrita (material escrito damídia, fala durante uma entrevista, depoiment<strong>os</strong>, relat<strong>os</strong>, <strong>do</strong>cument<strong>os</strong>).Rangel (1998) e Martins (1994) n<strong>os</strong> destacam que a análise de conteú<strong>do</strong> atende ainteresses <strong>com</strong>o recortar, analisar, descrever e interpretar a partir de determinadasreferências teóricas, o conteú<strong>do</strong> da mensagem.


113O ALCESTE 4.5 (Análise Lexical Contextual de um Conjunto de Segment<strong>os</strong> deTexto) trata-se de um programa de informática desenvolvi<strong>do</strong> por M. Reinert, ondesão inseri<strong>do</strong>s <strong>os</strong> discurs<strong>os</strong> de entrevista e que realiza a análise de text<strong>os</strong>, por meiode técnicas de classificação hierárquica descendente de palavras, apresentan<strong>do</strong>classes lexicais que são apresentadas por vocábulo e partes <strong>do</strong> texto que têm essevocábulo <strong>com</strong>um.Outra informação importante apontada por Camargo (2005) é que as técnicas deanálise de estatística textual desenvolvidas pelo software ALCESTE, bem <strong>com</strong>o aapropriação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s pelo pesquisa<strong>do</strong>r, permitem caracterizar este estu<strong>do</strong><strong>com</strong>o quali-quantitativo.Destaca-se que <strong>para</strong> submeter o discurso ao software ALCESTE é necessárioprepará-lo, utilizan<strong>do</strong>-se <strong>do</strong>s seguintes procediment<strong>os</strong>, <strong>com</strong>o n<strong>os</strong> destaca Chamon(2007):1. Cada entrevista deve ser cuida<strong>do</strong>samente transcrita e revisada, corrigin<strong>do</strong>-se<strong>os</strong> err<strong>os</strong> ortográfic<strong>os</strong> e procuran<strong>do</strong> preservar, ainda que aproximadamente, apontuação, pois ela é usada <strong>para</strong> auxiliar na definição das Unidades deContexto Elementares - U.C.Es.2. As entrevistas devem ser transcritas em um arquivo Word, usan<strong>do</strong> Arial 12 ouTimes New Roman 12 <strong>com</strong>o tipo de letra.3. Cada entrevista deve ser apresentada em um único parágrafo conten<strong>do</strong>apenas as resp<strong>os</strong>tas <strong>do</strong>s sujeit<strong>os</strong>, sem as questões <strong>do</strong> entrevista<strong>do</strong>r.


114Outro procedimento importante e indispensável que deve ser segui<strong>do</strong> na pre<strong>para</strong>ção<strong>do</strong> texto <strong>para</strong> o ALCESTE é a definição das Unidades de Contexto Iniciais (UCIs),que no caso dessa pesquisa foram as seguintes:Sexo: m – masculino, f – feminino.Idade: 1 – 16 an<strong>os</strong>, 2 – 17 an<strong>os</strong>.Escolaridade: 1 – 8ª série, 2 – 1º ano, 3 – 2º ano, 4 – 3º ano, 5 – concluí<strong>do</strong>.Tempo de serviço: 1 – de 0 a 6 meses, 2 – de 6 a 12 meses, 3 – de 12 a 23 meses.Iniciativa própria / Incentivo da família (<strong>para</strong> procurar emprego): 1- iniciativaprópria, 2 – incentivo da família, 3 - Iniciativa própria e incentivo da família.Quantidade de pessoas que residem em casa: 1- 3 pessoas, 2 – 4 pessoas, 3 – 5pessoas, 4 – 6 pessoas, 5 – mais de 6 pessoas.Quantidade de pessoas que trabalham em casa: 1- 1 pessoa, 2 – 2 pessoas, 3 –3 pessoas, 4 – 4 pessoas, 5 – 5 pessoas.Quantidade de cômo<strong>do</strong>s em casa: 1 – 3 cômo<strong>do</strong>s, 2 – 4 cômo<strong>do</strong>s, 3 – 5 cômo<strong>do</strong>s,4 – 6 cômo<strong>do</strong>s, 5 – 7 cômo<strong>do</strong>s.Salário <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente: 1 – 175 reais, 2 – 350 reais (consideran<strong>do</strong>-se que nomomento da entrevista o salário mínimo era de 350 reais)Salário da família: 1 – até 1 salário mínimo, 2 – de 1 a 2 salári<strong>os</strong> mínim<strong>os</strong>, 3 - de 2a 3 salári<strong>os</strong> mínim<strong>os</strong>, 4 - de 3 a 4 salári<strong>os</strong> mínim<strong>os</strong>, 5 - mais de 4 salári<strong>os</strong> mínim<strong>os</strong>.Salário <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente + salário da família: 1 – até 1 salário mínimo, 2 – de 1 a 2salári<strong>os</strong> mínim<strong>os</strong>, 3 - de 2 a 3 salári<strong>os</strong> mínim<strong>os</strong>, 4 - de 3 a 4 salári<strong>os</strong> mínim<strong>os</strong>, 5 -mais de 4 salári<strong>os</strong> mínim<strong>os</strong>.A fim de ilustrar segue-se um exemplo de <strong>com</strong>o uma UCI é elaborada:0001 *m *id1 *esc3 *tem3 * pes3 *ptra2 * <strong>com</strong>2 *sa<strong>do</strong>2 *sfam1 *sa+f2


115Dessa forma, o texto formata<strong>do</strong> foi submeti<strong>do</strong> ao programa que forneceu a análise<strong>para</strong> <strong>os</strong> da<strong>do</strong>s e tivem<strong>os</strong> as classes formadas por Unidades de ContextoElementares (UCEs), juntamente <strong>com</strong> <strong>os</strong> da<strong>do</strong>s estatístic<strong>os</strong>: preservação daimportância de cada palavra na classe analisada (Percentual na Classe),identificação da palavra, análise e correlação <strong>com</strong> as outras classes, sen<strong>do</strong> tambémdescrita sua importância <strong>para</strong> o conjunto de da<strong>do</strong>s inseri<strong>do</strong>s.Outra informação importante obtida por meio <strong>do</strong> ALCESTE é o qui-quadra<strong>do</strong> X² quedemonstra a correlação entre as duas variáveis estudadas. Esse da<strong>do</strong> n<strong>os</strong> ajuda aanalisar se as freqüências observadas na am<strong>os</strong>tra diferem significativamentedaquelas esperadas na população, pois quanto maior for a freqüência de umavariável, maior será sua influência <strong>para</strong> uma dada am<strong>os</strong>tra estudada, conforme n<strong>os</strong>pontua Appolinário (2004).Vale destacar que <strong>os</strong> da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s <strong>com</strong> a pesquisa foram analisa<strong>do</strong>s qualitativa equantitativamente, e que de acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> o cita<strong>do</strong> autor, Camargo (2005), a análisequantitativa <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s textuais não deixa de considerar a qualidade <strong>do</strong> fenômenoestuda<strong>do</strong>, e ainda fornece critéri<strong>os</strong> provenientes <strong>do</strong> próprio material <strong>para</strong> aconsideração <strong>do</strong> mesmo <strong>com</strong>o indica<strong>do</strong>r de um fenômeno de interesse científico.Uma análise quantitativa de text<strong>os</strong> transcrit<strong>os</strong> ou escrit<strong>os</strong> tem <strong>com</strong>o base as leis dedistribuição <strong>do</strong>s seus respectiv<strong>os</strong> vocabulári<strong>os</strong>.


116Dessa forma, foram utiliza<strong>do</strong>s <strong>os</strong> softwares ALCESTE 4.5 e SPHINX 5.0, sen<strong>do</strong> oALCESTE <strong>para</strong> a análise categorial das entrevistas e o SPHINX <strong>para</strong> elaboração <strong>do</strong>questionário e cruzamento <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s.


1175 RESULTADOS DAS ENTREVISTAS E DIÁRIOS5.1 Entrevistas:Os resulta<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s foram apreendi<strong>do</strong>s a partir das entrevistas realizadas<strong>com</strong> 30 a<strong>do</strong>lescentes, sen<strong>do</strong> 10 a<strong>do</strong>lescentes <strong>com</strong> 0 a 6 meses de experiência, 10<strong>com</strong> 6 a 12 meses de experiência e 10 <strong>com</strong> 12 meses a 23 meses de experiência;ressalta-se que eles podem ser admiti<strong>do</strong>s a partir de 16 an<strong>os</strong>, masimpreterivelmente, duas semanas antes de <strong>com</strong>pletar dezoito an<strong>os</strong> acontecerá otérmino <strong>do</strong> contrato de <strong>trabalho</strong>.De acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> Jodelet (2001) ao se estudar representações sociais é essencial quese faça uma reflexão so<strong>br</strong>e a sua origem. Para tal análise a autora pontua asseguintes questões: Quem sabe e de onde sabe? So<strong>br</strong>e o que se sabe e <strong>com</strong>o sesabe? So<strong>br</strong>e o que se sabe e <strong>com</strong> que efeito?Dessa forma, a respeito <strong>do</strong> objeto <strong>trabalho</strong> podem<strong>os</strong> pensar que o a<strong>do</strong>lescenteelabora representações so<strong>br</strong>e o mesmo por meio da sua própria experiência <strong>do</strong>cotidiano, mas também por meio <strong>do</strong> que ele vivencia em casa <strong>com</strong> seus pais eirmã<strong>os</strong> mais velh<strong>os</strong>, emprega<strong>do</strong>s ou desemprega<strong>do</strong>s, ou seja, é uma construçãopsic<strong>os</strong><strong>social</strong>.A am<strong>os</strong>tra é <strong>com</strong>p<strong>os</strong>ta por 20 a<strong>do</strong>lescentes <strong>do</strong> gênero masculino e 10 <strong>do</strong> gênerofeminino. A seguir a figura 3, apresenta a distribuição <strong>do</strong>s sujeit<strong>os</strong> quanto ao gênero.


118Da<strong>do</strong>s Sociodemográfic<strong>os</strong>2520151050MasculinoFemininoFigura 3: GêneroQuanto à idade, pode-se observar de acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> a figura 4, que 16 a<strong>do</strong>lescentestêm 16 an<strong>os</strong> e 14 a<strong>do</strong>lescentes têm 17 an<strong>os</strong>.Da<strong>do</strong>s Sociodemográfic<strong>os</strong>20151016 an<strong>os</strong>17 an<strong>os</strong>50Figura 4: IdadeCom relação à variável escolaridade, a figura 5 destaca que apenas 2 a<strong>do</strong>lescentesainda não estão cursan<strong>do</strong> o Ensino Médio, ou seja, 2 a<strong>do</strong>lescentes estão na 8ª sériee <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> 28 a<strong>do</strong>lescentes estão distribuí<strong>do</strong>s da seguinte forma: 4 a<strong>do</strong>lescentesestão cursan<strong>do</strong> o 1º ano, 11 a<strong>do</strong>lescentes estão cursan<strong>do</strong> o 2º ano, 8 a<strong>do</strong>lescentesestão cursan<strong>do</strong> o 3º ano e 2 a<strong>do</strong>lescentes já concluíram o Ensino Médio.


119Da<strong>do</strong>s Sociodemográfic<strong>os</strong>1510508ª 1º 2º 3º concluiuFigura 5: EscolaridadeDo total de a<strong>do</strong>lescentes entrevista<strong>do</strong>s, 16 a<strong>do</strong>lescentes já haviam realiza<strong>do</strong> algumtipo de atividade remunerada antes da inserção na ONG e 14 nunca haviamtrabalha<strong>do</strong>. Para <strong>os</strong> que já tiveram alguma experiência profissional as maisfreqüentes foram: vigiar carr<strong>os</strong>, tomar conta de crianças, vender produt<strong>os</strong> decatálog<strong>os</strong>, trabalhar <strong>com</strong>o vende<strong>do</strong>r ambulante e “feirante”, ou seja essa primeiraatividade profissional está associada a uma remuneração mas não necessariamenteao registro profissional em carteira. Esses a<strong>do</strong>lescentes que já tiveram algum tipo deexperiência profissional, mesmo que informal, se incluem na categoria <strong>do</strong>s quep<strong>os</strong>suem experiência profissional, conforme pode ser constata<strong>do</strong> na figura 6.Da<strong>do</strong>s Sociodemográfic<strong>os</strong>1716151413NãoSimFigura 6: Primeiro emprego


121residências ocupadas por 5 pessoas,2 a<strong>do</strong>lescentes moram em residênciasocupadas por 6 pessoas e 1 a<strong>do</strong>lescente mora em residência ocupada por 10pessoas, conforme pode ser constata<strong>do</strong> na figura 8.Da<strong>do</strong>s Sociodemográfic<strong>os</strong>1510503 4 5 6 10Figura 8: Número de pessoas que residem em casaA figura 9 m<strong>os</strong>tra que <strong>do</strong>s 30 a<strong>do</strong>lescentes entrevista<strong>do</strong>s, 1 reside em casa de 3cômo<strong>do</strong>s, 12 a<strong>do</strong>lescentes residem em casas de 4 cômo<strong>do</strong>s, 9 a<strong>do</strong>lescentesresidem em casas de 5 cômo<strong>do</strong>s, 6 a<strong>do</strong>lescentes residem em casas de 6 cômo<strong>do</strong>se 2 a<strong>do</strong>lescentes residem em casas de 8 cômo<strong>do</strong>s, <strong>para</strong> to<strong>do</strong>s eles foi pedi<strong>do</strong> quenão contassem as varandas e <strong>os</strong> banheir<strong>os</strong>.15Da<strong>do</strong>s Sociodemográfic<strong>os</strong>10503 4 5 6 8Figura 9: Número de cômo<strong>do</strong>s em casa


122Com relação ao número de pessoas trabalhan<strong>do</strong> em casa, excluin<strong>do</strong>-se oa<strong>do</strong>lescente, observam<strong>os</strong> que 15 a<strong>do</strong>lescentes, 50% da am<strong>os</strong>tra, têm apenas maisuma pessoa que trabalha em casa, 9 a<strong>do</strong>lescentes têm mais duas pessoas quetrabalham em casa, 1 a<strong>do</strong>lescente tem mais 3 pessoas que trabalham em casa, 1a<strong>do</strong>lescente tem mais 4 pessoas que trabalham em casa e 1 a<strong>do</strong>lescente tem mais 5pessoas que trabalham em casa. Destaca-se que (24) 80% <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes vivema realidade de ter mais uma ou mais duas pessoas trabalhan<strong>do</strong> e ajudan<strong>do</strong> a provera casa, conforme pode ser visualiza<strong>do</strong> na figura 10.Da<strong>do</strong>s Sociodemográfic<strong>os</strong>16141210864201 2 3 4 5Figura 10: Pessoas trabalhan<strong>do</strong> em casa (além <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente)A figura 11 m<strong>os</strong>tra <strong>com</strong>o a renda <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes está distribuída: 23 a<strong>do</strong>lescentesrecebem 1 salário mínimo, trabalhan<strong>do</strong> de 6 ou 8 horas por dia e 7 a<strong>do</strong>lescentesrecebem meio salário mínimo, trabalhan<strong>do</strong> 4 horas por dia.


123Da<strong>do</strong>s Sociodemográfic<strong>os</strong>25201510501 salário mínimo 1/2 salário mínimoFigura 11: Renda <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentesCom relação à renda da família <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes, a figura 12 m<strong>os</strong>tra que a rendaestá distribuída da seguinte forma: 4 famílias recebem até 1 salário mínimo, 10famílias recebem de 1 a 2 salári<strong>os</strong> mínim<strong>os</strong>, 5 famílias recebem de 2 a 3 salári<strong>os</strong>mínim<strong>os</strong>, 3 famílias recebem de 3 a 4 salári<strong>os</strong> mínim<strong>os</strong> e 8 famílias recebem maisde 4 salári<strong>os</strong> mínim<strong>os</strong>.Da<strong>do</strong>s Sociodemográfic<strong>os</strong>121086420até 1 sm 1 a 2 sm 2 a 3 sm 3 a 4 sm mais 4 smFigura 12: Renda da família


124Como forma de ilustração da realidade vivida por esses a<strong>do</strong>lescentes pode-seutilizar a pesquisa realizada por Pra<strong>do</strong> (2007), <strong>com</strong> o objetivo de verificar adesigualdade e a distribuição de renda na cidade de Taubaté, <strong>para</strong> tanto, o autoragrupou <strong>os</strong> bairr<strong>os</strong> da cidade em cinco regiões: A, B, C, D e E. Essas regiões sãoformadas por vári<strong>os</strong> bairr<strong>os</strong>, agrupa<strong>do</strong>s conforme suas características física (tipo demoradia), <strong>social</strong> (perfil <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res) e econômico (renda).Reforça-se que cada região apresenta suas peculiaridades e diferenças que variamdesde o número de pessoas até as características da população. A título decontextualização destaca-se a região D, onde residem cerca de 3/4 <strong>do</strong>sa<strong>do</strong>lescentes que fizeram parte da presente pesquisa.Na região D está concentrada aproximadamente 48,40% (123.344 pessoas) dapopulação da cidade de Taubaté. Entre as pessoas que habitam essa região,56,36% p<strong>os</strong>suem renda e a maioria da população é <strong>do</strong> sexo feminino (52,36%). Osadult<strong>os</strong> são maioria (52,01%), segui<strong>do</strong> de 20,73% crianças, 18,55% jovens e 12,73%i<strong>do</strong>s<strong>os</strong>. Com<strong>para</strong><strong>do</strong> <strong>com</strong> as demais regiões, a região D apresenta o segun<strong>do</strong> maiorpercentual de crianças.A maioria da população da região D está empregada no setor de serviç<strong>os</strong> (51,33%).Os demais trabalha<strong>do</strong>res estão ocupa<strong>do</strong>s na indústria (27,43%), segui<strong>do</strong> de 19,47%no <strong>com</strong>ércio e apenas 1,77% na construção civil.A partir <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s da Pesquisa de Ocupação, Renda e Escolaridade - PORE(NUPES, 2007), Pra<strong>do</strong> (2007) destaca que o valor médio de renda na cidade de


125Taubaté é de 3,65 salári<strong>os</strong> mínim<strong>os</strong>. Lem<strong>br</strong>a-se que 3/4 <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes quefizeram parte da pesquisa residem na região D e não são <strong>os</strong> mais carentesfinanceiramente, o que confirma a impressão <strong>do</strong>s professores e funcionári<strong>os</strong> daSOAPRO de que <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes que procuram a instituição <strong>para</strong> fazer curs<strong>os</strong> ep<strong>os</strong>teriormente tentar uma p<strong>os</strong>ição no merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>, não sãonecessariamente <strong>os</strong> mais carentes da cidade.Figura 13: Renda média da população taubateana, em salári<strong>os</strong> mínim<strong>os</strong>.Fonte: Pra<strong>do</strong> (2007) elabora<strong>do</strong> a partir de da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> NUPES.Retoman<strong>do</strong> a meto<strong>do</strong>logia empregada na pesquisa, <strong>os</strong> resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s por meioda entrevista semi-estruturada, foram trata<strong>do</strong>s pela análise categorial, permitin<strong>do</strong>assim, a reconstrução <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> da <strong>representação</strong> <strong>social</strong>, que é o objetivo desseestu<strong>do</strong>.O tratamento das entrevistas foi feita <strong>com</strong> o auxílio <strong>do</strong> software ALCESTE e obtevese<strong>os</strong> seguintes resulta<strong>do</strong>s:


126Os text<strong>os</strong> foram organiza<strong>do</strong>s em três classes de discurso: Classe 1: Vidaprofissional, classe 2: Trabalho, lazer e família e classe 3: Projeto pessoal:Classe 1Classe 2Classe 3Vida profissionalTrabalho, lazer e famíliaProjeto pessoalQuadro 2: Classes <strong>do</strong> ALCESTE – Junção das três classesA classe 1 é responsável por 41,95% das UCEs, a classe 2 por 26,94 % e a classe3 por 16,64% .14,47%Elimina<strong>do</strong>s16,64%Classe 341,95%Classe 126,94%Classe 2Figura14: Distribuição das UCE’s n<strong>os</strong> discurs<strong>os</strong>.


127A seguir é p<strong>os</strong>sível verificar as classes e as palavras mais significativas conforme <strong>os</strong>oftware ALCESTE.Classe 1 Classe 2 Classe 3Vida profissional Trabalho, lazer e família Projeto pessoalExperiênciaAprenden<strong>do</strong>SairResponsabilidade+Aprend+Dinheir+Conhecimento+Independ+Conhec+Beneficio+Exploração+Important+Conquist+Financeir+Ajud+Trabalh+Desenvolv+Profissional+Amizade+Produz+Produzin<strong>do</strong>Profissionaliz+LazerDivertin<strong>do</strong>GrupoDiversãoPesso+To<strong>do</strong>sDivert+Famili+Valoriza<strong>do</strong>UniãoTrein+Alegr+Filho+EquipeProfissionaisExame+VestibularFeliz+Prepar+Oportunidade+Ganh+Estud+ConcursoPre<strong>para</strong>tórioBusc+Brinc+Quer+IniciativaFaculdadePreten<strong>do</strong>Trabalhar+CarreiraVouCurso+SeguirInvestir+Termin+MãeEsper+Alcanc+Objetivo+VontadeProfissãoTentar+Sonh+Investin<strong>do</strong>Cresc+Quadro 3: Palavras <strong>para</strong> identificação das classes – Junção das três classesNota: o sinal + significa que a raiz da palavra foi apreendida e que a mesma aparece em diferentes formas. Ex:aprender, aprendi<strong>do</strong>, aprende.


128Classe 1: Vida profissionalDe acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> M<strong>os</strong>covici (1978), uma <strong>representação</strong> fala tanto quanto m<strong>os</strong>tra,<strong>com</strong>unica tanto quanto exprime. Enfim, ela produz e determina <strong>os</strong> <strong>com</strong>portament<strong>os</strong>,pois define simultaneamente a natureza <strong>do</strong>s estímul<strong>os</strong> que n<strong>os</strong> cercam e n<strong>os</strong>provocam, e o significa<strong>do</strong> das resp<strong>os</strong>tas a dar-lhes. Dessa forma, podem<strong>os</strong> observarque a <strong>representação</strong> <strong>social</strong> é uma modalidade de conhecimento particular que tempor função a elaboração de <strong>com</strong>portament<strong>os</strong> e a <strong>com</strong>unicação entre indivídu<strong>os</strong>,vejam<strong>os</strong> então o que o a<strong>do</strong>lescente agrega a seu repertório de conhecimento e<strong>com</strong>portamento <strong>com</strong> a vivência <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>.Vida ProfissionalRelevânciaSocialAutonomia Aprendizagem /ConhecimentoConquistas /Reconhecimento• Ficar longe damá influência,drogas eroubo• M<strong>os</strong>trar <strong>para</strong><strong>os</strong> outr<strong>os</strong> queele consegue• Aprender aassumirresponsabilidades• Preocupação<strong>social</strong>• Adquirirexperiência <strong>para</strong>o currículo• Tornar-se umprofissional• Financeira -ajudar a pagaras contas emcasa, contribuir• Comprar suascoisas• Ter dinheiro<strong>para</strong> sair• Sentir-se útil• Aprender umafunção• Aprender <strong>para</strong>ensinar <strong>para</strong> <strong>os</strong>outr<strong>os</strong> também• Pre<strong>para</strong>r-se <strong>para</strong> ofuturo• Ter um diferencial• Fazer amizades• Aprender atrabalhar emequipe• Ser maisrespeita<strong>do</strong> emcasa• Ser ouvi<strong>do</strong>• Conhecer outraspessoasAprender a serelacionar <strong>com</strong> aspessoas maisvelhas e <strong>com</strong> maisexperiênciaFigura 15: Classe 1


129Conforme se observa no den<strong>do</strong>grama anterior, esta classe m<strong>os</strong>tra qual é a visão queo a<strong>do</strong>lescente tem a respeito da vida profissional, qual é a relevância <strong>social</strong> <strong>para</strong>quem trabalha, quais são <strong>os</strong> ganh<strong>os</strong> em autonomia, aprendizagem e conhecimento,as conquistas obtidas e qual é o reconhecimento que se tem quan<strong>do</strong> se trabalha,além <strong>do</strong> que muda na sua vida <strong>com</strong> relação à amizade. Relevância SocialNesta subclasse o <strong>trabalho</strong> aparece <strong>com</strong> o significa<strong>do</strong> de p<strong>os</strong>suir uma ocupaçãop<strong>os</strong>itiva e assim, ficar longe da má influência, das drogas e <strong>do</strong> roubo, muitas vezespresente no seu bairro; destaca-se também a preocupação que o a<strong>do</strong>lescente temde m<strong>os</strong>trar <strong>para</strong> sua família, amig<strong>os</strong> e <strong>com</strong>unidade que ele pode so<strong>br</strong>eviver sem seenvolver na criminalidade, é o “ocupar o seu tempo” <strong>com</strong> coisas moralmente aceitas,é <strong>com</strong>o se permanecer no caminho correto e <strong>do</strong> bem f<strong>os</strong>se visto <strong>com</strong>o uma grandebatalha a ser vencida a cada dia, diante de tantas p<strong>os</strong>sibilidades.Jodelet (2001) n<strong>os</strong> destaca que as representações sociais são estruturadas a partirda articulação de element<strong>os</strong> afetiv<strong>os</strong>, mentais e sociais de forma a integrar acognição, a linguagem e a <strong>com</strong>unicação, e ainda consideran<strong>do</strong> as relações sociaisque afetam as representações e a realidade material, <strong>social</strong> e ideal so<strong>br</strong>e o qual elesintervêm.O <strong>trabalho</strong> é visto <strong>com</strong> um caráter afetivo, na medida em que é por meio dele que oa<strong>do</strong>lescente vê a p<strong>os</strong>sibilidade de constituir uma família e de provê-la, ele tambémse sente mais valoriza<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> está trabalhan<strong>do</strong>; o caráter mental supõe o


130aprendiza<strong>do</strong> que o a<strong>do</strong>lescente imagina estar adquirin<strong>do</strong> <strong>com</strong> essa experiência,apesar de sua função muitas vezes ser extremamente simples e repetitiva, ele a vê<strong>com</strong>o um diferencial <strong>para</strong> o seu currículo e <strong>para</strong> seus conheciment<strong>os</strong> e o caráter<strong>social</strong> que surge ancora<strong>do</strong> n<strong>os</strong> valores que lhe são passa<strong>do</strong>s pela família e pelasociedade da importância dele trabalhar e não ser um desocupa<strong>do</strong>.Tais element<strong>os</strong>: afetiv<strong>os</strong>, mentais e sociais podem ser observa<strong>do</strong>s a partir <strong>do</strong>momento em que o a<strong>do</strong>lescente vivencia uma preocupação em cumprir um papel de“trabalha<strong>do</strong>r digno”, ou um “dever moral”, <strong>com</strong>o denomina Gorz (2003). Esse papelobviamente deve ser visto <strong>com</strong>o precoce <strong>para</strong> o a<strong>do</strong>lescente, consideran<strong>do</strong>-se suafaixa etária, mas ao mesmo tempo elabora<strong>do</strong> a partir de seus ansei<strong>os</strong> e daexpectativa e necessidade de seus pais e da sociedade, reforçan<strong>do</strong> dia-a-dia essecaráter <strong>social</strong> <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>.O <strong>trabalho</strong> surge ancora<strong>do</strong> na idéia de ser alguém na vida, adquirir experiência eprincipalmente se pre<strong>para</strong>r <strong>para</strong> o amanhã. Na verdade esses jovens não têmconsciência de que essa é a primeira experiência profissional que aparecerá n<strong>os</strong>seus currícul<strong>os</strong>, o que se destaca é o valor simbólico que é atribuí<strong>do</strong> a essaocupação, que <strong>os</strong> faz se sentirem valoriza<strong>do</strong>s e diferencia<strong>do</strong>s. De acor<strong>do</strong> <strong>com</strong>M<strong>os</strong>covici (2003) é essa mistura de <strong>com</strong>ponentes sociológic<strong>os</strong> e psicológic<strong>os</strong>,conforme descrito acima, que caracteriza as representações sociais.Seguem-se alguns exempl<strong>os</strong> de <strong>com</strong>o essa questão se destacou nas entrevistas:“Considero sim, porque o a<strong>do</strong>lescente ficar dentro de casa à-toa nãoé muito bom e o <strong>trabalho</strong> também é uma pre<strong>para</strong>ção <strong>para</strong> oamanhã, a<strong>os</strong> pouc<strong>os</strong> você vai assumin<strong>do</strong> responsabilidades porquevocê não vai ser a<strong>do</strong>lescente <strong>para</strong> sempre, você não vai ter a


