estresse ocupacional, estratégia de enfrentamento e ... - Ppga.com.br
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Rita <strong>de</strong> Cássia Marinho<<strong>br</strong> />
ESTRESSE OCUPACIONAL, ESTRATÉGIA DE<<strong>br</strong> />
ENFRENTAMENTO E SÍNDROME DE BURNOUT: UM<<strong>br</strong> />
ESTUDO EM HOSPITAL PRIVADO<<strong>br</strong> />
Taubaté - SP<<strong>br</strong> />
2005
Rita <strong>de</strong> Cássia Marinho<<strong>br</strong> />
ESTRESSE OCUPACIONAL, ESTRATÉGIA DE<<strong>br</strong> />
ENFRENTAMENTO E SÍNDROME DE BURNOUT: UM<<strong>br</strong> />
ESTUDO EM HOSPITAL PRIVADO<<strong>br</strong> />
Dissertação apresentada para obtenção do Título<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> Mestre pelo Curso <strong>de</strong> Mestrado em Gestão e<<strong>br</strong> />
Desenvolvimento Regional do Departamento <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Economia, Contabilida<strong>de</strong> e Administração da<<strong>br</strong> />
Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Taubaté.<<strong>br</strong> />
Área <strong>de</strong> Concentração: Gestão <strong>de</strong> Pessoas<<strong>br</strong> />
Orientadora: Profª.Drª.Edna M.Q. Oliveira Chamon<<strong>br</strong> />
Taubaté - SP<<strong>br</strong> />
2005
Ficha catalográfica elaborada pelo<<strong>br</strong> />
SIBi – Sistema Integrado <strong>de</strong> Bibliotecas / UNITAU<<strong>br</strong> />
M338e<<strong>br</strong> />
Marinho, Rita <strong>de</strong> Cássia<<strong>br</strong> />
Estresse <strong>ocupacional</strong>, <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> e Síndrome <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Burnout: um estudo em hospital privado / Rita <strong>de</strong> Cássia Marinho. - -<<strong>br</strong> />
Taubaté: UNITAU, 2005.<<strong>br</strong> />
118f. : il.<<strong>br</strong> />
Orientadora: Edna Maria Querido Chamon<<strong>br</strong> />
Dissertação (Mestrado) – Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Taubaté. Departamento <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Economia, Contabilida<strong>de</strong> e Administração, 2005.<<strong>br</strong> />
1. Estresse <strong>ocupacional</strong>. 2. Estratégia <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> - Coping.<<strong>br</strong> />
3. Síndrome <strong>de</strong> Burnout. 4. Enfermagem - Equipe. 5. Gestão e<<strong>br</strong> />
Desenvolvimento Regional – Dissertação. I. Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Taubaté.<<strong>br</strong> />
Departamento <strong>de</strong> Economia, Contabilida<strong>de</strong> e Administração. II. Chamon,<<strong>br</strong> />
Edna Maria Querido (orient.). III. Título.
Rita <strong>de</strong> Cássia Marinho<<strong>br</strong> />
ESTRESSE OCUPACIONAL, ESTRATÉGIA DE ENFRENTAMENTO E SÍNDROME<<strong>br</strong> />
DE BURNOUT: UM ESTUDO EM HOSPITAL PRIVADO<<strong>br</strong> />
UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ, TAUBATÉ, SP<<strong>br</strong> />
Data: 09 <strong>de</strong> a<strong>br</strong>il <strong>de</strong> 2005.<<strong>br</strong> />
Resultado: Aprovada <strong>com</strong> louvor.<<strong>br</strong> />
COMISSÃO JULGADORA<<strong>br</strong> />
Profa. Dra. Edna Maria Querido <strong>de</strong> Oliveira Chamon.<<strong>br</strong> />
Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Taubaté<<strong>br</strong> />
Assinatura _____________________________________________________<<strong>br</strong> />
Profa. Dra. Marilsa <strong>de</strong> Sá Rodrigues Ta<strong>de</strong>ucci<<strong>br</strong> />
Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Taubaté<<strong>br</strong> />
Assinatura _____________________________________________________<<strong>br</strong> />
Profa. Dra. Maria Isabel Geraldi Pizzato<<strong>br</strong> />
Open University, Inglaterra<<strong>br</strong> />
Assinatura _____________________________________________________
Dedico este trabalho ao meu<<strong>br</strong> />
filho, Rodrigo, na tentativa <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>spertar seu interesse para os<<strong>br</strong> />
prazeres que encontramos na<<strong>br</strong> />
busca do conhecimento.<<strong>br</strong> />
À minha mãe, que me ensinou que basta<<strong>br</strong> />
um sonho e a crença <strong>de</strong> que é possível<<strong>br</strong> />
realizá-lo.<<strong>br</strong> />
Ao meu pai que, diante das dificulda<strong>de</strong>s, me<<strong>br</strong> />
lem<strong>br</strong>ava <strong>com</strong> suas palavras simples que a<<strong>br</strong> />
tendência da noite é clarear <strong>com</strong> a chegada<<strong>br</strong> />
da madrugada.
AGRADECIMENTOS<<strong>br</strong> />
O<strong>br</strong>igada................................................ à família Chamon, pelo exemplo e carinho<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>o pessoas e mestres e pela<<strong>br</strong> />
disponibilida<strong>de</strong> dos rapazes Paulo e Luís.<<strong>br</strong> />
O<strong>br</strong>igada................................................ à profª. Marilsa, sempre tão interessada.<<strong>br</strong> />
O<strong>br</strong>igada................................................ à profª. Gladis, pelo apoio e incentivo<<strong>br</strong> />
O<strong>br</strong>igada................................................ à profª. Isabel, pela disponibilida<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
O<strong>br</strong>igada................................................ ao Profº. Edson pela serieda<strong>de</strong> e rigor no<<strong>br</strong> />
seu propósito.<<strong>br</strong> />
O<strong>br</strong>igada................................................ ao Profº. Mauro, pela sua <strong>com</strong>preensão.<<strong>br</strong> />
aos professores: Val<strong>de</strong>vino, Chaves, Maria<<strong>br</strong> />
Julia, Vera, Delfina, Hilda, Marilsa,<<strong>br</strong> />
Francisco, Chamon que, <strong>de</strong> forma direta,<<strong>br</strong> />
participaram da construção <strong>de</strong>sta<<strong>br</strong> />
dissertação e, em especial, à Profª. Edna,<<strong>br</strong> />
minha orientadora.<<strong>br</strong> />
O<strong>br</strong>igada................................................ ao colega Jean, pela contribuição.<<strong>br</strong> />
O<strong>br</strong>igada................................................ às pessoas que respon<strong>de</strong>ram a pesquisa<<strong>br</strong> />
O<strong>br</strong>igada................................................ às pessoas amigas da turma 4.<<strong>br</strong> />
O<strong>br</strong>igada................................................ às pessoas muito amigas e carinhosas:<<strong>br</strong> />
Vilma e Leonardo Soares, e seus filhos<<strong>br</strong> />
Rodrigo e Fabiano.<<strong>br</strong> />
O<strong>br</strong>igada................................................ Aos meus queridos Rodrigo Maculan e<<strong>br</strong> />
Daniela Estrela.<<strong>br</strong> />
Muito o<strong>br</strong>igada....................................... A Deus, que permitiu que eu me fizesse<<strong>br</strong> />
mestre, que me privilegiou <strong>com</strong> a família<<strong>br</strong> />
que tenho e que colocou todas essas<<strong>br</strong> />
pessoas especiais neste meu momento <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
vida, ajudando a realizar este sonho.
Nunca te <strong>de</strong>tenhas<<strong>br</strong> />
Tem sempre presente<<strong>br</strong> />
que a pele se enruga,<<strong>br</strong> />
que o cabelo se torna <strong>br</strong>anco,<<strong>br</strong> />
que os dias se convertem em anos,<<strong>br</strong> />
mas o mais importante não muda !<<strong>br</strong> />
Tua força interior e tuas convicções não têm ida<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
Teu espírito é o espanador <strong>de</strong> qualquer teia <strong>de</strong> aranha.<<strong>br</strong> />
Atrás <strong>de</strong> cada linha <strong>de</strong> chegada, há uma <strong>de</strong> partida.<<strong>br</strong> />
Atrás <strong>de</strong> cada trunfo, há outro <strong>de</strong>safio.<<strong>br</strong> />
Enquanto estiveres vivo, sente-te vivo.<<strong>br</strong> />
Se sentes sauda<strong>de</strong>s do que fazias, torna a fazê-lo.<<strong>br</strong> />
Não vivas <strong>de</strong> fotografias amareladas.<<strong>br</strong> />
Continua, apesar <strong>de</strong> alguns esperarem que abandones.<<strong>br</strong> />
Não <strong>de</strong>ixes que se enferruje o ferro que há em você.<<strong>br</strong> />
Faz <strong>com</strong> que em lugar <strong>de</strong> pena, te respeitem.<<strong>br</strong> />
Quando pelos anos não consigas correr, trota.<<strong>br</strong> />
Quando não possas trotar, caminha.<<strong>br</strong> />
Quando não possas caminhar, usa bengala.<<strong>br</strong> />
Mas nunca te <strong>de</strong>tenhas!<<strong>br</strong> />
( Madre Teresa <strong>de</strong> Calcutá)
MARINHO, Rita <strong>de</strong> Cássia. Estresse Ocupacional, Estratégia <strong>de</strong> Enfrentamento e<<strong>br</strong> />
Síndrome <strong>de</strong> Burnout: um estudo em hospital privado. 2005. 120 f. Dissertação<<strong>br</strong> />
(Mestrado em Gestão e Desenvolvimento Regional) – Departamento <strong>de</strong> Economia,<<strong>br</strong> />
Contabilida<strong>de</strong>, Administração e Secretariado Executivo, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Taubaté,<<strong>br</strong> />
Taubaté.<<strong>br</strong> />
RESUMO<<strong>br</strong> />
Este estudo teve <strong>com</strong>o objetivos: (a) i<strong>de</strong>ntificar o <strong>estresse</strong> <strong>ocupacional</strong> e suas<<strong>br</strong> />
manifestações nos profissionais da equipe <strong>de</strong> enfermagem que atuam em um hospital<<strong>br</strong> />
privado, (b) conhecer as <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> (coping) <strong>de</strong>ssa população, e (c)<<strong>br</strong> />
avaliar os níveis <strong>de</strong> exaustão emocional, <strong>de</strong>spersonalização e diminuição da<<strong>br</strong> />
realização pessoal para i<strong>de</strong>ntificação da Síndrome <strong>de</strong> Burnout nos sujeitos<<strong>br</strong> />
pesquisados. Além disso, também foi proposto um refinamento da classificação <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
níveis <strong>de</strong> Burnout. A amostra foi <strong>com</strong>posta por 96 profissionais da equipe <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
enfermagem <strong>de</strong> um hospital privado que se situa na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, Brasil.<<strong>br</strong> />
Questionários estruturados foram respondidos por sujeitos <strong>com</strong> mais <strong>de</strong> um ano <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
vínculo <strong>com</strong> a instituição hospitalar. Na equipe, <strong>com</strong>posta por enfermeiros, técnicos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
enfermagem e auxiliares <strong>de</strong> enfermagem evi<strong>de</strong>nciou-se o predomínio <strong>de</strong> mulheres<<strong>br</strong> />
(83,3%) maduras, <strong>com</strong> mais <strong>de</strong> 34 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, mais <strong>de</strong> 12 anos na profissão e no<<strong>br</strong> />
hospital e nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> médio e superior. Os sujeitos foram submetidos ao<<strong>br</strong> />
MBI (Maslach Burnout Inventory), à ETS (Escala Toulousaine <strong>de</strong> Stress) e à ETC<<strong>br</strong> />
(Escala Toulousaine <strong>de</strong> Coping). A partir da análise dos resultados obtidos foram<<strong>br</strong> />
i<strong>de</strong>ntificados 13,5% dos sujeitos <strong>com</strong> níveis altos <strong>de</strong> Burnout e 53,1% <strong>com</strong> níveis<<strong>br</strong> />
mo<strong>de</strong>rados. Verificou-se que 24% dos sujeitos apresentam níveis <strong>de</strong> <strong>estresse</strong> acima<<strong>br</strong> />
dos valores médios da escala e que 34% estão acima dos valores médios da<<strong>br</strong> />
população <strong>br</strong>asileira. Quanto às <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> verificou-se que: a<<strong>br</strong> />
<strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> recusa (ignorar o problema ou a situação) apresenta níveis muito<<strong>br</strong> />
maiores que os valores médios da população <strong>br</strong>asileira e é mais acentuada entre os<<strong>br</strong> />
auxiliares <strong>de</strong> enfermagem, o controle é utilizado pela maioria dos pesquisados<<strong>br</strong> />
(97,9%), juntamente <strong>com</strong> o apoio social <strong>com</strong> 91,6%. Finalmente, observou-se que as<<strong>br</strong> />
manifestações do <strong>estresse</strong> psicofisiológicas e <strong>de</strong> temporalida<strong>de</strong> foram as mais<<strong>br</strong> />
expressivas e que os níveis <strong>de</strong> <strong>estresse</strong> global são maiores entre os solteiros.<<strong>br</strong> />
Palavras-chave: Estresse <strong>ocupacional</strong>, <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong>, coping,<<strong>br</strong> />
síndrome <strong>de</strong> burnout, <strong>estresse</strong>, enfermeira.
MARINHO, Rita <strong>de</strong> Cássia. Occupational Stress, Coping Strategy and Burnout<<strong>br</strong> />
Syndrome. A study in a private hospital. 2005. 120 p. Dissertation (Master in<<strong>br</strong> />
Management and Regional Development) – Department of Economics, Accounting,<<strong>br</strong> />
Administration, University of Taubaté, Taubaté, BRAZIL.<<strong>br</strong> />
ABSTRACT<<strong>br</strong> />
The purpose of the present study was the investigation of occupational stress, the<<strong>br</strong> />
coping strategy and the levels of burnout syndrome among members of a nursing team<<strong>br</strong> />
working in a private Hospital in São Paulo, Brazil. This study also inten<strong>de</strong>d to <strong>de</strong>tect<<strong>br</strong> />
possible coping strategies employed by the individuals. The participants were 96<<strong>br</strong> />
workers including nurses, technicians, and auxiliary people. The MBI (Malach Burnout<<strong>br</strong> />
Inventory), the ETS (Echelle Toulousaine <strong>de</strong> Stress) and the ETC (Echelle Toulousaine<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> Coping) were used to collect the data. Result analysis shows a consi<strong>de</strong>rable<<strong>br</strong> />
proportion of high (13.5%) and mo<strong>de</strong>rate (53.1%) level of Burnout Syndrome in the<<strong>br</strong> />
sample. About 24% of the sample presents stress level above the mathematical<<strong>br</strong> />
average of the scale and 34% above the Brazilian average. Consi<strong>de</strong>ring coping<<strong>br</strong> />
strategies, refuse strategy (ignore the problem or the situation) presents a much higher<<strong>br</strong> />
level in the sample <strong>com</strong>pared with the Brazilian average. Finally, it was noted a higher<<strong>br</strong> />
stress level among the bachelors and a higher refuse coping strategy among the<<strong>br</strong> />
auxiliary people.<<strong>br</strong> />
Key words: Occupational stress, coping, burnout syndrome, stress, nurse.
SUMÁRIO<<strong>br</strong> />
Resumo............................................................................................................. 6<<strong>br</strong> />
Abstract............................................................................................................. 7<<strong>br</strong> />
Lista <strong>de</strong> Tabelas................................................................................................ 10<<strong>br</strong> />
Lista <strong>de</strong> Figuras................................................................................................ 11<<strong>br</strong> />
Lista <strong>de</strong> Quadros.............................................................................................. 12<<strong>br</strong> />
1 Introdução<<strong>br</strong> />
1.1 Justificando o problema............................................................................. 13<<strong>br</strong> />
1.2 Objetivos.................................................................................................... 15<<strong>br</strong> />
1.3 Hipóteses................................................................................................... 16<<strong>br</strong> />
1.4 O Locus para Investigação........................................................................ 17<<strong>br</strong> />
1.5 Relevância do Estudo............................................................................... 17<<strong>br</strong> />
1.6 Organização do Trabalho.......................................................................... 18<<strong>br</strong> />
2 Origem da Enfermagem<<strong>br</strong> />
2.1 As raízes da Profissão............................................................................... 19<<strong>br</strong> />
2.2 A Enfermagem Mo<strong>de</strong>rna........................................................................... 23<<strong>br</strong> />
2.3 História da Enfermagem no Brasil............................................................. 28<<strong>br</strong> />
2.4 O Ensino <strong>de</strong> Enfermagem no Brasil.......................................................... 30<<strong>br</strong> />
2.5 A Enfermagem <strong>de</strong> hoje.............................................................................. 31<<strong>br</strong> />
3 Estresse<<strong>br</strong> />
3.1. I<strong>de</strong>ntificando o <strong>estresse</strong> na antigüida<strong>de</strong>................................................... 37<<strong>br</strong> />
3.2 Homeostase – a fisiologia explicando o <strong>estresse</strong>...................................... 38<<strong>br</strong> />
3.3 O “insight” <strong>de</strong> Selye................................................................................... 39<<strong>br</strong> />
3.4 Conceito <strong>de</strong> Estresse................................................................................ 40<<strong>br</strong> />
3.5 Fases do processo <strong>de</strong> <strong>estresse</strong>................................................................. 40<<strong>br</strong> />
3.6 Causas do <strong>estresse</strong>................................................................................... 46<<strong>br</strong> />
3.7 Sintomas do <strong>estresse</strong>................................................................................ 48<<strong>br</strong> />
3.8 Estresse <strong>ocupacional</strong>................................................................................ 48<<strong>br</strong> />
3.9 Estratégias <strong>de</strong> Enfrentamento.(Coping).................................................... 51<<strong>br</strong> />
3.9.1 Mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> coping.......................................................................... 54<<strong>br</strong> />
3.9.2 Estilos <strong>de</strong> coping.............................................................................. 57<<strong>br</strong> />
4 Síndrome <strong>de</strong> Burnout<<strong>br</strong> />
4.1 Definição................................................................................................... 62<<strong>br</strong> />
4.2 Burnout e a Enfermagem.......................................................................... 67<<strong>br</strong> />
4.3 Burnout – uma <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong>fensiva......................................................... 70
5 Materiais e Métodos<<strong>br</strong> />
5.1 Proposição metodológica ......................................................................... 72<<strong>br</strong> />
5.2 Instrumentos <strong>de</strong> Coleta <strong>de</strong> Dados............................................................. 73<<strong>br</strong> />
5.2.1 Descrição do Inventário <strong>de</strong> Burnout................................................. 73<<strong>br</strong> />
5.2.2 Descrição da Escala <strong>de</strong> Estresse..................................................... 77<<strong>br</strong> />
5.2.3.Descrição da Escala <strong>de</strong> Estratégias <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong>.................... 78<<strong>br</strong> />
5.3 População.................................................................................................. 82<<strong>br</strong> />
5.4 Amostra..................................................................................................... 82<<strong>br</strong> />
5.5 Coleta <strong>de</strong> dados........................................................................................ 82<<strong>br</strong> />
5.6 Tratamento dos dados............................................................................... 83<<strong>br</strong> />
6 Resultados e Discussão<<strong>br</strong> />
6.1. Perfil sócio-<strong>de</strong>mográfico dos sujeitos...................................................... 84<<strong>br</strong> />
6.2 Análise dos questionários......................................................................... 90<<strong>br</strong> />
6.3 Resultados específicos............................................................................. 91<<strong>br</strong> />
6.4 Relação <strong>com</strong> variáveis <strong>de</strong>mográficas....................................................... 106<<strong>br</strong> />
6.5 Correlação entre burnout <strong>estresse</strong> e <strong>enfrentamento</strong>................................. 108<<strong>br</strong> />
7 Conclusões.................................................................................................... 111<<strong>br</strong> />
Referências....................................................................................................... 115<<strong>br</strong> />
Anexos............................................................................................................... 118
LISTA DE TABELAS<<strong>br</strong> />
Tabela 1 Coerência interna das escalas utilizadas......................................... 90<<strong>br</strong> />
Tabela 2 Medida da coerência interna <strong>de</strong> Pizatto (2001) e Lautert (1997)..... 90<<strong>br</strong> />
Tabela 3 Característica da amostra para as manifestações do <strong>estresse</strong>........ 95<<strong>br</strong> />
Tabela 4 Resultado <strong>de</strong> Pizatto (2001) para o <strong>estresse</strong>................................... 95<<strong>br</strong> />
Tabela 5 Resultado <strong>de</strong> Pizatto (2001) para Estratégias <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong>..... 100<<strong>br</strong> />
Tabela 6 Características da amostra para as <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong>.. 100<<strong>br</strong> />
Tabela 7 Demonstrativo dos valores atingidos nas sub escalas da SB.......... 103<<strong>br</strong> />
Tabela 8 Representação dos níveis obtidos para a síndrome <strong>de</strong> burnout...... 104<<strong>br</strong> />
Tabela 9 .Relação do <strong>de</strong>sgaste emocional <strong>com</strong> grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> ........... 106<<strong>br</strong> />
Tabela 10 Relação do <strong>de</strong>sgaste emocional <strong>com</strong> categoria profissional ........... 107<<strong>br</strong> />
Tabela 11 Relação do <strong>estresse</strong> psicológico <strong>com</strong> estado civil........................... 107<<strong>br</strong> />
Tabela 12 Relação entre categoria profissional e recusa................................. 108<<strong>br</strong> />
Tabela 13 Correlação entre <strong>estresse</strong> e <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong>............... 109<<strong>br</strong> />
Tabela 14 Correlação entre <strong>estresse</strong> e síndrome <strong>de</strong> burnout........................... 109<<strong>br</strong> />
Tabela 15 Correlação entre <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> e burnout................. 110
LISTA DE FIGURAS<<strong>br</strong> />
Figura 1 Reação <strong>de</strong> Alarme............................................................................... 41<<strong>br</strong> />
Figura 2 Reação <strong>de</strong> Resistência........................................................................ 42<<strong>br</strong> />
Figura 3 Reação <strong>de</strong> Exaustão ........................................................................ 42<<strong>br</strong> />
Figura4 Representação esquemática do <strong>estresse</strong> ........................................... 47<<strong>br</strong> />
Figura 5 Esquema do processo <strong>de</strong> coping........................................................ 61<<strong>br</strong> />
Figura 6 Representação esquemática da síndrome <strong>de</strong> burnout........................ 67<<strong>br</strong> />
Figura 7 Distribuição dos sujeitos segundo o sexo ........................................... 84<<strong>br</strong> />
Figura 8 Distribuição dos sujeitos quanto à ida<strong>de</strong>............................................. 85<<strong>br</strong> />
Figura 9 Representação dos sujeitos quanto ao estado civil............................ 85<<strong>br</strong> />
Figura 10 Distribuição dos pesquisados por categoria profissional. .................. 85<<strong>br</strong> />
Figura 11 Distribuição dos pesquisados quanto ao grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>.......... 86<<strong>br</strong> />
Figura 12 Distribuição dos sujeitos por tempo <strong>de</strong> profissão............................... 86<<strong>br</strong> />
Figura 13 Opção dos enfermeiros no vestibular................................................. 87<<strong>br</strong> />
Figura 14 Distribuição dos sujeitos por tempo <strong>de</strong> hospital................................. 88<<strong>br</strong> />
Figura 15 Freqüência <strong>de</strong> escolha <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atuação dos sujeitos............... 88<<strong>br</strong> />
Figura 16 Distribuição dos sujeitos nas unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> atuação............................. 89<<strong>br</strong> />
Figura 17 Ativida<strong>de</strong>s dos sujeitos fora do horário <strong>de</strong> trabalho ............................ 89<<strong>br</strong> />
Figura 18 Representação gráfica do <strong>estresse</strong> global.......................................... 91<<strong>br</strong> />
Figura 19 Gráfico das manifestações físicas do <strong>estresse</strong>................................... 92<<strong>br</strong> />
Figura 20 Gráfico das manifestações psicológicas do <strong>estresse</strong>.......................... 93<<strong>br</strong> />
Figura 21 Gráfico das manifestações psicofisiológicas do <strong>estresse</strong>.................. 94<<strong>br</strong> />
Figura 22 Gráfico das manifestações <strong>de</strong> temporalida<strong>de</strong> do <strong>estresse</strong> ................ 94<<strong>br</strong> />
Figura 23 Gráfico do controle <strong>com</strong>o <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong>...................... 97<<strong>br</strong> />
Figura 24 Representação do apoio social <strong>com</strong>o <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong>... 97<<strong>br</strong> />
Figura 25 Representação do isolamento <strong>com</strong>o <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong>..... 98<<strong>br</strong> />
Figura 26 Representação da recusa <strong>com</strong>o <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong>............ 99<<strong>br</strong> />
Figura 27 Representação gráfica dos níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>sgaste emocional................. 101<<strong>br</strong> />
Figura 28 Representação gráfica dos níveis para <strong>de</strong>spersonalização ............... 102<<strong>br</strong> />
Figura 29 Representação gráfica dos níveis para realização pessoal.... ........... 103
LISTA DE QUADROS<<strong>br</strong> />
Quadro 1 Demonstrativo dos estilos <strong>de</strong> coping quanto à personalida<strong>de</strong> .......... 58<<strong>br</strong> />
Quadro 2 Demonstrativo dos estilos <strong>de</strong> coping quanto à dimensão da ativida<strong>de</strong> 58<<strong>br</strong> />
Quadro 3 Demonstrativo dos estilos <strong>de</strong> coping quanto à atenção ...................... 59<<strong>br</strong> />
Quadro 4 Representação da pontuação da escala para a síndrome <strong>de</strong> burnout. 75<<strong>br</strong> />
Quadro 5 Demonstrativo para as questões que i<strong>de</strong>ntificam a SB ....................... 76<<strong>br</strong> />
Quadro 6 Demonstrativo das questões que i<strong>de</strong>ntificam manifestações/<strong>estresse</strong> 77<<strong>br</strong> />
Quadro 7 Demonstrativo das questões que i<strong>de</strong>ntificam o coping......................... 78<<strong>br</strong> />
Quadro 8 Demonstrativo da construção teórica da escala <strong>de</strong> coping.................. 80<<strong>br</strong> />
Quadro 9 Processo <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> nas situações <strong>de</strong> <strong>estresse</strong>....................... 81<<strong>br</strong> />
Quadro 10 Demonstrativo da pontuação para a escala <strong>de</strong> <strong>estresse</strong> .................... 91<<strong>br</strong> />
Quadro 11 Demonstrativo da pontuação para as <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong>.. 96<<strong>br</strong> />
Quadro 12 Classificação nas sub-escalas para a síndrome <strong>de</strong> burnout............... 104<<strong>br</strong> />
Quadro 13 Comparativo para refinamento da escala SB (alto -)........................... 105<<strong>br</strong> />
Quadro 14 Comparativo para refinamento da escala SB (mo<strong>de</strong>rado +)................ 105<<strong>br</strong> />
Quadro 15 Comparativo para refinamento da escala SB (mo<strong>de</strong>rado -)................. 106
1 INTRODUÇÃO<<strong>br</strong> />
Muito há que se <strong>de</strong>svendar so<strong>br</strong>e o que<<strong>br</strong> />
sustenta a normalida<strong>de</strong> daqueles que nos<<strong>br</strong> />
hospitais nascem, trabalham, sofrem, vivem e<<strong>br</strong> />
morrem, a<strong>com</strong>panhando o nascimento, o<<strong>br</strong> />
sofrimento e a morte <strong>de</strong> seus semelhantes.<<strong>br</strong> />
Muito se exige <strong>de</strong>stes profissionais que lutam<<strong>br</strong> />
para manter e “ganhar” a vida enquanto salvam<<strong>br</strong> />
vidas. Pouco se faz para auxiliá-los na difícil<<strong>br</strong> />
tarefa <strong>de</strong> ser cuidador (SOBOLL,2001, p.11).<<strong>br</strong> />
1.1 Justificando o Problema<<strong>br</strong> />
A saú<strong>de</strong> do empregado <strong>com</strong>o resultado <strong>de</strong> uma existência saudável, equili<strong>br</strong>ada e<<strong>br</strong> />
harmônica é alvo <strong>de</strong> interesse nas empresas atuais.<<strong>br</strong> />
Esse interesse por uma melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida surge a partir <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
1960, <strong>com</strong> o impacto dos problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>ocupacional</strong> que, em<<strong>br</strong> />
termos financeiros, passam a ser representativos e preocupantes<<strong>br</strong> />
(MARQUES, 2002, p.14-15).<<strong>br</strong> />
As questões que po<strong>de</strong>m interferir na produtivida<strong>de</strong> do homem <strong>de</strong>ntro das empresas,<<strong>br</strong> />
torna-se significativa quando se analisa a problemática sob o ponto <strong>de</strong> vista<<strong>br</strong> />
econômico. “Empregado doente é fator <strong>de</strong> prejuízo”. A preocupação das organizações<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus empregados, é garantia <strong>de</strong> rendimento para a<<strong>br</strong> />
empresa e socieda<strong>de</strong>, sendo impossível ignorar tal fato quando se busca <strong>de</strong>sempenho<<strong>br</strong> />
eficaz. (TAMAYO, 1997, p.2).<<strong>br</strong> />
O ser humano, para concretizar seus projetos <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do trabalho que po<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
ser fonte <strong>de</strong> satisfação ou <strong>de</strong> frustração. Na discussão so<strong>br</strong>e esse assunto emergem<<strong>br</strong> />
diferentes concepções. As que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m o trabalho <strong>com</strong>o esforço, meio <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
subsistência, um mal necessário, uma o<strong>br</strong>igação e até mesmo <strong>com</strong>o castigo e a visão<<strong>br</strong> />
do trabalho <strong>com</strong>o prazer e <strong>com</strong>o forma <strong>de</strong> dignificar o homem (MENDES, 1999, p.27).<<strong>br</strong> />
Assim, as ativida<strong>de</strong>s laborais que garantem a so<strong>br</strong>evivência e <strong>de</strong>terminam a condição<<strong>br</strong> />
social do indivíduo, po<strong>de</strong>, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo das condições em que o trabalho é realizado,<<strong>br</strong> />
tornar-se penosa e dolorosa.<<strong>br</strong> />
Atualmente, o mercado <strong>de</strong> trabalho marcado pela <strong>com</strong>petitivida<strong>de</strong> e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
atualização profissional <strong>de</strong>correntes das mudanças rápidas <strong>de</strong>mais que ocorrem na<<strong>br</strong> />
socieda<strong>de</strong> contemporânea, <strong>de</strong>ixam o homem em situação constante <strong>de</strong> <strong>de</strong>sequilí<strong>br</strong>io
15<<strong>br</strong> />
físico e mental. O <strong>estresse</strong>, processo que a revista Time já <strong>de</strong>screvia <strong>com</strong>o uma<<strong>br</strong> />
epi<strong>de</strong>mia nos anos 80, agrava-se <strong>com</strong> as conseqüências da globalização; agente<<strong>br</strong> />
estressor, que segundo Lipp (1996, p. 243), será uma marca no século XXI.<<strong>br</strong> />
Esse cenário, transportado para o ambiente <strong>de</strong> trabalho fica acrescido do contato <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
tarefas repetitivas, pouco significativas e gratificantes. A falta <strong>de</strong> autonomia e <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
participação nas <strong>de</strong>cisões, as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> reconhecimento e relacionamento <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
os chefes e colegas quando vivenciadas na situação <strong>de</strong> trabalho, causam<<strong>br</strong> />
insatisfações, frustrações e fracassos culminando em sofrimento para o trabalhador. O<<strong>br</strong> />
<strong>estresse</strong> <strong>ocupacional</strong> é observado em todas as partes do mundo <strong>com</strong>o fator <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
interferência na produtivida<strong>de</strong>, causa <strong>de</strong> doenças e até mesmo <strong>de</strong> morte (TAMAYO<<strong>br</strong> />
2002, p. 292; SPECTOR,1997, p. 2; MENDES, 1999 p.19-20). Sendo essas situações<<strong>br</strong> />
laboriais, algumas vezes, insuportáveis e o sofrimento no trabalho impossível para<<strong>br</strong> />
uma pessoa saudável, o trabalhador - na tentativa <strong>de</strong> buscar prazer - condições<<strong>br</strong> />
favoráveis para o seu bem estar, cria <strong>de</strong> forma individual ou coletiva suas próprias<<strong>br</strong> />
formas <strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> (MENDES, 1995 apud. TAMAYO, 1997, p.2-3).<<strong>br</strong> />
Na ativida<strong>de</strong> hospitalar é a equipe <strong>de</strong> enfermagem, <strong>com</strong>andada pela enfermeira, quem<<strong>br</strong> />
a<strong>com</strong>panha o paciente nas suas necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, e a seus familiares, durante<<strong>br</strong> />
todo o tempo <strong>de</strong> hospitalização. Como sustentáculo em todos os setores que<<strong>br</strong> />
envolvem cuidados diretos e indiretos à clientela expõe-se a uma so<strong>br</strong>ecarga <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
trabalho e <strong>de</strong>sgaste que levam seus profissionais a ficarem constantemente sob<<strong>br</strong> />
<strong>estresse</strong>. O papel <strong>de</strong>sta equipe que representa o maior percentual <strong>de</strong> recursos<<strong>br</strong> />
humanos e respon<strong>de</strong> pela qualida<strong>de</strong> da assistência no hospital, proporciona à essa<<strong>br</strong> />
categoria o contato <strong>com</strong> situações que nem sempre são fáceis <strong>de</strong> lidar. O conflito que<<strong>br</strong> />
esses profissionais enfrentam entre a realida<strong>de</strong> do seu trabalho cotidiano e seus i<strong>de</strong>ais<<strong>br</strong> />
e expectativas são, sem dúvida, uma fonte estressora, o que a literatura confirma: Os<<strong>br</strong> />
profissionais <strong>de</strong> enfermagem são susceptíveis aos problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental<<strong>br</strong> />
(TAMAYO, 1997, p.3).<<strong>br</strong> />
A pressão das emergências, as cargas <strong>de</strong> trabalho geralmente pesadas,<<strong>br</strong> />
conseqüentes da baixa remuneração <strong>com</strong> turnos rotativos <strong>de</strong> até três empregos, a<<strong>br</strong> />
falta <strong>de</strong> material hospitalar, o absenteísmo que, na maioria das vezes é alto,<<strong>br</strong> />
acarretando uma proporção ina<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> paciente por profissional e a sensação <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
impotência, são alguns aspectos que vivenciados pelos profissionais da enfermagem<<strong>br</strong> />
provocam ansieda<strong>de</strong>. “O contato direto e indireto <strong>com</strong> a morte, a dor e o sofrimento<<strong>br</strong> />
são <strong>com</strong>uns no serviço <strong>de</strong> enfermagem e por isso, o <strong>estresse</strong> aparece <strong>de</strong> forma mais
16<<strong>br</strong> />
freqüente e <strong>com</strong> maior intensida<strong>de</strong>” (SOBOLL, 2001, p.2). Essa situação vivenciada no<<strong>br</strong> />
cotidiano hospitalar, <strong>com</strong>um para todos <strong>de</strong>sta categoria profissional, ao longo do<<strong>br</strong> />
tempo, po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar o <strong>de</strong>senvolvimento da síndrome <strong>de</strong> burnout que é<<strong>br</strong> />
conhecida <strong>com</strong>o a “síndrome do cuidador <strong>de</strong>scuidado” ou do “assistente <strong>de</strong>sassistido”<<strong>br</strong> />
(GEPEB, 2003, p.1). Consi<strong>de</strong>rada <strong>com</strong>o conseqüência do <strong>estresse</strong> laboral crônico,<<strong>br</strong> />
esse quadro provoca no indivíduo uma sensação <strong>de</strong> esgotamento, <strong>de</strong> perda <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
energia e da <strong>de</strong>svalorização da sua <strong>com</strong>petência <strong>de</strong>ixando o trabalhador menos<<strong>br</strong> />
humano e <strong>de</strong>s<strong>com</strong>prometido <strong>com</strong> seus pacientes.<<strong>br</strong> />
Linhares, discutindo Dejours, explica <strong>com</strong>o esse autor i<strong>de</strong>ntificou em estudos <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
enfermeiros que eles vivenciam no trabalho situações insuportáveis e muitas vezes,<<strong>br</strong> />
insustentáveis <strong>de</strong>vido às pressões do ambiente hospitalar e ao caráter <strong>de</strong> suas<<strong>br</strong> />
ativida<strong>de</strong>s (1994 apud TAMAYO, 1997, p. 3).<<strong>br</strong> />
Queixas <strong>de</strong> cansaço sem explicação, <strong>de</strong> sensação <strong>de</strong> “esvaziamento”, e,<<strong>br</strong> />
principalmente, o excesso <strong>de</strong> crítica <strong>com</strong> o meio ambiente, esta característica que<<strong>br</strong> />
Codo (1999, p.242) aponta <strong>com</strong>o <strong>de</strong>spersonalização – quando o indivíduo coisifica a<<strong>br</strong> />
relação - na síndrome <strong>de</strong> burnout, sempre foram observadas na experiência<<strong>br</strong> />
profissional da autora <strong>com</strong>o lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong> grupo. Sabendo-se que as conseqüências,<<strong>br</strong> />
quando o indivíduo “não mais se importa <strong>com</strong> o outro”, po<strong>de</strong>m ser catastróficas para<<strong>br</strong> />
uma profissão que tem <strong>com</strong>o razão <strong>de</strong> ser o cuidado <strong>com</strong> o ser humano, essa<<strong>br</strong> />
problemática <strong>de</strong>spertou o interesse por este estudo.<<strong>br</strong> />
A proposta <strong>de</strong>ste trabalho consistiu em fazer um estudo <strong>de</strong> caso quantitativo em<<strong>br</strong> />
hospital privado que se localiza na capital <strong>de</strong> São Paulo SP, para conhecer o nível <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>estresse</strong> <strong>ocupacional</strong> e <strong>de</strong> suas manifestações. Sabendo-se que a síndrome <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
burnout <strong>de</strong>senvolve-se quando o indivíduo está exposto à <strong>estresse</strong> <strong>ocupacional</strong><<strong>br</strong> />
prolongado, visou-se i<strong>de</strong>ntificar o quadro sindrômico naqueles profissionais.<<strong>br</strong> />
Consi<strong>de</strong>rando-se que a instalação do <strong>estresse</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> fatores individuais, da<<strong>br</strong> />
vulnerabilida<strong>de</strong> do organismo e da ina<strong>de</strong>quação da forma <strong>de</strong> se enfrentar a situação,<<strong>br</strong> />
preten<strong>de</strong>u-se i<strong>de</strong>ntificar as <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> daquela categoria.
17<<strong>br</strong> />
1.2 Objetivos<<strong>br</strong> />
1.2.1 Objetivo Geral<<strong>br</strong> />
I<strong>de</strong>ntificar as manifestações do <strong>estresse</strong> <strong>ocupacional</strong>, as <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong><<strong>br</strong> />
(coping) e a síndrome <strong>de</strong> burnout em seus três níveis, no trabalho dos profissionais <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
enfermagem.<<strong>br</strong> />
1.2.2 Objetivos Específicos<<strong>br</strong> />
a) Definir o perfil sócio-<strong>de</strong>mográfico dos profissionais da saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>signado<<strong>br</strong> />
enfermeiras 1 , técnicos <strong>de</strong> enfermagem 2 e auxiliares <strong>de</strong> enfermagem`3 nas diferentes<<strong>br</strong> />
Unida<strong>de</strong>s do hospital.<<strong>br</strong> />
b) I<strong>de</strong>ntificar o <strong>estresse</strong> <strong>ocupacional</strong> e suas manifestações consi<strong>de</strong>radas <strong>com</strong>o físicas,<<strong>br</strong> />
psicológicas, psico-fisiológicas e <strong>de</strong> temporalida<strong>de</strong> na equipe <strong>de</strong> enfermagem da<<strong>br</strong> />
Instituição.<<strong>br</strong> />
c) Determinar o nível que os profissionais selecionados para esta pesquisa<<strong>br</strong> />
apresentam para a exaustão emocional, <strong>de</strong>spersonalização e realização pessoal,<<strong>br</strong> />
elementos que caracterizam a síndrome <strong>de</strong> burnout .<<strong>br</strong> />
d) Caracterizar as <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> (coping) utilizadas nas situações <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>estresse</strong> pelos indivíduos pesquisados.<<strong>br</strong> />
1.3 Hipóteses<<strong>br</strong> />
• Na organização hospitalar, a equipe <strong>de</strong> enfermagem – seu maior contingente <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
pessoal – é afetada pelo <strong>estresse</strong> <strong>ocupacional</strong><<strong>br</strong> />
1 Enfermeira: utilizado o substantivo no feminino por ser maioria na população estudada. Refere-se à<<strong>br</strong> />
profissional <strong>de</strong> nível universitário responsável pelo planejamento da assistência e coor<strong>de</strong>nação da equipe<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> enfermagem..<<strong>br</strong> />
2 Técnico <strong>de</strong> enfermagem: <strong>com</strong> segundo grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> e formação profissionalizante exerce<<strong>br</strong> />
trabalho na equipe <strong>de</strong> enfermagem a nível <strong>de</strong> execução <strong>de</strong> média <strong>com</strong>plexida<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
`3 Auxiliar <strong>de</strong> enfermagem: Com primeiro grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> e formação profissionalizante exerce<<strong>br</strong> />
ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> natureza repetitiva a nível <strong>de</strong> execução simples.<<strong>br</strong> />
Essa <strong>de</strong>nominação consi<strong>de</strong>rada pelo COREN ( 2 e 3 ) não é diferenciada no hospital pesquisado on<strong>de</strong> técnico<<strong>br</strong> />
e auxiliares <strong>de</strong> enfermagem exercem funções idênticas.
18<<strong>br</strong> />
• Sendo a enfermagem, uma profissão susceptível ao <strong>estresse</strong> e baseada no<<strong>br</strong> />
cuidado do outro, seus profissionais são afetados pela síndrome <strong>de</strong> burnout<<strong>br</strong> />
• O ambiente hospitalar, apesar <strong>de</strong> estressante, po<strong>de</strong> não afetar alguns indivíduos.<<strong>br</strong> />
• Quais as <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> utilizadas pelos profissionais <strong>de</strong> enfermagem<<strong>br</strong> />
nas situações <strong>de</strong> <strong>estresse</strong><<strong>br</strong> />
1.4 O Locus para Investigação<<strong>br</strong> />
Optou-se por um hospital privado, <strong>de</strong> caráter secundário e mediano porte, que aten<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
pacientes <strong>de</strong> seu próprio plano <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e outros convênios e sob a condição <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
paciente particular. Seu quadro <strong>de</strong> pessoal está <strong>com</strong>posto <strong>de</strong> empregados contratados<<strong>br</strong> />
através das Leis trabalhistas e pela cooperativa <strong>de</strong> trabalho. O hospital aten<strong>de</strong> uma<<strong>br</strong> />
clientela <strong>de</strong> nível sócio-econômico médio e alto <strong>com</strong> exceção da Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pediatria<<strong>br</strong> />
que aten<strong>de</strong> também a clientela infantil <strong>de</strong> classes populares proce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> um<<strong>br</strong> />
trabalho social nesta especialida<strong>de</strong>. O <strong>com</strong>plexo hospitalar <strong>com</strong>põe-se <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
internação e alta, serviços <strong>de</strong> apoio e diagnóstico e das especialida<strong>de</strong>s clínica e<<strong>br</strong> />
cirúrgica. Realiza diagnóstico e oferece tratamento para as diferentes patologias<<strong>br</strong> />
através <strong>de</strong> suas equipes <strong>de</strong> médicos permanentes, autônomos e resi<strong>de</strong>ntes, do<<strong>br</strong> />
pessoal <strong>de</strong> enfermagem e dos estagiários <strong>de</strong> diferentes escolas a nível <strong>de</strong> graduação,<<strong>br</strong> />
técnico e auxiliares <strong>de</strong> enfermagem.<<strong>br</strong> />
O pessoal <strong>de</strong> enfermagem está subordinado à gerência <strong>de</strong> enfermagem que é<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>posta das seguintes unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cuidados: Ambulatório e Pronto Atendimento,<<strong>br</strong> />
Centro Cirúrgico e Central <strong>de</strong> Material Esterilizado, Clínica Médico-cirúrgica, Day<<strong>br</strong> />
Clinic 4 , Emergência, Hemodiálise, Oncologia, Semi Intensiva, Pediatria e Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Terapia Intensiva para Adultos e Infantil.<<strong>br</strong> />
1.5 Relevância do Estudo<<strong>br</strong> />
Em termos <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> o <strong>estresse</strong> no mundo e no Brasil ainda é um campo pouco<<strong>br</strong> />
explorado. Segundo Lipp (1999, p.29), as pesquisas que esclareçam os mecanismos<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> atuação do <strong>estresse</strong> na área <strong>ocupacional</strong> po<strong>de</strong>rão contribuir para a profilaxia e a<<strong>br</strong> />
terapêutica <strong>de</strong>sse problema que interfere na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos <strong>br</strong>asileiros.<<strong>br</strong> />
4 Day Clinic: Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stinada a receber pacientes <strong>com</strong> previsão <strong>de</strong> curtíssima permanência no hospital.
19<<strong>br</strong> />
Consi<strong>de</strong>ra-se também que as tarefas <strong>de</strong>senvolvidas pela equipe <strong>de</strong> enfermagem <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
seus conteúdos mórbidos, po<strong>de</strong> ser penosa e gerar em seus profissionais a<<strong>br</strong> />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa para manter o equilí<strong>br</strong>io psíquico. Essas manifestações,<<strong>br</strong> />
quando cristalizadas, po<strong>de</strong>m implicar prejuízo no cuidado <strong>com</strong> o paciente e na<<strong>br</strong> />
alienação das causas do seu sofrimento. A importância do estudo das <strong>estratégia</strong>s<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>fensivas tem sua justificativa tanto sob o ponto <strong>de</strong> vista do sujeito que po<strong>de</strong> ter<<strong>br</strong> />
clareza do seu sofrimento, readaptando-se e realocando investimentos ao tipo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
tarefa que realiza, <strong>com</strong>o do ponto <strong>de</strong> vista da Instituição <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> em relação à<<strong>br</strong> />
qualida<strong>de</strong> dos serviços prestados. As pesquisas apontam que <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfrentamento</strong> para o sofrimento nas funções <strong>de</strong> enfermagem causam distanciamento<<strong>br</strong> />
emocional do paciente e dos familiares e po<strong>de</strong> culminar na valorização dos<<strong>br</strong> />
procedimentos técnicos, o que prejudica a relação profissional-paciente Men<strong>de</strong>s e<<strong>br</strong> />
Linhares (1996 apud MENDES, 1999, p.64).<<strong>br</strong> />
A relevância <strong>de</strong>ste estudo está na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se conhecer as questões que<<strong>br</strong> />
possam interferir no <strong>de</strong>sempenho do trabalho da enfermagem, maior contingente <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
recursos humanos dos hospitais, que buscam cada vez mais o aperfeiçoamento e a<<strong>br</strong> />
qualida<strong>de</strong> dos seus serviços.<<strong>br</strong> />
Através do conhecimento dos níveis <strong>de</strong> <strong>estresse</strong> e suas manifestações, das<<strong>br</strong> />
<strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> e da i<strong>de</strong>ntificação dos níveis para a síndrome <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
burnout, o Hospital po<strong>de</strong>rá direcionar seus programas <strong>de</strong> treinamento para<<strong>br</strong> />
a<strong>com</strong>panhar, tratar e prevenir esses males naqueles e em outros coletivos<<strong>br</strong> />
profissionais diminuindo seus problemas <strong>com</strong> o processo <strong>de</strong> trabalho. Essas ações<<strong>br</strong> />
po<strong>de</strong>m promover a melhoria do atendimento ao cliente e conseqüentemente garantir<<strong>br</strong> />
uma imagem diferenciada junto à <strong>com</strong>unida<strong>de</strong> usuária <strong>de</strong> seus serviços e à opinião<<strong>br</strong> />
pública.<<strong>br</strong> />
1.6 Organização do trabalho<<strong>br</strong> />
Este trabalho distribui-se em sete capítulos para atingir os objetivos propostos dos<<strong>br</strong> />
quais esta Introdução é o primeiro. No segundo capítulo é apresentada a<<strong>br</strong> />
caracterização da enfermagem <strong>com</strong>o profissão. O terceiro capítulo trata do <strong>estresse</strong>,<<strong>br</strong> />
do <strong>estresse</strong> <strong>ocupacional</strong> e das <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> (coping). No quarto<<strong>br</strong> />
capítulo encontram-se as consi<strong>de</strong>rações so<strong>br</strong>e a síndrome <strong>de</strong> burnout, e burnout e<<strong>br</strong> />
enfermagem. No quinto capítulo encontram-se os materiais e métodos on<strong>de</strong> estão<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>monstrados os procedimentos adotados para o <strong>de</strong>senvolvimento da pesquisa. No
20<<strong>br</strong> />
sexto capítulo são encontrados os resultados e discussão, on<strong>de</strong> são apresentados e<<strong>br</strong> />
analisados os questionários aplicados. Finalizando este trabalho, o capítulo sete<<strong>br</strong> />
apresenta as conclusões obtidas <strong>com</strong> esta pesquisa.
