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A ordem de um tempo: folhetos na coleção Barbosa Machado - Topoi

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A ORDEM DE UM TEMPO: FOLHETOS NA COLEÇÃO BARBOSA MACHADO • 79Outros po<strong>de</strong>res, como os <strong>de</strong> aristocratas, eclesiásticos, tipógrafos, autores,censores, todos eles envolvidos no processo <strong>de</strong> escrita e divulgação rápidados mais diversos eventos e manifestações literárias. 6Na coleção <strong>Barbosa</strong> <strong>Machado</strong> encontram-se títulos sobre reis, senhoresseculares e eclesiásticos <strong>de</strong> Portugal. Neles figuram relatos <strong>de</strong> eventos,elogios oratórios e poéticos, sermões <strong>de</strong> <strong>na</strong>scimentos, aniversários, casamentos,funerais, entradas, orações pela saú<strong>de</strong>, biografias, genealogias, além<strong>de</strong> autos <strong>de</strong> reuniões <strong>de</strong> cortes e aclamações, notícias <strong>de</strong> batalhas e cercosmilitares, manifestos e tratados políticos, missões religiosas, procissões,autos <strong>de</strong> fé e vilancicos.Consi<strong>de</strong>rar a criação, impressão e divulgação dos <strong>folhetos</strong> algo diretamenteligado aos po<strong>de</strong>res <strong>na</strong> Época Mo<strong>de</strong>r<strong>na</strong> implica também repensaro próprio conceito <strong>de</strong> representação do po<strong>de</strong>r. Entre vários autores, CarloGinzburg nos fornece <strong>um</strong>a interessante interpretação, a partir da tensãoentre “presença” e “ausência” – fazer presente aquilo que não está –, tãoprópria do fenômeno da representação. Por meio do estudo <strong>de</strong> relaçõestransculturais, característico <strong>de</strong> sua abordagem, Ginzburg observa a prevalênciada substituição sobre a imitação no esquema representativo. Ao percorrermanifestações encontradas nos colossos da Grécia antiga, nos funeraisdos imperadores romanos, ou no culto às efígies régias <strong>na</strong> Inglaterra e<strong>na</strong> França entre a Baixa Ida<strong>de</strong> Média e o Re<strong>na</strong>scimento, o historiadorevi<strong>de</strong>ncia a perspectiva <strong>de</strong> se aliviar o tra<strong>um</strong>a da morte mediante a perpetuaçãoritual do ser vivente – a figura expoente, o rei, o imperador – em<strong>um</strong>a estátua, máscara ou efígie, que adquiria, assim, <strong>um</strong> tom sagrado. Nessesentido, a morte do corpo físico não era o fim da vida do corpo no mundo,pois cabia ao funeral separar <strong>de</strong>finitivamente os mortos dos vivos. Ems<strong>um</strong>a, colossos, estátuas <strong>de</strong> cera e efígies sagradas seriam espécies <strong>de</strong> ficçõesda soberania viva do <strong>de</strong>funto, fosse ele <strong>um</strong> rei, <strong>um</strong> imperador, ou mesmoalg<strong>um</strong> nobre <strong>de</strong> expressão. 7Essa dupla perspectiva que associa diretamente as celebrações diversas,as batalhas e sua literatura, ao po<strong>de</strong>r – como <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> Bouza Álvarez –e em termos <strong>de</strong> substituição mais que <strong>de</strong> imitação – segundo o ensaio <strong>de</strong>Carlo Ginzburg –, sem contudo concebê-las como algo externo e acessórioao que representa, parece bem <strong>de</strong> acordo ao <strong>tempo</strong> que estudamos. Em<strong>um</strong>a socieda<strong>de</strong> do Antigo Regime, como distinguir aparência e essência,TOPOI, v. 8, n. 14, jan.-jun. 2007, pp. 77-113.

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