131mesma idade e ficar dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong>s pais <strong>para</strong> sempre, você vai terque crescer e ser alguém na vida, então é importante ele adquirirexperiência de <strong>trabalho</strong> desde ce<strong>do</strong>.” (Sujeito 30, 11 meses deexperiência, sexo feminino).“Sim, porque você está <strong>com</strong>eçan<strong>do</strong> a produzir as suasresponsabilidades, por exemplo: horário, numa empresa você temque ter hora <strong>para</strong> entrar e <strong>para</strong> sair, a mesma coisa na escola, <strong>os</strong><strong>trabalho</strong>s escolares, são <strong>com</strong>o se f<strong>os</strong>sem <strong>os</strong> deveres <strong>do</strong> dia-a-dia daempresa, você tem que fazer aquilo, não adianta, você aprende quenão dá <strong>para</strong> dizer não vou fazer porque eu não quero, por que nã<strong>os</strong>ei, pois é aí que <strong>com</strong>eça o seu, digam<strong>os</strong> a estrutura <strong>para</strong> o seu<strong>trabalho</strong>. A gente produz a n<strong>os</strong>sa carreira, que é onde você seidentifica <strong>com</strong> as matérias da escola, uma pessoa pode a<strong>do</strong>rarquímica e a outra não, se ela a<strong>do</strong>ra matemática, pode trabalhar <strong>com</strong>administração, ou seja, cada pessoa vai se identifican<strong>do</strong> na escola.”(Sujeito 15, 1 ano e 8 meses de experiência, sexo masculino).“Considero muito importante porque o a<strong>do</strong>lescente <strong>para</strong><strong>do</strong> só criaconfusão, então se ele estiver trabalhan<strong>do</strong> ele está ocupa<strong>do</strong> <strong>com</strong>alguma coisa e procura melhorar de vida.” (Sujeito 27, 1 ano e 4meses de experiência, sexo masculino).Nessa subclasse também é visível a <strong>representação</strong> <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente de que <strong>com</strong> o<strong>trabalho</strong> ele está adquirin<strong>do</strong> experiência e se tornan<strong>do</strong> uma pessoa maisresponsável, diferente daquela criança de antes. Observa-se a <strong>representação</strong> deque criança é irresponsável e o adulto não, outra <strong>representação</strong> importante estárelacionada ao fato de que <strong>com</strong> o <strong>trabalho</strong> ele adquire responsabilidade.Jodelet (2002) n<strong>os</strong> destaca que <strong>os</strong> indivídu<strong>os</strong> elaboram representações de acor<strong>do</strong><strong>com</strong> um conjunto de conceit<strong>os</strong> pré-existentes, o que pode ser observa<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> oa<strong>do</strong>lescente representa e associa o <strong>trabalho</strong> à responsabilidade e conquista deindependência, passa<strong>do</strong>s pela sociedade.O <strong>trabalho</strong> também surge <strong>para</strong> o a<strong>do</strong>lescente relaciona<strong>do</strong> a ganhar dinheiro,característica e idéia típica <strong>do</strong> capitalismo, <strong>com</strong>o podem<strong>os</strong> observar em Braverman


132(1987); de acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> a presente pesquisa, várias dessas famílias têm a renda <strong>do</strong>a<strong>do</strong>lescente <strong>com</strong>o fundamental <strong>para</strong> a sua so<strong>br</strong>evivência, assim, prevalece a visão<strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>com</strong>o muito mais <strong>do</strong> que o salário, talvez até <strong>com</strong>o algo que vá lhes levarà salvação <strong>com</strong>o era prega<strong>do</strong> na idade média.“Também, ganhar dinheiro, só que o mais importante <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> é aresponsabilidade que você adquire, a independência que vocêganha.” (Sujeito 2, 6 meses de experiência, sexo masculino).“Também é ganhar dinheiro, mas eu acho que trabalhar, significaquatro coisas: ganhar dinheiro ganhar experiência <strong>para</strong> sua vida,responsabilidade e dedicação.” (Sujeito 26, 6 meses de experiência,sexo masculino).Outra contribuição importante presente nessa subclasse é a preocupação que oa<strong>do</strong>lescente tem de fazer alguma contribuição <strong>social</strong>, ajudar alguém mais carente <strong>do</strong>que ele.“É muito importante porque você está trabalhan<strong>do</strong>, você estáfazen<strong>do</strong> alguma coisa, não está à toa, é uma coisa boa <strong>para</strong> vocêmesmo. A gente trabalhan<strong>do</strong> pode ajudar as pessoas que a gentequer, sem depender <strong>do</strong>s outr<strong>os</strong> e você está fazen<strong>do</strong> alguma coisa,você não está livre, você está ocupan<strong>do</strong> o seu tempo.” (Sujeito 28,11 meses de experiência, sexo feminino).“Tem pessoas que trabalham muito <strong>para</strong> <strong>com</strong>prar um prato de<strong>com</strong>ida to<strong>do</strong> dia, muitas vezes o dinheiro que você ganha nem <strong>para</strong>você vai, vai <strong>para</strong> pagar um medicamento de um familiar que estámuito <strong>do</strong>ente, isso infelizmente acontece.” (Sujeito 6, 1 mês deexperiência, sexo masculino). AutonomiaNesta subclasse observa-se, a preocupação <strong>com</strong> o desenvolvimento profissional,quais são <strong>os</strong> ganh<strong>os</strong> que ele tem <strong>para</strong> seu currículo e em se pre<strong>para</strong>r <strong>para</strong> a<strong>com</strong>petitividade da vida profissional, tais representações sociais se ancoram nas


133vantagens que essa experiência profissional, tão precoce, pode trazer <strong>para</strong> a suavida. O <strong>trabalho</strong> é simboliza<strong>do</strong> ainda <strong>com</strong>o uma oportunidade, que demanda esforço,mas ao mesmo tempo é uma coisa prazer<strong>os</strong>a e <strong>com</strong> um senti<strong>do</strong> p<strong>os</strong>itivo, o op<strong>os</strong>to<strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> por o<strong>br</strong>igação, escravo.“O <strong>trabalho</strong> <strong>para</strong> mim é uma oportunidade de pegar experiência eaprender coisas novas, importantes <strong>para</strong> o meu currículo. É muitoimportante que tenham instituições <strong>com</strong>o essa que se preocupam<strong>com</strong> <strong>os</strong> jovens porque sem essa ajuda ninguém vai dar oportunidade<strong>para</strong> a gente.” (Sujeito 29, 1 ano e 8 meses de experiência, sexofeminino).“Eu considero importante porque no futuro você vai precisar pôr nocurrículo, eu trabalhei em tal lugar e por isso eu acho importante oa<strong>do</strong>lescente trabalhar, mas não deve ser um <strong>trabalho</strong> escravo, semhorário <strong>para</strong> sair.” (Sujeito 24, 1 ano e 1 mês de experiência, sexomasculino).“Luta, garra, sem experiência a gente não vai <strong>para</strong> frente, o que éessencial <strong>para</strong> a n<strong>os</strong>sa vida.” (Sujeito 20, 3 meses de experiência,sexo feminino).Nessa subclasse, além da experiência profissional, o discurso destaca também apreocupação <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente em usar o seu salário <strong>para</strong> <strong>com</strong>prar roupas, tênis,celular e pagar suas saídas, o consumo de bens que <strong>os</strong> pais não podem lhesproporcionar, além de contribuir <strong>para</strong> pagar as contas e <strong>com</strong>prar <strong>com</strong>ida em casa, ouseja, uma preocupação em se prover e também em prover as outras pessoas quefazem parte da sua família, o que muitas vezes o(a) responsável pela casa não podefazer.Observa-se a presença da influência <strong>do</strong> consumismo capitalista, onde conformedestaca<strong>do</strong> por Ribeiro (2004), o homem é valoriza<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> seu lugar deproprietário e consumi<strong>do</strong>r, ou seja, homem e merca<strong>do</strong>ria se identificam e esse passa


134a ser o eixo nortea<strong>do</strong>r da <strong>representação</strong> que o homem elabora de si mesmo e <strong>do</strong>soutr<strong>os</strong> à sua volta.Dessa forma, a sociedade de consumo impõe que tu<strong>do</strong> gire em torno dela,especialmente o <strong>trabalho</strong> e, consideran<strong>do</strong> a centralidade <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> na vida daspessoas e <strong>com</strong>o este perpassa as expectativas, as necessidades, a subjetividade ea identidade <strong>social</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r, vem se delinean<strong>do</strong> um panorama de construçãode valores que não ficam restrit<strong>os</strong> ao espaço organizacional, mas estão balizan<strong>do</strong> aconfiguração das relações sociais na contemporaneidade, ou seja, é precisoconsumir <strong>para</strong> ser alguém.“Eu <strong>trabalho</strong> <strong>para</strong> ter dinheiro, <strong>para</strong> ajudar minha mãe, <strong>com</strong>eçarce<strong>do</strong> e ir pegan<strong>do</strong> experiência. Você tem que <strong>com</strong>eçar ce<strong>do</strong>, quantomais ce<strong>do</strong> você <strong>com</strong>eça mais experiência você pega <strong>para</strong> quan<strong>do</strong>você ficar maior, é importante também <strong>para</strong> ter seu dinheiro <strong>para</strong><strong>com</strong>prar suas roupas, <strong>para</strong> pagar suas baladas, é isso aí.” (Sujeito2, 6 meses de experiência, sexo masculino).Destacam-se representações que categorizam esses a<strong>do</strong>lescentes em um grupo depertença, onde é <strong>com</strong>um o uso de expressões <strong>com</strong>o “prover”, “<strong>com</strong>eçar ce<strong>do</strong>”,“pegar experiência”, o que em nenhum momento é garantia de que eles vão ter umfuturo melhor, mas que no imaginário deles aparece <strong>com</strong>o uma alternativaimportante e <strong>com</strong>o p<strong>os</strong>sibilidade de ascensão.Vala (2004) n<strong>os</strong> pontua o processo de categorização <strong>social</strong> que se refere àpercepção e organização <strong>do</strong> meio ambiente em classes de objet<strong>os</strong>, aconteciment<strong>os</strong>e grup<strong>os</strong> de pessoas. É nessa relação entre categorização <strong>social</strong> e identidade <strong>social</strong>,ou identificação <strong>com</strong> grup<strong>os</strong> sociais que o autor define a identidade <strong>social</strong> <strong>com</strong>o oreconhecimento de pertencimento a cert<strong>os</strong> grup<strong>os</strong> ou categorias sociais,


135reconhecimento esse a<strong>com</strong>panha<strong>do</strong> de várias significações, dentre elas,emocionais.A oportunidade de ajudar financeiramente em casa, pagar despesas <strong>com</strong>alimentação, moradia, água, luz e também suas próprias despesas, demonstra umainversão de papéis, onde o a<strong>do</strong>lescente, assume responsabilidades que legalmentedeveriam ser destinadas a<strong>os</strong> pais. Na verdade essa condição de jovem trabalha<strong>do</strong>rsó reforça a condição <strong>social</strong> precária à qual o a<strong>do</strong>lescente está destina<strong>do</strong>. Aoportunidade de ter um futuro diferente <strong>do</strong> qual ele está destina<strong>do</strong>: um sub-empregoe uma formação educacional precária; deveria <strong>com</strong>eçar pela base da sua formação.Não é justo oferecer <strong>trabalho</strong> a esse jovem, <strong>com</strong>o se ele tivesse receben<strong>do</strong> umgrande prêmio pelo qual deveria ser muito agradeci<strong>do</strong>, porque na verdade esse nãoé o momento de trabalhar e sim de estudar, <strong>com</strong>o o próprio Estatuto da Criança e<strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente - ECA (1990) apregoa. É interessante observar que <strong>para</strong> nenhum<strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s essa responsabilidade financeira precoce, aparece <strong>com</strong>o motivode revolta, muito pelo contrário, esse <strong>com</strong>promisso é visto pel<strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes <strong>com</strong>omotivo de orgulho, <strong>com</strong>o se contribuin<strong>do</strong> dessa forma eles estivessem se sentin<strong>do</strong>mais úteis.“É um meio de passar o tempo fazen<strong>do</strong> alguma coisa, ganhardinheiro, de me sentir útil, estou ajudan<strong>do</strong> as pessoas e ganhan<strong>do</strong><strong>com</strong> isso também.” (Sujeito 8, 1 ano e 5 meses de experiência, sexofeminino).“Eu <strong>trabalho</strong> porque eu quero ser independente, porque eu precisofazer alguma coisa, eu preciso, não p<strong>os</strong>so ficar à toa preciso ter umobjetivo , porque eu quero dar a minha parcela de contribuição.”(Sujeito 6, 1 mês de experiência, sexo masculino).“Para ter a minha independência financeira e ajudar a minha mãe asustentar <strong>os</strong> meus irmã<strong>os</strong>.” (Sujeito 29, 1 ano e 8 meses deexperiência, sexo feminino).


136“É importante porque eu preciso também, <strong>para</strong> ajudar um pouco aminha família. Sempre no <strong>com</strong>eço <strong>do</strong> mês eu <strong>do</strong>u alguma coisa <strong>para</strong>minha mãe, porque em casa é assim, to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> trabalha, e <strong>para</strong>não ficar pesa<strong>do</strong> só <strong>para</strong> minha mãe e <strong>para</strong> meu pai, cada irmão dáuma certa quantia <strong>para</strong> minha mãe, to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> dá, quanto quer,quanto pode.” (Sujeito 11, 3 meses de experiência, sexo feminino).“É muito, porque minha mãe às vezes não tem <strong>com</strong>o <strong>com</strong>prar o quea gente quer, ela pode até <strong>com</strong>prar, mas, não tem <strong>com</strong>o pagar, porisso eu pensei em arrumar um <strong>trabalho</strong>. Porque toda vez que eufalava <strong>com</strong> o meu avô era so<strong>br</strong>e isso, arrumar um <strong>trabalho</strong>. Quan<strong>do</strong>eu queria que minha mãe <strong>com</strong>prasse as coisas, não dava, não tinhadinheiro, o dinheiro nunca so<strong>br</strong>ava, é por isso que eu <strong>trabalho</strong>.”(Sujeito 12, 1 ano e 10 meses de experiência, sexo masculino).O a<strong>do</strong>lescente também valoriza a oportunidade de ser mais independente e se sentemais livre <strong>para</strong> sair porque ele não depende <strong>do</strong> dinheiro <strong>do</strong> pai ou da mãe. Antes,quan<strong>do</strong> <strong>os</strong> pais não queriam que ele saísse, simplesmente não davam o dinheiro, ouàs vezes não tinham mesmo, essa era uma forma de controlá-lo, agora isso não émais empecilho pois ele é “independente”, conforme ele mesmo g<strong>os</strong>ta de sedenominar.Observa-se que essa <strong>representação</strong> <strong>social</strong> da liberdade conquistada por meio <strong>do</strong>salário e <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>, vai de encontro ao que a lei diz so<strong>br</strong>e a maioridade, naverdade, ninguém se torna maior de idade por ser emprega<strong>do</strong> e sim ao <strong>com</strong>pletar aidade de 18 an<strong>os</strong>.A seguir, alguns exempl<strong>os</strong> de <strong>com</strong>o essa questão é tratada em algumas entrevistas:“É bastante, porque eu depen<strong>do</strong> dele também. Como quan<strong>do</strong> vocêquer sair <strong>com</strong> <strong>os</strong> amig<strong>os</strong>, se você tem seu dinheiro, você pode ir enão fica pedin<strong>do</strong> <strong>para</strong> a mãe; antes, às vezes eu não podia ir masagora eu vou, tenho meu dinheiro e também a aju<strong>do</strong>, não faço maisque a minha o<strong>br</strong>igação. É legal porque às vezes quan<strong>do</strong> eu e meusamig<strong>os</strong> queríam<strong>os</strong> sair e não tínham<strong>os</strong> o dinheiro, eles me


137ajudavam, e agora se ela deixar eu saio e <strong>os</strong> aju<strong>do</strong>.” (Sujeito 13, 1ano e 1 mês de experiência, sexo masculino).“Trabalho porque eu preciso, <strong>trabalho</strong> também <strong>para</strong> conseguir sairum pouco de casa, da escola.” (Sujeito 5, 1 mês de experiência,sexo masculino).“Trabalho é uma maneira de você se tornar independente, poderviver a sua vida sem ficar dependen<strong>do</strong> de ninguém, o <strong>trabalho</strong> éfundamental <strong>para</strong> você construir uma família sem passar pordificuldade, é importante você trabalhar e garantir o seu dinheiro.”(Sujeito 30, 11 meses de experiência, sexo feminino).“O <strong>trabalho</strong> é muito importante, algo que é necessário <strong>para</strong> to<strong>do</strong>mun<strong>do</strong>, não só por causa de dinheiro, mas também porque vocêaprende muita coisa, <strong>com</strong>o se f<strong>os</strong>se uma escola da vida, você saium pouco das asas da sua mãe e se torna mais independente.”(Sujeito 26, 6 meses de experiência, sexo masculino).“Também, <strong>trabalho</strong> também é <strong>para</strong> não ficar <strong>para</strong><strong>do</strong>, trabalhan<strong>do</strong>pelo men<strong>os</strong> eu estou ten<strong>do</strong> dinheiro e não estou rouban<strong>do</strong>, nãoestou matan<strong>do</strong> ninguém, pelo men<strong>os</strong> estou trabalhan<strong>do</strong>, ten<strong>do</strong> meupróprio dinheiro <strong>com</strong> meu próprio suor.” (Sujeito 19, 1 ano e 1 mêsde experiência, sexo masculino).“To<strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente quer ter o seu dinheiro, quer sair <strong>com</strong> <strong>os</strong> amig<strong>os</strong>,quer <strong>com</strong>prar suas coisas, enfim, necessita de dinheiro e se ele nãotrabalhar pode ir <strong>para</strong> o caminho erra<strong>do</strong>. Eu tenho muito amigo quevende drogas <strong>para</strong> conseguir dinheiro, traz coisas roubadas <strong>para</strong>vender, mas se você está trabalhan<strong>do</strong> você não precisa disso.”(Sujeito 26, 6 meses de experiência, sexo masculino).“Para ter condições de poder sair sem depender <strong>do</strong>s meus pais,<strong>para</strong> ter a minha independência.” (Sujeito 27, 1 ano e 4 meses deexperiência, sexo masculino).Nas duas subclasses, Relevância Social e Autonomia, aparece bastante marcante <strong>os</strong>enti<strong>do</strong> de adquirir experiência, atribuída por si próprio ou pel<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> <strong>com</strong> <strong>os</strong> quaisele se relaciona, na medida em que o a<strong>do</strong>lescente apesar de jovem já é co<strong>br</strong>a<strong>do</strong><strong>com</strong>o um profissional e tem que assumir responsabilidades no <strong>trabalho</strong>.


138Observa-se que as Representações Sociais relacionadas a Relevância Social eAutonomia estão interligadas ao processo de adultização menciona<strong>do</strong>anteriormente, onde o <strong>trabalho</strong> é simboliza<strong>do</strong> <strong>com</strong>o uma forma de so<strong>br</strong>evivência soba responsabilidade desse jovem que sequer pode errar, pois agora é umprofissional. Percebe-se que há uma busca de tornar familiar algo novo, novasexperiências e co<strong>br</strong>anças nas quais ele precisa obter sucesso.“O <strong>trabalho</strong> trouxe muita coisa <strong>para</strong> a minha vida, trouxe muitaobediência, acho que o <strong>trabalho</strong> é a melhor coisa na vida, porque senão trabalhar você não consegue so<strong>br</strong>eviver. Trouxe educação ealém de tu<strong>do</strong>, você tem que saber lidar <strong>com</strong> as pessoas, tem queter muita experiência no <strong>trabalho</strong>, também <strong>para</strong> não faltar nada,porque se <strong>com</strong>eter um erro, um vacilo, é capaz de você sermanda<strong>do</strong> embora.” (Sujeito 12, 1 ano e 10 meses de experiência,sexo masculino). Aprendizagem / ConhecimentoNessa subclasse destaca-se a valorização e o entendimento <strong>do</strong> quanto oa<strong>do</strong>lescente está aprenden<strong>do</strong> <strong>com</strong> essa experiência e o quanto isso é importante<strong>para</strong> ele se inserir no merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>. A importância dessa aprendizagemaparece relacionada não só ao crescimento profissional e a um diferencial <strong>para</strong> omerca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>, mas principalmente ao ganho pessoal e à valorização e autoestima.“Trabalhar <strong>para</strong> mim é aprender, é se motivar <strong>para</strong> cada vez chegara algum lugar, <strong>com</strong>o no supermerca<strong>do</strong>, eu pensei que eu ia entrar<strong>com</strong>o empacota<strong>do</strong>r e sair <strong>com</strong>o empacota<strong>do</strong>r, já fiz muita amizadeagora eu vi que eu conquistei um espaço, to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> g<strong>os</strong>ta demim. Trabalhar é uma forma de produzir mais e o que eu estouaprenden<strong>do</strong> eu p<strong>os</strong>so ensinar <strong>para</strong> <strong>os</strong> meus irmã<strong>os</strong> e <strong>para</strong> a minhamãe que é analfabeta, eu aprenden<strong>do</strong> p<strong>os</strong>so ir <strong>para</strong> a frente, tantofaz em qualquer lugar, no <strong>trabalho</strong> ou em um curso.” (Sujeito 1, 16meses de experiência, sexo masculino).


139“É uma forma de produzir o meu futuro porque a gente <strong>para</strong><strong>com</strong>eçar, vem desde criança, estudan<strong>do</strong> <strong>para</strong> poder aprender echegar no futuro saben<strong>do</strong> as coisas, aí a gente já está pronto <strong>para</strong>participar.” (Sujeito 5, 1 mês de experiência, sexo masculino).“O estu<strong>do</strong> é a porta <strong>para</strong> o merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>, ele torna a pessoadecente e você tem a chance de ser contrata<strong>do</strong> <strong>para</strong> uma firma <strong>com</strong>ele você não é engana<strong>do</strong> porque tem o conhecimento.” (Sujeito 4, 9meses de experiência, sexo masculino).No discurso também ficam evidencia<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is grup<strong>os</strong>: um que valoriza o aprendiza<strong>do</strong>e o estu<strong>do</strong> de uma forma geral e outro que valoriza a aprendizagem adquirida no<strong>trabalho</strong> sob a adquirida na escola. Destaca-se também a aprendizagem que vem dainstituição de ensino e de outr<strong>os</strong> curs<strong>os</strong> que ele tenha oportunidade de fazer agoraque está trabalhan<strong>do</strong>.Com relação ao estu<strong>do</strong> <strong>com</strong>põe o quadro de representações a idéia de se chegar aalgum lugar melhor no futuro, de se tornar uma pessoa decente, experta e <strong>com</strong>conhecimento, difícil de se enganar. Em contrapartida ter só o estu<strong>do</strong> não ésuficiente <strong>para</strong> se entrar no merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>. É interessante destacar que oestu<strong>do</strong> apesar de ser valoriza<strong>do</strong> não aparece representa<strong>do</strong> <strong>com</strong>o <strong>trabalho</strong>intelectual, <strong>trabalho</strong> é <strong>trabalho</strong> e estu<strong>do</strong> é estu<strong>do</strong>.“É que nem aqui, eles a<strong>br</strong>em as portas <strong>para</strong> a gente, oferecemcurs<strong>os</strong>, tecnologia, essas coisas, e por meio desses curs<strong>os</strong> a gentepoderia estar entran<strong>do</strong> no merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>. Então já tem umconjunto, estu<strong>do</strong> e <strong>trabalho</strong>. O aprendiza<strong>do</strong> e o futuro. A gente estáproduzin<strong>do</strong> conhecimento, capacidade.” (Sujeito 10, 12 meses deexperiência, sexo masculino).Outra evidência presente no discurso é a consciência de que <strong>com</strong>o ele não temexperiência profissional, é por meio <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> e <strong>do</strong> conhecimento adquiri<strong>do</strong> na


140escola e em curs<strong>os</strong> que ele poderá ter um diferencial no processo seletivo <strong>para</strong>concorrer a um <strong>trabalho</strong>, há uma relação entre aprendizagem e experiência.“É muito importante, to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> fala isso, e principalmente <strong>para</strong> agente que não tem experiência nenhuma no currículo e não sabefazer nada, a única coisa que a gente tem é o estu<strong>do</strong>.” (Sujeito 29, 1ano e 8 meses de experiência, sexo feminino).Nota-se a seguinte relação entre essas três subclasses: a responsabilidade que éatribuída ao a<strong>do</strong>lescente, independente da sua maturidade ou não, faz <strong>com</strong> que eleadquira experiência e conseqüentemente que ele desenvolva um processo deaprendizagem e conhecimento. O processo de aprendizagem ocorre de formainvertida.Processo vivencia<strong>do</strong> pel<strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes:Responsabilidade Experiência AprendizagemO processo de aprendizagem normal seria o a<strong>do</strong>lescente aprender <strong>para</strong> depoisadquirir experiência e por fim ele se pre<strong>para</strong>r <strong>para</strong> assumir responsabilidades etomar decisões, mas não é isso o que ocorre <strong>com</strong> o a<strong>do</strong>lescente inseri<strong>do</strong> nomerca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>.Processo normal de aprendizagem:Aprendizagem Experiência Responsabilidade


141 Conquistas / ReconhecimentoNessa subclasse o a<strong>do</strong>lescente destaca o quanto o <strong>trabalho</strong> contribui <strong>para</strong> o seula<strong>do</strong> pessoal. Ele passa a ser mais respeita<strong>do</strong>, a ser visto e a se sentir <strong>com</strong>o adulton<strong>os</strong> três ambientes principais em que ele convive: em casa, no <strong>trabalho</strong> e na escola.Em casa <strong>os</strong> pais ouvem mais sua opinião, que antes era apenas a opinião de umacriança e agora é a opinião de alguém que trabalha; no <strong>trabalho</strong> ele se sente <strong>com</strong>ouma pessoa em quem o chefe pode confiar e passar responsabilidades importantes<strong>para</strong> a empresa; e na escola, mesmo quan<strong>do</strong> ele chega atrasa<strong>do</strong>, ainda assim ele émais <strong>com</strong>preendi<strong>do</strong> <strong>do</strong> que antes, pois “ele chegou atrasa<strong>do</strong> porque estavatrabalhan<strong>do</strong>”, inclusive conforme relataram alguns a<strong>do</strong>lescentes, em algumasescolas o horário noturno <strong>com</strong>eça às 19:00 horas <strong>para</strong> a maioria <strong>do</strong>s alun<strong>os</strong> masquem trabalha pode entrar até às 19:30.“Eu acredito que sim, na vida de to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, a pessoa ficar semfazer nada não é bom, principalmente porque você trabalhan<strong>do</strong> estáganhan<strong>do</strong> dinheiro não só <strong>para</strong> quem precisa. Você não consegueter nada na sua vida sem o <strong>trabalho</strong>.” (Sujeito 30, 11 meses deexperiência, sexo feminino).De acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> a Teoria das Representações Sociais podem<strong>os</strong> observar o papel quea família desse jovem desempenha, ele precisa trabalhar <strong>para</strong> ajudá-l<strong>os</strong>financeiramente, ser exemplo <strong>para</strong> <strong>os</strong> irmã<strong>os</strong> menores, demonstrar respeito pelamãe e ao mesmo tempo m<strong>os</strong>trar que ele não é um vagabun<strong>do</strong>, mas além de tu<strong>do</strong>isso que esperam dele, ele também é uma pessoa e quer ser visto <strong>com</strong>o tal.“Não só o dinheiro, eu creio que trabalhan<strong>do</strong> em um serviço fazamizade, conhece pessoas novas. Esses dias meu encarrega<strong>do</strong> fez


142uma reunião con<strong>os</strong>co e falou que têm fri<strong>os</strong>, carnes, se<strong>para</strong><strong>do</strong> damercearia, mas essa é a melhor equipe que ele tem, há umadisputinha por causa da meta, mas a gente tem que se tratar <strong>com</strong>ouma família; quer dizer, o serviço não é só o dinheiro, você tambémconstrói uma família lá dentro, é <strong>com</strong>o ele falou: se você for ver vocêpassa a metade <strong>do</strong> seu tempo no serviço, você passa mais tempono serviço <strong>do</strong> que em casa, se você não construir uma família n<strong>os</strong>eu serviço quan<strong>do</strong> você voltar na sua casa você não vai estartrabalhan<strong>do</strong>, você vai estar por estar mesmo. Então o serviço não ésó o dinheiro.” (Sujeito 18, 6 meses de experiência, sexo masculino).Jodelet (2002), fala da <strong>representação</strong> <strong>social</strong> da Síndrome da ImunodeficiênciaAdquirida - AIDS situan<strong>do</strong>-a <strong>com</strong>o um evento desconheci<strong>do</strong> que gera me<strong>do</strong>; sempreque isso acontece há um esforço cognitivo <strong>do</strong> grupo <strong>para</strong> <strong>com</strong>preendê-lo e novasestratégias são criadas <strong>para</strong> diminuir esse esta<strong>do</strong> de tensão e assimilar o novo aoconteú<strong>do</strong> pré-existente. Essa mudança de status em casa, onde ele se sente maisvaloriza<strong>do</strong> talvez nem aconteça na realidade, talvez seja uma questão de se sentirmais importante e achar que <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> em casa o estão ven<strong>do</strong> assim, mas o queimporta é <strong>com</strong>o essa auto-percepção muda a relação dele <strong>com</strong> <strong>os</strong> seus familiares e<strong>com</strong> <strong>os</strong> grup<strong>os</strong> <strong>do</strong>s quais ele participa, <strong>com</strong>o a escola por exemplo.Conforme n<strong>os</strong> recorda M<strong>os</strong>covici (1978), tem<strong>os</strong> que encarar a <strong>representação</strong> <strong>social</strong>tanto na medida em que ela p<strong>os</strong>sui um contexto psicológico <strong>com</strong>o na medida emque é própria de n<strong>os</strong>sa sociedade e de n<strong>os</strong>sa cultura. Dessa forma, vem<strong>os</strong> oa<strong>do</strong>lescente atribuir um valor pessoal ao <strong>trabalho</strong>, de acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> sua própria leitura<strong>do</strong> que o <strong>trabalho</strong> representa <strong>para</strong> ele, mas esse a<strong>do</strong>lescente também é influencia<strong>do</strong>pel<strong>os</strong> valores que lhe são passa<strong>do</strong>s pela família e pela sociedade.