2 ORIGEM DA ENFERMAGEM<<strong>br</strong> />
2.1 As raízes da profissão<<strong>br</strong> />
Nas mais remotas eras po<strong>de</strong>mos<<strong>br</strong> />
imaginar a mãe <strong>com</strong>o a primeira<<strong>br</strong> />
enfermeira da família. (PAIXÃO, 1979,<<strong>br</strong> />
p.19).<<strong>br</strong> />
A influência das instituições religiosas e militares na enfermagem tradicional e na<<strong>br</strong> />
mo<strong>de</strong>rna é importante para se enten<strong>de</strong>r esta profissão que, <strong>com</strong>o uma das primeiras<<strong>br</strong> />
formas <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> assistência, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da civilização eram responsáveis<<strong>br</strong> />
pela so<strong>br</strong>evivência do homem e associadas ao trabalho da mulher. Faz-se necessário<<strong>br</strong> />
para se falar do cuidar <strong>de</strong> hoje, resgatar a sua história <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a era cristã até a<<strong>br</strong> />
introdução do capitalismo na Inglaterra, e assim <strong>com</strong>preen<strong>de</strong>r <strong>com</strong>o surgiu e <strong>com</strong>o se<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ram as transformações no processo <strong>de</strong> trabalho da enfermagem (COREN, 2004,<<strong>br</strong> />
p.1; ALMEIDA, 1986, p.36).<<strong>br</strong> />
2.1.1 A igreja e a enfermagem<<strong>br</strong> />
Os i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> fraternida<strong>de</strong>, carida<strong>de</strong>, serviço e auto-sacrifício pregados pelo<<strong>br</strong> />
Cristianismo, <strong>com</strong>o a maior revolução social <strong>de</strong> todos os tempos, <strong>de</strong>ram origem a<<strong>br</strong> />
grupos <strong>de</strong> trabalho cuja função principal era cuidar dos doentes e necessitados. Estes<<strong>br</strong> />
eram recolhidos em casas particulares ou hospitais chamados <strong>de</strong> diaconias e<<strong>br</strong> />
socorridos pelos apóstolos <strong>de</strong> Cristo (DELOUGHERY, 1977 apud ALMEIDA, 1986,<<strong>br</strong> />
p.36). Assim, o Cristianismo trouxe uma visão da enfermida<strong>de</strong> sendo entendida <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />
instrumento <strong>de</strong> remissão dos pecados, <strong>de</strong> fortalecimento da fé e <strong>de</strong> aproximação <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
Cristo. “A<strong>de</strong>mais, aqueles que cuidassem dos enfermos tinham também a<<strong>br</strong> />
oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> salvar a própria alma” (SILVA, 1986, p.20). A influência do espírito<<strong>br</strong> />
cristão, em Roma, levou muitas damas distintas a se <strong>de</strong>dicarem aos po<strong>br</strong>es e<<strong>br</strong> />
enfermos e a transformarem seus palácios em casas <strong>de</strong> carida<strong>de</strong> (PAIXÃO, 1979,<<strong>br</strong> />
p.35).<<strong>br</strong> />
O espírito religioso permaneceu na Ida<strong>de</strong> Média e os cuidados do doente, sob os<<strong>br</strong> />
auspícios da igreja <strong>de</strong>ram origem às or<strong>de</strong>ns militares e seculares (ALMEIDA, 1986,<<strong>br</strong> />
p.37). As or<strong>de</strong>ns militares foram criadas <strong>com</strong> as cruzadas, expedições que sob o<<strong>br</strong> />
símbolo da Cruz e o apoio inconteste da igreja, tinham <strong>com</strong>o objetivo explícito libertar<<strong>br</strong> />
a terra Santa do domínio turco, entre 1096 e 1244 (SILVA, 1986, p.38). Essas<<strong>br</strong> />
organizações, sob a forma religiosa militar, seguiam os i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m, disciplina e
22<<strong>br</strong> />
obediência, fundando hospitais em Jerusalém e leprosários na Europa para<<strong>br</strong> />
atendimento dos peregrinos (PAIXÃO, 1979, p.40). As or<strong>de</strong>ns seculares, eram<<strong>br</strong> />
organizações religiosas <strong>de</strong> leigos (homens e mulheres) no século XII. A or<strong>de</strong>m dos<<strong>br</strong> />
fra<strong>de</strong>s menores ou Franciscanos, que teve <strong>com</strong>o <strong>de</strong>staque São Francisco <strong>de</strong> Assis,<<strong>br</strong> />
não tinha a pretensão <strong>de</strong> cuidar dos doentes, mas <strong>de</strong> viver a perfeição do Evangelho e<<strong>br</strong> />
pregá-lo pelo exemplo e pela palavra, assim, “visitavam hospitais, on<strong>de</strong> além <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
exortar os doentes, davam-lhes banhos, curavam-lhes as chagas e arrumavam-lhes os<<strong>br</strong> />
leitos” (PAIXÃO, 1979, p.37-41; SILVA, 1986, p.39). A segunda or<strong>de</strong>m ou das<<strong>br</strong> />
religiosas, surgiu por solicitação <strong>de</strong> Clara Sciffi, jovem <strong>de</strong> Assis, que queria vida<<strong>br</strong> />
semelhante à dos Fra<strong>de</strong>s. Essas mulheres, chamadas posteriormente <strong>de</strong> Clarissas,<<strong>br</strong> />
impossibilitadas pelos costumes da época <strong>de</strong> gozar da mesma liberda<strong>de</strong> dos fra<strong>de</strong>s,<<strong>br</strong> />
viviam em clausuras, cooperando <strong>com</strong> os doentes que as procuravam, dando-lhes<<strong>br</strong> />
remédios e curando suas feridas (PAIXÃO, 1979, p.41).<<strong>br</strong> />
A or<strong>de</strong>m terceira era constituída por pessoas casadas ou não clericais, que<<strong>br</strong> />
praticavam a perfeição cristã, serviam doentes nos hospitais, acolhiam os<<strong>br</strong> />
abandonados pelas ruas, banhavam leprosos e provi<strong>de</strong>nciavam internação para os<<strong>br</strong> />
doentes mais necessitados, sem <strong>de</strong>ixar seus lares (PAIXÃO, 1979, p.43).<<strong>br</strong> />
As cruzadas no século XII e os trabalhos das Or<strong>de</strong>ns Terceiras, no século XIII,<<strong>br</strong> />
introduziram no serviço hospitalar gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> seculares, muitos <strong>de</strong>les no<strong>br</strong>es,<<strong>br</strong> />
apesar <strong>de</strong> continuar sendo <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> das or<strong>de</strong>ns religiosas. Edifícios<<strong>br</strong> />
grandiosos foram construídos para proporcionar conforto aos doentes, porém, a falta<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> conhecimento dos cuidadores proporcionava uma limpeza precária e um serviço<<strong>br</strong> />
que <strong>de</strong>ixava a <strong>de</strong>sejar (PAIXÃO, 1979, p.47).<<strong>br</strong> />
Até o século XVIII, quem ocupava os hospitais eram os po<strong>br</strong>es e o pessoal <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
enfermagem que cuidava empiricamente dos doentes. A técnica <strong>de</strong> cuidados<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>senvolvida era simples pois estava relacionada ao asseio do paciente, aos cuidados<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> as feridas, ao preparo da alimentação e <strong>de</strong> chás, e à lavagem <strong>de</strong> roupas. “Ações<<strong>br</strong> />
relativas a fazer coisas para trazer o alívio da alma do doente” (ALMEIDA, 1986, p.39).<<strong>br</strong> />
O hospital nessa época, segundo Foucault (1978), ao mesmo tempo que assistia aos<<strong>br</strong> />
po<strong>br</strong>es, era uma instituição <strong>de</strong> separação e exclusão pois ao recolher os enfermos<<strong>br</strong> />
também protegia a socieda<strong>de</strong> dos perigos que eles representavam (apud ALMEIDA,<<strong>br</strong> />
1986, p.39; HISTÓRIA..., 2004, p.4).
23<<strong>br</strong> />
No pré-capitalismo, o espírito monástico e o exercício <strong>de</strong> uma prática leiga <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
enfermagem caracterizou a profissão <strong>com</strong>o um trabalho manual não especializado que<<strong>br</strong> />
a difusão dos hospitais não foi suficiente para engran<strong>de</strong>cer.<<strong>br</strong> />
A enfermagem tem uma história que nasceu vinculada às ativida<strong>de</strong>s domésticas. Sem<<strong>br</strong> />
qualquer conhecimento esotérico; <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e <strong>de</strong> prestígio, esse trabalho<<strong>br</strong> />
estava so<strong>br</strong>etudo a cargo das mulheres, escravos e religiosos (SILVA, 1986, p.41),<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ixando <strong>com</strong>o legado os valores que foram aos poucos legitimados e aceitos pela<<strong>br</strong> />
socieda<strong>de</strong> <strong>com</strong>o características inerentes à profissão: “a abnegação, o espírito <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
serviço, a obediência e outros atributos que dão à enfermagem, não uma conotação<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> prática profissional, mas <strong>de</strong> um sacerdócio” (COREN, 2004, p.2). Além disso, essa<<strong>br</strong> />
prática, consi<strong>de</strong>rada <strong>com</strong>o um serviço doméstico e sob exploração <strong>de</strong>liberada, ficou<<strong>br</strong> />
marcada principalmente, pelo baixo padrão moral <strong>de</strong> seus executantes tornando-se<<strong>br</strong> />
indigna e sem atrativos para as mulheres <strong>de</strong> classe social elevada. Nesse período, a<<strong>br</strong> />
preocupação da enfermagem <strong>com</strong> o bem-estar do paciente, e o “status” <strong>de</strong> todas as<<strong>br</strong> />
enfermeiras caíram em um in<strong>de</strong>scritível nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação. Denominada por vários<<strong>br</strong> />
autores <strong>com</strong>o o período <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte e obscuro da enfermagem “foi aquele referente à<<strong>br</strong> />
última parte do século XVII até a meta<strong>de</strong> do século XIX” (NUTTING & DOCK, 1935<<strong>br</strong> />
apud ALMEIDA, 1986, p.37).<<strong>br</strong> />
A <strong>de</strong>cadência na qualida<strong>de</strong> dos serviços observada já a partir dos fins da ida<strong>de</strong> média<<strong>br</strong> />
acentua-se no período consi<strong>de</strong>rado obscuro da enfermagem. O trabalho que durante<<strong>br</strong> />
muitos séculos foi prestado gratuitamente passou a ser pago, lentamente, e as<<strong>br</strong> />
mulheres que encontravam emprego nos hospitais eram imorais, bêbadas e<<strong>br</strong> />
analfabetas. Ativida<strong>de</strong>s tais <strong>com</strong>o o trabalho da casa, a esfregação e a lavagem <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
roupas eram feitas nos períodos que variavam <strong>de</strong> doze a quarenta e oito horas<<strong>br</strong> />
seguidas, em troca <strong>de</strong> salário e <strong>com</strong>ida exíguos (JAMIESON et al, 1968 apud<<strong>br</strong> />
ALMEIDA, 1986, p.38).<<strong>br</strong> />
Essa crise durou até a revolução capitalista quando alguns movimentos reformadores<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> iniciativas religiosas e sociais, tentaram melhorar as condições do pessoal a serviço<<strong>br</strong> />
dos hospitais. Com as transformações sociais, a prática médica também se transforma<<strong>br</strong> />
medicalizando o espaço hospitalar em sua função e em seus efeitos para dar resposta<<strong>br</strong> />
ao mo<strong>de</strong>lo burguês que, <strong>com</strong>o classe dominante, vai necessitar do corpo <strong>com</strong>o força<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> trabalho cabendo à medicina a sua manutenção e restauração.
24<<strong>br</strong> />
O hospital passa a ser, além <strong>de</strong> instrumento <strong>de</strong> controle social, um instrumento <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
reposição e reprodução da força <strong>de</strong> trabalho para garantia da continuida<strong>de</strong> do ciclo<<strong>br</strong> />
produtivo. A medicina e suas técnicas preenchem os espaços no interior dos hospitais<<strong>br</strong> />
que não mais a<strong>br</strong>igam mendigos mas os produtivos, <strong>de</strong>terminando as relações e a<<strong>br</strong> />
divisão do trabalho (SOLER, 1993 apud FABBRO, 1996, p.16).<<strong>br</strong> />
Os i<strong>de</strong>ais do Cristianismo que tinham <strong>com</strong>o função salvar as almas, associam-se,<<strong>br</strong> />
nessa fase, <strong>com</strong> a função <strong>de</strong> disciplinamento dos trabalhadores hospitalares,<<strong>br</strong> />
contribuindo para valorizar o trabalho e principalmente a imagem <strong>de</strong>gradante das<<strong>br</strong> />
mulheres que prestavam os cuidados <strong>de</strong> enfermagem (MEYER, 1995 apud FABBRO,<<strong>br</strong> />
1996, p.30). A presença, agora, indispensável do médico no interior do hospital muda<<strong>br</strong> />
as relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Se antes era o pessoal religioso que <strong>de</strong>tinha o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão<<strong>br</strong> />
so<strong>br</strong>e o hospital, a partir do momento em que o hospital é concebido <strong>com</strong>o instrumento<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> cura e a distribuição do espaço torna-se um instrumento terapêutico, o médico<<strong>br</strong> />
passa a ser o principal responsável pela organização hospitalar (ALMEIDA, 1986,<<strong>br</strong> />
p.45; FABBRO, 1996, p.16).<<strong>br</strong> />
Neste contexto, o saber médico cristaliza-se no topo da hierarquia hospitalar dirigindo<<strong>br</strong> />
todas as práticas advindas da divisão social do trabalho no hospital. Assim, a<<strong>br</strong> />
institucionalização da enfermagem <strong>com</strong>o prática dominada pelo saber médico, surge<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> a finalida<strong>de</strong> principal <strong>de</strong> corrigir a conduta do pessoal que trabalhava nos<<strong>br</strong> />
hospitais, executando o mo<strong>de</strong>lo disciplinar do espaço do doente: ventilação, água,<<strong>br</strong> />
higiene e outros (ALMEIDA, 1986, p.45).<<strong>br</strong> />
As relações <strong>de</strong> dominação-subordinação se estabelecem, e a prática <strong>de</strong> enfermagem,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte passa a ser uma prática <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e subordinada à prática médica.<<strong>br</strong> />
As duas práticas, a médica e a <strong>de</strong> enfermagem, que eram in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, encontramse<<strong>br</strong> />
agora no mesmo espaço geográfico, o espaço hospitalar, e no mesmo espaço<<strong>br</strong> />
social, o do doente (ALMEIDA, 1986, p.40).<<strong>br</strong> />
O trabalho da enfermagem, <strong>com</strong> as mudanças na estrutura social se transforma do<<strong>br</strong> />
mo<strong>de</strong>lo religioso, originário do cristianismo para o vocacional. Tem início o cuidado<<strong>br</strong> />
laico <strong>de</strong> enfermagem que passa a ter o significado <strong>de</strong> arte ou vocação para tornar<<strong>br</strong> />
possível o treinamento <strong>de</strong> alguns agentes (ALMEIDA, 1986, p.45).<<strong>br</strong> />
Na ida<strong>de</strong> média (início do Cristianismo até o feudalismo), a enfermagem era<<strong>br</strong> />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da prática médica, que era não hospitalar e atendia o chamado <strong>de</strong>
25<<strong>br</strong> />
doentes (FABBRO, 1996, p.13). “Medicina e enfermagem tiveram origens<<strong>br</strong> />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e existiram por muitos séculos sem muito contato” (DELONGHERY,<<strong>br</strong> />
1977 apud ALMEIDA, 1986, p.38). As ações <strong>de</strong> enfermagem não pressupunham<<strong>br</strong> />
or<strong>de</strong>ns médicas ou planos terapêuticos. O trabalho médico e <strong>de</strong> enfermagem eram<<strong>br</strong> />
dois trabalhos <strong>com</strong> objetos e objetivos diferentes e as técnicas <strong>de</strong> enfermagem<<strong>br</strong> />
significavam simples procedimentos caseiros, pois o objetivo do cuidado não se ligava<<strong>br</strong> />
ao corpo do doente e nem à sua doença: importava o conforto da alma do paciente<<strong>br</strong> />
para sua salvação e a dos cuidadores (DELONGHERY, 1977 apud ALMEIDA, 1986,<<strong>br</strong> />
p.38).<<strong>br</strong> />
As ações <strong>de</strong> enfermagem <strong>com</strong>o ativida<strong>de</strong> profissional institucionalizada inicia-se <strong>com</strong> a<<strong>br</strong> />
Revolução Industrial no século XVI e culmina <strong>com</strong> o surgimento da enfermagem<<strong>br</strong> />
mo<strong>de</strong>rna na Inglaterra no século XIX (COREN, p.2), tendo <strong>com</strong>o figuras marcantes<<strong>br</strong> />
Ana Justina Ferreira Néri (no Brasil) e Florence Nightingale (na Inglaterra). As<<strong>br</strong> />
condições <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>com</strong> o progresso econômico nessa época eram<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>vastadoras e criaram um campo fértil às práticas assistenciais que, não mais<<strong>br</strong> />
exercidas pelo clero, marcaram a substituição do mo<strong>de</strong>lo religioso pelo mo<strong>de</strong>lo<<strong>br</strong> />
vocacional (FABBRO, 1996, p.28).<<strong>br</strong> />
2.2 A enfermagem mo<strong>de</strong>rna<<strong>br</strong> />
Florence queria estudar enfermagem,<<strong>br</strong> />
não <strong>com</strong>o alguém que segurasse a<<strong>br</strong> />
mão do doente mas que buscasse<<strong>br</strong> />
treinamento e conhecimento<<strong>br</strong> />
(MIRANDA, 1996, p.128).<<strong>br</strong> />
Florence Nightingale é tida <strong>com</strong>o o marco da era da enfermagem mo<strong>de</strong>rna. Nascida<<strong>br</strong> />
em 12 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1820, viveu 90 anos e na sua vida a<strong>com</strong>panhou as gran<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />
mudanças dos séculos XIX e XX, no campo da tecnologia, da ciência, da política e das<<strong>br</strong> />
relações sociais (MIRANDA, 1996, p.121). Era filha <strong>de</strong> família <strong>de</strong> no<strong>br</strong>es ingleses, <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
características <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong> e nível cultural in<strong>com</strong>uns para uma mulher naquela<<strong>br</strong> />
época. Florence se fazia notar pela sua inteligência, obstinação <strong>de</strong> propósitos,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>terminação e perseverança. Dominava <strong>com</strong> facilida<strong>de</strong> o inglês, o francês, o alemão,<<strong>br</strong> />
o italiano, além do grego e latim. Dialogava no mesmo nível <strong>com</strong> políticos e oficiais do<<strong>br</strong> />
exército fazendo prevalecer suas idéias (TURCKIEWICZ, 1980, p.7; MIRANDA; 1996,<<strong>br</strong> />
p.184).
26<<strong>br</strong> />
Florence, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> criança, mostrava-se intolerante <strong>com</strong> as coisas que consi<strong>de</strong>rava<<strong>br</strong> />
pouco importantes, diferenciando-se na adolescência das outras moças pois não<<strong>br</strong> />
aceitava ser apresentada para a socieda<strong>de</strong> a fim <strong>de</strong> constituir família, o que <strong>de</strong>ixava<<strong>br</strong> />
sua mãe em <strong>de</strong>sespero já que esse era o costume da época. Como pessoa<<strong>br</strong> />
socialmente envolvida, embora afastada da realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste mundo, <strong>de</strong>sejava<<strong>br</strong> />
participar dos <strong>de</strong>safios impostos pela revolução industrial. Presenciava as discussões<<strong>br</strong> />
políticas em sua própria casa e sabia da exploração <strong>de</strong> homens e mulheres nas<<strong>br</strong> />
indústrias, <strong>de</strong> suas mortes por fome e por doenças infecto-contagiosas, da exploração<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> crianças que trabalhavam em minas <strong>de</strong> carvão e morriam precocemente. Ela não<<strong>br</strong> />
se conformava em ver o mundo através <strong>de</strong> uma gaiola dourada (MIRANDA, 1996,<<strong>br</strong> />
p.127).<<strong>br</strong> />
Era uma mulher que queria envolver-se publicamente <strong>com</strong> o seu tempo, o que era<<strong>br</strong> />
dificultado pela socieda<strong>de</strong> da época. Com essa visão <strong>de</strong> mundo, e <strong>com</strong> a recusa <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
um pedido <strong>de</strong> casamento, Florence causou uma crise na sua família e foi trabalhar nos<<strong>br</strong> />
cottages – casas <strong>de</strong> pessoas mais po<strong>br</strong>es das áreas rurais – em conjunto <strong>com</strong> um<<strong>br</strong> />
casal <strong>de</strong> americanos ativos na luta contra a escravidão: “sendo ela, envolvida <strong>com</strong> a<<strong>br</strong> />
luta do voto feminino, pela paz e por reformas sociais e, ele, famoso pela experiência<<strong>br</strong> />
exitosa <strong>de</strong> ensinar cegos, surdos e mudos” (MIRANDA, 1996, p.127). Foi para essas<<strong>br</strong> />
pessoas, <strong>com</strong> idéias arrojadas <strong>com</strong> as quais Miss Nightingale se i<strong>de</strong>ntificou, que<<strong>br</strong> />
Florence revelou sua intenção <strong>de</strong> ser enfermeira sendo apoiada <strong>com</strong> veemência<<strong>br</strong> />
(MIRANDA, 1996, p.127).<<strong>br</strong> />
Encorajada, solicitou permissão à família para estagiar no Salisbury Hospital. Os<<strong>br</strong> />
hospitais eram lugares pavorosos, fétidos e som<strong>br</strong>ios, locais <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
muitos leitos e pouco espaço. Seu pedido foi rejeitado <strong>com</strong> firmeza pela sua família<<strong>br</strong> />
pois além da profissão ser particularmente inimaginável para uma mulher distinta<<strong>br</strong> />
naquela época, era in<strong>de</strong>sejável que ela <strong>de</strong>cidisse seus próprios caminhos e buscasse<<strong>br</strong> />
sua in<strong>de</strong>pendência (MIRANDA, 1996, p.129).<<strong>br</strong> />
As nurses no hospital daquele período eram notórias por sua conduta imoral. Mulheres<<strong>br</strong> />
vulgares, velhas, sujas, em<strong>br</strong>iagando-se <strong>com</strong> gim. Prostituídas e sem qualificação<<strong>br</strong> />
profissional envolviam-se <strong>com</strong> as piores irregularida<strong>de</strong>s. Debochadas e ignorantes,<<strong>br</strong> />
não eram pessoas <strong>de</strong> confiança para as mais simples or<strong>de</strong>ns médicas (MIRANDA,<<strong>br</strong> />
1996, p.128-129).
27<<strong>br</strong> />
Com seu pedido <strong>de</strong> estágio negado pela família, Florence a<strong>com</strong>panhou durante muitos<<strong>br</strong> />
anos, informações que lhe possibilitasse habilitar-se para seu objetivo final visitando<<strong>br</strong> />
os gran<strong>de</strong>s hospitais da Europa. Nessa época, trabalhou <strong>com</strong> crianças pouco<<strong>br</strong> />
favorecidas, mas essa não era sua vocação. Seu sonho era ser enfermeira.<<strong>br</strong> />
Sua vocação é contemplada em 1844 quando Florence estuda as ativida<strong>de</strong>s das<<strong>br</strong> />
Irmanda<strong>de</strong>s católicas em Roma e <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> entregar-se a Deus entre diaconisas na<<strong>br</strong> />
Alemanha em 1849. Convencida <strong>de</strong> que seus conhecimentos eram insuficientes para<<strong>br</strong> />
ser enfermeira, visita o hospital <strong>de</strong> Dublin dirigido pelas irmãs <strong>de</strong> misericórdia da<<strong>br</strong> />
Or<strong>de</strong>m Católica <strong>de</strong> enfermeiras (existente há 20 anos) e a Maison <strong>de</strong> la Provi<strong>de</strong>nce em<<strong>br</strong> />
Paris, on<strong>de</strong> faz contato <strong>com</strong> as Irmãs <strong>de</strong> São Vicente <strong>de</strong> Paulo.<<strong>br</strong> />
Em suas numerosas viagens, observou a enfermagem em seu<<strong>br</strong> />
próprio país, na França, na Alemanha, na Áustria e na Itália,<<strong>br</strong> />
publicando estudos <strong>com</strong>parativos das mesmas. Des<strong>de</strong> então,<<strong>br</strong> />
a<strong>com</strong>panhou-a sempre o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> fundar uma escola <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
enfermagem em novas bases. (PAIXÃO, 1979, p.68).<<strong>br</strong> />
Em 1854, Florence, realizando parte <strong>de</strong> seus sonhos segue, a convite do Ministro da<<strong>br</strong> />
Guerra da Inglaterra para Scuttari durante a guerra da Criméia, <strong>de</strong>clarada à Rússia<<strong>br</strong> />
pela França, Inglaterra e Turquia. Sob o <strong>com</strong>ando <strong>de</strong> Florence, que se preocupava<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a organização do trabalho até a limpeza do chão, 38 voluntárias religiosas e<<strong>br</strong> />
leigas, proce<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> diversos hospitais dão assistência aos soldados feridos que se<<strong>br</strong> />
achavam abandonados.<<strong>br</strong> />
O quadro encontrado na guerra incluía jovens (a maioria por volta <strong>de</strong> 15 anos) que<<strong>br</strong> />
literalmente estavam apodrecendo nas macas aguardando assistência <strong>de</strong> qualquer<<strong>br</strong> />
tipo “morrendo <strong>de</strong> fome, <strong>de</strong> infecção, <strong>de</strong> disenteria e <strong>de</strong> cólera” (SIEGEL, 1991 apud<<strong>br</strong> />
MIRANDA, 1996, p.140). Por meio dos cuidados <strong>de</strong> enfermagem a equipe conseguiu<<strong>br</strong> />
diminuir o índice <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 40% para 2% entre os soldados feridos (PAIXÃO,<<strong>br</strong> />
1979, p.69-70).<<strong>br</strong> />
Imortalizada <strong>com</strong>o a Dama da Lâmpada, porque <strong>de</strong> lanterna na mão percorria as<<strong>br</strong> />
enfermarias aten<strong>de</strong>ndo os doentes, era consi<strong>de</strong>rada anjo <strong>de</strong> guarda pelos soldados<<strong>br</strong> />
(PAIXÃO, 1979 p.68; TURCKIEWICZ, 1980, p.8).
28<<strong>br</strong> />
A preocupação <strong>de</strong> Florence <strong>com</strong> a conduta moral das enfermeiras, até então,<<strong>br</strong> />
reconhecidas pela socieda<strong>de</strong> <strong>com</strong>o pessoas <strong>de</strong>squalificadas levou-a a <strong>com</strong>andar<<strong>br</strong> />
aquele grupo <strong>com</strong> muito rigor. Andar à noite pelas enfermarias e sair<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sa<strong>com</strong>panhadas do hospital era rigorosamente proibido. Uniformizadas <strong>com</strong> roupas<<strong>br</strong> />
pesadas e escuras, às enfermeiras não era permitido o uso <strong>de</strong> qualquer adorno que<<strong>br</strong> />
pu<strong>de</strong>sse fazê-las mais bonitas. “Em cartas para as famílias, as enfermeiras<<strong>br</strong> />
queixavam-se <strong>de</strong> que ela era insensível, exigindo obediência cega no lugar <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
explicações so<strong>br</strong>e o regulamento” (MIRANDA, 1996, p.142-43).<<strong>br</strong> />
Em 1856, durante a guerra, Florence contrai tifo e volta da Criméia <strong>com</strong>o inválida<<strong>br</strong> />
passando a <strong>de</strong>dicar-se a trabalhos intelectuais. (RIO DE JANEIRO, 2004, p.3;<<strong>br</strong> />
TURCKIEWICZ, 1980, p.8).<<strong>br</strong> />
Seus dois livros “Notas so<strong>br</strong>e Hospitais” (1858) e Notas so<strong>br</strong>e a<<strong>br</strong> />
Enfermagem (1859) são os mais conhecidos entre suas o<strong>br</strong>as.<<strong>br</strong> />
Escreveu, porém ainda, so<strong>br</strong>e assuntos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e saú<strong>de</strong> pública,<<strong>br</strong> />
principalmente so<strong>br</strong>e a Índia e as condições sanitárias do Exército<<strong>br</strong> />
(PAIXÃO, 1979, p.72).<<strong>br</strong> />
Em 1859, graças ao prêmio recebido do governo Inglês pelos trabalhos na guerra da<<strong>br</strong> />
Criméia, Florence cria uma Escola <strong>de</strong> Enfermagem no Hospital Saint Thomas, <strong>com</strong> o<<strong>br</strong> />
objetivo <strong>de</strong> formar enfermeiras capazes <strong>de</strong> treinar outras enfermeiras, pois acreditava<<strong>br</strong> />
que essa era a única maneira <strong>de</strong> mudar os <strong>de</strong>stinos da enfermagem (TURCKIEWICZ,<<strong>br</strong> />
1980, p.8).<<strong>br</strong> />
As enfermeiras Nigthingale eram formadas para assumir os hospitais e as instituições<<strong>br</strong> />
públicas para neles estabelecer um alto padrão <strong>de</strong> assistência e expor o impacto <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
suas atuações, o que não foi aceito sem muitas críticas no meio médico. Elas<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>veriam ser missionárias e zelar para que nenhum escândalo e nenhuma dúvida<<strong>br</strong> />
pairasse so<strong>br</strong>e uma Nigthingale Nurse. Essa medida visava evitar que a crítica médica<<strong>br</strong> />
retardasse por anos a proposta <strong>de</strong> reforma da profissão <strong>de</strong> enfermeira. Como<<strong>br</strong> />
resultado <strong>de</strong> tanta atenção e controle, para que a candidata se tornasse uma<<strong>br</strong> />
estagiária era necessário uma avaliação minuciosa e era gran<strong>de</strong> a dificulda<strong>de</strong> em<<strong>br</strong> />
encontrar jovens mulheres que se a<strong>de</strong>quassem ao trabalho proposto (MIRANDA,<<strong>br</strong> />
1996, p.150).
29<<strong>br</strong> />
A preocupação <strong>de</strong> Florence <strong>com</strong> a importância <strong>de</strong>ssas jovens mulheres justificava-se<<strong>br</strong> />
pela negação <strong>de</strong> que uma enfermeira <strong>de</strong> hospital tivesse que ser bêbada e promíscua<<strong>br</strong> />
e consi<strong>de</strong>rava que o futuro da enfermagem <strong>de</strong>pendia do <strong>com</strong>portamento <strong>de</strong>las.<<strong>br</strong> />
Preconizou, então, <strong>com</strong>o principais requisitos para as alunas “um mínimo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
condições educacionais e um máximo <strong>de</strong> elevação moral” (BRÊTAS, 1994 apud<<strong>br</strong> />
FABBRO, 1996 p.99) incorporando traços <strong>de</strong> altruísmo, abnegação, pureza, sacrifício<<strong>br</strong> />
e humilda<strong>de</strong>. As mulheres selecionadas e treinadas para serem enfermeiras tinham<<strong>br</strong> />
que abdicar da condição <strong>de</strong> serem mulheres, por isso, namoro era punido <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>missão instantânea. O regime <strong>de</strong> internato implantado por ela, teve <strong>com</strong>o objetivo<<strong>br</strong> />
garantir a preservação e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssa elevação moral.<<strong>br</strong> />
Florence Nightingale torna-se oficialmente fundadora da enfermagem mo<strong>de</strong>rna em<<strong>br</strong> />
1860, <strong>com</strong> a abertura do Nightingale Training School for Nurses at St.Tomas Hospital.<<strong>br</strong> />
A escola a<strong>br</strong>iu <strong>com</strong> quinze alunas que eram avaliadas por um ano, tornando-se<<strong>br</strong> />
nurses, enfermeiras <strong>de</strong> classe inferior para o cuidado direto. Depen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>sta<<strong>br</strong> />
avaliação cursariam mais um ano para tornarem-se lady nurses, enfermeiras <strong>de</strong> classe<<strong>br</strong> />
social elevada para a supervisão do pessoal e também professoras capazes <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
formarem outras enfermeiras (MIRANDA, 1996, p.150-151; FABBRO, 1996, p.99).<<strong>br</strong> />
Em 1871, após reformas, a rainha Vitória inaugurou o atual St. Thomas Hospital, que<<strong>br</strong> />
obe<strong>de</strong>cia ao projeto arquitetural sugerido por Florence. Seu sistema <strong>de</strong> treinamento<<strong>br</strong> />
para enfermeiras espalhou-se posteriormente por quase todos os países do mundo,<<strong>br</strong> />
influindo <strong>de</strong>cididamente a Enfermagem Mo<strong>de</strong>rna.<<strong>br</strong> />
Surge, então, a enfermagem:<<strong>br</strong> />
não mais <strong>com</strong>o uma ativida<strong>de</strong> empírica, <strong>de</strong>svinculada <strong>de</strong> saber<<strong>br</strong> />
especializado, mas <strong>com</strong>o uma ocupação assalariada que vem<<strong>br</strong> />
aten<strong>de</strong>r a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> o<strong>br</strong>a nos hospitais, constituindo-se<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>o uma prática social institucionalizada e específica (COREN,<<strong>br</strong> />
2004, p.3).<<strong>br</strong> />
A ativida<strong>de</strong> institucional da nurse consolida-se legalmente em 1897 quando se inicia<<strong>br</strong> />
em toda a Inglaterra a proibição <strong>de</strong> contratar enfermeiras não qualificadas para o<<strong>br</strong> />
trabalho em enfermarias. (MIRANDA, 1996, p.153).
30<<strong>br</strong> />
Em 13 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1910 morre Florence Nightingale, uma audaciosa mulher que<<strong>br</strong> />
“evi<strong>de</strong>ntemente não inventou a enfermagem mas tinha uma visão singular <strong>de</strong> <strong>com</strong>o ela<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>veria ser” (MIRANDA, 1996, p.153-157). Com seu trabalho, conquistou um espaço<<strong>br</strong> />
profissional e apesar <strong>de</strong> não ter conseguido romper <strong>com</strong> o limite permitido para as<<strong>br</strong> />
mulheres: o doméstico, reforçando a enfermagem <strong>com</strong>o uma extensão do lar,<<strong>br</strong> />
modificou a imagem da enfermeira <strong>com</strong>o bêbada e <strong>de</strong>spreparada, <strong>de</strong>ixando<<strong>br</strong> />
florescente o ensino <strong>de</strong> enfermagem no mundo (MIRANDA, 1996, p.158;<<strong>br</strong> />
GASTALDO& MEYER, 1989 apud FABBRO, 1996 p.99).<<strong>br</strong> />
2.3 História da Enfermagem no Brasil<<strong>br</strong> />
a) Período Colonial<<strong>br</strong> />
O marco da enfermagem no Brasil dá-se <strong>com</strong> a chegada dos jesuítas que na missão<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> catequizar os índios <strong>br</strong>asileiros introduziram novos costumes aos nativos. O uso <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
roupas, imposto pela moral cristã, torna a higienização muito precária pois eles<<strong>br</strong> />
usavam sempre a mesma roupa até que ficassem podres. A alteração do sistema <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
trabalho pelos colonos, a mudança <strong>de</strong> alimentação e <strong>de</strong> <strong>com</strong>portamento contribuíram<<strong>br</strong> />
para a <strong>de</strong>gradação da raça indígena. Os novos hábitos que aumentaram a mortalida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
infantil e contribuíram para o aparecimento <strong>de</strong> novas doenças, influenciaram na<<strong>br</strong> />
disseminação <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mias (HISTÓRIA...., 2004, p.3). Foi a partir <strong>de</strong>ste contexto que<<strong>br</strong> />
se <strong>com</strong>eça a pensar na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguém para cuidar dos enfermos.<<strong>br</strong> />
Des<strong>de</strong> os primórdios da colonização estavam incluídas naquele programa a abertura<<strong>br</strong> />
das Santas Casas que surgiram por volta <strong>de</strong> 1543 (HISTÓRIA..., 2004, p.3).<<strong>br</strong> />
Originárias <strong>de</strong> Portugal acumulavam as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> albergue, orfanato e hospital. Os<<strong>br</strong> />
serviços <strong>de</strong> enfermagem não se registram nas primitivas Santas Casas supondo-se<<strong>br</strong> />
que os jesuítas supervisionassem a prestação <strong>de</strong> serviço voluntário dos fiéis que eles<<strong>br</strong> />
mesmos treinavam; pessoas <strong>com</strong> qualquer nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> que quisesse exercer<<strong>br</strong> />
aquele papel. Podiam participar voluntários leigos e escravos treinados. A utilização do<<strong>br</strong> />
GUIA DO ENFERMEIRO, manual publicado em Portugal era <strong>com</strong>um e um dos motivos<<strong>br</strong> />
para o atendimento ser tão precário (HISTÓRIA..., 2004, p.4; TURCKIEWICZ, 1980,<<strong>br</strong> />
p.10).
31<<strong>br</strong> />
Antes da colonização eram os próprios índios que cuidavam dos<<strong>br</strong> />
seus doentes, por rituais místicos realizados por Pajés, Curan<strong>de</strong>iros<<strong>br</strong> />
ou Feiticeiros. Com a colonização os jesuítas assumiram essa<<strong>br</strong> />
responsabilida<strong>de</strong>, seguidos pelos religiosos, voluntários leigos e<<strong>br</strong> />
escravos selecionados para essa tarefa. Surge assim a<<strong>br</strong> />
Enfermagem, <strong>com</strong> fins mais curativos do que preventivos e,<<strong>br</strong> />
curiosamente, sendo formada, na maioria, por enfermeiros do sexo<<strong>br</strong> />
masculino .(HISTÓRIA...., 2004, p.4).<<strong>br</strong> />
A saú<strong>de</strong> no Brasil tem <strong>com</strong>o <strong>de</strong>staque a figura <strong>de</strong> Pe. José <strong>de</strong> Anchieta que além <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
estudar o Brasil, ensinar ciências e respon<strong>de</strong>r pela catequese exercia também as<<strong>br</strong> />
ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> médico e enfermeiro (TURCKIEWICZ, 1980, p.10; HISTÓRIA..., 2004,<<strong>br</strong> />
p.4).<<strong>br</strong> />
Francisca <strong>de</strong> San<strong>de</strong>, outra figura importante, foi a primeira voluntária <strong>de</strong> enfermagem<<strong>br</strong> />
no Brasil, na Bahia, no final do século XVII. Nas freqüentes epi<strong>de</strong>mias ela improvisava<<strong>br</strong> />
hospitais usando até sua própria casa. Frei Fabiano <strong>de</strong> Cristo que durante 40 anos foi<<strong>br</strong> />
enfermeiro no Convento <strong>de</strong> Santo Antonio do Rio <strong>de</strong> Janeiro no século XVIII, também<<strong>br</strong> />
contribuiu <strong>com</strong> a enfermagem no Brasil (TURCKIEWICZ, 1980, p.11; HISTÓRIA....,<<strong>br</strong> />
2004, p.5.).<<strong>br</strong> />
2.4.2 Ana Neri – a “Florence” <strong>br</strong>asileira<<strong>br</strong> />
Nascida Ana Justina Ferreira na Bahia, em 13 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 1814, viúva aos 30<<strong>br</strong> />
anos, ofereceu seus serviços à Pátria na Guerra do Paraguai (1864-1870) por não<<strong>br</strong> />
resistir a separação <strong>de</strong> seus dois filhos, um aluno do 6º. ano <strong>de</strong> medicina (voluntário) e<<strong>br</strong> />
outro oficial do exército (convocado) que haviam partido para aquela batalha.<<strong>br</strong> />
Improvisando hospitais na guerra, não me<strong>de</strong> esforços para aten<strong>de</strong>r os feridos durante<<strong>br</strong> />
cinco anos. Retornando ao Brasil <strong>com</strong>o heroína (mãe dos Brasileiros), morreu em 20<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1880 (TURCKIEWICZ, 1980, p.12). “Ana Néri que, <strong>com</strong>o Florence<<strong>br</strong> />
Nightingale, rompeu <strong>com</strong> os preconceitos da época que faziam da mulher prisioneira<<strong>br</strong> />
do lar” (COREN, 2004, p.2) foi figura expressiva na enfermagem <strong>br</strong>asileira.<<strong>br</strong> />
2.4.1 Cruz Vermelha Brasileira<<strong>br</strong> />
Presidida pelo médico Oswaldo Cruz foi organizada e instalada no Brasil em 1908,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>stacando-se pela sua atuação na primeira guerra mundial (1914-1918). Atuou
32<<strong>br</strong> />
durante a epi<strong>de</strong>mia da gripe espanhola em 1918, colaborando na organização <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
postos <strong>de</strong> socorro, na hospitalização <strong>de</strong> doentes e no envio <strong>de</strong> socorristas aos<<strong>br</strong> />
hospitais e domicílios. A Cruz Vermelha Brasileira <strong>de</strong>stacou-se também no socorro das<<strong>br</strong> />
vítimas das inundações nos Estados <strong>de</strong> Sergipe e Bahia e na seca do Nor<strong>de</strong>ste<<strong>br</strong> />
(COREN, 2004, p.3; TURCKIEWICZ, 1980, p.14). ”Muitas das socorristas <strong>de</strong>dicaramse<<strong>br</strong> />
ativamente à formação <strong>de</strong> voluntárias, continuando suas ativida<strong>de</strong>s após o término<<strong>br</strong> />
dos conflitos” (COREN, 2004, p.3).<<strong>br</strong> />
2.4 O ensino <strong>de</strong> enfermagem no Brasil<<strong>br</strong> />
Ao final do século XIX, o Brasil fica vulnerável às doenças infecto-contagiosas que<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>eçam a se propagar rápida e progressivamente, trazidas pelos europeus e<<strong>br</strong> />
escravos africanos. A saú<strong>de</strong> passa a ser um problema econômico-social. O governo,<<strong>br</strong> />
sob pressão externa, assume a saú<strong>de</strong> criando serviços públicos, <strong>de</strong> vigilância e <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
controle mais eficazes so<strong>br</strong>e os portos.<<strong>br</strong> />
A institucionalização da enfermagem no Brasil nasceu <strong>de</strong>ntro do projeto sanitarista e<<strong>br</strong> />
a<strong>de</strong>quadas ao <strong>de</strong>senvolvimento capitalista, importando mo<strong>de</strong>lo das escolas e serviços<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> americanos servindo mais para aten<strong>de</strong>r ao avanço da Medicina hospitalar,<<strong>br</strong> />
“<strong>com</strong>o núcleo da prática médica no modo <strong>de</strong> produção capitalista, do que para<<strong>br</strong> />
instaurar uma assistência <strong>de</strong> enfermagem voltada para a saú<strong>de</strong> pública” (FABBRO<<strong>br</strong> />
1996, p.30). O marco formal da enfermagem no Brasil <strong>de</strong>u-se em 1890 <strong>com</strong> a criação<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> uma escola para formação <strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong> enfermagem no Hospício Nacional<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> Alienados do Rio <strong>de</strong> Janeiro (OLIVEIRA, 1979 apud FERREIRA, 2004, p.1).<<strong>br</strong> />
As necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> implantação e expansão do capitalismo foram supridas <strong>com</strong> a<<strong>br</strong> />
prática <strong>de</strong> enfermagem em saú<strong>de</strong> pública que, <strong>com</strong> suas características i<strong>de</strong>ológicas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
submissão ao Estado e aos médicos, não representavam ameaça à or<strong>de</strong>m vigente. Os<<strong>br</strong> />
sentimentos cívicos, <strong>de</strong> servir à pátria, o espírito <strong>de</strong> religiosida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> carida<strong>de</strong> e<<strong>br</strong> />
altruísmo cristãos foram absorvidos <strong>com</strong>o sendo os valores e a i<strong>de</strong>ologia da<<strong>br</strong> />
enfermagem, em especial no mo<strong>de</strong>lo vocacional (PIRES, 1989 apud FABBRO, 1996<<strong>br</strong> />
p.30).<<strong>br</strong> />
Com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preparar mais profissionais para controle da en<strong>de</strong>mias, cria-se,<<strong>br</strong> />
no início dos anos 20, o Serviço <strong>de</strong> enfermagem do Departamento Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Pública. Em 1926 o Serviço passa a <strong>de</strong>nominar-se Escola <strong>de</strong> Enfermeiras Dona Ana<<strong>br</strong> />
Néri, a primeira escola oficial <strong>de</strong> enfermeiras alto padrão, e hoje Escola <strong>de</strong>
33<<strong>br</strong> />
Enfermagem da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro (PAIXÃO, 1979, p.116-126;<<strong>br</strong> />
OLIVEIRA, 1979 apud FERREIRA, 2004).<<strong>br</strong> />
2.5 A enfermagem <strong>de</strong> hoje<<strong>br</strong> />
Uma profissão repleta <strong>de</strong> contradições; um ofício relevante, porém<<strong>br</strong> />
ainda incapaz <strong>de</strong> gerar reconhecimento social; um fazer eficiente,<<strong>br</strong> />
mas <strong>de</strong>sa<strong>com</strong>panhado <strong>de</strong> um saber coerente; um fazer necessário,<<strong>br</strong> />
mas <strong>de</strong>svalorizado e fragmentado; um saber importante, mas um<<strong>br</strong> />
fazer pequeno; um saber e um fazer marcados tanto pelo prazer<<strong>br</strong> />
quanto pelo <strong>de</strong>sgaste/sofrimento (LIMA, 2001, p.29).<<strong>br</strong> />
O trabalho da enfermagem sofreu gran<strong>de</strong> influência do Cristianismo que tinha a<<strong>br</strong> />
intenção <strong>de</strong> salvar almas na sua primeira fase chamada <strong>de</strong> pré-profissional. Sob forte<<strong>br</strong> />
influência da igreja os agentes <strong>de</strong> enfermagem <strong>de</strong>sse período, também <strong>de</strong>nominado<<strong>br</strong> />
mo<strong>de</strong>lo religioso e período obscuro da enfermagem, não po<strong>de</strong>riam ou não <strong>de</strong>veriam<<strong>br</strong> />
ter direitos a reivindicações materiais pois a prestação <strong>de</strong> cuidados era trabalho<<strong>br</strong> />
concebido <strong>com</strong>o espiritualizado.<<strong>br</strong> />
A Segunda fase, chamada <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo vocacional, foi marcada pela substituição dos<<strong>br</strong> />
agentes religiosos pela prática técnico-profissional. Esse mo<strong>de</strong>lo valorizou e exaltou o<<strong>br</strong> />
trabalho da enfermagem <strong>com</strong>o arte ou chamamento. Florence, que <strong>de</strong>fendia a idéia <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
que a disciplina era a essência do treinamento, introduziu várias técnicas disciplinares<<strong>br</strong> />
que <strong>de</strong>limitavam os espaços individuais <strong>de</strong> cada trabalhador <strong>de</strong> enfermagem na<<strong>br</strong> />
hierarquia hospitalar. Assim, esse trabalho acrescentou ao seu saber os cuidados <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
o ambiente, e passou a ter nessa estrutura a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> disciplinar as tarefas e<<strong>br</strong> />
manter a enfermeira fiel e pronta às or<strong>de</strong>ns médicas (FABBRO, 1996, p.102).<<strong>br</strong> />
No início do século XX até a década <strong>de</strong> 40, aproximadamente, <strong>de</strong>senvolveu-se e<<strong>br</strong> />
predominou, principalmente nos EUA, a enfermagem funcional referida <strong>com</strong>o terceira<<strong>br</strong> />
fase. Esse mo<strong>de</strong>lo burocrático e hierárquico, tendo <strong>com</strong>o foco o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
tarefas e procedimentos e não o doente, baseado na autorida<strong>de</strong> e responsabilida<strong>de</strong>,<<strong>br</strong> />
adaptou-se muito bem na enfermagem. Com o aumento do número <strong>de</strong> hospitais, o<<strong>br</strong> />
treinamento <strong>de</strong> pessoal sem qualificação que <strong>com</strong>eçava a se empregar neles fazia-se<<strong>br</strong> />
urgente e além disso, existia também a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> controlar essa força <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
trabalho (MEYER, 1995 apud FABBRO, 1996, p.103).
