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Conferência Internacional de AIDS, emFlorença, 1991, indicam que 70 a 80 porcento do total de infecções pelo HIV se dápor via sexual, e 60 a 70 por cento, porsexo vaginal; em números absolutos, entre250 e 500 milhões de heterossexuais estãohoje expostos a um risco alto ou moderadode aquisição da infecçáo, contra cerca dedez milhões de homossexuais masculinos,e até 5 milhões de usuários de drogas endovenosas'1 *.A existência da transmissão heterossexualbi-direcional é comprovada já há algunsanos (3 ' 4, . Até o que habitualmente sefala, quanto à necessidade de micro-lesõesda mucosa para permitir a infecçáo, não correspondenecessariamente à verdade. Tratasemais de uma dificuldade em conceituar omuito pequeno, e em querer que as coisas, anível microscópico, se dêem da forma comoas vemos, em grande aumento. Eqüivale, naverdade, em crer-se apenas no que se vê, ouse constata (o que dificulta a passagem donível clínico, individual, para o epidemiológico,coletivo). Portanto, se não se viu atransmissão heterossexual, ela não existe -uma inversão do postulado popperiano dafalsificação: segundo Popper, não é possívelafirmar que algo é verdadeiro, mas apenasprovar que um determinado conceito oufato é falso.Embora tenha-se associado epidemiologicamentea existência de ulcerações genitaiscom a transmissão do HIV, ela não écondição sine qua non, e nem o fato de ser arelação anal potencialmente mais traumáticaexplica necessariamente a correlação entrehomossexualismo e AIDS. A ocorrênciade infecçáo pelo HIV através de procedimentosde inseminação artificial - não traumáticos,até mesmo assépticos - já revelouisto (de novo) já há algum tempo.Na verdade, as mucosas do corpo - vaginal,retal, genital, oral ou outras - dispõemde um sistema imunitário local da maior importância:determinadas células especializadascaptam os agentes infecciosos, ou substâncias(antígenos) por eles produzidas nasuperfície das mucosas intactas, transportam-nospara o interior das mesmas, e osapresentam às células imunes (linfócitos),que existem em grande quantidade próximasa elas. Há então a produção local de anticorpos,secretados para a superfície da mucosa,com o eventual desenvolvimento deimunidade contra aquele mico<strong>org</strong>anismoespecífico.Este é um fenômeno bem conhecido poraqueles que se dedicam ao estudo das infecções,uma vez que, em geral, o melhor meiode se imunizar alguém é introduzir a vacinano <strong>org</strong>anismo pela via natural de infecçáo,como se faz com a vacina Sabin contra a poliomielite,empregada pela boca. Este fato émuito importante, pois existe a possibilidadede que uma eventual vacina contra o HIVsó venha a ser plenamente eficaz se administradadesta forma: por via vaginal, porexemplo.Sabe-se, hoje em dia, que aquelas célulasa que fizemos referência, chamadas de célulasde Langerhans, células dendríticas e célulasM, existentes na derme e nas mucosas,são capazes de serem infectadas pelo HIV,que nelas se multiplica em grande quantidade,e sem destruí-las. Estas células não só introduzemo vírus no <strong>org</strong>anismo, como propiciama sua multiplicação, e o transportamaté os linfócitos, permitindo portanto a infecçáodos linfócitos CD4 e, deste modo, do<strong>org</strong>anismo como um todo (2) .Por outro lado, confundir a absorção demoléculas de medicamentos com a de umacélula (grande) como um espermatozóide émá-fé científica - ou enorme desconhecimentodas bases da medicina. A absorção desubstâncias se dá em função de característicaspróprias das mesmas, pela existência demecanismos de transporte através da mucosa,e ainda pelo veículo em que a substânciaé administrada, entre outros fatores, e nãonecessariamente pelo tipo histológico do revestimentoepitelial da pele ou da mucosa.A explicação a que nos referimos acima,de que o reto "absorveria" melhor as substâncias,e portanto seria uma porta de entradamais fácil para o HIV, representa umatentativa, ainda que involuntária, de restringiro risco da AIDS a um determinado grupo:homens e mulheres que praticam sexoanal.Vagina e reto têm algumas condiçõesanatômicas e fisiológicas próprias que por sisós