143Outro ganho importante <strong>para</strong> <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes são as amizades que surgem quan<strong>do</strong>ele <strong>com</strong>eça a se relacionar <strong>com</strong> <strong>os</strong> colegas de <strong>trabalho</strong> e desenvolver víncul<strong>os</strong>,assim, outras pessoas são inseridas no seu círculo de convivência.“O <strong>trabalho</strong> traz experiência, a gente também pode fazer bastanteamizade, sem contar que é bom.” (Sujeito 28, 11 meses deexperiência, sexo feminino).“Traz dinheiro, traz novas pessoas, nov<strong>os</strong> amig<strong>os</strong>, e é bom <strong>para</strong>você aprender a se relacionar e aprender as coisas <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>.”(Sujeito 3, 1 mês de experiência, sexo masculino).A seguir seguem alguns relat<strong>os</strong> de <strong>com</strong>o as coisas mudaram em casa, onde eleagora pode contribuir financeiramente e não se sente mais criança.“Traz um monte de coisas, você se sente útil, digno, feliz e além detu<strong>do</strong>, você é mais respeita<strong>do</strong> pelas pessoas, por exemplo pela mãe.”(Sujeito 8, 1 ano e 5 meses de experiência, sexo feminino).“Traz a sensação de bem estar quan<strong>do</strong> a gente não está <strong>para</strong><strong>do</strong> emcasa, só ven<strong>do</strong> televisão e jogan<strong>do</strong> videogame, porque estan<strong>do</strong> emcasa, <strong>os</strong> n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> pais acham que a gente é vagabun<strong>do</strong>, que nãoquer nada, vivem xingan<strong>do</strong>, dizen<strong>do</strong> que você só quer <strong>com</strong>er. Agoratrabalhan<strong>do</strong> é diferente.” (Sujeito 27, 1 ano e 4 meses deexperiência, sexo masculino).“O <strong>trabalho</strong> <strong>para</strong> mim representa uma chance de eu ser umapessoa, e o ganho é o maior elogio, eu estou trabalhan<strong>do</strong> bem; serbem fala<strong>do</strong>, representa uma chance, um motivo <strong>para</strong> eu não ficar narua.” (Sujeito 4, 9 meses de experiência, sexo masculino).“Minha vida mu<strong>do</strong>u um pouco, antes quan<strong>do</strong> eu não estavatrabalhan<strong>do</strong> eu só ficava em casa, <strong>do</strong>rmia até tarde, agora que eutenho emprego, eu tenho meu dinheiro, não tenho mais tempo deficar <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong> até tarde.” (Sujeito 19, 1 ano e 1 mês de experiência,sexo masculino).Conclusão da Classe 1:A figura 16 faz uma síntese de <strong>com</strong>o o a<strong>do</strong>lescente se vê e percebe a sua vidaprofissional.


144Vida ProfissionalRelevânciaSocialAutonomiaAprendizagemConhecimentoConquistasReconhecimentoFicar longe damá influênciaAdquirirexperiênciaAprender umafunçãoConhecer outraspessoasM<strong>os</strong>trar queconsegueTornar-se umprofissionalAprender <strong>para</strong>ensinarAprender a trabalharem equipeAssumirresponsabilidadesAjudar a pagar ascontas em casaEscola, Curso,EmpresaSer ouvi<strong>do</strong>PreocupaçãoSocialComprar suascoisasPre<strong>para</strong>r-se<strong>para</strong> o futuroSer respeita<strong>do</strong>Ter dinheiro<strong>para</strong> sairTer umdiferencialSentir-se útilFigura 16 – Conclusão da Classe 1Um <strong>do</strong>s pont<strong>os</strong> principais quan<strong>do</strong> se vai analisar o discurso de entrevistas emrelação a teoria da representações sociais, conforme n<strong>os</strong> descreve M<strong>os</strong>covici(1978), é que nem tu<strong>do</strong> que surge no discurso são representações sociais.Nessa classe surgem fat<strong>os</strong> que fazem parte da realidade profissional <strong>do</strong>a<strong>do</strong>lescente, mas que não podem ser considera<strong>do</strong>s representações sociais, <strong>com</strong>opor exemplo assumir responsabilidades, adquirir experiência profissional <strong>para</strong> ocurrículo, tornar-se um profissional e aprender uma função, esses tópic<strong>os</strong> não setratam de representações sociais pois a medida que você trabalha,conseqüentemente já <strong>os</strong> adquire, o que não significa uma releitura da realidade.


145De acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> a análise <strong>do</strong> ALCESTE, uma informação importante so<strong>br</strong>e a classe 1que a caracteriza são <strong>os</strong> da<strong>do</strong>s sociodemográfic<strong>os</strong>. Antes de mais nada é importantefrizar que esses da<strong>do</strong>s não determinam essa classe mas o discurso <strong>do</strong>sa<strong>do</strong>lescentes aproxima-se da classe. Destaca-se que há uma grande freqüência naclasse 1 de a<strong>do</strong>lescentes que estão cursan<strong>do</strong> o 3º ano, são <strong>do</strong> sexo feminino,recebem meio salário mínimo e p<strong>os</strong>suem mais duas pessoas que trabalham emcasa.O que pode ser ilustra<strong>do</strong> <strong>com</strong> da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Seade – Fundação Sistema Estadual deAnálise de Da<strong>do</strong>s (2007) que apontam que têm ocorri<strong>do</strong> mudanças significativas nainserção no merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong> entre <strong>os</strong> gêner<strong>os</strong> feminino e masculino, <strong>com</strong>o opróprio aumento da escolaridade entre as mulheres, <strong>com</strong>o fator de diferenciação dasua inserção no merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>. Em 2006, diminuíram as taxas de participaçãode analfabetas e <strong>com</strong> ensino fundamental in<strong>com</strong>pleto e houve aumento <strong>para</strong> asmulheres <strong>com</strong> maior escolaridade.O Seade (2007) destaca ainda que mesmo <strong>com</strong> a conquista de mais espaço nomerca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong> nas últimas décadas, as mulheres continuam sistematicamentepior remuneradas <strong>do</strong> que <strong>os</strong> homens. Assim, além <strong>do</strong> surgimento de nov<strong>os</strong> dilemase desafi<strong>os</strong> que as mulheres p<strong>os</strong>sam enfrentar na transp<strong>os</strong>ição e convivência deresponsabilidades <strong>do</strong>mésticas associadas à atividade produtiva, essa disparidade deremuneração não só reproduz <strong>os</strong> estereótip<strong>os</strong> de gênero impregna<strong>do</strong>s nas práticassociais, <strong>com</strong>o também revela-se uma das realidades mais resistentes às mudançasno mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>. A seguir podem<strong>os</strong> observar <strong>os</strong> rendiment<strong>os</strong> de trabalha<strong>do</strong>rese trabalha<strong>do</strong>ras da região metropolitana de São Paulo n<strong>os</strong> an<strong>os</strong> de 2004 a 2006:


146Tabela 1: Rendimento Médio por Hora <strong>do</strong>s Homens Ocupa<strong>do</strong>s no Trabalho PrincipalEm reais de novem<strong>br</strong>o de 2006P<strong>os</strong>ição na Ocupação 2004 2005 2006Variação2006/2005 (%)TOTAL 6,52 6,57 6,70 2,0Assalaria<strong>do</strong>s Total 6,45 6,55 6,50 -0,9Assalaria<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Setor Priva<strong>do</strong> 5,98 6,10 6,17 1,1Com Carteira Assinada 6,56 6,65 6,67 0,3Sem Carteira Assinada 4,21 4,35 4,50 3,6Assalaria<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Setor Público 10,88 11,09 11,27 1,6Autônom<strong>os</strong> 4,60 4,77 4,87 2,2Emprega<strong>do</strong>res 14,29 13,14 13,39 1,9Emprega<strong>do</strong>s Doméstic<strong>os</strong> (1) (1) (1) -Demais (1) (1) (1) -Fonte: SEP. Convênio Seade–Dieese. Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED.(1) A am<strong>os</strong>tra não <strong>com</strong>porta a desagregação <strong>para</strong> esta categoria.Tabela 2: Rendimento Médio por Hora das Mulheres Ocupadas no Trabalho PrincipalEm reais de novem<strong>br</strong>o de 2006P<strong>os</strong>ição na Ocupação 2004 2005 2006Variação2006/2005 (%)TOTAL 5,08 4,97 5,21 4,7Assalariadas Total 5,99 5,92 6,06 2,4Assalariadas <strong>do</strong> Setor Priva<strong>do</strong> 5,11 5,24 5,33 1,7Com Carteira Assinada 5,77 5,63 5,75 2,2Sem Carteira Assinada 3,35 3,76 3,73 -0,7Assalariadas <strong>do</strong> Setor Público 9,77 9,52 9,81 3,0Autônomas Total 3,13 3,22 3,15 -2,1Emprega<strong>do</strong>ras 10,14 9,01 (3) -Empregadas Domésticas 2,43 2,51 2,67 6,5Mensalista 2,27 2,36 2,50 5,9Diarista 3,60 3,44 3,56 3,4Demais (2) (2) (2) -Fonte: SEP. Convênio Seade–Dieese. Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED. (1) Inclusive as assalariadas que nãoinformaram o segmento em que trabalhavam. (2) A am<strong>os</strong>tra não <strong>com</strong>porta a desagregação <strong>para</strong> esta categoria.


147Na classe 1 o que é passível de <strong>representação</strong> <strong>social</strong> é a visão que eles têm <strong>do</strong><strong>trabalho</strong> <strong>com</strong>o um meio que <strong>os</strong> proporciona ficar distantes da má influência das ruas,é o “estar ocupa<strong>do</strong>” que <strong>para</strong> <strong>os</strong> jovens da classe média e alta significa fazer curs<strong>os</strong>,academias e outras atividades que exigem um investimento financeiro; enquantoque, <strong>para</strong> essa classe men<strong>os</strong> favorecida uma das p<strong>os</strong>sibilidades <strong>para</strong> se manterocupa<strong>do</strong> é trabalhar.Nesse senti<strong>do</strong>, observa-se que a <strong>representação</strong> de casa e rua se aproxima dasdefinições prop<strong>os</strong>tas por Da Matta (1991), que considera as duas categoriassociológicas, conceit<strong>os</strong> que tentam dar conta <strong>do</strong> que uma sociedade pensa, instituiem seu código de valores e constitui seu sistema de ação. Para o autor a rua é vista<strong>com</strong>o um espaço movimenta<strong>do</strong>, propício às desgraças e roub<strong>os</strong>, portanto, um localperig<strong>os</strong>o onde vivem <strong>os</strong> malandr<strong>os</strong>, <strong>os</strong> meliantes, <strong>os</strong> pilantras e <strong>os</strong> marginais emgeral – ainda que esses mesm<strong>os</strong> indivídu<strong>os</strong> em casa p<strong>os</strong>sam ser decentes e atépais de família; em contrapartida a casa está associada ao aconchego e proteção, éo ambiente priva<strong>do</strong>, <strong>do</strong> sentimento, <strong>do</strong> afeto da família e <strong>do</strong> que é pessoal.Devem<strong>os</strong> tratar <strong>do</strong> processo de emergência das representações sociais, uma vezque na medida em que esse grupo de a<strong>do</strong>lescentes têm acesso à nova realidade de<strong>com</strong>eçar a trabalhar ele precisa se p<strong>os</strong>icionar diante de situações novas e passa avivenciar conquistas <strong>com</strong> as quais ele ainda não sabe <strong>com</strong>o lidar, ou seja, eles sãoapresenta<strong>do</strong>s a uma vivência <strong>para</strong> a qual eles não têm conheciment<strong>os</strong> suficientes<strong>para</strong> explicar e essa insuficiência gera incerteza e caracteriza a dispersão dainformação.


148Observam<strong>os</strong> a seguir uma focalização em alguns aspect<strong>os</strong> que ameaçam odesinteresse por outr<strong>os</strong> e que colocam esse jovem trabalha<strong>do</strong>r em esta<strong>do</strong> de alerta,<strong>com</strong>o por exemplo o fato dele se prender mais a<strong>os</strong> aspect<strong>os</strong> psicológic<strong>os</strong>relaciona<strong>do</strong>s ao <strong>trabalho</strong>, <strong>com</strong>o auto-valorização e o fato dele se sentir maisrespeita<strong>do</strong> e útil, em detrimento de outr<strong>os</strong> aspect<strong>os</strong> que estão relaciona<strong>do</strong>s ao<strong>trabalho</strong> <strong>com</strong>o as leis e <strong>os</strong> direit<strong>os</strong> dele <strong>com</strong>o trabalha<strong>do</strong>r.Como terceiro aspecto vem<strong>os</strong> esse a<strong>do</strong>lescente buscar referência em algo jávivencia<strong>do</strong> <strong>com</strong>o forma de buscar algo que lhe dê conforto, é a pressão a inferência.Dessa forma, vem<strong>os</strong> o a<strong>do</strong>lescente se basear na experiência profissional de seuresponsável <strong>para</strong> elaborar representações sociais e se p<strong>os</strong>icionar diante de suaprópria experiência. Pergunta-se: será que esse a<strong>do</strong>lescente realmente é maisrespeita<strong>do</strong> em casa por estar inseri<strong>do</strong> no merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>? Será que o merca<strong>do</strong>de <strong>trabalho</strong> respeita esse a<strong>do</strong>lescente e entende que ele também é um estudante eestá em formação? Infelizmente o que se observa é o a<strong>do</strong>lescente desempenhan<strong>do</strong>atividade repetitivas, ocupan<strong>do</strong> o lugar de um trabalha<strong>do</strong>r, ganhan<strong>do</strong> men<strong>os</strong>. Asatividades não são muito produtivas e muito men<strong>os</strong> relacionadas à aprendizagem,elas lhe trazem alguma remuneração, mas que não é nenhuma garantia de que eleaprenda uma profissão e muito men<strong>os</strong>, que ele se mantenha longe das drogas e <strong>do</strong>roubo.De acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> as representações elaboradas, o <strong>trabalho</strong> é simboliza<strong>do</strong> por essesjovens <strong>com</strong>o uma oportunidade, <strong>para</strong> m<strong>os</strong>trar <strong>para</strong> <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> que eles conseguempassar por essa fase da vida e morar onde moram, muitas vezes em bairr<strong>os</strong>carentes, sem se envolver <strong>com</strong> pessoas que poderiam estragar-lhes o futuro,


149pessoas que às vezes podem ser outr<strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes, um primo ou até um irmãoenvolvi<strong>do</strong> <strong>com</strong> drogas; dessa forma, resistin<strong>do</strong> a tu<strong>do</strong> isso, eles provam <strong>para</strong> seuspais e amig<strong>os</strong> que são capazes, e principalmente servem de exemplo <strong>para</strong> seusirmã<strong>os</strong> mais nov<strong>os</strong>.Assim, o <strong>trabalho</strong> aparece <strong>com</strong> o senti<strong>do</strong> de uma segunda opção, por meio da qualeles podem fugir da sua condição <strong>social</strong>. É <strong>com</strong>o se trabalhar impedisse que ele seenvolvesse <strong>com</strong> atitudes ilícitas, por não ter tempo oci<strong>os</strong>o, mas principalmente porestar ocupa<strong>do</strong>. Nesse senti<strong>do</strong>, o <strong>trabalho</strong> é visto <strong>com</strong>o mais valoriza<strong>do</strong> que o estu<strong>do</strong>,pois apenas ser estudante não impede que o a<strong>do</strong>lescente tenha tempo <strong>para</strong> seenvolver <strong>com</strong> coisas erradas.É importante observar que o fato de ter dinheiro <strong>para</strong> pagar suas despesas etambém algumas despesas da família e a construção que esses a<strong>do</strong>lescenteselaboram <strong>com</strong> relação ao que isso representa <strong>para</strong> eles; ou seja, o <strong>trabalho</strong> éidentifica<strong>do</strong> <strong>com</strong> a liberdade econômica e o acesso ao merca<strong>do</strong> de consumo.Também se destaca um sentimento diferencia<strong>do</strong> por meio <strong>do</strong> qual o a<strong>do</strong>lescentepassa a se sentir mais útil, importante e valoriza<strong>do</strong>. Dessa forma observa-se umganho concreto <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> que surge <strong>com</strong> o senti<strong>do</strong> de atribuir poder e status aesse a<strong>do</strong>lescente, poder de <strong>com</strong>plementar o orçamento familiar, de participar <strong>do</strong>merca<strong>do</strong> de consumo e o status de adulto.Outro conceito importante em construção é a importância da aprendizagem que sedá no ambiente de <strong>trabalho</strong>, onde aparecem representações <strong>do</strong> aprender <strong>para</strong> se ter


150um diferencial, mas também aprender <strong>para</strong> ensinar a<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> em casa, <strong>com</strong>o <strong>os</strong>irmã<strong>os</strong> mais nov<strong>os</strong> e até a<strong>os</strong> pais que muitas vezes estão desemprega<strong>do</strong>s.Essa classe n<strong>os</strong> m<strong>os</strong>tra o senti<strong>do</strong> que o a<strong>do</strong>lescente atribui quan<strong>do</strong> faz a leitura daimportância da amizade. Essa pode ser <strong>com</strong> pessoas mais velhas e maisexperientes profissionalmente, <strong>com</strong> <strong>os</strong> clientes de classe <strong>social</strong> mais elevada que adele ou ainda <strong>com</strong> <strong>os</strong> própri<strong>os</strong> colegas a<strong>do</strong>lescentes que também estão trabalhan<strong>do</strong><strong>com</strong> eles e podem <strong>com</strong>partilhar as dificuldades enfrentadas no ambiente de <strong>trabalho</strong>,caracterizan<strong>do</strong> assim <strong>os</strong> nov<strong>os</strong> grup<strong>os</strong> de pertencimento e de referência <strong>com</strong> <strong>os</strong>quais eles criam víncul<strong>os</strong>.Conforme n<strong>os</strong> pontua Vala (2004) <strong>os</strong> grup<strong>os</strong> constituem realidades concretas faceàs quais <strong>os</strong> indivídu<strong>os</strong> têm a p<strong>os</strong>sibilidade de definir mo<strong>do</strong>s de estar, cujo senti<strong>do</strong> édelimita<strong>do</strong> pelas fronteiras espaciais e temporais um contexto intergrupal específicoe essa inserção em nov<strong>os</strong> grup<strong>os</strong> também é uma novidade <strong>para</strong> esse jovemaprender a lidar.Zavalloni (apud VALA, 2004) contribui ressaltan<strong>do</strong> a importância de se reconhecer aligação entre o psicológico e o sociológico que o conceito de identidade estabelece,e que esse não é único na <strong>representação</strong> que <strong>os</strong> indivídu<strong>os</strong> fazem <strong>do</strong>s seus papéis,o autor destaca que a <strong>representação</strong> <strong>social</strong> so<strong>br</strong>e <strong>os</strong> grup<strong>os</strong> de pertencimento esuas contribuições sociais também contribuem <strong>para</strong> a percepção <strong>do</strong> eu, conformeacontece <strong>com</strong> n<strong>os</strong>so grupo de a<strong>do</strong>lescentes.


151Classe 2: Trabalho, lazer e famíliaFaz-se importante lem<strong>br</strong>ar que o conteú<strong>do</strong> seleciona<strong>do</strong> pelo ALCESTE <strong>para</strong> a classe2 foi obti<strong>do</strong> por meio da apresentação das figuras recortadas de jornais e revistas.Nessas figuras se destacam <strong>os</strong> seguintes temas: <strong>trabalho</strong> em uma monta<strong>do</strong>ra deautomóveis; <strong>trabalho</strong> informal <strong>com</strong>o feirante; estudantes realizan<strong>do</strong> uma prova;<strong>trabalho</strong> no campo; um pai, uma mãe e <strong>do</strong>is filh<strong>os</strong> se divertin<strong>do</strong>; <strong>trabalho</strong> deencaixotamento, em uma fá<strong>br</strong>ica; joga<strong>do</strong>res de futebol e pessoas assistin<strong>do</strong> a umaaula.Essas figuras eram apresentadas a<strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes ao final da entrevista e elestinham que descrever o que a figura representava <strong>para</strong> eles.Nessa classe podem<strong>os</strong> observar <strong>com</strong>o o a<strong>do</strong>lescente se vê diante <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>, <strong>do</strong>lazer e da família, foram elaboradas quanto subclasses que são: Família / Filh<strong>os</strong>,Estu<strong>do</strong>, Trabalho formal e Trabalho informal. A figura 17 retoma <strong>os</strong> principais temasaponta<strong>do</strong>s pel<strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes.


152Trabalho, lazer e famíliaFamília / Filh<strong>os</strong> Estu<strong>do</strong> TrabalhoformalTrabalhoinformal• Valorizaçãoda família• Desejo de teruma família• Estabilidadefinanceira• Preocupação<strong>com</strong> o futuro<strong>do</strong>s filh<strong>os</strong>Figura 17: Classe 2• Oportunidade• Pre<strong>para</strong>r-se<strong>para</strong> o futuro• Mais importanteque o <strong>trabalho</strong>• Trabalho étemporário,estu<strong>do</strong> é <strong>para</strong>sempre• Melhorar suacondição <strong>social</strong>• Importância determinar <strong>os</strong>estu<strong>do</strong>s notempo certo• Sonho detrabalharem umafá<strong>br</strong>ica• Importância <strong>do</strong> perfilprofissional• Desinteresse pelo<strong>trabalho</strong>rotineiro emaçante• Poucovaloriza<strong>do</strong>pel<strong>os</strong> outr<strong>os</strong>• Oportunidadede gerarrenda• Ficar longe dainfluêncianegativa• Trabalhohonesto• Nem to<strong>do</strong>stêmdisp<strong>os</strong>ição<strong>para</strong> trabalharassim• Malnecessário Família / Filh<strong>os</strong>Nessa subclasse o a<strong>do</strong>lescente demonstra o quanto valoriza a presença da famíliaperto <strong>do</strong>s filh<strong>os</strong>, que aparece simbolizada por palavras <strong>com</strong>o “base”, “essencial”,“tu<strong>do</strong>”. Surge a preocupação <strong>com</strong> a afetividade que pode ser constatada por meiodas palavras: “atenção”, “carinho”, “amor”, “preocupação”, “alegria”, “união”,“essencial” que estão bastante presentes n<strong>os</strong> discurs<strong>os</strong> <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes, conformese pode observar a seguir:“Uma família em um momento de lazer, a gente fala muito <strong>do</strong><strong>trabalho</strong>, mas eu acho que a família é a base de tu<strong>do</strong>, sem ela vocênão é ninguém, se você não tem uma família <strong>com</strong>o você vai saberque você tem o<strong>br</strong>igação de estudar, de ir a escola, fazer as coisas


153certas. Eu acho que a família é essencial, principalmente emmoment<strong>os</strong> assim, nós também tem<strong>os</strong> que ter um momento de lazer<strong>com</strong> a família porque se não fica uma família muito reservada, podeaté fazer mal.” (Sujeito 30, 11 meses de experiência, sexofeminino).“Aqui é uma família, a família é tu<strong>do</strong>, se você está <strong>com</strong> um problemaé a família que vem em primeiro lugar <strong>para</strong> você pedir um conselho.”(Sujeito 7, 10 meses de experiência, sexo masculino).A felicidade da família aparece relacionada as férias, passar o dia junt<strong>os</strong>, ter dinheiroe lazer. Os discurs<strong>os</strong> <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes declaram <strong>com</strong>o é importante o convívio e arecreação entre um filho e seus pais, apesar de muit<strong>os</strong> relatarem não ter essap<strong>os</strong>sibilidade na sua própria família por causa da correria <strong>do</strong> dia a dia e dadificuldade de conciliar <strong>trabalho</strong> e estu<strong>do</strong>, ou mesmo não p<strong>os</strong>suir uma família nucleartradicional.“Aqui é uma família se divertin<strong>do</strong>, <strong>com</strong>o to<strong>do</strong>s que <strong>com</strong>eçam atrabalhar têm preocupação; ansiedade você também tem que tersua hora <strong>para</strong> se divertir, sair <strong>com</strong> <strong>os</strong> amig<strong>os</strong>, o pai poder passar odia <strong>br</strong>incan<strong>do</strong> <strong>com</strong> a sua família <strong>com</strong> alegria. É um momento só defelicidade <strong>para</strong> to<strong>do</strong>s,. É muito importante o pai e a mãe darematenção, carinho e amor <strong>para</strong> <strong>os</strong> filh<strong>os</strong> porque o dinheiro não<strong>com</strong>pra tu<strong>do</strong> e se a criança não tem amor <strong>do</strong>s pais, quan<strong>do</strong> elecrescer, não vai ter vontade de viver e tu<strong>do</strong> vai ser ruim <strong>para</strong> ele. Éonde eles vão g<strong>os</strong>tar de estudar, vão trabalhar e vão se basear maisn<strong>os</strong> pais. Se <strong>os</strong> pais forem bons, eles vão ser pessoas boas, é umaeducação preocupada <strong>com</strong> a infância, <strong>com</strong> dentro de casa.” (Sujeito28, 11 meses de experiência, sexo feminino).“Aqui eu vejo um homem <strong>br</strong>incan<strong>do</strong> <strong>com</strong> seus filh<strong>os</strong>, eu acho legal,são pouc<strong>os</strong> <strong>os</strong> pais que fazem isso <strong>com</strong> seus filh<strong>os</strong> mais eu acholegal sim, passar o dia <strong>com</strong> <strong>os</strong> filh<strong>os</strong>, uma família unida.” (Sujeito 13,1 ano e 1 mês de experiência, sexo masculino).Apesar da família não ser uma realidade nova à qual o a<strong>do</strong>lescente está sen<strong>do</strong>apresenta<strong>do</strong>, o ato de representar, conforme n<strong>os</strong> pontua Leme (1995), não deve serencara<strong>do</strong> <strong>com</strong>o um processo passivo, reflexo da consciência de um objeto ouconjunto de idéias, mas <strong>com</strong>o um processo ativo, uma reconstrução <strong>do</strong> da<strong>do</strong> em um


154contexto de valores, reações, regras e associações. As representações que oa<strong>do</strong>lescente elabora so<strong>br</strong>e a família não se tratam de meras opiniões, atitudes, masde “teorias” internalizadas que servem <strong>para</strong> organizar a realidade, o que pode serconstata<strong>do</strong> por exemplo <strong>com</strong> a preocupação <strong>com</strong> a situação financeira da família e<strong>com</strong> o futuro. Um exemplo desse fato pode ser ilustra<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> o a<strong>do</strong>lescenteelabora representações sociais de que esse momento de lazer <strong>do</strong> pai <strong>com</strong> <strong>os</strong> filh<strong>os</strong>só é p<strong>os</strong>sível graças a uma certa estabilidade financeira, alcançada pelo pai.“Aqui eu vejo uma família no momento de lazer, podem ser umasférias que você consegue trabalhan<strong>do</strong>, ter uma família feliz e terdinheiro <strong>para</strong> levar a família <strong>para</strong> algum lugar.” (Sujeito 6, 1 mês deexperiência, sexo masculino).Por outro la<strong>do</strong>, essa subclasse também destaca certa preocupação <strong>do</strong>s pais <strong>para</strong><strong>com</strong> o futuro <strong>do</strong>s filh<strong>os</strong>.“Uma família muito alegre e unida, acho que o pai e a mãe estãopensan<strong>do</strong> no futuro <strong>do</strong>s filh<strong>os</strong>, seu crescimento, pensan<strong>do</strong> assim,talvez p<strong>os</strong>sa pensar no futuro, quan<strong>do</strong> eles forem <strong>com</strong>eçar atrabalhar, estudar.” (Sujeito 12, 1 ano e 10 meses de experiência,sexo masculino). Estu<strong>do</strong>Nessa subclasse é marcante a consciência <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes <strong>do</strong> quanto o estu<strong>do</strong> éimportante hoje em dia, mesmo aqueles a<strong>do</strong>lescentes que não g<strong>os</strong>tam muito deestudar, ou que já repetiram de ano, demonstram ter essa consciência. Para o grupoo estu<strong>do</strong> não significa apenas uma forma de adquirir conheciment<strong>os</strong>, mas o estu<strong>do</strong>,principalmente o universitário, representa a p<strong>os</strong>sibilidade de ascensão <strong>social</strong>, <strong>com</strong><strong>os</strong>e por meio <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s eles tivessem garantias de conseguir um bom <strong>trabalho</strong>.