34<<strong>br</strong> />
Percebe-se, ainda, que a enfermagem funcional recebeu e recebe gran<strong>de</strong> influência<<strong>br</strong> />
dos princípios administrativos <strong>de</strong> Taylor e Fayol que não se <strong>de</strong>tiveram apenas ao<<strong>br</strong> />
estudo <strong>de</strong> tempo, movimento e princípios gerais <strong>de</strong> organização mas absorveram<<strong>br</strong> />
muitas formas da disciplina do militarismo (FABBRO, 1996, p.104).<<strong>br</strong> />
A administração científica no Brasil foi utilizada <strong>de</strong> forma simplificada<<strong>br</strong> />
e até aparentemente contrária ao conjunto dos princípios<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>senvolvidos pelo próprio Taylor. A versão <strong>br</strong>asileira da<<strong>br</strong> />
Administração científica absorveu so<strong>br</strong>etudo as técnicas e conceitos<<strong>br</strong> />
relativos à construção <strong>de</strong> mecanismos disciplinares <strong>de</strong> controle so<strong>br</strong>e<<strong>br</strong> />
o trabalhador, centralizou as <strong>de</strong>cisões nos segmentos politicamente<<strong>br</strong> />
mais leais ao capitalista e ainda assegurou os meios <strong>de</strong> aumentar a<<strong>br</strong> />
intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> extração da mais-valia - extração do trabalho não<<strong>br</strong> />
pago - Heloani (1991 apud FABBRO, 1996, p.105).<<strong>br</strong> />
A influência da divisão parcelar do trabalho nas empresas capitalistas ampliada pelo<<strong>br</strong> />
avanço tecnológico nesse século aparece na enfermagem <strong>com</strong> a criação <strong>de</strong> outras<<strong>br</strong> />
categorias nesse corpo <strong>de</strong> profissionais: diretores, gerentes, supervisores, enfermeiros<<strong>br</strong> />
e aten<strong>de</strong>ntes (hoje substituídos por auxiliares e técnicos <strong>de</strong> enfermagem). Os<<strong>br</strong> />
mecanismos disciplinares <strong>de</strong> controle so<strong>br</strong>e o trabalhador na enfermagem funcional<<strong>br</strong> />
buscou <strong>de</strong>signar as tarefas <strong>de</strong> acordo <strong>com</strong> a <strong>com</strong>plexida<strong>de</strong> e nível <strong>de</strong> <strong>com</strong>petência do<<strong>br</strong> />
pessoal marcando, nessa fase, uma nova divisão <strong>de</strong> trabalho não mais calcada<<strong>br</strong> />
naqueles politicamente superiores mas naqueles tecnicamente preparados para a<<strong>br</strong> />
especialização funcional. O seguimento dos instrumentos criados tais <strong>com</strong>o os<<strong>br</strong> />
manuais <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s e procedimentos garantem a técnica do serviço. A<<strong>br</strong> />
disciplina é mantida pela exigência <strong>de</strong> uma conduta padronizada que não permite ao<<strong>br</strong> />
trabalhador agir em <strong>de</strong>sacordo <strong>com</strong> as normas estabelecidas. O caráter repressivo e a<<strong>br</strong> />
hierarquia rígida empregada, ainda na atualida<strong>de</strong>, capacita os superiores a dirigir,<<strong>br</strong> />
direta ou indiretamente o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> círculos cada vez mais amplos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
subordinados, <strong>com</strong>o é o caso da supervisora em relação aos <strong>de</strong>mais trabalhadores <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
enfermagem (FABBRO, 1996, p.103) e a cúpula do serviço que em alguns hospitais<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>anda as enfermeiras supervisoras <strong>com</strong> o mesmo rigor e sanções aplicadas aos<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>mais mem<strong>br</strong>os da equipe.<<strong>br</strong> />
Segundo Fab<strong>br</strong>o (1996, p.104), a enfermeira supervisora representa <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua<<strong>br</strong> />
introdução <strong>com</strong> as “ladies Nurses” <strong>de</strong> Florence o operário especializado taylorista e<<strong>br</strong> />
não foi por acaso, colocada entre trabalhadores e direção. Aquela profissional que<<strong>br</strong> />
reproduzia mais o pensamento das classes dirigentes do que o pensamento <strong>de</strong> sua
35<<strong>br</strong> />
própria classe não representava ameaça ao sistema capitalista. Na enfermagem<<strong>br</strong> />
funcional é exigido do profissional as mesmas características <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong> e<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>portamento da época <strong>de</strong> Florence Nightingale – humilda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>voção e servilismo –<<strong>br</strong> />
mas agora <strong>com</strong> intuito diferente da intenção vocacional: formação <strong>de</strong> um profissional<<strong>br</strong> />
mais dócil, obediente e controlável (FABBRO, 1996, p.104).<<strong>br</strong> />
Nessa fase, a <strong>de</strong>streza e a habilida<strong>de</strong> manual que já eram fundamentais no contexto<<strong>br</strong> />
da enfermagem funcional possibilitando ao hospital menores gastos e mais eficiência<<strong>br</strong> />
também foram enfatizadas. Segundo Fab<strong>br</strong>o (1996, p.105), ainda hoje no ambiente<<strong>br</strong> />
hospitalar a ênfase na <strong>de</strong>streza e habilida<strong>de</strong> manual se faz representada pelo<<strong>br</strong> />
en<strong>de</strong>usamento da prática no sentido da característica técnica do fazer.<<strong>br</strong> />
Interessante notar que nas socieda<strong>de</strong>s capitalistas o “pensar” é mais valorizado que o<<strong>br</strong> />
“agir”, o intelectual vale mais que o operário. Na enfermagem, estas posições são<<strong>br</strong> />
invertidas. A socieda<strong>de</strong>, representada pela clientela (paciente, família e <strong>com</strong>unida<strong>de</strong>) e<<strong>br</strong> />
os <strong>de</strong>mais mem<strong>br</strong>os da equipe multiprofissional, reconhecem e valorizam muito mais o<<strong>br</strong> />
trabalho <strong>br</strong>açal (cuidado direto ao doente, quando bem ou mal prestado) do que todo<<strong>br</strong> />
um processo <strong>de</strong> estudos e pesquisas que se <strong>de</strong>senvolvem <strong>com</strong> vistas a fundamentar e<<strong>br</strong> />
melhorar a qualida<strong>de</strong> do cuidado direto. “Melhor é o enfermeiro que obe<strong>de</strong>ce sem<<strong>br</strong> />
questionar ou investigar do que aquele que procura incessantemente um fundamento<<strong>br</strong> />
científico filosófico para seu agir” (VARGENS, 1987, p.28).<<strong>br</strong> />
Ainda, segundo Vargens (1987, p.29), mesmo <strong>com</strong> o avançar dos séculos estas idéias<<strong>br</strong> />
pré-concebidas ainda persistem e dificilmente serão dissociadas da concepção <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
enfermagem ou do perfil profissional. Para esse autor existem duas enfermagens na<<strong>br</strong> />
nossa socieda<strong>de</strong>: a enfermagem científica, filosófica e intelectual (nem por isso menos<<strong>br</strong> />
prática), preconizada e pretendida pelos enfermeiros e escolas <strong>de</strong> enfermagem e a<<strong>br</strong> />
enfermagem “tarefeira” e servil, reconhecida e aceita na cultura e na prática<<strong>br</strong> />
profissional <strong>de</strong> nossa socieda<strong>de</strong> (esta hoje representada pelos auxiliares <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
enfermagem e técnicos <strong>de</strong> enfermagem).<<strong>br</strong> />
A Quarta fase, instaurada no final da década <strong>de</strong> 40 até meados <strong>de</strong> 60, foi<<strong>br</strong> />
caracterizada pelo foco nas necessida<strong>de</strong>s do paciente, em substituição ao das tarefas<<strong>br</strong> />
e ênfase no trabalho em equipe, influência da Escola das Relações Humanas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Mayo.
36<<strong>br</strong> />
Nesta fase, houve uma preocupação em organizar os princípios científicos que<<strong>br</strong> />
nortearam a prática da enfermagem para procurar uma resposta dita científica nos<<strong>br</strong> />
seus atos. Sem repercussões que vão além da simples fundamentação para as<<strong>br</strong> />
técnicas <strong>de</strong> enfermagem, são também estabelecidas normas disciplinares <strong>de</strong> conduta<<strong>br</strong> />
que moldam o trabalhador em relação ao vestuário, gestos, atitu<strong>de</strong>s e posturas que<<strong>br</strong> />
acabam sendo úteis à instituição que beneficia-se não somente <strong>com</strong> a melhor maneira<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> produzir, mas <strong>com</strong> a cooperação <strong>de</strong> trabalhadores dóceis na relação capitaltrabalho<<strong>br</strong> />
do processo produtivo (HELOANI, 1994 apud FABBRO, 1996, p.111).<<strong>br</strong> />
A participação, a li<strong>de</strong>rança e o trabalho em equipe passaram a fazer parte do discurso<<strong>br</strong> />
da enfermagem <strong>de</strong>sta fase. A participação, por exemplo, traduz-se numa<<strong>br</strong> />
disponibilida<strong>de</strong> para assumir ativida<strong>de</strong>s fora da jornada <strong>de</strong> trabalho. A colaboração<<strong>br</strong> />
redunda na o<strong>br</strong>igação <strong>de</strong> fazer horas extras, iniciativas em ajudar o outro em situações<<strong>br</strong> />
imprevistas ou ainda cooperação <strong>com</strong> a boa or<strong>de</strong>m no <strong>de</strong>senvolvimento dos trabalhos,<<strong>br</strong> />
chegando na hora estabelecida e estando uniformizado conforme as normas<<strong>br</strong> />
padronizadas previamente. ”Po<strong>de</strong>-se notar que estão implícitas, neste discurso, a<<strong>br</strong> />
abnegação e o espírito <strong>de</strong> servir <strong>de</strong>sinteressados, presentes na enfermagem préprofissional,<<strong>br</strong> />
aliados à ênfase disciplinar incorporado no mo<strong>de</strong>lo vocacional” (FABBRO,<<strong>br</strong> />
1996, p.114).<<strong>br</strong> />
Os trabalhadores da enfermagem no hospital que convivem <strong>com</strong> a rígida hierarquia<<strong>br</strong> />
vertical e sistemática divisão do trabalho, <strong>com</strong> o apego às normas, regulamentos e<<strong>br</strong> />
regras são o<strong>br</strong>igados a apresentar um <strong>com</strong>portamento rotinizado e padronizado. A<<strong>br</strong> />
equipe <strong>de</strong> enfermagem reclama da inflexibilida<strong>de</strong> e da ausência <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> e<<strong>br</strong> />
criativida<strong>de</strong> nessa categoria profissional (LIMA, 2001, p.30).<<strong>br</strong> />
A Quinta e última fase que se inicia no final da década <strong>de</strong> 60 até os nossos dias,<<strong>br</strong> />
refere-se à construção das teorias <strong>de</strong> enfermagem, processo iniciado também pelas<<strong>br</strong> />
norte-americanas. Teve <strong>com</strong>o foco principal um corpo <strong>de</strong> conhecimentos que<<strong>br</strong> />
conferisse à enfermagem o status <strong>de</strong> ciência uma vez que o saber expresso pelos<<strong>br</strong> />
princípios científicos eram <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> outros e não possuíam natureza especifica.<<strong>br</strong> />
Essas teorias são criticadas, hoje, pois <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ra o contexto em que a<<strong>br</strong> />
enfermagem trabalha e as implicações <strong>de</strong>sse contexto para o seu <strong>com</strong>portamento uma<<strong>br</strong> />
vez que <strong>de</strong>têm apenas a natureza metafísica do paciente e a interação entre ele e a<<strong>br</strong> />
enfermeira. Essas teorias que não contemplam e nem questionam as relações sociais<<strong>br</strong> />
na enfermagem contribuem para “ocultar e/ou legitimar <strong>com</strong>portamentos e práticas
37<<strong>br</strong> />
que mantêm e reproduz o caráter feminino, submisso e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da profissão”<<strong>br</strong> />
(FABBRO, 1996, p.118).<<strong>br</strong> />
Para Meyer (1995 apud FABBRO, 1996, p.111) esse saber cientifizado, repassado<<strong>br</strong> />
pela escola somente às enfermeiras, reforça a sua autorida<strong>de</strong> e a hierarquização<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ntro da equipe <strong>de</strong> enfermagem mas <strong>de</strong>ixou intacta a falta <strong>de</strong> autonomia que<<strong>br</strong> />
caracteriza a relação médico - enfermagem e instituição - enfermagem enquanto<<strong>br</strong> />
profissão.<<strong>br</strong> />
A tragetória da enfermagem <strong>de</strong> anjo <strong>de</strong> <strong>br</strong>anco a profissional tem sido marcada por<<strong>br</strong> />
conflitos, preconceitos, <strong>de</strong>sgaste, sofrimento e luta por espaço laboral que na literatura<<strong>br</strong> />
pesquisada aparece <strong>com</strong>o consequência da in<strong>de</strong>finição do espaço da enfermagem<<strong>br</strong> />
pois: “a enfermeira, lí<strong>de</strong>r da equipe ainda não conseguiu sua própria inserção na<<strong>br</strong> />
equipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>” (LIMA, 2001, p.30).<<strong>br</strong> />
Para Brêtas (1994 apud FABBRO, 1996 p.99) na enfermagem “<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início houve<<strong>br</strong> />
uma junção entre as qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> caráter moral, socialmente construídas e as<<strong>br</strong> />
qualificações técnicas dos exercentes”. Assim, a institucionalização hierárquica da<<strong>br</strong> />
enfermagem baseada na divisão <strong>de</strong> trabalho intelectual e manual reproduz na<<strong>br</strong> />
enfermagem as relações <strong>de</strong> classe da socieda<strong>de</strong>. A nova profissão que <strong>de</strong>marcou os<<strong>br</strong> />
lugares dos <strong>com</strong>ponentes <strong>de</strong> classe social diferente, na enfermagem, <strong>com</strong> a divisão<<strong>br</strong> />
social no trabalho ficou marcada <strong>com</strong> outras duas características: ter sido exercida<<strong>br</strong> />
historicamente por mulheres e ter nascido <strong>com</strong>o trabalho assalariado sob o modo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
produção capitalista. Além disso, essa profissão não alterava substancialmente o<<strong>br</strong> />
papel <strong>de</strong> submissão da mulher em relação ao homem pois, nesse trabalho, continuava<<strong>br</strong> />
recebendo or<strong>de</strong>ns, agora dos médicos, e exercendo seu papel <strong>de</strong> mãe na<<strong>br</strong> />
transferência do cuidado da família para o das outras pessoas, os doentes<<strong>br</strong> />
(GASTALDO& MEYER, 1989 apud FABBRO, 1996 p.29).<<strong>br</strong> />
A enfermagem, <strong>com</strong>o profissão predominantemente feminina, está sujeita às<<strong>br</strong> />
opressões <strong>de</strong> classe e gênero. Além disso, a conduta da equipe <strong>de</strong> enfermagem é<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>terminada por todos, paciente, socieda<strong>de</strong>, médicos, e outros profissionais do<<strong>br</strong> />
hospital que esperam atitu<strong>de</strong>s intrínsecas da profissão. Reforçadas pela própria<<strong>br</strong> />
equipe e/ou <strong>de</strong>terminadas pela direção dos serviços <strong>de</strong> enfermagem, provocam em<<strong>br</strong> />
seus agentes um “enquadramento” in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da sua vonta<strong>de</strong> e das condições em<<strong>br</strong> />
que atuam. Dotada <strong>de</strong> um saber construído ao longa da história, ainda não<<strong>br</strong> />
reconhecido, a enfermagem coloca-se na condição <strong>de</strong> som<strong>br</strong>a discreta e subordinada.
38<<strong>br</strong> />
Submissas na sua condição <strong>de</strong> mulheres, numa profissão que tem atributos<<strong>br</strong> />
concebidos <strong>com</strong>o qualida<strong>de</strong>s femininas e não qualificação profissional, continua este<<strong>br</strong> />
trabalho sendo visto <strong>com</strong>o extensão do serviço doméstico, o que causa na enfermeira<<strong>br</strong> />
e na sua equipe um sentimento <strong>de</strong> baixa auto estima e um <strong>de</strong>scrédito em relação ao<<strong>br</strong> />
seu potencial (FABBRO, 1996, p.299).<<strong>br</strong> />
A enfermagem <strong>de</strong> hoje que conta <strong>com</strong> 145 anos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua fundação oficial e 108<<strong>br</strong> />
anos da sua consolidação legal em 1897, ainda tem os traços <strong>de</strong> Miss Nightingale<<strong>br</strong> />
consi<strong>de</strong>rada <strong>com</strong>o marco da enfermagem mo<strong>de</strong>rna. Cultivadas ao longo do tempo: a<<strong>br</strong> />
submissão da mulher (enfermeira) ao homem (médico), a falta <strong>de</strong> ambição profissional<<strong>br</strong> />
e o conformismo são exemplos disso (MEYER, 1995 apud. FABBRO, 1996, p.102).<<strong>br</strong> />
A exigência disciplinar que faz <strong>com</strong> que a equipe <strong>de</strong> enfermagem abdique da sua<<strong>br</strong> />
individualida<strong>de</strong> para incorporar os valores da profissão não está distante das<<strong>br</strong> />
Nightingale Nurses que, zeladas na sua conduta moral obe<strong>de</strong>ciam cegamente os<<strong>br</strong> />
regulamentos e a elas não era permitido receber explicações (MIRANDA, 1996 p.142-<<strong>br</strong> />
43).<<strong>br</strong> />
Algumas das características <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong> e <strong>com</strong>portamento, que Florence<<strong>br</strong> />
consi<strong>de</strong>rou essenciais nas voluntárias da guerra da Criméia, em 1854, também se faz<<strong>br</strong> />
presente na equipe <strong>de</strong> enfermagem <strong>de</strong> hoje: docilida<strong>de</strong>, facilida<strong>de</strong> em aceitar as<<strong>br</strong> />
normas, obediência e um ser “controlável” são atributos re<strong>com</strong>endados ao pessoal <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
enfermagem. À essa postura, esperada na prática <strong>de</strong> seus profissionais pelos órgãos<<strong>br</strong> />
formadores, pelas entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> classe e pelos dirigentes dos serviços <strong>de</strong> enfermagem,<<strong>br</strong> />
que sugere a influência do pensamento submisso da era nightingaleana, ainda<<strong>br</strong> />
acrescenta-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> controle emocional, que é para <strong>de</strong>senvolver naquele<<strong>br</strong> />
profissional a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lidar <strong>com</strong> as situações relacionadas ao seu sofrer e ao do<<strong>br</strong> />
outro..... passivamente.<<strong>br</strong> />
“Des<strong>com</strong>pensar, no sentido <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r o controle da situação, é<<strong>br</strong> />
severamente punido <strong>com</strong> técnicas repressivas que são culturalmente<<strong>br</strong> />
exigidas e padronizadamente utilizadas para lidar <strong>com</strong> o <strong>estresse</strong><<strong>br</strong> />
emocional” (FABBRO, 1996, p.145).
3 ESTRESSE<<strong>br</strong> />
3.1 I<strong>de</strong>ntificando o <strong>estresse</strong> na antigüida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Existe algo em <strong>com</strong>um na mãe que se<<strong>br</strong> />
preocupa <strong>com</strong> o filho e <strong>com</strong> a so<strong>br</strong>evivência da<<strong>br</strong> />
família, no soldado que recebe ferimentos em<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>bate, no mendigo que passa fome e no<<strong>br</strong> />
glutão que <strong>com</strong>e em excesso; no pequeno<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>erciante que tem pavor da falência e no<<strong>br</strong> />
homem <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s negócios que luta para<<strong>br</strong> />
ganhar mais um milhão – Todos estão sob<<strong>br</strong> />
<strong>estresse</strong> – (SELYE, 1956, p.5)<<strong>br</strong> />
O homem sempre se preocupou em buscar uma justificativa e um tratamento para as<<strong>br</strong> />
suas doenças. Os povos antigos acreditavam que as doenças eram castigos <strong>de</strong> Deus<<strong>br</strong> />
ou efeitos do po<strong>de</strong>r do diabo. A medicina nessa época, era exercida pelos sacerdotes<<strong>br</strong> />
ou feiticeiros que procuravam, através <strong>de</strong> massagens, banhos <strong>de</strong> água fria ou quente,<<strong>br</strong> />
purgativos e substâncias provocadoras <strong>de</strong> náuseas <strong>de</strong>ixar o corpo humano<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sagradável para que os maus espíritos o abandonasse (COREN, 2004, p.21;<<strong>br</strong> />
PAIXÃO,1979, p.22; TURCKIEWICZ, 1980, p.1).<<strong>br</strong> />
Os egípcios acreditavam que a saú<strong>de</strong> era influenciada pelos astros. Os Assírios e<<strong>br</strong> />
Babilônicos baseavam-se na magia e seu povo acreditava que a doença era causada<<strong>br</strong> />
por sete <strong>de</strong>mônios. Por isso usavam talismãs vendidos pelos sacerdotes-médicos para<<strong>br</strong> />
tornar o corpo invulnerável aos seus ataques (TURCKIEWICZ, 1980, p.1). Para os<<strong>br</strong> />
Persas, era o princípio do bem, Ormuzd, através <strong>de</strong> seis espíritos benfazejos, quem<<strong>br</strong> />
protegia a saú<strong>de</strong> e a longa vida. (PAIXÃO, 1979, p.25). Com cerimônias conjuratórias<<strong>br</strong> />
e orações, os sacerdotes adorados <strong>com</strong>o <strong>de</strong>uses, curavam os chineses milhares <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
anos antes do início da nossa era.<<strong>br</strong> />
Essas formas <strong>de</strong> cura foram “se aperfeiçoando”, surgindo a sangria (puncionar uma<<strong>br</strong> />
veia para permitir a saída <strong>de</strong> sangue), que “é claramente representada em alguns<<strong>br</strong> />
vasos gregos que datam <strong>de</strong> 150 AC” (SELYE, 1956 p.9).<<strong>br</strong> />
A flagelação dos <strong>de</strong>mentes era processo <strong>com</strong>um na antigüida<strong>de</strong> e na Ida<strong>de</strong> Média,<<strong>br</strong> />
utilizada para expulsar os <strong>de</strong>mônios <strong>de</strong> pacientes que sofriam das mais diversas<<strong>br</strong> />
aberrações mentais (SELYE, 1956, p.9-10).
40<<strong>br</strong> />
Por volta <strong>de</strong> 100 AD, Rufus, médico grego <strong>de</strong> Éfeso, <strong>de</strong>sco<strong>br</strong>iu que a fe<strong>br</strong>e alta curava<<strong>br</strong> />
várias doenças.<<strong>br</strong> />
Suas <strong>de</strong>scrições indicam que ele experimentava especialmente <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
fe<strong>br</strong>es da malária; <strong>de</strong>sco<strong>br</strong>iu que essas fe<strong>br</strong>es eram benéficas no<<strong>br</strong> />
tratamento <strong>de</strong> melancolia e outras perturbações mentais, assim<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>o no tratamento <strong>de</strong> certas moléstias da pele, asma, convulsões e<<strong>br</strong> />
epilepsia. Contudo não era o único a recorrer ao tratamento pela<<strong>br</strong> />
fe<strong>br</strong>e; certos povos da África, ao que consta, bebiam urina <strong>de</strong> bo<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
para produzir fe<strong>br</strong>e e assim tratar diversas doenças (SELYE, 1956<<strong>br</strong> />
p.10).<<strong>br</strong> />
Selye, jovem médico austríaco, responsável pelas experiências que <strong>de</strong>finiram o<<strong>br</strong> />
<strong>estresse</strong>, explica que para entendê-lo é importante segui-lo na história, pois ao que<<strong>br</strong> />
parece, o ser humano sempre esteve em contato <strong>com</strong> este fenômeno. Quando analisa<<strong>br</strong> />
os conceitos das doenças, as formas <strong>de</strong> tratamento e as ações dos curan<strong>de</strong>iros,<<strong>br</strong> />
feiticeiros e sacerdotes-médicos no percurso da civilização, Selye sugere que <strong>de</strong>s<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
aquela época o ser humano entrava em contato <strong>com</strong> agentes estressores. Para este<<strong>br</strong> />
cientista, quando os doentes “possuídos” por espíritos do mal ou pelos <strong>de</strong>mônios eram<<strong>br</strong> />
submetidos, por exemplo, a rituais e ao exorcismo, às flagelações, à fe<strong>br</strong>e extenuante,<<strong>br</strong> />
àqueles, eram agentes que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>avam o processo <strong>de</strong> adaptação e <strong>de</strong> <strong>de</strong>sgaste<<strong>br</strong> />
no organismo causando o que hoje é chamado <strong>de</strong> <strong>estresse</strong> (SELYE, 1956, p.5-9).<<strong>br</strong> />
3.2 Homeostase – a fisiologia explicando o <strong>estresse</strong><<strong>br</strong> />
Antes <strong>de</strong> apresentar o conteúdo que explica a efetiva <strong>de</strong>scoberta do <strong>estresse</strong> é preciso<<strong>br</strong> />
mencionar dois fisiologistas, Bernard e Cannon, que tiveram muita influência na<<strong>br</strong> />
experiência <strong>de</strong> Selye.<<strong>br</strong> />
Bernard sugeriu, em 1879, que in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente das mudanças que pu<strong>de</strong>ssem<<strong>br</strong> />
ocorrer no ambiente externo, internamente o organismo <strong>de</strong>veria manter-se inalterado<<strong>br</strong> />
para garantia da vida. Essa "estabilida<strong>de</strong>" ou equilí<strong>br</strong>io interno, Cannon, em 1939,<<strong>br</strong> />
chamou <strong>de</strong> "homeostase". Explicou que para garantir esse estado, quando o<<strong>br</strong> />
organismo se <strong>de</strong>para <strong>com</strong> uma ameaça, ele reage <strong>de</strong> forma natural, e a esse processo<<strong>br</strong> />
ele chamou <strong>de</strong> reação <strong>de</strong> emergência.<<strong>br</strong> />
Cannon observou em sua experiência que: quando um animal era submetido a<<strong>br</strong> />
estímulos ameaçadores, por exemplo, a fome, a dor ou o medo, ele se preparava para<<strong>br</strong> />
lutar ou fugir. Seus batimentos cardíacos e a pressão arterial aumentavam, para que a
41<<strong>br</strong> />
circulação sangüínea ficasse mais rápida permitindo mais nutrientes para os tecidos.<<strong>br</strong> />
Seu baço se contraía, para garantir mais glóbulos vermelhos no sangue e mais<<strong>br</strong> />
oxigênio para o organismo. O açúcar, armazenado no fígado, era liberado para a<<strong>br</strong> />
corrente sangüínea, oferecendo mais energia para os músculos. A freqüência<<strong>br</strong> />
respiratória aumentava, os <strong>br</strong>ônquios se dilatavam para que o corpo pu<strong>de</strong>sse captar<<strong>br</strong> />
mais oxigênio e havia uma dilatação da pupila para melhorar a eficiência visual. Os<<strong>br</strong> />
linfócitos, responsáveis pela <strong>de</strong>fesa do organismo, também aumentavam para reparar<<strong>br</strong> />
possíveis danos aos tecidos. Na pele e nas vísceras, o sangue diminuía, sendo<<strong>br</strong> />
concentrado nos músculos e no cére<strong>br</strong>o e o animal apresentava ansieda<strong>de</strong> (FRANÇA<<strong>br</strong> />
e RODRIGUES, 2002 p.35). Essa reação <strong>de</strong>scrita <strong>com</strong>o garantia da homeostase, que<<strong>br</strong> />
foi chamada <strong>de</strong> reação <strong>de</strong> emergência por Cannon, em 1936, Selye i<strong>de</strong>ntificou em<<strong>br</strong> />
suas experiências e a consi<strong>de</strong>rou <strong>com</strong>o a primeira fase do <strong>estresse</strong> (reação <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
alarme).<<strong>br</strong> />
3.3 O “insight” <strong>de</strong> Selye<<strong>br</strong> />
Em 1925, Hans Selye observou, <strong>com</strong>o estudante <strong>de</strong> medicina, na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Praga na Alemanha, que todos os pacientes levados à sua aula apresentavam<<strong>br</strong> />
sintomas semelhantes: dores nas juntas, problemas digestivos, falta <strong>de</strong> apetite, fe<strong>br</strong>e,<<strong>br</strong> />
hepatoesplenomegalia 5 e problemas na pele. Nesses pacientes, ele não conseguia,<<strong>br</strong> />
através dos sintomas relatados, caracterizar uma doença para que <strong>com</strong> os professores<<strong>br</strong> />
pu<strong>de</strong>ssem prescrever o medicamento a<strong>de</strong>quado e assim, promover a cura do doente.<<strong>br</strong> />
Com essa observação, Selye formulou uma hipótese: a maioria das perturbações<<strong>br</strong> />
registradas no organismo é, aparentemente <strong>com</strong>um a muitas e, talvez, a todas as<<strong>br</strong> />
doenças. Assim, pensou na síndrome <strong>de</strong> estar apenas doente (SELYE, 1956 p.18).<<strong>br</strong> />
Como estudante, apesar <strong>de</strong> seu interesse pela tal síndrome, Selye não sabendo qual<<strong>br</strong> />
seria a reação dos outros médicos e tendo que <strong>de</strong>dicar-se às matérias curriculares,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ixou esse assunto <strong>de</strong> lado.<<strong>br</strong> />
Em 1935, <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong>pois, Selye voltou a se <strong>de</strong>parar <strong>com</strong> a questão da “síndrome <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
estar apenas doente" quando, realizando estudos no Departamento <strong>de</strong> Bioquímica da<<strong>br</strong> />
Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> McGill, em Montreal, tinha a intenção <strong>de</strong> <strong>de</strong>sco<strong>br</strong>ir um novo hormônio<<strong>br</strong> />
sexual. Essa experiência, frustrada no seu intento, <strong>de</strong>spertou a curiosida<strong>de</strong> em Selye<<strong>br</strong> />
que passou a preocupar-se em <strong>com</strong>preen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> que maneira funcionava o mecanismo<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> reação do organismo que observara naquela sua experiência <strong>com</strong> ratos: dilatação<<strong>br</strong> />
5 Hepatoesplenomegalia: fígado e baço aumentados.
42<<strong>br</strong> />
do córtex supra-renal, redução do timo, do baço e <strong>de</strong> outras estruturas linfáticas do<<strong>br</strong> />
corpo e uma série <strong>de</strong> úlceras perfuradas, profundas, nas pare<strong>de</strong>s do estômago e no<<strong>br</strong> />
intestino (SELYE, 1956, p.22-24).<<strong>br</strong> />
Pensando na idéia antiga da "síndrome <strong>de</strong> estar apenas doente" achou que no<<strong>br</strong> />
homem, as dores em juntas e músculos, as perturbações digestivas a<strong>com</strong>panhadas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
perda <strong>de</strong> apetite e <strong>de</strong> peso, ou seja, a sensação <strong>de</strong> estar doente po<strong>de</strong>ria estar<<strong>br</strong> />
relacionada <strong>com</strong> a reação provocada nos ratos <strong>com</strong> a utilização das diversas<<strong>br</strong> />
substâncias tóxicas (SELYE, 1956 p.29). “Com essa hipótese, Selye almejou provar<<strong>br</strong> />
que no organismo humano existia um sistema geral, não específico <strong>de</strong> reação, que<<strong>br</strong> />
promovia reações <strong>de</strong>fensivas e anulava as lesões provocadas pelas doenças" (ISSA e<<strong>br</strong> />
NEDER, 2002, p.56).<<strong>br</strong> />
3.4 Conceito <strong>de</strong> Estresse<<strong>br</strong> />
Foi baseado nessas experiências que Hans Selye, em 1936, <strong>de</strong>signou <strong>com</strong>o <strong>estresse</strong><<strong>br</strong> />
a síndrome geral <strong>de</strong> adaptação ou do <strong>estresse</strong> biológico: o conjunto <strong>de</strong> reações<<strong>br</strong> />
provocadas por vários agentes nocivos que enfraqueciam o organismo e faziam-no<<strong>br</strong> />
adoecer, publicando nota na revista inglesa Nature <strong>de</strong> julho sob o título: Síndrome<<strong>br</strong> />
produzida por agentes nocivos (SELYE, 1956, p.34).<<strong>br</strong> />
Até a Segunda guerra mundial, o termo <strong>estresse</strong> era pesquisado em laboratórios. Foi<<strong>br</strong> />
nesse período que o termo “neurose <strong>de</strong> guerra” foi utilizado para <strong>de</strong>finir a reação<<strong>br</strong> />
emocional ou mental <strong>de</strong>bilitante que fazia <strong>com</strong> que muitos soldados abandonassem o<<strong>br</strong> />
campo <strong>de</strong> batalha ou se tornassem incapazes <strong>de</strong> <strong>com</strong>bater (LIPP, 1996 p.18). O<<strong>br</strong> />
<strong>estresse</strong> do efeito da guerra <strong>de</strong>u origem a muitas pesquisas que revelaram não ser ele<<strong>br</strong> />
somente característico <strong>de</strong> situações graves, mas proveniente <strong>de</strong> situações cotidianas<<strong>br</strong> />
reais ou imaginárias.<<strong>br</strong> />
O conjunto <strong>de</strong> reações que ocorrem em um organismo quando este está submetido a<<strong>br</strong> />
um esforço <strong>de</strong> adaptação, foi assim que Selye (1956) <strong>de</strong>finiu o <strong>estresse</strong>.<<strong>br</strong> />
3.5 Fases do processo <strong>de</strong> <strong>estresse</strong><<strong>br</strong> />
Para Selye (1952 apud LIPP, 1996, p.22-23) o processo <strong>de</strong> <strong>estresse</strong> possui três fases:
43<<strong>br</strong> />
1ª) Fase <strong>de</strong> alerta ou reação <strong>de</strong> alarme: Semelhante à reação <strong>de</strong> emergência <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Cannon, já <strong>de</strong>scrita, ocorre no primeiro contato <strong>com</strong> o agente estressor porque nesta<<strong>br</strong> />
ocasião acontece uma que<strong>br</strong>a da “homeostase” ou do equilí<strong>br</strong>io interno do organismo.<<strong>br</strong> />
De forma natural, essa reação que permite ao organismo lidar <strong>com</strong> situações <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
urgência foi provocada pela adrenalina lançada no organismo através do sistema<<strong>br</strong> />
nervoso <strong>com</strong>o <strong>de</strong>fesa automática do corpo. Quando o agente estressor tem uma<<strong>br</strong> />
duração curta, a adrenalina é eliminada e a homeostase é restaurada. Assim, o<<strong>br</strong> />
indivíduo sai da fase <strong>de</strong> alerta sem <strong>com</strong>plicações para o seu bem estar. Caso o agente<<strong>br</strong> />
estressor continue agindo, seja muito intenso ou dure muito tempo, o organismo tenta<<strong>br</strong> />
restabelecer a homeostase e entra na fase <strong>de</strong> resistência ao <strong>estresse</strong>. A<<strong>br</strong> />
representação esquemática da fase <strong>de</strong> alerta está na figura 1.<<strong>br</strong> />
2ª) Fase ou reação <strong>de</strong> resistência: Na tentativa do reequilí<strong>br</strong>io, o organismo tenta se<<strong>br</strong> />
adaptar. Se a energia adaptativa for suficiente, a pessoa recupera-se e sai do<<strong>br</strong> />
processo<<strong>br</strong> />
FASE DE ALARME<<strong>br</strong> />
Aumento da freqüência cardíaca<<strong>br</strong> />
Aumento da pressão arterial<<strong>br</strong> />
Aumento da concentração <strong>de</strong> glóbulos vermelhos<<strong>br</strong> />
Aumento da concentração <strong>de</strong> açúcar no sangue<<strong>br</strong> />
Redistribuição do sangue<<strong>br</strong> />
Aumento da freqüência respiratória<<strong>br</strong> />
Dilatação da pupila<<strong>br</strong> />
Aumento da concentração <strong>de</strong> glóbulos <strong>br</strong>ancos<<strong>br</strong> />
Ansieda<strong>de</strong>/ Tensão<<strong>br</strong> />
Figura 1 - Reação <strong>de</strong> alarme<<strong>br</strong> />
Fonte: França e Rodrigues (2002, p.37).<<strong>br</strong> />
do <strong>estresse</strong> que termina se o estressor for eliminado ou forem aplicadas técnicas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
controle. Com isso o organismo consegue se restabelecer. Caso contrário, quando o<<strong>br</strong> />
estressor exige mais esforço <strong>de</strong> adaptação do que é possível para aquele indivíduo, o<<strong>br</strong> />
organismo se enfraquece e torna-se vulnerável a doenças apresentando sintomas
44<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>o irritabilida<strong>de</strong>, insônia, mudanças no humor, <strong>de</strong>pressão e diminuição do <strong>de</strong>sejo<<strong>br</strong> />
sexual (figura 2).<<strong>br</strong> />
FASE DE RESISTÊNCIA<<strong>br</strong> />
Aumento do córtex da supra-renal<<strong>br</strong> />
Ulcerações no aparelho digestivo<<strong>br</strong> />
Irritabilida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Insônia<<strong>br</strong> />
Mudanças no humor<<strong>br</strong> />
Diminuição do <strong>de</strong>sejo sexual<<strong>br</strong> />
Atrofia <strong>de</strong> algumas estruturas relacionadas a células do sangue<<strong>br</strong> />
Figura 2 - Reação <strong>de</strong> resistência<<strong>br</strong> />
Fonte: França e Rodrigues (2002, p.38).<<strong>br</strong> />
3ª.) Fase <strong>de</strong> Exaustão: Esta fase, representada na figura 3, ocorrerá se a pessoa não<<strong>br</strong> />
for resistente suficientemente para lidar <strong>com</strong> a fonte do <strong>estresse</strong>, ou se outros<<strong>br</strong> />
estressores ocorrerem con<strong>com</strong>itantemente. Depressão e manifestações físicas<<strong>br</strong> />
ocorrerão <strong>com</strong> o aparecimento <strong>de</strong> doenças. A exaustão manifestar-se-á, muitas vezes,<<strong>br</strong> />
representando a falha dos mecanismos <strong>de</strong> adaptação. Nesta fase po<strong>de</strong> também ser<<strong>br</strong> />
observado um retorno à fase <strong>de</strong> alarme, e, posteriormente, se o estímulo estressor<<strong>br</strong> />
permanecer potente, o organismo po<strong>de</strong>, <strong>de</strong> fato, adoecer e morrer (FRANÇA e<<strong>br</strong> />
RODRIGUES 2002, p. 39).<<strong>br</strong> />
REAÇÃO DE<<strong>br</strong> />
EXAUSTÃO<<strong>br</strong> />
Retorno parcial e <strong>br</strong>eve à reação <strong>de</strong> alarme<<strong>br</strong> />
Falha dos mecanismos <strong>de</strong> adaptação<<strong>br</strong> />
Morte <strong>de</strong> organismo<<strong>br</strong> />
Esgotamento por so<strong>br</strong>ecarga fisiológica<<strong>br</strong> />
Figura 3 – Reação <strong>de</strong> exaustão<<strong>br</strong> />
Fonte: França e Rodrigues (2002, p.38).<<strong>br</strong> />
Como <strong>de</strong>sequilí<strong>br</strong>io físico e mental o <strong>estresse</strong> po<strong>de</strong> estar associado a aspectos<<strong>br</strong> />
negativos e positivos. Instalando-se lentamente provoca, <strong>de</strong>ntre outros, alterações no<<strong>br</strong> />
sistema cardiovascular e imunológico, po<strong>de</strong>ndo pela razão última, aumentar a
45<<strong>br</strong> />
suscetibilida<strong>de</strong> às doenças (SELYE, 1956), o que a psiconeuroimunologia confirma:<<strong>br</strong> />
em pessoas sadias, o <strong>estresse</strong> diminui a resistência do sistema imunológico que se<<strong>br</strong> />
agrava quando se trata <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong>bilitadas por medicações ou infecções<<strong>br</strong> />
(FRANÇA e RODRIGUES, 2002, p.27).<<strong>br</strong> />
Algumas situações bastante agradáveis <strong>com</strong>o, por exemplo, ser aprovado no<<strong>br</strong> />
vestibular, casar-se, passar pela experiência <strong>de</strong> se ter um filho, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>iam reações<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> mesma origem do <strong>estresse</strong> provocado por situações <strong>de</strong>sagradáveis, ou seja, o<<strong>br</strong> />
organismo sofre o mesmo <strong>de</strong>sequilí<strong>br</strong>io. A pessoa submetida ao <strong>estresse</strong>, seja ele<<strong>br</strong> />
positivo ou negativo mobiliza todo o mecanismo <strong>de</strong> adaptação que o organismo possui<<strong>br</strong> />
para enfrentar a situação. Visto <strong>com</strong>o um longo processo bioquímico o <strong>estresse</strong>, tanto<<strong>br</strong> />
o positivo <strong>com</strong>o o negativo, se manifesta <strong>de</strong> modo bastante semelhante: <strong>com</strong> o<<strong>br</strong> />
aparecimento <strong>de</strong> taquicardia, sudorese excessiva, tensão muscular, boca seca e a<<strong>br</strong> />
sensação <strong>de</strong> estar alerta. Para Lipp (1996, p.18-20), o <strong>estresse</strong> po<strong>de</strong> ocorrer em<<strong>br</strong> />
qualquer pessoa, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> raça, sexo, ida<strong>de</strong> e/ou situação econômica, quando<<strong>br</strong> />
o indivíduo se <strong>de</strong>para <strong>com</strong> uma situação que o irrita, amedronta, o excita ou o faz<<strong>br</strong> />
muito feliz.<<strong>br</strong> />
As diferentes respostas ao <strong>estresse</strong> que constitui um aspecto inevitável da vida,<<strong>br</strong> />
explicam-se pela maneira que as pessoas o enfrentam. Neste conceito está implícita a<<strong>br</strong> />
idéia <strong>de</strong> que o cére<strong>br</strong>o humano possui <strong>de</strong>terminados fatores que são pessoais e<<strong>br</strong> />
influenciam na maneira <strong>de</strong> se lidar <strong>com</strong> as situações estressantes. Po<strong>de</strong>mos enten<strong>de</strong>r<<strong>br</strong> />
que as exigências impostas pelo ambiente tem um resultado emocional e <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sempenho a nível <strong>de</strong> pessoa. Pressões ambientais são fatores importantes<<strong>br</strong> />
consi<strong>de</strong>rando-se que “o <strong>estresse</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, em parte, das exigências sociais e físicas<<strong>br</strong> />
impostas pelo ambiente (LAZARUS e FOLKMAN, 1984, apud FRANÇA e<<strong>br</strong> />
RODRIGUES, 2002, p.57-58).<<strong>br</strong> />
O <strong>estresse</strong>, por si só não é suficiente para <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar uma enfermida<strong>de</strong> ou provocar<<strong>br</strong> />
uma disfunção significativa na vida do indivíduo. É necessário que a pessoa avalie a<<strong>br</strong> />
situação <strong>com</strong>o uma ameaça ao seu bem-estar ou sua so<strong>br</strong>evivência e que isso exija<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>la além dos seus recursos, ou seja, para que o <strong>estresse</strong> se instale é necessário uma<<strong>br</strong> />
vulnerabilida<strong>de</strong> orgânica ou uma forma ina<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> avaliar e enfrentar a situação<<strong>br</strong> />
estressante. A manifestação do <strong>estresse</strong> é parte <strong>de</strong> um processo que se <strong>de</strong>senvolve<<strong>br</strong> />
através do tempo e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da intensida<strong>de</strong> do estressor, da sua duração e do efeito<<strong>br</strong> />
cumulativo criado pela ocorrência <strong>de</strong> vários estressores em certo período <strong>de</strong> tempo<<strong>br</strong> />
(FRANÇA e RODRIGUES, 2002, p.34).
46<<strong>br</strong> />
Foi em 1974 que Lazarus, sob influência da corrente existencialista, expandiu o<<strong>br</strong> />
conceito <strong>de</strong> <strong>estresse</strong> <strong>de</strong> Hans Selye que consi<strong>de</strong>rava apenas efeitos fisiológicos no<<strong>br</strong> />
organismo quando o indivíduo era exposto a estressores. Através <strong>de</strong> suas<<strong>br</strong> />
experiências, Lazarus concluiu que as respostas ao <strong>estresse</strong> po<strong>de</strong>m ser avaliadas<<strong>br</strong> />
tanto do ponto <strong>de</strong> vista fisiológico, <strong>com</strong>o do psicológico. Consi<strong>de</strong>ra assim, que o<<strong>br</strong> />
indivíduo percebe o <strong>estresse</strong> <strong>de</strong> forma própria, não necessariamente consciente<<strong>br</strong> />
enfrentando o estímulo através <strong>de</strong> suas características individuais numa interação <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
o meio ambiente. Essa estimativa da situação estressante ou avaliação do momento<<strong>br</strong> />
que está sendo vivido, está baseada em experiências passadas e têm importância na<<strong>br</strong> />
forma <strong>com</strong>o o indivíduo percebe o <strong>estresse</strong>, <strong>de</strong> <strong>com</strong>o irá enfrentá-lo e na <strong>de</strong>terminação<<strong>br</strong> />
do tipo e intensida<strong>de</strong> da resposta a ser produzida no organismo (FRANÇA e<<strong>br</strong> />
RODRIGUES, 2002, p.41). Em situações on<strong>de</strong> é possível <strong>com</strong>paração, po<strong>de</strong>-se<<strong>br</strong> />
observar que a reação <strong>de</strong> uma pessoa po<strong>de</strong> ser <strong>com</strong>pletamente diferente da outra<<strong>br</strong> />
variando <strong>de</strong> raiva à ansieda<strong>de</strong> e culpa passando por <strong>de</strong>pressão, por exemplo. Frente a<<strong>br</strong> />
um insulto, um indivíduo po<strong>de</strong> ignorá-lo e outro po<strong>de</strong>rá se enraivecer planejando uma<<strong>br</strong> />
vingança. Outra pessoa po<strong>de</strong> ainda, sentir-se <strong>de</strong>safiada ao invés <strong>de</strong> ameaçada diante<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> uma situação estressante (MARQUES, 2002, p.49).<<strong>br</strong> />
As diferenças individuais consi<strong>de</strong>radas por Lazarus (1984) ao enfatizar a função<<strong>br</strong> />
cognitiva do <strong>estresse</strong>, concebe que os eventos não são estressantes mas o que é<<strong>br</strong> />
estressante é a forma <strong>com</strong>o o indivíduo interpreta e reage às situações. A forma<<strong>br</strong> />
diferente das pessoas e dos grupos interpretarem certos tipos <strong>de</strong> eventos está<<strong>br</strong> />
relacionada à sensibilida<strong>de</strong> e à vulnerabilida<strong>de</strong> dos sujeitos. Essa <strong>com</strong>preensão<<strong>br</strong> />
possibilita o entendimento da variação <strong>de</strong> <strong>com</strong>portamentos humanos frente às<<strong>br</strong> />
mesmas condições externas (apud FRANÇA e RODRIGUES, 2002, p.58; ISSA e<<strong>br</strong> />
NEDER, 2002, p.62; MARQUES, 200, p.49).<<strong>br</strong> />
Lazarus & Folkman (1984) <strong>de</strong>monstraram que na avaliação cognitiva, processo que<<strong>br</strong> />
envolve a forma que o indivíduo interpreta <strong>de</strong>terminada situação, os níveis <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
respostas ao <strong>estresse</strong> são afetados por características <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong> e fatores<<strong>br</strong> />
situacionais.<<strong>br</strong> />
Dentro <strong>de</strong>ssa teoria <strong>de</strong> avaliação cognitiva focalizada no significado e não apenas<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>o um simples processamento <strong>de</strong> informações, po<strong>de</strong>-se distingüir três tipos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
avaliação que alguns autores vêem <strong>com</strong>o fases mediadoras da relação pessoaambiente:<<strong>br</strong> />
avaliação primária; secundária e reavaliação.
