O <strong>Estado</strong> <strong>da</strong> <strong>Governação</strong> <strong>em</strong> <strong>Junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2007</strong>De salientar que, no que diz respeito ao investimento público, nomea<strong>da</strong>mente nos casos <strong>em</strong> queatinge um maior montante (como acontece com os projectos do novo aeroporto internacional <strong>de</strong>Lisboa ou do TGV), o Governo ain<strong>da</strong> não <strong>de</strong>finiu uma metodologia <strong>de</strong> apreciação e <strong>de</strong>cisão quegaranta a respectiva selectivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, controlo e <strong>de</strong>vi<strong>da</strong> responsabilização. Esta, aliás, foi uma matéria<strong>em</strong> que o <strong>Compromisso</strong> <strong>Portugal</strong> já avançou com propostas que inclu<strong>em</strong> a participação <strong>de</strong>personali<strong>da</strong><strong>de</strong>s conceitua<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Civil <strong>em</strong> comissões <strong>de</strong> avaliação, man<strong>da</strong>ta<strong>da</strong>s para <strong>em</strong>itirrecomen<strong>da</strong>ções sobre os investimentos <strong>em</strong> causa.As medi<strong>da</strong>s entretanto toma<strong>da</strong>s pelo Governo para controlar os gastos públicos <strong>em</strong> pensões,nomea<strong>da</strong>mente a equiparação do regime <strong>da</strong> Caixa Geral <strong>de</strong> Aposentações com o regime geral e aalteração dos critérios <strong>de</strong> cálculo, merec<strong>em</strong> nota positiva. São, s<strong>em</strong> dúvi<strong>da</strong>, um factor muito relevantepara obter uma consoli<strong>da</strong>ção orçamental mais estrutural, apesar do impacto negativo nas expectativasdos ci<strong>da</strong>dãos. Deve-se, porém, notar que o probl<strong>em</strong>a <strong>da</strong> sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> segurança social nãoficou ain<strong>da</strong> <strong>de</strong>finitivamente resolvido para o futuro. É <strong>de</strong> prever que as transferências para asfamílias -- seja por via <strong>da</strong>s pensões, cui<strong>da</strong>dos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ou outros subsídios -- continu<strong>em</strong> a pressionara <strong>de</strong>spesa, até como consequência do envelhecimento <strong>da</strong> população. Mais tar<strong>de</strong> ou mais cedo, estaevolução exigirá uma revisão do mo<strong>de</strong>lo social, direccionando as prestações para qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>las maisnecessita e apertando o controlo dos abusos e frau<strong>de</strong>s (matéria on<strong>de</strong>, é justo reconhecer, o Governot<strong>em</strong> <strong>da</strong>do passos positivos).1.3.) A Mo<strong>de</strong>rnização <strong>da</strong> Administração Pública está atrasa<strong>da</strong>A reforma <strong>da</strong> Administração Pública é, na história recente <strong>de</strong> <strong>Portugal</strong>, uma <strong>da</strong>s reformas maisanuncia<strong>da</strong>s, mas que mais difícil se t<strong>em</strong> revelado <strong>de</strong> concretizar. O actual Governo, ao manifestara sua vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> enfrentar o que admitiu ser um probl<strong>em</strong>a crucial do <strong>de</strong>senvolvimento do País,criou expectativas que não <strong>de</strong>verá frustrar. No seu Programa e na apresentação que <strong>de</strong>le fez, oGoverno estabeleceu três linhas <strong>de</strong> actuação a respeito <strong>da</strong> Administração Pública: 1) facilitar a vi<strong>da</strong>ao ci<strong>da</strong>dão e às <strong>em</strong>presas; 2) melhorar a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> serviço pela valorização dos recursos humanose <strong>da</strong>s condições <strong>de</strong> trabalho; e 3) tornar a Administração Pública amiga <strong>da</strong> economia, sobretudoatravés <strong>da</strong> redução do seu peso.É óbvio que o esforço <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização <strong>da</strong> Administração Pública <strong>de</strong>veria partir <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>finiçãomais clara do papel do <strong>Estado</strong>, nomea<strong>da</strong>mente do seu posicionamento como garante e/ou prestador<strong>de</strong> serviços. Infelizmente, o ponto <strong>de</strong> vista do Governo a esse respeito não foi suficient<strong>em</strong>enteexplicitado no seu Programa, como <strong>em</strong> <strong>de</strong>vido t<strong>em</strong>po observou o <strong>Compromisso</strong> <strong>Portugal</strong>. Em vezdisso, o Governo optou por fazer um exercício <strong>de</strong> cima para baixo <strong>de</strong> racionalização <strong>da</strong>s estruturasexistentes (através, por ex<strong>em</strong>plo, do Programa <strong>de</strong> Reestruturação <strong>da</strong> Administração Central do <strong>Estado</strong>- PRACE), s<strong>em</strong> uma preocupação suficiente com as funções e processos efectivamente <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhados.Da mesma forma, elencou um conjunto <strong>de</strong> múltiplas medi<strong>da</strong>s (como no caso do Simplex - Programa<strong>de</strong> Simplificação Administrativa e Legislativa ou no caso do Plano Tecnológico), que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o cartãoúnico do ci<strong>da</strong>dão até à simplificação <strong>em</strong> geral dos procedimentos administrativos, s<strong>em</strong> explicitara sua relação com os objectivos <strong>de</strong> eficiência expressos no Programa do Governo.JUNHO <strong>2007</strong>15