155Segun<strong>do</strong> M<strong>os</strong>covici (1978), um objeto pode se caracterizar <strong>com</strong>o objeto de<strong>representação</strong> <strong>social</strong>, sempre que p<strong>os</strong>sui um significa<strong>do</strong> <strong>para</strong> o grupo, e, no caso oestu<strong>do</strong> está simboliza principalmente a ascensão <strong>social</strong>.Verificam-se <strong>os</strong> process<strong>os</strong> de objetivação e ancoragem; onde a objetivação buscadar um senti<strong>do</strong> concreto ao estu<strong>do</strong>, traduzin<strong>do</strong> sua importância e garantin<strong>do</strong> aascensão profissional, <strong>com</strong>o se f<strong>os</strong>se um processo natural e o processo deancoragem se caracteriza pela busca de explicações que justificam o investimentono estu<strong>do</strong> e o papel <strong>do</strong> mesmo diante <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> e da <strong>com</strong>petitividade no merca<strong>do</strong>de <strong>trabalho</strong>.“O estu<strong>do</strong> é uma das coisas mais importantes, eu não sou daquelasde tirar notas maravilh<strong>os</strong>as, mas eu nunca repeti de ano, eu meesforço quan<strong>do</strong> é preciso, é uma coisa essencial da minha vida, seno futuro eu quiser fazer uma faculdade, eu preciso <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>.”(Sujeito 14, 2 meses de experiência, sexo feminino).“O estu<strong>do</strong> é tu<strong>do</strong>, sem o estu<strong>do</strong> você não consegue nada. Hoje emdia, até <strong>para</strong> você ser lixeiro você tem que terminar o 3º ano, coisaque não precisava fazer a um tempo atrás, então ter uma faculdade,uma pós-graduação é muito importante.” (Sujeito 17, 6 meses deexperiência, sexo masculino).“O estu<strong>do</strong> hoje em dia é tu<strong>do</strong>, porque sem estu<strong>do</strong> você não vai <strong>para</strong>lugar nenhum, você praticamente fica <strong>para</strong><strong>do</strong>... estu<strong>do</strong> éoportunidade, porque <strong>para</strong> você conhecer alguma coisa você temque estudar, <strong>para</strong> tu<strong>do</strong> mesmo.” (Sujeito 18, 6 meses deexperiência, sexo masculino).“O estu<strong>do</strong> é uma coisa muito importante, pena que as escolas sejamtão fracas e <strong>os</strong> professores sejam tão desmotiva<strong>do</strong>s, mas a gentetambém tem um pouco de culpa porque a gente também bagunçamuito, dá desg<strong>os</strong>to.” (Sujeito 29, 1 ano e 8 meses de experiência,sexo feminino).“O estu<strong>do</strong> é muito importante, até mais <strong>do</strong> que trabalhar, porquesem o estu<strong>do</strong> você não trabalha.” (Sujeito 22, 3 meses deexperiência, sexo feminino).


156“É muito importante, to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> fala isso, e principalmente <strong>para</strong> agente que não tem experiência nenhuma no currículo e não sabefazer nada, a única coisa que a gente tem é o estu<strong>do</strong>.” (Sujeito 29, 1ano e 8 meses de experiência, sexo feminino).Chamon (2006) n<strong>os</strong> destaca que ter uma opinião so<strong>br</strong>e um objeto não caracterizauma <strong>representação</strong> e sim quan<strong>do</strong> esse objeto é fonte de significa<strong>do</strong>s e envolvevalores, crenças e a prática de um grupo, segun<strong>do</strong> esses critéri<strong>os</strong> podem<strong>os</strong>caracterizar a <strong>representação</strong> <strong>social</strong> que <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes têm <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>com</strong>o maisimportante que o <strong>trabalho</strong>, visto que sem o primeiro não há <strong>com</strong>o alcançar <strong>os</strong>egun<strong>do</strong>, o que pode ser influência <strong>do</strong> fato <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente trabalhar <strong>com</strong> umcontrato de <strong>trabalho</strong> por tempo determina<strong>do</strong>. Destaca-se a percepção de que o<strong>trabalho</strong> pode ser temporário / passageiro, mas o estu<strong>do</strong>, aprendiza<strong>do</strong> e experiênciasão oportunidades dele alcançar um futuro diferente.“Acho que agora <strong>do</strong> jeito que está o mun<strong>do</strong> é o mais importante,porque às vezes você pensa em trabalhar, quer tanto trabalhar eesquece tu<strong>do</strong>. Daqui a um tempo o seu serviço não valeu de nadapode acontecer alguma coisa e você ser manda<strong>do</strong> embora, mas sevocê não estudar agora mais <strong>para</strong> a frente o seu estu<strong>do</strong> não vaivaler nada. Você tem que estar num nível <strong>para</strong> que no futuro vocêtenha chance de ter alguma coisa, porque se você deixar o estu<strong>do</strong>de la<strong>do</strong>...” (Sujeito 9, 3 meses de experiência, sexo feminino).“O estu<strong>do</strong> é tu<strong>do</strong>, sem o estu<strong>do</strong> você não consegue nada e fica meiodifícil arrumar serviço, estu<strong>do</strong> é a base de tu<strong>do</strong>.” (Sujeito 10, 12meses de experiência, sexo masculino).“Se você não estudar, você não tem emprego, o estu<strong>do</strong> é muitoimportante, se você não estuda, você não tem <strong>trabalho</strong>, é o primeirode tu<strong>do</strong>.” (Sujeito 28, 11 meses de experiência, sexo feminino).“Pessoas estudan<strong>do</strong>, o estu<strong>do</strong> é a melhor forma <strong>para</strong> você ter umbom serviço.” (Sujeito 25, 1 mês de experiência, sexo masculino).


157Apesar <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> ser considera<strong>do</strong> mais importante que o <strong>trabalho</strong>, nessa classe, oa<strong>do</strong>lescente demonstra ter consciência de que só por meio <strong>do</strong> mesmo ele poderáalcançar uma profissão, <strong>com</strong>o podem<strong>os</strong> <strong>com</strong>provar n<strong>os</strong> discurs<strong>os</strong> abaixo:“È uma pre<strong>para</strong>ção <strong>para</strong> o <strong>trabalho</strong> porque boa parte <strong>do</strong> que vocêaprende na escola você usa <strong>para</strong> o <strong>trabalho</strong>.” (Sujeito 7, 10 mesesde experiência, sexo masculino).“Muito, até mais <strong>do</strong> que <strong>trabalho</strong>, <strong>com</strong> o estu<strong>do</strong> já está difícil vocêter, uma boa profissão, uma boa carreira, sem o estu<strong>do</strong> então.”(Sujeito 15, 1 ano e 8 meses de experiência, sexo masculino).Outra <strong>representação</strong> <strong>social</strong> importante no discurso <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente está relacionadaa importância da formação contínua <strong>para</strong> que ele se mantenha no merca<strong>do</strong> de<strong>trabalho</strong> e <strong>para</strong> melhorar sua condição <strong>social</strong>.“O estu<strong>do</strong> é fundamental, se você não estiver estudan<strong>do</strong> você nãovai conseguir trabalhar, você não vai conseguir a<strong>com</strong>panhar oraciocínio das outras pessoas, o desenvolvimento das outraspessoas porque sem o estu<strong>do</strong>, sem a capacitação que asprofessoras passam <strong>para</strong> você, sem essa aprendizagem você nãovai conseguir alcançar o seu desenvolvimento mesmo naquelacarreira que você quer seguir. A pessoa pode estar há 30 an<strong>os</strong>numa profissão que mesmo assim ela sempre vai ter alguma coisa<strong>para</strong> aprender.” (Sujeito 21, 1 ano e 10 meses de experiência, sexomasculino).“É o estu<strong>do</strong> que te a<strong>br</strong>e oportunidades, sem ele acho difícil vocêchegar a algum lugar.” (Sujeito 13, 1 ano e 1 mês de experiência,sexo masculino).“Muito. Tem que estudar muito, porque se você não estudar ficamuito difícil vencer na vida.” (Sujeito 1, 1 ano e 4 meses deexperiência, sexo masculino).“Considero também porque se não estudar não tem <strong>com</strong>o você ir<strong>para</strong> a frente e ficar <strong>para</strong><strong>do</strong> também não vai ter <strong>com</strong>o, vai ter quevoltar e estudar mas sem o estu<strong>do</strong> não vai ter <strong>com</strong>o trabalhar oucorrer atrás <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>.” (Sujeito 12, 1 ano e 10 meses deexperiência, sexo masculino).


158“Aqui eu vejo <strong>os</strong> jovens se pre<strong>para</strong>n<strong>do</strong>, buscan<strong>do</strong> o objetivo, ten<strong>do</strong>consciência de que é necessário estudar, se esforçar um pouco ever <strong>com</strong>o é que é difícil entrar no merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong> hoje, sãojovens que estão dan<strong>do</strong> valor <strong>para</strong> o seu futuro.” (Sujeito 6, 1 mêsde experiência, sexo masculino).“As pessoas estudan<strong>do</strong> <strong>para</strong> um dia serem alguém na vida, a genteprecisa estudar muito <strong>para</strong> vencer na vida porque sem estu<strong>do</strong> vocênão é nada, você precisa estudar muito e se dedicar.” (Sujeito 28, 11meses de experiência, sexo feminino).Destaca-se também a consciência <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente da importância de concluir <strong>os</strong>estu<strong>do</strong>s no tempo certo, pois segun<strong>do</strong> ele, quanto mais tarde, mais difícil estudar.Essa talvez seja também uma aprendizagem adquirida pelo que ele observa n<strong>os</strong>pais e irmã<strong>os</strong> mais velh<strong>os</strong> que não concluíram <strong>os</strong> estu<strong>do</strong>s e não conseguem fazê-lo.Também se pode observar a consciência de que a própria a<strong>do</strong>lescência é uma fasede amizade.“Também, porque se ele não estudar na a<strong>do</strong>lescência, fica <strong>com</strong>omuitas pessoas que estão corren<strong>do</strong> atrás <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> agora, maistarde fica mais difícil, então é mais fácil ele <strong>com</strong>eçar naa<strong>do</strong>lescência onde é o tempo certo.” (Sujeito 10, 12 meses deexperiência, sexo masculino). Trabalho FormalSegun<strong>do</strong> M<strong>os</strong>covici (2003) as representações sociais são fenômen<strong>os</strong> <strong>com</strong>plex<strong>os</strong>que dizem respeito ao processo pelo qual o senti<strong>do</strong> de um da<strong>do</strong> objeto éestrutura<strong>do</strong> pelo sujeito em um contexto de suas relações, em um processodinâmico de <strong>com</strong>preensão e transformação da realidade. As representaçõessociais não são reflex<strong>os</strong> da realidade e sim construções mentais <strong>do</strong>s objet<strong>os</strong>,inseparáveis das atividades simbólicas <strong>do</strong>s sujeit<strong>os</strong> e de sua inserção natotalidade <strong>social</strong>.


159Dessa forma, vê-se o a<strong>do</strong>lescente se p<strong>os</strong>icionar a favor <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> formalbasea<strong>do</strong> principalmente na influência exercida pelo seu grupo <strong>social</strong> e pela suafamília.Nessa subclasse, aparecem as impressões so<strong>br</strong>e o <strong>trabalho</strong> formal,principalmente em fá<strong>br</strong>icas, o que pode ser uma influência da região <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong>Paraíba, onde a pesquisa foi realizada. Destaca-se que nessa região de SãoPaulo, há a concentração de várias indústrias, principalmente monta<strong>do</strong>ras deautomóveis e muit<strong>os</strong> desses a<strong>do</strong>lescentes têm ou tiveram familiares quetrabalham nessas indústrias. Dessa forma, trabalhar em uma fá<strong>br</strong>ica, apesar denão ser mais tão estável quanto na época de seus avós, ainda é visto por eles<strong>com</strong>o um sonho. O sonho de ter um emprego estável em uma empresa grande,registra<strong>do</strong> em carteira e ilusoriamente garanti<strong>do</strong>, uma <strong>do</strong>ce ilusão que tambémpode ser percebida na o<strong>br</strong>a de Schirato (2004), onde a autora conta a trajetória,<strong>os</strong> víncul<strong>os</strong> e a relação <strong>do</strong>s funcionári<strong>os</strong> de uma empresa, bem <strong>com</strong>o <strong>os</strong>sentiment<strong>os</strong> que são vivencia<strong>do</strong>s por eles quan<strong>do</strong> esses funcionári<strong>os</strong> sãodemiti<strong>do</strong>s e essa simbi<strong>os</strong>e se rompe.O sonho desse a<strong>do</strong>lescente está relaciona<strong>do</strong> <strong>com</strong> constituir uma boa carreiraprofissional, não só pela experiência que se adquire, mas também pela profissãoque se aprende, principalmente quan<strong>do</strong> não se tem uma formação de nívelsuperior. Ainda é marcante nesses a<strong>do</strong>lescentes a idéia de que primeiro se<strong>com</strong>eça a trabalhar em uma fá<strong>br</strong>ica grande <strong>para</strong> depois se constituir umaprofissão. Esse anseio pode ser verifica<strong>do</strong> n<strong>os</strong> discurs<strong>os</strong> a seguir:


160“G<strong>os</strong>taria de trabalhar em uma firma, uma fá<strong>br</strong>ica grande <strong>com</strong>o aEm<strong>br</strong>aer ou a Volkswagem, mas na área de engenharia.” (Sujeito27, 1 ano e 4 meses de experiência, sexo masculino).“Aqui é uma fá<strong>br</strong>ica, tem <strong>os</strong> operári<strong>os</strong> trabalhan<strong>do</strong> nesse carro, é amanutenção, o <strong>trabalho</strong> deles. Acho que o <strong>trabalho</strong> numa fá<strong>br</strong>ica é <strong>os</strong>onho de quase todas as pessoas.” (Sujeito 10, 12 meses deexperiência, sexo masculino).“Uma fá<strong>br</strong>ica de carr<strong>os</strong>, eu acho que é assim, é um serviço muitobom <strong>para</strong> as pessoas porque fá<strong>br</strong>ica sempre é umaresponsabilidade muito grande e nela você m<strong>os</strong>tra que éresponsável.” (Sujeito 25, 1 mês de experiência, sexo masculino).Assim, mesmo no início de sua vida profissional, esse a<strong>do</strong>lescente já é capaz dedemonstrar suas preferências por um <strong>trabalho</strong> mais dinâmico e criativo,demonstran<strong>do</strong>desinteresse pelo <strong>trabalho</strong> rotineiro, maçante e algumasocupações que segun<strong>do</strong> ele são desvalorizadas no merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>.Para algumas ocupações repetitivas, <strong>com</strong>o o empacotamento se destacamrepresentações contraditórias de que esse <strong>trabalho</strong> que <strong>para</strong> ele é desvaloriza<strong>do</strong>também é importante e precisa ser desempenha<strong>do</strong> por alguém, mas ele nãoalmeja tê-lo <strong>com</strong>o profissão. A <strong>representação</strong> <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>para</strong> essesa<strong>do</strong>lescentes espelha o que eles vivenciam em casa, e se ancora em aspect<strong>os</strong>p<strong>os</strong>itiv<strong>os</strong> e negativ<strong>os</strong>, caracteriza<strong>do</strong>s por expressões <strong>com</strong>o “sonho” , “repetitiva” ,“desvaloriza<strong>do</strong>” e gera<strong>do</strong>r de “pouco dinheiro”, caracterizan<strong>do</strong> assim um aspecto<strong>social</strong> próprio desse grupo na sua formação.Destaca-se também o conhecimento <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente de que <strong>para</strong> cada função háum perfil profissional a ser exigi<strong>do</strong> pelo merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>.


161“Eles estão fazen<strong>do</strong> caixas ou encaixotan<strong>do</strong> alguma coisa, elesestão fazen<strong>do</strong> o <strong>trabalho</strong> deles, que é um <strong>trabalho</strong> <strong>com</strong>o qualqueroutro, ganhan<strong>do</strong> seu dinheiro <strong>para</strong> se sustentar e viver. É um<strong>trabalho</strong> legal, você estar encaixotan<strong>do</strong>, mas alguém precisa fazerisso também, to<strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> tem sua importância, não tem <strong>com</strong>o umamáquina fazer isso.” (Sujeito 28, 11 meses de experiência, sexofeminino).“Uma fá<strong>br</strong>ica também, sen<strong>do</strong> que essa é de caixas ou alguma coisaque eles vão colocar dentro das caixas, é um <strong>trabalho</strong> importantemas pouco valoriza<strong>do</strong>, provavelmente eles ganham muito pouco.”(Sujeito 29, 1 ano e 8 meses de experiência, sexo feminino).“Eu vejo um monte de gente encaixotan<strong>do</strong>, é um <strong>trabalho</strong> na fá<strong>br</strong>ica,é um <strong>trabalho</strong> <strong>com</strong>o <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> também, mas não é tão exp<strong>os</strong>toquanto o feirante, cada tipo de serviço precisa de uma pessoa <strong>com</strong>um jeito diferente <strong>para</strong> fazer. Também precisa ter estu<strong>do</strong> eexperiência, é difícil eles contratarem uma pessoa que não têmexperiência, precisa ter responsabilidade e conhecimento também.”(Sujeito 30, 11 meses de experiência, sexo feminino).Dessa forma, pode-se observar o quanto o retorno financeiro é importante <strong>para</strong> oa<strong>do</strong>lescente trabalha<strong>do</strong>r que associa a desvalorização <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>,principalmente a ganhar pouco, bem <strong>com</strong>o quanto ele valoriza a estabilidade no<strong>trabalho</strong>. Trabalho informalNessa subclasse o a<strong>do</strong>lescente fala da sua impressão so<strong>br</strong>e o <strong>trabalho</strong> informal,muit<strong>os</strong> inclusive, já trabalharam sem vínculo empregatício antes, ou têm pai e/oumãe trabalhan<strong>do</strong> dessa forma. Destaca-se o reconhecimento deles pelaspessoas que têm coragem e disp<strong>os</strong>ição <strong>para</strong> “correr atrás” de uma geração derenda e que de alguma forma estão conseguin<strong>do</strong> sustentar sua família, ou seja,pessoas que são empreende<strong>do</strong>ras. Para esse grupo o empreende<strong>do</strong>rismo


162agrega a <strong>representação</strong> <strong>social</strong> <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> um simbolismo da penúria de alcançarum emprego.“Pessoas mais humildes trabalhan<strong>do</strong>, venden<strong>do</strong> frutas, é bonito,você ver que ele está precisan<strong>do</strong>, tem gente que mesmo precisan<strong>do</strong>não tem coragem de fazer isso.” (Sujeito 8, 1 ano e 5 meses deexperiência, sexo feminino).“Um empresário, pois ele mesmo põem o seu produto a venda e elemesmo vende, não precisa de emprega<strong>do</strong>r <strong>para</strong> que ele saiba, elesabe preço, cálculo, tu<strong>do</strong> de cabeça, sem nenhuma máquina <strong>para</strong>isso. Esse tipo de <strong>trabalho</strong> é pouco valoriza<strong>do</strong>, um feirante não temo mesmo valor que um <strong>do</strong>no de empresa só que ele tem até mais<strong>trabalho</strong> porque ele é o chefe, é o emprega<strong>do</strong> e é ele que vai buscare transportar as coisas, então eu acho que devia ser maisvaloriza<strong>do</strong>.” (Sujeito 15, 1 ano e 8 meses de experiência,masculino).Outra <strong>representação</strong> importante nessa subclasse e também bastante presente narealidade desses a<strong>do</strong>lescentes é o roubo, o quanto eles valorizam umaoportunidade de <strong>trabalho</strong>, mesmo que <strong>para</strong> ganhar pouco, <strong>com</strong>o alternativa <strong>para</strong>não roubar.“Aqui é um vende<strong>do</strong>r ambulante, não sei, às vezes por falta deoportunidade, não teve capacidade de entrar num lugar melhor. Bomum <strong>trabalho</strong> desse, eu p<strong>os</strong>so dizer que é um <strong>trabalho</strong> honesto ondeele está ganhan<strong>do</strong> seu próprio dinheiro, não está rouban<strong>do</strong>, fazen<strong>do</strong>nada, só venden<strong>do</strong> e ganhan<strong>do</strong> seu dinheirinho.” (Sujeito 10, 12meses de experiência, masculino).“Um vende<strong>do</strong>r atenden<strong>do</strong> um cliente, é um <strong>trabalho</strong> honesto, têm aspessoas que colhem e vendem, melhor <strong>do</strong> que estar rouban<strong>do</strong>.”(Sujeito 22, 3 meses de experiência, sexo feminino).“Eu vejo uma pessoa venden<strong>do</strong> frutas na calçada, significa que <strong>com</strong>certeza essa pessoa não conseguiu algo melhor na vida, sei lá setem estu<strong>do</strong> também, é um meio de vida, melhor <strong>do</strong> que sair por aírouban<strong>do</strong>.” (Sujeito 26, 6 meses de experiência, masculino).Essa subclasse destaca a consciência <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente <strong>do</strong> quanto o <strong>trabalho</strong> semcarteira assinada pode ser ruim <strong>para</strong> o currículo e <strong>para</strong> o próprio profissional que não


163está am<strong>para</strong><strong>do</strong> pelo Instituto Nacional <strong>do</strong> Seguro Social – INSS. Destaca-se umcaráter de exploração, muit<strong>os</strong> inclusive têm essa realidade em casa, <strong>com</strong> pais eirmã<strong>os</strong> que trabalham sem vínculo empregatício.“No <strong>trabalho</strong> sem a carteira, a gente não tem o direito de reclamar, agente não tem direit<strong>os</strong> de trabalha<strong>do</strong>r. Um <strong>trabalho</strong> por exemplo<strong>com</strong>o o meu que eu tenho que ficar corren<strong>do</strong>, se eu que<strong>br</strong>o um pé enão tenho carteira, não teria <strong>com</strong>o reclamar e teria que trabalharmesmo <strong>com</strong> o pé machuca<strong>do</strong>.” (Sujeito 5, 1 mês de experiência,masculino).“O <strong>trabalho</strong> sem carteira assinada é necessário <strong>para</strong> algumaspessoas porque emprego <strong>com</strong> carteira assinada hoje está difícil,mas é uma alternativa <strong>para</strong> quem não consegue, acaba sen<strong>do</strong> ummal porque você não está sen<strong>do</strong> regulariza<strong>do</strong>, você acabacontribuin<strong>do</strong> de forma clandestina <strong>para</strong> a nação andar <strong>para</strong> a frente,mas de vez em quan<strong>do</strong> é preciso.” (Sujeito 6, 1 mês de experiência,sexo masculino).Conclusão da Classe 2:Trabalho, Lazer efamíliaFamília / Filh<strong>os</strong>Estu<strong>do</strong>TrabalhoformalTrabalhoinformalValorizaçãoda famíliaOportunidadeSonho de trab.em uma fá<strong>br</strong>icaPouco valoriza<strong>do</strong>Desejo de teruma famíliaPre<strong>para</strong>r-se <strong>para</strong>O futuroPerfil profissionalGerar rendaEstabilidadefinanceiraMais importanteque o <strong>trabalho</strong>DesinteresseTrab. rotineiroFicar longe damá influênciaPreocupação <strong>com</strong>Trab.– temporárioo futuro <strong>do</strong>s filh<strong>os</strong>Estu<strong>do</strong>– p/ sempreDisp<strong>os</strong>ição <strong>para</strong>trabalharMelhorar suacondição <strong>social</strong>Mal necessárioTerminar <strong>os</strong> estu<strong>do</strong>sno tempo certoFigura 18 – Conclusão da Classe 2


164Com relação a emergência das representações sociais, observam<strong>os</strong> uma dispersãoda informação quan<strong>do</strong> o a<strong>do</strong>lescente precisa se p<strong>os</strong>icionar <strong>com</strong> relação ao <strong>trabalho</strong>e ao estu<strong>do</strong>, verifica-se que o a<strong>do</strong>lescente muitas vezes não sabe lidar <strong>com</strong> essasituação e inclusive, às vezes privilegia o <strong>trabalho</strong> em detrimento <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>.Destaca-se a focalização em alguns aspect<strong>os</strong> que ameaçam o desinteresse poroutr<strong>os</strong> e que colocam esse jovem trabalha<strong>do</strong>r em esta<strong>do</strong> de atenção, observa-seprevalecer o interesse <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> formal sob o informal que surge <strong>com</strong>o poucovaloriza<strong>do</strong>, de pouco estu<strong>do</strong> e sem direit<strong>os</strong>.Quan<strong>do</strong> o a<strong>do</strong>lescente precisa se p<strong>os</strong>icionar em relação ao estu<strong>do</strong> e ao <strong>trabalho</strong>formal, ele se utiliza da pressão a inferência, pois várias vezes ele não p<strong>os</strong>sui da<strong>do</strong>ssuficientes e assim busca referência em alguma experiência já vivenciada em casa,<strong>com</strong>o por exemplo quan<strong>do</strong> ele elabora uma <strong>representação</strong> so<strong>br</strong>e a importância <strong>do</strong>estu<strong>do</strong> basea<strong>do</strong> em um irmão mais velho que está atrasa<strong>do</strong> na escola ou em seu paique não consegue emprego por causa da baixa escolaridade. A pressão a inferênciatambém pode ser observada quan<strong>do</strong> o a<strong>do</strong>lescente associa o <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong> vende<strong>do</strong>rambulante à baixa escolaridade e destaca que esse tipo de <strong>trabalho</strong> é melhor <strong>do</strong> queroubar; <strong>com</strong>o se as duas coisas: roubar e ser ambulante estivessem no mesmonível. Na verdade, muit<strong>os</strong> desses a<strong>do</strong>lescentes tomam <strong>com</strong>o referência pais, mães eirmã<strong>os</strong> mais velh<strong>os</strong> que estão trabalhan<strong>do</strong> sem vínculo empregatício e simbolizamesse tipo de <strong>trabalho</strong> <strong>com</strong>o um mal necessário, ou seja, é aceitável na medida emque a pessoa não tem outra opção.