explicam uma maior predisposição parainfecçáo do que o pênis: com o seu pregueadomucoso interno, apresentam uma superfícieexposta aos agentes infecciosos muitomaior que a do pênis; sendo cavidades,mantêm claramente uma maior quantidadede sêmen em seu interior do que o pênis emsua superfície, e, em seu interior, os micro<strong>org</strong>anismosencontram condições muito maisfavoráveis para a preservação de sua infectividadepor um período de tempo maior.A reação àquelas informações pseudocientíficaso<strong>br</strong>igou ao surgimento de desmentidosparciais, em que se transformava adescoberta em algo mais simples: havia-severificado, apenas, que a transmissão na direçãomulher-homem era menos eficientedo que no sentido inverso. Ora, seria de espantarse assim não fosse.Não existem estudos experimentais, analisandoa eficiência da transmissão do HIV, enem seria éüco fazê-los. No entanto, pesquisasanteriores, referentes a outras doençasde transmissão sexual (como a sífilis e a gonorréia)revelam, de modo consistente, queé mais fácil infectar a mulher que o homem,e não se esperaria que para o HIV a situaçãofosse diferente. Este conhecimento é tambémantigo.Por outro lado, a probabilidade de transmissãodo HIV em uma única relação sexualé baixa, da ordem de 0,1 a 1%, o que nãopode ser motivo para atitudes temerárias oucomplacentes em relação ao sexo desprotegido,mas que explica facilmente porqueuma série pequena de observações podedar um resultado negativo, em termo daocorrência de transmissão.O que o distinto público nãoviu (porque não lhe foimostrado)Esta nuvem de fumaça de gelo seco, coloridapela arrogância acadêmica, pelo sensacionalismoe pela extraordinária fragilidadeda mídia <strong>br</strong>asileira ao tratar de assuntoscientíficos (reflexo, certamente, da fragilidademesma da ciência <strong>br</strong>asileira, aliás fartamenteexposta no episódio) impediu, comodito acima, que se discutisse seriamente oque há de subjacente ao fato lamentável dainfecçáo do jogador: a transmissão heterossexualdo HIV vem aumentando em todo omundo, inclusive nos Estados Unidos, e oreconhecimento disto no Brasil não atrapalhao nosso jogging semanal na direção doPrimeiro Mundo.Também no Primeiro Mundo, e não sóno Brasil e em outros países, a epidemia sedesloca na direção das camadas socialmentemais desfavorecidas da população: no sentidodas minorias raciais, das mulheres, dascrianças, dos mais po<strong>br</strong>es, da população dasruas e de todos aqueles que têm dificuldadeem exercer os seus direitos de modo pleno."Magic" Johnson é negro. Do total de192.406 casos de AIDS registrados nos EstadosUnidos de 1981 até setem<strong>br</strong>o do anopassado(5), 54.701 ocorreram em pessoas deraça negra: cerca de 28% do total, muito acimada participação da raça na composiçãoétnica da população americana (em torno de12%). Do mesmo modo, os latinos (ou hispânicos:6% da população), com 16% do totalde casos, estão representados em excessonas estatísticas do Centro de Controle deDoenças (CDC), repartição do governo americanoencarregada das estatísticas oficiaisso<strong>br</strong>e doenças de importância sanitária. Estasminorias, sabidamente desfavorecidasnaquele país, estão, portanto, submetidas aum risco aumentado, em relação à população<strong>br</strong>anca, majoritária.As mulheres destas minorias raciais tambémsão mais afetadas: nos casos registradosde AIDS, a relação homem/mulher nosEstados Unidos é em torno de 9/1 (semelhanteà do Brasil, portanto). Na população<strong>br</strong>anca, esta relação sobe para 19/1 - e, entreos negros, despenca para 4/1, assumindonos latinos uma posição intermediária.Quanto às crianças (que representam 1,7%do total de casos, comparável portanto aos1,88% da estatística mais recente do Ministérioda Saúde do Brasil), as negras somam53% do total - e as hispânicas, 25%.A transmissão heterossexual, que até oinício de 1988 era responsável por 4% doscasos, representa hoje cerca de 6% do total(um aumento de 50%) - e, como estes dadossão cumulativos, é forçosamente maior doque isto, hoje em dia. Entre os <strong>br</strong>ancos, o11

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