47<<strong>br</strong> />
Para Marques (2002, p.49-60) a avaliação primária é quase imediata, <strong>com</strong>o um<<strong>br</strong> />
reflexo, e ocorre antes <strong>de</strong> qualquer intelectualização por parte do indivíduo; a pessoa<<strong>br</strong> />
examina se o acontecimento é irrelevante, positivo ou estressante. Caso seja<<strong>br</strong> />
estressante po<strong>de</strong> adotar duas formas: 1) dano ou perda: a pessoa assume o dano.<<strong>br</strong> />
Morte ou perda <strong>de</strong> ente querido, ferimentos incapacitantes, por exemplo. Esses<<strong>br</strong> />
eventos po<strong>de</strong>m originar implicações negativas <strong>com</strong> relação ao <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
ativida<strong>de</strong>s futuras (dano). 2) Ameaça ou <strong>de</strong>safio: refere-se a danos ou perdas que<<strong>br</strong> />
ainda não tenham acontecido, mas que são antecipados pelo fato <strong>de</strong> que as perdas<<strong>br</strong> />
têm implicações negativas para o futuro. Neste caso, o indivíduo faz uso do coping<<strong>br</strong> />
antecipado possibilitando um planejamento <strong>com</strong> o intuito <strong>de</strong> vencer dificulda<strong>de</strong>s. São<<strong>br</strong> />
levadas em consi<strong>de</strong>ração as emoções negativas: medo, ansieda<strong>de</strong> e ira. Na avaliação<<strong>br</strong> />
do <strong>estresse</strong> tipo <strong>de</strong>safio a pessoa percebe o acontecimento <strong>com</strong>o oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
aprendizagem ou ganho. Os esforços <strong>de</strong> coping também se verifica e estão voltados<<strong>br</strong> />
para o ganho ou crescimento, o que envolve emoções que dão prazer: excitação,<<strong>br</strong> />
esperança e confiança. O indivíduo usufrui melhor dos recursos disponíveis e adquire<<strong>br</strong> />
uma postura positiva frente às situações.<<strong>br</strong> />
É importante mencionar que uma situação ameaçadora inicialmente po<strong>de</strong> vir a ser<<strong>br</strong> />
avaliada <strong>com</strong>o <strong>de</strong>safiadora, conseqüência dos esforços <strong>de</strong> coping que permitem uma<<strong>br</strong> />
visão mais positiva.<<strong>br</strong> />
Na avaliação secundária a situação <strong>de</strong> perigo, seja <strong>de</strong> ameaça ou <strong>de</strong>safio, requer uma<<strong>br</strong> />
ação controladora. Nesta avaliação o indivíduo verifica o que po<strong>de</strong> ou <strong>de</strong>ve ser feito.<<strong>br</strong> />
Como processo <strong>com</strong>plexo leva em conta: opções <strong>de</strong> coping disponíveis, ou seja; o<<strong>br</strong> />
indivíduo faz um julgamento so<strong>br</strong>e o que po<strong>de</strong> ser feito diante da situação vivida.<<strong>br</strong> />
O grau <strong>de</strong> <strong>estresse</strong> e a força e qualida<strong>de</strong> da reação emocional, frente à uma situação,<<strong>br</strong> />
é resultado da interação entre o julgamento do que po<strong>de</strong> ser feito (opções <strong>de</strong> coping) e<<strong>br</strong> />
o risco que está em jogo (avaliação primária). Sendo assim, a probabilida<strong>de</strong> do<<strong>br</strong> />
indivíduo lidar ou não <strong>com</strong> os problemas que exigem <strong>de</strong>le uma reação para diminuição<<strong>br</strong> />
do grau <strong>de</strong> risco que está em jogo irá <strong>de</strong>terminar um maior ou menor grau <strong>de</strong> <strong>estresse</strong>.<<strong>br</strong> />
Por exemplo, um indivíduo toma conhecimento <strong>de</strong> que tem um câncer e passa a<<strong>br</strong> />
avaliar o que po<strong>de</strong> ser feito. Sua opção (avaliação secundária) po<strong>de</strong> ser tratar <strong>de</strong>sse<<strong>br</strong> />
problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>com</strong> uma cirurgia, sessões <strong>de</strong> quimioterapia, etc... ou não tratarse.<<strong>br</strong> />
Neste exemplo, a avaliação primária é feita através do risco que essa pessoa corre<<strong>br</strong> />
(que está em jogo) e seria: a morte (perda ou dano), o tratamento que po<strong>de</strong> ser<<strong>br</strong> />
encarado <strong>com</strong>o uma ameaça, <strong>com</strong> implicações negativas para o futuro (uma seqüela
48<<strong>br</strong> />
qualquer ou o <strong>de</strong>safio: esperança em vencer a doença e/ou confiança no sucesso do<<strong>br</strong> />
tratamento. O grau <strong>de</strong> <strong>estresse</strong>, neste caso, será <strong>de</strong>terminado pela capacida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
emocional que o indivíduo tem para lidar <strong>com</strong> as exigências que cada opção requer<<strong>br</strong> />
para <strong>enfrentamento</strong> <strong>de</strong>sta situação.<<strong>br</strong> />
A reavaliação é uma avaliação modificada baseada em novas informações vindas do<<strong>br</strong> />
ambiente e/ou levantadas pela própria pessoa. Difere-se da avaliação pelo fato <strong>de</strong> ser<<strong>br</strong> />
subseqüente ao processo <strong>de</strong> avaliação sendo às vezes, resultado dos esforços<<strong>br</strong> />
realizados para eleição <strong>de</strong> <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> coping. Reavaliações <strong>de</strong>fensivas e baseadas<<strong>br</strong> />
em uma nova informação são difíceis <strong>de</strong> serem distinguidas (MARQUES, 2002 p. 49-<<strong>br</strong> />
51; FRANÇA e RODRIGUES, 2002, p.59-60).<<strong>br</strong> />
3.6 Causas do <strong>estresse</strong><<strong>br</strong> />
Os estressores<<strong>br</strong> />
.....são agentes que se mostram <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />
agressores físicos ou mentais <strong>com</strong>o um vírus,<<strong>br</strong> />
um aci<strong>de</strong>nte, mudanças no meio, medo,<<strong>br</strong> />
frustrações e outros. (SANTOS 1995 apud<<strong>br</strong> />
MARQUES, 2002, p.15-16)<<strong>br</strong> />
Os estressores po<strong>de</strong>m ser externos e internos, o que esquematicamente está<<strong>br</strong> />
representado na figura 4. Na avaliação <strong>de</strong> uma situação estressante, a fome, o frio e a<<strong>br</strong> />
dor ou as condições <strong>de</strong> insalu<strong>br</strong>ida<strong>de</strong>, do ambiente social e do trabalho são<<strong>br</strong> />
consi<strong>de</strong>radas <strong>com</strong>o estressores externos (EVERLY, 1989 apud. LIPP, 1996, p. 20) A<<strong>br</strong> />
nossa história <strong>de</strong> vida, "aquele vasto mundo que temos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós" (FRANÇA e<<strong>br</strong> />
RODRIGUES 2002, p.31), nossos pensamentos, nossas emoções, nossa angústia, o<<strong>br</strong> />
medo, a alegria, a tristeza são chamados <strong>de</strong> estressores internos.<<strong>br</strong> />
A resposta ao estímulo estressor é a reação do indivíduo frente ao agente<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ante. Essa resposta po<strong>de</strong> ser positiva e po<strong>de</strong>-se dizer que a pessoa reagiu<<strong>br</strong> />
bem à <strong>de</strong>manda (eustresse). Ao contrário, se o estressor provocar uma resposta<<strong>br</strong> />
negativa, ou seja, se o processo adaptativo for ina<strong>de</strong>quado será chamado <strong>de</strong> distresse<<strong>br</strong> />
po<strong>de</strong>ndo gerar inclusive doenças (FRANÇA e RODRIGUES, 2002, p.30).
49<<strong>br</strong> />
ESTÍMULOS<<strong>br</strong> />
Mundo interno (pensamentos,<<strong>br</strong> />
sentimentos, emoções, fantasias).<<strong>br</strong> />
SER HUMANO<<strong>br</strong> />
Síndrome geral <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
adaptação<<strong>br</strong> />
Meio Externo (meio sócioeconômico-cultural,<<strong>br</strong> />
inclusive o<<strong>br</strong> />
trabalho)<<strong>br</strong> />
ESTRESSE<<strong>br</strong> />
Figura 4 - Representação esquemática do processo <strong>de</strong> <strong>estresse</strong><<strong>br</strong> />
Fonte: França e Rodrigues (2002, p.30).<<strong>br</strong> />
Para França e Rodrigues, (2002, p.41-42), algumas pessoas parecem lidar melhor<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> as frustrações e assim controlar as pressões externas. Po<strong>de</strong>-se dizer que esses<<strong>br</strong> />
indivíduos têm maior capacida<strong>de</strong> para lidar <strong>com</strong> os estressores e conseguem reagir<<strong>br</strong> />
positivamente frente às exigências do cotidiano. Ainda segundo este autor, uma<<strong>br</strong> />
situação estressante é avaliada por dois fatores individuais: <strong>com</strong>promisso e crença.<<strong>br</strong> />
Uma situação po<strong>de</strong> ser ameaçadora ou <strong>de</strong>safiadora, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do <strong>com</strong>promisso<<strong>br</strong> />
que a pessoa estabeleceu <strong>com</strong> ela. Uma pessoa que investe intensamente numa<<strong>br</strong> />
tarefa porque esta po<strong>de</strong> ser a forma <strong>de</strong> conquistar uma promoção, está <strong>com</strong>prometida<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> a situação e isso po<strong>de</strong> provocar o <strong>estresse</strong>. O <strong>com</strong>promisso é <strong>com</strong>um para o<<strong>br</strong> />
eustresse e para o distresse uma vez que po<strong>de</strong> aumentar a vulnerabilida<strong>de</strong> do<<strong>br</strong> />
indivíduo ou agir <strong>com</strong>o estímulo frente aos obstáculos.<<strong>br</strong> />
A vulnerabilida<strong>de</strong> ao <strong>estresse</strong> também aumenta ou diminui <strong>de</strong> acordo <strong>com</strong> as crenças<<strong>br</strong> />
ou convicções que as pessoas têm so<strong>br</strong>e a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma situação que estão
50<<strong>br</strong> />
vivendo, antes <strong>de</strong> ela acontecer. Apesar das pessoas nem sempre se darem conta da<<strong>br</strong> />
influência <strong>de</strong> suas próprias crenças, isso po<strong>de</strong> interferir na percepção que o indivíduo<<strong>br</strong> />
tem da situação que está vivendo. Uma mulher que tem marido alcoólatra viverá sob<<strong>br</strong> />
tensão se acreditar que seu filho também po<strong>de</strong>rá sê-lo. Essa sua crença age <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />
agente estressor que a <strong>de</strong>ixará vulnerável ao <strong>estresse</strong>.<<strong>br</strong> />
3.7 Sintomas do <strong>estresse</strong><<strong>br</strong> />
O <strong>estresse</strong> po<strong>de</strong> provocar distúrbios físicos e psicológicos. Na área emocional po<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
produzir apatia, <strong>de</strong>pressão, <strong>de</strong>sânimo, bem <strong>com</strong>o ira, raiva, e até surtos psicóticos e<<strong>br</strong> />
crises neuróticas. Pressão alta, úlceras no estômago e no intestino, câncer, psoríase e<<strong>br</strong> />
vitiligo são algumas das doenças psicofisiológicas estudadas que têm o <strong>estresse</strong> <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />
agente <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ante (LIPP,1996, p.24). É muito <strong>com</strong>um, por exemplo, a enfermeira<<strong>br</strong> />
ao coletar a história <strong>de</strong> um paciente <strong>com</strong> câncer, por ocasião da internação, ouvir que<<strong>br</strong> />
a pessoa enfrentou situações consi<strong>de</strong>radas estressantes tais <strong>com</strong>o: perda <strong>de</strong> filho, <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
bens materiais, <strong>de</strong> cônjuge, <strong>de</strong>ntre outras, que o paciente emocionado relata “que um<<strong>br</strong> />
pouco antes da doença se manifestar” ele sentiu uma dor muito gran<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
3.8 Estresse <strong>ocupacional</strong><<strong>br</strong> />
Muito <strong>com</strong>entado, o <strong>estresse</strong> <strong>ocupacional</strong> é assunto <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância em todo o<<strong>br</strong> />
mundo, principalmente, pelos seus efeitos que são prejudiciais ao trabalhador e à<<strong>br</strong> />
própria organização. As conseqüências da exposição às pressões psicológicas<<strong>br</strong> />
inerentes ao cotidiano profissional da <strong>com</strong>unida<strong>de</strong> trabalhadora influencia<<strong>br</strong> />
negativamente as empresas, prejudicando seus lucros (LIPP e MALAGRA, 1995 apud<<strong>br</strong> />
LIPP, 1996). Esse problema é relevante para o grupo empresarial que arca <strong>com</strong> os<<strong>br</strong> />
prejuízos dos aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho, das mortes prematuras, <strong>com</strong> o absenteísmo,<<strong>br</strong> />
hospitalizações, problemas <strong>de</strong> alcoolismo, cardiopatias entre outros Selye ( 1978, p.10<<strong>br</strong> />
apud MARQUES, 2002, p.16). Nos EUA, gastam-se, em média, US$ 230 bilhões <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
dólares por ano <strong>com</strong> a redução da produtivida<strong>de</strong>, conseqüência das ausências dos<<strong>br</strong> />
empregados e <strong>com</strong> as ações <strong>de</strong> <strong>com</strong>pensação movidas pelos trabalhadores que<<strong>br</strong> />
adoeceram, vítimas das situações <strong>de</strong> trabalho (DuBRIN 2003; p.184).<<strong>br</strong> />
Muitas pesquisas, ainda, nos EUA, confirmam que os níveis <strong>de</strong> <strong>estresse</strong> aumentaram<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> modo significativo e progressivamente nas últimas duas décadas. No Brasil, 70%<<strong>br</strong> />
dos trabalhadores vivem sob <strong>estresse</strong> profissional, sendo que no Japão esse índice<<strong>br</strong> />
aumenta para 85%, é o que afirma a psicóloga Ana Maria Rossi, presi<strong>de</strong>nte da Isma -
51<<strong>br</strong> />
Associação Internacional para o Cuidado <strong>com</strong> o Stress - (DOMENICH, 2002). A<<strong>br</strong> />
Organização Mundial da Saú<strong>de</strong> (OMS) consi<strong>de</strong>rou, há pouco tempo, o <strong>estresse</strong> <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />
uma “epi<strong>de</strong>mia global” que segundo Lipp, em adultos se caracteriza <strong>com</strong>o <strong>estresse</strong><<strong>br</strong> />
profissional (1996, p.13).<<strong>br</strong> />
Para França e Rodrigues (2002, p.34), particularmente, o <strong>estresse</strong> relacionado ao<<strong>br</strong> />
trabalho é um estado psicológico <strong>com</strong>plexo <strong>de</strong> reação a situações que ameaçam o<<strong>br</strong> />
indivíduo nas suas necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> realização pessoal e profissional. Demandas<<strong>br</strong> />
excessivas no ambiente laborial e/ou quando a pessoa não contém recursos<<strong>br</strong> />
a<strong>de</strong>quados para enfrentá-las, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>iam esse processo que prejudica a interação<<strong>br</strong> />
do indivíduo <strong>com</strong> o seu trabalho.<<strong>br</strong> />
Para Karasek (1990 apud FRANÇA e RODRIGUES, 2002, p.61), o <strong>estresse</strong> no<<strong>br</strong> />
trabalho é visto <strong>com</strong>o as respostas emocionais e físicas ocorridas quando as<<strong>br</strong> />
exigências do trabalho não estão em equilí<strong>br</strong>io <strong>com</strong> as necessida<strong>de</strong>s do trabalhador.<<strong>br</strong> />
Este autor consi<strong>de</strong>rou um mo<strong>de</strong>lo chamado Job strain (tensão do trabalho). Sem se<<strong>br</strong> />
preocupar em medir fatores <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong> ou externos ao trabalho, consi<strong>de</strong>ra<<strong>br</strong> />
apenas os fatores ambientais <strong>com</strong>o <strong>de</strong>terminantes no processo <strong>de</strong> <strong>estresse</strong>. Esse<<strong>br</strong> />
mo<strong>de</strong>lo também chamado <strong>de</strong> exigência-controle prevê que os trabalhadores que se<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>frontam <strong>com</strong> maior carga <strong>de</strong> pressões psicológicas ou <strong>de</strong> exigências, <strong>com</strong>binadas<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> baixo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>cisório, correm maior risco <strong>de</strong> apresentar problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
física e mental <strong>de</strong>correntes do <strong>estresse</strong>. Neste mo<strong>de</strong>lo são consi<strong>de</strong>rados <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />
estressores as exigências ambientais e <strong>com</strong>o tensão as manifestações fisiológicas,<<strong>br</strong> />
psicológicas ou <strong>com</strong>portamentais <strong>de</strong> curto prazo.<<strong>br</strong> />
O sentimento <strong>de</strong> que as tarefas cotidianas são maiores que os meios para solucionálas<<strong>br</strong> />
também são fatores que po<strong>de</strong>m ocasionar o <strong>estresse</strong> <strong>ocupacional</strong> sendo mais<<strong>br</strong> />
freqüente quando há a percepção <strong>de</strong> se ter muitas responsabilida<strong>de</strong>s significativas,<<strong>br</strong> />
mas poucas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões e <strong>de</strong> controle. Essa condição <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
trabalho geradora <strong>de</strong> <strong>estresse</strong>, segundo Karasek (1979 apud FRANÇA e<<strong>br</strong> />
RODRIGUES, 2002, p.63) po<strong>de</strong> ser minimizada pelas ações <strong>de</strong> suporte social<<strong>br</strong> />
representadas pelas relações interpessoais entre o trabalhador, colegas e chefes.<<strong>br</strong> />
Para Baker e Karasek (2000 apud FRANÇA e RODRIGUES, 2002, p.63), são<<strong>br</strong> />
estressores as exigências <strong>de</strong> tempo e ritmo tais <strong>com</strong>o as horas extras, o trabalho em<<strong>br</strong> />
turnos, o trabalho ao ritmo da máquina, e o pagamento por produção. A falta <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
controle e a sub-utilização <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s são <strong>com</strong>ponentes do processo <strong>de</strong> <strong>estresse</strong>
52<<strong>br</strong> />
consi<strong>de</strong>rados estrutura das tarefas. Como estressores relacionados às condições<<strong>br</strong> />
físicas <strong>de</strong>sagradáveis têm-se a ameaça <strong>de</strong> riscos físicos ou tóxicos e os riscos<<strong>br</strong> />
ergonômicos. Ambigüida<strong>de</strong> e conflito <strong>de</strong> papel, a <strong>com</strong>petição e a rivalida<strong>de</strong> são os<<strong>br</strong> />
estressores relacionados <strong>com</strong> a organização do trabalho. Os autores consi<strong>de</strong>ram,<<strong>br</strong> />
ainda, a insegurança no emprego, e as preocupações <strong>com</strong> a carreira <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />
estressores extra-organizacionais e <strong>com</strong>o fontes extratrabalho as pessoais, a família e<<strong>br</strong> />
as relacionadas à <strong>com</strong>unida<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
Segundo Cherniss (1980 apud TAMAYO, 1997, p.18) o <strong>estresse</strong> <strong>ocupacional</strong> é<<strong>br</strong> />
causado por características do ambiente <strong>de</strong> trabalho. O princípio básico <strong>de</strong>ste<<strong>br</strong> />
pensamento é que a interação das características <strong>de</strong>sse ambiente <strong>com</strong> as da<<strong>br</strong> />
personalida<strong>de</strong> do trabalhador produz estressores particulares.<<strong>br</strong> />
O professor Cooper e diversos colaboradores (apud FRANÇA e RODRIGUES, 2002,<<strong>br</strong> />
p.65) vêm <strong>de</strong>senvolvendo um mo<strong>de</strong>lo teórico que busca integrar as diferentes<<strong>br</strong> />
colaborações que vieram sendo dadas aos estudos <strong>de</strong> <strong>estresse</strong> tendo em vista o<<strong>br</strong> />
ambiente laboral. Para esses autores, são fatores ambientais os acontecimentos<<strong>br</strong> />
domésticos, do trabalho e da vida pessoal e fatores individuais, as características da<<strong>br</strong> />
personalida<strong>de</strong>, atitu<strong>de</strong>s e indicadores <strong>de</strong>mográficos, que <strong>de</strong>mandam <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfrentamento</strong> por parte dos indivíduos para a sua interrupção. Este mo<strong>de</strong>lo consi<strong>de</strong>ra<<strong>br</strong> />
que a vulnerabilida<strong>de</strong> individual, tida <strong>com</strong>o mo<strong>de</strong>radora do <strong>estresse</strong> é <strong>com</strong>posta pelos<<strong>br</strong> />
seguintes fatores: Personalida<strong>de</strong> (tipos A e B), <strong>de</strong>scritas no quadro 1, fator <strong>de</strong> controle<<strong>br</strong> />
diante dos eventos da vida, <strong>de</strong> suporte social para problemas pessoais e <strong>de</strong> trabalho e<<strong>br</strong> />
<strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> voltadas ao <strong>estresse</strong>.<<strong>br</strong> />
Para Cooper e al. (1988 apud FRANÇA e RODRIGUES, 2002, p.65-66) são<<strong>br</strong> />
consi<strong>de</strong>radas cinco categorias ambientais relacionadas ao trabalho:<<strong>br</strong> />
Fatores intrínsecos ao trabalho: estão envolvidos o trabalho em turno, a jornada <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
trabalho extensa, as condições <strong>de</strong> trabalho empo<strong>br</strong>ecidas e o trabalho monótono,<<strong>br</strong> />
as viagens, as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> risco ou perigo e as novas tecnologias.<<strong>br</strong> />
Fator papel na organização: envolve o nível <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> em relação a<<strong>br</strong> />
coisas ou pessoas na organização.<<strong>br</strong> />
Fator relações <strong>de</strong> trabalho: são as pressões políticas, as exercidas por superiores<<strong>br</strong> />
hierárquicos e a recusa <strong>de</strong> colaboração por parte <strong>de</strong> subordinados, a falta <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
consi<strong>de</strong>ração, o isolamento, a rivalida<strong>de</strong>, o conflito e os ressentimentos.<<strong>br</strong> />
Fatores <strong>de</strong>senvolvimento na carreira. Cooper propõe que se investigue a falta <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
segurança no trabalho gerada por aposentadoria precoce, medo <strong>de</strong> redundância
53<<strong>br</strong> />
ou obsolescência, ou ainda, frustrações referentes ao topo <strong>de</strong> carreira e<<strong>br</strong> />
ina<strong>de</strong>quação <strong>com</strong> relação a pessoas na organização.<<strong>br</strong> />
Estrutura e clima organizacionais: O mo<strong>de</strong>lo propõe que se examine os aspectos<<strong>br</strong> />
que ameacem a individualida<strong>de</strong>, liberda<strong>de</strong>, autonomia e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, <strong>com</strong>o a falta<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> senso <strong>de</strong> pertencimento, <strong>de</strong> participação, <strong>de</strong> consulta e <strong>com</strong>unicação e as<<strong>br</strong> />
restrições ao <strong>com</strong>portamento no trabalho.<<strong>br</strong> />
Estudos realizados <strong>de</strong>monstram que a organização hospitalar, caracterizada pela<<strong>br</strong> />
especialização, pela heterogeneida<strong>de</strong> <strong>de</strong> funcionários, pelos múltiplos níveis <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
autorida<strong>de</strong> e do trabalho multidisciplinar é local on<strong>de</strong> se i<strong>de</strong>ntificam gran<strong>de</strong>s índices <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>estresse</strong> <strong>ocupacional</strong> (SOUZA, 1998, p.2) que quando crônico e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />
os profissionais o enfrentam po<strong>de</strong> provocar outras reações <strong>com</strong>o a síndrome <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Burnout, o que Thorton (1992 apud TAMAYO, 1997, p.22) confirma “quando o<<strong>br</strong> />
<strong>estresse</strong> é crônico e intenso, e o envolvimento do indivíduo <strong>com</strong> a situação <strong>de</strong> trabalho<<strong>br</strong> />
é muito gran<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>senvolver a Síndrome <strong>de</strong> Burnout”.<<strong>br</strong> />
3.9 Estratégias <strong>de</strong> Enfrentamento (coping).<<strong>br</strong> />
O trabalho, <strong>com</strong>o fator indissociável da existência humana, tem um papel muito<<strong>br</strong> />
importante para o equilí<strong>br</strong>io do homem. Além <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r as necessida<strong>de</strong>s básicas e<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> segurança, é um dos caminhos para o prazer, busca constante, inclusive e<<strong>br</strong> />
principalmente nessa área, porque no trabalho são oferecidas condições <strong>de</strong> interação<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> os outros, <strong>de</strong> socialização e <strong>de</strong> reforço da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> pessoal, quando do contato<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> o produzir.<<strong>br</strong> />
Apesar dos incômodos, dos <strong>de</strong>sgastes e das queixas, na maioria das vezes os<<strong>br</strong> />
trabalhadores não abandonam o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> trabalhar pois além das necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
so<strong>br</strong>evivência, o homem se i<strong>de</strong>ntifica fazendo, produzindo e sentindo-se útil. O ato <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
produzir, seja um bem acabado ou um serviço, traz um sentido para quem o realiza.<<strong>br</strong> />
“O homem é o que faz”. (MARX apud MENDES, 1999, p.35). Esse pensamento<<strong>br</strong> />
exprime em sua essência que o homem tem satisfação em realizar seu trabalho <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
criativida<strong>de</strong> e orgulho <strong>de</strong> si mesmo. Sentimentos <strong>de</strong> que o trabalho tem sentido (<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
valorização) e <strong>de</strong> ser aceito e admirado (<strong>de</strong> reconhecimento), é motivo <strong>de</strong> prazer<<strong>br</strong> />
quando vivenciado pelo trabalhador (MENDES, 1999, p.34-39), entretanto, quando o<<strong>br</strong> />
trabalho não cumpre o papel <strong>de</strong> realizar o ser humano, muitas vezes o indivíduo sofre.<<strong>br</strong> />
Esse sofrer po<strong>de</strong> ser enfrentado por <strong>estratégia</strong>s que visam administrá-lo <strong>com</strong>o forma<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> buscar estrutura psíquica e uma relação mais gratificante para a realização do
54<<strong>br</strong> />
trabalho. Isolamento psicoafetivo e profissional, sentimento <strong>de</strong> resignação, <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>scrença, <strong>de</strong> renúncia à participação, <strong>de</strong> indiferença e <strong>de</strong> apatia são características<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>fensivas que manifestas negam a realida<strong>de</strong> que faz o indivíduo sofrer permitindo o<<strong>br</strong> />
seu convívio no contexto organizacional. As <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> criativo,<<strong>br</strong> />
expressas através <strong>de</strong> <strong>com</strong>portamentos <strong>de</strong> cooperação, solidarieda<strong>de</strong>, confiança,<<strong>br</strong> />
participação e engajamento nas discussões do grupo, são também utilizadas para<<strong>br</strong> />
convivência <strong>com</strong> as situações que trazem <strong>de</strong>scontentamento para o trabalhador<<strong>br</strong> />
(MENDES, 1999 p.23 e 269).<<strong>br</strong> />
O sofrimento é capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>sestabilizar a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e a personalida<strong>de</strong> do homem<<strong>br</strong> />
conduzindo-o a problemas mentais. As <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> têm por objetivo<<strong>br</strong> />
manter o equilí<strong>br</strong>io das pessoas contra os sentimentos produzidos nas situações <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
conflito que geram angústia. Esse processo, mobilizado <strong>de</strong> forma coletiva ou<<strong>br</strong> />
individual, tem por finalida<strong>de</strong> estabilizar as relações subjetivas dos indivíduos <strong>com</strong> a<<strong>br</strong> />
organização do trabalho e assim possibilitar a continuida<strong>de</strong> da realização da tarefa<<strong>br</strong> />
(DEJOURS, ABDOUCHELI e JAYET, 1994 apud SOBOLL 2001, p.4).<<strong>br</strong> />
Neurose <strong>de</strong> trabalho, fadiga mental, burnout, sintomas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sadaptação ou<<strong>br</strong> />
insatisfação e <strong>estresse</strong> são <strong>de</strong>nominações utilizadas para estudar os sintomas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
sofrimento no trabalho. Como métodos <strong>de</strong> investigação diferenciados, vinculados à<<strong>br</strong> />
medicina, à sociologia e à psicologia, constituem-se em abordagens <strong>com</strong>plementares<<strong>br</strong> />
para o entendimento do convívio do trabalhador <strong>com</strong> o sofrimento. Cada um <strong>de</strong>stes<<strong>br</strong> />
fenômenos aten<strong>de</strong> pressupostos teóricos diferentes e consi<strong>de</strong>ram as variáveis<<strong>br</strong> />
pessoais, do trabalho em si e do contexto organizacional.<<strong>br</strong> />
A relação entre o psíquico e as relações <strong>de</strong> trabalho que se estabelece entre a<<strong>br</strong> />
organização, o conteúdo da tarefa e a história <strong>de</strong> vida do trabalhador <strong>com</strong>o processo<<strong>br</strong> />
dinâmico, po<strong>de</strong> propiciar um reencontro do indivíduo <strong>com</strong> o sofrimento vivenciado em<<strong>br</strong> />
um <strong>de</strong>terminado momento da relação <strong>com</strong> seus pais, o que se repete no espaço <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
trabalho. Esses mecanismos psicológicos, às vezes inconscientes, traz para a<<strong>br</strong> />
realida<strong>de</strong> atual a realida<strong>de</strong> infantil pregressa que transfere e é projetado pelos<<strong>br</strong> />
trabalhadores à organização, a colegas e ao conteúdo das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho. Isso<<strong>br</strong> />
cria uma intersubjetivida<strong>de</strong> própria a cada trabalhador e a intensida<strong>de</strong> do sofrimento<<strong>br</strong> />
po<strong>de</strong> variar <strong>de</strong>ntro da mesma categoria profissional e da mesma organização,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da dinâmica <strong>de</strong>ssas relações (MENDES, 1999, p.50-52)<<strong>br</strong> />
A teoria Psicodinâmica do trabalho, elaborada a partir do início dos anos 70 pelo<<strong>br</strong> />
médico psiquiatra francês Christopher Dejours, tem explorado profundamente os
55<<strong>br</strong> />
mecanismos <strong>de</strong>fensivos <strong>de</strong> diversas categorias profissionais, mobilizados frente aos<<strong>br</strong> />
fatores <strong>de</strong> sofrimento no trabalho que para este autor, não é originado<<strong>br</strong> />
necessariamente na realida<strong>de</strong> exterior, mas nas relações que o sujeito estabelece <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
essa realida<strong>de</strong> ((DEJOURS, ABDOUCHELI E JAYET, 1994 apud SOBOLL, 2001, p.4;<<strong>br</strong> />
MENDES, 1999 p.52).<<strong>br</strong> />
A vulnerabilida<strong>de</strong> do trabalhador às reações psicológicas, que são estimuladas na<<strong>br</strong> />
vivência das situações adversas em seu cotidiano, “Já que geralmente não modifica a<<strong>br</strong> />
realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pressão patogênica imposta pela organização do trabalho” (MENDES,<<strong>br</strong> />
1999, p.62), faz o indivíduo lançar mão <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> <strong>estratégia</strong>s para administrar<<strong>br</strong> />
essa situação e esse é o processo chamado coping.<<strong>br</strong> />
Para Lazarus & Folkman (1984), <strong>enfrentamento</strong> ou Coping po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finido pela<<strong>br</strong> />
forma <strong>com</strong>o as pessoas <strong>com</strong>umente reagem ao <strong>estresse</strong>. Estas reações estão<<strong>br</strong> />
relacionadas a fatores pessoais, exigências situacionais e recursos disponíveis (apud<<strong>br</strong> />
PINHEIRO, 2003 p.1).<<strong>br</strong> />
Para França e Rodrigues (2002, p.60), o coping –<strong>enfrentamento</strong> refere-se aos<<strong>br</strong> />
esforços cognitivos e <strong>com</strong>portamentais que o indivíduo lança mão para administrar<<strong>br</strong> />
exigências externas e/ou internas específicas, quando um evento exce<strong>de</strong> os recursos<<strong>br</strong> />
que ele <strong>de</strong>tém. Também chamados <strong>de</strong> resposta <strong>de</strong> coping po<strong>de</strong>m ser classificados <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
acordo <strong>com</strong> a função: <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> coping centradas no problema ou na emoção; ou<<strong>br</strong> />
tipo: evitação, busca <strong>de</strong> informações, busca <strong>de</strong> suporte emocional etc.<<strong>br</strong> />
O estudo do coping tem sido feito, historicamente por três gerações <strong>de</strong> cientistas das<<strong>br</strong> />
áreas <strong>de</strong> psicologia social, clínica e da personalida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>ndo-se observar diferenças<<strong>br</strong> />
marcantes tanto a nível teórico quanto a nível metodológico. No início do século, uma<<strong>br</strong> />
primeira geração <strong>de</strong> pesquisadores ligados à psicologia do ego concebeu o coping<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>o mecanismo interno e inconsciente que permite ao indivíduo lutar <strong>com</strong> conflitos<<strong>br</strong> />
especificamente sexuais e agressivos. Posteriormente foram incluídos <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adores dos processos <strong>de</strong> coping os eventos ambientais categorizados<<strong>br</strong> />
hierarquicamente dos mais imaturos aos mais sofisticados e adaptativos (TAPP, 1985<<strong>br</strong> />
apud ANTONIAZZI, DELL’AGGLIO e BANDEIRA,1998, p.274).<<strong>br</strong> />
Partindo-se das expectativas iniciais, algumas distinções foram feitas para diferenciar<<strong>br</strong> />
os mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa do coping. Originários das questões do passado e<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> elementos inconscientes, os <strong>com</strong>portamentos rígidos e ina<strong>de</strong>quados <strong>com</strong>
56<<strong>br</strong> />
relação à realida<strong>de</strong> externa, foram classificados <strong>com</strong>o mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa. Já ao<<strong>br</strong> />
coping associou-se os <strong>com</strong>portamentos classificados <strong>com</strong>o mais flexíveis e<<strong>br</strong> />
propositais, a<strong>de</strong>quados à realida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> natureza consciente e orientados para o futuro.<<strong>br</strong> />
“Esta abordagem tem sido bastante criticada em função das dificulda<strong>de</strong>s teóricas da<<strong>br</strong> />
psicologia do ego <strong>de</strong> testar empiricamente suas concepções” (ANTONIAZZI,<<strong>br</strong> />
DELL’AGGLIO e BANDEIRA, 1998, p.275)<<strong>br</strong> />
Nas décadas <strong>de</strong> 60 a 80, a segunda geração <strong>de</strong> pesquisadores apontam para uma<<strong>br</strong> />
nova perspectiva <strong>com</strong> relação ao <strong>com</strong>portamento <strong>de</strong> coping que buscou enfatizar os<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>terminantes cognitivos e situacionais. Passou-se a conceitualizar coping <strong>com</strong>o um<<strong>br</strong> />
processo transacional entre o indivíduo e o ambiente enfatizando o processo e os<<strong>br</strong> />
traços <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong>. Esta época foi marcada por importantes avanços na área,<<strong>br</strong> />
que geraram inúmeras publicações, em especial pelo grupo Folkman & Lazarus.<<strong>br</strong> />
Motivados pelo corpo cumulativo <strong>de</strong> evidências que toda a variação nas <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
coping utilizadas pelos indivíduos não são explicadas apenas por fatores situacionais,<<strong>br</strong> />
a terceira geração <strong>de</strong> pesquisadores, mais recente, tem estudado as convergências<<strong>br</strong> />
entre coping e personalida<strong>de</strong>. “Por outro lado, o interesse <strong>de</strong>spertado pela<<strong>br</strong> />
credibilida<strong>de</strong> científica dos estudos so<strong>br</strong>e traços <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong>, em especial, o<<strong>br</strong> />
mo<strong>de</strong>lo dos Cinco Gran<strong>de</strong>s Fatores tem ampliado os estudos nesta direção”<<strong>br</strong> />
(ANTONIAZZI, DELL’AGGLIO e BANDEIRA, 1998, p.275).<<strong>br</strong> />
Otimismo, rigi<strong>de</strong>z, auto-estima e “locus” <strong>de</strong> controle são os traços <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
relacionados às <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> coping mais amplamente estudadas. Apesar <strong>de</strong> muitos<<strong>br</strong> />
artigos publicados referirem-se a instrumentos <strong>de</strong> medida <strong>de</strong> coping <strong>de</strong>senvolvidos<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>o inventários e check lists, durante muitos anos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento teórico e <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
pesquisa “não chegamos ainda, a um entendimento <strong>com</strong>preensivo da estrutura do<<strong>br</strong> />
coping “(ANTONIAZZI, DELL’AGGLIO e BANDEIRA, 1998, p.276).<<strong>br</strong> />
3.9.1 Mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> coping<<strong>br</strong> />
Coping é <strong>de</strong>finido <strong>com</strong>o um conjunto <strong>de</strong> esforços cognitivos e <strong>com</strong>portamentais,<<strong>br</strong> />
utilizados pelos indivíduos, <strong>com</strong> o objetivo <strong>de</strong> lidar <strong>com</strong> <strong>de</strong>mandas específicas internas<<strong>br</strong> />
ou externas surgidas em situações <strong>de</strong> <strong>estresse</strong> quando este so<strong>br</strong>ecarrega ou exce<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
seus recursos pessoais. Nesta perspectiva cognitivista <strong>de</strong> Folkman e Lazarus (1980<<strong>br</strong> />
apud ANTONIAZZI, DELL’AGGLIO e BANDEIRA, 1998, p.276), o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> coping é<<strong>br</strong> />
visto <strong>com</strong>o um mediador entre um estressor e o resultado advindo <strong>de</strong>sse estressor e
57<<strong>br</strong> />
está dividido em duas categorias funcionais: o coping focalizado no problema e o<<strong>br</strong> />
coping focalizado na emoção. O coping entendido <strong>com</strong>o mediador são ações<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>liberadas que po<strong>de</strong>m ser aprendidas, usadas e <strong>de</strong>scartadas, por isso, a negação, o<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>slocamento e a regressão consi<strong>de</strong>radas mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa inconscientes e não<<strong>br</strong> />
intencionais não po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>radas <strong>com</strong>o <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> coping (RYAN-<<strong>br</strong> />
WENGER, 1992 apud ANTONIAZZI, DELL’AGGLIO e BANDEIRA, 1998, p.276).<<strong>br</strong> />
O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> coping, esquematizado na figura 5, consi<strong>de</strong>rado <strong>com</strong>o o mais<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>preensivo dos existentes, envolve quatro conceitos e foi proposto por Folkman<<strong>br</strong> />
e Lazarus (LAZARUS & FOLKMAN, 1980-1984 apud ANTONIAZZI, DELL’AGGLIO<<strong>br</strong> />
e BANDEIRA, 1998, p.277-278) assim:<<strong>br</strong> />
coping é um processo que se dá entre o indivíduo e o ambiente.<<strong>br</strong> />
A função do coping é administrar a situação estressora mas não <strong>de</strong> controlá-la ou<<strong>br</strong> />
dominá-la.<<strong>br</strong> />
O processo <strong>de</strong> coping pressupõe a noção <strong>de</strong> avaliação, isto é, <strong>com</strong>o o fenômeno é<<strong>br</strong> />
percebido, interpretado e cognitivamente representado na mente do indivíduo.<<strong>br</strong> />
O coping é um processo <strong>de</strong> mobilização <strong>de</strong> esforços cognitivos e <strong>com</strong>portamentais<<strong>br</strong> />
que o indivíduo faz para reduzir, minimizar ou tolerar (administrar) as <strong>de</strong>mandas<<strong>br</strong> />
internas ou externas que surgem da sua interação <strong>com</strong> o ambiente. Como ação<<strong>br</strong> />
intencional, física ou mental inicia-se <strong>com</strong>o resposta a um estressor percebido, e é<<strong>br</strong> />
dirigida para circunstâncias externas ou estados internos.<<strong>br</strong> />
Nesta perspectiva, consi<strong>de</strong>ra-se que a resposta <strong>de</strong> coping é uma ação<<strong>br</strong> />
intencional, física ou mental, iniciada em resposta a um estressor<<strong>br</strong> />
percebido, dirigida para circunstâncias externas ou estados internos<<strong>br</strong> />
(LAZARUS & FOLKMAN, 1984). A resposta <strong>de</strong> stress é qualquer<<strong>br</strong> />
resposta envolvendo uma reação emocional ou <strong>com</strong>portamental<<strong>br</strong> />
espontânea. O objetivo <strong>de</strong> coping constitui-se, <strong>de</strong>sta forma, na<<strong>br</strong> />
intenção <strong>de</strong> uma resposta <strong>de</strong> coping, geralmente orientada para a<<strong>br</strong> />
redução do stress. Ao propor este esquema, os autores salientam a<<strong>br</strong> />
diferença entre resultados <strong>de</strong> coping, que são conseqüências<<strong>br</strong> />
específicas da resposta <strong>de</strong> coping e os resultados <strong>de</strong> stress, ou seja,<<strong>br</strong> />
as conseqüências imediatas da resposta <strong>de</strong> stress. Ambos po<strong>de</strong>m<<strong>br</strong> />
promover, ou não, a adaptação do indivíduo (apud ANTONIAZZI,<<strong>br</strong> />
DELL’AGGLIO e BANDEIRA, 1998, p.279).
58<<strong>br</strong> />
Para Peterson (1989 apud ANTONIAZZI, DELL’AGGLIO e BANDEIRA, 1998, p.278), o<<strong>br</strong> />
fato <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar o coping <strong>com</strong>o mediador entre um estressor e o resultado advindo<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sse estressor provoca confusão acerca do que seriam tentativas <strong>de</strong> coping ou<<strong>br</strong> />
recursos <strong>de</strong> coping e resultados <strong>de</strong> coping. Rudolph e colaboradores (1995), diante<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ssas dificulda<strong>de</strong>s, propõe que o coping <strong>de</strong>veria ser entendido <strong>com</strong>o um episódio<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> três aspectos fundamentais intencionais e objetivos: uma resposta <strong>de</strong> coping; um<<strong>br</strong> />
objetivo subjacente a essa resposta e um resultado. O episódio <strong>de</strong> coping <strong>com</strong>o parte<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> um processo, sofre influência <strong>de</strong> múltiplas variáveis <strong>de</strong>ntre as quais encontram-se<<strong>br</strong> />
os conceitos <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>radores e mediadores. Os mo<strong>de</strong>radores são as variáveis pré<<strong>br</strong> />
existentes, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da natureza do estressor que influenciariam o resultado <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
coping, mas não a resposta <strong>de</strong> coping. Dentro <strong>de</strong>sta proposta o resultado <strong>de</strong> coping é<<strong>br</strong> />
conseqüência específica da resposta <strong>de</strong> coping. Os fatores mo<strong>de</strong>radores estão<<strong>br</strong> />
relacionados <strong>com</strong> os recursos pessoais e sócio-ecológicos <strong>de</strong> coping. Os recursos<<strong>br</strong> />
pessoais são constituídos por variáveis físicas e psicológicas que incluem saú<strong>de</strong> física,<<strong>br</strong> />
moral, crenças i<strong>de</strong>ológicas, inteligência e outras características do indivíduo (nível <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>senvolvimento, gênero, experiência prévia, temperamento). São recursos sócioecológicos<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> coping os encontrados no ambiente do indivíduo ou no contexto social<<strong>br</strong> />
(relacionamento conjugal, características familiares, re<strong>de</strong>s sociais, recursos funcionais<<strong>br</strong> />
ou práticos e circunstâncias econômicas (BERESFORD, 1994 apud ANTONIAZZI,<<strong>br</strong> />
DELL’AGGLIO e BANDEIRA, 1998, p.280).<<strong>br</strong> />
Os mediadores, por sua vez, são <strong>de</strong>finidos <strong>com</strong>o mecanismos<<strong>br</strong> />
através dos quais a variável in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte é capaz <strong>de</strong> influenciar a<<strong>br</strong> />
variável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. Especificamente no coping, estes mecanismos<<strong>br</strong> />
seriam, por exemplo, a avaliação cognitiva e o <strong>de</strong>senvolvimento da<<strong>br</strong> />
atenção. Sua característica principal é que eles seriam acionados<<strong>br</strong> />
durante o episódio <strong>de</strong> coping, em oposição aos mo<strong>de</strong>radores, que<<strong>br</strong> />
seriam pré-existentes Rudolph (1995 apud ANTONIAZZI,<<strong>br</strong> />
DELL’AGGLIO e BANDEIRA, 1998, p.279).<<strong>br</strong> />
Segundo essa proposição <strong>de</strong> Rudolph e col. (apud ANTONIAZZI, DELL’AGGLIO e<<strong>br</strong> />
BANDEIRA, 1998, p.280). “a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos afeta a avaliação do evento ou<<strong>br</strong> />
situação e <strong>de</strong>termina que <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> coping o indivíduo po<strong>de</strong> usar” ( apud<<strong>br</strong> />
ANTONIAZZI, DELL’AGGLIO e BANDEIRA, 1998, p. 280). Os fatores sócio-ecológicos<<strong>br</strong> />
tem sido focalizados nas pesquisas pois são mais facilmente mensuráveis do que os<<strong>br</strong> />
recursos pessoais. Entretanto, esses fatores po<strong>de</strong>m atuar <strong>com</strong>o fatores <strong>de</strong> risco e <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
resistência ao ajustamento do indivíduo. Para Beresford (1994 apud ANTONIAZZI,
59<<strong>br</strong> />
DELL’AGGLIO e BANDEIRA, 1998, p. 280) a noção <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> está<<strong>br</strong> />
fortemente vinculada aos recursos <strong>de</strong> coping <strong>com</strong>o mediador dos efeitos do <strong>estresse</strong>.<<strong>br</strong> />
A qualida<strong>de</strong> e a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses recursos dará ao indivíduo mais<<strong>br</strong> />
vulnerabilida<strong>de</strong> ou mais resistência aos efeitos adversos do <strong>estresse</strong> e isso po<strong>de</strong> ser<<strong>br</strong> />
um círculo vicioso .<<strong>br</strong> />
É importante distinguir o que os pesquisadores <strong>de</strong>nominam <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> coping e<<strong>br</strong> />
estilos <strong>de</strong> coping.<<strong>br</strong> />
Estilos <strong>de</strong> coping têm sido mais relacionados a características <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong>, ou a<<strong>br</strong> />
resultados <strong>de</strong> coping. Já as <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> coping referem-se a ações cognitivas ou <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>portamento tomadas no curso <strong>de</strong> um episódio particular <strong>de</strong> <strong>estresse</strong>.<<strong>br</strong> />
3.9.2 Estilos <strong>de</strong> coping são hábitos <strong>de</strong>senvolvidos pelas pessoas para lidar <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
situações <strong>de</strong> <strong>estresse</strong> e que po<strong>de</strong>m influenciar nas reações em situações novas. Os<<strong>br</strong> />
estilos <strong>de</strong> coping não implicam necessariamente à presença <strong>de</strong> traços subjacentes <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
personalida<strong>de</strong> que predispõem a pessoa a respon<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada forma mas po<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
refletir a tendência a respon<strong>de</strong>r <strong>de</strong> uma forma particular quando confrontados <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
circunstâncias específicas (CARVER e SCHEIEIR, 1994 apud ANTONIAZZI,<<strong>br</strong> />
DELL’AGGLIO e BANDEIRA, 1998, p.282).<<strong>br</strong> />
Diversas tipologias na literatura so<strong>br</strong>e coping têm sido apresentadas <strong>com</strong> foco em<<strong>br</strong> />
traços ou estilos <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong> relacionadas ao coping. São <strong>de</strong>stacados os<<strong>br</strong> />
mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tipo A e B, o monitorador e <strong>de</strong>satento, o repressor e<<strong>br</strong> />
sensível, o primário e o secundário, o passivo e ativo, a aproximação e evitação, o<<strong>br</strong> />
direto e o indireto, o pró-social e o anti-social. Embora apresentados por diferentes<<strong>br</strong> />
autores, estes estilos <strong>de</strong> coping apresentam muitos elementos em <strong>com</strong>um, sendo que<<strong>br</strong> />
alguns <strong>de</strong>les po<strong>de</strong>m ser vistos <strong>com</strong>o paralelos. Demonstra-se nos quadros 1, 2 e 3,<<strong>br</strong> />
um resumo das características do <strong>com</strong>portamento das diversas tipologias estudadas<<strong>br</strong> />
para um melhor entendimento.<<strong>br</strong> />
Estratégias <strong>de</strong> coping: são vinculadas a fatores situacionais, ao contrário dos estilos<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> coping ligados a fatores disposicionais do indivíduo. As <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> coping<<strong>br</strong> />
po<strong>de</strong>m mudar <strong>de</strong> momento para momento, durante os estágios <strong>de</strong> uma situação<<strong>br</strong> />
estressante o que, segundo Folkman e Lazarus (1980 apud ANTONIAZZI,<<strong>br</strong> />
DELL’AGGLIO e BANDEIRA, 1998 p.284) impossibilita <strong>de</strong> se tentar predizer respostas<<strong>br</strong> />
situacionais a partir do estilo típico <strong>de</strong> coping <strong>de</strong> uma pessoa.
