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A ordem de um tempo: folhetos na coleção Barbosa Machado - Topoi

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84 • RODRIGO BENTES MONTEIRO • ANA P. S AMPAIO CALDEIRASebastião <strong>na</strong> batalha <strong>de</strong> Alcácer Quibir. A mesma obra leva a crer que,<strong>na</strong>quele grupo erudito, alguns membros <strong>de</strong>stacavam-se mais que outros.Esses em geral faziam parte dos gran<strong>de</strong>s da nobreza – como Francisco Xavier<strong>de</strong> Meneses, con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ericeira, e Francisco Paulo <strong>de</strong> Portugal e Castro,marquês <strong>de</strong> Valença – ou eram eclesiásticos responsáveis pela fundação daAca<strong>de</strong>mia – como Manoel Caetano <strong>de</strong> Sousa. 16Diogo <strong>Barbosa</strong> <strong>Machado</strong> foi <strong>um</strong> dos cinqüenta primeiros acadêmicosque fundaram o círculo literário, <strong>de</strong>sig<strong>na</strong>do para escrever as históriasdos rei<strong>na</strong>dos <strong>de</strong> D. Sebastião, do car<strong>de</strong>al-rei D. Henrique e dos reisHabsburgos <strong>de</strong> Portugal. Ferreira da Mota comenta que o então futuroaba<strong>de</strong> entrou <strong>na</strong> Aca<strong>de</strong>mia sem qualquer obra publicada, com <strong>um</strong> currículovulgar. No primeiro tomo que escreveu sobre as memórias da história<strong>de</strong> Portugal no rei<strong>na</strong>do <strong>de</strong> D. Sebastião, a <strong>de</strong>dicatória foi para D. João V.Mas, no prólogo, <strong>Barbosa</strong> <strong>Machado</strong> referia-se ao marquês <strong>de</strong> Abrantes.No fim da vida, bastante idoso, autor <strong>de</strong> várias obras, ofereceu a D. José Isua biblioteca. Nesse <strong>tempo</strong>, já tinha ascendido a <strong>um</strong>a posição que lhepermitia ter seus próprios clientes, entre eles Francisco José da Serra, autor<strong>de</strong> sua oração fúnebre. 17Não é difícil relacio<strong>na</strong>r a coleção à trajetória, valores e objetivos <strong>de</strong>vida <strong>de</strong> seu artífice. Os opúsculos recortados e enca<strong>de</strong>r<strong>na</strong>dos pelo aba<strong>de</strong>indicam o próprio perfil <strong>de</strong> Diogo <strong>Barbosa</strong> <strong>Machado</strong>, em suas estratégias<strong>de</strong> ascensão social – não obstante o indubitável gosto colecionista pelahistória, característico do Setecentos europeu. Homem semióforo, <strong>Barbosa</strong><strong>Machado</strong> transitava entre o visível e o invisível. Ao obter e comprar <strong>folhetos</strong>por meios diversos, o colecio<strong>na</strong>dor retirava essas obras do seu universo<strong>de</strong> circulação, inviabilizando sua leitura imediata. Não obstante, ele a<strong>um</strong>entavao significado dos opúsculos <strong>de</strong> sua coleção com a classificação, aimpressão <strong>de</strong> frontispícios especiais, com seus ex-libris e s<strong>um</strong>ários que estabeleciama <strong>or<strong>de</strong>m</strong> dos títulos, tudo elaborado com capricho e organização.Conferia às peças <strong>de</strong>stacadas e integradas nos álbuns <strong>um</strong> outro valor, comointermediárias entre o mundo profano e outro sagrado, o mundo dos mortos,“semi-<strong>de</strong>uses”, dos reis e insignes <strong>de</strong> Portugal. As estampas e opúsculosserviam, assim, como relíquias, imagens preciosas do além, produzindo <strong>um</strong>asensação mista <strong>de</strong> proximida<strong>de</strong> e distância em quem as observasse.TOPOI, v. 8, n. 14, jan.-jun. 2007, pp. 77-113.

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