28EDIÇÃO Nº<strong>62</strong>—ABRIL—2007JORNALnnLogWebREFERÊNCIA EM LOGÍSTICAMultimo<strong>da</strong>lTRANSPORTE RODOVIÁRIOPEDÁGIO:VALE OQUANTOSE PAGA?Ent<strong>revista</strong>dosexplicam que opedágio ideal deveser inferior aosbenefícios trazidospelas melhoriasintroduzi<strong>da</strong>s narodovia para ousuário, mas osvalores cobradosestão acima <strong>da</strong>sbenfeitorias e,ain<strong>da</strong>, há problemasde conservação <strong>da</strong>sestra<strong>da</strong>s queimpedeminvestimentos e,conseqüentemente,o crescimento <strong>da</strong>empresa.Desde que AppiusClaudius Caecus, em312 a.C., autorizou aconstrução <strong>da</strong> Via Apia, estra<strong>da</strong>que cortava o Império Romano,muito se tem discutidosobre estra<strong>da</strong>s, o direito deusá-las e, principalmente,quem pagaria por esse direito”.É usando um fato históricoque Rômulo Lara Nunes,<strong>da</strong> área de gestão e quali<strong>da</strong>dedo Grupo Gat Logística(Fone: 11 6488. 2033), começaa discorrer sobre o assuntopedágio, tema desta reportagem.“Por muito tempo o Brasilnão se lembrava mais doque era pedágio. Somenteconhecíamos, muito bem, oque eram rodovias de péssimaquali<strong>da</strong>de. Através de decisõesmais políticas do quetécnicas, algumas rodoviasforam sendo ‘concedi<strong>da</strong>s’ aempresas que realizariam suamanutenção. Em contrapar-?ti<strong>da</strong> passaram a cobrar umataxa: o pedágio”, conta.Nunes assinala que, indiscutivelmente,as rodovias“pe<strong>da</strong>gia<strong>da</strong>s” possuem melhorinfra-estrutura e quali<strong>da</strong>de,o que diminui os custos eos riscos aos veículos quenelas transitam – menos quebras,menos consumo decombustível e pneus, ganhode tempo, etc. Para ele, essefato serve de principal argumentopara que algunsembarcadores não aceitemque o preço cobrado pelospedágios seja repassado aofrete. “Em síntese, algunsacreditam que a melhora nosníveis de performance dosveículos – a diminuição <strong>da</strong>squebras e o ganho de tempo,entre outros – por si só, trariamaos transportadores ‘ganhosde produtivi<strong>da</strong>de’. Esses‘ganhos’ permitiriam que osvalores decorrentes dos pedágiosnão fossem repassadosaos embarcadores”, detalha.Segundo Nunes, essa linhade pensamento não levaem conta que o preço do pedágiopago no Brasil – especificamenteem São Paulo –é exagera<strong>da</strong>mente alto, chegando,no extremo, a absurdos.Como exemplo, cita opedágio na marginal <strong>da</strong> RodoviaCastelo Branco, emSão Paulo: um caminhão de3 eixos – truck – pagaR$ 13,50 para utilizar 6 kmde rodovia – São Paulo aAlphaville. “Se não for omais caro, certamente é umFoto: Afonso Lima/stock.xchngdos mais caros pedágios domundo! Não há ganho deprodutivi<strong>da</strong>de que pagueesse custo!”, exalta.De acordo com Nunes,outra informação que não foileva<strong>da</strong> em conta é que, paramédias distâncias – até 500km – aproxima<strong>da</strong>mente 40%do tempo <strong>da</strong> operação não égasto em trânsito nas rodoviase, sim, nos processos decarga e descarga, os quais,via de regra, ain<strong>da</strong> são “arcaicose desrespeitosamentedemorados”, considera. Eacrescenta, ain<strong>da</strong>, que sempreque um transportadorsugere a cobrança de qualquertaxa devido à demoraem um desses dois processos– carga e descarga –, oembarcador não aceita.Desse modo – avaliaNunes – não diferente depaíses como Estados Unidos,Canadá e México e póloscomo a União Européia,o pedágio tornou-se umcomponente importante nocusto final do transporte, oqual, por sua vez, é uma seçãoigualmente importante<strong>da</strong> logística.Ele ressalta que o problemanão é o pedágio propriamentedito, mas, sim, a granderelutância de alguns embarcadoresem ter o custo dopedágio repassado à sua tarifa.