Discussão 161ultrapassar 1 mm em dentes de cães, proporcio<strong>na</strong> uma melhor limpeza da porçãoapical do ca<strong>na</strong>l radicular porque engloba várias ramificações do delta apical.A realização da limpeza do ca<strong>na</strong>l cementário ainda tem gerado discórdiaentre os autores. Há quem defenda (RICUCCI; LANGELAND, 1998) que tal açãoviola a cura da ferida tecidual e, portanto, até nos casos de necrose, o limite apicalda instrumentação deve ser a constrição apical, uma vez que a origem da infecçãodo ca<strong>na</strong>l é elimi<strong>na</strong>da e a polpa necrótica mantida além desse limite é elimi<strong>na</strong>da pelareação de corpo estranho. Porém, Souza (2000, 2006) defende que a repetidapenetração de uma lima de tamanho adequado no forame apical durante ainstrumentação mantém o forame desbloqueado, ou seja, livre de raspas de denti<strong>na</strong>,fragmentos pulpares e outros detritos, mantendo o acesso ao ca<strong>na</strong>l cementário(patente), que nos casos de necrose e lesão periapical encontra-se repleto debactérias. Segundo o autor, a limpeza do ca<strong>na</strong>l cementário contribui, também, para aelimi<strong>na</strong>ção da infecção neste local.Porém, a quantidade de microrganismos mantidos no sistema de ca<strong>na</strong>isradiculares e nos tecidos periapicais após o preparo biomecânico continuasignificativa. Por isso, a medicação intraca<strong>na</strong>l tem como objetivo reduzir, ainda mais,a microbiota não elimi<strong>na</strong>da pelo preparo e a proliferação das bactérias residuais,prevenindo, assim, a reinfecção do ca<strong>na</strong>l radicular. Esses objetivos podem seratingidos porque algumas substâncias são capazes de penetrar em áreasi<strong>na</strong>cessíveis até mesmo às soluções irrigadoras (CÉSAR, 2003). Assim, amedicação a ser utilizada deve apresentar amplo espectro bacteriano,biocompatibilidade satisfatória, tempo de ação suficiente para elimi<strong>na</strong>r osmicrorganismos e possuir propriedades físico-químicas que permitam a sua difusãono sistema de ca<strong>na</strong>is radiculares. Quanto a isso, o hidróxido de cálcio tem sidoamplamente difundido e é hoje, segundo Estrela e Holland (2003) e Leo<strong>na</strong>rdo et al.(2004), o medicamento endodôntico mais comumente utilizado.6.1.6 Hidróxido de Cálcio como Medicação Intraca<strong>na</strong>lEmbora seja crescente a corrente dentro da endodontia que preconiza aconclusão do tratamento endodôntico em uma única sessão, a nossa opção foi pelaDissertação de Mestrado – Suellen Cristine Borli<strong>na</strong>
Discussão 162aplicação de um curativo intraca<strong>na</strong>l de hidróxido de cálcio antes da obturaçãodefinitiva dos ca<strong>na</strong>is radiculares.A tendência de se elimi<strong>na</strong>r o uso de uma medicação entre as sessõesbaseia-se no fato de que a maioria dos trabalhos cujos resultados foram avaliadospor meio de dados clínico-radiográficos não apontam diferenças significativas nostratamentos efetuados em uma ou mais sessões (BERGER, 1991; HIZATUGU et aI.,1999; PETERS; WESSELINK, 2002; KADO et al., 1999). Da mesma forma,Bucha<strong>na</strong>n (1996) também admite que todos os casos podem ser tratados em umasessão, sugerindo que as taxas de sucesso são as mesmas. Contudo, embora osdados clínicos sejam extremamente importantes <strong>na</strong> avaliação do resultado de umtratamento endodôntico, achamos que eles devem ser somados ao conhecimentodos procedimentos que, histologicamente, norteiam o melhor tipo de reparo.A<strong>na</strong>lisando os trabalhos que avaliaram histomorfologicamente osresultados do tratamento de dentes portadores de lesão periapical crônica, verificaseque, <strong>na</strong> sua quase totalidade, eles apontam melhor performance quando ocurativo de demora foi empregado (HOLLAND et aI., 1978a; 1979a; LEONARDO etal., 1995; SJOGREN et al., 1997; HOLLAND et aI., 1999a; KATEBZADEH; HUPP;TROPE, 1999; KATEBZADEH; SIGURDSSON; TROPE, 2000; BONETTI FILHO,2000; OTOBONI FILHO, 2000; TANOMARU FILHO, 1996, 2001; TANOMARUFILHO; LEONARDO; SILVA, 2002; CÉSAR, 2003; HOLLAND et aI., 2003a, 2003b;LEONARDO et al., 2006; PANZARINI et al., 2006; SOUZA et al., 2006).Provavelmente essa diferença entre dados clínicos e histológicos deva estarrelacio<strong>na</strong>da à presença das bactérias residuais que sobreviveram ao preparobiomecânico responsáveis por uma reação não detectável por dados clínicos.Embora várias substâncias tenham sido indicadas para medicaçãointraca<strong>na</strong>l, o hidróxido de cálcio passou a ser largamente utilizado, principalmente notratamento endodôntico de dentes com ca<strong>na</strong>is contami<strong>na</strong>dos, graças ao seupotencial antimicrobiano (MATSUMIYA;KITAMURA, 1960; BINNIE;ROWE, 1973;CVEK;HOLLENDER; NORD, 1976; SAFAVI et al., 1985; BYSTRÖM; CLAESSON;SUNDQVIST, 1985; ORSTAVIK; KEREKES; MOLVEN, 1991; STUART et al., 1991;ESTRELA, 1997; ESTRELA et al., 1994; 1995, 1995a; 1998; 1999; 2000; 2001;ESTRELA; HOLLAND, 2003), por estimular o reparo periapical (HOLLAND, 1975;HOLLAND et al., 1977; WEIGER; ROSENDAHL; LÖST, 2000; ESTRELA;Dissertação de Mestrado – Suellen Cristine Borli<strong>na</strong>
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