60<<strong>br</strong> />
TIPO A<<strong>br</strong> />
Traços / estilos relacionados ao coping diante <strong>de</strong> eventos potencialmente<<strong>br</strong> />
incontroláveis<<strong>br</strong> />
Quanto à personalida<strong>de</strong> / Comportamento<<strong>br</strong> />
Alto Nível <strong>de</strong>: Luta <strong>com</strong>petitiva Senso <strong>de</strong> urgência Impaciência<<strong>br</strong> />
e Agressivida<strong>de</strong>- Hostilida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Baixo nível <strong>de</strong> empatia.<<strong>br</strong> />
Desvio da preocupação <strong>com</strong> o bem-estar dos outros<<strong>br</strong> />
Esforço crônico e incessante <strong>de</strong> melhorar cada vez mais, em<<strong>br</strong> />
períodos <strong>de</strong> tempo pequenos, mesmo que encontre obstáculos<<strong>br</strong> />
do ambiente ou <strong>de</strong> pessoas. Faz mais esforço para controlar<<strong>br</strong> />
uma situação do que o tipo B<<strong>br</strong> />
Conceituado por<<strong>br</strong> />
MATHEWS<<strong>br</strong> />
(1982)<<strong>br</strong> />
FRIEDMANN e<<strong>br</strong> />
ROSENMANN<<strong>br</strong> />
(1974)<<strong>br</strong> />
TIPO B As pessoas <strong>com</strong> esse padrão <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong> foram<<strong>br</strong> />
caracterizadas <strong>com</strong>o possuidoras <strong>de</strong> pouca relação <strong>de</strong> autoreferência<<strong>br</strong> />
(in PAIVA, 1996 apud FRANÇA e RODRIGUES,<<strong>br</strong> />
2002, p.97)<<strong>br</strong> />
FRIEDMANN e<<strong>br</strong> />
ROSENMANN<<strong>br</strong> />
(1959)<<strong>br</strong> />
Quadro 1 Demonstrativo dos estilos <strong>de</strong> coping quanto à personalida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Baseado em ANTONIAZZI, DELL’AGGLIO e BANDEIRA (1998).<<strong>br</strong> />
FRANÇA e RODRIGUES (2002)<<strong>br</strong> />
Traços / estilos relacionados ao coping diante <strong>de</strong> eventos potencialmente<<strong>br</strong> />
incontroláveis<<strong>br</strong> />
Quanto à dimensão da ativida<strong>de</strong> / Comportamento<<strong>br</strong> />
Conceituado por<<strong>br</strong> />
Ativida<strong>de</strong> direta<<strong>br</strong> />
Focada especificamente no estressor<<strong>br</strong> />
Ativida<strong>de</strong> indireta<<strong>br</strong> />
Evita ou remedia as conseqüências<<strong>br</strong> />
do estressor<<strong>br</strong> />
ALTSHULER &<<strong>br</strong> />
RUBLE (1989)<<strong>br</strong> />
Ativida<strong>de</strong> pró-social Procura ajuda <strong>de</strong> outros<<strong>br</strong> />
BERG (1989)<<strong>br</strong> />
Ativida<strong>de</strong> anti-social Ação agressiva contra os outros. COMPAS et. al. (1991)<<strong>br</strong> />
Quadro 2 Demonstrativo dos estilos <strong>de</strong> coping quanto ao <strong>com</strong>portamento<<strong>br</strong> />
Baseado em ANTONIAZZI, DELL’AGGLIO e BANDEIRA (1998).<<strong>br</strong> />
FRANÇA e RODRIGUES (2002)<<strong>br</strong> />
As <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> coping refletem ações, <strong>com</strong>portamentos ou pensamentos usados<<strong>br</strong> />
para lidar <strong>com</strong> um estressor e po<strong>de</strong>m ser classificados em dois tipos, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
sua função: o coping focalizado na emoção é <strong>de</strong>finido <strong>com</strong>o um esforço para regular o<<strong>br</strong> />
estado emocional provocado pelo <strong>estresse</strong>. Assistir a uma <strong>com</strong>édia na TV, sair para<<strong>br</strong> />
correr, fumar um cigarro, tomar tranqüilizantes são exemplos <strong>de</strong> <strong>estratégia</strong>s somáticas<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> tensão emocional que têm <strong>com</strong>o função reduzir a sensação <strong>de</strong>sconfortável dos<<strong>br</strong> />
eventos estressores.
61<<strong>br</strong> />
Traços / estilos relacionados ao coping diante <strong>de</strong> eventos potencialmente<<strong>br</strong> />
incontroláveis<<strong>br</strong> />
Procura o controle da situação através<<strong>br</strong> />
Monitorador da visualização e busca <strong>de</strong> informações<<strong>br</strong> />
(estar alerta). Sensibilização aos<<strong>br</strong> />
aspectos negativos <strong>de</strong> uma experiência.<<strong>br</strong> />
Distração e proteção cognitiva <strong>de</strong> fontes<<strong>br</strong> />
Desatento <strong>de</strong> perigo. Tendência a se afastar da<<strong>br</strong> />
ameaça. Distrai-se. Evita informações. MILLER (1981)<<strong>br</strong> />
Posterga uma ação.<<strong>br</strong> />
Primário Utilizado <strong>com</strong> o objetivo <strong>de</strong> lidar <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
situações ou condição objetivas<<strong>br</strong> />
BAND & WEISZ<<strong>br</strong> />
Secundário Envolve a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação da (1988)<<strong>br</strong> />
pessoa às condições do <strong>estresse</strong>.<<strong>br</strong> />
Ativo<<strong>br</strong> />
(paralelo à aproximação)<<strong>br</strong> />
Há esforços <strong>de</strong> aproximação ao foco <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>estresse</strong>.<<strong>br</strong> />
HOLAHAN & MOSS<<strong>br</strong> />
(1985)<<strong>br</strong> />
Passivo<<strong>br</strong> />
(paralelo à evitação)<<strong>br</strong> />
Evita o foco <strong>de</strong> <strong>estresse</strong>.<<strong>br</strong> />
BILLINGS & MOSS<<strong>br</strong> />
(1984)<<strong>br</strong> />
Quadro 3 Demonstrativo dos estilos <strong>de</strong> coping quanto à atenção<<strong>br</strong> />
Baseado em ANTONIAZZI, DELL’AGGLIO e BANDEIRA (1998).<<strong>br</strong> />
FRANÇA e RODRIGUES (2002)<<strong>br</strong> />
O coping focalizado no problema constitui-se do esforço que o indivíduo faz na<<strong>br</strong> />
tentativa <strong>de</strong> mudar a situação que <strong>de</strong>u origem ao <strong>estresse</strong>. Esta ação po<strong>de</strong> ser<<strong>br</strong> />
direcionada interna ou externamente. Quando o coping focalizado no problema é<<strong>br</strong> />
dirigido para uma fonte externa <strong>de</strong> <strong>estresse</strong> são utilizadas <strong>estratégia</strong>s tais <strong>com</strong>o:<<strong>br</strong> />
negociar para resolver um conflito interpessoal ou solicitar ajuda prática <strong>de</strong> outras<<strong>br</strong> />
pessoas. Já quando o coping é dirigido internamente, geralmente inclui reestruturação<<strong>br</strong> />
cognitiva <strong>com</strong>o por exemplo a re<strong>de</strong>finição do elemento estressor (ANTONIAZZI,<<strong>br</strong> />
DELL’AGGLIO e BANDEIRA, 1998, p. 284).<<strong>br</strong> />
O uso <strong>de</strong> ambas as <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> coping, representada esquematicamente na figura<<strong>br</strong> />
5, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma avaliação da situação estressora na qual o sujeito encontra-se<<strong>br</strong> />
envolvido. De acordo <strong>com</strong> esta teoria essa avaliação po<strong>de</strong> ser primária ou secundária.<<strong>br</strong> />
A avaliação primária é um processo através do qual as pessoas checam qual o risco<<strong>br</strong> />
envolvido na situação estressante. Na secundária os indivíduos analisam quais os<<strong>br</strong> />
recursos disponíveis e as opções para lidar <strong>com</strong> o problema. O coping focalizado no<<strong>br</strong> />
problema ten<strong>de</strong> a ser usado em situações avaliadas <strong>com</strong>o modificáveis e o coping<<strong>br</strong> />
focado na emoção ten<strong>de</strong> a ser mais utilizada nas situações avaliadas <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />
inalteráveis (FOLKMAN & LAZARUS, 1980 apud ANTONIAZZI, DELL’AGGLIO e<<strong>br</strong> />
BANDEIRA, 1998, p.285).
62<<strong>br</strong> />
É importante mencionar que o coping focado na emoção po<strong>de</strong> facilitar o coping focado<<strong>br</strong> />
no problema por remover a tensão e o coping focado no problema po<strong>de</strong> diminuir a<<strong>br</strong> />
ameaça e assim reduzir a tensão emocional. Segundo Compas (1987 apud<<strong>br</strong> />
ANTONIAZZI, DELL’AGGLIO e BANDEIRA, 1998, p.285), ambas as <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
coping são usadas durante praticamente todos os episódios estressantes sendo que<<strong>br</strong> />
uma ou outra po<strong>de</strong> variar em eficácia, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo dos estressores envolvidos. Existe<<strong>br</strong> />
ainda, uma terceira <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> coping, recentemente estudada, que é focada nas<<strong>br</strong> />
relações interpessoais, na qual o sujeito busca apoio nas pessoas do seu círculo<<strong>br</strong> />
social para a resolução da situação estressante (ANTONIAZZI, DELL’AGGLIO e<<strong>br</strong> />
BANDEIRA, 1998, p.285).<<strong>br</strong> />
Eficácia das <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> coping: Qualquer tentativa <strong>de</strong> administrar o estressor é<<strong>br</strong> />
consi<strong>de</strong>rado coping no mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> coping e <strong>estresse</strong> <strong>de</strong> Lazarus e Folkman (1984)<<strong>br</strong> />
tenha ou não sucesso no resultado. Assim uma <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> coping não po<strong>de</strong> ser<<strong>br</strong> />
consi<strong>de</strong>rada boa ou má, adaptativa ou mal adaptativa. É necessário consi<strong>de</strong>rar a<<strong>br</strong> />
natureza do estressor, a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos <strong>de</strong> coping e o resultado do<<strong>br</strong> />
esforço <strong>de</strong> coping. “Novas <strong>de</strong>mandas requerem novas formas <strong>de</strong> coping pois uma<<strong>br</strong> />
<strong>estratégia</strong> não é eficaz a todos os tipos <strong>de</strong> <strong>estresse</strong>” (ANTONIAZZI, DELL’AGGLIO e<<strong>br</strong> />
BANDEIRA, 1998, p.286). Além disso, problemas posteriores po<strong>de</strong>m ser causados por<<strong>br</strong> />
uma <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> coping que tenha aliviado imediatamente o <strong>estresse</strong>. As <strong>estratégia</strong>s<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> coping quando o indivíduo lida <strong>com</strong> um estressor são utilizadas individualmente,<<strong>br</strong> />
consecutivamente e em <strong>com</strong>binação o que confun<strong>de</strong> seu impacto pelo efeito <strong>de</strong> outras<<strong>br</strong> />
<strong>estratégia</strong>s Beresford (1994 apud ANTONIAZZI, DELL’AGGLIO e BANDEIRA, 1998,<<strong>br</strong> />
p.286).<<strong>br</strong> />
Dado o valor da dimensão situacional da própria <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> coping é importante<<strong>br</strong> />
consi<strong>de</strong>rar também o contexto em que a situação <strong>de</strong> <strong>estresse</strong> se apresenta. Parkes<<strong>br</strong> />
(1990 apud PINHEIRO & cols, 2003, p. 153) afirma que algumas <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> coping<<strong>br</strong> />
consi<strong>de</strong>radas efetivas no ambiente doméstico e nas relações conjugais não são<<strong>br</strong> />
totalmente eficazes no alívio do <strong>estresse</strong> do contexto <strong>ocupacional</strong>.
63<<strong>br</strong> />
Tentativa<<strong>br</strong> />
intencional física<<strong>br</strong> />
ou mental dirigida<<strong>br</strong> />
ESTRESSOR<<strong>br</strong> />
so<strong>br</strong>ecarga <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
recursos pessoais<<strong>br</strong> />
ESTRESSE<<strong>br</strong> />
INDIVÍDUO<<strong>br</strong> />
Avalia e interpreta a<<strong>br</strong> />
situação para enten<strong>de</strong>r<<strong>br</strong> />
(mentalmente)<<strong>br</strong> />
1ª. Qual o risco<<strong>br</strong> />
2ª. Quais os recursos<<strong>br</strong> />
Processo<<strong>br</strong> />
COPING<<strong>br</strong> />
Administrar<<strong>br</strong> />
a situação<<strong>br</strong> />
e reduzir o <strong>estresse</strong>.<<strong>br</strong> />
AMBIENTE<<strong>br</strong> />
ESTRATÉGIAS DE<<strong>br</strong> />
COPING<<strong>br</strong> />
Ações/<strong>com</strong>ptos/pensame<<strong>br</strong> />
ntos<<strong>br</strong> />
Mobiliza esforços<<strong>br</strong> />
cognitivos e<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>portamentais<<strong>br</strong> />
Focada no problema<<strong>br</strong> />
situações<<strong>br</strong> />
Modificáveis<<strong>br</strong> />
(externas<<strong>br</strong> />
Focada na<<strong>br</strong> />
emoção<<strong>br</strong> />
situações<<strong>br</strong> />
inalterávies<<strong>br</strong> />
reduz a tensão<<strong>br</strong> />
Figura 5 Esquema do processo <strong>de</strong> coping.<<strong>br</strong> />
Baseado na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Lazarus & Folkman (ANTONIAZZI, DELL’AGGLIO e<<strong>br</strong> />
BANDEIRA, 1998, p.289).<<strong>br</strong> />
RESULTADO<<strong>br</strong> />
Controle/ Apoio social/<<strong>br</strong> />
Isolamento recusa
4 SÍNDROME 6 DE BURNOUT<<strong>br</strong> />
o burnout é um <strong>estresse</strong> não<<strong>br</strong> />
reconhecido e não resolvido que afeta<<strong>br</strong> />
a <strong>de</strong>dicação dos indivíduos altamente<<strong>br</strong> />
motivados e que trabalham duro<<strong>br</strong> />
(MALLETT et al 1991 apud TAMAYO,<<strong>br</strong> />
1997, p.8).<<strong>br</strong> />
4.1 Definição<<strong>br</strong> />
Foi Herbert Freu<strong>de</strong>nberg, médico americano que, em 1974, nomeou “burnout” o<<strong>br</strong> />
estado <strong>de</strong> exaustão física e emocional, resultado da diminuição gradual <strong>de</strong> energia, da<<strong>br</strong> />
perda <strong>de</strong> motivação e do <strong>com</strong>prometimento, diagnosticados em profissionais que<<strong>br</strong> />
trabalhavam <strong>com</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> substâncias químicas, usando nessa época, este<<strong>br</strong> />
termo em seus artigos na área <strong>de</strong> psicologia (CODO, 1999, p.240; TAMAYO, 1997, p<<strong>br</strong> />
5).<<strong>br</strong> />
No entanto, foram os psicólogos Cristina Maslach e Alaya Pines que<<strong>br</strong> />
divulgaram a palavra burnout. Maslach utilizou esta palavra em 1977<<strong>br</strong> />
no Congresso Anual da Associação Americana <strong>de</strong> psicólogos e<<strong>br</strong> />
escreveu diversos artigos so<strong>br</strong>e o assunto nas profissões <strong>de</strong> ajuda<<strong>br</strong> />
(LAUTERT 1997, p.83).<<strong>br</strong> />
A literatura internacional indica que não existe uma <strong>de</strong>finição única so<strong>br</strong>e burnout, mas<<strong>br</strong> />
que são os fatores <strong>de</strong> trabalho e Institucionais que condicionam e antece<strong>de</strong>m a<<strong>br</strong> />
síndrome não <strong>de</strong>vendo, contudo, ser confundida <strong>com</strong> <strong>estresse</strong>, mas <strong>com</strong>o uma <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
suas conseqüências bastante sérias (LAUTERT, 2003, 1997, p.85 ).<<strong>br</strong> />
O termo burnout, sem ter ainda uma tradução satisfatória para a língua portuguesa, dá<<strong>br</strong> />
a enten<strong>de</strong>r que a pessoa per<strong>de</strong>u a energia, <strong>com</strong>o um equipamento elétrico <strong>de</strong>sligado<<strong>br</strong> />
ou queimado. Na linguagem popular, significa aquele que se estragou pelo uso<<strong>br</strong> />
exagerado <strong>de</strong> drogas. Na prática, é uma reação à tensão provocada por pressões<<strong>br</strong> />
prolongadas, que afeta o físico e a mente (FRANÇA, 1987, p.197).<<strong>br</strong> />
6 Uma síndrome é um estado mórbido (<strong>de</strong> doença) caracterizado por um conjunto <strong>de</strong> sinais e<<strong>br</strong> />
sintomas, e que po<strong>de</strong> ser produzido por mais <strong>de</strong> uma causa, ou seja; na síndrome não existem<<strong>br</strong> />
sinais e sintomas próprios <strong>de</strong> uma única doença, o que se nota são algumas características <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
várias doenças ao mesmo tempo.
65<<strong>br</strong> />
Apesar <strong>de</strong> recentemente explorada no Brasil, a síndrome <strong>de</strong> burnout é catalogada no<<strong>br</strong> />
Código Internacional <strong>de</strong> Doenças (CID-10; Z73.0) e relacionada <strong>com</strong>o uma doença<<strong>br</strong> />
<strong>ocupacional</strong> pelo Ministério da Previdência e Assistência Social, <strong>com</strong> procedimentos<<strong>br</strong> />
médicos-periciais protocolados <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 06 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1999 (SOBOLL, 2001 pg.1).<<strong>br</strong> />
O burnout manifesta-se no trabalho através da intenção <strong>de</strong> abandonar o emprego, o<<strong>br</strong> />
turn over e o absenteísmo; a baixa produtivida<strong>de</strong>, os atrasos, as injúrias pessoais, os<<strong>br</strong> />
aci<strong>de</strong>ntes, os roubos, a negligência e os erros nas ativida<strong>de</strong>s também são<<strong>br</strong> />
manifestações observadas (SCHAUFELLI & BUUNK, 1996 apud TAMAYO, 1997,<<strong>br</strong> />
p.11)<<strong>br</strong> />
Para o Grupo <strong>de</strong> Estudos e Pesquisas so<strong>br</strong>e o Estresse e Burnout - GEPEB<<strong>br</strong> />
(PARANÁ, 2003), a síndrome <strong>de</strong> burnout é <strong>de</strong>finida <strong>com</strong>o uma reação à tensão<<strong>br</strong> />
emocional nos profissionais que cuidam <strong>de</strong> outras pessoas, particularmente médicos,<<strong>br</strong> />
psicólogos, professores, assistentes sociais, agentes penitenciários, cuidadores <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
pessoas <strong>com</strong> doenças <strong>de</strong>generativas e enfermeiros. Nessas profissões, o tipo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
ativida<strong>de</strong>, muito próxima ao objeto <strong>de</strong> trabalho e que constantemente gera vínculos<<strong>br</strong> />
que são cortados, tem <strong>com</strong>o conseqüência sintomas psicossomáticos e<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>portamentais que caracterizam a burnout. Essa situação acaba interferindo<<strong>br</strong> />
negativamente na vida pessoal, familiar, social e, principalmente, no trabalho do<<strong>br</strong> />
indivíduo, prejudicando suas relações tanto <strong>com</strong> os seus colegas <strong>com</strong>o <strong>com</strong> os<<strong>br</strong> />
usuários <strong>de</strong> seus serviços.<<strong>br</strong> />
A síndrome <strong>de</strong> burnout é um mal-estar generalizado, consi<strong>de</strong>rado <strong>com</strong>o uma resposta<<strong>br</strong> />
ao <strong>estresse</strong> laboral crônico, que influencia nos sentimentos <strong>de</strong> satisfação no trabalho<<strong>br</strong> />
provocando freqüentemente cinismo extremo no indivíduo e prejudicando a sua<<strong>br</strong> />
produtivida<strong>de</strong> (LIPP, 1996 apud SOBOLL, 2001, p.4; TAMAYO, 1997, p.7). Sua<<strong>br</strong> />
instalação é insidiosa. A evolução do quadro é paulatina e pouco a pouco os sintomas<<strong>br</strong> />
vão surgindo. Sua instalação ocorre <strong>de</strong> maneira lenta e gradual, a<strong>com</strong>etendo o<<strong>br</strong> />
indivíduo progressivamente, no entanto, por tratar-se <strong>de</strong> uma síndrome, a maioria dos<<strong>br</strong> />
investigadores consi<strong>de</strong>ram o burnout um processo, não estabelecendo distinção clara<<strong>br</strong> />
entre uma etapa e outra (LAUTERT, 1997, p.86-87).<<strong>br</strong> />
Com a síndrome <strong>de</strong> burnout ou a caminho <strong>de</strong>la, as pessoas sentem-se<<strong>br</strong> />
emocionalmente exaustas, vazias, presas e <strong>com</strong>o se estivessem no final do seu limite.<<strong>br</strong> />
Humor <strong>de</strong>pressivo, <strong>de</strong>sesperança e sensação <strong>de</strong> <strong>de</strong>samparo são sintomas<<strong>br</strong> />
relacionados <strong>com</strong> a <strong>de</strong>pressão. Sentimentos <strong>de</strong> falha, insuficiência e impotência
66<<strong>br</strong> />
culminam em uma po<strong>br</strong>e auto-estima. Agressão e ansieda<strong>de</strong> também são <strong>com</strong>uns. A<<strong>br</strong> />
tolerância à frustração é diminuída, tornando o indivíduo irritável, hipersensível, <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>portamento hostil e <strong>de</strong>sconfiado, não unicamente <strong>com</strong> seus clientes, senão<<strong>br</strong> />
também <strong>com</strong> os seus colegas e superiores (SCAUFELI e BUUNK, 1996 apud<<strong>br</strong> />
TAMAYO,1997, p.9).<<strong>br</strong> />
Um trabalhador <strong>com</strong> síndrome do burnout sente-se esgotado fisicamente. Com fadiga<<strong>br</strong> />
crônica fica frio em relação à seus clientes. Seu auto-conceito fica negativo e assim<<strong>br</strong> />
são suas atitu<strong>de</strong>s <strong>com</strong> relação ao trabalho, a vida e outras pessoas. Com burnout o<<strong>br</strong> />
indivíduo não se <strong>de</strong>ixa envolver <strong>com</strong> os problemas e as dificulda<strong>de</strong>s dos outros “as<<strong>br</strong> />
relações interpessoais são cortadas, <strong>com</strong>o se ele estivesse em contato apenas <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
objetos, ou seja a relação torna-se <strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong> calor humano”. É um estado<<strong>br</strong> />
psíquico em que prevalece o cinismo ou dissimulação afetiva, a crítica exacerbada <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
tudo e <strong>de</strong> todos os <strong>de</strong>mais e do meio ambiente [...] o trabalho passa a ser lido pelo seu<<strong>br</strong> />
valor <strong>de</strong> troca; é a “coisificação” do outro ponto da relação”. (CODO, 1999, p.242).<<strong>br</strong> />
É um construto multidimensional <strong>com</strong>preendido por três <strong>com</strong>ponentes que po<strong>de</strong>m<<strong>br</strong> />
aparecer associados mas que são in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes: Exaustão Emocional,<<strong>br</strong> />
Despersonalização e Diminuição da Realização Pessoal ou baixo envolvimento<<strong>br</strong> />
pessoal <strong>com</strong> o trabalho (TAMAYO, 1997, p.6; CODO; 1999, p.241-42).<<strong>br</strong> />
A exaustão emocional é o traço fundamental da síndrome e a característica principal<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ssa fase é a percepção <strong>de</strong> uma so<strong>br</strong>ecarga <strong>de</strong> trabalho, tanto qualitativa quanto<<strong>br</strong> />
quantitativa (ALVAREZ E FERNANDEZ, 1991 apud LAUTERT, 1997, p.85-86).<<strong>br</strong> />
Manifesta-se através <strong>de</strong> sentimentos <strong>de</strong> fadiga que se <strong>de</strong>senvolve favorecendo o<<strong>br</strong> />
esgotamento da energia física e mental. O indivíduo sente que estão exigindo <strong>de</strong>mais<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>le e que seus recursos emocionais não são suficientes. A pessoa percebe que,<<strong>br</strong> />
mesmo querendo, já não consegue dar mais <strong>de</strong> si mesmo afetivamente (CODO,<<strong>br</strong> />
1999, p.243). “Assim, à medida que os recursos emocionais vão se <strong>de</strong>teriorando, as<<strong>br</strong> />
pessoas a<strong>com</strong>etidas sentem gradativa redução <strong>de</strong> sua capacida<strong>de</strong> e vigor para o<<strong>br</strong> />
trabalho (LAUTERT,1997, p.85).<<strong>br</strong> />
A segunda fase, chamada <strong>de</strong> <strong>de</strong>spersonalização, exige uma adaptação psicológica<<strong>br</strong> />
do sujeito e é caracterizada pelo esforço do indivíduo para adaptar-se e produzir uma<<strong>br</strong> />
resposta emocional ao <strong>de</strong>sajuste percebido. Nessa fase, ocorre a perda do sentimento<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> que se está lidando <strong>com</strong> outro ser humano repercutindo no seu interesse no<<strong>br</strong> />
trabalho e na responsabilida<strong>de</strong> pela função que <strong>de</strong>sempenha (LAUTERT, 1997, p.86).
67<<strong>br</strong> />
Atitu<strong>de</strong>s negativas <strong>de</strong> insensibilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> <strong>de</strong>spreocupação <strong>com</strong> respeito às outras<<strong>br</strong> />
pessoas caracterizam a fase da <strong>de</strong>spersonalização.<<strong>br</strong> />
Para proteger-se <strong>de</strong> um sentimento negativo, o indivíduo isola-se dos<<strong>br</strong> />
outros, <strong>de</strong>senvolvendo uma atitu<strong>de</strong> fria e distanciada e, assim,<<strong>br</strong> />
diminuindo a intensida<strong>de</strong> das relações <strong>com</strong> as <strong>de</strong>mais pessoas. Ele<<strong>br</strong> />
utiliza esses recursos <strong>com</strong>o um primeiro esforço para adaptar-se à<<strong>br</strong> />
situação e aliviar a tensão que experimenta, <strong>com</strong> o intuito <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
controlar a situação (LAUTERT, 1997, p.85)<<strong>br</strong> />
Diminuição da realização pessoal ou sentimento <strong>de</strong> in<strong>com</strong>petência: <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />
conseqüência da impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se atingir os objetivos a que se propõe, o<<strong>br</strong> />
indivíduo sente uma sensação <strong>de</strong> impotência, <strong>de</strong> incapacida<strong>de</strong> pessoal para realizar<<strong>br</strong> />
algo que tanto sonhou (CODO, 1999, p.242). A pessoa passa a avaliar a si própria<<strong>br</strong> />
negativamente. Ocorre a <strong>de</strong>terioração da auto-<strong>com</strong>petência e a falta <strong>de</strong> satisfação <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
as próprias realizações e sucessos no trabalho. O <strong>enfrentamento</strong> <strong>de</strong>fensivo ocorre<<strong>br</strong> />
nessa terceira fase, na qual o indivíduo produz uma modificação em suas atitu<strong>de</strong>s e<<strong>br</strong> />
condutas, <strong>com</strong> o propósito <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r-se ativamente das tensões experienciadas<<strong>br</strong> />
(LAUTERT 1997, p.85).<<strong>br</strong> />
Os sinais <strong>de</strong>fensivos surgem da necessida<strong>de</strong> que o indivíduo <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
burnout tem para aceitar os sentimentos que estão emergindo.<<strong>br</strong> />
Logo, a negação <strong>de</strong> suas emoções é o mecanismo <strong>com</strong> que ele trata<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r-se contra uma necessida<strong>de</strong> que lhe é extremamente<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sgastante. A supressão <strong>de</strong> informações, o <strong>de</strong>scaso frente a<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>terminadas situações ou coisas, a atenção seletiva e a<<strong>br</strong> />
intelectualização, são formas <strong>de</strong> evitar a experiência negativa<<strong>br</strong> />
(LAUTERT, 1997, p.87).<<strong>br</strong> />
Para Tamayo (1997, p.6) a <strong>de</strong>finição mais aceita so<strong>br</strong>e a síndrome do burnout é a <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Maslach e colaboradores (1981-1994) que afirmam ser "uma reação à tensão<<strong>br</strong> />
emocional crônica por tratar excessivamente <strong>com</strong> outros seres humanos,<<strong>br</strong> />
particularmente quando eles estão preocupados ou <strong>com</strong> problemas" (MASLACH et al.,<<strong>br</strong> />
1994 apud TAMAYO, 1997, p.6) Essa <strong>de</strong>finição <strong>com</strong>plementa-se <strong>com</strong> a abordagem<<strong>br</strong> />
interpessoal, primeira teoria representada por Maslach, “principal referência atual nos<<strong>br</strong> />
estudos so<strong>br</strong>e o tema” (SOBOLL, 2001, p.1) pois além <strong>de</strong> conceituar <strong>com</strong> clareza os<<strong>br</strong> />
fatores envolvidos no burnout i<strong>de</strong>ntifica a or<strong>de</strong>m em que eles se apresentam.
68<<strong>br</strong> />
A Figura 6 expressa a representação esquemática da instalação da síndrome do<<strong>br</strong> />
burnout <strong>com</strong> as suas três fases.<<strong>br</strong> />
Para Tamayo. (1997, p.9-11) e França, (1987, p.197), os sintomas da síndrome do<<strong>br</strong> />
burnout e as suas conseqüências po<strong>de</strong>m ser classificadas em categorias:<<strong>br</strong> />
a) Físicas: Sensação <strong>de</strong> exaustão <strong>com</strong> distúrbio do sono, perda do apetite, dores no<<strong>br</strong> />
pescoço, nos om<strong>br</strong>os e nas costas e suor intenso. Dores <strong>de</strong> cabeça freqüente,<<strong>br</strong> />
enxaqueca, pressão no peito, problemas sexuais e falta <strong>de</strong> ar; palpitação, enjôo e<<strong>br</strong> />
distúrbios gastrointestinais. Predomina o cansaço intenso (fadiga crônica), po<strong>de</strong>ndo<<strong>br</strong> />
haver o em<strong>br</strong>anquecimento rápido dos cabelos.<<strong>br</strong> />
b) Psíquicas ou cognitivas: dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> se concentrar, perda da memória e<<strong>br</strong> />
diminuição da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tomar <strong>de</strong>cisões. Po<strong>de</strong> ocorrer i<strong>de</strong>ação fantasiosa “vou<<strong>br</strong> />
largar tudo, ven<strong>de</strong>r tudo e <strong>com</strong>prar um pedaço <strong>de</strong> terra para viver <strong>com</strong>o pequeno<<strong>br</strong> />
sitiante” (FRANÇA, 1987, p.197). O pensamento fica lento e o indivíduo tem<<strong>br</strong> />
dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizado. Tiques nervosos, agitação, inabilida<strong>de</strong> para relaxar são<<strong>br</strong> />
características <strong>de</strong>sta categoria.<<strong>br</strong> />
c) Emocionais: Perda <strong>de</strong> entusiasmo, da alegria e <strong>de</strong>pressão situacional: aparece ou<<strong>br</strong> />
piora no ambiente estressor, em geral o trabalho. O indivíduo torna-se impaciente,<<strong>br</strong> />
pessimista e irritado. Sentimento <strong>de</strong> culpa e <strong>de</strong>preciação é <strong>com</strong>um.<<strong>br</strong> />
d) Comportamentais: Hiper ativida<strong>de</strong>, raiva, irritação, frustração, dificulda<strong>de</strong> para<<strong>br</strong> />
controlar as emoções, sensação <strong>de</strong> estar so<strong>br</strong>ecarregado ao enfrentar leves pressões<<strong>br</strong> />
e atitu<strong>de</strong>s paranóicas (sentimento <strong>de</strong> onipotência e rigi<strong>de</strong>z excessiva). Abuso do fumo,<<strong>br</strong> />
aumento do consumo <strong>de</strong> café, <strong>de</strong> bebidas alcoólicas e <strong>de</strong> drogas também são<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>uns.<<strong>br</strong> />
Sociais ou atitudinais: <strong>de</strong>sumanização, insensibilida<strong>de</strong>, distanciamento, indiferença e<<strong>br</strong> />
cinismo <strong>com</strong> os clientes, colegas, superiores e subordinados. O indivíduo per<strong>de</strong> o<<strong>br</strong> />
entusiasmo, o interesse pelo trabalho, pelo lazer e não tem iniciativa. Evita os contatos<<strong>br</strong> />
sociais e <strong>com</strong> os problemas, correndo o risco <strong>de</strong> se isolar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si próprio. Esses<<strong>br</strong> />
sintomas po<strong>de</strong>m invadir o ambiente familiar resultando em conflitos interpessoais <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
a esposa e os filhos (MASLACH E JACKSON, 1979 apud TAMAYO, 1997, p.11).
69<<strong>br</strong> />
Estresse<<strong>br</strong> />
Ocupacional<<strong>br</strong> />
crônico<<strong>br</strong> />
Estratégia <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Enfrentamento<<strong>br</strong> />
(falha )<<strong>br</strong> />
Exaustão<<strong>br</strong> />
Emocional<<strong>br</strong> />
1 ª fase<<strong>br</strong> />
Síndrome<<strong>br</strong> />
De<<strong>br</strong> />
Mecanismo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfrentamento</strong><<strong>br</strong> />
Despersonalização<<strong>br</strong> />
2 ª fase<<strong>br</strong> />
Burnout<<strong>br</strong> />
Diminuição da<<strong>br</strong> />
realização<<strong>br</strong> />
pessoal<<strong>br</strong> />
3 ª fase<<strong>br</strong> />
Burnout<<strong>br</strong> />
Figura 6 Representação esquemática da Instalação da síndrome do burnout<<strong>br</strong> />
4.2 Burnout e a Enfermagem<<strong>br</strong> />
Os sistemas <strong>de</strong> funcionamento da Instituição<<strong>br</strong> />
hospitalar <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>iam um processo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>spersonalização em seus funcionários,<<strong>br</strong> />
semelhante ao que produz nos próprios<<strong>br</strong> />
pacientes (FLORÉZ-LOZANO 1994 apud.<<strong>br</strong> />
LAUTERT, 1997, p.84).<<strong>br</strong> />
Vários estudos, na literatura, confirmam que os técnicos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> têm contato<<strong>br</strong> />
constante <strong>com</strong> os fatores <strong>de</strong> <strong>estresse</strong> (SOUZA, 1998, p.1). Por meio <strong>de</strong> vários<<strong>br</strong> />
trabalhos, tem-se <strong>de</strong>monstrado que o <strong>estresse</strong> <strong>ocupacional</strong> é tema importante nas<<strong>br</strong> />
organizações, pois interferem na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e na saú<strong>de</strong> do trabalhador o que<<strong>br</strong> />
prejudica seu <strong>de</strong>sempenho (SILVA, 2001, p.16). Presente na área técnica <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<<strong>br</strong> />
especialmente nos profissionais da enfermagem que lidam diretamente <strong>com</strong> pessoas,<<strong>br</strong> />
envolvidos <strong>com</strong> a doença e a morte, quando o <strong>estresse</strong> se cronifica manifesta-se <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />
síndrome <strong>de</strong> burnout e po<strong>de</strong> ser responsável por <strong>com</strong>portamentos <strong>de</strong> afastamento<<strong>br</strong> />
profissional.
70<<strong>br</strong> />
Estudos psicológicos e sociológicos, em gran<strong>de</strong> número, quando se<<strong>br</strong> />
analisa o trabalho da enfermagem, têm <strong>de</strong>monstrado que essa<<strong>br</strong> />
profissão, principalmente no âmbito hospitalar, é um dos trabalhos<<strong>br</strong> />
que mais <strong>estresse</strong> origina em seus trabalhadores (LAUTERT, 1997,<<strong>br</strong> />
p.83).<<strong>br</strong> />
A síndrome do burnout, estudada em todas as áreas que envolvem o “cuidar do outro”,<<strong>br</strong> />
consi<strong>de</strong>rada por alguns autores <strong>com</strong>o a quarta fase do <strong>estresse</strong>, proposta por Seyle na<<strong>br</strong> />
década <strong>de</strong> 50 (ROSSI, 2003), é preocupação na área <strong>de</strong> enfermagem, pois nesta<<strong>br</strong> />
profissão que tem <strong>com</strong>o razão <strong>de</strong> ser o cuidado <strong>com</strong> as outras pessoas, essa<<strong>br</strong> />
síndrome po<strong>de</strong> acarretar danos irreparáveis.<<strong>br</strong> />
As ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssa categoria profissional expõe a equipe a tensões constantes, <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
toda or<strong>de</strong>m, que po<strong>de</strong> levar a equipe <strong>de</strong> enfermagem a adoecer, vítima <strong>de</strong>ste<<strong>br</strong> />
problema. “Estar <strong>de</strong>sligado”, sem se importar <strong>com</strong> a outra pessoa o que Codo (1999,<<strong>br</strong> />
p.238) aponta <strong>com</strong>o característica da <strong>de</strong>spersonalização na síndrome <strong>de</strong> burnout é no<<strong>br</strong> />
mínimo preocupante quando se trata <strong>de</strong> uma classe <strong>de</strong> profissionais que lida <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
vidas humanas.<<strong>br</strong> />
A “retirada” psíquica do trabalho, que enfraquece o envolvimento do indivíduo <strong>com</strong> o<<strong>br</strong> />
trabalho e a <strong>de</strong>spersonalização que diminui a sensibilida<strong>de</strong> ao sofrimento e às<<strong>br</strong> />
necessida<strong>de</strong>s do paciente (SOBOLL, 2001, p.6) <strong>com</strong>o algumas das conseqüências da<<strong>br</strong> />
síndrome do burnout prejudicam muito a assistência <strong>de</strong> enfermagem. Nesta profissão<<strong>br</strong> />
que respon<strong>de</strong> pelo atendimento do homem nas horas <strong>de</strong> total fragilida<strong>de</strong> e<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>pendência e que tem <strong>com</strong>o i<strong>de</strong>al o “cuidado <strong>com</strong> o outro”, um atendimento<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sumanizado po<strong>de</strong> trazer conseqüências irreversíveis.<<strong>br</strong> />
Conforme pesquisa <strong>de</strong>senvolvida por Siqueira, Watanabe e Ventola (1994 apud<<strong>br</strong> />
SOBOLL 2001, p.3), as condições <strong>de</strong> trabalho também são fatores que <strong>de</strong>vem ser<<strong>br</strong> />
analisados quando se observa o <strong>de</strong>sgaste físico e mental dos profissionais da<<strong>br</strong> />
enfermagem. Além das pressões próprias das relações <strong>com</strong> pacientes e familiares, os<<strong>br</strong> />
profissionais <strong>de</strong> enfermagem são confrontados <strong>com</strong> a própria organização do trabalho.<<strong>br</strong> />
A divisão das ativida<strong>de</strong>s, a hierarquia que precisa ser respeitada e a <strong>com</strong>petição<<strong>br</strong> />
constante <strong>com</strong> outros profissionais acentuam as pressões vividas por estes<<strong>br</strong> />
trabalhadores. As precárias condições <strong>de</strong> trabalho, tanto pela falta <strong>de</strong> segurança, pela<<strong>br</strong> />
escassez <strong>de</strong> profissionais <strong>com</strong>o <strong>de</strong> materiais são outros fatores que estão presentes<<strong>br</strong> />
na ativida<strong>de</strong> <strong>ocupacional</strong> dos profissionais <strong>de</strong> enfermagem no Brasil.
71<<strong>br</strong> />
O trabalho <strong>de</strong> enfermagem oferece poucas satisfações diretas às<<strong>br</strong> />
pessoas, pois a gratidão dos pacientes, consi<strong>de</strong>rada <strong>com</strong>o uma<<strong>br</strong> />
importante re<strong>com</strong>pensa pelos trabalhadores <strong>de</strong> enfermagem,<<strong>br</strong> />
geralmente é impessoal, direcionada à toda equipe. A melhora <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
um paciente é dificilmente vinculada aos seus próprios esforços<<strong>br</strong> />
(MENZIES, 1969 apud SOBOLL 2001, p.8).<<strong>br</strong> />
Crawford (1993 apud LAUTERT 1997, p.90) investigando enfermeiras que trabalham<<strong>br</strong> />
em hospitais, <strong>de</strong>screve que estas também po<strong>de</strong>m experenciar, mais freqüentemente, o<<strong>br</strong> />
burnout relacionado às políticas internas da organização, ao escasso sistema <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
re<strong>com</strong>pensas, à estrutura <strong>de</strong> recursos humanos <strong>com</strong> limitadas oportunida<strong>de</strong>s na<<strong>br</strong> />
carreira, à falta <strong>de</strong> treinamento e chefias <strong>com</strong> pouca habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> relacionamento<<strong>br</strong> />
interpessoal. Somando-se a esses fatores, encontram-se ainda enfermeiras <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
so<strong>br</strong>ecarga <strong>de</strong> trabalho, escassez <strong>de</strong> pessoal e conflitos entre os mem<strong>br</strong>os da equipe<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
O contato <strong>com</strong> o sofrimento e a morte dos pacientes gera um conflito entre a<<strong>br</strong> />
realização do atendimento ou o afastamento, <strong>com</strong>o uma maneira <strong>de</strong> não pensar nas<<strong>br</strong> />
próprias questões (MENDES e LINHARES, 1996 apud SOBOLL 2001. p.7). A morte<<strong>br</strong> />
do outro confronta o profissional <strong>com</strong> sua própria morte ou <strong>com</strong> o sofrimento <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
alguma pessoa <strong>de</strong> sua referência (MENZIES, 1969: 64) e isso é fator mobilizador <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
muita ansieda<strong>de</strong>. Profissionais <strong>de</strong> enfermagem verbalizam que não po<strong>de</strong>riam trabalhar<<strong>br</strong> />
se todo o tempo ficassem pensando na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um filho ou eles mesmos<<strong>br</strong> />
ficarem doentes, sofrerem e/ou morrerem <strong>com</strong>o muitos pacientes que vêem. A<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>spersonalização é uma via <strong>de</strong> escape <strong>de</strong>ste conflito, pois as ativida<strong>de</strong>s ocupacionais<<strong>br</strong> />
são <strong>de</strong>senvolvidas <strong>com</strong> o mínimo <strong>de</strong> envolvimento emocional, tendo <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />
conseqüência a baixa qualida<strong>de</strong> do atendimento prestado aos pacientes e familiares<<strong>br</strong> />
(PENSON et al., 2000 apud SOBOLL,2001, p.7).<<strong>br</strong> />
Menzies (1969) i<strong>de</strong>ntificou a <strong>de</strong>spersonalização <strong>com</strong>o uma <strong>de</strong>fesa socialmente<<strong>br</strong> />
estruturada frente a ansieda<strong>de</strong> originária na relação <strong>com</strong> os pacientes e familiares.<<strong>br</strong> />
Cumprindo sua função <strong>de</strong>fensiva, a <strong>de</strong>spersonalização minimiza os efeitos da<<strong>br</strong> />
confrontação <strong>com</strong> situações mobilizadoras <strong>de</strong> sentimentos ambíguos ao mesmo tempo<<strong>br</strong> />
que torna o atendimento <strong>de</strong>sumanizado ( apud SOBOLL, 2001, p.6).