165A análise <strong>do</strong> ALCESTE so<strong>br</strong>e <strong>os</strong> da<strong>do</strong>s sociodemográfic<strong>os</strong> dessa classe, destacaprincipalmente o discurso de a<strong>do</strong>lescentes que já terminaram o ensino médio e quep<strong>os</strong>suem tempo de experiência no <strong>trabalho</strong> de 12 a 23 meses. Destaca-se queesses da<strong>do</strong>s não determinam essa classe, mas m<strong>os</strong>tram uma proximidade nodiscurso <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes.Observam<strong>os</strong> que a realidade dessas famílias se caracteriza principalmente <strong>com</strong>o<strong>com</strong> muit<strong>os</strong> filh<strong>os</strong> e <strong>com</strong> uma estrutura difícil de prover as necessidades de to<strong>do</strong>s,se destaca a <strong>representação</strong> <strong>social</strong> <strong>do</strong> conceito de família <strong>com</strong>o muito importante<strong>para</strong> a felicidade <strong>do</strong> indivíduo, rica ou po<strong>br</strong>e, ela deve estar presente. Emcontrapartida o a<strong>do</strong>lescente almeja ser capaz de planejar um bom futuro <strong>para</strong> seusfilh<strong>os</strong> e ter uma boa estabilidade financeira. Dessa forma, podem<strong>os</strong> observar oquanto a vivência influi na elaboração de uma <strong>representação</strong> <strong>social</strong>, que nãodepende tanto da maturidade, mas principalmente da leitura que o indivíduo faz dasituação que está vivencian<strong>do</strong>.O estu<strong>do</strong> é visto <strong>com</strong> o senti<strong>do</strong> de proporcionar oportunidades, ou seja, <strong>com</strong>oimpulsiona<strong>do</strong>r e facilita<strong>do</strong>r <strong>para</strong> que <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes conquistem uma ascensão<strong>social</strong>.Outra <strong>representação</strong> importante elaborada pel<strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes é a relação que elesestabelecem entre <strong>trabalho</strong> e estu<strong>do</strong>, onde esse se so<strong>br</strong>essai so<strong>br</strong>e aquele e apesarde valorizar o <strong>trabalho</strong>, o estu<strong>do</strong> é considera<strong>do</strong> mais importante.


166Mais uma vez a realidade vivida por esse a<strong>do</strong>lescente aparece <strong>com</strong>o umimpulsiona<strong>do</strong>r <strong>para</strong> que ele busque uma mudança, ou seja, o fato de ter pais eirmã<strong>os</strong> mais velh<strong>os</strong> <strong>com</strong> o estu<strong>do</strong> in<strong>com</strong>pleto, e que muitas vezes por causa dissonão conseguem se inserir no merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>, faz <strong>com</strong> que ele elabore uma<strong>representação</strong> <strong>social</strong> da importância de se concluir o estu<strong>do</strong> no tempo certo e antesde constituir uma família.Outra <strong>representação</strong> <strong>social</strong> presente é a distinção que o a<strong>do</strong>lescente faz entre<strong>trabalho</strong> formal e informal, onde o primeiro é visto <strong>com</strong>o um sonho que to<strong>do</strong>s devembuscar. Ter um emprego de carteira assinada, principalmente em uma fá<strong>br</strong>ica,representa uma grande conquista <strong>para</strong> o a<strong>do</strong>lescente, enquanto que o <strong>trabalho</strong>informal, apesar de não aparecer <strong>com</strong> uma conotação negativa, tende a ser evita<strong>do</strong>,a men<strong>os</strong> que não haja outra opção. Essa <strong>representação</strong> <strong>social</strong> p<strong>os</strong>sui uma influênciahistórica da região onde esses a<strong>do</strong>lescentes vivem que conforme já foi relata<strong>do</strong>,p<strong>os</strong>sui várias monta<strong>do</strong>ras de automóveis.Na <strong>representação</strong> <strong>social</strong> que o a<strong>do</strong>lescente elabora so<strong>br</strong>e o <strong>trabalho</strong> informal ébastante marcante a idéia de que o <strong>trabalho</strong> informal é um mal necessário quan<strong>do</strong>não se tem outra opção <strong>para</strong> gerar renda; ele não pontua, por exemplo, a decisão <strong>do</strong>profissional de a<strong>br</strong>ir seu próprio negócio, ou de ser autônomo, <strong>com</strong>o <strong>trabalho</strong>informal. O <strong>trabalho</strong> formal é associa<strong>do</strong> ao vínculo empregatício que é maisvaloriza<strong>do</strong> que outras formas de ocupação. O <strong>trabalho</strong> informal é associa<strong>do</strong> aoganhar dinheiro sem vínculo, o que é aceitável se não há outra ocupação.


167Ainda assim, há uma tendência <strong>para</strong> se buscar um emprego formal e evitar oinformal, as representações sociais elaboradas <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> formal e informal seassemelham quan<strong>do</strong> a idéia é ficar longe da má influência e <strong>do</strong> caminho erra<strong>do</strong>.Classe 3: Projeto pessoalA classe 3 m<strong>os</strong>tra <strong>com</strong>o o a<strong>do</strong>lescente se vê em relação ao seu futuro, ou seja, qualé seu projeto de vida. Observa-se que o den<strong>do</strong>grama apresenta as seguintessubclasses: Estu<strong>do</strong>, Trabalho, Carreira / Profissão.Projeto PessoalEstu<strong>do</strong> Trabalho Carreira /Profissão• Ansei<strong>os</strong> <strong>do</strong>sjovens <strong>para</strong> umfuturo diferenteda realidadeatual• Oportunidade demelhoria de vida/ futuro melhor• Diferencial<strong>com</strong>petitivo• ConquistasFigura 19: Classe 3• Oportunidade deconquistar umbom emprego• Oportunidadede ser alguémna vida• Enxergar a vidade outro mo<strong>do</strong>• Ter um futuromelhor• Ter um bomemprego• Ter seupróprionegócio


168 Estu<strong>do</strong>A produção discursiva <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente reflete o seu p<strong>os</strong>icionamento na medida emque o estu<strong>do</strong> se coloca <strong>com</strong>o o caminho <strong>para</strong> a construção de um futuro diferente.Nessa subclasse é bastante marcante a presença das expressões “Eu quero”, “Eupreten<strong>do</strong>”, “Eu vou”, <strong>para</strong> m<strong>os</strong>trar <strong>os</strong> ansei<strong>os</strong> desses jovens sonha<strong>do</strong>res e seusprojet<strong>os</strong> <strong>para</strong> o futuro, principalmente diferente da realidade de vida que eles têm,conforme podem<strong>os</strong> observar nas passagens a seguir:“Bom , o meu projeto de futuro, se Deus quiser, vai ser um futuro <strong>do</strong>jeito que eu quero, não sei se é um defeito ou uma qualidade, maseu tenho mania de pensar muito grande, eu quero ser rico, quero ser<strong>do</strong>no de uma empresa, quero ter aquela casa, um carro chique, masno meu futuro eu quero conquistar muita coisa, quero ter umaempresa, ser empresário, ter um cargo grande, pensar grande.”(Sujeito 26, 6 meses de experiência, sexo masculino).“Eu procuro correr atrás, eu prefiro ser objetivo e não ficar pensan<strong>do</strong>muito. Eu acho que esse negócio de ver futuro não existe não, achoque é mais você correr atrás, a iniciativa mesmo. Eu g<strong>os</strong>taria defazer uma faculdade e procurar uma coisa melhor, crescer. Vocênão pode se estabilizar na vida, tem até uma música que se eu nãome engano é <strong>do</strong> Legião Urbana, que diz que você não pode seestabilizar <strong>com</strong> o que tem, você tem sempre que querer um pou<strong>com</strong>ais ou você chega numa época da vida que não tem objetivo.”(Sujeito 18, 6 meses de experiência, sexo masculino).“Eu luto <strong>para</strong> que seja um futuro bom, promissor porque, eu estu<strong>do</strong>,<strong>trabalho</strong>, luto <strong>para</strong> conseguir o que eu quero, eu espero um futurorealiza<strong>do</strong> <strong>para</strong> mim.” (Sujeito 20, 3 meses de experiência, sexofeminino).“Por enquanto eu vejo assim, eu não vivo, eu tenho um objetivo, euquero fazer algo que seja importante <strong>para</strong> mim no futuro, que eup<strong>os</strong>sa ter uma casa <strong>para</strong> <strong>os</strong> meus filh<strong>os</strong> e que eu p<strong>os</strong>sa dar o queeu não tive <strong>para</strong> eles.” (Sujeito 1, 16 meses de experiência, sexomasculino).Nessa subclasse o a<strong>do</strong>lescente demonstra o quanto têm consciência da importânciade estudar <strong>para</strong> conseguir ter um futuro diferente. Destaca-se a consciência de que


169ele precisa estender o seu estu<strong>do</strong> além <strong>do</strong> ensino médio ofereci<strong>do</strong> pela escolapública, seja em um curso técnico, em uma faculdade ou em curs<strong>os</strong> livres.“Bom, eu sempre tive vontade de fazer uma faculdade deengenharia mecânica, não sei se vai ser p<strong>os</strong>sível, mas preten<strong>do</strong>chegar lá um dia e aprender bastante.” (Sujeito 10, 12 meses deexperiência, sexo masculino).“Eu vejo o meu futuro estudan<strong>do</strong>, eu já estou a<strong>br</strong>in<strong>do</strong> uma poupança<strong>para</strong> mim, juntan<strong>do</strong> um dinheiro <strong>para</strong> mais <strong>para</strong> a frente fazer umcurso, uma faculdade, alguma coisa desse tipo na área de Biologia.Eu vou terminar agora o 3º ano, mas, ainda tem um tempo.” (Sujeito11, 3 meses de experiência, sexo feminino).“Eu queria prestar vestibular no final desse ano, <strong>para</strong> fazerfisioterapia, se Deus quiser eu consigo. E se eu conseguir meformar, eu preten<strong>do</strong> a<strong>br</strong>ir uma clínica pequena <strong>para</strong> exercer aprofissão.” (Sujeito 17, 6 meses de experiência, sexo masculino).“Eu me vejo fazen<strong>do</strong> vári<strong>os</strong> curs<strong>os</strong>, arruman<strong>do</strong> um bom emprego eajudan<strong>do</strong> as pessoas.” (Sujeito 24, 1 ano e 1 mês de experiência,sexo masculino).“Eu preten<strong>do</strong> estudar, estar cada vez mais me capacitan<strong>do</strong> emelhoran<strong>do</strong> cada vez mais. ” (Sujeito 25, 1 mês de experiência,sexo masculino).Essa subclasse destaca o quanto o a<strong>do</strong>lescente considera uma prova ou umvestibular <strong>com</strong>o um rito de passagem <strong>para</strong> mais uma conquista de independência ede melhoria das suas condições de vida.“As pessoas se pre<strong>para</strong>n<strong>do</strong> <strong>para</strong> o futuro, elas podem se pre<strong>para</strong>r,sem saber se vão ou não passar no vestibular ou em alguma outraprova que tenha na empresa, mas o importante é que elas estãopensan<strong>do</strong> no futuro.” (Sujeito 15, 1 ano e 8 meses de experiência,sexo masculino).“Pessoas fazen<strong>do</strong> uma prova <strong>para</strong> uma faculdade, vestibular, eupraticamente vejo o meu futuro assim, porque é o que eu preten<strong>do</strong>.Eu acho legal eles se dedicarem <strong>para</strong> fazer um vestibular, éfundamental.” (Sujeito 30, 11 meses de experiência, sexo feminino).


170Nesse caso o estu<strong>do</strong> é visto <strong>com</strong>o um diferencial <strong>com</strong>petitivo <strong>para</strong> o merca<strong>do</strong> de<strong>trabalho</strong>, poden<strong>do</strong> favorecê-l<strong>os</strong> <strong>para</strong> a admissão em uma fá<strong>br</strong>ica, tão sonhada peloa<strong>do</strong>lescente.“Vári<strong>os</strong> estudantes fazen<strong>do</strong> faculdade. Parece que eles estão sepre<strong>para</strong>n<strong>do</strong> <strong>para</strong> fazer algum tipo de prova, <strong>para</strong> conseguir umavaga na fá<strong>br</strong>ica ou em um lugar que seja <strong>com</strong> um salário alto.”(Sujeito 19, 1 ano e 1 mês de experiência, sexo masculino). TrabalhoNessa subclasse o a<strong>do</strong>lescente destaca a importância <strong>do</strong> jovem trabalhar <strong>para</strong>constituir um futuro melhor <strong>do</strong> que seus pais lhes ofereceram, também fala so<strong>br</strong>einvestir dinheiro na sua formação profissional e aproveitar as oportunidades que avida lhe oferece.Dejours (1997) destaca o conteú<strong>do</strong> significativo <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> em relação ao sujeito,onde entra a dificuldade prática da tarefa, a significação da tarefa acabada emrelação a uma profissão e o estatuto <strong>social</strong> implicitamente liga<strong>do</strong> ao <strong>trabalho</strong>.O conteú<strong>do</strong> significativo <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>com</strong>porta uma significação narcísica que podesuportar investiment<strong>os</strong> simbólic<strong>os</strong> e materiais destina<strong>do</strong>s a um outro, isto é, aoObjeto e a atividade <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>, pel<strong>os</strong> gest<strong>os</strong> que ela implica, pel<strong>os</strong> instrument<strong>os</strong>que ela movimenta, pelo material trata<strong>do</strong>, pela atm<strong>os</strong>fera na qual ela opera,veiculan<strong>do</strong> um certo número de símbol<strong>os</strong>, conforme podem<strong>os</strong> observar no discurso ea super-valorização pessoal <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes entrevista<strong>do</strong>s. Segun<strong>do</strong> o autor, anatureza e o encadeamento destes símbol<strong>os</strong> dependem, ao mesmo tempo, da vidainterior <strong>do</strong> sujeito, isto é, <strong>do</strong> que ele põe, <strong>do</strong> que ele introduz de senti<strong>do</strong> simbólico no


171que o rodeia e no que ele faz; surgem então, objeto exterior e real por um la<strong>do</strong> eobjeto interioriza<strong>do</strong> por outro, cujo papel é decisivo na vida <strong>do</strong> indivíduo. Aconteceinevitavelmenteque o interlocutor interior e <strong>os</strong> personagens reais que otrabalha<strong>do</strong>r encontra opõem-se. A significação em relação ao Objeto põe emquestão a vida passada e presente <strong>do</strong> sujeito, sua vida íntima e sua história pessoal.De maneira que, <strong>para</strong> cada trabalha<strong>do</strong>r, esta dialética <strong>do</strong> Objeto é específica eúnica.“O <strong>trabalho</strong> é importante <strong>para</strong> um dia eu ter um futuro melhor, <strong>para</strong>eu guardar um dinheiro e <strong>para</strong> eu gastar <strong>com</strong>igo também.” (Sujeito14, 2 meses de experiência, sexo feminino).“Eu acho que depois que eu <strong>com</strong>ecei a trabalhar eu não consigoficar mais <strong>para</strong><strong>do</strong>.” (Sujeito 7, 10 meses de experiência, sexomasculino).“Eu acho que o <strong>trabalho</strong> é muito importante sim, porque, se vocênão trabalhar você não é ninguém. Mas, se for <strong>para</strong> escolher entretrabalhar e estudar eu prefiro estudar porque então seu tempo vaito<strong>do</strong> <strong>para</strong> o estu<strong>do</strong>, mas também é bom porque daí você se esforça,você tem o seu dia ocupa<strong>do</strong>, não fica só em casa, você tem algumacoisa a mais.” (Sujeito 9, 3 meses de experiência, sexo feminino).“Por meio <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> a gente enxerga a vida de um outro mun<strong>do</strong>, agente enxerga outras coisas, vê pessoas crescen<strong>do</strong> <strong>com</strong>eça a terum pouco de ganância e você fala: eu quero ser alguém na vida.”(Sujeito 1, 16 meses de experiência, sexo masculino).“Com certeza, se você não trabalha, você não tem oportunidadehoje em dia. Quant<strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes estão trabalhan<strong>do</strong>, sãooportunidades, cada um vê de uma maneira, uns a<strong>br</strong>açam, outr<strong>os</strong>não, então eu creio que hoje o a<strong>do</strong>lescente trabalhan<strong>do</strong> tem umagrande oportunidade. O <strong>trabalho</strong> hoje é uma grande oportunidade,não só <strong>para</strong> o jovem ganhar o seu dinheiro, mas <strong>para</strong> garantir umfuturo melhor <strong>para</strong> ele.” (Sujeito 18, 6 meses de experiência, sexomasculino).Em pesquisa realizada por Almeida (2007), <strong>com</strong> 2.363 indivídu<strong>os</strong> das cinco regiões<strong>br</strong>asileiras, o autor destaca que <strong>os</strong> <strong>br</strong>asileir<strong>os</strong> pensam de forma arcaica e que a


172relação entre escolaridade e visão de mun<strong>do</strong> se caracteriza <strong>com</strong>o: quanto maiselevada for a escolaridade, mas igualitárias e men<strong>os</strong> hierárquicas as pessoas serão.O autor defende a importância de medidas que favoreçam o aumento daescolaridade da população <strong>br</strong>asileira, pois somente por meio dessa, se poderá, porexemplo, diminuir o preconceito, a aceitação <strong>do</strong> “jeitinho <strong>br</strong>asileiro”, da corrupção eda censura.Dessa forma, Almeida (2007), <strong>com</strong>partilha da <strong>representação</strong> <strong>social</strong> <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentesde que por meio <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> eles poderão ampliar sua visão <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, ou seja, àmedida que o grau de educação aumenta e as sociedades enriquecem, essasformas de ver o mun<strong>do</strong> se ampliam. O que não é um fenômeno particular no Brasil,mas um fenômeno que pode ser generaliza<strong>do</strong>, associa<strong>do</strong> a um estágio <strong>do</strong>desenvolvimento pelo qual qualquer sociedade acaba passan<strong>do</strong>. Carreira / ProfissãoNessa subclasse <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes destacam a preocupação de aprender /desenvolver uma profissão que vá lhes ajudar no futuro, principalmente quan<strong>do</strong>terminar o contrato de <strong>trabalho</strong> que eles estão prestan<strong>do</strong>, que é por tempodetermina<strong>do</strong>.“O <strong>trabalho</strong> <strong>para</strong> mim é muito bom porque ajuda sempre a ter umbom desenvolvimento <strong>para</strong> que no futuro eu p<strong>os</strong>sa ter alguma coisa<strong>para</strong> pôr no meu currículo, que eu p<strong>os</strong>sa trabalhar e estudar.”(Sujeito 24, 1 ano e 1 mês de experiência, sexo masculino).“Eu luto <strong>para</strong> que seja um futuro bom e promissor porque eu estu<strong>do</strong>,<strong>trabalho</strong> e luto <strong>para</strong> conseguir o que eu quero, eu espero ter um


173futuro realiza<strong>do</strong>.” (Sujeito 20, 3 meses de experiência, sexofeminino).Destaca-se a consciência de que essa oportunidade de <strong>trabalho</strong> pode lhes ajudar agarantir um bom futuro, seja por meio de um bom emprego, seja por meio de seupróprio negócio, sen<strong>do</strong> que esse sempre é descrito <strong>com</strong>o algo grandi<strong>os</strong>o em que elese vê <strong>com</strong>o um grande empreende<strong>do</strong>r.“Eu g<strong>os</strong>taria de trabalhar no <strong>com</strong>ércio, queria ser <strong>do</strong>na, administrartu<strong>do</strong>, ou uma loja, ou até mesmo, sei lá, uma empresa ou umnegócio meu, sem precisar de pessoas sen<strong>do</strong> meu chefe.” ( Sujeito11, 3 meses de experiência, sexo feminino).Conclusão da Classe 3:Projeto PessoalEstu<strong>do</strong>TrabalhoCarreira /ProfissãoAnseio por umfuturo diferenteEnxergar a vidaDe outro mo<strong>do</strong>Sonho de trab.em uma fá<strong>br</strong>icaOportunidade demelhoria de vidaOportunidadePerfil profissionalDiferencial<strong>com</strong>petitivoConquistar umBom empregoSer alguémna vidaDesinteresseTrab. rotineiroConquistasPreocupação <strong>com</strong>o futuro <strong>do</strong>s filh<strong>os</strong>Figura 20 - Conclusão da Classe 3


174Nessa classe <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes destacam quais são suas representações sociais emrelação ao estu<strong>do</strong>, <strong>trabalho</strong>, carreira e profissão e explicitam o que querem alcançare construir; no senti<strong>do</strong> de qual é a importância desses <strong>para</strong> que eles tenham um bomfuturo.Nessa classe o ALCESTE não identificou um grupo característico próximo <strong>do</strong>discurso, de acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> <strong>os</strong> da<strong>do</strong>s sociodemográfic<strong>os</strong>. A única caracterização que oALCESTE pontuou desse grupo foi que há uma freqüência maior de a<strong>do</strong>lescentesque residem <strong>com</strong> mais duas pessoas em casa, o que não n<strong>os</strong> acrescenta muitainformação <strong>para</strong> análise, principalmente porque não tem<strong>os</strong> <strong>com</strong>o identificar quemsão essas duas pessoas, <strong>com</strong> <strong>os</strong> da<strong>do</strong>s que tem<strong>os</strong> não sabem<strong>os</strong> se são porexemplo o pai e a mãe, ou <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> mem<strong>br</strong><strong>os</strong> da família.Nessa classe a dispersão da informação destaca a insuficiência de informaçãoquan<strong>do</strong> o a<strong>do</strong>lescente traça seus plan<strong>os</strong> <strong>para</strong> o futuro e determina que a mudançada sua realidade <strong>social</strong> está associada ao estu<strong>do</strong> e ao <strong>trabalho</strong>, pois sabe-se queapenas o estu<strong>do</strong> e o <strong>trabalho</strong> não são garantias de melhoria de condições de vida.Com relação ao empreende<strong>do</strong>rismo, também ocorre dispersão da informação. Oa<strong>do</strong>lescente elabora representações so<strong>br</strong>e o empresário destacan<strong>do</strong> apenasaspect<strong>os</strong> p<strong>os</strong>itiv<strong>os</strong>, ou seja, ele surge associa<strong>do</strong> ao ganho de muito dinheiro, a<strong>os</strong>ucesso, principalmente pelo mérito individual; ele não destaca por exemplo asdificuldades de ter o próprio negócio.A focalização se destaca em buscar alternativas <strong>para</strong> que o a<strong>do</strong>lescente tenha umfuturo diferente da realidade vivida hoje, estu<strong>do</strong>, <strong>trabalho</strong> e carreira/profissão são


175focaliza<strong>do</strong>s no futuro, em buscar uma opção diferente da vivida hoje. Observa-setambém a idéia de que o estu<strong>do</strong> é tu<strong>do</strong>, associa<strong>do</strong> ao sucesso e à ascensão <strong>social</strong>;o a<strong>do</strong>lescente acredita que por meio <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> ele poderá ter tu<strong>do</strong>, inclusive, muitodinheiro.Por fim, pressão a inferência ocorre quan<strong>do</strong> o a<strong>do</strong>lescente precisa se p<strong>os</strong>icionarso<strong>br</strong>e o que está fazen<strong>do</strong> <strong>para</strong> alcançar esse futuro melhor e <strong>para</strong> isso ele buscareferências no que seus pais fizeram e não deu certo.Dessa forma, o estu<strong>do</strong> é visto <strong>com</strong>o um fator promissor <strong>para</strong> que eles tenham umdiferencial <strong>com</strong>petitivo e conquistem um bom emprego e conseqüentemente, umamelhoria de vida. Destaca-se então a <strong>representação</strong> <strong>social</strong> de que por meio <strong>do</strong>estu<strong>do</strong> e so<strong>br</strong>etu<strong>do</strong> <strong>do</strong> esforço pessoal eles terão a oportunidade de no futuro,mudar a realidade em que eles vivem.A leitura que o a<strong>do</strong>lescente faz so<strong>br</strong>e a conclusão <strong>do</strong> ensino médio e o ingresso novestibular aparece <strong>com</strong>o se f<strong>os</strong>se mais uma p<strong>os</strong>sibilidade de ascensão, ou <strong>com</strong>o umrito de passagem, garantin<strong>do</strong> simbolicamente a mudança da infância <strong>para</strong> a faseadulta e profissional. O curso superior e o curso técnico aparecem <strong>com</strong>o um planode futuro, sen<strong>do</strong> que eles não demonstram ter consciência da dificuldade e <strong>do</strong>esforço <strong>para</strong> alcançá-l<strong>os</strong>, so<strong>br</strong>e o curso superior, por exemplo, eles sequermencionam ter consciência de que na região não existem faculdades públicas.Observa-se que a busca por uma faculdade ou escola técnica está associada àatribuição pessoal, ou seja, se ele vier a cursá-la será porque ele buscou e pagoupor conta própria.


176Lem<strong>br</strong>an<strong>do</strong> <strong>os</strong> conceit<strong>os</strong> de Wagner (2000) ao definir a <strong>representação</strong> <strong>social</strong> o<strong>trabalho</strong> pode ser visto por esses jovens, <strong>com</strong>o p<strong>os</strong>sui<strong>do</strong>r de um carácter cognitivo,avaliativo, afetivo e simbólico; cognitivo no senti<strong>do</strong> de que por meio dessaexperiência o jovem está adquirin<strong>do</strong> experiência profissional e aprendiza<strong>do</strong>, ele estáaprenden<strong>do</strong> a se relacionar, a trabalhar em equipe, além de aprender uma função,dessa forma o <strong>trabalho</strong> é avalia<strong>do</strong> <strong>com</strong>o bom <strong>para</strong> o a<strong>do</strong>lescente. O <strong>trabalho</strong>também p<strong>os</strong>sui um carácter afetivo, pois faz <strong>com</strong> que o a<strong>do</strong>lescente se sinta maisimportante <strong>para</strong> a sociedade e mais valoriza<strong>do</strong> <strong>para</strong> a sua família, além dele sesentir mais responsável e útil; <strong>com</strong>plementan<strong>do</strong> o <strong>trabalho</strong> surge simbolizan<strong>do</strong> aoportunidade dele ser alguém na vida e ter um futuro diferente, melhor <strong>do</strong> que seuspais podem lhe oferecer.A reflexão que <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes fazem so<strong>br</strong>e essa oportunidade de <strong>trabalho</strong> queestão vivencian<strong>do</strong> é de que ela significa uma importante oportunidade, inclusive <strong>para</strong>conquistar um emprego melhor no futuro, representan<strong>do</strong> dessa forma, o status deser alguém na vida.Outra <strong>representação</strong> <strong>social</strong> importante <strong>com</strong> relação ao <strong>trabalho</strong> é de que o mesmorepresenta uma oportunidade <strong>para</strong> que o a<strong>do</strong>lescente passe a enxergar a vida deoutro mo<strong>do</strong>, <strong>com</strong> mais seriedade, <strong>com</strong>o profissional e adulto que almeja ser;novamente o <strong>trabalho</strong> aparece <strong>com</strong>o uma forma <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente evitar permanecerna rua à mercê da criminalidade e de tu<strong>do</strong> aquilo que eles temem.


177Os discurs<strong>os</strong> apontam que tanto <strong>trabalho</strong>, quanto escola, são representa<strong>do</strong>s pel<strong>os</strong>jovens <strong>com</strong>o futuro e <strong>com</strong>o uma p<strong>os</strong>sibilidade de superar as dificuldades e ascondições precárias de vida de sua família.5.2 Diári<strong>os</strong>:O material que será apresenta<strong>do</strong> a seguir foi elabora<strong>do</strong> a partir da análise de 5diári<strong>os</strong> de <strong>trabalho</strong>. Destacam<strong>os</strong> que a prop<strong>os</strong>ta inicial era <strong>do</strong>s diári<strong>os</strong>permanecerem <strong>com</strong> <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes por 3 meses, mas por motiv<strong>os</strong> divers<strong>os</strong>,demissão de 2 <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes e falta de retorno <strong>do</strong>s outr<strong>os</strong> 3 a<strong>do</strong>lescentes, <strong>os</strong>diári<strong>os</strong> só permaneceram 2 meses <strong>com</strong> <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes.Observa-se que a teoria das representações sociais criada por M<strong>os</strong>covici (1978),serviu <strong>com</strong>o uma referência fundamental <strong>para</strong> <strong>com</strong>preender <strong>com</strong>o são produzidas asimagens, <strong>os</strong> senti<strong>do</strong>s e significações so<strong>br</strong>e o que <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes vivenciam no<strong>trabalho</strong>, uma vez que, as representações penetram e influenciam a mente daspessoas sen<strong>do</strong> a to<strong>do</strong> momento re-pensadas, re-citadas e re-apresentadas .(MOSCOVICI, 2003).Conforme pontua<strong>do</strong> anteriormente nesse <strong>trabalho</strong>, relem<strong>br</strong>a-se a reflexão de Jodelet(2001) so<strong>br</strong>e a origem das representações sociais, onde a autora propõe asseguintes questões: Quem sabe e de onde sabe? So<strong>br</strong>e o que se sabe e <strong>com</strong>o sesabe? So<strong>br</strong>e o que se sabe e <strong>com</strong> que efeito?


