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O "ut pictura poesis" e as origens críticas da ... - UNESP-Assis

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Sânderson Reginaldo de Mello(material), que aprioristicamente é também cópia na natureza ideal (mundo d<strong>as</strong>idei<strong>as</strong>). Nesse ponto de vista, a ativi<strong>da</strong>de dos pintores e poet<strong>as</strong>, ao imitar anatureza, aguça o mundo dos sentidos e provoca o distanciamento do homem<strong>da</strong> Ver<strong>da</strong>de, isto é, d<strong>as</strong> form<strong>as</strong> (idei<strong>as</strong>) etern<strong>as</strong> e im<strong>ut</strong>áveis, segundo sua Teoriad<strong>as</strong> Idei<strong>as</strong>. 9Nesse mesmo contexto se encontram os a<strong>ut</strong>ores de tragédi<strong>as</strong>, que aexemplo do pintor, af<strong>as</strong>tam-se <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de, na medi<strong>da</strong> em que imitam reis,rainh<strong>as</strong>, deuses etc. Contudo, o pintor é considerado num patamar de maiorgrau de inferiori<strong>da</strong>de em relação aos poet<strong>as</strong> trágicos, porque insistem em imitaralgo em sua aparência, não na sua essência. Platão afirma que os pintoresfiguram o que veem em determinado ponto de visão, ou momento, e não o que<strong>as</strong> cois<strong>as</strong> ver<strong>da</strong>deiramente são. O filósofo afirma que os pintores ignoram oconhecimento d<strong>as</strong> cois<strong>as</strong>, 10 que deve estar ligado ao fabrico, à técnica e aotrabalho <strong>da</strong>queles que estão no segundo nível <strong>da</strong> imitação: os prod<strong>ut</strong>ores.Paralelamente, no âmbito <strong>da</strong> poesia, Platão aponta um falseamento dospoet<strong>as</strong>, quando estes não são fieis aos acontecimentos históricos, pela nãorecuperação dos mesmos no tempo e no espaço, bem como pelo falseamentodos personagens postos à semelhança de deuses e heróis. Essa mesmaconcepção é também aplica<strong>da</strong> aos pintores, n<strong>as</strong> pintur<strong>as</strong> históric<strong>as</strong>, ou n<strong>as</strong>narrativ<strong>as</strong> mitológic<strong>as</strong>, cuj<strong>as</strong> imitações distanciam-se muito dos objetos e dosfatos que se pretendem contar. Assim, elencados no mesmo paradigma <strong>da</strong>representação mimética, a pintura e a poesia, segundo Platão, podem acarretarperigos<strong>as</strong> ilusões, com a possibili<strong>da</strong>de de proporcionar diferentes e errône<strong>as</strong>interpretações. Consequentemente, o conjunto desses preceitos teóricos levou9Platão vê na pintura e na escrita, conforme su<strong>as</strong> atribuições mimétic<strong>as</strong>, a sujeição <strong>da</strong> formanatural (natureza divina) à forma real (natureza física), ou seja, os artist<strong>as</strong> traduzem,equivocamente, em termos de objetos materiais (artefatos), o ideal supremo. Assim, a pinturaestaria no último grau triádico de af<strong>as</strong>tamento <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de, onde, no primeiro grau deimportância se encontra o Absol<strong>ut</strong>o, depois o criador (artesão etc.) e, por fim, o pintor, que porsua vez na<strong>da</strong> cria, m<strong>as</strong> imita. Dessa forma, na República, Platão explica: Deus criou a cama, omarceneiro a produziu no mundo e o pintor copiou-a (PLATÃO, 1997, p. 323-4).10 Platão avalia que o grau de importância <strong>da</strong> arte dos pintores é ain<strong>da</strong> mais dimin<strong>ut</strong>o namedi<strong>da</strong> em que os artist<strong>as</strong> não possuam uma experiência <strong>ut</strong>ilitária com os objetos pelos quaisimitam.Miscelânea, <strong>Assis</strong>, vol.7, jan./jun.2010 225

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