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Sem título-4 - Visão Judaica

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14Walid PharesVISÃO JUDAICA • outubro de 2007 • Chesvan / Kislev • 5768Walid Phares ** Walid Phares é professor de Estudosdo Oriente Médio e especialista em Islãpolítico e a jihad. Graduou-se em Directoe em Ciências Políticas pelas UniversidadesJesuita e Libanesa e doutorou-se emRelações Internacionais e EstudosEstratégicos pela Universidade de Miami.Ensinou na Saint Joseph University nosanos 80 e exerceu o Direito em Beirute até1990. Mais tarde foi editor do Sawt el-Mashreq y Mashrek International, emigrandoposteriormente para os Estados Unidos,onde lecionou na Florida InternationalUniversity e na Florida Atlantic University.Publicou centenas de artigos e escreveusete livros sobre o fundamentalismoislâmico, e foi consultor do Congressonorte-americano.Muçulmanos contra a Jihad?ma conferência peculiarrealizada na costa oesteda Florida chamou aatenção de muitos observadoresda guerra das idéias:a primeira Cúpula do Islã Secular.Organizada pelo Center for InquiryTransnational e vários ativistas, areunião incluiu duas dezenas de oradorese cerca de 200 participantesde diversas nacionalidades e procedências,e teve lugar no Hilton St.Petersburg pouco antes, e em coordenaçãocom a Cúpula da Inteligênciaque aconteceu no mesmo lugar.Mas ao contrário de muitas outrasconferências intelectuais muçulmanasno Ocidente, ou inclusive emtodo o mundo, esta reunião se encaminhavacontra o jihadismo e afavor de uma expressão secular e liberaldentro do islã.Não é a primeira vez que escritorese críticos muçulmanos de ordemreligiosa e cultural imperante dentrode sua própria comunidade falampublicamente, escrevem acercade, ou debatem estes temas. A históriada dissidência dentro do mundomuçulmano, nos tempos modernosem particular, é rica e diversa.Também está repleta de drama e violência,contra os próprios dissidentesem particular. Desde meados dosanos 20, após o colapso do ImpérioOtomano e o último Califado e a chegadado salafismo, ao qual se uniu okhomeinismo nos anos 70, dezenasde intelectuais sofreram condiçõesdifíceis e encontraram destinos trágicosao levantarem-se contra o fundamentalismoe pressionarem em favorde reformas. Essa história estáainda para ser escrita em profundidadee ensinar-se nos principais sistemaseducativos. Autores de altonível e intelectuais relevantes têmfalado contra o autoritarismo e o islamismodesde o subcontinente hinduaté o deserto sub-saariano. Dezenasde jornalistas e acadêmicos têmfeito solicitações para um debateglobal sobre o desenvolvimento depolíticas e ideologias dentro dospaíses muçulmanos. E na era pós-11de Setembro afluíram mais perguntasdos setores ocidentais e não-ocidentais:O que saiu mal [no mundomuçulmano] escreve Bernard Lewis?“Por que nos odeiam”, manchetava aimprensa após os ataques de 2001.E desde então, muitos entre o públicofazem perguntas sem respostaconvincente: Mas existem moderadosdentro do mundo muçulmano?A reunião de St. Petersburg não éa primeira conferência na qual se reúnemintelectuais muçulmanos (e nãomuçulmanos) e tentam responder aestas difíceis questões. Por volta de1994, a Coalizão para a Defesa dosDireitos Humanos se reuniu em NewJersey para tratar de questões similares.Os dissidentes reuniram-se emmuitos países nas últimas décadas.Casos de rebelião teológica e literáriade relevância ilustraram o conflitocultural dentro do islã. Nos anos 80,Salman Rushdie, da Índia, ganhou suafatwa pela publicação de Os VersosSatânicos. Desde então, o autor dissidentevive oculto. Em princípios dosanos 90, o autor Mustafá Jeha era assassinadoem Beirute por publicar ‘Acrise mental do islã’ (Mihnat al Aql filIslam). Por todo o Mediterrâneo eem dois continentes, outros “revolucionários”muçulmanos, descritoscomo apóstatas por seusinimigos jihadistas, desafiaramo paradigma ideológicodominante. Mas até há pouconunca haviam decididoatuar coletivamente, e até aconferência da Flórida nãotinham resolvido se reunir.Daí que alguns entre eles(com nomes bem conhecidosno terreno da dissidência) decidiampor fim reunir-se e dar ascaras ante o mundo, com conhecimentode causa ou não, começarama mudar o mundo. Foi, como eu o vejo,um pequeno passo nesta direção.Os discursos de abertura foram lidospor dois famosos dissidentesmuçulmanos que vivem no ocidente.O primeiro a falar