178So<strong>br</strong>e o fenômeno <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>para</strong> o a<strong>do</strong>lescente podem<strong>os</strong> pensar tais questões daseguinte forma, o que o a<strong>do</strong>lescente sabe so<strong>br</strong>e o <strong>trabalho</strong> e <strong>com</strong>o ele adquiriu esseconhecimento, o que ele produz em term<strong>os</strong> de <strong>representação</strong>, em que condições equal foi o processo de formação dessas representações, ou seja, <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentesinteriorizam mo<strong>do</strong>s de pensar, incorporam mo<strong>do</strong>s de agir e se p<strong>os</strong>icionar diante e arespeito <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> por meio da experiência vivenciada dia após dia.Dessa forma, a partir da análise <strong>do</strong>s diári<strong>os</strong> foram elaboradas três classes: primeiroemprego, estu<strong>do</strong> e futuro.Primeiro Emprego Estu<strong>do</strong> Futuro• Ansiedade da entrevista;• Entrada no merca<strong>do</strong> de<strong>trabalho</strong> = chance dem<strong>os</strong>trar que sou capaz;• Valorização pessoal;• Desvalorização <strong>do</strong>serviço;• Necessidade de alguémque o oriente e queintervenha por ele;• Pressão da chefia /estresse / co<strong>br</strong>ança;• Conquistas pessoais.• Difícil conciliar <strong>com</strong> o<strong>trabalho</strong>;• Necessário <strong>para</strong> ter umfuturo melhor.• Conquistar um futuromelhor por meio <strong>do</strong><strong>trabalho</strong> e <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>;• Proporcionar um futurobom <strong>para</strong> a família.Figura 21: Diári<strong>os</strong> Primeiro empregoNessa subclasse <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes destacam o quanto eles sofrem <strong>com</strong> a ansiedadegerada pelo momento da entrevista de emprego e a importância dada à entrada no


179merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>, bem <strong>com</strong>o a preocupação em se dedicar o máximo p<strong>os</strong>sível<strong>para</strong> continuar <strong>com</strong> essa ocupação.“ Eu sempre tive muita vontade de trabalhar, ter meu própriodinheiro e ser independente. Desde <strong>os</strong> meus 14 an<strong>os</strong> de idade eu jádistribuía currícul<strong>os</strong>. Toda semana eu ia <strong>para</strong> a cidade entregar omeu currículo, mas muit<strong>os</strong> lugares não aceitavam por causa daminha idade. O tempo foi passan<strong>do</strong> e <strong>com</strong> 16 an<strong>os</strong> eu já haviaperdi<strong>do</strong> as esperanças, mas na época <strong>do</strong> Natal me chamaram <strong>para</strong>trabalhar.” (Diário número 5 – sexo feminino – 1 ano e 3 meses deexperiência – 29/03/07).“Uma semana antes <strong>do</strong> meu aniversário, fui fazer a primeiraentrevista e <strong>com</strong>petir a uma vaga <strong>com</strong> mais três amigas. A sensaçãofoi horrível, me senti péssima durante a situação, mas passan<strong>do</strong>uma semana eu fui escolhida <strong>para</strong> trabalhar.” (Diário número 3 –sexo feminino – 6 meses de experiência – 28/03/07).O <strong>trabalho</strong> é visto pelo jovem <strong>com</strong>o desgastante e estressante, ele tem que aprendera lidar <strong>com</strong> a pressão da chefia e <strong>com</strong> as co<strong>br</strong>anças e aprender a administrar seutempo, que agora está reduzi<strong>do</strong> por causa da nova ocupação.Destaca-se a necessidade <strong>do</strong> jovem em assumir <strong>com</strong>promiss<strong>os</strong> e colocar-se frente àvida adulta significa uma profunda mudança de seu papel no mun<strong>do</strong>; o que o leva aquestionament<strong>os</strong>, dúvidas e incertezas, o que Erikson (1987) denominou de crise daa<strong>do</strong>lescência.Algumas queixas <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes estão relacionadas a trabalhar n<strong>os</strong> finais desemana e n<strong>os</strong> feria<strong>do</strong>s e ao pouco tempo que eles têm <strong>para</strong> ficar <strong>com</strong> a família e<strong>com</strong> <strong>os</strong> amig<strong>os</strong>.“ Hoje foi um dia muito cansativo, trabalhei bastante porque <strong>os</strong>upermerca<strong>do</strong> estava lota<strong>do</strong>, parecia que não ia esvaziar mais.Cheguei agora a pouco em casa e ainda perdi o aniversário daminha irmã, não consegui ver ninguém da minha família.“ (Diárionúmero 5 – sexo feminino – 1 ano e 3 meses de experiência –31/03/07 às 23:55min.).


180A oportunidade <strong>do</strong> primeiro emprego aparece <strong>para</strong> esses jovens <strong>com</strong>o conflitu<strong>os</strong>a.Ora o <strong>trabalho</strong> está associa<strong>do</strong> a uma valorização pessoal, onde ele vê ap<strong>os</strong>sibilidade de adquirir experiência, ter seu próprio dinheiro e ser maisindependente <strong>do</strong>s pais, além de alimentar o desejo de ser promovi<strong>do</strong> e efetiva<strong>do</strong>,ora sua função é vista <strong>com</strong>o de pouca valorização, pois ele não se vê respeita<strong>do</strong><strong>com</strong>o profissional e a qualquer momento, por ser apenas um aprendiz, facilmentesubstituível, pode ser demiti<strong>do</strong>.Destaca-se Ribeiro (2004) ao pontuar que o <strong>trabalho</strong> apresenta duas perspectivasdistintas. A primeira referente a um caráter negativo; e a segunda a uma dimensãop<strong>os</strong>itiva. A autora destaca que o <strong>trabalho</strong> em alguns moment<strong>os</strong> representa castigodivino, punição, far<strong>do</strong>, incômo<strong>do</strong>, carga, algo esgotante <strong>para</strong> quem o realiza,conforme representa<strong>do</strong> pel<strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes. Em outr<strong>os</strong>, espaço de criação,realização, crescimento pessoal, p<strong>os</strong>sibilidade de o homem construir a si mesmo,marcar sua existência no mun<strong>do</strong> e sentir-se importante, exatamente o sentimentovivencia<strong>do</strong> pel<strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes ao serem inseri<strong>do</strong>s no merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>.Ao pontuar esse reconhecimento descrito pel<strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes, pode-se destacarDejours (1999) <strong>para</strong> quem o julgamento <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> é caracteriza<strong>do</strong> <strong>com</strong>o ten<strong>do</strong> umregistro na subjetividade, um reconhecimento pelo outro; é um reconhecimento daqualidade <strong>do</strong> seu <strong>trabalho</strong> e até mesmo da sua contribuição à gestão e à evoluçãoda organização <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>. Para Dejours, o reconhecimento é a forma específica deretribuição moral-simbólica dada ao ego, <strong>com</strong>o <strong>com</strong>pensação por sua contribuição à


181eficácia da organização <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>, isto é, pelo engajamento de sua subjetividade einteligência.Esse sentimento de ser mais reconheci<strong>do</strong> pode ser responsável por mudar a p<strong>os</strong>turadesse a<strong>do</strong>lescente, fazen<strong>do</strong> <strong>com</strong> que ele assuma responsabilidades diante <strong>do</strong><strong>trabalho</strong>, conforme se pode observar a seguir:“Hoje o meu chefe me pediu <strong>para</strong> ficar responsável pela faxineira efazer uma lista <strong>do</strong> que precisa ser feito e <strong>com</strong>pra<strong>do</strong>. Eu fiquei muitohonrada, pois sinto que a cada dia que passa eles têm maisconfiança em mim e que o meu <strong>trabalho</strong> é importante <strong>para</strong> elestambém.” Diário número 3 – sexo feminino – 6 meses de experiência– 29/03/07).“ Hoje um amigo meu que trabalha na portaria passou mal e elesqueriam alguém grande <strong>para</strong> ficar no lugar dele, então o segurançapediu <strong>para</strong> eu ficar”. (Diário número 1 – sexo masculino – 11 mesesde experiência – 30/04/07).“Continuo substituin<strong>do</strong> meu colega que está de licença médica, euespero que ele volte logo, mas também estou g<strong>os</strong>tan<strong>do</strong> bastantedessa oportunidade de trabalhar <strong>com</strong>o segurança na portaria.”(Diário número 1 – sexo masculino – 11 meses de experiência –01/05/07).“Eu <strong>trabalho</strong> em um supermerca<strong>do</strong> <strong>com</strong>o empacota<strong>do</strong>ra maspreten<strong>do</strong> fazer mais coisas. Outro dia me mandaram <strong>para</strong> a sessãode perfumaria e eu fiquei lá duas semanas, mas eu acho que amoça que trabalhava <strong>com</strong>igo não g<strong>os</strong>tou de mim pois me man<strong>do</strong>ude volta <strong>para</strong> a frente de caixa. Ela não falou nada mas eu fiqueimuito triste porque g<strong>os</strong>tava de trabalhar lá. Pensei que ia serdemitida porque ela não valorizou o meu serviço; um dia eu estavana perfumaria, no outro estava na frente de caixa.” (Diário número 2– sexo feminino – 4 meses de experiência – 28/03/07).Outro fato importante associa<strong>do</strong> à valorização pessoal é a oportunidade de fazeramizade <strong>com</strong> pessoas que são vistas por eles <strong>com</strong>o importantes, <strong>com</strong>o clientes denível <strong>social</strong> eleva<strong>do</strong> e o próprio chefe.


182Os a<strong>do</strong>lescentes também destacaram a necessidade de orientação no <strong>trabalho</strong> e ade alguém que <strong>os</strong> ajude a se organizar e a reinvindicar o que é necessário, o que éperfeitamente condizente <strong>com</strong> a situação deles, indivídu<strong>os</strong> em formação e que aindanão p<strong>os</strong>suem experiência profissional.Novamente, observam-se element<strong>os</strong> afetiv<strong>os</strong>, mentais e sociais que estruturam asrepresentações sociais, conforme n<strong>os</strong> destaca Jodelet (2001). Esses element<strong>os</strong>podem ser observa<strong>do</strong>s já no momento da entrevista, onde o a<strong>do</strong>lescente se senteanalisa<strong>do</strong> pelo entrevista<strong>do</strong>r e tem que administrar a ansiedade gerada pelomomento de ser ou não escolhi<strong>do</strong>.“Essa semana também teve outro acontecimento muito chato. To<strong>do</strong>s<strong>os</strong> dias <strong>os</strong> empacota<strong>do</strong>res da manhã não arrumam <strong>os</strong> carrinh<strong>os</strong> nahora de ir embora e deixam tu<strong>do</strong> <strong>para</strong> a gente; uma amiga n<strong>os</strong>saque já foi empacota<strong>do</strong>ra e agora é caixa, ven<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> isso decidiureunir to<strong>do</strong>s <strong>os</strong> empacota<strong>do</strong>res da tarde e ir falar <strong>com</strong> a fiscal, agente conversou <strong>com</strong> ela e ela disse que ia tomar providência.”(Diário número 1 – sexo masculino – 11 meses de experiência –26/04/07). Estu<strong>do</strong>Nessa subclasse <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes destacam a dificuldade <strong>para</strong> manter o mesmopadrão n<strong>os</strong> estu<strong>do</strong>s, de antes da sua inserção no merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>. É bastantepresente a queixa de cansaço e estresse na fala desses jovens <strong>com</strong> dupla jornada eque em algumas vezes se ausentam da escola <strong>para</strong> irem trabalhar. Entretanto, éimportante considerar que em nenhum momento eles verbalizam interesse emaban<strong>do</strong>nar a escola em detrimento <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>, apesar de muitas vezes faltarem àescola <strong>para</strong> trabalhar.


183“É difícil conciliar <strong>trabalho</strong> e estu<strong>do</strong>, dá cansaço, estresse mas nadaque não dê <strong>para</strong> resolver. Até que eu tenho um pouco de paciênciae sou calma, mas quan<strong>do</strong> estou <strong>com</strong> <strong>do</strong>r é difícil sorrir.” (Diárionúmero 5 – sexo feminino – 1 ano e 3 meses de experiência –29/03/07). FuturoNessa subclasse podem<strong>os</strong> observar o quanto <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes anseiam por umfuturo diferente <strong>do</strong> que eles vivenciam hoje. Um futuro onde eles p<strong>os</strong>sam ter aoportunidade de fazer uma faculdade e proporcionar melhores condições <strong>para</strong> seusfilh<strong>os</strong>. Destaca-se o desejo por um futuro onde ele não trabalhe tanto e tenha umaprofissão estabelecida.“Esse <strong>trabalho</strong> é muito importante <strong>para</strong> mim, pois graças a ele euestou <strong>para</strong> <strong>com</strong>eçar minha jornada e chegar a<strong>os</strong> meus objetiv<strong>os</strong> decrescer em uma empresa, poder me formar depois <strong>do</strong>s 18 an<strong>os</strong>,mas esse é apenas o <strong>com</strong>eço. Eu quero chegar o mais longe que eupuder, quero fazer uma faculdade de Educação Física, ter minhafamília e condições <strong>para</strong> ajudar meus filh<strong>os</strong>, mãe, irmã<strong>os</strong> e quemmais precisar.” (Diário número 4 – sexo masculino – 1 ano e 1 mêsde experiência – 28/03/07).Conforme menciona<strong>do</strong> anteriormente, M<strong>os</strong>covici (1978) destaca que asrepresentações sociais p<strong>os</strong>suem três dimensões: a informação, o campo de<strong>representação</strong> / a imagem e a atitude.Dessa forma, a informação relaciona-se <strong>com</strong> a organização <strong>do</strong>s conheciment<strong>os</strong> que<strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescente têm a respeito <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>; essa informação lhes é passada pelaexperiência de vida <strong>do</strong>s pais e irmã<strong>os</strong> mais velh<strong>os</strong>, diante <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>,pela instituição que <strong>os</strong> pre<strong>para</strong> <strong>para</strong> o merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong> e principalmente pelodia-a-dia de <strong>trabalho</strong>, apesar de se ver diante de situações novas, nas quais ele nã<strong>os</strong>abe <strong>com</strong>o se p<strong>os</strong>icionar. Dessa forma, o a<strong>do</strong>lescente acredita que por meio dessa


184experiência ele poderá desenvolver-se pessoal e profissionalmente <strong>para</strong> no futuroter um diferencial no seu currículo: adquirir experiência, aprender uma função,tornar-se responsável e ter dinheiro <strong>para</strong> pagar as despesas.Com relação ao campo de <strong>representação</strong>, observa-se que a imagem <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> éa de uma oportunidade de mudar sua condição <strong>social</strong> e ficar afasta<strong>do</strong> dasinfluências negativas da criminalidade. Ele se sente mais respeita<strong>do</strong> e útil em casa etem que aprender a dividir-se entre a escola e o <strong>trabalho</strong>.Destaca-se ainda que apesar de todas as dificuldades, o a<strong>do</strong>lescente na maioria dasvezes atribui ao <strong>trabalho</strong> uma atitude p<strong>os</strong>itiva, talvez motiva<strong>do</strong> pelo retorno maisimediato, <strong>do</strong> salário no final <strong>do</strong> mês. Ele atribui um juízo de valor a esse objeto,qualifican<strong>do</strong>-o <strong>com</strong>o p<strong>os</strong>itivo <strong>para</strong> sua formação profissional e seu futuro e favorável<strong>para</strong> a privação <strong>do</strong> contato <strong>com</strong> seus familiares e amig<strong>os</strong> e até mesmo <strong>para</strong> oestu<strong>do</strong>.Essas representações sociais confirmam a idéia de que o Trabalho, a Estu<strong>do</strong> eFuturo se constituem em uma tríade em torno da qual se agrupam imagens esignifica<strong>do</strong>s tenuamente relaciona<strong>do</strong>s, rega<strong>do</strong>s a emoções e ansei<strong>os</strong> que, além defornecerem referência e um poder mágico de se conseguir tu<strong>do</strong> por meio deles,colaboram <strong>para</strong> a construção de senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> sujeito <strong>com</strong> ele mesmo, <strong>com</strong> a vida e<strong>com</strong> o mun<strong>do</strong>.


1856 RESULTADOS DOS QUESTIONÁRIOSOs resulta<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s a seguir foram construí<strong>do</strong>s a partir <strong>do</strong>s questionári<strong>os</strong>, éimportante relem<strong>br</strong>ar que esses foram aplica<strong>do</strong>s a 173 a<strong>do</strong>lescentes, totalizan<strong>do</strong> umalcance de 65,3% da am<strong>os</strong>tra pretendida. Eles foram elabora<strong>do</strong>s a partir <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>squalitativ<strong>os</strong> e tabula<strong>do</strong>s no software Sphinx.Conforme pontua<strong>do</strong> nesse <strong>trabalho</strong> anteriormente, segun<strong>do</strong> Jodelet (2001) faz-senecessária uma <strong>com</strong>preensão de quem é esse indivíduo que elabora taisrepresentações sociais. A fim de <strong>com</strong>preender que é esse sujeito a autora propõemas seguintes questões: Quem sabe e de onde sabe? So<strong>br</strong>e o que se sabe e <strong>com</strong><strong>os</strong>e sabe? So<strong>br</strong>e o que se sabe e <strong>com</strong> que efeito?Novamente, vê-se o a<strong>do</strong>lescente elaborar representações sociais baseadas em umaaprendizagem psic<strong>os</strong><strong>social</strong>, a partir de uma elaboração sua, mas principalmentebasea<strong>do</strong> na experiência familiar e na influência da sociedade so<strong>br</strong>e a importância <strong>do</strong><strong>trabalho</strong>.Vejam<strong>os</strong> então <strong>com</strong>o se caracteriza o a<strong>do</strong>lescente trabalha<strong>do</strong>r:A figura 22 n<strong>os</strong> m<strong>os</strong>tra que 67 (38,7%) <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes trabalha<strong>do</strong>res são <strong>do</strong>gênero feminino, enquanto que 106 (61,3%) <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes são <strong>do</strong> gêneromasculino, o que novamente <strong>com</strong>prova a percepção da SOAPRO de que é mais fácilcolocar no merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong> a<strong>do</strong>lescentes homens. Essa discrepância já foi


186pontuada nesse <strong>trabalho</strong> quan<strong>do</strong> se falou so<strong>br</strong>e as dificuldades de inserção damulher no merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong> e as diferenças de remuneração entre homens emulheres, conforme da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> SEADE - Fundação Sistema de Análise de Da<strong>do</strong>s. Nafigura 22 apresenta-se a distribuição quanto ao gênero.Da<strong>do</strong>s Sociodemográfic<strong>os</strong>61,3%38,7%FemininoMasculinoFigura 22: GêneroQuanto à variável idade, observa-se que 78 (45,1%) têm 17 an<strong>os</strong>; 87 a<strong>do</strong>lescentes(50,3%) têm 16 an<strong>os</strong> e 8 deles (4,6%) têm 15 an<strong>os</strong>. Destaca-se que segun<strong>do</strong> a Lei10.097 que discorre so<strong>br</strong>e o <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente Aprendiz, o a<strong>do</strong>lescente podetrabalhar em sistema de aprendizagem a partir <strong>do</strong>s 14 an<strong>os</strong>, mas a instituição onde apesquisa foi realizada a<strong>do</strong>ta <strong>com</strong>o procedimento dar preferência, <strong>para</strong> encaminharao merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong> aqueles a<strong>do</strong>lescentes que já estão <strong>com</strong> 16 an<strong>os</strong> <strong>com</strong>plet<strong>os</strong>,por julgá-l<strong>os</strong> um pouco mais madur<strong>os</strong> e também porque <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> mais jovens aindaterão mais tempo <strong>para</strong> se inserirem no merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>, entretanto, em algunscas<strong>os</strong> por falta de candidat<strong>os</strong> que atendam a<strong>os</strong> requisit<strong>os</strong> solicita<strong>do</strong>s pela empresacontratante, a<strong>do</strong>lescentes de 15 an<strong>os</strong> são encaminha<strong>do</strong>s <strong>para</strong> entrevista e sãoaprova<strong>do</strong>s, conforme pode ser observa<strong>do</strong> na figura 23.


187Da<strong>do</strong>s Sociodemográfic<strong>os</strong>idade4,6%16171550,3%45,1%Figura 23: IdadeA figura 24 m<strong>os</strong>tra que <strong>com</strong> relação ao esta<strong>do</strong> civil, a maior parte <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes,171 (98,9%) declararam que são solteir<strong>os</strong> e não convivem maritalmente <strong>com</strong>ninguém e somente 2 a<strong>do</strong>lescentes (1,1%) declararam ser casa<strong>do</strong>s ou convivermaritalmente <strong>com</strong> alguém.Da<strong>do</strong>s Sociodemográfic<strong>os</strong>esta<strong>do</strong> civil17117102Casa<strong>do</strong>(a) / vive maritalmenteSolteiro(a)Figura 24: Esta<strong>do</strong> CivilQuanto à variável filh<strong>os</strong>, podem<strong>os</strong> observar na figura 25 que 168 a<strong>do</strong>lescentes(97,1%) não p<strong>os</strong>suem filh<strong>os</strong>, 4 deles (2,31%) p<strong>os</strong>suem e 1 a<strong>do</strong>lescente (0,58%) não


188se p<strong>os</strong>icionou a respeito; mesmo sen<strong>do</strong> um número pequeno é importante ressaltarque alguns a<strong>do</strong>lescentes já são pais.Da<strong>do</strong>s Sociodemográfic<strong>os</strong>filh<strong>os</strong>168168014Não resp<strong>os</strong>taSimNãoFigura 25: Filh<strong>os</strong>De acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> a figura 26, a escolaridade <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes é a seguinte: 20a<strong>do</strong>lescentes (11,6%) já concluíram o 2º grau, 131 a<strong>do</strong>lescentes (75,7%) estãocursan<strong>do</strong> o 2º grau, 20 a<strong>do</strong>lescentes (11,6%) estão cursan<strong>do</strong> o 1º grau e 2a<strong>do</strong>lescentes (1,1%) não responderam. É importante destacar que tanto pela Lei10.097, quanto pelo estatuto da instituição onde a pesquisa foi realizada, nenhuma<strong>do</strong>lescente aprendiz pode ser afasta<strong>do</strong> da escola, a men<strong>os</strong> que já tenha concluí<strong>do</strong>o 2º grau, dessa forma, apesar da dificuldade <strong>para</strong> conciliar o estu<strong>do</strong> e o <strong>trabalho</strong>, ainstituição busca m<strong>os</strong>trar <strong>para</strong> o a<strong>do</strong>lescente a importância <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>para</strong> que elep<strong>os</strong>sa ter uma perspectiva de um futuro diferente.


189Da<strong>do</strong>s Sociodemográfic<strong>os</strong>formação202022º grau in<strong>com</strong>pleto1º grau <strong>com</strong>pleto1º grau in<strong>com</strong>pleto2º grau <strong>com</strong>pletoNão resp<strong>os</strong>ta21110Figura 26: EscolaridadeDe acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> a figura 27 que trata da questão experiência profissional, observa-seque 93 a<strong>do</strong>lescentes (53,7%) relatam não haver trabalha<strong>do</strong> antes, contra 78a<strong>do</strong>lescentes (45%) que já haviam ti<strong>do</strong> algum tipo de experiência profissional e 2a<strong>do</strong>lescentes (1,1%) que não se p<strong>os</strong>icionaram a respeito.Da<strong>do</strong>s Sociodemográfic<strong>os</strong>experiência2Não resp<strong>os</strong>tanãoSim7893Figura 27: Primeiro empregoNo que diz respeito à quantia de pessoas moran<strong>do</strong> na mesma casa, 7 a<strong>do</strong>lescentes(4%) relatam que residem <strong>com</strong> mais uma pessoa em casa, 32 a<strong>do</strong>lescentes (18,5%)relatam que residem <strong>com</strong> mais duas pessoas em casa, 51 a<strong>do</strong>lescentes (29,5%)relatam que residem <strong>com</strong> mais três pessoas em casa, 41 a<strong>do</strong>lescentes (23,7%)


190relatam que residem <strong>com</strong> mais quatro pessoas em casa, 15 a<strong>do</strong>lescentes (8,7%)relatam que residem <strong>com</strong> mais cinco pessoas em casa, 13 a<strong>do</strong>lescentes (7,5%)relatam que residem <strong>com</strong> mais seis pessoas em casa, 8 a<strong>do</strong>lescentes (4,6%)relatam que residem <strong>com</strong> mais sete pessoas em casa, 5 a<strong>do</strong>lescentes (2,9%)relatam que residem <strong>com</strong> mais de sete pessoas em casa e 1 a<strong>do</strong>lescente (0,6%) nãorespondeu, conforme se pode observar na tabela 3.Tabela 3: Quantidade de pessoas que residem em casaA<strong>do</strong>lescentes Porcentagem Quantidade de pessoas moran<strong>do</strong> em casa(além <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente)7 4 % 132 18,5 % 251 29,5 % 341 23,7 % 415 8,7 % 513 7,5 % 68 4,6 % 75 2,9 % Mais de 71 0,6 % -----------De acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> a tabela 4, pode-se observar que 4 a<strong>do</strong>lescentes (2,3%) declarammorar em uma residência <strong>com</strong> <strong>do</strong>is cômo<strong>do</strong>s, 27 a<strong>do</strong>lescentes (15,6%) declarammorar em uma residência <strong>com</strong> três cômo<strong>do</strong>s, 44 a<strong>do</strong>lescentes (25,4%) declarammorar em uma residência <strong>com</strong> quatro cômo<strong>do</strong>s, 46 a<strong>do</strong>lescentes (26,6%) declarammorar em uma residência <strong>com</strong> cinco cômo<strong>do</strong>s, 31 a<strong>do</strong>lescentes (18,0%) declarammorar em uma residência <strong>com</strong> seis cômo<strong>do</strong>s, 9 a<strong>do</strong>lescentes (5,2%) declaram morarem uma residência <strong>com</strong> sete cômo<strong>do</strong>s, 8 a<strong>do</strong>lescentes (4,6%) declaram morar em


191uma residência <strong>com</strong> mais de sete cômo<strong>do</strong>s, e 4 a<strong>do</strong>lescentes (2,3%) não sep<strong>os</strong>icionaram a respeito.Tabela 4: Quantidade de cômo<strong>do</strong>s em casaA<strong>do</strong>lescentes Porcentagem Quantidade de cômo<strong>do</strong>s em casa(excluin<strong>do</strong>-se a varanda e o banheiro)4 2,3 % 227 15,6 % 344 25,4 % 446 26,6 % 531 18 % 69 5,2 % 78 4,6 % Mais de 74 2,3 % -----------Com relação a remuneração <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes, 97 a<strong>do</strong>lescentes (56,1%) relatamreceber um salário mínimo, 73 a<strong>do</strong>lescentes (42,2%) relatam receber meio saláriomínimo e 3 a<strong>do</strong>lescentes (1,7%) não relataram sua renda, conforme se podeverificar na figura 28.Da<strong>do</strong>s Sociodemográfic<strong>os</strong>Renda <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente3Não resp<strong>os</strong>ta1 salário mínimo½ salário mínimo7397Figura 28: Renda <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes


192De acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> a figura 29, no que diz respeito a renda <strong>do</strong> pai, 30 a<strong>do</strong>lescentes(17,3%) não declararam a renda <strong>do</strong> pai, ou porque não sabem, ou porque nãoresidem <strong>com</strong> o pai, 29 a<strong>do</strong>lescentes (16,8%) declararam que o pai recebe até umsalário mínimo, 37 a<strong>do</strong>lescentes (21,4%) declararam que o pai recebe de um a <strong>do</strong>issalári<strong>os</strong> mínim<strong>os</strong> e o mesmo número de a<strong>do</strong>lescentes, 37 (21,4%) declararam que opai recebe de <strong>do</strong>is a três salári<strong>os</strong> mínim<strong>os</strong>, 23 a<strong>do</strong>lescentes (13,3%) declararam queo pai recebe de três a quatro salári<strong>os</strong> mínim<strong>os</strong> e 17 a<strong>do</strong>lescentes (9,8%) declararamque o pai recebe mais de quatro salári<strong>os</strong> mínim<strong>os</strong>.Da<strong>do</strong>s Sociodemográfic<strong>os</strong>renda <strong>do</strong> pai373737302923170Não resp<strong>os</strong>taaté 1 SMde 1 a 2 SMde 2 a 3 SMde 3 a 4 SMmais de 4 SMFigura 29: Renda <strong>do</strong> paiCom relação à renda da mãe, 60 a<strong>do</strong>lescentes (34,7%) não declararam a renda desua mãe, destaca-se que da mesma forma que foi colocada so<strong>br</strong>e a renda <strong>do</strong> pai,nesse grupo estão incluí<strong>do</strong>s aqueles que não sabem a renda de sua mãe, bem<strong>com</strong>o aqueles que não residem <strong>com</strong> ela. 63 a<strong>do</strong>lescentes (36,4%) declararam quesua mãe recebe até um salário mínimo, 34 a<strong>do</strong>lescentes (19,6%) declararam quesua mãe recebe de um a <strong>do</strong>is salári<strong>os</strong> mínim<strong>os</strong>, 9 a<strong>do</strong>lescentes (5,2%) declararamque sua mãe recebe de <strong>do</strong>is a três salári<strong>os</strong> mínim<strong>os</strong>, 6 a<strong>do</strong>lescentes (3,5%)declararam que sua mãe recebe de três a quatro salári<strong>os</strong> mínim<strong>os</strong> e 1 a<strong>do</strong>lescente


193(0,6%) declarou que sua mãe recebe mais de quatro salári<strong>os</strong> mínim<strong>os</strong>, conforme seobserva na figura 30.Da<strong>do</strong>s Sociodemográfic<strong>os</strong>renda da mãe606363340961Não resp<strong>os</strong>taaté 1 SMde 1 a 2 SMde 2 a 3 SMde 3 a 4 SMmais de 4 SMFigura 30: Renda da mãeConforme já foi menciona<strong>do</strong> nesse <strong>trabalho</strong>, de acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> M<strong>os</strong>covici (1978),representar um objeto equivale a conferir-lhe o status de signo, conhecê-lo e torná-l<strong>os</strong>ignificante. Dessa forma, vem<strong>os</strong> o a<strong>do</strong>lescente, que em 53,7 % <strong>do</strong>s cas<strong>os</strong>, vivenciasua primeira experiência profissional elaborar representações sociais a respeito dequais são as <strong>com</strong>petências que ele julga necessárias naquele que ele denomina sero bom trabalha<strong>do</strong>r. A partir <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s nota-se que <strong>os</strong> element<strong>os</strong> de<strong>representação</strong> podem ser agrupa<strong>do</strong>s em <strong>com</strong>petências.De acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> Dutra (2004), a <strong>com</strong>petência pode ser entendida <strong>com</strong>o a capacidadede uma pessoa gerar resulta<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> <strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong> organizacionais, que setraduz tanto pelo resulta<strong>do</strong> ou desempenho espera<strong>do</strong> <strong>com</strong>o pelo conjunto dequalificações necessárias <strong>para</strong> seu alcance.