72<<strong>br</strong> />
4.3 Burnout – uma <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong>fensiva<<strong>br</strong> />
Há situações em que várias pessoas<<strong>br</strong> />
trabalham sob a mesma pressão e apenas<<strong>br</strong> />
uma chega ao burnout. Missel (apud O<<strong>br</strong> />
ESTRESSE...., 2003).<<strong>br</strong> />
Para Filho-Lunardi & Mazzilli (1996 apud MENDES, 1999, p.58) que estudou o prazersofrimento<<strong>br</strong> />
nas enfermeiras, o sofrimento é um processo cíclico permanente e<<strong>br</strong> />
episódico que move os trabalhadores para a busca <strong>de</strong> novas situações e <strong>de</strong>safios que<<strong>br</strong> />
possam gerar prazer. Tendo em vista as diversas situações enfrentadas no<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> seu trabalho, os profissionais <strong>de</strong> enfermagem estruturam<<strong>br</strong> />
mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa contra a ansieda<strong>de</strong> que foram estudados inicialmente por<<strong>br</strong> />
Isabel Menzies, na década <strong>de</strong> 60 (SOBOLL, 2001, p.4).<<strong>br</strong> />
Para Dejours a síndrome do burnout vai além do conceito interpessoal. Este autor<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que esta síndrome não é simplesmente uma resposta do indivíduo diante do<<strong>br</strong> />
<strong>estresse</strong> laboral crônico, mas é uma <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong>fensiva estruturada tendo em vista o<<strong>br</strong> />
sofrimento no trabalho (apud SOBOLL, 2001, p.4). Essa abordagem no caso dos<<strong>br</strong> />
profissionais <strong>de</strong> enfermagem, estrutura-se diante do confronto <strong>com</strong> a organização do<<strong>br</strong> />
trabalho e do contato direto e excessivo <strong>com</strong> pacientes e familiares, os principais<<strong>br</strong> />
fatores <strong>de</strong> sofrimento nas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>stes profissionais. (SOBOLL 2001, p.4).<<strong>br</strong> />
O trabalho real, que necessita ser a<strong>de</strong>quado ao prescrito e que não é reconhecido. A<<strong>br</strong> />
cura do paciente que é atribuída ao médico e a outros mem<strong>br</strong>os da equipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, a<<strong>br</strong> />
perda do paciente que <strong>de</strong>sperta a sensação <strong>de</strong> incapacida<strong>de</strong> e fragilida<strong>de</strong> são<<strong>br</strong> />
situações constantes que <strong>de</strong>ixa o profissional <strong>de</strong> enfermagem exausto<<strong>br</strong> />
emocionalmente. (SOBOLL, 2001 p.9)<<strong>br</strong> />
Além <strong>de</strong> estabilizar a relação <strong>com</strong> a organização do trabalho, <strong>com</strong>o <strong>estratégia</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>fensiva, a síndrome do burnout tem <strong>com</strong>o função a manutenção da normalida<strong>de</strong> do<<strong>br</strong> />
sujeito, possibilitando a continuação da realização das tarefas. Isso permite que as<<strong>br</strong> />
relações interpessoais, por mais “coisificadas” que sejam, continuem acontecendo. O<<strong>br</strong> />
profissional <strong>de</strong> enfermagem <strong>com</strong> síndrome <strong>de</strong> burnout consegue efetivar sua tarefa,<<strong>br</strong> />
apesar da diminuição da qualida<strong>de</strong>. Ao se <strong>de</strong>svincular emocionalmente dos outros e<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> si, minimiza o sofrimento suscitado <strong>de</strong>stas relações, porém sem qualquer<<strong>br</strong> />
envolvimento pessoal <strong>com</strong> o trabalho (SOBOLL, 2001 p.9).<<strong>br</strong> />
A síndrome <strong>de</strong> burnout, assim <strong>com</strong>o as <strong>de</strong>mais <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong>fensivas, ao mesmo<<strong>br</strong> />
tempo que tem a função <strong>de</strong> minimizar o sofrimento, é impeditiva <strong>de</strong> um trabalho mais
73<<strong>br</strong> />
satisfatório. Quando o sofrimento no trabalho acontece, são mobilizados sentimentos<<strong>br</strong> />
relacionados aos dados da história do indivíduo, do contexto atual, do ambiente<<strong>br</strong> />
profissional e das relações familiares do trabalhador, dando uma dimensão temporal e<<strong>br</strong> />
espacial para esse sentimento.<<strong>br</strong> />
Como mecanismo <strong>de</strong>fensivo constitui-se <strong>de</strong> individualismo e falta <strong>de</strong> envolvimento no<<strong>br</strong> />
trabalho. A fadiga <strong>de</strong>corre da relação <strong>com</strong> pacientes e familiares e do confronto <strong>com</strong> a<<strong>br</strong> />
organização do trabalho. O indivíduo percebe o sofrimento dos pacientes e familiares<<strong>br</strong> />
que interage <strong>com</strong> seu próprio sofrimento e ainda <strong>com</strong> o sofrimento dos outros<<strong>br</strong> />
profissionais.<<strong>br</strong> />
A negação do sofrimento impossibilita uma luta mais eficaz contra ele. Além disso, a<<strong>br</strong> />
<strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa é apenas uma operação mental que não modifica a realida<strong>de</strong> que<<strong>br</strong> />
faz o profissional sofrer e o leva à alienação (DEJOURS, 1999: p.171 apud SOBOLL,<<strong>br</strong> />
2001 p.9). Essa adaptação psicológica provoca no indivíduo a perda do sentimento <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
que se está lidando <strong>com</strong> o outro e aquele <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ter importância <strong>com</strong>o ser humano.<<strong>br</strong> />
O trabalho que era feito <strong>com</strong> <strong>de</strong>dicação e <strong>com</strong>petência, passa a ser <strong>de</strong>sempenhado<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> <strong>de</strong>spreocupação e indiferença: o profissional <strong>de</strong> enfermagem está na fase da<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>spersonalização.<<strong>br</strong> />
A sensação, muitas vezes inconsciente <strong>de</strong> que sentimentos contrários à sua i<strong>de</strong>ologia<<strong>br</strong> />
estão se instalando, produz no indivíduo danos na sua auto-avaliação e insatisfação<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> seu próprio <strong>de</strong>sempenho. Este profissional então, apresenta sinais <strong>de</strong> não<<strong>br</strong> />
realização <strong>com</strong> seu trabalho.<<strong>br</strong> />
Esse processo, que <strong>de</strong> maneira genérica inibe a capacida<strong>de</strong> do pensamento criador e<<strong>br</strong> />
simbólico, limita o <strong>de</strong>senvolvimento das habilida<strong>de</strong>s práticas e <strong>de</strong> conhecimento dos<<strong>br</strong> />
indivíduos, o que suscita sentimento <strong>de</strong> impotência diante <strong>de</strong> situações ou problemas<<strong>br</strong> />
novos. Num processo crônico <strong>de</strong> confrontação, algumas pessoas da equipe <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
enfermagem fazem o que Codo refere: “<strong>de</strong>sistem, real ou simbolicamente” (1999<<strong>br</strong> />
p.238). Através da doença física, a síndrome <strong>de</strong> burnout, está sinalizada <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sistência real. Diante da insensibilida<strong>de</strong> do sofrimento do outro, esta síndrome<<strong>br</strong> />
simboliza a renúncia em suportar o sofrimento diante do trabalho.
5 MATERIAIS E MÉTODOS<<strong>br</strong> />
5.1 Proposição metodológica<<strong>br</strong> />
Trata-se <strong>de</strong> uma pesquisa sob o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> seus objetivos, exploratória,<<strong>br</strong> />
envolvendo levantamento bibliográfico na forma <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong> caso ( GIL, 1991 apud<<strong>br</strong> />
SILVA, 2001, p.8). Com abordagem quantitativa foi realizada em ambiente hospitalar,<<strong>br</strong> />
local <strong>de</strong> trabalho dos profissionais da área <strong>de</strong> enfermagem que, caracterizando a<<strong>br</strong> />
pesquisa quantitativa, foram avaliados através do Inventário <strong>de</strong> Burnout, (Maslach<<strong>br</strong> />
Burnout Inventory) MBI, da escala Toulousaine (ETS) para o <strong>estresse</strong> e da escala<<strong>br</strong> />
Toulousaine <strong>de</strong> coping (ETC) para i<strong>de</strong>ntificação das <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong>,<<strong>br</strong> />
incluindo-se o perfil socio<strong>de</strong>mográfico.<<strong>br</strong> />
Nesta pesquisa, os dados foram obtidos através das informações prestadas pelos<<strong>br</strong> />
trabalhadores da equipe <strong>de</strong> enfermagem em resposta ao questionário conjunto e<<strong>br</strong> />
direcionado para a finalida<strong>de</strong>, aplicado pela própria pesquisadora no período <strong>de</strong> julho a<<strong>br</strong> />
agosto <strong>de</strong> 2004. As variáveis foram organizadas por grupo em função dos objetivos do<<strong>br</strong> />
estudo, servindo <strong>de</strong> base para análise estatística dos resultados, que estão<<strong>br</strong> />
representados por associações numéricas absolutas e relativas por percentuais.<<strong>br</strong> />
O estudo <strong>de</strong> um caso, seja ele simples e específico ou <strong>com</strong>plexo e abstrato é bem<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>limitado, <strong>com</strong> seus contornos <strong>de</strong>finidos claramente no <strong>de</strong>senrolar do estudo. Po<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
ser similar a outros, mas é ao mesmo tempo distinto, pois tem interesse próprio.<<strong>br</strong> />
Destaca-se por se constituir numa unida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um sistema mais amplo.<<strong>br</strong> />
Desenvolve-se para proporcionar conhecimento <strong>de</strong> uma situação real observada. Seu<<strong>br</strong> />
objetivo é <strong>de</strong>screver, enten<strong>de</strong>r, avaliar e explorar uma situação e, a partir daí,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>terminar os fatores causais e estabelecer ações. O interesse inci<strong>de</strong> no que o estudo<<strong>br</strong> />
tem <strong>de</strong> particular, mesmo que posteriormente venham a ficar evi<strong>de</strong>ntes certas<<strong>br</strong> />
semelhanças <strong>com</strong> outros casos ou situações. O estudo <strong>de</strong> caso <strong>de</strong>ve ser escolhido<<strong>br</strong> />
quando se quer estudar algo singular, que tenha um valor em si mesmo (GALDEANO,<<strong>br</strong> />
2003, p. 375).<<strong>br</strong> />
O método quantitativo é um processo formal, objetivo e sistemático, que utiliza<<strong>br</strong> />
dados numéricos para obter informações acerca do mundo. Permite <strong>de</strong>screver, testar<<strong>br</strong> />
relações e <strong>de</strong>terminar causas. A análise é estatística e os resultados são<<strong>br</strong> />
apresentados em gráficos e tabelas. Como as amostras, geralmente são gran<strong>de</strong>s e
75<<strong>br</strong> />
consi<strong>de</strong>radas representativas da população, os resultados são tomados <strong>com</strong>o se<<strong>br</strong> />
fossem um retrato real <strong>de</strong> todo o público alvo da pesquisa. A realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste método<<strong>br</strong> />
consiste em estruturas mensuráveis enquanto dados <strong>br</strong>utos. Buscando as relações<<strong>br</strong> />
entre as variáveis <strong>de</strong>finidas fornece regularida<strong>de</strong>s e, portanto, generalizações. (SILVA,<<strong>br</strong> />
2001, p.8).<<strong>br</strong> />
Os questionários são freqüentemente utilizados para a obtenção <strong>de</strong> dados so<strong>br</strong>e um<<strong>br</strong> />
amplo conjunto <strong>de</strong> questões. Os temas, tradicionalmente investigados através da<<strong>br</strong> />
aplicação <strong>de</strong> questionários são: avaliação <strong>de</strong> alguma ativida<strong>de</strong>, hábitos; ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
lazer para traçar o perfil, <strong>de</strong>ntre outros. As questões po<strong>de</strong>m ser fechadas (uma única<<strong>br</strong> />
resposta), abertas (o sujeito respon<strong>de</strong> <strong>com</strong>o quer) e <strong>de</strong> múltiplas escolhas (<strong>com</strong> uma<<strong>br</strong> />
série <strong>de</strong> respostas possíveis). Como série or<strong>de</strong>nada <strong>de</strong> perguntas <strong>de</strong>ve ser limitado<<strong>br</strong> />
em extensão, <strong>de</strong> fácil preenchimento e respondido por escrito. É importante ser<<strong>br</strong> />
a<strong>com</strong>panhado <strong>de</strong> instruções que <strong>de</strong>vem ser claras no propósito <strong>de</strong> sua aplicação e na<<strong>br</strong> />
importância da colaboração (SILVA, 2001, p.14).<<strong>br</strong> />
Escalas são construídas <strong>com</strong> a finalida<strong>de</strong> primordial <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar posições<<strong>br</strong> />
relativamente permanentes ou habituais <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada pessoa a respeito do<<strong>br</strong> />
tema a ser estudado. Elas são construídas geralmente a partir da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> um<<strong>br</strong> />
conjunto <strong>de</strong> proposições so<strong>br</strong>e as quais o participante <strong>de</strong>ve indicar o seu grau <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
concordância ou discordância.<<strong>br</strong> />
5.2 Instrumentos <strong>de</strong> Coleta <strong>de</strong> Dados<<strong>br</strong> />
5.2.1 Descrição do Inventário <strong>de</strong> burnout <strong>de</strong> Maslach - Maslach Burnout<<strong>br</strong> />
Inventory (MBI)<<strong>br</strong> />
Trata-se <strong>de</strong> um inventário americano elaborado por Maslach e Jackson (1981). Seu<<strong>br</strong> />
propósito é <strong>de</strong> avaliar <strong>com</strong>o os profissionais que lidam <strong>com</strong> ativida<strong>de</strong>s ocupacionais<<strong>br</strong> />
geradoras <strong>de</strong> intenso <strong>estresse</strong>, pertencentes aos serviços humanos, entre eles, os da<<strong>br</strong> />
área da saú<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ram seu trabalho e as pessoas <strong>com</strong> as quais se relacionam em<<strong>br</strong> />
suas ativida<strong>de</strong>s laborais (ARAUJO, 2001, p.71). É utilizado para <strong>de</strong>terminar os valores<<strong>br</strong> />
médios para os fatores da Síndrome <strong>de</strong> Burnout (<strong>de</strong>sgaste profissional,<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>spersonalização e in<strong>com</strong>petência). Através <strong>de</strong>ste instrumento escalar, o indivíduo<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ve respon<strong>de</strong>r <strong>com</strong> que freqüência experimenta o conteúdo sugerido pelo item.<<strong>br</strong> />
Assim, avalia-se os sentimentos pessoais e atitudinais tais <strong>com</strong>o a insensibilida<strong>de</strong>, o
76<<strong>br</strong> />
distanciamento, a indiferença e o cinismo das pessoas em relação aos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> seus serviços (TAMAYO, 1997, p.11).<<strong>br</strong> />
O MBI é um instrumento <strong>com</strong>posto por 22 itens que <strong>de</strong>vem ser<<strong>br</strong> />
avaliados pelo próprio trabalhador conforme uma escala <strong>de</strong> Likert <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
cinco pontos, as quais indicam a freqüência que cada situação<<strong>br</strong> />
acontece. Este instrumento proposto por Maslach, Jackson e<<strong>br</strong> />
Schwab (1997) consi<strong>de</strong>ra que os sintomas são facilmente percebidos<<strong>br</strong> />
e aceitos pelos profissionais e passíveis <strong>de</strong> serem expressados<<strong>br</strong> />
objetivamente (SOBOLL, 2001, p.10).<<strong>br</strong> />
Esse inventário está <strong>com</strong>posto pelas sub-escalas: Desgaste emocional (LAUTERT,<<strong>br</strong> />
1997) que Codo, (1999) e Tamayo (1997) consi<strong>de</strong>ram <strong>com</strong>o exaustão emocional;<<strong>br</strong> />
In<strong>com</strong>petência (LAUTERT, 1987) que Codo (1999) consi<strong>de</strong>ra <strong>com</strong>o envolvimento<<strong>br</strong> />
pessoal <strong>com</strong> o trabalho ou diminuição da realização pessoal e Tamayo (1997) trata<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>o esta última e; <strong>de</strong>spersonalização, sem diferença nas <strong>de</strong>nominações para os três<<strong>br</strong> />
autores pesquisados.<<strong>br</strong> />
Maslach (1981; 1986 apud TAMAYO, 1997), coloca que o burnout é conceituada <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />
uma variável <strong>com</strong> níveis alto, mo<strong>de</strong>rado e baixo, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da freqüência <strong>com</strong> que<<strong>br</strong> />
se experimentam os sentimentos relacionados <strong>com</strong> cada fator da síndrome. O quadro<<strong>br</strong> />
sindrômico não é consi<strong>de</strong>rado <strong>com</strong>o uma variável dicotômica, que po<strong>de</strong> estar presente<<strong>br</strong> />
ou ausente.<<strong>br</strong> />
De acordo <strong>com</strong> Tamayo (1997, p. 60), os níveis quando i<strong>de</strong>ntificados, po<strong>de</strong>m ter as<<strong>br</strong> />
seguintes interpretações:<<strong>br</strong> />
- Um alto nível <strong>de</strong> burnout está retratado na apresentação con<strong>com</strong>itante <strong>de</strong> altos<<strong>br</strong> />
escores nas sub-escalas Exaustão emocional e Despersonalização, e baixos<<strong>br</strong> />
escores na sub-escala Diminuição da Realização Pessoal.<<strong>br</strong> />
- Um nível mo<strong>de</strong>rado <strong>de</strong> burnout está representado em escores médios nas três<<strong>br</strong> />
sub-escalas.<<strong>br</strong> />
- Um nível baixo <strong>de</strong> burnout observa-se em baixos escores nas sub-escalas<<strong>br</strong> />
Exaustão emocional e Despersonalização, e altos escores na sub-escala<<strong>br</strong> />
Diminuição da Realização Pessoal.
77<<strong>br</strong> />
Para efeitos <strong>de</strong> interpretação do Inventário <strong>de</strong> Burnout e <strong>com</strong>preensão dos fatores da<<strong>br</strong> />
síndrome, é importante esclarecer que os escores da sub-escala Diminuição da<<strong>br</strong> />
Realização Pessoal seguem em direção contrária aos escores das sub-escalas<<strong>br</strong> />
Exaustão emocional e Despersonalização. Isso significa que escores altos na subescala<<strong>br</strong> />
Diminuição da Realização Pessoal retratam a existência <strong>de</strong> uma alta realização<<strong>br</strong> />
pessoal e escores baixos nessa sub-escala significam que existe uma baixa realização<<strong>br</strong> />
pessoal (TAMAYO, 1997 p.61). Essa estrutura atual para interpretação do MBI está<<strong>br</strong> />
confirmada através <strong>de</strong> vários estudos <strong>de</strong> análise fatorial <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua criação em 1981:<<strong>br</strong> />
EE↑ + D↑ + RP↓ = síndrome <strong>de</strong> burnout (ARAUJO, 2001, p.71)<<strong>br</strong> />
Critérios para interpretação<<strong>br</strong> />
Segundo o Núcleo <strong>de</strong> Estudos Avançados <strong>de</strong> Burnout no Brasil (NEPASB), Centro <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Ciências Humanas, do <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> Psicologia da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Maringá PR, a<<strong>br</strong> />
apuração do MBI é feita através <strong>de</strong> uma escala padronizada, fazendo-se a soma das<<strong>br</strong> />
quantida<strong>de</strong>s encontradas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> cada quadro em <strong>de</strong>staque, que em seguida são<<strong>br</strong> />
transferidas para a coluna PD (Pontuações máximas) correspon<strong>de</strong>nte assim<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>monstrada:<<strong>br</strong> />
ESCALA ÍTENS P D (máxima)<<strong>br</strong> />
EE/DE 1.2.3.6.8.13.14.16.20 50<<strong>br</strong> />
D 5.10.11.15.22 25<<strong>br</strong> />
RP/I 4.7.9.12.17.18.19.21 40<<strong>br</strong> />
Quadro 4 Representação da pontuação da escala para a Síndrome <strong>de</strong> Burnout<<strong>br</strong> />
Fonte (ARAUJO, 2001, p. 65).<<strong>br</strong> />
A pontuação nas escalas do MBI é o resultado da soma <strong>de</strong> todos os pontos ou grau <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
freqüência anotados nos ítens correspon<strong>de</strong>ntes a cada uma <strong>de</strong>las (D/RP/EE)<<strong>br</strong> />
ARAUJO, 2001, p.75).<<strong>br</strong> />
As pontuações obtidas <strong>com</strong>o resultado não são interpretadas por si mesmo nem<<strong>br</strong> />
possui significação por seu valor absoluto. Faz-se necessário <strong>com</strong>pará-las <strong>com</strong> as<<strong>br</strong> />
pontuações obtidas por <strong>de</strong>terminados grupos (tomadas <strong>de</strong> um grupo específico ou da<<strong>br</strong> />
população geral) ou transformá-las em valores ou em escalas <strong>de</strong> valor universal que<<strong>br</strong> />
situam as pontuações do sujeito em relação às obtidas pelo grupo normativo.<<strong>br</strong> />
O instrumento experimental para i<strong>de</strong>ntificação dos níveis <strong>de</strong> burnout nos estudos<<strong>br</strong> />
originais, foram respondidos por 605 profissionais do serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e social e
78<<strong>br</strong> />
revisado <strong>com</strong> a aplicação em nova amostra <strong>de</strong> 420 profissionais. Através da análise<<strong>br</strong> />
fatorial esse trabalho <strong>de</strong>monstrou que suas respostas eram similares. Esse fator<<strong>br</strong> />
permitiu juntar as amostras (N=1025) para repetir a análise e obter uma solução <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
quatro fatores. “As dimensões eram muito similares quando se analisavam <strong>de</strong> modo<<strong>br</strong> />
separado as medidas <strong>de</strong> freqüência e as medidas <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentimentos. As<<strong>br</strong> />
três primeiras dimensões (sub-escalas/fatores) tinham saturações superiores à<<strong>br</strong> />
unida<strong>de</strong>” (ARAUJO, 2001 p.75).<<strong>br</strong> />
A síndrome <strong>de</strong> burnout caracterizada por alto valor nos seus dois <strong>com</strong>ponentes:<<strong>br</strong> />
exaustão emocional e <strong>de</strong>spersonalização e baixo valor no <strong>com</strong>ponente realização<<strong>br</strong> />
pessoal tem passado por vários estudos <strong>de</strong> análise fatorial confirmando a estrutura<<strong>br</strong> />
atual do inventário, ou seja, EE↑ + D↑ + RP↓ = SB. Além disso, a literatura tem<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>monstrado um coeficiente alfa <strong>de</strong> Cronbach <strong>de</strong> .90 em EE; .79 em D e .71 em RP.<<strong>br</strong> />
Em estudo <strong>de</strong> precisão <strong>com</strong> o critério teste-reteste <strong>com</strong> intervalo <strong>de</strong> duas a quatro<<strong>br</strong> />
semanas, os resultados variaram <strong>de</strong> 60 a 80. Usando esse mesmo critério <strong>com</strong> 248<<strong>br</strong> />
professores <strong>com</strong> intervalo <strong>de</strong> um ano entre o teste e reteste, os índices variaram <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
.54 a .60 todos significantes ao nível <strong>de</strong> 1%.<<strong>br</strong> />
A escala aplicada neste trabalho (quadro 5) foi a mesma utilizada por Lautert (1997)<<strong>br</strong> />
semelhante à adaptada pelo NEPASB à realida<strong>de</strong> <strong>br</strong>asileira. Traduzida para o<<strong>br</strong> />
português (anexo A) foi validada por dois enfermeiros que submeteram as questões à<<strong>br</strong> />
análise fatorial, <strong>com</strong> rotação orthogonal, para extração dos três fatores que <strong>com</strong>põem<<strong>br</strong> />
o inventário: <strong>de</strong>sgaste emocional, <strong>de</strong>spersonalização e in<strong>com</strong>petência profissional<<strong>br</strong> />
(LAUTERT, 1997; ARAUJO, 2001, p.72).<<strong>br</strong> />
Escala <strong>de</strong> conversão<<strong>br</strong> />
Desgaste emocional Despersonalização In<strong>com</strong>petência (escore reverso)<<strong>br</strong> />
Pergunta nº. 01 Pergunta nº. 13 Pergunta nº. 05 Pergunta nº. 04 Pergunta nº. 18<<strong>br</strong> />
Pergunta nº. 02 Pergunta nº. 14 Pergunta nº. 10 Pergunta nº. 07 Pergunta nº. 19<<strong>br</strong> />
Pergunta nº. 03 Pergunta nº. 16 Pergunta nº. 11 Pergunta nº. 09 Pergunta nº. 21<<strong>br</strong> />
Pergunta nº. 06 Pergunta nº. 20 Pergunta nº. 15 Pergunta nº. 12<<strong>br</strong> />
Pergunta nº. 08 Pergunta nº. 22 Pergunta nº. 17<<strong>br</strong> />
Quadro 5 Demonstrativo para questões que i<strong>de</strong>ntificam a síndrome <strong>de</strong> Burnout.<<strong>br</strong> />
As pontuações consi<strong>de</strong>radas foram as referidas por Araujo (2001, p. 75) que aponta<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> acordo <strong>com</strong> o NEPASB a média <strong>br</strong>asileira para cada escala nos fatores (elementos<<strong>br</strong> />
do MBI:<<strong>br</strong> />
EE = 16 a 25 D = 3 a 8 RP = 34 a 42
79<<strong>br</strong> />
5.2.2 Descrição da escala <strong>de</strong> <strong>estresse</strong><<strong>br</strong> />
Para <strong>de</strong>terminar o nível <strong>de</strong> <strong>estresse</strong> dos indivíduos utilizou-se a escala Toulousaine<<strong>br</strong> />
(ETS). Esta escala (anexo B) foi elaborada por um grupo <strong>de</strong> pesquisa coletiva da<<strong>br</strong> />
equipe <strong>de</strong> psicologia social e <strong>de</strong>senvolvimento da saú<strong>de</strong> da Universida<strong>de</strong> Toulouse II –<<strong>br</strong> />
Le mirail. Ela possui trinta itens distribuídos em quatro dimensões <strong>de</strong> acordo <strong>com</strong> o<<strong>br</strong> />
campo consi<strong>de</strong>rado. O indivíduo <strong>de</strong>ve indicar na escala tipo Likert <strong>de</strong> cinco pontos (<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
um a cinco) – quase nunca a quase sempre. Essa escala articula quatro campos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
manifestações percebidas <strong>de</strong> <strong>estresse</strong>. Estes campos representam as articulações<<strong>br</strong> />
que entram em ação em uma situação <strong>de</strong> <strong>estresse</strong>: as manifestações físicas; as<<strong>br</strong> />
manifestações psicológicas, as manifestações psicofisiológicas e <strong>de</strong> temporalida<strong>de</strong>,<<strong>br</strong> />
sendo a escala <strong>de</strong> conversão representada no quadro 6.<<strong>br</strong> />
Escala <strong>de</strong> conversão<<strong>br</strong> />
E S T R E S S E<<strong>br</strong> />
MANIFESTAÇÕES<<strong>br</strong> />
Psico Tempo<<strong>br</strong> />
Físicas<<strong>br</strong> />
Fisiológicas<<strong>br</strong> />
Psicológicas<<strong>br</strong> />
Ralida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Perg. nº. 02 Perg. nº. 16 Perg. nº. 05 Perg. nº. 06 Perg. nº.01 Perg. nº. 15<<strong>br</strong> />
Perg. nº. 04 Perg. nº. 20 Perg. nº. 11 Perg. nº. 12 Perg. nº. 03 Perg. nº. 19<<strong>br</strong> />
Perg. nº. 08 Perg. nº. 22 Perg. nº. 17 Perg. nº. 18 Perg. nº. 07 Perg. nº. 21<<strong>br</strong> />
Perg. nº. 10 Perg. nº. 26 Perg. nº. 23 Perg. nº. 24 Perg. nº. 09 Perg. nº. 25<<strong>br</strong> />
Perg. nº. 14 Perg. nº. 28 Perg. nº. 29 Perg. nº. 30 Perg. nº. 13 Perg. nº. 27<<strong>br</strong> />
Quadro 6 Demonstrativo para questões que i<strong>de</strong>ntificam as manifestações do <strong>estresse</strong>.<<strong>br</strong> />
Fonte: PIZZATO (2002).<<strong>br</strong> />
O indivíduo, quando submetido ao agente estressor e este não é eliminado ou<<strong>br</strong> />
controlado, apresenta reações que são consi<strong>de</strong>radas <strong>com</strong>o manifestações físicas<<strong>br</strong> />
percebidas <strong>com</strong>o dores <strong>de</strong> barriga, tremores, choro, taquicardia, boca seca e<<strong>br</strong> />
dificulda<strong>de</strong> para respirar. Além disso, ele po<strong>de</strong> ainda apresentar disfunções<<strong>br</strong> />
psicológicas: preocupação, falta <strong>de</strong> controle, <strong>de</strong>pressão, in<strong>com</strong>preensão e<<strong>br</strong> />
isolamento. Manifestações psicofisiológicas também são <strong>com</strong>uns e se apresentam<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>o insônia ou sono em excesso, agitação, cansaço e falta <strong>de</strong> energia. Finalmente, o<<strong>br</strong> />
indivíduo po<strong>de</strong> ainda apresentar inquietu<strong>de</strong> frente ao futuro e preocupações<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>masiadas <strong>com</strong> o amanhã. Incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> planejar ou organizar seu tempo e<<strong>br</strong> />
esquecimento <strong>de</strong> <strong>com</strong>promissos e objetos, são todos sintomas <strong>de</strong>nominados <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />
manifestações <strong>de</strong> temporalida<strong>de</strong>.
80<<strong>br</strong> />
A somatória dos escores da escala <strong>de</strong> <strong>estresse</strong> é obtido a partir das respostas às<<strong>br</strong> />
perguntas direcionadas, <strong>de</strong> acordo <strong>com</strong> a escala <strong>de</strong> conversão (quadro 6). Um<<strong>br</strong> />
“escore” total representa os índices gerais das reações manifestadas pelos indivíduos<<strong>br</strong> />
frente ao <strong>estresse</strong> e os escores específicos representam as manifestações físicas,<<strong>br</strong> />
psicológicas, psicofisiológicas e <strong>de</strong> temporalida<strong>de</strong> (SPARBÈS, LORDES-ADER et<<strong>br</strong> />
TAP, apud PIZZATO, 2002, p.259 tradução nossa).<<strong>br</strong> />
5.2.3 Descrição da escala <strong>de</strong> <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong><<strong>br</strong> />
Para verificar as <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> utilizadas pelos sujeitos da amostra<<strong>br</strong> />
utilizou-se a escala Toulousaine (ETC) – quadro 7. Esse instrumento (anexo C) foi<<strong>br</strong> />
elaborado por um grupo <strong>de</strong> pesquisa coletiva da equipe <strong>de</strong> psicologia social e<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>senvolvimento da saú<strong>de</strong> da Universida<strong>de</strong> Toulouse II – Le mirail. A escala é<<strong>br</strong> />
constituída <strong>de</strong> 54 afirmações. Para cada uma das afirmações o indivíduo <strong>de</strong>ve indicar<<strong>br</strong> />
numa escala do tipo Likert em cinco pontos (<strong>de</strong> um a cinco) se ele nunca utiliza, até se<<strong>br</strong> />
utiliza sempre as condutas propostas.<<strong>br</strong> />
Escala <strong>de</strong> conversão<<strong>br</strong> />
E N F R E N T A M E N T O (coping)<<strong>br</strong> />
RELACIONADOS AO<<strong>br</strong> />
Controle Isolamento Apoio social Recusa<<strong>br</strong> />
Perguntas nºs. Perguntas nºs. Perguntas nºs. Perguntas nºs.<<strong>br</strong> />
01 06 07 12 02 04 03 05<<strong>br</strong> />
08 09 14 15 18 20 10 13<<strong>br</strong> />
11 17 23 25 22 35 16 21<<strong>br</strong> />
19 24 28 30 36 38 31 32<<strong>br</strong> />
26 27 33 34 40 54 41 42<<strong>br</strong> />
29 37 39 43 48 49<<strong>br</strong> />
44 47 45 46 50 51<<strong>br</strong> />
53 52<<strong>br</strong> />
Quadro 7 Demonstrativo das questões para i<strong>de</strong>ntificação do coping<<strong>br</strong> />
Fonte: PIZZATO (2002).<<strong>br</strong> />
Esta escala constitui-se <strong>de</strong> doze dimensões que são obtidas através da intersecção <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
três campos agrupados através das condutas <strong>de</strong> ação (<strong>com</strong>portamento) <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
informação (cognitivo) e <strong>de</strong> emoção (afetivo) e quatro <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong>:<<strong>br</strong> />
o controle, o apoio social, o isolamento e a recusa (quadro 8).<<strong>br</strong> />
Os três campos <strong>de</strong>screvem as articulações existentes entre as condutas:<<strong>br</strong> />
1. o campo <strong>com</strong>portamental correspon<strong>de</strong> ao conjunto <strong>de</strong> processos pelos<<strong>br</strong> />
quais o indivíduo planeja, organiza e gerencia a ação.
81<<strong>br</strong> />
2. O campo cognitivo correspon<strong>de</strong> aos processos pelos quais o indivíduo<<strong>br</strong> />
agrupa as informações, as dispõe e as or<strong>de</strong>na para assimilá-las, convertêlas<<strong>br</strong> />
ou ainda se amparar diante da situação estressante que lhe<<strong>br</strong> />
proporciona <strong>de</strong>sconforto.<<strong>br</strong> />
3. Campo afetivo – correspon<strong>de</strong> ao conjunto <strong>de</strong> reações emocionais do<<strong>br</strong> />
indivíduo, os sentimentos, afetos e emoções so<strong>br</strong>e as quais o indivíduo<<strong>br</strong> />
fundamenta e justifica as suas ações, ambições e <strong>de</strong>sejos.<<strong>br</strong> />
Cada um <strong>de</strong>sses três campos acima é constituído <strong>de</strong> quatro <strong>estratégia</strong>s que cruzadas<<strong>br</strong> />
produzem 12 dimensões:<<strong>br</strong> />
1. O campo controle caracteriza a regularização das ativida<strong>de</strong>s mentais,<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>portamentais e <strong>de</strong> reações emocionais. O indivíduo tenta dominar a situação,<<strong>br</strong> />
seja evitando <strong>de</strong>cisões precipitadas sem refletir (regulação das ativida<strong>de</strong>s), seja<<strong>br</strong> />
planejando (controle cognitivo), disfarçando suas emoções ou controlando o<<strong>br</strong> />
pânico – medo- (controle emocional).<<strong>br</strong> />
2. O campo apoio social traduz a <strong>de</strong>manda, a solicitação e a procura <strong>de</strong> ajuda. Esta<<strong>br</strong> />
ajuda po<strong>de</strong> ser através <strong>de</strong> conselhos, informações ou <strong>de</strong> consolo, <strong>de</strong> diálogos, e<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> escuta <strong>de</strong> outras pessoas. Este campo inclui também a participação. A pessoa<<strong>br</strong> />
busca cooperar <strong>com</strong> os outros em ativida<strong>de</strong>s coletivas, buscando assim a<<strong>br</strong> />
interrelação <strong>com</strong> os outros.<<strong>br</strong> />
3. O campo isolamento consiste em se fechar em si mesmo significando uma<<strong>br</strong> />
ruptura das ativida<strong>de</strong>s e das interações <strong>com</strong> o outro. O indivíduo foge da situação<<strong>br</strong> />
e do problema (isolamento social e <strong>com</strong>portamental). Na tentativa <strong>de</strong> eliminar ou<<strong>br</strong> />
esquecer as aflições, a pessoa po<strong>de</strong> refugiar-se em sonhos e fantasias (isolamento<<strong>br</strong> />
mental). Neste campo po<strong>de</strong> ainda adotar condutas <strong>de</strong> <strong>com</strong>pensação por meio do<<strong>br</strong> />
alimento, álcool e drogas.<<strong>br</strong> />
4. O campo recusa traduz a incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aceitar a realida<strong>de</strong> e o problema. O<<strong>br</strong> />
indivíduo tenta negar a situação (<strong>de</strong>negação). Ele se engaja em outras ativida<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />
procurando se distrair ou busca satisfação em outros domínios <strong>de</strong> sua vida<<strong>br</strong> />
(distração). Este campo inclui também <strong>com</strong>o manifestação, a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
controlar e expor suas emoções (alexithymie).<<strong>br</strong> />
O <strong>enfrentamento</strong> po<strong>de</strong> ser positivo associando os aspectos cognitivos do apoio social<<strong>br</strong> />
(cooperação, ajuda à informação e apoio afetivo). Através do controle pela ação<<strong>br</strong> />
(focalização ativa) ou pela emoção é consi<strong>de</strong>rado <strong>com</strong>o primeira estrutura <strong>de</strong>ste tipo<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong>.
82<<strong>br</strong> />
O <strong>enfrentamento</strong> negativo implica na articulação entre fuga e isolamento. Esta<<strong>br</strong> />
estrutura se organiza em torno da negação, da recusa mental, e da “alexytemia”<<strong>br</strong> />
(dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> gerir suas próprias emoções).<<strong>br</strong> />
ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO<<strong>br</strong> />
Relacionadas ao:<<strong>br</strong> />
CONTROLE Controle pela ação Controle cognitivo Controle emocional<<strong>br</strong> />
APOIO SOCIAL Cooperação/ativida<strong>de</strong>s Apoio social Apoio emocional<<strong>br</strong> />
informação<<strong>br</strong> />
ISOLAMENTO Social e <strong>com</strong>portamental Refugia-se no<<strong>br</strong> />
sonho<<strong>br</strong> />
RECUSA<<strong>br</strong> />
Dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aceitar a<<strong>br</strong> />
realida<strong>de</strong>, distração<<strong>br</strong> />
Refugia-se nos<<strong>br</strong> />
sonhos (recusa<<strong>br</strong> />
mental) negação da<<strong>br</strong> />
realida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>pensação.<<strong>br</strong> />
Dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
expressar<<strong>br</strong> />
sentimentos/emoções<<strong>br</strong> />
Insensibilida<strong>de</strong>,<<strong>br</strong> />
alteração <strong>de</strong> humor,<<strong>br</strong> />
dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressar<<strong>br</strong> />
sentimentos.<<strong>br</strong> />
Quadro 8 Demonstrativo da construção teórica da escala <strong>de</strong> coping.<<strong>br</strong> />
Fonte: Baseado em (TAP, SPARBÈS-PISTRE ET SORDES-ADER, apud PIZZATO,<<strong>br</strong> />
2001).<<strong>br</strong> />
Algumas dimensões, particularmente a conversão <strong>com</strong>portamental, a conversão pelos<<strong>br</strong> />
valores, a distração e a aceitação são percebidas <strong>de</strong> forma ambivalente e servem <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
mediação entre os mo<strong>de</strong>los positivo e negativo <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong>. O aceite da situação<<strong>br</strong> />
é positivo quando está ligado <strong>com</strong> o controle emocional e percebido <strong>com</strong>o negativo<<strong>br</strong> />
quando associado à retenção – resignação. A distração é positiva quando associada<<strong>br</strong> />
ao apoio social. É negativa quando se encontra associada ao sentimento <strong>de</strong> vazio<<strong>br</strong> />
mental. A conversão (mudança <strong>de</strong> <strong>com</strong>portamento e/ou valores) é positiva quando ela<<strong>br</strong> />
é resultado do esforço para resolver o problema e negativa quando ela tem uma<<strong>br</strong> />
característica <strong>de</strong> culpabilida<strong>de</strong> e agressivida<strong>de</strong> (SPARBÈS, LORDES-ADER et TAP,<<strong>br</strong> />
apud PIZZATO, 2002, p. 259 tradução nossa).<<strong>br</strong> />
A seguir, apresenta-se o processo <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> das situações <strong>de</strong> <strong>estresse</strong> em<<strong>br</strong> />
quadro resumo.
83<<strong>br</strong> />
PROCESSO DE ENFRENTAMENTO<<strong>br</strong> />
CAMPOS<<strong>br</strong> />
COMPORTAMENTAL<<strong>br</strong> />
(Ação)<<strong>br</strong> />
Planejamento<<strong>br</strong> />
AÇÕES<<strong>br</strong> />
Organização<<strong>br</strong> />
Gerenciamento<<strong>br</strong> />
P<<strong>br</strong> />
R<<strong>br</strong> />
O<<strong>br</strong> />
C<<strong>br</strong> />
E<<strong>br</strong> />
S<<strong>br</strong> />
S<<strong>br</strong> />
O<<strong>br</strong> />
COGNITIVO<<strong>br</strong> />
(Ativida<strong>de</strong> mental)<<strong>br</strong> />
Agrupa as informações<<strong>br</strong> />
Assimila / Converte<<strong>br</strong> />
Se ampara / Examina<<strong>br</strong> />
Dispõe / Or<strong>de</strong>na<<strong>br</strong> />
REAÇÕES<<strong>br</strong> />
Emoções<<strong>br</strong> />
Sentimentos<<strong>br</strong> />
Afetos<<strong>br</strong> />
EMOCIONAL<<strong>br</strong> />
(Afetivo)<<strong>br</strong> />
Fundamenta<<strong>br</strong> />
justifica as ações<<strong>br</strong> />
Ambições <strong>de</strong>sejos<<strong>br</strong> />
ESTRATÉGIAS<<strong>br</strong> />
DE<<strong>br</strong> />
ENFRENTAMENTO<<strong>br</strong> />
ENFRENTAMENTO<<strong>br</strong> />
POSITIVO ( + )<<strong>br</strong> />
CONTROLE APOIO SOCIAL ISOLAMENTO RECUSA<<strong>br</strong> />
Procura ajuda fecha-se<<strong>br</strong> />
Coopera <strong>com</strong> os rompe ativida<strong>de</strong>s e<<strong>br</strong> />
outros, participa <strong>de</strong> interações <strong>com</strong> os outros<<strong>br</strong> />
ativida<strong>de</strong>s social – <strong>com</strong>portamental e<<strong>br</strong> />
Coletivas<<strong>br</strong> />
mental<<strong>br</strong> />
Consolo<<strong>br</strong> />
condutas <strong>com</strong>pensação<<strong>br</strong> />
Regularização das ativida<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />
mentais <strong>com</strong>portamentais e<<strong>br</strong> />
emocionais<<strong>br</strong> />
Evita <strong>de</strong>cisões precipitadas, sem<<strong>br</strong> />
refletir.<<strong>br</strong> />
Aceita a situação<<strong>br</strong> />
(+ )<<strong>br</strong> />
aceita a situação<<strong>br</strong> />
controle emocional<<strong>br</strong> />
(+ )<<strong>br</strong> />
não aceita a realida<strong>de</strong> e o<<strong>br</strong> />
problema - <strong>de</strong>negação<<strong>br</strong> />
procura distração<<strong>br</strong> />
satisfação em outros<<strong>br</strong> />
domínios da vida<<strong>br</strong> />
Conversão <strong>com</strong>portamental<<strong>br</strong> />
e <strong>de</strong> valores.<<strong>br</strong> />
ENFRENTAMENTO<<strong>br</strong> />
NEGATIVO ( - )<<strong>br</strong> />
( - )<<strong>br</strong> />
fuga e isolamento<<strong>br</strong> />
ENFRENTAMENTO<<strong>br</strong> />
AMBIVALENTE<<strong>br</strong> />
(+) E ( - )<<strong>br</strong> />
(+) aceite da situação associado<<strong>br</strong> />
ao controle emocional<<strong>br</strong> />
(-) aceite <strong>de</strong> situação associado<<strong>br</strong> />
à resignação<<strong>br</strong> />
( + ) Conversão (mudança<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> <strong>com</strong>portamento e ou<<strong>br</strong> />
valores <strong>com</strong>o esforço<<strong>br</strong> />
para resolver o problema<<strong>br</strong> />
( - ) culpa e agressivida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
( + ) Distração associada à<<strong>br</strong> />
apoio social<<strong>br</strong> />
( - ) Distração associada ao<<strong>br</strong> />
sentimento <strong>de</strong> vazio mental<<strong>br</strong> />
Quadro 9 Processo <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> nas situações <strong>de</strong> <strong>estresse</strong><<strong>br</strong> />
Fonte Adaptado (PIZZATO, 2001)
84<<strong>br</strong> />
5.3 População<<strong>br</strong> />
Constitui-se a população <strong>de</strong> profissionais que integram a equipe <strong>de</strong> enfermagem do<<strong>br</strong> />
Hospital, <strong>com</strong> e sem vínculo formal admitidos há mais <strong>de</strong> um ano. Pensou-se nesse<<strong>br</strong> />
período para que a população estivesse no convívio daquele ambiente laboral em<<strong>br</strong> />
tempo relevante.<<strong>br</strong> />
A escolha do hospital respon<strong>de</strong>u à facilida<strong>de</strong> da realização <strong>de</strong>sta pesquisa pelo fato do<<strong>br</strong> />
autor estar vinculado ao hospital por contrato <strong>de</strong> trabalho <strong>com</strong>o enfermeira<<strong>br</strong> />
encarregada. Na ocasião da coleta <strong>de</strong> dados, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> circulação por áreas<<strong>br</strong> />
restritas da instituição em horários diurno e noturno, o acesso às escalas <strong>de</strong> serviço e<<strong>br</strong> />
um convívio diário <strong>com</strong>o <strong>com</strong>ponente da equipe foi consi<strong>de</strong>rado <strong>com</strong>o favorável na<<strong>br</strong> />
aplicação dos instrumentos <strong>de</strong> pesquisa e pertinente para a percepção do clima<<strong>br</strong> />
organizacional que durante a realização <strong>de</strong>sta pesquisa encontrava-se sob influência<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> séria crise financeira. Diante <strong>de</strong>ssa situação, a Instituição hospitalar promoveu o<<strong>br</strong> />
parcelamento e atraso dos salários e suspensão dos benefícios para os empregados.<<strong>br</strong> />
Esse quadro culminou, após coleta <strong>de</strong> dados pela pesquisadora, em intervenção<<strong>br</strong> />
fe<strong>de</strong>ral e venda da carteira <strong>de</strong> clientes do plano <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
5.4 Amostra<<strong>br</strong> />
A amostra utilizada nesta pesquisa foi <strong>com</strong>posta por um grupo <strong>de</strong> 96 profissionais da<<strong>br</strong> />
equipe <strong>de</strong> enfermagem, <strong>de</strong> diferentes unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho <strong>com</strong> tempo mínimo <strong>de</strong> um<<strong>br</strong> />
ano <strong>de</strong> vínculo <strong>com</strong> a Instituição que trabalham nos turnos matutino e vespertino <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
jornada <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> 36 e 44 horas semanais, sendo que no período noturno em<<strong>br</strong> />
regime escalar e <strong>de</strong> revezamento 12x36 hs 7 . Quanto à a<strong>br</strong>angência da amostra em<<strong>br</strong> />
relação à população dos profissionais na ativa (252 S s ), esta ficou em 38% do total dos<<strong>br</strong> />
que apresentam as mesmas características <strong>de</strong> trabalho.<<strong>br</strong> />
5.5 Coleta <strong>de</strong> dados<<strong>br</strong> />
O levantamento <strong>de</strong> dados ocorreu por meio da distribuição dos questionários a todos<<strong>br</strong> />
os <strong>com</strong>ponentes da equipe <strong>de</strong> enfermagem, em seus períodos <strong>de</strong> trabalho após<<strong>br</strong> />
autorização formal do hospital, através <strong>de</strong> contato <strong>com</strong> a gerência <strong>de</strong> Enfermagem.<<strong>br</strong> />
7 Esse regime <strong>de</strong> trabalho é <strong>de</strong> doze horas <strong>de</strong> trabalho e 36 <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso. Trabalha-se em dias alternados.
