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tecno brega! tecno brega! - Itaú Cultural

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ESPECIAL | eduardo coutinhoFrames de As Canções mostram os selecionados para cantare contar suas histórias, entre eles Silvia Helena (foto maior)relatar as dores e dificuldades do relacionamentoentre elas. Em Santa Marta: Duas Semanas noMorro, há uma cena em que aparece uma tradicionalroda de samba, que não necessariamentetem papel fundamental no roteiro, mas reafirmaa importância da música nas obras do cineasta.Seu último trabalho, As Canções (lançado em outubrode 2011), mostra desconhecidos cantando semajuda de instrumentos. Com 500 mil reais de orçamento– o filme mais barato até o momento –, setedias de filmagem, 42 pessoas entrevistadas e 200 reaisde cachê para os 18 selecionados que aparecemno longa-metragem, Coutinho realizou um sonhoantigo. “O que cansava, às vezes, é que entravampessoas insuportáveis.”Para recrutar os participantes, a produção colocouanúncios no jornal e na internet, mas foi nabusca pelas ruas que encontraram a maior partedos personagens. Em caraoquês, na praia deRamos e em outros lugares do Rio de Janeiro aequipe andou com uma placa onde se lia: “Cantee conte”. O objetivo era fazer com que as pessoascantassem uma música que marcou suas vidas eexplicassem o motivo pelo qual ela é ou foi tãoimportante. “Se a pessoa não lembrava a música,saía na hora”, diz ele.No filme, há canções de Ary Barroso, Noel Rosa,Vinicius de Moraes, Chico Buarque, Roberto Carlos,Jorge Ben Jor. Tem samba, balada e bolero,além de três composições dos próprios entrevistados.“Não me interessava saber qual era a maisbela, mas qual a música da história da vida daquelaspessoas”, conta ele. Um dos personagens dofilme, Queimado, diz que não escolheu a que achamais bonita de todos os tempos, mas a que ficou nasua cabeça no momento em que sofreu por amor.Por isso é que eu canto, não posso pararCoutinho acredita que alguns de seus entrevistadosmentiram – ou aumentaram – suas históriasdurante os depoimentos, mas diz não se importarmuito com isso: “A memória é um passado inventado.O que não é factualmente absurdo e é bemcontado é verdade. É isso que é fascinante. Quantomais criativo for, melhor, e não mais mentiroso”.Silvia Helena, de 56 anos, ficou muito nervosadurante os 30 minutos em que esteve diante dacâmera do diretor. Não imaginava que seria escolhida,e conversar com Coutinho “foi uma coisade tiete mesmo. Cantar e contar minha históriapara ele não era pouca coisa”, explica ela.Seu caso de amor durou mais de 30 anos e foino cinema que ela encontrou uma forma de pôrum ponto final na história em grande estilo. “Foium exorcismo, botei os fantasmas para correr.Coutinho ajudou com o respeito, a seriedade ea sabedoria com que faz seu trabalho.” Ela ficousatisfeita com o resultado e orgulhosa de terconseguido cantar uma música que acreditavanão lhe fazer bem, “Retrato em Branco e Preto”,de Chico Buarque.O diretor afirma que a maior parte dos entrevistadossaiu da gravação com a mesma sensação deSilvia, “felicíssimos”, seja porque colocaram suaslembranças ruins para fora seja porque tiverama oportunidade de relembrar os bons momentos.Nesse caso, por exemplo, um homem choraao lembrar uma música que sua mãe costumavacantar enquanto trabalhava com costuras de vestidode noiva. Logo em seguida diz não entendero motivo pelo qual se emocionou ao recordar essemomento, porque sua mãe está viva e saudável.O tempo não para e, no entanto,ele nunca envelheceGravado no fim de 2010, perto do Natal, o filmefez o cineasta enfrentar dificuldades para recrutarjovens para as filmagens. “Se eu quisessegente que gosta do Radiohead, do Nirvana, eupoderia ir até alguma faculdade, mas não tinhanenhuma aberta.” O período de férias escolaresfoi um fator que diminuiu a presença de pessoascom esse perfil, mas Coutinho diz que,mesmo se encontrasse gente nova, seria difícilachar alguém com a música da vida, porque jovemnão recorda, vive. “Quando você tem maisde 30 anos, a música passa a ter a função depreencher o passado”, explica.Em determinado momento de As Canções, opersonagem Queimado diz que não sabe comoalguém faz para relembrar algo de que gosta senão for por meio da música. Para ele, o cheirotambém é um elemento que carrega lembranças,mas letra, harmonia e melodia são ainda maisfortes. Coutinho concorda com a afirmação porque“a canção é imortal e faz viajar no tempo, geralmenteao passado”.Para o diretor, a música tem uma função muitoclara, que é mandar um recado para alguém. Eleacredita que, se um dia a arte desaparecer, a músicaserá a última, porque “a canção só vai morrerno dia em que o homem for imortal. O homemsó canta porque sabe que vai morrer”. Coutinhoadora “Juízo Final”, de Nelson Cavaquinho, e,se pudesse escolher, teria colocado “Força Estranha”,de Caetano Veloso, neste último documentário.Em sua vida, quem cumpre o papelda imortalidade é outra arte: “Estou vivo porquefaço cinema. Ganho a vida fazendo cinema. Sósei fazer isso e mais nada”.Para o cineasta, o principal problema de seutrabalho é conseguir fazer as pessoas irem aocinema. No caso do recém-lançado As Canções,diz saber de antemão que filmes sobre músicacostumam render bons índices de público.“Sempre dão, no mínimo, 10 mil espectadores”,conta. Embora não compre discos desdea invenção do CD e fique apenas sabendo “poralto” das novidades desse cenário artístico, nãofoi pelo retorno financeiro que Coutinho tevevontade de gravar pessoas cantando. “Paramim a filmagem foi um prazer.”A responsabilidade e o cuidado com as pessoascom quem ele conversa são motivo de orgulho:“Ninguém se queixou da forma como apareceunos filmes até hoje, em 30 anos. Sou responsávelpela imagem das pessoas e não posso prejudicarninguém”. Sobre os próximos trabalhos,tem apenas uma certeza: não vai mais filmarhistórias de vida. Acredita que já esgotou todosos temas: origem, família, saúde, amor, sexo, dinheiroe morte. “Você pode ser Napoleão, MadreTereza de Calcutá, Silvio Santos, um heróiou o camelô da esquina. História de vida é isso.É muito simples.”

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