194Segun<strong>do</strong> Dutra (2001) a <strong>com</strong>petência é <strong>com</strong>preendida <strong>com</strong>o um conjunto deconheciment<strong>os</strong>, habilidades e atitudes necessári<strong>os</strong> <strong>para</strong> que a pessoa desenvolvasuas atribuições e responsabilidades. O autor afirma ainda que o fato da pessoap<strong>os</strong>suir tal conjunto de conheciment<strong>os</strong>, habilidades e atitudes não garantem que aorganização vá se beneficiar, pois é preciso que haja entrega por parte <strong>do</strong>funcionário <strong>para</strong> a empresa, ou seja, não basta que ele tenha formação eexperiência, é preciso que ele tenha um mo<strong>do</strong> de atuar característico. Enfim, que eletenha condições de obter <strong>os</strong> resulta<strong>do</strong>s que a empresa necessita e espera <strong>do</strong>mesmo.Conforme pode ser observa<strong>do</strong> na figura 31, quan<strong>do</strong> se fala em descrever o bomtrabalha<strong>do</strong>r, as três atitudes mais importantes na <strong>representação</strong> <strong>social</strong> <strong>do</strong>sa<strong>do</strong>lescentes foram honestidade, educação e responsabilidade, que apareceram<strong>com</strong> 162 pont<strong>os</strong>.A habilidade de trabalhar em equipe surgiu pontuada por 156 a<strong>do</strong>lescentes, a atitudede ter vontade de aprender foi pontuada por 154 a<strong>do</strong>lescentes e as atitudes de terrespeito pel<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> e ter pontualidade surgiram empatadas <strong>com</strong>o representaçõessociais <strong>para</strong> 149 a<strong>do</strong>lescentes. Outras habilidades importantes destacadas pel<strong>os</strong>a<strong>do</strong>lescentes foram a de ter boa <strong>com</strong>unicação, pontuada por 145 a<strong>do</strong>lescentes eorganização, pontuada por 142 a<strong>do</strong>lescentes.Outra <strong>com</strong>petência importante que surgiu <strong>com</strong>o <strong>representação</strong> <strong>social</strong> <strong>do</strong>sa<strong>do</strong>lescentes em relação a atitude de ser um bom trabalha<strong>do</strong>r foi a força de vontadepontuada por 143 a<strong>do</strong>lescentes.


195Também se destacaram paciência, iniciativa, bom humor, criatividade, simpatia ecapricho; atitudes que estão bastante relacionadas a personalidade <strong>do</strong>s indivídu<strong>os</strong>.Destaca-se que nessa questão <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes podiam assinalar quantas resp<strong>os</strong>tasquisessem.Bom trabalha<strong>do</strong>rhonestidade162educação162responsabilidade162<strong>trabalho</strong> em equipe156vontade de aprender154respeito a<strong>os</strong> outr<strong>os</strong>pontualidadeboa <strong>com</strong>unicaçãoforça de vontadeorganizaçãopaciênciainiciativabom humorcriatividadesimpatiacaprichoconhecimentoboa memóriacoragemdesenvolturaliderançacuri<strong>os</strong>idadeassiduidadeexperiênciaintegridadeauto-crítica 60787875747166668790149149145143142130130124117116108Conheciment<strong>os</strong>HabilidadesAtitudesFigura 31: O bom trabalha<strong>do</strong>rSegun<strong>do</strong> Brandão (2001), o conceito de <strong>com</strong>petência evidencia o caráter deinterdependência e <strong>com</strong>plementaridade entre as três dimensões <strong>do</strong> modelo(conhecimento, habilidades e atitudes), bem <strong>com</strong>o a necessidade de aplicaçãoconjunta dessas três dimensões em qualquer objetivo. O autor destaca ainda que odesenvolvimento das <strong>com</strong>petências acontece por meio da aprendizagem, seja elaindividual ou coletiva e a assimilação de conheciment<strong>os</strong>, o desenvolvimento de


196habilidades e a internalização de atitudes revelam um melhor desempenho no<strong>trabalho</strong>.Essa questão so<strong>br</strong>e o que ele considera o bom <strong>trabalho</strong>r não se propôs a investigarse o a<strong>do</strong>lescente age ou não dessa forma, e sim, qual é a <strong>representação</strong> <strong>social</strong> queele tem <strong>do</strong> que significa trabalhar, <strong>com</strong>o ele idealiza o <strong>trabalho</strong>. Nesse momento fazseimportante relem<strong>br</strong>ar M<strong>os</strong>covici (1978), <strong>para</strong> quem toda <strong>representação</strong> é umaforma de conhecimento por meio <strong>do</strong> qual aquele que conhece se substitui no que eleconhece; ou seja, o a<strong>do</strong>lescente, ao falar so<strong>br</strong>e o significa<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>, orarepresenta, ora se representa.A figura 32 n<strong>os</strong> destaca as representações sociais que <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes têm arespeito <strong>do</strong> que é trabalhar. É interessante ressaltar que as quatro <strong>com</strong>petênciasmais destacadas pel<strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes se referem à importância <strong>do</strong> conhecimentoadquiri<strong>do</strong> <strong>com</strong> o <strong>trabalho</strong>, onde está adquirir responsabilidade e aprendizagem, seprofissionalizar e obter experiência <strong>para</strong> o currículo, o que vem confirmar <strong>os</strong> ansei<strong>os</strong>desse jovem estudante-trabalha<strong>do</strong>r desenvolver-se profissionalmente.Todas as outras <strong>com</strong>petências podem ser consideradas atitudes, caracterizan<strong>do</strong>dessa forma a consciência <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente da importância dele saber se p<strong>os</strong>icionarde forma atuante diante <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>.De acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> as representações sociais <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes as atitudes maisimportantes <strong>com</strong> relação ao <strong>trabalho</strong> e dinheiro são: ajudar a família financeiramente(38), tornar-me <strong>com</strong>petitivo no merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong> (35) ter seu próprio dinheiro (32)


197e se tornar mais independente (29) e mais <strong>do</strong> que ganhar dinheiro, melhorar de vida(31), observam-se representações sociais de que o a<strong>do</strong>lescente carente tem queajudar em casa, o que na verdade deveria ser o contrário, seu responsável ser seuprove<strong>do</strong>r.Outras representações sociais importantes relacionadas ao relacionamento <strong>com</strong> ogrupo são as atitudes de m<strong>os</strong>trar <strong>para</strong> <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> que ele é capaz, ficar longe decoisas erradas e consequentemente se sentir útil, de contribuir; ter a sensação deconsciência limpa, aprender a conviver <strong>com</strong> outras pessoas e ser feliz.Trabalhar éadquirir responsabilidade 95adquirir aprendizagem 78uma forma de me profissionalizar 59adquirir experiência <strong>para</strong> o currículo 41ajudar minha família financeiramente 38tornar-me <strong>com</strong>petitivo no merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong> 35ter meu próprio dinheiro 32mais <strong>do</strong> que o dinheiro, é uma forma de melhorar de vida 31uma forma de ganhar dinheiro e depender men<strong>os</strong> <strong>do</strong>s pais 29m<strong>os</strong>trar <strong>para</strong> <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> que eu sou capaz 27aprender a conviver <strong>com</strong> as pessoas, conversar, ser educa<strong>do</strong> 21sensação de consciência limpa, de contribuir 10me sentir útil 8ser feliz 5uma forma de ficar longe de coisas erradas 2uma forma de passar o tempo 2Conheciment<strong>os</strong>AtitudeFigura 32: Trabalhar éA seguir, na figura 33, pode-se observar quais são as representações sociais <strong>do</strong>a<strong>do</strong>lescente trabalha<strong>do</strong>r so<strong>br</strong>e o que o <strong>trabalho</strong> traz <strong>para</strong> quem desenvolve umaatividade profissional.Destaca-se que <strong>para</strong> o a<strong>do</strong>lescente a coisa mais importante que o <strong>trabalho</strong> traz é aresponsabilidade, a atitude de ser responsável foi destacada por 154 a<strong>do</strong>lescentes,


198novamente, <strong>com</strong>o o estu<strong>do</strong> não é visto <strong>com</strong>o uma forma de <strong>trabalho</strong>, ele não agregaresponsabilidade, que é conquistada por meio <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> profissional.A segunda coisa mais importante que o <strong>trabalho</strong> traz é um futuro melhor (113),conforme menciona<strong>do</strong> anteriormente nesse <strong>trabalho</strong>: o a<strong>do</strong>lescente acredita que pormeio <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> ele será capaz de ter garanti<strong>do</strong> um futuro melhor.Os conheciment<strong>os</strong> destaca<strong>do</strong>s são a aquisição de experiência (112), conhecimento(103) e aprendiza<strong>do</strong> (82), desenvolvi<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> o cotidiano <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>.Também está presente a <strong>representação</strong> <strong>social</strong> de que o dinheiro é uma das coisasque o <strong>trabalho</strong> traz, pontua<strong>do</strong> por 76 a<strong>do</strong>lescentes e destacan<strong>do</strong> a importância que oa<strong>do</strong>lescente dá a esse retorno imediato.Destacam-se ainda as atitudes incorporadas a partir da experiência profissional quesão tornar-se independente (69) e mais educa<strong>do</strong> (34), adquirir iniciativa (33) erespeito pel<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> (32).Outras variáveis que são trazidas pelo <strong>trabalho</strong>, mas que não foram identificadas<strong>com</strong>o conheciment<strong>os</strong>, habilidades ou atitudes, foram: adquirir um futuro melhor (113)o dinheiro (76), a amizade (27), men<strong>os</strong> co<strong>br</strong>ança em casa (10), mais preocupação(4) e se afastar <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s (1).Ribeiro (2004), conforme coloca<strong>do</strong> anteriormente, <strong>com</strong>partilha <strong>com</strong> asrepresentações sociais <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes a respeito <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> ao pontuar que esseprecisa estar integra<strong>do</strong> à vida, ter um senti<strong>do</strong>, não pode se restringir a ser um meio


199de so<strong>br</strong>evivência. O indivíduo precisa ter o anseio da realização <strong>do</strong>s seus plan<strong>os</strong> eprojet<strong>os</strong>, desvincula<strong>do</strong>s <strong>do</strong> mero acesso a bens materiais e suas simbologias, e éassim que o <strong>trabalho</strong> é elabora<strong>do</strong> pelo a<strong>do</strong>lescente trabalha<strong>do</strong>r, <strong>com</strong>o uma atividadeprofissional que incorpora um significa<strong>do</strong> intrínseco, que tem valor por si mesma,independente de conseguir pagar as despesas da família. No entanto, isto tambémexige uma outra antítese das condições atuais, é necessário que haja <strong>trabalho</strong> <strong>para</strong>to<strong>do</strong>s.Trabalho trazresponsabilidade 154um futuro melhor 113experiência 112conhecimento 103aprendiza<strong>do</strong> 82dinheiro 76independência 69educação 34iniciativa 33respeito <strong>do</strong>s outr<strong>os</strong> 32amizade 27men<strong>os</strong> co<strong>br</strong>ança em casa 10muita preocupação 4afasta o a<strong>do</strong>lescente <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s 1Conheciment<strong>os</strong>HabilidadesAtitudesOutras variáveisFigura 33: O <strong>trabalho</strong> trazConforme a figura 34 observa-se que o a<strong>do</strong>lescente elabora a <strong>representação</strong> <strong>social</strong>de que o estu<strong>do</strong> é mais importante que o <strong>trabalho</strong> (117). Na verdade esse é umdiscurso que dificilmente se vê no dia-a-dia, o que se observa é ele deixar de ir<strong>para</strong> a escola porque tem que trabalhar. Apesar de saber que a empresa estáagin<strong>do</strong> de forma errada, ele não sabe ou não consegue se p<strong>os</strong>icionar por me<strong>do</strong> deser demiti<strong>do</strong> e acaba ceden<strong>do</strong> e se ausentan<strong>do</strong> da escola em detrimento <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>(4). Talvez o fato <strong>do</strong> retorno <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>, o dinheiro, ser mais imediato <strong>do</strong> que o


200retorno <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> e a própria necessidade dele trabalhar, influencie na hora detomar essa decisão.Ainda <strong>com</strong> relação ao estu<strong>do</strong>, o a<strong>do</strong>lescente elabora a <strong>representação</strong> de que esse éo melhor tempo <strong>para</strong> se dedicar ao estu<strong>do</strong>, pois depois de se casar e ter filh<strong>os</strong> émuito mais <strong>com</strong>plica<strong>do</strong>. Conforme pontua<strong>do</strong>, na classe 2 das entrevistas, essaconstrução tem sua aprendizagem e influência no meio no qual o a<strong>do</strong>lescente estáinseri<strong>do</strong>, na medida em que muit<strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes têm irmã<strong>os</strong> mais velh<strong>os</strong> que não<strong>com</strong>pletaram <strong>os</strong> estu<strong>do</strong>s e que têm grandes dificuldades <strong>para</strong> se colocar no merca<strong>do</strong>de <strong>trabalho</strong>. Essa constatação contraditória entre <strong>trabalho</strong> e estu<strong>do</strong>, confirma o quejá havia si<strong>do</strong> destaca<strong>do</strong> <strong>com</strong> <strong>os</strong> resulta<strong>do</strong>s das análise qualitativas, onde discurso eprática parecem caminhar <strong>para</strong> la<strong>do</strong>s op<strong>os</strong>t<strong>os</strong>. No discurso se exalta o estu<strong>do</strong> e suaimportância, mas as ações m<strong>os</strong>tram esse a<strong>do</strong>lescente se ausentan<strong>do</strong> da escola <strong>para</strong>trabalhar.Novamente o <strong>trabalho</strong> surge associa<strong>do</strong> à idéia de que quan<strong>do</strong> você está trabalhan<strong>do</strong>você ocupa o tempo <strong>com</strong> coisas boas (63) e fica afasta<strong>do</strong> das confusões (36) e porfim, é representa<strong>do</strong> <strong>com</strong>o a oportunidade de construir uma família sem passardificuldade e <strong>com</strong> a garantia de um bom futuro (95). É por meio <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> que oa<strong>do</strong>lescente espera alcançar um futuro melhor e ser alguém na vida (68) pois alémde tu<strong>do</strong> ele também pode conhecer outras pessoas de outr<strong>os</strong> níveis sociais e ficarmais educa<strong>do</strong> (55). O a<strong>do</strong>lescente elabora representações de que ter um bom poderaquisitivo vá fazer <strong>com</strong> que a pessoa fique mais educada; o que não é verdade, poishá muitas pessoas ricas que não são educadas, e vice-versa. Atrelar p<strong>os</strong>ição <strong>social</strong>


201à educação é uma <strong>representação</strong> <strong>social</strong> desse a<strong>do</strong>lescente que almeja umaascensão <strong>social</strong> e financeira.O a<strong>do</strong>lescente acredita que o <strong>trabalho</strong> pode lhe proporcionar a oportunidade de seralguém na vida (68), pois no meio onde ele nasceu e vive é muito difícil ele teracesso a um bom estu<strong>do</strong> e a<strong>os</strong> bens materiais.<strong>trabalho</strong> traz...O <strong>trabalho</strong> é importante sim, mas não deve atrapalhar <strong>os</strong> estu<strong>do</strong>s 117Construir uma família sem passar dificuldade, trabalhar e garantir o futuro 95É pelo <strong>trabalho</strong> que eu vou ter a oportunidade de ser alguém na vida 68Quan<strong>do</strong> eu <strong>trabalho</strong> ocupo o meu tempo <strong>com</strong> coisas boas 63Conheço pessoas de outr<strong>os</strong> níveis sociais, apren<strong>do</strong> a conviver, fico educa<strong>do</strong> 55Sem dedicação <strong>para</strong> a escola, depois que casar e ter uma casa será difícil 44Sem trabalhar se cria confusão, <strong>com</strong> <strong>trabalho</strong> há algo bom <strong>para</strong> o futuro 36Uma pessoa que tem muito dinheiro deve ajudar <strong>os</strong> mais necessita<strong>do</strong>s 19O <strong>trabalho</strong> me ajuda a ser mais respeita<strong>do</strong> em casa 16O <strong>trabalho</strong> pode contribuir <strong>para</strong> que eu me afaste um pouco <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s 4porque sem estu<strong>do</strong> ninguém arruma um bom emprego 0Figura 34: O <strong>trabalho</strong> trazA figura 35 n<strong>os</strong> m<strong>os</strong>tra <strong>os</strong> resulta<strong>do</strong>s de uma das questões que <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentestiveram mais dificuldades e dúvidas <strong>para</strong> responder, isso tanto <strong>para</strong> a entrevista,quanto <strong>para</strong> o questionário; talvez porque eles estejam tão envolvi<strong>do</strong>s na rotina de<strong>trabalho</strong> e estu<strong>do</strong> que não <strong>para</strong>ram <strong>para</strong> refletir no que estão fazen<strong>do</strong> de suas vidas.De acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> a figura 35, o a<strong>do</strong>lescente internaliza o significa<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>com</strong>oter mais responsabilidade, cumprir horário e se esforçar <strong>para</strong> fazer o que é espera<strong>do</strong>(122), essas três representações sociais estão diretamente relacionadas à<strong>representação</strong> de sentir-se mais importante e respeita<strong>do</strong> no grupo de a<strong>do</strong>lescentes<strong>com</strong> o qual ele convive e principalmente no ambiente familiar.


202Novamente o <strong>trabalho</strong> é visto <strong>com</strong>o uma oportunidade de m<strong>os</strong>trar seu potencial, dem<strong>os</strong>trar que ele pode ser útil (78), seja contribuin<strong>do</strong> financeiramente, sejaaprenden<strong>do</strong> uma profissão ou o mais importante, não se envolven<strong>do</strong> <strong>com</strong> coisasilícitas.A <strong>representação</strong> <strong>social</strong> de que por meio <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> ele pode passar a enxergar avida de outro mo<strong>do</strong> e crescer <strong>com</strong>o pessoa e <strong>com</strong>o profissional, é destacada por 119a<strong>do</strong>lescentes, e pode servir <strong>com</strong>o uma justificativa <strong>para</strong> ele se esforçar e tentarmudar sua realidade <strong>social</strong> e consequentemente ter um futuro melhor (33). Essasrepresentações sociais na verdade escondem a realidade de <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong>a<strong>do</strong>lescente, de ser uma atividade repetitiva, que exige pouca formação e que nãovai formá-lo profissional; mas a principal contribuição que essa experiência traz <strong>para</strong>ele é a percepção de que o <strong>trabalho</strong> pode ajudá-lo a ter um futuro melhor.Com relação à questão financeira, o a<strong>do</strong>lescente alimenta a falsa impressão de que<strong>com</strong> o que ele recebe, ele é capaz de se manter financeiramente e ser independente<strong>do</strong>s pais (34). Mas conforme menciona<strong>do</strong> anteriormente nesse <strong>trabalho</strong>, segun<strong>do</strong> alegislação <strong>br</strong>asileira, não é o dinheiro que o torna independente e sim a maioridade.Esse dinheiro, carrega<strong>do</strong> de significa<strong>do</strong>s ajuda financeiramente a família e oa<strong>do</strong>lescente que agora pode prover parte <strong>do</strong>s seus gast<strong>os</strong>, e em muitas situaçõesprincipalmente as despesas de lazer.O significa<strong>do</strong> principal está relaciona<strong>do</strong> <strong>com</strong> a auto-estima <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente, quepassa a se sentir diferencia<strong>do</strong> no grupo familiar, pois ele não é mais consumi<strong>do</strong>r, ele


203também é um prove<strong>do</strong>r dessa família, confirman<strong>do</strong> o processo de “adultização”,meciona<strong>do</strong> por Pereira (1994). Com o <strong>trabalho</strong>, o a<strong>do</strong>lescente muda de status epassa a ser visto <strong>com</strong>o uma pessoa, que pensa, tem opiniões e é capaz de contribuir<strong>com</strong> algo importante (60).significa<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>Ter mais responsabilidade, cumprir horári<strong>os</strong> e se esforçar <strong>para</strong> fazer o que é espera<strong>do</strong> 122Enxergar a vida de outro mo<strong>do</strong>, eu p<strong>os</strong>so crescer <strong>com</strong>o pessoa e <strong>com</strong>o profissional 119O meu <strong>trabalho</strong> é uma oportunidade de m<strong>os</strong>trar meu potencial, que eu p<strong>os</strong>so ser útil 78Sou visto <strong>com</strong>o pessoa que pensa, tem opiniões e contribui <strong>com</strong> algo importante 60O <strong>trabalho</strong> me ajuda a aprender uma profissão 48Ganho meu dinheiro, sou independente, não preciso <strong>do</strong>s meus pais <strong>para</strong> me "bancar" 34Somente o <strong>trabalho</strong> pode me garantir um futuro melhor 33Mesmo se eu tivesse muito dinheiro e não precisasse, eu continuaria a trabalhar 23Figura 35: O significa<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>Sá (1998) lem<strong>br</strong>a a prop<strong>os</strong>ição teórica de que uma <strong>representação</strong> <strong>social</strong> é semprede alguém (o sujeito) e de alguma coisa (o objeto). Não podem<strong>os</strong> falar em<strong>representação</strong> de alguma coisa sem especificar o sujeito – a população ou conjunto<strong>social</strong> – que mantém tal <strong>representação</strong>. Da mesma maneira, não faz senti<strong>do</strong> falarnas representações de um da<strong>do</strong> sujeito <strong>social</strong> sem especificar <strong>os</strong> objet<strong>os</strong>representa<strong>do</strong>s. Dizen<strong>do</strong> de outra maneira, na construção <strong>do</strong> objeto de pesquisaprecisam<strong>os</strong> levar em conta simultaneamente, o sujeito e o objeto da <strong>representação</strong>que querem<strong>os</strong> estudar.O autor questiona então “De onde é que se deve partir no processo de identificaçãoprévia: <strong>do</strong> objeto ou <strong>do</strong> sujeito?” (1998, p. 56); destacan<strong>do</strong> que o ponto de partida<strong>para</strong> se responder a esse questionamento tanto pode ser o objeto quanto o sujeito,no caso <strong>do</strong> presente <strong>trabalho</strong>. A seguir vê-se <strong>com</strong>o o a<strong>do</strong>lescente elabora e percebesua identidade diante <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>.


204M<strong>os</strong>covici (2003) destaca que categorizar alguém ou alguma coisa significa escolherum <strong>do</strong>s <strong>para</strong>digmas estoca<strong>do</strong>s em n<strong>os</strong>sa memória e estabelecer uma relaçãop<strong>os</strong>itiva ou negativa <strong>com</strong> ele.Pode-se dizer, contu<strong>do</strong>, que em sua grande maioria essas classificações são feitas<strong>com</strong><strong>para</strong>n<strong>do</strong> as pessoas a um protótipo, geralmente aceito <strong>com</strong>o representante deuma classe e que o primeiro é defini<strong>do</strong> por meio da aproximação, ou da coincidência<strong>com</strong> o último. Dessa forma, quan<strong>do</strong> nós classificam<strong>os</strong>, nós sempre fazem<strong>os</strong><strong>com</strong><strong>para</strong>ções <strong>com</strong> um protótipo, sempre n<strong>os</strong> perguntam<strong>os</strong> se o objeto <strong>com</strong><strong>para</strong><strong>do</strong> énormal, ou anormal, em relação a ele e tentam<strong>os</strong> responder à questão: "É ele <strong>com</strong>odeve ser, ou não?"Assim, o que observam<strong>os</strong> é o a<strong>do</strong>lescente descrever um modelo de trabalha<strong>do</strong>rideal, independentemente dele ser assim é o que ele busca m<strong>os</strong>trar <strong>para</strong> asociedade e principalmente <strong>para</strong> o grupo <strong>do</strong> qual ele participa.Conforme relata<strong>do</strong> anteriormente nesse <strong>trabalho</strong>, Jovchelovitch (1995, 2000),destaca três aspect<strong>os</strong> centrais <strong>para</strong> a emergência das representações sociais, quesão o fato delas serem sempre a referência de alguém <strong>para</strong> alguma coisa;p<strong>os</strong>suírem caráter imaginativo e construtivo, caracterizan<strong>do</strong>-se <strong>com</strong>o autônoma ecriativa, e finalmente sua natureza <strong>social</strong>.Quan<strong>do</strong> nós falam<strong>os</strong> em representações sociais, a análise não se centra no sujeitoindividual, mas n<strong>os</strong> fenômen<strong>os</strong> produzi<strong>do</strong>s pelas construções particulares da


205realidade <strong>social</strong>, assim as representações sociais enquanto fenômeno psic<strong>os</strong><strong>social</strong>,estão necessariamente radicadas no espaço público e n<strong>os</strong> process<strong>os</strong> por meio <strong>do</strong>squais o ser humano desenvolve uma identidade, cria símbol<strong>os</strong> e se a<strong>br</strong>e <strong>para</strong> adiversidade de um mun<strong>do</strong> de Outr<strong>os</strong>. Elas não teriam qualquer utilidade em ummun<strong>do</strong> de indivídu<strong>os</strong> isola<strong>do</strong>s, ou melhor, elas não existiriam.Ao serem questiona<strong>do</strong>s so<strong>br</strong>e sua identidade pessoal, 155 a<strong>do</strong>lescentessedenominam <strong>com</strong>o trabalha<strong>do</strong>res e 154 <strong>com</strong>o responsáveis, apesar da idade queeles têm; 132 a<strong>do</strong>lescentes se destacam <strong>com</strong>o pontuais e 129 <strong>com</strong>o <strong>com</strong>unicativ<strong>os</strong>;125 a<strong>do</strong>lescentes se dizem organiza<strong>do</strong>s e 123 simpátic<strong>os</strong>; 113 a<strong>do</strong>lescentes sevêem <strong>com</strong>o inteligentes e 112 deles são ágeis; 100 a<strong>do</strong>lescentes se colocam <strong>com</strong>opessoas criativas, 93 curi<strong>os</strong>as e, ainda, 84 a<strong>do</strong>lescentes se vêem <strong>com</strong>o motiva<strong>do</strong>s;dentre outras características, conforme a figura 36.É interessante observar que a questão prop<strong>os</strong>ta <strong>para</strong> <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes era: “Quemsou eu?” e não “Quem sou eu no <strong>trabalho</strong>?” e mesmo assim, as características quemais se destacaram estão relacionadas a<strong>os</strong> traç<strong>os</strong> de personalidade e p<strong>os</strong>turasdiante <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>. Nesse momento, sujeito e objeto de pesquisa vivemuma simbi<strong>os</strong>e e é difícil se<strong>para</strong>r o sujeito <strong>do</strong> objeto, o a<strong>do</strong>lescente <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>.Ao falar de si, 81 a<strong>do</strong>lescentes se dizem ansi<strong>os</strong><strong>os</strong> e, 79 deles se descrevemdinâmic<strong>os</strong> e <strong>com</strong>promissa<strong>do</strong>s; 73 a<strong>do</strong>lescentes se denominam perseverantes e 62apaixona<strong>do</strong>s. A seguir surgem algumas características pessoais onde 59a<strong>do</strong>lescentes se descrevem tími<strong>do</strong>s, 49 sensíveis e 45 emotiv<strong>os</strong>. Destaca-se ainda aindependência, tão falada nas entrevistas, que é pontuada por 45 a<strong>do</strong>lescentes.


