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Somos a maioria - cpvsp.org.br

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Há valores que herdamose carregamos conosco,eles estão presentes nosnossos gostos, hábitos, maneirase costumes. Convivendo com asoutras pessoas, estabelecemosrelações através das quais às vezesachamos que mandamos,outras vezes que somos mandados, detemosou não o poder; um poder que nemsempre é aparente, mas que, mesmo simbólico,sabemos quando ele existe (ou>. inexiste). Toda esta bagagem cultural e= estas disputas pelo poder importam ao muitos, mas acreditamos que elas impor-03 tam muito mais quando fazem parte da;= nossa história. Um dado importante,■D quando analisamos uma trajetória indivi-£: dual e/ou coletiva, é considerar nesteprocesso a diferença de gênero; aliás, ressaltaro gênero é deixar falar a diferença. Adiferença entre homens e mulheres, mas,principalmente, a diferença entre a masculinidadee a feminilidade, pois esta carregaconsigo valores sócio-afetivos que sãoapreendidos, interiorizados e não podemdeixar de ser questionados.Em uma sociedade que tem historicamenteuma imagem depreciativa da homossexualidade- uma imagem coletiva que se,por um lado, é mais que a soma das partes,por outro, nem todas as partes comungaminteiramente com ela - não existiriam outrasimagens? O movimento homossexual que,no Brasil, teve seu ápice entre 1979 e 1981,contribuiu de forma fundamental para aconstrução de um outro modelo da homossexualidadea partir da construção da identidadehomossexual, como demonstra o trabalhode Edward MacRae. Portanto, aofalarmos das relações e das práticas homossexuais,precisamos saber quem fala. Aquiseguiremos as falas subterrâneas, aquelasque encontram dificuldades para se afirmarsocialmente nas relações de força existentes,que se mantêm em silêncio e afloram nosmomentos de crise.Quando o movimento homossexual inverteo estigma de "desviante" para o de um"modelo alternativo" ao predominante, atravésda manipulação de sua identidade, esqueceque sob um outro referencial não bastaapenas mudar de lugar, é preciso repensarestes lugares; o caso das mulheres homossexuaisé um exemplo. No Brasil, com o surgimentode novos personagens políticos e de"memórias subterrâneas" - para usar a expressãode Pollak - que só esperavam o momentopropício para subir e fazer-se ouvir,parece que a discussão so<strong>br</strong>e o lesbianismocontinuou subterrânea.No interior do grupo homossexual: a eternadiferença. As mulheres têm questões específicasque não conseguem pôr em discussão,além de ser comum, como afirmaMacRae, entre os "homossexuais em geral aexpressão de sentimentos negativos a respeitodo sexo oposto". Algumas partiram paragrupos específicos de mulheres homos-Entre os iguais,os diferentessexuais; é o caso de uns poucos gruposexistentes em São Paulo e no Rio Grandedo Sul, alguns considerados herdeiros dalinha mais radical no feminismo. No movimentofeminista foram discriminadaspor serem lésbicas e suas questões remetidasao "bloco homogêneo" - homossexualidade,que deveria ser discutido nomovimento homossexual. Apesar disso,as lésbicas militantes contribuíram paraque se refletisse mais so<strong>br</strong>e a sexualidadefeminina e so<strong>br</strong>e o lesbianismo. No entanto,quando o movimento homossexual precisamanipular a identidade do então discriminado"bloco homogêneo", eis que osgrupos lésbicos se tomam radicais (não uso otermo como uma censura, pelo contrário, radicalé com certeza resistente e firme numaposição definida, que pode ser bastante útilem uma dada conjuntura). Muitas vezes nãoaceitam uma aliança, por quê? No que dizrespeito às questões consideradas específicaspelas mulheres homossexuais, são verdadeirasas suas especificidades, mas, ao mesmotempo, podem correr o risco de levar ao extremosua discussão e perder de vista a importânciada problemática mais ampla. Nestesentido, a questão da AIDS é um exemplosignificativo, dado que o referendo da medicina,que aliás foi (ou é?) importante para aprópria definição da homossexualidade, acabasendo utilizado para que as mulheres homossexuaisse considerem isentas da epidemiada AIDS.Argumenta-se que haja, por um lado, atendência dos homens considerarem comogerais as suas necessidades específicas, poroutro, o fato da educação diferenciada entrehomens e mulheres. Se a homossexualidadepode ser construída como um "modelo alternativo"à sociedade mais ampla, mesmo havendono interior do movimento uma novacorrelação de forças, a produção de umaimagem coletiva, a tentativa de tornar o tal"bloco homogêneo" (homogêneo?)... Não sepoderia tentar uma coalizão calcada na diferença?Voltando à questão inicial quandoafirmei que o gênero significa a emersão dadiferença, gostaria de pensar um pouco estadiferença interna que é, so<strong>br</strong>etudo,externa. Nas CiênciasSociais, o gênero tem aparecidocomo a possibilidade de serecontara história. A históriaque foi, até pouco tempo, contadasob uma ótica masculina náofoi feita somente pelos homens.Assim, contamos agora a história das mulherese, conseqüentemente, a história dasrelações entre os sexos. A história de quem,em diferentes esferas, resistiu, <strong>br</strong>igou parafalar e se fez ouvir.Antes de falarmos da orientação sexualdevemos considerar se falamos de homensou de mulheres, pois a inserção dos indivíduossexuados na sociedade é diferenciada etem sempre presentes relações de poder. Aamericana E. Blackwood, afirma que é umerro considerar a priori a homossexualidadefeminina como menos existente ou menosinstucionalizada do que a masculina. Esta éuma maneira de perceber apenas um ladodas coisas. O "modelo alternativo" - homossexualidade,quando visto como um "blocohomogêneo", seja pelos de fora ou pelos dedentro, reduz as nuanças internas ao movimentoe a realidade diferenciada de homense mulheres homossexuais. A inserção social eo contexto cultural fazem com que as atribuiçõesmasculinas e femininas sejam vivenciadasde maneiras diferentes por homens emulheres e mais, nem sempre se desempenhao papel que lhes é destinado. Possivelmente,esta diferença faz com que as mulheressejam discriminadas mais uma vez. Este éum dado concreto, mas, apesar da eterna diferençaentre homens e mulheres, há a necessidadede nos sensibilizarmos para questõesque dizem respeito à humanidade como umtodo. A discussão da AIDS, neste sentido,cada vez mais tem-se tomado crucial. Estariam,então, as mulheres homossexuais isentasdeste todo?Não se pode mais negar a condição de sujeitodas mulheres (hetero ou homossexuais),negar qüe elas são donas dos seus atos e vontades.Diz-se que as relações entre os homenssão mais promíscuas do que entre as mulherese que, por sua vez, quando uma mulherestá casada some do movimento, some dosbares, enfim, some do circuito. Não será porquea concepção destas mulheres é a concepçãodas mulheres a respeito do amor, da sexualidade,das relações, do mundo...? E, sesegmentos do movimento homossexual acabaramse voltando para o enfrentamento daAIDS - trata-se da so<strong>br</strong>evivência biológica da"espécie"(?) -, as mulheres homossexuaisnão poderiam se voltar para a AIDS comouma questão tematizada junto aos direitoshumanos?E bastante difícil olhar com os olhos dosoutros porque só temos os nossos, mas, talvez,o caminho seja considerar que os outrosnos olham com os olhos deles, os únicos quepossuem.Cristina Luci C. da SilvaMestranda em Sociologia-IFCS/UFRJ

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