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tecno brega! tecno brega! - Itaú Cultural

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ePORTAGEM| versos de circunstânciaDedicatórias emprestam timbre afetivo às palavras e nos transportam ao universo particular de grandes criadoresTEXTO roberta dezanAo pensar em dedicatórias, a memória traz à tona a expressão poética que evoca pessoas e situações corriqueiras eagrega valores especiais a objetos. Construções discursivas lavradas pela criatividade e pelo sentimento dirigidas a parentes,a amigos, próximos ou distantes, e até desconhecidos, por afinidade ou gentileza, potencializam artisticamentea comunicação cotidiana.As dedicatórias impressas tornaram-se comuns no Brasil oitocentista por motivos distintos. Numa época em que ser escritorera um desafio, o oferecimento público de lealdade e submissão por meio dos livros abria a possibilidade de inclusão nasociedade da corte. “A abertura da Impressão Régia contribuiu para o despertar da vida cultural e, nesse ambiente, a necessidadede conquistar as boas graças do soberano para obter prestígio fez com que as primeiras publicações já contassemcom dedicatórias”, revela Ana Carolina Delmas, mestra em história política pela Uerj.O poeta Carlos Drummond de Andrade tinha o hábito de anotar as dedicatórias antes de enviá-las. Os três cadernos conservadospela Fundação Casa de Ruy Barbosa, no Rio de Janeiro, deram origem ao livro Versos de Circunstância (InstitutoMoreira Salles, 2011). O título, escolhido pelo próprio autor, pode ser encarado como um gênero poético, “um reservatório detextos que reverenciam a amizade e que exploram as possibilidades semânticas e estilísticas das palavras, a serviço de manifestaçõesde afeto, de agradecimento ou admiração”, analisa o professor de literatura brasileira Marcos Antonio de Moraesna apresentação do livro.A publicação traz todos os poemas em fac-símile, onde é possível acompanhar textos movidos pelo momento. Repletos deintimidade, jogos onomásticos e experimentações sonoras, os versos são testemunhos de relações. No primeiro caderno,Drummond anotou dedicatórias escritas em exemplares de Claro Enigma (1951), como a destinada à escritora Rachel deQueiroz: “ ’Cultiva o teu jardim’. Rachel o sabe,/mas, na Ilha Feliz, ela não deixa/de guardar em ternura quanto cabe/nocoração, e ouvir a humana queixa”.Outro escritor dedicado ao gênero foi Manuel Bandeira, autor de Mafuá do Malungo – Jogos Onomásticos e Outros Versosde Circunstância (O Livro Inconsútil, 1948). Em suas memórias, no texto “Itinerário de Pasárgada” (In: Poesia Completa eProsa, 1967), Bandeira diz: “Fiz algumas tentativas de escrever poesia sem apoio nas circunstâncias. Todas malogradas. Soupoeta de circunstância e desabafos, pensei comigo”.O artista, escritor e crítico Sérgio Milliet ao opinar sobre Mafuá do Malungo, como está registrado em Diário Crítico deSérgio Milliet (1981), disse que os “versos de circunstância” permitem ao leitor se “familiarizar com os grandes, fazendo-nosentrar um pouco na sua vida de homens como os demais”; convencem-nos de que “o grande poeta Manuel Bandeira pode sermalungo (africanismo que significa ‘companheiro, camarada’) também, ama, ri, chora de verdade, tem amigos que a genteconhece, participa como nós mesmos das alegrias e tristezas dos companheiros, admira certos políticos, gosta de certas comidas,vota nas eleições”.Poética do encontroA exposição Percursos e Afetos – Fotografias, 1928/2011, do pesquisador, crítico e curador Rubens Fernandes Junior – em cartazaté 15 de janeiro na Pinacoteca do Estado de São Paulo – traz um conjunto de fotografias “construído a partir da profundarelação estabelecida entre os artistas e o pesquisador”, diz o curador de fotografia do museu, Diógenes Moura. São expostas80 imagens recebidas de amigos fotógrafos – como Mario Cravo Neto e José Oiticica Filho – como presente ou moeda detroca por um trabalho. “É comum eu receber imagens pelos textos e críticas que faço sobre os trabalhos de fotógrafos e é gratificantequando chegam junto a palavras de agradecimento, afeto e amizade”, conta Fernandes.Apesar de mais de 40% das imagens terem dedicatórias no verso e de o crítico considerá-las tão ou mais importantes que aspróprias fotografias, não houve espaço para mostrá-las; apenas alguns textos e cartas foram dispostos em vitrines. “O idealseria expô-las em uma parede de espelhos, mas o espaço era pouco para tanta história”, explica. Na fotografia é comum queos escritos sirvam também para situar o registro no tempo e no espaço, como uma extensão da memória. “Essas lembrançasservem como referência de percursos e são fundamentais para o trabalho de pesquisadores. Com elas é possível aproximaros artistas, as suas relações e seus universos criativos”, acredita Fernandes.33CONTINUUM32

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