206Ao se buscar uma justificativa <strong>para</strong> o fato de a<strong>do</strong>lescente e <strong>trabalho</strong> seapresentarem inseparáveis pode-se pensar na falta de maturidade <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente,mas principalmente na presença <strong>do</strong>s element<strong>os</strong> afetiv<strong>os</strong> destaca<strong>do</strong>s por Jodelet(2002) que fazem <strong>com</strong> que o <strong>trabalho</strong> e suas representações sejam tão importantese determinantes na vida desse a<strong>do</strong>lescente trabalha<strong>do</strong>r.Quem sou eutrabalha<strong>do</strong>r 155responsável 154pontual 132<strong>com</strong>unicativo 129organiza<strong>do</strong> 125simpático 123inteligente 113ágil 112criativo 100curi<strong>os</strong>o 93motiva<strong>do</strong> 84ansi<strong>os</strong>o 81dinâmico 79<strong>com</strong>promissa<strong>do</strong> 79perseverante 73apaixona<strong>do</strong> 62tími<strong>do</strong> 59sensível 49emotivo 45independente 45idealista 40aberto 36assíduo 31preguiç<strong>os</strong>o 19Figura 36: Quem sou euResumin<strong>do</strong>, o <strong>trabalho</strong> quantitativo foi organiza<strong>do</strong> basea<strong>do</strong> no conceito de<strong>com</strong>petências e na teoria das representações sociais, buscan<strong>do</strong>-se identificarrespectivamente <strong>os</strong> conheciment<strong>os</strong>, as habilidades e as atitudes; o senti<strong>do</strong> e o valor


207destaca<strong>do</strong>s pel<strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes trabalha<strong>do</strong>res. Destaca-se ainda que asrepresentações sociais ressaltadas n<strong>os</strong> questionári<strong>os</strong> confirmam o conteú<strong>do</strong>apresenta<strong>do</strong> nas entrevistas.


2087 CONSIDERAÇÕES FINAISAo longo dessa pesquisa buscou-se apreender as representações sociais <strong>do</strong><strong>trabalho</strong> que <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes têm a partir da sua inserção profissional, embasa<strong>do</strong> nateoria das representações sociais desenvolvida por Serge M<strong>os</strong>covici e seusprecursores.Com o objetivo de <strong>com</strong>preender <strong>os</strong> resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s, a pesquisa procurouresponder a quatro questões: a) caracterizar o <strong>trabalho</strong> <strong>com</strong>o objeto de<strong>representação</strong> <strong>social</strong> por meio da revisão de literatura; b) verificar <strong>com</strong>o aexperiência <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> pode influenciar na p<strong>os</strong>tura <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente diante da suafamília e <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s; c) <strong>com</strong>preender quais são as conquistas que o a<strong>do</strong>lescenteadquire ao <strong>com</strong>eçar a trabalhar e d) identificar <strong>com</strong>o essa experiência profissionalinfluencia n<strong>os</strong> ansei<strong>os</strong> <strong>para</strong> o futuro <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente.Ao investigar as representações sociais que <strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes elaboram so<strong>br</strong>e o<strong>trabalho</strong>, ao iniciar uma atividade profissional, observa-se que esses a<strong>do</strong>lescentesfalam deles mesm<strong>os</strong>, revelan<strong>do</strong> aspect<strong>os</strong> da sua identidade e caracterizan<strong>do</strong> opertencimento a um grupo de “a<strong>do</strong>lescentes trabalha<strong>do</strong>res”. Nota-se que nemsempre eles p<strong>os</strong>suem da<strong>do</strong>s suficientes <strong>para</strong> <strong>com</strong>preender o que estão vivencian<strong>do</strong>e assim buscam referência em alguma experiência já vivenciada em casa e nasociedade <strong>com</strong>o um to<strong>do</strong>, <strong>com</strong>o por exemplo na valorização dada ao <strong>trabalho</strong> pel<strong>os</strong>istema capitalista; dessa forma, a <strong>representação</strong> surge no momento em que ogrupo precisa tornar familiar algo que não é, e <strong>para</strong> isso ele busca referência em umrepertório conheci<strong>do</strong>.


209O a<strong>do</strong>lescente representa o <strong>trabalho</strong> <strong>com</strong>o uma oportunidade de não se envolver ematitudes ilícitas <strong>para</strong> não ter tempo oci<strong>os</strong>o e principalmente por ter a mente ocupada;coisa que somente o estu<strong>do</strong> não seria capaz de fazer. Assim, o <strong>trabalho</strong> é visto<strong>com</strong>o mais valoriza<strong>do</strong> que o estu<strong>do</strong> e esses a<strong>do</strong>lescentes participam de um grupo,<strong>com</strong> um mesmo tipo de <strong>representação</strong> que vê o <strong>trabalho</strong> <strong>com</strong> um senti<strong>do</strong> mágicocapaz de mudar o seu futuro.É marcante a consciência <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes <strong>do</strong> quanto o estu<strong>do</strong> é importante, não só<strong>com</strong>o forma de adquirir conheciment<strong>os</strong>, mas, so<strong>br</strong>etu<strong>do</strong>, <strong>com</strong>o p<strong>os</strong>sibilidade deascensão <strong>social</strong>, <strong>com</strong>o se por meio <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> ele tivesse garantias de conseguir umbom <strong>trabalho</strong>. Essas imagens, ou representações elaboradas pel<strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentesacabam por sustentar as práticas sociais que tendem a priorizar o <strong>trabalho</strong> so<strong>br</strong>e oestu<strong>do</strong> e a manutenção <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente no merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>.É importante observar a construção que esses a<strong>do</strong>lescentes elaboram <strong>do</strong> fato de terdinheiro <strong>para</strong> pagar suas despesas e também algumas despesas da família e o queisso representa <strong>para</strong> eles: o <strong>trabalho</strong> é identifica<strong>do</strong> <strong>com</strong> a liberdade econômica e oacesso ao merca<strong>do</strong> de consumo <strong>para</strong> si e <strong>para</strong> a família. Esses jovens po<strong>br</strong>es seespelham no padrão de consumo da população <strong>com</strong> maior poder aquisitivo e têm aimpressão de ascender a<strong>os</strong> mesm<strong>os</strong> por meio <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>. Também destaca-se umsentimento diferencia<strong>do</strong> pelo qual o a<strong>do</strong>lescente passa a se sentir útil, importante emais valoriza<strong>do</strong>. Esse representa um ganho concreto <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> que surge <strong>com</strong> <strong>os</strong>enti<strong>do</strong> de atribuir poder e status a esse a<strong>do</strong>lescente, poder de <strong>com</strong>plementar oorçamento familiar, de participar <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de consumo e o status de adulto.


210Outro <strong>com</strong>ponente importante em construção é a aprendizagem que se dá noambiente de <strong>trabalho</strong>, onde aparece a importância de aprender <strong>para</strong> ter umdiferencial, mas também aprender <strong>para</strong> ensinar a<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> em casa, <strong>com</strong>o <strong>os</strong> irmã<strong>os</strong>mais nov<strong>os</strong> e até <strong>os</strong> pais que muitas vezes estão desemprega<strong>do</strong>s.Outra simbolização importante n<strong>os</strong> m<strong>os</strong>tra o senti<strong>do</strong> que o a<strong>do</strong>lescente atribuiquan<strong>do</strong> faz a leitura da importância da amizade. Essa pode ser <strong>com</strong> pessoas maisvelhas e mais experientes profissionalmente, <strong>com</strong> <strong>os</strong> clientes de classe <strong>social</strong> maiselevada que a deles ou ainda <strong>com</strong> <strong>os</strong> própri<strong>os</strong> colegas a<strong>do</strong>lescentes que tambémestão trabalhan<strong>do</strong> e <strong>com</strong> <strong>os</strong> quais eles podem <strong>com</strong>partilhar as dificuldadesenfrentadas no ambiente de <strong>trabalho</strong>, caracterizan<strong>do</strong> assim nov<strong>os</strong> grup<strong>os</strong> <strong>com</strong> <strong>os</strong>quais ele está crian<strong>do</strong> vínculo e identidade, ora porque vive as mesmas dificuldadesque ele - <strong>com</strong>o <strong>os</strong> colegas a<strong>do</strong>lescentes trabalha<strong>do</strong>res, ora porque faz parte de umarealidade <strong>social</strong> que ele almeja alcançar – <strong>com</strong>o <strong>os</strong> clientes que ele atende, ou ochefe que tem nível superior e é um profissional reconheci<strong>do</strong> dentro da empresa.O <strong>trabalho</strong> se ancora em element<strong>os</strong> afetiv<strong>os</strong> <strong>com</strong>o a p<strong>os</strong>sibilidade de por meio <strong>do</strong><strong>trabalho</strong> constituir uma família melhor estruturada; mentais representa<strong>do</strong>s pelaexperiência, conhecimento e aprendizagem que o a<strong>do</strong>lescente acredita adquirir; bem<strong>com</strong>o ancora<strong>do</strong> em element<strong>os</strong> sociais, <strong>com</strong>o por exemplo, a influência <strong>do</strong>s valoresda família e da sociedade que lhes são passa<strong>do</strong>s quanto à importância <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>.Outro aspecto importante elaborada pel<strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes e passada por seusfamiliares e pela região onde eles moram, diz respeito às impressões so<strong>br</strong>e o<strong>trabalho</strong> formal, principalmente em fá<strong>br</strong>icas, trabalhar em uma fá<strong>br</strong>ica ainda é visto


211por eles <strong>com</strong>o um sonho. O sonho de ter um emprego estável em uma empresagrande, registra<strong>do</strong> em carteira e ilusoriamente garanti<strong>do</strong>.Conforme destaca<strong>do</strong> por estudi<strong>os</strong><strong>os</strong> <strong>do</strong> assunto, o <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes tendea surgir <strong>com</strong> uma conotação negativa, apesar de ser uma estratégia deso<strong>br</strong>evivência econômica das famílias mais po<strong>br</strong>es. Muitas vezes, esse <strong>trabalho</strong>impõem a<strong>os</strong> a<strong>do</strong>lescentes um custo <strong>social</strong> eleva<strong>do</strong> que sacrifica o investimento naeducação e dificulta o acesso a um grau de escolarização maior que poderia lhesgarantir, no futuro, melhor colocação no merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong>.A so<strong>br</strong>ecarga de tarefas resulta em um maior desgaste físico e mental, que podeocasionar estresse emocional, bem <strong>com</strong>o diminuir o tempo disponível <strong>para</strong> o lazer,a vida em família, e a própria oportunidade de conviver <strong>com</strong> seus pares e outraspessoas da <strong>com</strong>unidade em geral, tão importante nessa fase <strong>do</strong> desenvolvimento.Dessa forma, <strong>trabalho</strong>, estu<strong>do</strong> e esforço pessoal se colocam <strong>com</strong>o o caminho <strong>para</strong> aconstrução de um futuro diferente, principalmente diferente da realidade de vida queeles têm hoje, uma vez que amb<strong>os</strong> são vist<strong>os</strong> <strong>com</strong>o fatores promissores <strong>para</strong> queeles tenham um diferencial <strong>com</strong>petitivo e conquistem uma boa carreira no futuro.Destaca-se que a necessidade desse jovem em assumir <strong>com</strong>promiss<strong>os</strong> e colocar-sefrente à vida adulta significa uma profunda mudança de seu papel no mun<strong>do</strong>; o queo leva a questionament<strong>os</strong>, dúvidas e incertezas, mas contribui principalmente <strong>para</strong>que ele adquira o status de ser alguém na vida.


212Apesar <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> em alguns moment<strong>os</strong> assumir uma conotação negativa,prevalece a atitude p<strong>os</strong>itiva, onde o a<strong>do</strong>lescente simboliza essa experiênciaprofissional <strong>com</strong>o importante <strong>para</strong> o seu presente, e principalmente, <strong>para</strong> o seufuturo.O a<strong>do</strong>lescente tem consciência das dificuldades que tem a enfrentar diante <strong>do</strong>merca<strong>do</strong> de <strong>trabalho</strong> tão <strong>com</strong>petitivo; mesmo assim, <strong>com</strong>o forma de fugir darealidade, alimenta a esperança de que uma experiência profissional poderá ajudá-loem sua trajetória profissional.Consideran<strong>do</strong>-se a importância <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> na n<strong>os</strong>sa cultura e a presença dessarealidade cada vez mais ce<strong>do</strong> nas <strong>com</strong>unidades carentes, principalmente no Brasil,re<strong>com</strong>enda-se a realização de nov<strong>os</strong> <strong>trabalho</strong>s so<strong>br</strong>e esse tema, <strong>com</strong>o por exemplo:• estu<strong>do</strong> so<strong>br</strong>e as representações sociais <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>para</strong> a<strong>do</strong>lescentestrabalha<strong>do</strong>res e não trabalha<strong>do</strong>res, de uma classe <strong>social</strong> mais elevada;• identificação das representações sociais das relações de poder e daliberdade, quan<strong>do</strong> se <strong>com</strong>eça a trabalhar em <strong>com</strong><strong>para</strong>ção <strong>com</strong> a lei damaioridade;• estu<strong>do</strong> transversal das representações sociais acerca <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>para</strong> <strong>os</strong>a<strong>do</strong>lescentes ao iniciarem uma atividade profissional e ao encerrá-la, ou seja,na admissão e demissão.


213Dessa forma, <strong>do</strong> ponto de vista acadêmico espera-se ter alcança<strong>do</strong> <strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong> dapesquisa e ter contribuí<strong>do</strong> <strong>para</strong> o debate das pesquisas na área de representaçõessociais, a<strong>do</strong>lescência e <strong>trabalho</strong>.


214REFERÊNCIASABREU, S. R. Crianças e a<strong>do</strong>lescentes em situações de risco no Brasil. RevistaBrasileira de Psiquiatria, São Paulo, v. 24, n.1, p.5-6. 2002.ABRIC, J. C. A abordagem estrutural das representações sociais. In: MOREIRA,A.S.P.; OLIVEIRA, D.C.de (org). Estu<strong>do</strong>s interdisciplinares de <strong>representação</strong><strong>social</strong>. Goiânia: AB, 2000.___________. O estu<strong>do</strong> experimental das representações sociais. In: JODELET, D.(org). As Representações Sociais. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2001.AGIER, M. O sexo da po<strong>br</strong>eza: homens, mulheres e famílias numa "avenida" emSalva<strong>do</strong>r da Bahia. Tempo Social – Revista de Sociologia, USP, v.2, n.2, p.35-60.1990.ALMEIDA, A. C. A cabeça <strong>do</strong>s <strong>br</strong>asileir<strong>os</strong>. Rio de Janeiro: Record, 2007.ALVES-MAZZOTTI, A. J.; GEWANDSZNAJDER, F. O méto<strong>do</strong> nas ciênciasnaturais e sociais. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004.APPOLINÁRIO, F. Dicionário de Meto<strong>do</strong>logia científica: um guia <strong>para</strong> a produção<strong>do</strong> conhecimento científico. São Paulo: Atlas, 2004.ARENDT, H. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005.BAUER, M. A popularização da ciência <strong>com</strong>o “imunização cultural”: a função deresistência das representações sociais. In: GUARESCHI, P. A., JOVCHELOVITCH,S. (orgs.) Text<strong>os</strong> em representações sociais. Petrópolis: Vozes, 1995.BEE, H. A criança em desenvolvimento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.BRANDÃO, H.P. GUIMARÃES, T. de A. Gestão de <strong>com</strong>petências e gestão dedesempenho: tecnologias distintas ou instrument<strong>os</strong> de um mesmo constructo?Revista de Administração de Empresas. São Paulo. V. 41. n. 1. p. 8-15. Jan./Mar.2001.BRAVERMAN, H. Trabalho e capital monopolista: a degradação <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> n<strong>os</strong>éculo XX. Rio de Janeiro: LTD Editora, 1987.CAMARGO, B. V. Alceste: Um programa informático de análise quantitativa deda<strong>do</strong>s textuais. In: MOREIRA, A. S. P. (org). Perspectivas Teórico-meto<strong>do</strong>lógicasem Representações Sociais. João Pessoa: UFPB / Ed. Universitária, 2005.CHAMON, E.M.Q.O. A Representação Social. Artigo não publica<strong>do</strong>. 2006.


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221ANEXO A – Lei <strong>do</strong> AprendizLEI No 10.097, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2000.Mensagem de Veto nº 1899Altera disp<strong>os</strong>itiv<strong>os</strong> da Consolidação das Leis <strong>do</strong> Trabalho – CLT, aprovada peloDecreto-Lei n o 5.452, de 1 o de maio de 1943.Brasília, 19 de dezem<strong>br</strong>o de 2000; 179 o da Independência e 112 o da República.Art. 1o Os arts. 402, 403, 428, 429, 430, 431, 432 e 433 da Consolidação das Leis<strong>do</strong> Trabalho – CLT, aprovada pelo Decreto-Lei n o 5.452, de 1 o de maio de 1943,passam a vigorar <strong>com</strong> a seguinte redação:"Art. 402. Considera-se menor <strong>para</strong> <strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> desta Consolidação o trabalha<strong>do</strong>r dequatorze até dezoito an<strong>os</strong>." (NR)"..........................................................................""Art. 403. É proibi<strong>do</strong> qualquer <strong>trabalho</strong> a menores de dezesseis an<strong>os</strong> de idade,salvo na condição de aprendiz, a partir <strong>do</strong>s quatorze an<strong>os</strong>." (NR)"Parágrafo único. O <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong> menor não poderá ser realiza<strong>do</strong> em locaisprejudiciais à sua formação, ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e <strong>social</strong>e em horári<strong>os</strong> e locais que não permitam a freqüência à escola." (NR)"a) revogada;""b) revogada.""Art. 428. Contrato de aprendizagem é o contrato de <strong>trabalho</strong> especial, ajusta<strong>do</strong> porescrito e por prazo determina<strong>do</strong>, em que o emprega<strong>do</strong>r se <strong>com</strong>promete a assegurarao maior de quatorze e menor de dezoito an<strong>os</strong>, inscrito em programa deaprendizagem, formação técnico-profissional metódica, <strong>com</strong>patível <strong>com</strong> o seudesenvolvimento físico, moral e psicológico, e o aprendiz, a executar, <strong>com</strong> zelo ediligência, as tarefas necessárias a essa formação." (NR)"§ 1 o A validade <strong>do</strong> contrato de aprendizagem pressupõe anotação na Carteira deTrabalho e Previdência Social, matrícula e freqüência <strong>do</strong> aprendiz à escola, casonão haja concluí<strong>do</strong> o ensino fundamental, e inscrição em programa deaprendizagem desenvolvi<strong>do</strong> sob a orientação de entidade qualificada em formaçãotécnico-profissional metódica." (AC)*


222"§ 2 o Ao menor aprendiz, salvo condição mais favorável, será garanti<strong>do</strong> o saláriomínimo hora." (AC)"§ 3 o O contrato de aprendizagem não poderá ser estipula<strong>do</strong> por mais de <strong>do</strong>is an<strong>os</strong>."(AC)"§ 4 o A formação técnico-profissional a que se refere o caput deste artigocaracteriza-se por atividades teóricas e práticas, metodicamente organizadas emtarefas de <strong>com</strong>plexidade progressiva desenvolvidas no ambiente de <strong>trabalho</strong>." (AC)"Art. 429. Os estabeleciment<strong>os</strong> de qualquer natureza são o<strong>br</strong>iga<strong>do</strong>s a empregar ematricular n<strong>os</strong> curs<strong>os</strong> <strong>do</strong>s Serviç<strong>os</strong> Nacionais de Aprendizagem número deaprendizes equivalente a cinco por cento, no mínimo, e quinze por cento, nomáximo, <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res existentes em cada estabelecimento, cujas funçõesdemandem formação profissional." (NR)"a) revogada;""b) revogada.""§ 1 o -A. O limite fixa<strong>do</strong> neste artigo não se aplica quan<strong>do</strong> o emprega<strong>do</strong>r for entidadesem fins lucrativ<strong>os</strong>, que tenha por objetivo a educação profissional." (AC)"§ 1 o As frações de unidade, no cálculo da percentagem de que trata o caput, darãolugar à admissão de um aprendiz." (NR)"Art. 430. Na hipótese de <strong>os</strong> Serviç<strong>os</strong> Nacionais de Aprendizagem não ofereceremcurs<strong>os</strong> ou vagas suficientes <strong>para</strong> atender à demanda <strong>do</strong>s estabeleciment<strong>os</strong>, estapoderá ser suprida por outras entidades qualificadas em formação técnicoprofissionalmetódica, a saber:" (NR)"I – Escolas Técnicas de Educação;" (AC)"II – entidades sem fins lucrativ<strong>os</strong>, que tenham por objetivo a assistência aoa<strong>do</strong>lescente e à educação profissional, registradas no Conselho Municipal <strong>do</strong>sDireit<strong>os</strong> da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente." (AC)"§ 1 o As entidades mencionadas neste artigo deverão contar <strong>com</strong> estruturaadequada ao desenvolvimento <strong>do</strong>s programas de aprendizagem, de forma a mantera qualidade <strong>do</strong> processo de ensino, bem <strong>com</strong>o a<strong>com</strong>panhar e avaliar <strong>os</strong> resulta<strong>do</strong>s."(AC)"§ 2 o A<strong>os</strong> aprendizes que concluírem <strong>os</strong> curs<strong>os</strong> de aprendizagem, <strong>com</strong>aproveitamento, será concedi<strong>do</strong> certifica<strong>do</strong> de qualificação profissional." (AC)"§ 3 o O Ministério <strong>do</strong> Trabalho e Emprego fixará normas <strong>para</strong> avaliação da<strong>com</strong>petência das entidades mencionadas no inciso II deste artigo." (AC)


223"Art. 431. A contratação <strong>do</strong> aprendiz poderá ser efetivada pela empresa onde serealizará a aprendizagem ou pelas entidades mencionadas no inciso II <strong>do</strong> art. 430,caso em que não gera vínculo de emprego <strong>com</strong> a empresa toma<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>s serviç<strong>os</strong>."(NR)"a) revogada;""b) revogada;""c) revogada.""Parágrafo único." (VETADO)"Art. 432. A duração <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong> aprendiz não excederá de seis horas diárias,sen<strong>do</strong> vedadas a prorrogação e a <strong>com</strong>pensação de jornada." (NR)"§ 1 o O limite previsto neste artigo poderá ser de até oito horas diárias <strong>para</strong> <strong>os</strong>aprendizes que já tiverem <strong>com</strong>pleta<strong>do</strong> o ensino fundamental, se nelas forem<strong>com</strong>putadas as horas destinadas à aprendizagem teórica." (NR)"§ 2 o Revoga<strong>do</strong>.""Art. 433. O contrato de aprendizagem extinguir-se-á no seu termo ou quan<strong>do</strong> oaprendiz <strong>com</strong>pletar dezoito an<strong>os</strong>, ou ainda antecipadamente nas seguinteshipóteses:" (NR)"a) revogada;""b) revogada.""I – desempenho insuficiente ou inadaptação <strong>do</strong> aprendiz;" (AC)"II – falta disciplinar grave;" (AC)"III – ausência injustificada à escola que implique perda <strong>do</strong> ano letivo; ou" (AC)"IV – a pedi<strong>do</strong> <strong>do</strong> aprendiz." (AC)"Parágrafo único. Revoga<strong>do</strong>.""§ 2 o Não se aplica o disp<strong>os</strong>to n<strong>os</strong> arts. 479 e 480 desta Consolidação às hipótesesde extinção <strong>do</strong> contrato mencionadas neste artigo." (AC)Art. 2o O art. 15 da Lei n o 8.036, de 11 de maio de 1990, passa a vigorar acresci<strong>do</strong><strong>do</strong> seguinte § 7 o :"§ 7 o Os contrat<strong>os</strong> de aprendizagem terão a alíquota a que se refere o caput desteartigo reduzida <strong>para</strong> <strong>do</strong>is por cento." (AC)


224Art. 3o São revoga<strong>do</strong>s o art. 80, o § 1 o <strong>do</strong> art. 405, <strong>os</strong> arts. 436 e 437 daConsolidação das Leis <strong>do</strong> Trabalho – CLT, aprovada pelo Decreto-Lei n o 5.452, de1 o de maio de 1943.Art. 4o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.MENSAGEM Nº 1.899, DE 19.12.2000.Senhor Presidente <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> Federal,Comunico a V<strong>os</strong>sa Excelência que, n<strong>os</strong> term<strong>os</strong> <strong>do</strong> parágrafo 1o <strong>do</strong> artigo 66 daConstituição Federal, decidi vetar parcialmente, por contrariar o interesse público, oProjeto de Lei no 74, de 2000 (no 2.845/00 na Câmara <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s), que "Alteradisp<strong>os</strong>itiv<strong>os</strong> da Consolidação das Leis <strong>do</strong> Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Leino 5.452, de 1o de maio de 1943".Ouvi<strong>do</strong>, o Ministério <strong>do</strong> Trabalho e Emprego assim se manifestou so<strong>br</strong>e o disp<strong>os</strong>itivoa seguir veta<strong>do</strong>:Parágrafo único <strong>do</strong> art. 431."Art. 431.................................... ""................................................. ""Parágrafo único. O inadimplemento das o<strong>br</strong>igações trabalhistas por parte daentidade sem fins lucrativ<strong>os</strong> implicará responsabilidade da empresa onde se realizara aprendizagem quanto às o<strong>br</strong>igações relativas ao perío<strong>do</strong> em que o menor esteve asua disp<strong>os</strong>ição." (NR)Razões <strong>do</strong> veto"É manifesta a incoerência entre o disp<strong>os</strong>to no caput <strong>do</strong> art. 431 - que admite acontratação por intermédio da entidade sem fins lucrativ<strong>os</strong>, estabelecen<strong>do</strong> que,neste caso, não haverá vínculo de emprego <strong>com</strong> o toma<strong>do</strong>r de serviço - e a regraprevista no parágrafo único, que transfere a responsabilidade <strong>para</strong> o toma<strong>do</strong>r deserviço caso a entidade contratante não cumpra as o<strong>br</strong>igações trabalhistas.Ora, não faz senti<strong>do</strong> admitir a contratação por entidade interp<strong>os</strong>ta, sem vínculo deemprego <strong>com</strong> o toma<strong>do</strong>r <strong>do</strong> serviço, e con<strong>com</strong>itantemente transferir <strong>para</strong> o toma<strong>do</strong>r


225<strong>do</strong> serviço a responsabilidade decorrente da contratação.Por outro la<strong>do</strong>, a supressão <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> parágrafo único não acarretará qualquerprejuízo a<strong>os</strong> trabalha<strong>do</strong>res, pois é pacífico o entendimento <strong>do</strong> Tribunal Superior <strong>do</strong>Trabalho no senti<strong>do</strong> de que o inadimplemento das o<strong>br</strong>igações trabalhistas, por parte<strong>do</strong> emprega<strong>do</strong>r, implica na responsabilidade subsidiária <strong>do</strong> toma<strong>do</strong>r de serviç<strong>os</strong>(Enuncia<strong>do</strong> nº 331 <strong>do</strong> TST)."Estas, Senhor Presidente, as razões que me levaram a vetar o disp<strong>os</strong>itivo acimamenciona<strong>do</strong> <strong>do</strong> projeto em causa, as quais ora submeto à elevada apreciação <strong>do</strong>sSenhores Mem<strong>br</strong><strong>os</strong> <strong>do</strong> Congresso Nacional.Brasília, 19 de dezem<strong>br</strong>o de 2000.


ANEXO B – Autorização <strong>do</strong> Comitê de Ética226


159

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