foi Ibn Warraq, autorde vários volumes sobre o islã secular.Elaborando uma longa e sofisticadaintrodução ao “movimentointelectual”, fixou a base filosóficada separação total entre religião eestado no mundo muçulmano. MasIbn Warraq dizia ter “abandonado” oislã já, e seu chamamento se encaminhavaà “relação” entre sociedadesmuçulmanas e a lei religiosa. Defendeuos valores universais e a reformaglobal da educação. Em materia política,pediu uma mudança de regimeem muitos países, incluindo o Irã, aformação de centros de direitos humanos,e Numa guinada interessantee inovadora, pediu que “os mulás sejamlevados a julgamento por decretarfatwas”. o segundo a faltar na conferênciafoi a “desertora” Irshad Manji.Nascida na África e criada no Canadá,a autora de livros de sucesso dizia àaudiência que a resposta à jihad é aIjtihad. Em poucas palavras, a reinterpretaçãodos textos religiosos (edo Alcorão), desafiando os fundamentalistas.Ao contrário de Ibn Warraq,Irshad dizia ser muçulmana ainda, eestar disposta a lutar por “seu islã”.Argumentava que nos textos existemmuitos versos que podem ajudar a queuma nova interpretação derrote a leituraestrita dos islamistas. Concluindo,Manji convidou os não muçulmanosa tomar parte no debate juntocom os muçulmanos reformistas. “Seeles dizem que não tens nada a dizersobre temas muçulmanos, decides queeles não têm nada que dizer sobretemas não muçulmanos”.O primeiro painel incluiu TawfiqHakim, do Egito, que destacou que asraízes do terrorismo encontram-se naideologia que se disfarça de doutrinareligiosa. Nibras Kazimi, do Iraque,falou sobre “a mentalidade dos generaisjihadistas”. Outros intelectuais,como Shahriar Kabir, de Bangladesh;o dr. Shaker al Nabusli, da Jordânia ouo dr. Afshin Ellian, um iraniano residentena Holanda, trataram das relaçõesentre tradição e sharia. Ao finaldo primeiro dia, o último painel, comSalamat Neemat, da Jordânia, HasánMahmoud, de Bangladesh, e eu, debatemossobre o direito internacional,política e o movimento islamista.No dia seguinte, Nonie Darwish,da Palestina, Wafa Sultan, da Siria,Zeino Baran, um acadêmico turco-americano,e Manda Zand Ervin, do Irã,trataram do secularismo, do terrorismofeminino e o islamismo.Apelativamente, e “antes” de quetivessem lugar as conferências, sedesataram os ataques a partir da internetcontra a reunião por parte daspáginas pro-wahabitas, salafistas ekhomeinistas. A Al Jazeera enviouuma equipe para entrevistar os participantese emitir também “opiniõescontrárias” de líderes da comunidadelocal na região. Em seus programasda tarde, a rede de TV recebeuum representante local do grupo depressão CAIR e o dr. Nabulsi “na linhade fogo” da conferência.Em minha apresentação, centreimenas múltiplas áreas das relaçõesinternacionais, nas quais os conceitosjihadistas devem ser tratados nãosomente pelos dissidentes, mas tambémpelos denominados países importantes:jihad, infiéis, Califado, darel Harb. Estes termos do início dahistória islâmica podem ter feitoparte das normas da política mundiale as guerras religiosas da época,leia-se há 1300 anos, mas sob o sistemainternacional atual não há lugarpara o jihadismo e suas derivações.De outra forma, isto voltará aabrir o caminho da desintegração dodireito internacional. Nesta conferência,argumentei, o movimento dereforma global pode não estar deacordo ainda em todos os aspectosda crise, mas constitui uma resistênciamuçulmana à jihad. Articulei osegundo conceito de modo que osmuçulmanos possam traçar a distinçãoentre identidade religiosa e ideologiamuçulmana concreta, possaminiciar um debate e libertar-se dojihadismo. Também argumentei que oOcidente abandonou durante décadasos muçulmanos anti-jihadistas econdenou o fato de que os governosocidentais, Estados Unidos inclusive,têm sido assessorados por apologistasda Jihad ao invés de muçulmanosliberais durante décadas.Em resumo, a Conferência do IslãSecular pode não ter sido tão grandecomo as conferências de apoio e financiamentowahabita ou khomeinistaem todo o mundo, mas certamentesupõe um exemplo do que pode ocorrerse a Europa, os Estados Unidos e acomunidade internacional levassema sério apoiar os intelectuais muçulmanosque procuram o pluralismo, osdireitos humanos e a democracia:uma mudança na guerra de idéias quepoderia forçar a guerra contra o terrore terminar antes e com resultadosmuito melhores.

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