85<<strong>br</strong> />
Os questionários, auto aplicáveis, foram entregues para as enfermeiras coor<strong>de</strong>nadoras<<strong>br</strong> />
das equipes e diretamente pela autora, em número suficiente para todos os sujeitos na<<strong>br</strong> />
ativa há mais <strong>de</strong> um ano e recolhidos pelas mesmas, nos diversos turnos.<<strong>br</strong> />
Por ocasião da distribuição dos questionários foi apontado, para leitura, o “ termo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
consentimento livre e esclarecido”, no qual está <strong>de</strong>stacado a natureza acadêmica da<<strong>br</strong> />
pesquisa, a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> recusa, a condição <strong>de</strong> sigilo, bem <strong>com</strong>o os preceitos éticos<<strong>br</strong> />
que nortearam esta pesquisa.<<strong>br</strong> />
O período <strong>de</strong>stinado à coleta <strong>de</strong> dados ocorreu entre os meses <strong>de</strong> julho e agosto <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
2004.<<strong>br</strong> />
5.6 Tratamento dos dados<<strong>br</strong> />
Os dados foram tratados analiticamente no software estatística (Sphinx).<<strong>br</strong> />
A interpretação dos dados do "Maslach Burnout Inventory" foi feita através dos<<strong>br</strong> />
escores alcançados no inventário pelas respostas das escalas específicas e<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>parados <strong>com</strong> as pontuações consi<strong>de</strong>radas pelo Núcleo <strong>de</strong> Estudos Avançados <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Burnout no Brasil (NEPASB) <strong>com</strong>o média <strong>br</strong>asileira para Exaustão Emocional,<<strong>br</strong> />
Despersonalização e Realização Pessoal <strong>com</strong> o trabalho.<<strong>br</strong> />
A classificação do nível <strong>de</strong> <strong>estresse</strong> foi feita através da escala Toulousaine (ETS) que<<strong>br</strong> />
se propõe a i<strong>de</strong>ntificar as manifestações percebidas numa situação consi<strong>de</strong>rada<<strong>br</strong> />
estressante. Obteve-se a somatória dos escores da escala tipo Likert que permitiu<<strong>br</strong> />
verificar as manifestações físicas, psicológicas, psicofisiológicas e as <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
temporalida<strong>de</strong> <strong>com</strong>o índices <strong>de</strong> reação ao <strong>estresse</strong> apresentado pelos indivíduos.<<strong>br</strong> />
As <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> foram verificadas através da escala Toulousaine <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
coping (ETC), tipo Likert que permitiu conhecer as <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong><<strong>br</strong> />
utilizadas pelos sujeitos orientadas para o controle, o apoio social, o isolamento e a<<strong>br</strong> />
recusa.<<strong>br</strong> />
Os dados pessoais da equipe <strong>de</strong> enfermagem que <strong>com</strong>põem a amostra estudada tais<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>o ida<strong>de</strong>, gênero, estado civil, tempo na profissão e no hospital, categoria<<strong>br</strong> />
profissional e escolarida<strong>de</strong> foram <strong>de</strong>monstrados em tabelas para clareza <strong>de</strong>ste<<strong>br</strong> />
resultado.
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO<<strong>br</strong> />
Apresentado inicialmente objetivou-se neste trabalho verificar na equipe <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
enfermagem <strong>de</strong> um hospital privado, o <strong>estresse</strong> <strong>ocupacional</strong>, as <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfrentamento</strong> frente às situações consi<strong>de</strong>radas estressoras e a síndrome <strong>de</strong> burnout<<strong>br</strong> />
nas suas sub-escalas: EE (exaustão emocional), D (<strong>de</strong>spersonalização) e RP<<strong>br</strong> />
(Realização Pessoal).<<strong>br</strong> />
6.1 Perfil sócio-<strong>de</strong>mográfico dos sujeitos<<strong>br</strong> />
A equipe <strong>de</strong> enfermagem estudada é <strong>com</strong>posta <strong>de</strong> N t = 96 sujeitos (N t = número total<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> S s = sujeitos da pesquisa). Nesta população observou-se uma predominância do<<strong>br</strong> />
sexo feminino N f = 80 (83,3%), estando representado graficamente na figura 7. Estes<<strong>br</strong> />
dados corroboram aos <strong>de</strong> outras pesquisas <strong>com</strong>o as <strong>de</strong> Tamayo (1997) e Lautert<<strong>br</strong> />
(1997) que referem o predomínio do gênero feminino nas funções <strong>de</strong> enfermagem, e<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> o COREN (Conselho Regional <strong>de</strong> Enfermagem) que informou ser <strong>de</strong> 87,4 o<<strong>br</strong> />
percentual <strong>de</strong> mulheres registradas <strong>com</strong>o profissionais <strong>de</strong> enfermagem até 21.12.2004<<strong>br</strong> />
na capital <strong>de</strong> São Paulo.<<strong>br</strong> />
SEXO<<strong>br</strong> />
4<<strong>br</strong> />
12<<strong>br</strong> />
Não resposta<<strong>br</strong> />
Masculino<<strong>br</strong> />
Feminino<<strong>br</strong> />
Figura 7 Distribuição dos sujeitos segundo o sexo.<<strong>br</strong> />
80<<strong>br</strong> />
A faixa etária do grupo objeto <strong>de</strong>sta pesquisa encontra-se distribuída entre 22 e 55<<strong>br</strong> />
anos N= 80 S s (83,3%), sendo N= 45 S s (46,9%) <strong>com</strong> mais <strong>de</strong> 34 anos, estando<<strong>br</strong> />
representado graficamente na figura 8. Do número total <strong>de</strong> sujeitos pesquisados,<<strong>br</strong> />
40,6% (N= 39 S s ) são casados; 40,6% (N= 39 S s ) são solteiros; 6,3% (N= 6 S s ) são<<strong>br</strong> />
divorciados, 3,1% (N=3 S s ) são <strong>de</strong>squitados; 4,2% (N=4 S s ) separados e N=5 S s<<strong>br</strong> />
(5,2%) não respon<strong>de</strong>ram. A representação gráfica encontra-se na figura 9.
87<<strong>br</strong> />
IDADE<<strong>br</strong> />
45<<strong>br</strong> />
16<<strong>br</strong> />
Não resposta<<strong>br</strong> />
Menos <strong>de</strong> 24<<strong>br</strong> />
De 24 a 26<<strong>br</strong> />
De 26 a 28<<strong>br</strong> />
3 2<<strong>br</strong> />
9<<strong>br</strong> />
De 28 a 30<<strong>br</strong> />
De 30 a 32<<strong>br</strong> />
8<<strong>br</strong> />
8<<strong>br</strong> />
5<<strong>br</strong> />
De 32 a 34<<strong>br</strong> />
Mais <strong>de</strong> 34<<strong>br</strong> />
Figura 8 Distribuição dos sujeitos quanto à ida<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
CIVIL<<strong>br</strong> />
6 3 4<<strong>br</strong> />
5<<strong>br</strong> />
39<<strong>br</strong> />
Não resposta<<strong>br</strong> />
casado(a)<<strong>br</strong> />
solteiro(a)<<strong>br</strong> />
viúvo(a)<<strong>br</strong> />
divorciado(a)<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>squitado(a)<<strong>br</strong> />
separado(a)<<strong>br</strong> />
39<<strong>br</strong> />
Figura 9 Distribuição dos sujeitos quanto ao estado civil.<<strong>br</strong> />
Comentário: Bianchini-Matomoros (1997 apud ARAUJO, 2001, p.85) refere em seus<<strong>br</strong> />
estudos que uma população jovem, em torno <strong>de</strong> vinte anos, do sexo feminino e<<strong>br</strong> />
solteira é mais a<strong>com</strong>etida pelo burnout. Entre os sujeitos <strong>de</strong>sta pesquisa a maioria<<strong>br</strong> />
está na maturida<strong>de</strong> <strong>com</strong> mais <strong>de</strong> 34 anos, é do sexo feminino e o número <strong>de</strong> solteiros<<strong>br</strong> />
equipara-se aos <strong>de</strong> casados, então, levando em consi<strong>de</strong>ração a faixa etária que não<<strong>br</strong> />
coinci<strong>de</strong> <strong>com</strong> o pesquisador citado, isso po<strong>de</strong> ser indício <strong>de</strong> risco menor para<<strong>br</strong> />
a<strong>com</strong>etimento da síndrome <strong>de</strong> burnout.<<strong>br</strong> />
CAT PROF<<strong>br</strong> />
Não resposta 4<<strong>br</strong> />
Aux. Enf. 50<<strong>br</strong> />
Téc. Enf 17<<strong>br</strong> />
Enfermeira(o) 25<<strong>br</strong> />
Figura 10 Distribuição dos pesquisados por categoria profissional.
88<<strong>br</strong> />
INSTRUÇÃO<<strong>br</strong> />
Não resposta 5<<strong>br</strong> />
1o Grau 0<<strong>br</strong> />
2o Grau 55<<strong>br</strong> />
Superior 19<<strong>br</strong> />
Especialização 16<<strong>br</strong> />
Mestrado 2<<strong>br</strong> />
Doutorado 0<<strong>br</strong> />
Figura 11 Distribuição dos sujeitos quanto ao grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
Quanto à escolarida<strong>de</strong> da população avaliada e respon<strong>de</strong>nte, observou-se entre os<<strong>br</strong> />
profissionais que o nível é <strong>de</strong> no mínimo segundo grau in<strong>com</strong>pleto na totalida<strong>de</strong>. São<<strong>br</strong> />
auxiliares <strong>de</strong> enfermagem N= 50 S s (52,1%); são técnicos <strong>de</strong> enfermagem N= 17 S s<<strong>br</strong> />
(17,7%); são enfermeiros N=25 S s (26,0%) e não respon<strong>de</strong>ram N= 4 S s (4,2%). A<<strong>br</strong> />
representação gráfica <strong>de</strong>stas variáveis correspon<strong>de</strong> às figuras 11 e 10<<strong>br</strong> />
respectivamente.<<strong>br</strong> />
Comentário: O nível mínimo <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> (segundo grau <strong>com</strong>pleto) permite a<<strong>br</strong> />
justificativa da exigência para a profissionalização do auxiliar <strong>de</strong> enfermagem que,<<strong>br</strong> />
atualmente, é <strong>de</strong> primeiro grau <strong>com</strong>pleto.<<strong>br</strong> />
TEMPO PROFISSÃO<<strong>br</strong> />
Não resposta 7<<strong>br</strong> />
Menos <strong>de</strong> 2,00 2<<strong>br</strong> />
De 2,00 a 4,00 3<<strong>br</strong> />
De 4,00 a 6,00 15<<strong>br</strong> />
De 6,00 a 8,00 17<<strong>br</strong> />
De 8,00 a 10,00 8<<strong>br</strong> />
De 10,00 a 12,00 10<<strong>br</strong> />
Mais <strong>de</strong> 12,00 34<<strong>br</strong> />
Figura 12 Distribuição dos sujeitos em relação ao tempo <strong>de</strong> profissão (em anos)<<strong>br</strong> />
No que diz respeito ao tempo <strong>de</strong> atuação na profissão dos sujeitos da pesquisa,<<strong>br</strong> />
verifica-se que está entre um e 32 anos sendo a maioria <strong>com</strong> mais <strong>de</strong> 12 anos na<<strong>br</strong> />
enfermagem N= 34 S s (35,4%). O tempo <strong>de</strong> serviço no hospital ficou entre um e 22<<strong>br</strong> />
anos sendo N=20 S s (20,8%) <strong>com</strong> mais <strong>de</strong> 12 anos <strong>de</strong> vínculo <strong>com</strong> a instituição e
89<<strong>br</strong> />
14,6% (N= 14 S s ) <strong>com</strong> menos <strong>de</strong> 2 anos no hospital. A <strong>de</strong>monstração gráfica está nas<<strong>br</strong> />
figuras 12 e 14 respectivamente.<<strong>br</strong> />
Comentário: Consi<strong>de</strong>rando-se o tempo <strong>de</strong> hospital ( 20,8%) e <strong>de</strong> profissão que atinge<<strong>br</strong> />
35,4% é <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 12 anos para ambas as referências, po<strong>de</strong>-se enten<strong>de</strong>r que a<<strong>br</strong> />
população estudada po<strong>de</strong>rá apresentar manifestações <strong>de</strong> <strong>estresse</strong> <strong>com</strong>o processo<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>senvolvido através do tempo e da interação <strong>com</strong> o meio ambiente (FRANÇA e<<strong>br</strong> />
RODRIGUES, 2002). Freu<strong>de</strong>nberg (1974 apud Araujo, 2001, p.103), ressalta que o<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sgaste emocional po<strong>de</strong> ocorrer após o primeiro ano <strong>de</strong> trabalho e esse fator leva ao<<strong>br</strong> />
burnout, a síndrome resultante do <strong>estresse</strong> crônico.<<strong>br</strong> />
Aos enfermeiros, perguntado “qual a primeira escolha no vestibular“ respon<strong>de</strong>ram para<<strong>br</strong> />
N t= 23 S s : enfermagem N= 18 S s (78,3%); fisioterapia N=1 S (4,3%); nutrição N=1 S<<strong>br</strong> />
(4,3%)medicina N= 2 S s (8,7%) e odontologia N= 1 S (4,3%). A representação gráfica<<strong>br</strong> />
encontra-se na figura 13.<<strong>br</strong> />
enfermagem 18<<strong>br</strong> />
Medicina 2<<strong>br</strong> />
enfermagem/odontologia 1<<strong>br</strong> />
Fisioterapia 1<<strong>br</strong> />
nutrição 1<<strong>br</strong> />
Figura 13 Escolha dos enfermeiros <strong>com</strong>o primeira opção no vestibular.<<strong>br</strong> />
Comentário: Esta questão <strong>com</strong> significativo número <strong>de</strong> resposta que indicam a<<strong>br</strong> />
enfermagem <strong>com</strong>o primeira opção no vestibular permite levantar <strong>com</strong>o primeira<<strong>br</strong> />
hipótese que há ainda uma forte tendência ao mo<strong>de</strong>lo vocacional da enfermagem<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>o arte ou chamamento. Como Segunda hipótese po<strong>de</strong>-se pensar na dificulda<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
que as enfermeiras sentem em expressar posições contrárias à i<strong>de</strong>ologia da profissão<<strong>br</strong> />
ao admitir, por exemplo, que teria escolhido <strong>com</strong>o primeira opção qualquer outra área<<strong>br</strong> />
que não a enfermagem. Uma outra hipótese a ser consi<strong>de</strong>rada é a continuida<strong>de</strong> da<<strong>br</strong> />
carreira na enfermagem, que se inicia <strong>com</strong> o curso para auxiliar <strong>de</strong> enfermagem.
90<<strong>br</strong> />
TEMPO HOSPITAL<<strong>br</strong> />
Não resposta 9<<strong>br</strong> />
Menos <strong>de</strong> 2 14<<strong>br</strong> />
De 2 a 4 15<<strong>br</strong> />
De 4 a 6 9<<strong>br</strong> />
De 6 a 8 11<<strong>br</strong> />
De 8 a 10 8<<strong>br</strong> />
De 10 a 12 10<<strong>br</strong> />
Mais <strong>de</strong> 12 20<<strong>br</strong> />
Figura 14 Posição dos sujeitos em relação ao tempo <strong>de</strong> serviço no hospital (em anos)<<strong>br</strong> />
Quanto ao setor <strong>de</strong> atuação hospitalar (figura 16) os sujeitos estavam lotados em 12<<strong>br</strong> />
clínicas sendo esta a disposição: Centro Cirúrgico (CC), Central <strong>de</strong> Material<<strong>br</strong> />
Esterilizado (CME) e UTI Pediátrica (Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Terapia Intensiva) <strong>com</strong> N= 14 S s<<strong>br</strong> />
(15,1%) cada unida<strong>de</strong>; clínica médico cirúrgica N= 17 S s (18,3%); Pediatria N= 10 S s<<strong>br</strong> />
(10,8%); Pronto Socorro N= 8 S s (8,6%); Day Clinic e Semi Intensiva. N= 4 S s (4,3%)<<strong>br</strong> />
em cada unida<strong>de</strong>; UTI adulto N= 3 S s (3,2%); Diálise Peritoneal, Endoscopia, Serviço<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> Controle <strong>de</strong> Infecção Hospitalar (SCIH) N=1 S s (1,1%) em cada uma e todas as<<strong>br</strong> />
unida<strong>de</strong>s (co<strong>br</strong>e folgas) N= 2 S s (2,2%).<<strong>br</strong> />
ESCOLHA<<strong>br</strong> />
Não resposta 14<<strong>br</strong> />
sim 60<<strong>br</strong> />
não 22<<strong>br</strong> />
Figura 15 Freqüência da escolha da unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atuação dos sujeitos.<<strong>br</strong> />
Questionados os sujeitos da pesquisa so<strong>br</strong>e a “escolha” para trabalhar na unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
lotação respon<strong>de</strong>ram Sim N= 60 S s (62,5%); Não N=22 S s (22,9%) e não respon<strong>de</strong>ram<<strong>br</strong> />
N=14 S s (14,6%), estando a representação gráfica na figura 15.<<strong>br</strong> />
Comentário: Este resultado permite levantar as hipóteses <strong>de</strong> que po<strong>de</strong> existir uma<<strong>br</strong> />
preocupação do <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> enfermagem em: consi<strong>de</strong>rar a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolha do<<strong>br</strong> />
profissional; po<strong>de</strong> haver interesse na especialização do indivíduo ou das tarefas, ou<<strong>br</strong> />
ainda uma intenção motivacional para favorecer a qualida<strong>de</strong> dos serviços.
91<<strong>br</strong> />
4 4 2 1111 3<<strong>br</strong> />
8<<strong>br</strong> />
16<<strong>br</strong> />
10<<strong>br</strong> />
Tabela <strong>de</strong> frequências : Qt.<<strong>br</strong> />
cit.<<strong>br</strong> />
14<<strong>br</strong> />
14<<strong>br</strong> />
14<<strong>br</strong> />
centro cirúrgico<<strong>br</strong> />
CME<<strong>br</strong> />
UTI Pediatrica<<strong>br</strong> />
Pediatria<<strong>br</strong> />
clínica médico-cirúrgica<<strong>br</strong> />
Pronto Socorro<<strong>br</strong> />
Day Clinic<<strong>br</strong> />
Semi Intensiva<<strong>br</strong> />
co<strong>br</strong>e folga (todas as unida<strong>de</strong>s)<<strong>br</strong> />
Diálise Peritonial<<strong>br</strong> />
endoscopia<<strong>br</strong> />
Internação<<strong>br</strong> />
SCIH<<strong>br</strong> />
UTI<<strong>br</strong> />
Figura 16 Distribuição dos sujeitos nas unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> atuação<<strong>br</strong> />
LAZER<<strong>br</strong> />
Não resposta 26<<strong>br</strong> />
Realiza afazeres domésticos 46<<strong>br</strong> />
Trabalha em outro<<strong>br</strong> />
25<<strong>br</strong> />
local<<strong>br</strong> />
Lê jornais e revistas 28<<strong>br</strong> />
Assiste programas <strong>de</strong> televisão<<strong>br</strong> />
Lê livros e/ou estuda 42<<strong>br</strong> />
Vai ao cinema/teatro 31<<strong>br</strong> />
Realiza alguma ativida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
19<<strong>br</strong> />
física<<strong>br</strong> />
Figura 17 Ativida<strong>de</strong>s dos sujeitos fora do horário <strong>de</strong> trabalho<<strong>br</strong> />
41<<strong>br</strong> />
Dos profissionais pesquisados so<strong>br</strong>e ativida<strong>de</strong>s fora do horário <strong>de</strong> trabalho N= 25 S s<<strong>br</strong> />
(26,4%) trabalham em outro local. Quanto às ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> lazer foram,<<strong>br</strong> />
con<strong>com</strong>itantemente, mencionadas <strong>com</strong> maior freqüência: “realiza afazeres<<strong>br</strong> />
domésticos” 46 S s (47,9%), “lê livros ou estuda” 42 S s (43,7%) e “assiste a programas<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> televisão” 41 S s (42,7%). A representação gráfica <strong>de</strong>sta variável está na figura 17.<<strong>br</strong> />
Comentário: Observa-se neste resultado, que a característica da enfermagem <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />
profissão feminina é reforçada na sua condição <strong>de</strong> mulher na socieda<strong>de</strong>. A realização<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> afazeres domésticos <strong>com</strong>o ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lazer em 47,9% dos sujeitos pesquisados,
92<<strong>br</strong> />
permite levantar a hipótese <strong>de</strong> que a mulher <strong>com</strong>o profissional <strong>de</strong> enfermagem,<<strong>br</strong> />
reafirma sua condição social <strong>de</strong> gênero ao respon<strong>de</strong>r em casa pelo cuidado da família<<strong>br</strong> />
e no trabalho pelo cuidado <strong>com</strong> o paciente.<<strong>br</strong> />
6.2 Análise dos questionários<<strong>br</strong> />
Para medida <strong>de</strong> coerência interna dos instrumentos utilizados nesta pesquisa,<<strong>br</strong> />
calculou-se o alpha <strong>de</strong> Cronbach para cada uma das sub-escalas dos três<<strong>br</strong> />
questionários aplicados (<strong>estresse</strong>, <strong>enfrentamento</strong> e burnout).<<strong>br</strong> />
O α Cronbach me<strong>de</strong> a confiabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma escala, analisando o quanto a medida do<<strong>br</strong> />
construto que se quer avaliar (burnout, <strong>estresse</strong> ou <strong>enfrentamento</strong>) está perturbada<<strong>br</strong> />
por outros efeitos (erros <strong>de</strong> medida). O parâmetro α varia entre 0 (zero) e 1 (um),<<strong>br</strong> />
sendo que 0 (zero) correspon<strong>de</strong> a um conjunto <strong>de</strong> medidas totalmente aleatório (sem<<strong>br</strong> />
relação <strong>com</strong> o construto) e 1 (um) correspon<strong>de</strong> a um conjunto <strong>de</strong> medidas perfeito.<<strong>br</strong> />
Para a amostra avaliada, temos os seguintes valores <strong>de</strong> coerência interna das<<strong>br</strong> />
escalas:<<strong>br</strong> />
Tabela 1 - Coerência interna das escalas utilizadas<<strong>br</strong> />
α Cronbach<<strong>br</strong> />
Estresse 0,91<<strong>br</strong> />
Enfrentamento 0,83<<strong>br</strong> />
Burnout 0,65<<strong>br</strong> />
Os valores obtidos mostram uma boa coerência interna para as escalas <strong>de</strong> <strong>estresse</strong> e<<strong>br</strong> />
<strong>enfrentamento</strong> e uma coerência razoável para a escala <strong>de</strong> burnout. Esses valores são<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>patíveis <strong>com</strong> aqueles obtidos por Pizzato (2001) para as escalas <strong>de</strong> <strong>estresse</strong> e<<strong>br</strong> />
<strong>enfrentamento</strong> e para Lautert (1997) para o Inventário <strong>de</strong> Burnout. Os resultados para<<strong>br</strong> />
estes pesquisadores estão representados na Tabela 2.<<strong>br</strong> />
Tabela 2 - Medida <strong>de</strong> coerência interna (Pizatto,2001; Lautert,1997)<<strong>br</strong> />
α Cronbach<<strong>br</strong> />
Estresse 0,94<<strong>br</strong> />
Enfrentamento 0,80<<strong>br</strong> />
Burnout 0,77
93<<strong>br</strong> />
6.3 Resultados específicos<<strong>br</strong> />
Como objetivo específico estudou-se nos sujeitos o <strong>estresse</strong> <strong>ocupacional</strong> e suas<<strong>br</strong> />
manifestações que estão relacionadas aos campos físico, psicológico, psicofisiológico<<strong>br</strong> />
e <strong>de</strong> temporalida<strong>de</strong>. A pontuação consi<strong>de</strong>rada para a escala <strong>de</strong> <strong>estresse</strong>, <strong>de</strong> acordo<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> a Escala Tolousaine (ETS), foi <strong>de</strong> pontuação direta para o <strong>estresse</strong> global e para<<strong>br</strong> />
cada campo. Na coluna Mediana, indica-se o valor consi<strong>de</strong>rado <strong>com</strong>o nível mo<strong>de</strong>rado,<<strong>br</strong> />
partindo-se da variação entre a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> menor número <strong>de</strong> pontos e a maior<<strong>br</strong> />
pontuação (Quadro 10).<<strong>br</strong> />
ESCALA ITENS VARIAÇÃO * PD (Máxima)<<strong>br</strong> />
MEDIANA<<strong>br</strong> />
Nível mo<strong>de</strong>rado<<strong>br</strong> />
Estresse Global 1 2 3 4 5 6 7 8 9<<strong>br</strong> />
10 11....30<<strong>br</strong> />
30 a 150 150 90<<strong>br</strong> />
Manifestações 2 4 8 10 14 16<<strong>br</strong> />
Físicas<<strong>br</strong> />
20 22 26 28<<strong>br</strong> />
10 a 50 50 30<<strong>br</strong> />
Manifestações 1 3 7 9 13 15 19<<strong>br</strong> />
Psicológicas 21 25 27<<strong>br</strong> />
10 a 50 50 30<<strong>br</strong> />
Manifestações<<strong>br</strong> />
Psicofisiológicas<<strong>br</strong> />
5 11 17 23 29 5 a 25 25 15<<strong>br</strong> />
Manifestações<<strong>br</strong> />
Temporalida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
6 12 18 24 30 5 a 25 25 15<<strong>br</strong> />
Quadro 10 Demonstrativo da pontuação para a escala <strong>de</strong> <strong>estresse</strong><<strong>br</strong> />
* PD = Pontuação direta<<strong>br</strong> />
Estresse Global<<strong>br</strong> />
Questões consi<strong>de</strong>radas: na totalida<strong>de</strong> (30)<<strong>br</strong> />
Valores da escala: Mínimo = 30 Máximo = 150<<strong>br</strong> />
Mediana = 90<<strong>br</strong> />
Estresse Global<<strong>br</strong> />
20<<strong>br</strong> />
15<<strong>br</strong> />
10<<strong>br</strong> />
5<<strong>br</strong> />
0<<strong>br</strong> />
18<<strong>br</strong> />
17<<strong>br</strong> />
17<<strong>br</strong> />
15<<strong>br</strong> />
12<<strong>br</strong> />
10<<strong>br</strong> />
4<<strong>br</strong> />
1<<strong>br</strong> />
2<<strong>br</strong> />
30 40 50 60 70 80 90 100 110+<<strong>br</strong> />
Figura 18 Representação gráfica do <strong>estresse</strong> global
94<<strong>br</strong> />
Comentário: Sendo a mediana o valor 90 para o <strong>estresse</strong> global, percebe-se, na figura<<strong>br</strong> />
18, que em torno <strong>de</strong> 23 sujeitos da amostra são os indivíduos que po<strong>de</strong>m ser<<strong>br</strong> />
consi<strong>de</strong>rados estressados, ou seja 23,9% dos pesquisados requerem cuidados pois<<strong>br</strong> />
apresentam todas as manifestações do <strong>estresse</strong> em maior ou menor grau.<<strong>br</strong> />
Manifestações físicas do <strong>estresse</strong><<strong>br</strong> />
Questões consi<strong>de</strong>radas: 2, 4, 8, 10, 14, 16, 20, 22, 26 e 28<<strong>br</strong> />
Valores da escala: Mínimo = 10 Máximo = 50<<strong>br</strong> />
Mediana = 30<<strong>br</strong> />
Manifestações Físicas<<strong>br</strong> />
40<<strong>br</strong> />
35<<strong>br</strong> />
30<<strong>br</strong> />
25<<strong>br</strong> />
20<<strong>br</strong> />
15<<strong>br</strong> />
10<<strong>br</strong> />
5<<strong>br</strong> />
0<<strong>br</strong> />
30<<strong>br</strong> />
24<<strong>br</strong> />
14<<strong>br</strong> />
9<<strong>br</strong> />
11<<strong>br</strong> />
8<<strong>br</strong> />
10 15 20 25 30 35<<strong>br</strong> />
Figura 19 Representação gráfica das manifestações físicas do <strong>estresse</strong>.<<strong>br</strong> />
Comentário: Analisando-se o gráfico da figura 19 observa-se que são 19,7% dos<<strong>br</strong> />
sujeitos da amostra os que apresentam as manifestações físicas do <strong>estresse</strong> tais<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>o: dor <strong>de</strong> barriga, taquicardia (coração batendo forte ou rápido), tremores,<<strong>br</strong> />
problemas intestinais, entre outros. Esta fase, consi<strong>de</strong>rada por Selye (1956) <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />
reação <strong>de</strong> resistência (segunda fase do <strong>estresse</strong>) permite levantar a hipótese <strong>de</strong> que a<<strong>br</strong> />
tentativa fisiológica <strong>de</strong> reequili<strong>br</strong>o do organismo esgotou-se para 19 indivíduos da<<strong>br</strong> />
equipe <strong>de</strong> enfermagem pesquisada. Esses indivíduos não conseguiram sair da fase <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
alerta (primeira fase do <strong>estresse</strong>) sem <strong>com</strong>plicações para o seu bem estar.<<strong>br</strong> />
Manifestações Psicológicas do <strong>estresse</strong>.<<strong>br</strong> />
Questões consi<strong>de</strong>radas 1, 3, 7, 9, 13, 15, 19, 21, 25 e 27<<strong>br</strong> />
Valores da escala: Mínimo = 10 Máximo = 50<<strong>br</strong> />
Mediana = 30
95<<strong>br</strong> />
Manifestações psicológicas<<strong>br</strong> />
40<<strong>br</strong> />
30<<strong>br</strong> />
20<<strong>br</strong> />
10<<strong>br</strong> />
0<<strong>br</strong> />
32<<strong>br</strong> />
22<<strong>br</strong> />
17<<strong>br</strong> />
13<<strong>br</strong> />
7<<strong>br</strong> />
4<<strong>br</strong> />
1<<strong>br</strong> />
10 15 20 25 30 35 40+<<strong>br</strong> />
Figura 20 Representação gráfica das manifestações psicológicas do <strong>estresse</strong>.<<strong>br</strong> />
Comentário: Observa-se, na figura 20, <strong>de</strong> acordo <strong>com</strong> a escala utilizada e<<strong>br</strong> />
consi<strong>de</strong>rando-se o valor 30 para a mediana, que 22 sujeitos da amostra apresentaram<<strong>br</strong> />
as manifestações psicológicas frente às situações <strong>de</strong> <strong>estresse</strong>. São elas:<<strong>br</strong> />
preocupação, <strong>de</strong>pressão, solidão, sentimento <strong>de</strong> isolamento, in<strong>com</strong>preensão e<<strong>br</strong> />
impotência diante das situações. Este dado é sugestivo <strong>de</strong> que 22,9% dos<<strong>br</strong> />
profissionais <strong>de</strong> enfermagem pesquisados apresentam, também, sinais <strong>de</strong> sofrimento<<strong>br</strong> />
mental, o que permite o levantamento da hipótese <strong>de</strong> que as pressões psicológicas<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>ssa categoria profissional po<strong>de</strong>m estar relacionadas <strong>com</strong> a impotência diante <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
algumas questões que são intrínsecas à profissão: uma hierarquia rígida repleta <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
normas e regulamentos que segundo Lima (2001, p.30) o<strong>br</strong>iga os profissionais a se<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>portarem <strong>de</strong> maneira rotinizada e padronizada; um “enquadramento” que segundo<<strong>br</strong> />
Fab<strong>br</strong>o (1996, p.299), in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da vonta<strong>de</strong> do profissional e das condições em que<<strong>br</strong> />
ele atua; ou também as pressões próprias das relações <strong>com</strong> pacientes e familiares<<strong>br</strong> />
que constantemente colocam esses profissionais em confronto <strong>com</strong> a sua própria<<strong>br</strong> />
morte ou <strong>com</strong> o sofrimento <strong>de</strong> alguma pessoa <strong>de</strong> sua referência (MENZIES, 1969,<<strong>br</strong> />
apud SOBOLL, 2001, p.7).<<strong>br</strong> />
Manifestações Psicofisiológicas para o <strong>estresse</strong><<strong>br</strong> />
Questões consi<strong>de</strong>radas: 5, 11, 17, 23 e 29<<strong>br</strong> />
Valores da escala: Mínimo = 5 Máximo = 25<<strong>br</strong> />
Mediana = 15
96<<strong>br</strong> />
Manifestações psicofisiológicas<<strong>br</strong> />
50<<strong>br</strong> />
40<<strong>br</strong> />
30<<strong>br</strong> />
39<<strong>br</strong> />
33<<strong>br</strong> />
20<<strong>br</strong> />
10<<strong>br</strong> />
0<<strong>br</strong> />
13<<strong>br</strong> />
9<<strong>br</strong> />
2<<strong>br</strong> />
5 10 15 20 25<<strong>br</strong> />
Figura 21 Gráfico das manifestações psicofisiológicas do <strong>estresse</strong><<strong>br</strong> />
Comentário: Consi<strong>de</strong>rando-se o valor 15 <strong>com</strong>o mediana nas manifestações<<strong>br</strong> />
psicofisiológicas, observa-se na figura 21 que são 44 (45,8%) os sujeitos que<<strong>br</strong> />
apresentaram tensão, sensação <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> energia, agitação e outros sinais <strong>de</strong>ssas<<strong>br</strong> />
manifestações. Este dado sugere que esta é uma situação preocupante uma vez que<<strong>br</strong> />
representa a terceira fase do <strong>estresse</strong> consi<strong>de</strong>rada por Selye (1956) <strong>com</strong>o <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
exaustão. Nesta fase, caso o estímulo estressor permaneça potente, o indivíduo po<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> fato adoecer e morrer (FRANÇA e RODRIGUES, 2002). Há ainda a se consi<strong>de</strong>rar<<strong>br</strong> />
que esta fase <strong>de</strong> exaustão, primeiro fator da síndrome <strong>de</strong> burnout po<strong>de</strong> indicar uma<<strong>br</strong> />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se encontrar o quadro sindrômico nesta população.<<strong>br</strong> />
Manifestações <strong>de</strong> Temporalida<strong>de</strong> para o <strong>estresse</strong><<strong>br</strong> />
Questões consi<strong>de</strong>radas: 6, 12, 18, 24 e 30<<strong>br</strong> />
Valores da escala: Mínimo = 5 Máximo = 25<<strong>br</strong> />
Mediana =15<<strong>br</strong> />
Temporalida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
40<<strong>br</strong> />
35 36<<strong>br</strong> />
30<<strong>br</strong> />
20<<strong>br</strong> />
18<<strong>br</strong> />
10<<strong>br</strong> />
0<<strong>br</strong> />
6<<strong>br</strong> />
5 10 15 20 25<<strong>br</strong> />
1<<strong>br</strong> />
Figura 22 Gráfico das manifestações <strong>de</strong> temporalida<strong>de</strong> do <strong>estresse</strong>.
97<<strong>br</strong> />
Comentário: Tendo-se <strong>com</strong>o mediana o valor 15, observa-se na figura 22 que, dos<<strong>br</strong> />
sujeitos pesquisados, 55,9% apresentaram manifestações <strong>de</strong> temporalida<strong>de</strong> frente às<<strong>br</strong> />
situações <strong>de</strong> <strong>estresse</strong>: inquietu<strong>de</strong>, preocupações <strong>de</strong>masiadas quanto ao amanhã,<<strong>br</strong> />
esquecimento e dificulda<strong>de</strong> para organizar-se. Consi<strong>de</strong>rando-se o contexto<<strong>br</strong> />
organizacional que durante a realização <strong>de</strong>sta pesquisa apresentava uma situação<<strong>br</strong> />
que não permitia à Instituição honrar <strong>com</strong> seus <strong>com</strong>promissos financeiros <strong>com</strong> os<<strong>br</strong> />
empregados, permite o levantamento da hipótese <strong>de</strong> que este significativo resultado<<strong>br</strong> />
po<strong>de</strong> estar associado à preocupação <strong>com</strong> a probabilida<strong>de</strong> percebida pelos sujeitos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
per<strong>de</strong>r o trabalho.<<strong>br</strong> />
Na Tabela 3 temos o <strong>de</strong>monstrativo das manifestações percebidas para o <strong>estresse</strong><<strong>br</strong> />
global e para os campos específicos pelos indivíduos da amostra.<<strong>br</strong> />
Tabela 3 Característica da amostra para as manifestações do <strong>estresse</strong>.<<strong>br</strong> />
Global Físicas Psicológicas Psicofisiológicas Temporalida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Média 62,7 18,8 19,2 10,3 11,6<<strong>br</strong> />
Mediana 60,5 18,4 18 10 11,3<<strong>br</strong> />
Moda 85 10 17 5 9<<strong>br</strong> />
Desvio padrão 19,5 6,8 6,8 4,3 4,0<<strong>br</strong> />
Mínimo 30 10 9 5 5<<strong>br</strong> />
Máximo 127 35 42 24 21<<strong>br</strong> />
É importante consi<strong>de</strong>rar a dificulda<strong>de</strong> para a análise dos resultados, pela quase<<strong>br</strong> />
inexistência <strong>de</strong> outros estudos no Brasil, utilizando a mesma escala, que pu<strong>de</strong>ssem<<strong>br</strong> />
ser <strong>com</strong>parados a esse. O trabalho <strong>de</strong> Pizzato (2001) é, até on<strong>de</strong> foi possível verificar,<<strong>br</strong> />
a única referência que permite <strong>com</strong>parações, sendo os seguintes, os resultados para a<<strong>br</strong> />
população em geral, obtidos por essa autora <strong>com</strong> uma amostra <strong>de</strong> 431 indivíduos.<<strong>br</strong> />
Tabela 4 Resultado <strong>de</strong> Pizzato (2001) para as manifestações do <strong>estresse</strong><<strong>br</strong> />
Global Físicas Psicológicas Psicofisiológicas Temporalida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Média 77,3 22,5 26,6 13,6 14,6<<strong>br</strong> />
Nota-se que as médias <strong>de</strong> <strong>estresse</strong> da amostra pesquisada, tanto global quanto nos<<strong>br</strong> />
diversos campos (tabelas 3 e 4 respectivamente), é inferior à média obtida no estudo<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> Pizzato. Como será analisado posteriormente no estudo das escalas <strong>de</strong> coping,<<strong>br</strong> />
isso po<strong>de</strong> ser causado por uma maior utilização <strong>de</strong> <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong>, que<<strong>br</strong> />
dificultariam o <strong>de</strong>senvolvimento do <strong>estresse</strong> <strong>com</strong> suas manifestações nos indivíduos<<strong>br</strong> />
estudados ou ainda a questão particular dos profissionais <strong>de</strong> enfermagem que sentem-
98<<strong>br</strong> />
se constrangidos em expressar sentimentos que colocam em dúvida o <strong>com</strong>portamento<<strong>br</strong> />
exemplar esperado por todos: Instituição, socieda<strong>de</strong>, superiores, pares e pacientes.<<strong>br</strong> />
ENFRENTAMENTO<<strong>br</strong> />
Ainda <strong>com</strong>o objetivo específico <strong>de</strong>ste trabalho, estudou-se as <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfrentamento</strong> (coping) utilizadas pelos sujeitos da amostra. O controle, o apoio social,<<strong>br</strong> />
o isolamento e a recusa foram os campos analisados para conhecer a forma que os<<strong>br</strong> />
indivíduos enfrentam as situações <strong>de</strong> <strong>estresse</strong>. A pontuação consi<strong>de</strong>rada para a<<strong>br</strong> />
escala da <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> (coping), <strong>de</strong> acordo <strong>com</strong> a Escala Tolousaine<<strong>br</strong> />
(ETC), foi <strong>de</strong> pontuação direta nos seus campos específicos. Na coluna Mediana,<<strong>br</strong> />
indica-se o valor consi<strong>de</strong>rado <strong>com</strong>o nível mo<strong>de</strong>rado, partindo-se da variação entre a<<strong>br</strong> />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> menor número <strong>de</strong> pontos e a maior pontuação (Quadro 11).<<strong>br</strong> />
ESCALA ITENS VARIAÇÃO * PD (Máxima)<<strong>br</strong> />
Controle<<strong>br</strong> />
Apoio social<<strong>br</strong> />
Isolamento<<strong>br</strong> />
Recusa<<strong>br</strong> />
1 6 8 9 11 17 19<<strong>br</strong> />
24 26 27 29, 37<<strong>br</strong> />
44 47 53<<strong>br</strong> />
2 4 18 20 22 35<<strong>br</strong> />
36 38 40 54<<strong>br</strong> />
7 12 14 15 23 25<<strong>br</strong> />
28 30 33 34, 39<<strong>br</strong> />
43 45 46<<strong>br</strong> />
3 5 10 13 16 21<<strong>br</strong> />
31 32 41 42 48,<<strong>br</strong> />
49 50 51 52<<strong>br</strong> />
MEDIANA<<strong>br</strong> />
Nível mo<strong>de</strong>rado<<strong>br</strong> />
15 a 75 75 45<<strong>br</strong> />
10 a 50 50 30<<strong>br</strong> />
14 a 70 70 42<<strong>br</strong> />
15 a 75 75 45<<strong>br</strong> />
Quadro 11 Demonstrativo da pontuação para as <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong>.<<strong>br</strong> />
* PD = Pontuação direta<<strong>br</strong> />
Controle<<strong>br</strong> />
Questões consi<strong>de</strong>radas: 1, 6, 8, 9, 11, 17, 19, 24, 26, 27, 29, 37, 44, 47 e 53<<strong>br</strong> />
Valores da escala: Mínimo = 15 Máximo = 75<<strong>br</strong> />
Mediana: 45
99<<strong>br</strong> />
Controle<<strong>br</strong> />
30<<strong>br</strong> />
28<<strong>br</strong> />
20<<strong>br</strong> />
13<<strong>br</strong> />
18 18<<strong>br</strong> />
10<<strong>br</strong> />
0<<strong>br</strong> />
5 5<<strong>br</strong> />
7<<strong>br</strong> />
2<<strong>br</strong> />
= 40 45 50 55 60 65 70 75<<strong>br</strong> />
Figura 23 Gráfico do controle <strong>com</strong>o <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong>.<<strong>br</strong> />
Comentário: Observa-se, na figura 23, que 94 (97,9%) dos sujeitos pesquisados<<strong>br</strong> />
apresentaram o controle <strong>com</strong>o <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> referindo que diante dos<<strong>br</strong> />
problemas rogam a Deus, aceitam o problema, evitam o pânico, tentam <strong>com</strong>preen<strong>de</strong>r<<strong>br</strong> />
a situação ou ainda, buscam outras <strong>estratégia</strong>s para solução do problema. Este dado<<strong>br</strong> />
corrobora <strong>com</strong> Fab<strong>br</strong>o (1996, p. 145) quando afirma que para os profissionais <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
enfermagem: “Des<strong>com</strong>pensar, no sentido <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r o controle da situação, é<<strong>br</strong> />
severamente punido <strong>com</strong> técnicas repressivas que são culturalmente exigidas e<<strong>br</strong> />
padronizadamente utilizadas para lidar <strong>com</strong> o <strong>estresse</strong> emocional”.<<strong>br</strong> />
Apoio Social<<strong>br</strong> />
Questões consi<strong>de</strong>radas: 2, 4, 18, 20, 22, 35, 36, 38, 40 e 54<<strong>br</strong> />
Valores da escala: Mínimo = 10 Máximo = 50<<strong>br</strong> />
Mediana = 30<<strong>br</strong> />
Apoio Social<<strong>br</strong> />
40<<strong>br</strong> />
30<<strong>br</strong> />
20<<strong>br</strong> />
10<<strong>br</strong> />
0<<strong>br</strong> />
30<<strong>br</strong> />
20<<strong>br</strong> />
19<<strong>br</strong> />
11<<strong>br</strong> />
6<<strong>br</strong> />
8<<strong>br</strong> />
2<<strong>br</strong> />
20 25 30 35 40 45 50<<strong>br</strong> />
Figura 24 Gráfico do apoio social <strong>com</strong>o <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong>.
100<<strong>br</strong> />
Comentário: As <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> relacionadas ao apoio social frente às<<strong>br</strong> />
situações <strong>de</strong> <strong>estresse</strong> tais <strong>com</strong>o ajuda <strong>de</strong> profissionais e amigos, cooperação <strong>com</strong> os<<strong>br</strong> />
outros, conselhos e procura <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s coletivas, foram i<strong>de</strong>ntificadas em 88 (91,6%)<<strong>br</strong> />
dos sujeitos da pesquisa (figura 24). Este resultado permite a hipótese <strong>de</strong> uma<<strong>br</strong> />
explicação pautada nos aspectos relacionados à cultura organizacional no hospital<<strong>br</strong> />
pesquisado. As relações interpessoais eram incentivadas a fim <strong>de</strong> manter um clima<<strong>br</strong> />
organizacional harmônico. Uma outra hipótese a consi<strong>de</strong>rar é <strong>de</strong> que esta <strong>estratégia</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> po<strong>de</strong> contribuir para o bem estar psicológico do sujeito, ajudando a<<strong>br</strong> />
lidar <strong>com</strong> as questões <strong>de</strong> vida e morte próprias ao ambiente, além da crise financeira<<strong>br</strong> />
atravessada naquele momento.<<strong>br</strong> />
Isolamento<<strong>br</strong> />
Questões consi<strong>de</strong>radas: 7, 12, 14, 15, 23, 25, 28, 30, 33, 34, 39, 43, 45 e 46<<strong>br</strong> />
Valores da escala: Mínimo = 14 Máximo = 70<<strong>br</strong> />
Mediana= 42<<strong>br</strong> />
Isolamento<<strong>br</strong> />
30<<strong>br</strong> />
20<<strong>br</strong> />
20<<strong>br</strong> />
23<<strong>br</strong> />
25<<strong>br</strong> />
10<<strong>br</strong> />
0<<strong>br</strong> />
11<<strong>br</strong> />
7<<strong>br</strong> />
2 3<<strong>br</strong> />
4<<strong>br</strong> />
1<<strong>br</strong> />
15 20 25 30 35 40 45 50 55<<strong>br</strong> />
Figura 25 Representação do isolamento <strong>com</strong>o <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong>.<<strong>br</strong> />
O isolamento <strong>com</strong>o <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> (figura 25) foi consi<strong>de</strong>rada por 23<<strong>br</strong> />
(23,9%) dos sujeitos que referiram utilizar-se <strong>de</strong>ssa reação frente às situações <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>estresse</strong>: agressivida<strong>de</strong> em relação aos outros, bloqueio diante das dificulda<strong>de</strong>s,<<strong>br</strong> />
ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> lazer para não pensar no problema, fumo excessivo, uso <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
medicamentos e refúgio nos sonhos e fantasias. Esta <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong><<strong>br</strong> />
consi<strong>de</strong>rada <strong>com</strong>o negativa provoca, segundo Pizzato (2001), uma ruptura das<<strong>br</strong> />
ativida<strong>de</strong>s e das interações <strong>com</strong>o o outro. Consi<strong>de</strong>rando-se a importância do<<strong>br</strong> />
relacionamento interpessoal envolvido no processo <strong>de</strong> cuidar este resultado torna-se<<strong>br</strong> />
preocupante também tendo em vista a possibilida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>senvolvimento da
101<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>spersonalização, segunda fase da síndrome <strong>de</strong> burnout que provoca no indivíduo<<strong>br</strong> />
atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> insensibilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>spreocupação <strong>com</strong> as outras pessoas.<<strong>br</strong> />
Recusa<<strong>br</strong> />
Questões consi<strong>de</strong>radas: 3, 5, 10, 13, 16, 21, 31, 32, 41, 42, 48, 49, 50, 51 e 52<<strong>br</strong> />
Valores da escala: Mínimo = 15 Máximo = 75<<strong>br</strong> />
Mediana = 45<<strong>br</strong> />
Recusa<<strong>br</strong> />
30<<strong>br</strong> />
20<<strong>br</strong> />
18<<strong>br</strong> />
21<<strong>br</strong> />
24<<strong>br</strong> />
10<<strong>br</strong> />
3<<strong>br</strong> />
6<<strong>br</strong> />
11 10<<strong>br</strong> />
3<<strong>br</strong> />
0<<strong>br</strong> />
30 35 40 45 50 55 60 65+<<strong>br</strong> />
Figura 26 Representação da recusa <strong>com</strong>o <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong>.<<strong>br</strong> />
Comentário: a figura.26 representa as <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> relacionadas ao<<strong>br</strong> />
campo recusa, que foram i<strong>de</strong>ntificadas em 69 (71,8%) dos sujeitos da amostra<<strong>br</strong> />
estudada que são: não pensar no problema, ignorar as situações, distração <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
outras ativida<strong>de</strong>s, instabilida<strong>de</strong> das emoções <strong>de</strong>ntre outros. O alto índice da recusa<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>o <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> nesta pesquisa permite a hipótese <strong>de</strong> que a<<strong>br</strong> />
conseqüência da exposição <strong>de</strong>ssa categoria profissional às situações nem sempre<<strong>br</strong> />
fáceis <strong>de</strong> lidar (TAMAYO, 1997), tais <strong>com</strong>o a dor, a morte e o sofrimento, por exemplo,<<strong>br</strong> />
que são vividas no cotidiano do hospital traz sofrimento para o trabalhador <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
enfermagem que se utiliza <strong>de</strong>ssa <strong>estratégia</strong> <strong>com</strong>o forma <strong>de</strong> negar a realida<strong>de</strong> do seu<<strong>br</strong> />
trabalho às vezes insuportável.<<strong>br</strong> />
As características gerais da amostra para as <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> para a<<strong>br</strong> />
amostra estudada estão apresentadas na Tabela 6.