“De um lado, os transportadorestentam repassar ocusto com essa taxa. De outro,os embarcadores não desejandorepassar esse custoao seu produto. É uma brigaboa...”, aponta.Edson Depolito, diretorcomercial <strong>da</strong> Brucai (Fone:11 3658.7288), confirma queesse repasse existe: “apesar<strong>da</strong> importância do pedágiona categoria, ele já está hojeIltenir Júnior, do Grupo Gat:o pedágio introduziu umnovo cenário, chamado de“indústria do transporte”absorvido em grande partepelos embarcadores, uma vezque os transportadores repassamno mínimo 50% destecusto à maioria de seusclientes”. Ele acrescenta queo percalço pior é para o operadorde linhas curtas, quetem que bancar o retorno vazio– quando não conseguecobrar a tarifa de i<strong>da</strong> e voltano frete original, que deveriaser regra básica do mercado.Sobre este assunto polêmico,Iltenir Júnior, gerentede carga aérea do Grupo GatLogística (Fone: 11 6488.2033), afirma que o pedágiointroduziu um novo cenário,chamado de “indústria dotransporte”: inclui ofertadoresde infra-estrutura (concessionáriasou governos) eoutros, dentro de uma visãologística moderna, que acompanhamovimentos observadosno setor produtivo comoum todo.De acordo com ele, a compreensãodo papel de ca<strong>da</strong>operador logístico ou transportadoré fun<strong>da</strong>mental para análisessobre participação dopedágio nos custos do transportede cargas. “A ênfase, portanto,fica por conta <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>dede uma análise sistêmica,lembrando que transporte(infra-estrutura e operação)constitui ativi<strong>da</strong>des-meio, aserviço <strong>da</strong> eficiência <strong>da</strong> economia”,declara.Após conferir análises <strong>da</strong>NTC - Associação Nacionaldo Transporte de Cargas, ogerente constatou que os estudosdo DNER - DepartamentoNacional de Infra-Estruturade Transportes superdimensionaramos custosoperacionais do veículo decarga, acarretando uma definiçãodo valor do pedágio poreixo consideravelmente acimado benefício trazido pelamelhoria do pavimento.“Com isso, estaria trazendoum ônus de cerca de 15%para o transportador. O pedágiorepresenta acréscimo deaproxima<strong>da</strong>mente 20% nocusto total; 40% sobre os custosvariáveis; 90% do custodo diesel; e mais de 100% dosalário do motorista maisencargos sociais”, informaIltenir Júnior.Sobre benefícios e melhoriastambém discorre NeutoGonçalves dos Reis, assessortécnico e coordenador doDecope - Departamento deCustos Operacionais e EstudosTécnicos e Econômicos
nLogWebJORNALnREFERÊNCIA EM LOGÍSTICA29EDIÇÃO Nº<strong>62</strong>—ABRIL—2007Oliveira, <strong>da</strong> OTI:“É menos ruim pagarpedágio do que expor afrota a estra<strong>da</strong>s precárias”<strong>da</strong> NTC& Logística (Fone:11 6632.1500). De acordocom ele, o custo dos caminhõesé muito sensível aoestado de conservação <strong>da</strong>srodovias, e a melhora desteestado traz como principalbenefício a redução doscustos operacionais. “O pedágioideal deve ser inferioraos benefícios trazidospelas melhorias introduzi<strong>da</strong>sna rodovia para ousuário. Neste caso, o pedágiotraz redução final decusto para o usuário e parao custo logístico do país”,explica. No entanto – continua– se o custo do pedágiosupera seus benefícios,estará contribuindo paraaumentar o custo Brasil.De acordo com o assessor,como só se admite rodoviaconcedi<strong>da</strong> em excelenteestado, o benefíciodepende muito do estadoinicial de conservação <strong>da</strong>rodovia. “Quanto pior elaestiver, maiores serão osbenefícios e vice-versa”,diz. Como exemplo cita aRodovia Presidente Dutra,em São Paulo, “que estavapéssima antes de ser concedi<strong>da</strong>”.Segundo estudos <strong>da</strong>NTC&Logística, nos locaisonde o pedágio custacerca de R$ 7,50 por eixoa ca<strong>da</strong> 100 km, o beneficiopara os caminhões é superiorao custo. Já nas rodoviaspaulistas, que sempretiveram estado de conservaçãorazoável e nas quais ocusto do pedágio chega a superarR$ 11,00 por 100 kmpor eixo, este custo superaos benefícios, explica Reis.De acordo com ele, a segun<strong>da</strong>etapa <strong>da</strong>s concessõesprevê tarifas bem mais módicas,na faixa de R$ 5,00 aca<strong>da</strong> 100 km, o que poderátornar o pedágio benéficopara o consumidor.