O <strong>Estado</strong> <strong>da</strong> <strong>Governação</strong> <strong>em</strong> <strong>Junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2007</strong>T<strong>em</strong> existido por parte do Governo um esforço apreciável para concretizar muitas <strong>de</strong>ssas medi<strong>da</strong>s,nomea<strong>da</strong>mente aquelas <strong>de</strong> mais fácil e imediata impl<strong>em</strong>entação. O Governo não esteve parado.Fez aprovar no parlamento uma Lei <strong>da</strong> Mobili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Função Pública e começou a preparar novalegislação sobre carreiras e vínculos. Mas a maioria <strong>da</strong>s tarefas fun<strong>da</strong>mentais referi<strong>da</strong>s, muitas <strong>de</strong>lasexpressas no Programa do Governo e necessárias para a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira mo<strong>de</strong>rnização <strong>da</strong> AdministraçãoPública, encontram-se ain<strong>da</strong> muito atrasa<strong>da</strong>s. Entre estas, po<strong>de</strong>riam ser menciona<strong>da</strong>s as seguintes:1) estabelecer um ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro plano plurianual para a Administração Pública e sua contratualizaçãocom os diferentes serviços,2)introduzir uma gestão por objectivos, i<strong>de</strong>ntificando responsáveis concretos,3) rever, aperfeiçoar e alargar a avaliação <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho dos agentes (processo apenas iniciado),4) instituir e <strong>de</strong>senvolver sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> avaliação dos serviços públicos, nomea<strong>da</strong>mente <strong>de</strong> eficiência<strong>da</strong> sua gestão e do nível <strong>de</strong> satisfação <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s públicas,5)reanalisar o papel dos órgãos <strong>de</strong> controle interno <strong>da</strong> Administração Pública,6) planear estrategicamente a utilização <strong>da</strong>s Tecnologias <strong>de</strong> Informação e Comunicação (TIC) naAdministração Pública,7) estimular a participação <strong>da</strong>s organizações <strong>de</strong> utentes na avaliação dos serviços e incentivar aparticipação <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Civil na gestão <strong>da</strong>s escolas, <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong> acção social,ambiente e cultura,8) diminuir <strong>em</strong> 75.000 o número <strong>de</strong> funcionários <strong>da</strong> Administração Central.Por outro lado, as propostas entretanto concretiza<strong>da</strong>s (por ex<strong>em</strong>plo, a Empresa na Hora ou a Marcana Hora), não assentaram numa ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira reengenharia <strong>de</strong> processos, procurando apenas contornara complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s estruturas e processos <strong>da</strong> Administração Pública, <strong>de</strong> modo a <strong>da</strong>r-lhes umaaparência menos assustadora para o ci<strong>da</strong>dão. Por esta via, po<strong>de</strong>-se melhorar o serviço ao ci<strong>da</strong>dão,mas não se atingirá quaisquer ganhos <strong>de</strong> eficiência.Não há dúvi<strong>da</strong> que o País precisa <strong>de</strong> uma Administração Pública mais prestigia<strong>da</strong>, mais eficientee, principalmente, mais orienta<strong>da</strong> para o ci<strong>da</strong>dão, prestando melhores serviços públicos. É por issourgente estabelecer indicadores <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> serviço para os vários sectores <strong>da</strong> AdministraçãoPública, que sirvam como referência e estímulo para uma ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira reforma estrutural. Os custos<strong>da</strong> Administração Pública <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong> têm que passar a correspon<strong>de</strong>r a um real valor acrescentadopara os ci<strong>da</strong>dãos.2. Segundo Eixo <strong>da</strong> <strong>Governação</strong>: Reforçar a coesão social numa socie<strong>da</strong><strong>de</strong> com menospobreza e com mais igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s.2.1.) O aumento <strong>da</strong> coesão social não parece garantidoA diferença entre os mais ricos e mais pobres não t<strong>em</strong> diminuído <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong> na última déca<strong>da</strong>.Na reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, segundo os últimos <strong>da</strong>dos disponíveis do Eurostat, a relação entre os 20 % mais ricosJUNHO <strong>2007</strong>16