102<<strong>br</strong> />
Utilizando-se, para fins <strong>de</strong> <strong>com</strong>paração, do trabalho <strong>de</strong> Pizzato (2001) temos os<<strong>br</strong> />
resultados representados na Tabela 5 para a população pesquisada, obtidos <strong>com</strong> uma<<strong>br</strong> />
amostra <strong>de</strong> 431 indivíduos nos campos específicos.<<strong>br</strong> />
Tabela 5 Resultados da pesquisa <strong>de</strong> Pizzato (2001)<<strong>br</strong> />
Controle Apoio Social Isolamento Recusa<<strong>br</strong> />
Média 62,9 37,5 31,4 39,2<<strong>br</strong> />
Tabela 6 Demonstrativo das características da amostra para as <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfrentamento</strong><<strong>br</strong> />
Controle Apoio Social Isolamento Recusa<<strong>br</strong> />
Média 61,6 36,1 31,0 45,5<<strong>br</strong> />
Mediana 63,2 36,4 30,5 45,2<<strong>br</strong> />
Moda 75,0 40,0 27,0 48,0<<strong>br</strong> />
Desvio padrão 9,7 6,9 7,9 8,3<<strong>br</strong> />
Mínimo 26,0 18,0 14,0 27,0<<strong>br</strong> />
Máximo 75,0 50,0 54,0 68,0<<strong>br</strong> />
Como se po<strong>de</strong> notar, os níveis <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> são equivalentes nos dois estudos<<strong>br</strong> />
(Tabelas 5 e 6), exceto no que diz respeito à <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> recusa, que apresenta, para<<strong>br</strong> />
a amostra estudada, níveis médios bem mais elevados que a média geral da<<strong>br</strong> />
população referida por Pizzato (2001). Com essa característica po<strong>de</strong>-se explicar, ao<<strong>br</strong> />
menos parcialmente, os níveis mais baixos <strong>de</strong> <strong>estresse</strong> encontrados nos profissionais<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> enfermagem estudados.<<strong>br</strong> />
BURNOUT<<strong>br</strong> />
Como objetivo específico <strong>de</strong>sta pesquisa, estudou-se também a síndrome <strong>de</strong> burnout.<<strong>br</strong> />
Para apreen<strong>de</strong>r a condição dos indivíduos estudados, utilizou-se o instrumento MBI,<<strong>br</strong> />
interpretado pela escala padronizada pelo Núcleo <strong>de</strong> Estudos Avançados <strong>de</strong> Burnout<<strong>br</strong> />
no Brasil.<<strong>br</strong> />
Fazendo-se a soma das pontuações diretas encontradas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> cada sub-escala<<strong>br</strong> />
observou-se: N= 21 S s (21,9%) apresentaram o elemento (fator) Exaustão Emocional<<strong>br</strong> />
alto (EE > 25); N= 52 S s (54,2%) indicaram níveis mo<strong>de</strong>rados <strong>de</strong> exaustão emocional
103<<strong>br</strong> />
(EE entre 16 e 25) e 23 S s (23,9%) apresentaram nível baixo para este fator (Figura<<strong>br</strong> />
27).<<strong>br</strong> />
No elemento (fator) Despersonalização, N= 45 S s (44,8%) apresentaram níveis altos<<strong>br</strong> />
(D > 8) e N= 51 S s (53,1%) apresentaram níveis mo<strong>de</strong>rados (D entre 3 e 8) e nenhum<<strong>br</strong> />
indivíduo apresentou nível baixo para a <strong>de</strong>spersonalização (Figura 28).<<strong>br</strong> />
No elemento (fator) Realização Pessoal (RP entre 34 a 42), N= 13 S s (13,5%)<<strong>br</strong> />
apresentaram baixos níveis <strong>de</strong> realização pessoal <strong>com</strong> o trabalho (RP < 34); N= 83<<strong>br</strong> />
S s (86,5%) apresentaram mo<strong>de</strong>rado sentimento <strong>de</strong> realização pessoal <strong>com</strong> o trabalho e<<strong>br</strong> />
nenhum mem<strong>br</strong>o daquela equipe <strong>de</strong> enfermagem apresentou alto nível no fator<<strong>br</strong> />
realização pessoal, sendo representado na Figura 27.<<strong>br</strong> />
Desgaste Emocional<<strong>br</strong> />
Questões consi<strong>de</strong>radas: 1, 2, 3, 6, 8, 13, 14, 16 e 20<<strong>br</strong> />
Desgaste Emocional<<strong>br</strong> />
25<<strong>br</strong> />
20<<strong>br</strong> />
15<<strong>br</strong> />
10<<strong>br</strong> />
5<<strong>br</strong> />
0<<strong>br</strong> />
20<<strong>br</strong> />
16 16<<strong>br</strong> />
12<<strong>br</strong> />
10<<strong>br</strong> />
8<<strong>br</strong> />
4 4<<strong>br</strong> />
3<<strong>br</strong> />
1<<strong>br</strong> />
0<<strong>br</strong> />
1 1<<strong>br</strong> />
9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45<<strong>br</strong> />
Figura 27 Representação gráfica dos níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>sgaste emocional (1ª fase)<<strong>br</strong> />
Desgaste emocional ou EE = 16 a 25 Média Brasileira (NEPASB)<<strong>br</strong> />
EE ↓ (25) = 21<<strong>br</strong> />
Comentário: Percebe-se na leitura dos resultados (figura 27) <strong>com</strong>o indicadores que<<strong>br</strong> />
(76,1%) dos sujeitos do grupo <strong>de</strong> enfermagem estudado requerem cuidados quanto à<<strong>br</strong> />
exaustão emocional, ou porque já estão prejudicados N= 21 S s (21,9%) ou porque<<strong>br</strong> />
estão a caminho da exaustão N= 52 S s (54,2%). O <strong>de</strong>sgaste emocional representa o<<strong>br</strong> />
traço fundamental da síndrome <strong>de</strong> burnout sendo que sua característica principal é a<<strong>br</strong> />
percepção <strong>de</strong> uma so<strong>br</strong>ecarga <strong>de</strong> trabalho tanto qualitativa quanto quantitativa. O
104<<strong>br</strong> />
indivíduo sente que estão exigindo <strong>de</strong>mais <strong>de</strong>le, que seus recursos emocionais não<<strong>br</strong> />
são suficientes e que sua capacida<strong>de</strong> e vigor para o trabalho estão reduzidos.<<strong>br</strong> />
Despersonalização<<strong>br</strong> />
Questões consi<strong>de</strong>radas: 5, 10, 11, 15 e 22<<strong>br</strong> />
Comentário: No fator <strong>de</strong>spersonalização, representado na figura 28, resultado das<<strong>br</strong> />
questões próprias <strong>com</strong>o indicadores, o total dos sujeitos (100%) requerem cuidados ou<<strong>br</strong> />
porque claramente apresentam esta condição N= 45 S s (46,9%) ou porque já<<strong>br</strong> />
apresentam indícios <strong>de</strong>ste elemento N= 51 S s (53,1%). A <strong>de</strong>spersonalização, Segunda<<strong>br</strong> />
fase da síndrome <strong>de</strong> burnout indica que o indivíduo já não tem mais interesse e<<strong>br</strong> />
responsabilida<strong>de</strong> pela função que <strong>de</strong>sempenha. Uma pessoa <strong>com</strong> alto índice <strong>de</strong>ste<<strong>br</strong> />
elemento não mais se importa <strong>com</strong> o outro. Acontece a “coisificação” das relações<<strong>br</strong> />
pessoais no trabalho (CODO, 1999).<<strong>br</strong> />
20<<strong>br</strong> />
17<<strong>br</strong> />
Despersonalização<<strong>br</strong> />
15<<strong>br</strong> />
14<<strong>br</strong> />
14<<strong>br</strong> />
11<<strong>br</strong> />
11<<strong>br</strong> />
10<<strong>br</strong> />
9<<strong>br</strong> />
5<<strong>br</strong> />
6<<strong>br</strong> />
5<<strong>br</strong> />
2<<strong>br</strong> />
4<<strong>br</strong> />
1 1 1<<strong>br</strong> />
0<<strong>br</strong> />
5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17<<strong>br</strong> />
Figura 28 Representação gráfica dos níveis para a <strong>de</strong>spersonalização (2ª. fase)<<strong>br</strong> />
Despersonalização D = 3 a 8 Média Brasileira (NEPASB)<<strong>br</strong> />
D ↓ (8) = 45<<strong>br</strong> />
Realização Pessoal<<strong>br</strong> />
Questões consi<strong>de</strong>radas: 4, 7, 9, 12, 17, 18, 19 e 21<<strong>br</strong> />
Nota: no caso da dimensão Realização Pessoal, níveis altos são positivos, pois<<strong>br</strong> />
indicam realização alta. Dessa forma, <strong>de</strong>ve-se enten<strong>de</strong>r a escala no sentido inverso<<strong>br</strong> />
das anteriores, ou seja, níveis <strong>de</strong> realização baixos indicam sentimentos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
in<strong>com</strong>petência.
105<<strong>br</strong> />
Realização<<strong>br</strong> />
30<<strong>br</strong> />
28<<strong>br</strong> />
25<<strong>br</strong> />
20<<strong>br</strong> />
19<<strong>br</strong> />
18<<strong>br</strong> />
18<<strong>br</strong> />
15<<strong>br</strong> />
10<<strong>br</strong> />
5<<strong>br</strong> />
0<<strong>br</strong> />
2<<strong>br</strong> />
3<<strong>br</strong> />
4<<strong>br</strong> />
1 2 1<<strong>br</strong> />
= 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40<<strong>br</strong> />
Figura 29 Representação gráfica dos níveis para a in<strong>com</strong>petência.<<strong>br</strong> />
Realização Pessoal ou In<strong>com</strong>petência RP =34 a 42 Média Brasileira<<strong>br</strong> />
(NEPASB)<<strong>br</strong> />
RP ↓ (42) = 0<<strong>br</strong> />
Comentário: Quanto ao fator Realização Pessoal, resultado das questões específicas<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>o indicadores do instrumento aplicado (figura 29), nenhum dos indivíduos (0%)<<strong>br</strong> />
pesquisados mostraram indícios <strong>de</strong> estarem altamente realizados no trabalho. São<<strong>br</strong> />
(86,5%) dos sujeitos N= 83 que não se sentem totalmente realizados e N= 13 S s<<strong>br</strong> />
(13,5%) os que se encontram <strong>com</strong> baixa realização pessoal, <strong>com</strong> envolvimento <strong>com</strong> o<<strong>br</strong> />
trabalho diminuído ou ainda <strong>com</strong> o sentimento <strong>de</strong> in<strong>com</strong>petência <strong>de</strong>signados assim por<<strong>br</strong> />
Tamayo (1997), Codo (1999) e Lautert (1997) respectivamente.<<strong>br</strong> />
A Tabela 7 representa o resumo dos resultados dos fatores que caracterizam a<<strong>br</strong> />
síndrome <strong>de</strong> burnout nos 96 Ss (Nt ) no MBI.<<strong>br</strong> />
Tabela 7 Demonstrativo dos valores atingidos nas sub-escalas da SB<<strong>br</strong> />
NÍVEL<<strong>br</strong> />
*EE<<strong>br</strong> />
** D<<strong>br</strong> />
*** RP<<strong>br</strong> />
Exaustão Emocional Despersonalização Realização Pessoal<<strong>br</strong> />
Alto N= 21 21,9% N= 45 46,9% N= 0 0%<<strong>br</strong> />
Mo<strong>de</strong>rado N= 52 54,2% N= 51 53,1% N= 83 86,5%<<strong>br</strong> />
Baixo N= 23 23,9% N= 0 0% N= 13 13,5%<<strong>br</strong> />
* EE ⇒ baixo < 16; médio = 16 a 25 e alto > 25<<strong>br</strong> />
** D ⇒ baixo < 3; médio = 3 a 8 e alto > 8<<strong>br</strong> />
*** RP ⇒ baixo < 34; médio = 34 a 42 e alto > 42
106<<strong>br</strong> />
A classificação da Síndrome <strong>de</strong> Burnout segue o critério indicado a seguir, no Quadro<<strong>br</strong> />
12. Como se po<strong>de</strong> notar, os níveis Alto, Mo<strong>de</strong>rado ou Baixo <strong>de</strong> Síndrome <strong>de</strong> Burnout<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> uma <strong>com</strong>posição simultânea das três sub-escalas.<<strong>br</strong> />
NÍVEL<<strong>br</strong> />
SUB ESCALAS<<strong>br</strong> />
Alto D ↑ > 8 EE ↑ > 25 RP ↓ < 34<<strong>br</strong> />
Mo<strong>de</strong>rado D = 3 a 8 EE = 16 a 25 RP = 34 a 42<<strong>br</strong> />
Baixo D ↓ < 3 EE ↓ < 16 RP ↑ > 34<<strong>br</strong> />
Quadro 12 Classificação nas sub-escalas para a síndrome <strong>de</strong> burnout<<strong>br</strong> />
Dessa forma, os indivíduos são classificados <strong>com</strong>o portadores da síndrome <strong>de</strong> burnout<<strong>br</strong> />
nos níveis:<<strong>br</strong> />
Alto – se a <strong>de</strong>spersonalização é alta, o <strong>de</strong>sgaste emocional é alto e a realização é<<strong>br</strong> />
baixa.<<strong>br</strong> />
Mo<strong>de</strong>rado – se os resultados nas três dimensões é mo<strong>de</strong>rado;<<strong>br</strong> />
Baixo – se a <strong>de</strong>spersonalização é baixa, o <strong>de</strong>sgaste emocional é baixo e a<<strong>br</strong> />
realização é alta.<<strong>br</strong> />
Usando-se essa classificação po<strong>de</strong>-se <strong>com</strong>por o quadro sindrômico <strong>de</strong> burnout<<strong>br</strong> />
representado na Tabela 8. Esse Quadro foi interpretado consi<strong>de</strong>rando-se a Realização<<strong>br</strong> />
Pessoal em direção contrária da Exaustão Emocional e a Despersonalização (RP ↓<<strong>br</strong> />
EE↑ D ↑) e os indicadores da média <strong>br</strong>asileira (<strong>com</strong> EE >25; D > 8 e RP < 34). Assim,<<strong>br</strong> />
i<strong>de</strong>ntifica-se um quadro sindrômico em nível elevado/alto em N= 13 S s (13,5%) e um<<strong>br</strong> />
nível mo<strong>de</strong>rado da síndrome em N= 51 S s (53,1%).<<strong>br</strong> />
Tabela 8 Representação dos níveis obtidos para a sindrome <strong>de</strong> burnout<<strong>br</strong> />
Nível alto<<strong>br</strong> />
EE↑; D ↑; RP ↓<<strong>br</strong> />
EE alto<<strong>br</strong> />
N= 21 S s 21,9%<<strong>br</strong> />
D alto<<strong>br</strong> />
N= 52 S s 54,2%<<strong>br</strong> />
Valores obtidos nas sub-escalas<<strong>br</strong> />
Nível mo<strong>de</strong>rado<<strong>br</strong> />
EE; D; RP (médios)<<strong>br</strong> />
EE médio<<strong>br</strong> />
N= 52 S s 54,2%<<strong>br</strong> />
D médio<<strong>br</strong> />
N= 51 S s 53,1%<<strong>br</strong> />
Nível baixo<<strong>br</strong> />
EE↓; D ↓; RP ↑<<strong>br</strong> />
EE baixo<<strong>br</strong> />
N= 23 S s 23,9%<<strong>br</strong> />
D baixo 0%<<strong>br</strong> />
N= 0<<strong>br</strong> />
RP baixo<<strong>br</strong> />
RP médio<<strong>br</strong> />
RP alto 0%<<strong>br</strong> />
N= 13 S s 13,5%<<strong>br</strong> />
83 S s 86,5% N= 0<<strong>br</strong> />
Síndrome <strong>de</strong> burnout em nível alto Síndrome <strong>de</strong> burnout em<<strong>br</strong> />
nível mo<strong>de</strong>rado<<strong>br</strong> />
Síndrome <strong>de</strong> burnout em nível<<strong>br</strong> />
baixo<<strong>br</strong> />
N= 13 S s (13,5%) N= 51 S s (53,1%) Não i<strong>de</strong>ntificado.<<strong>br</strong> />
A caracterização clássica da síndrome <strong>de</strong> burnout, consiste em classificar os<<strong>br</strong> />
indivíduos em três categorias segundo os resultados obtidos em cada uma das
107<<strong>br</strong> />
dimensões das sub-escalas (<strong>de</strong>spersonalização – D; Exaustão Emocional; EE e<<strong>br</strong> />
realização Pessoal RP).<<strong>br</strong> />
Essa classificação, mostrada no Quadro 12, tem a vantagem <strong>de</strong> indicar imediatamente<<strong>br</strong> />
estados extremos (alto ou baixo) da síndrome <strong>de</strong> burnout, mas <strong>de</strong>ixa um conjunto<<strong>br</strong> />
muito gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> indivíduos sem classificação. Por exemplo, um indivíduo <strong>com</strong> D↑,<<strong>br</strong> />
EE↑ e RP= não tem, em princípio, posição <strong>de</strong>finida na escala padronizada.<<strong>br</strong> />
Propõe-se aqui um pequeno refinamento da escala, <strong>de</strong> forma que alguns itens sejam<<strong>br</strong> />
intermediários. Essa condição não co<strong>br</strong>e todas as alternativas possíveis, mas permite<<strong>br</strong> />
classificar um número maior <strong>de</strong> indivíduos, posicionando-os em relação aos extremos<<strong>br</strong> />
da escala.<<strong>br</strong> />
Assim, além da classificação original, acrescenta-se os seguintes itens para a<<strong>br</strong> />
i<strong>de</strong>ntificação da síndrome <strong>de</strong> burnout:<<strong>br</strong> />
Alto– (alto “menos”): idêntico ao nível alto, mas <strong>com</strong> uma das dimensões das subescalas<<strong>br</strong> />
em nível mo<strong>de</strong>rado. Seria representado por uma das condições mostradas no<<strong>br</strong> />
Quadro 13.<<strong>br</strong> />
NÍVEL SUB-ESCALAS<<strong>br</strong> />
PROPOSTA<<strong>br</strong> />
Alto<<strong>br</strong> />
(menos)<<strong>br</strong> />
Alto D ↑ > 8 EE ↑ > 25 RP ↓ < 34 D ↑ EE ↑ RP = ou<<strong>br</strong> />
Mo<strong>de</strong>rado D = 3 a 8 EE = 16 a 25 RP = 34 a 42 D ↑ EE = RP ↓ ou<<strong>br</strong> />
Baixo D ↓ < 3 EE ↓ < 16 RP ↑ > 34 D = EE ↑ RP ↓<<strong>br</strong> />
Quadro 13 Comparativo para refinamento da escala da SB<<strong>br</strong> />
Mo<strong>de</strong>rado+ (mo<strong>de</strong>rado “mais”): idêntico ao nível mo<strong>de</strong>rado, mas <strong>com</strong> uma das<<strong>br</strong> />
dimensões das sub-escalas ten<strong>de</strong>ndo a um nível mais alto para a classificação da<<strong>br</strong> />
síndrome <strong>de</strong> burnout. Seria representado por uma das condições do Quadro 14.
108<<strong>br</strong> />
NÍVEL SUB-ESCALAS<<strong>br</strong> />
PROPOSTA<<strong>br</strong> />
Mo<strong>de</strong>rado<<strong>br</strong> />
(mais)<<strong>br</strong> />
Alto D ↑ > 8 EE ↑ > 25 RP ↓ < 34 D ↑ EE = RP = ou<<strong>br</strong> />
Mo<strong>de</strong>rado D = 3 a 8 EE = 16 a 25 RP = 34 a 42 D = EE ↑ RP = ou<<strong>br</strong> />
Baixo D ↓ < 3 EE ↓ < 16 RP ↑ > 34 D = EE = RP ↓<<strong>br</strong> />
Quadro 14 Comparativo para refinamento da escala para i<strong>de</strong>ntificação da SB<<strong>br</strong> />
Mo<strong>de</strong>rado– (mo<strong>de</strong>rado “menos”): idêntico ao nível mo<strong>de</strong>rado, mas <strong>com</strong> uma das<<strong>br</strong> />
dimensões das sub-escalas ten<strong>de</strong>ndo a um valor menor para a classificação da<<strong>br</strong> />
síndrome <strong>de</strong> burnout. Seria representado por uma das condições mostradas no<<strong>br</strong> />
Quadro 15.<<strong>br</strong> />
NÍVEL SUB-ESCALAS<<strong>br</strong> />
PROPOSTA<<strong>br</strong> />
Mo<strong>de</strong>rado<<strong>br</strong> />
(menos)<<strong>br</strong> />
Alto D ↑ > 8 EE ↑ > 25 RP ↓ < 34 D ↓ EE = RP = ou<<strong>br</strong> />
Mo<strong>de</strong>rado D = 3 a 8 EE = 16 a 25 RP = 34 a 42 D = EE ↓ RP = ou<<strong>br</strong> />
Baixo D ↓ < 3 EE ↓ < 16 RP ↑ > 34 D = EE = RP ↑<<strong>br</strong> />
Quadro 15 Comparativo para refinamento da escala para i<strong>de</strong>ntificação da SB<<strong>br</strong> />
Embora não exista um estudo empírico que permita validar esta classificação, ela<<strong>br</strong> />
parece <strong>de</strong>rivar naturalmente da escala anterior o que permite, pelo menos, a<<strong>br</strong> />
classificação quantitativa <strong>de</strong> um número maior <strong>de</strong> indivíduos, apresentando um<<strong>br</strong> />
panorama mais amplo da amostra.<<strong>br</strong> />
6.4 Relação <strong>com</strong> variáveis sócio-<strong>de</strong>mográficas<<strong>br</strong> />
Síndrome <strong>de</strong> Burnout<<strong>br</strong> />
No que diz respeito ao burnout, observa-se que não há correlação significativa entre<<strong>br</strong> />
as diversas dimensões do quadro sindrômico e as variáveis socio-<strong>de</strong>mográficas: sexo,<<strong>br</strong> />
ida<strong>de</strong> e estado civil.<<strong>br</strong> />
Quanto à correlação da exaustão emocional, primeira fase da síndrome <strong>de</strong> burnout<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> nível <strong>de</strong> instrução dos indivíduos, percebe-se na Tabela 9 ser significante. De<<strong>br</strong> />
fato, consi<strong>de</strong>rando-se as categorias <strong>de</strong> nível <strong>de</strong> instrução Segundo Grau, Superior e<<strong>br</strong> />
Pós-Graduação, observa-se que o <strong>de</strong>sgaste emocional é significativamente maior (p
109<<strong>br</strong> />
0,01) nos indivíduos <strong>com</strong> Pós-Graduação, colocando esse grupo <strong>com</strong> uma média <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
exaustão emocional nos níveis altos da população em geral.<<strong>br</strong> />
Tabela 9 Relação da exaustão emocional <strong>com</strong> grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />
Grupo<<strong>br</strong> />
Média<<strong>br</strong> />
2º.Grau 19<<strong>br</strong> />
Superior 20<<strong>br</strong> />
Pós Graduação 26<<strong>br</strong> />
Percebe-se também, que existe uma correlação significativa na sub-escala <strong>de</strong>sgaste<<strong>br</strong> />
emocional e categoria profissional dos indivíduos. Consi<strong>de</strong>rando-se as categorias<<strong>br</strong> />
Auxiliar <strong>de</strong> Enfermagem, Técnico(a) <strong>de</strong> Enfermagem e Enfermeiro(a), nota-se que a<<strong>br</strong> />
exaustão emocional é significativamente maior (p < 0,01) entre as enfermeiras, <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />
mostram os resultados da Tabela 10. Este dado confirma os achados <strong>de</strong> Martschinke<<strong>br</strong> />
(1996) e Helps (1997) que <strong>de</strong>screvem, em especial os enfermeiros, nas suas<<strong>br</strong> />
investigações so<strong>br</strong>e saú<strong>de</strong> mental dos profissionais da área da saú<strong>de</strong> <strong>com</strong>o profissão<<strong>br</strong> />
estressante, em <strong>de</strong>corrência da intensa carga emocional da relação <strong>com</strong> pacientes,<<strong>br</strong> />
exigências físicas, equipe escassa e turnos prolongados que <strong>de</strong>mandam sofrimento<<strong>br</strong> />
(apud ARAUJO, 2001, p.98).<<strong>br</strong> />
Tabela 10 Relação do <strong>de</strong>sgaste emocional <strong>com</strong> categoria profissional<<strong>br</strong> />
Grupo<<strong>br</strong> />
Média<<strong>br</strong> />
Aux. Enfermagem 19<<strong>br</strong> />
Téc. Enfermagem 18<<strong>br</strong> />
Enfermeira 25<<strong>br</strong> />
Esses resultados colocam o grupo Enfermeira <strong>com</strong> uma média <strong>de</strong> <strong>de</strong>sgaste emocional<<strong>br</strong> />
no limite superior do nível mo<strong>de</strong>rado da população em geral.<<strong>br</strong> />
Estresse<<strong>br</strong> />
As variáveis sócio-<strong>de</strong>mográficas sexo e ida<strong>de</strong> não apresentam correlação significativa<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> o <strong>estresse</strong> global e suas manifestações físicas, psicológicas psicofisiológicas e <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
temporalida<strong>de</strong>. Entretanto, <strong>com</strong> relação ao estado civil (tabela 11), há uma diferença<<strong>br</strong> />
significativa entre as categorias solteiro e casado para as manifestações psicológicas<<strong>br</strong> />
do <strong>estresse</strong>. Para as <strong>de</strong>mais manifestações, não foi possível notar nenhuma diferença<<strong>br</strong> />
significativa no que diz respeito à variável estado civil.<<strong>br</strong> />
Tabela 11 Relação do <strong>estresse</strong> psicológico <strong>com</strong> estado civil.<<strong>br</strong> />
casado<<strong>br</strong> />
Solteiro<<strong>br</strong> />
Média 17 20
110<<strong>br</strong> />
A diferença entre médias, utilizando-se o teste t-Stu<strong>de</strong>nt, mostra que os solteiros<<strong>br</strong> />
apresentam, em média, um nível <strong>de</strong> <strong>estresse</strong> psicológico mais elevado que os<<strong>br</strong> />
casados, para a população estudada. Este resultado permite levantar a hipótese <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
que falta apoio social para as pessoas solteiras que têm maior dificulda<strong>de</strong> em dividir<<strong>br</strong> />
suas ansieda<strong>de</strong>s e preocupações.<<strong>br</strong> />
As <strong>de</strong>mais variáveis sócio-<strong>de</strong>mográficas (grau <strong>de</strong> instrução, categoria profissional,<<strong>br</strong> />
tempo <strong>de</strong> profissão ou tempo <strong>de</strong> serviço) não apresentam correlação <strong>com</strong> o <strong>estresse</strong> e<<strong>br</strong> />
suas manifestações.<<strong>br</strong> />
Enfrentamento<<strong>br</strong> />
No que diz respeito às <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> (coping), não há correlação<<strong>br</strong> />
significativa entre as diversas dimensões do fenômeno e as variáveis sócio<strong>de</strong>mográficas<<strong>br</strong> />
sexo, ida<strong>de</strong>, estado civil, grau <strong>de</strong> instrução, tempo <strong>de</strong> profissão e tempo<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> serviço.<<strong>br</strong> />
No que diz respeito à variável categoria profissional, encontra-se uma diferença<<strong>br</strong> />
significativa (p < 0,05) entre as médias do grupo Auxiliar <strong>de</strong> Enfermagem e os <strong>de</strong>mais,<<strong>br</strong> />
para a <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> recusa. Para essa <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong><<strong>br</strong> />
obteve-se:<<strong>br</strong> />
Tabela 12 Relação entre categoria profissional e recusa<<strong>br</strong> />
Auxiliar <strong>de</strong> enfermagem Técnico <strong>de</strong> Enf Enfermeiras<<strong>br</strong> />
média 47,6 41,6 44,4<<strong>br</strong> />
Observa-se na Tabela 12 que, para as três categorias profissionais, a média<<strong>br</strong> />
encontrada nesta pesquisa é superior àquela da população em geral, obtida no<<strong>br</strong> />
trabalho <strong>de</strong> Pizatto (2001) para a recusa, que indica 39,2 (Tabela 5). Este resultado<<strong>br</strong> />
po<strong>de</strong> ser explicado <strong>com</strong>o uma forma que, segundo Soboll (2001, p.7) o profissional <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
enfermagem encontra para escapar da ansieda<strong>de</strong> causada pelo conflito entre o seu<<strong>br</strong> />
próprio sofrer e o do outro. Profissionais <strong>de</strong> enfermagem verbalizam que não po<strong>de</strong>riam<<strong>br</strong> />
trabalhar se todo o tempo ficassem pensando na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um filho ou eles<<strong>br</strong> />
mesmos ficarem doentes, sofrerem e/ou morrerem <strong>com</strong>o muitos pacientes que vêem.<<strong>br</strong> />
(PENSON et al., 2000 apud SOBOLL, 2001, p.7). É assim, recusando-se a aceitar a<<strong>br</strong> />
realida<strong>de</strong> sofrida do seu trabalho cotidiano, que o trabalhador da enfermagem<<strong>br</strong> />
consegue <strong>de</strong>sempenhar sua difícil tarefa <strong>de</strong> ser cuidador.
111<<strong>br</strong> />
6.5 Correlação entre burnout, <strong>estresse</strong> e <strong>enfrentamento</strong><<strong>br</strong> />
Relações entre Estresse e Enfrentamento<<strong>br</strong> />
As correlações entre <strong>estresse</strong> e <strong>enfrentamento</strong> estão indicadas na Tabela 13 mostrada<<strong>br</strong> />
a seguir.<<strong>br</strong> />
Nota-se que há uma correlação significativa entre todas as dimensões do <strong>estresse</strong> e a<<strong>br</strong> />
<strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> isolamento. Isso indica que indivíduos que são submetidos a níveis<<strong>br</strong> />
extremos <strong>de</strong> <strong>estresse</strong> (qualquer que seja sua natureza: físico, psicológico,<<strong>br</strong> />
psicofisiológico ou <strong>de</strong> temporalida<strong>de</strong>) ten<strong>de</strong>m a apresentar também fortes níveis <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
isolamento <strong>com</strong>o <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong>. Para as <strong>de</strong>mais manifestações as<<strong>br</strong> />
correlações não são significativas (p > 0,05). Um estudo <strong>com</strong> uma amostra maior seria<<strong>br</strong> />
necessário para obter-se conclusões mais confiáveis.<<strong>br</strong> />
Tabela 13 Correlação entre <strong>estresse</strong> e <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> (* p < 0,01)<<strong>br</strong> />
Estresse total físico psico psicofisio temporal<<strong>br</strong> />
Controle -0,18 -0,17 -0,18 -0,15 -0,11<<strong>br</strong> />
Apoio 0,06 0,04 0,02 0,06 0,11<<strong>br</strong> />
Isolamento 0,53 * 0,42 * 0,44 * 0,44 * 0,55 *<<strong>br</strong> />
Recusa 0,17 0,16 0,15 0,08 0,19<<strong>br</strong> />
Relações entre Estresse e Burnout<<strong>br</strong> />
Nas correlações entre <strong>estresse</strong> e burnout que estão indicadas na Tabela 14, nota-se<<strong>br</strong> />
que ela é significativa entre todas as dimensões do <strong>estresse</strong> e o fator exaustão<<strong>br</strong> />
emocional do burnout. Isso indica que indivíduos que são submetidos a níveis<<strong>br</strong> />
extremos <strong>de</strong> <strong>estresse</strong> (qualquer que seja sua natureza: físico, psicológico,<<strong>br</strong> />
psicofisiológico ou <strong>de</strong> temporalida<strong>de</strong>) ten<strong>de</strong>m a apresentar também fortes níveis <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sgaste emocional. O mesmo é válido para a correlação entre <strong>de</strong>spersonalização<<strong>br</strong> />
(para burnout) e temporalida<strong>de</strong> (para <strong>estresse</strong>). A correlação é significativa, embora<<strong>br</strong> />
em níveis baixos (0,25). Para as <strong>de</strong>mais dimensões as correlações encontradas não<<strong>br</strong> />
são significativas (p> 0,05). Um estudo <strong>com</strong> uma amostra maior seria necessário para<<strong>br</strong> />
obter-se conclusões mais confiáveis.
112<<strong>br</strong> />
Tabela 14 Correlação entre <strong>estresse</strong> e síndrome <strong>de</strong> burnout<<strong>br</strong> />
(* p< 0,01)<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sperson <strong>de</strong>sgaste Realização<<strong>br</strong> />
Estresse total 0,19 0,48 * -0,07<<strong>br</strong> />
Manifestações físicas 0,16 0,34 * -0,04<<strong>br</strong> />
Psicológicas 0,15 0,51 * -0,07<<strong>br</strong> />
Psicofisiológicas 0,14 0,40 * -0,12<<strong>br</strong> />
Temporalida<strong>de</strong> 0,25 * 0,41 * -0,10<<strong>br</strong> />
Relações entre Enfrentamento e Burnout<<strong>br</strong> />
As correlações entre <strong>enfrentamento</strong> e burnout estão indicadas na Tabela 15.<<strong>br</strong> />
Observa-se na figura 15, que a correlação entre a <strong>de</strong>spersonalização, terceira fase da<<strong>br</strong> />
síndrome <strong>de</strong> burnout e a <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> isolamento <strong>com</strong>o forma <strong>de</strong> enfrentar o <strong>estresse</strong><<strong>br</strong> />
é significativa. Isso indica que indivíduos que apresentam a <strong>de</strong>spersonalização ten<strong>de</strong>m<<strong>br</strong> />
a utilizar o isolamento, <strong>com</strong>o <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong>. O mesmo é válido para a<<strong>br</strong> />
correlação entre <strong>de</strong>sgaste emocional (para a síndrome <strong>de</strong> burnout) e as <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfrentamento</strong> isolamento e recusa que também apresentam uma correlação<<strong>br</strong> />
significativa embora, para o caso <strong>de</strong> recusa, em nível baixo (0,24). Finalmente, há<<strong>br</strong> />
correlação significativa entre realização pessoal <strong>com</strong> o trabalho (para a síndrome <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
burnout) e controle <strong>com</strong>o <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong>. Nota-se, nesse caso, que a<<strong>br</strong> />
correlação é positiva (0,41). Assim, valores altos <strong>de</strong> realização pessoal são<<strong>br</strong> />
correlacionados a valores altos <strong>de</strong> controle. Isso significa que indivíduos <strong>com</strong> alto nível<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> realização pessoal <strong>com</strong> o trabalho, apresentam altos níveis <strong>de</strong> controle, <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />
<strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong>. Para as <strong>de</strong>mais dimensões as correlações não são<<strong>br</strong> />
significativas (p > 0,05). Um estudo <strong>com</strong> uma amostra maior seria necessário para<<strong>br</strong> />
obter-se conclusões mais confiáveis.<<strong>br</strong> />
Tabela 15 Correlação entre <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> e burnout<<strong>br</strong> />
(* p < 0,01; ** p < 0,05)<<strong>br</strong> />
Despersonalização Desgaste emocional Realização Pessoal<<strong>br</strong> />
Controle -0,17 -0,02 0,41*<<strong>br</strong> />
Apoio -0,09 0,09 0,16<<strong>br</strong> />
Isolamento 0,30* 0,42* 0,07<<strong>br</strong> />
Recusa 0,17 0,24** -0,03
7 CONCLUSÕES<<strong>br</strong> />
Em função <strong>de</strong> sua ativida<strong>de</strong> constante, <strong>de</strong> contato direto e intensivo <strong>com</strong> os pacientes,<<strong>br</strong> />
da convivência cotidiana <strong>com</strong> a dor, o <strong>de</strong>sespero e a própria morte, as equipes <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
enfermagem expõem-se a uma so<strong>br</strong>ecarga <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong>sgaste que as levam a um<<strong>br</strong> />
estado constante <strong>de</strong> <strong>estresse</strong>.<<strong>br</strong> />
O estudo <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>sgaste e das formas <strong>de</strong> enfrentá-lo foi o objetivo <strong>de</strong>ste trabalho.<<strong>br</strong> />
Buscou-se verificar se, e em que medida, a equipe <strong>de</strong> enfermagem no ambiente<<strong>br</strong> />
hospitalar apresentava <strong>estresse</strong> <strong>ocupacional</strong> e i<strong>de</strong>ntificar as <strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfrentamento</strong> utilizadas pelos sujeitos. Buscou-se também i<strong>de</strong>ntificar os sujeitos que<<strong>br</strong> />
apresentavam sinais elevados <strong>de</strong> síndrome <strong>de</strong> burnout, em qualquer <strong>de</strong> seus fatores:<<strong>br</strong> />
Esgotamento Emocional, Despersonalização e Realização Pessoal.<<strong>br</strong> />
Relevante apontar que o hospital, locus para a investigação enfrentava situação<<strong>br</strong> />
financeira que <strong>com</strong>prometia seus <strong>com</strong>promissos trabalhistas, atrasando salários junto<<strong>br</strong> />
à população estudada. O agravamento <strong>de</strong>ssa situação, acarretando outros entraves<<strong>br</strong> />
administrativos, gerou a intervenção fe<strong>de</strong>ral em sua pessoa jurídica, a venda da<<strong>br</strong> />
carteira <strong>de</strong> seus clientes e do hospital.<<strong>br</strong> />
No presente estudo constatou-se no grupo pesquisado uma maioria <strong>de</strong> mulheres<<strong>br</strong> />
maduras (<strong>com</strong> mais <strong>de</strong> 34 anos), casadas e solteiras em igual proporção, <strong>com</strong> no<<strong>br</strong> />
mínimo, primeiro grau <strong>com</strong>pleto, <strong>com</strong> mais <strong>de</strong> 12 anos <strong>de</strong> profissão e <strong>de</strong> hospital.<<strong>br</strong> />
Observou-se a confirmação da predominância feminina na área <strong>de</strong> enfermagem, o que<<strong>br</strong> />
corrobora outros autores e o órgão fiscalizador da profissão (COREN) e que os<<strong>br</strong> />
solteiros apresentam em média, um nível <strong>de</strong> <strong>estresse</strong> psicológico mais elevado que os<<strong>br</strong> />
casados nesta população.<<strong>br</strong> />
Dentre as dimensões analisadas <strong>de</strong> <strong>estresse</strong>s, foram as manifestações<<strong>br</strong> />
psicofisiológicas (45,8%) e <strong>de</strong> temporalida<strong>de</strong> (55,9%) as mais significativas nos<<strong>br</strong> />
sujeitos estudados.<<strong>br</strong> />
Como <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> observou-se que a <strong>de</strong> controle foi uma das mais<<strong>br</strong> />
expressivas. Ela é empregada pela quase totalida<strong>de</strong> dos sujeitos (97,9%) para<<strong>br</strong> />
enfrentar as situações <strong>de</strong> <strong>estresse</strong>, qualquer que seja o nível – alto ou baixo – <strong>de</strong>sse<<strong>br</strong> />
último. O apoio social também aparece <strong>com</strong> valor significativo (91,6%) <strong>com</strong>o <strong>estratégia</strong>
114<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> dos sujeitos. Essas constatações reforçam as hipóteses <strong>de</strong> que o<<strong>br</strong> />
pessoal <strong>de</strong> enfermagem não tem, culturalmente, a permissão para per<strong>de</strong>r o controle e<<strong>br</strong> />
que a cultura organizacional po<strong>de</strong> facilitar o <strong>enfrentamento</strong> das situações no ambiente<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> trabalho.<<strong>br</strong> />
A <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> recusa aparece <strong>com</strong>o <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> <strong>de</strong> 71,8% dos<<strong>br</strong> />
profissionais <strong>de</strong> enfermagem. Na amostra estudada, os níveis médios <strong>de</strong>ssa <strong>estratégia</strong><<strong>br</strong> />
são significativamente mais elevados do que aqueles encontrados na população<<strong>br</strong> />
<strong>br</strong>asileira em geral, o que permite levantar a hipótese <strong>de</strong> que esta categoria<<strong>br</strong> />
profissional se utiliza <strong>de</strong>ssa <strong>estratégia</strong> <strong>com</strong>o forma <strong>de</strong> evitar que as situações vividas<<strong>br</strong> />
no cotidiano do hospital, nem sempre fáceis <strong>de</strong> lidar, tais <strong>com</strong>o a morte, o sofrimento e<<strong>br</strong> />
a dor, interfiram na execução <strong>de</strong> suas tarefas, pois essas situações são, às vezes,<<strong>br</strong> />
insuportáveis para alguém que não po<strong>de</strong> negar o cuidado <strong>com</strong> o outro.<<strong>br</strong> />
Constatou-se uma correlação significativa entre a <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong> isolamento e todas as<<strong>br</strong> />
dimensões do <strong>estresse</strong>, indicando que indivíduos submetidos a níveis extremos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>estresse</strong> (qualquer que seja sua natureza, física, psicológica, psicofisiológica ou <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
temporalida<strong>de</strong>) ten<strong>de</strong>m a apresentar altos níveis <strong>de</strong> isolamento <strong>com</strong>o <strong>estratégia</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>enfrentamento</strong>.<<strong>br</strong> />
A síndrome <strong>de</strong> burnout foi i<strong>de</strong>ntificada em seus níveis mo<strong>de</strong>rado e alto em 53,1% e<<strong>br</strong> />
13,5% dos sujeitos estudados, respectivamente. Para o fator exaustão emocional, a<<strong>br</strong> />
predominância ficou para o nível mo<strong>de</strong>rado (54,2%). Quanto à correlação <strong>de</strong>sta<<strong>br</strong> />
variável <strong>com</strong> o grau <strong>de</strong> instrução dos indivíduos, observou-se que este fator é<<strong>br</strong> />
significativamente maior nos indivíduos <strong>com</strong> pós-graduação, colocando esse grupo<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> uma média <strong>de</strong> exaustão emocional nos níveis altos da população. É também<<strong>br</strong> />
significativa a correlação da exaustão emocional <strong>com</strong> a categoria profissional dos<<strong>br</strong> />
sujeitos, <strong>de</strong>monstrando que as enfermeiras estão no limite superior do nível mo<strong>de</strong>rado<<strong>br</strong> />
da população em geral.<<strong>br</strong> />
No fator <strong>de</strong>spersonalização observou-se que 46,9% da amostra estudada apresentou<<strong>br</strong> />
nível alto e 53,1% apresentou nível mo<strong>de</strong>rado para este elemento/fator.<<strong>br</strong> />
Para o fator Realização Pessoal são 96,5% dos sujeitos que não se sentem totalmente<<strong>br</strong> />
realizados <strong>com</strong> o trabalho e 13,5% já se sentem in<strong>com</strong>petentes. A correlação entre<<strong>br</strong> />
<strong>estresse</strong> e burnout indica que ela é significativa entre todas as dimensões do <strong>estresse</strong><<strong>br</strong> />
e o fator exaustão emocional, indicando que indivíduos submetidos a níveis extremos
115<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> <strong>estresse</strong> ten<strong>de</strong>m a apresentar também fortes níveis <strong>de</strong> exaustão emocional. O<<strong>br</strong> />
mesmo acontece em relação ao fator <strong>de</strong>spersonalização e manifestações <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
temporalida<strong>de</strong>, o que indica que indivíduos submetidos ao <strong>estresse</strong> que apresentam<<strong>br</strong> />
manifestações <strong>de</strong> temporalida<strong>de</strong> ten<strong>de</strong>m a apresentar altos níveis <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>spersonalização.<<strong>br</strong> />
Em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong>ssas constatações e ao consi<strong>de</strong>rar o ambiente hospitalar <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />
sendo palco <strong>de</strong> uma realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho bastante específica e extremamente<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sgastante, sugere-se ao empregador um olhar diferenciado quanto ao suporte<<strong>br</strong> />
emocional do trabalhador da saú<strong>de</strong>. Trabalhos para <strong>de</strong>senvolver a socialização do<<strong>br</strong> />
sofrimento ou ainda minimizar as condições que provocam a toxicida<strong>de</strong> do ambiente<<strong>br</strong> />
são necessários para garantir a qualida<strong>de</strong> do ambiente <strong>de</strong> trabalho.<<strong>br</strong> />
Para os dirigentes da enfermagem dos hospitais sugere-se uma política mais<<strong>br</strong> />
humanizada, não só aplicada aos que se utilizam dos serviços <strong>de</strong> enfermagem, os<<strong>br</strong> />
pacientes, <strong>com</strong>o aos que prestam esses serviços; os cuidadores.<<strong>br</strong> />
Para os enfermeiros pesquisadores sugere-se uma reflexão so<strong>br</strong>e a eficácia da<<strong>br</strong> />
exigência disciplinar rígida e inflexível <strong>com</strong>o maneira <strong>de</strong> “<strong>com</strong>andar” a equipe <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
enfermagem: “Uma profissão que passou por muitas mudanças sociais <strong>de</strong>s<strong>de</strong> seu<<strong>br</strong> />
período obscuro, mas que ainda conserva o pensamento <strong>de</strong> Florence Nightingale<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1860, exigindo <strong>de</strong> sua equipe nos hospitais <strong>br</strong>asileiros o mesmo <strong>com</strong>portamento<<strong>br</strong> />
que conta hoje <strong>com</strong> 145 anos após a fundação da primeira escola <strong>de</strong> enfermagem na<<strong>br</strong> />
Inglaterra”.<<strong>br</strong> />
A situação vivenciada pelo hospital na época da realização <strong>de</strong>ste trabalho permite<<strong>br</strong> />
sugerir que o resultado possa ter sido influenciado pelo contexto organizacional. Seria<<strong>br</strong> />
importante verificar num estudo futuro, <strong>com</strong>parativo, a evolução das características <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
<strong>estresse</strong>, <strong>enfrentamento</strong> e burnout, <strong>de</strong>ntro da nova situação, já regularizada<<strong>br</strong> />
legalmente.<<strong>br</strong> />
Além <strong>de</strong>sse estudo, este trabalho a<strong>br</strong>e algumas perspectivas para outros trabalhos na<<strong>br</strong> />
área. Assim, seria interessante esten<strong>de</strong>r a análise já feita a uma amostra mais ampla,<<strong>br</strong> />
buscando confirmar algumas das correlações obtidas e gerando novas informações<<strong>br</strong> />
para o estudo das relações entre <strong>estresse</strong>, <strong>enfrentamento</strong> e síndrome <strong>de</strong> burnout, que,<<strong>br</strong> />
até on<strong>de</strong> foi possível avaliar, ainda não foram extensamente exploradas no Brasil.
116<<strong>br</strong> />
Finalmente, alguns pontos levantados na análise das variáveis sócio-<strong>de</strong>mográficas<<strong>br</strong> />
mereceriam aprofundamento. Em particular, as correlações i<strong>de</strong>ntificadas entre as<<strong>br</strong> />
<strong>estratégia</strong>s <strong>de</strong> <strong>enfrentamento</strong> e as categorias profissionais po<strong>de</strong>riam ser exploradas,<<strong>br</strong> />
tanto do ponto <strong>de</strong> vista estatístico, ampliando a amostra e incluindo outras categorias<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> análise (setor <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>, por exemplo), <strong>com</strong>o do ponto <strong>de</strong> vista conceitual.
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