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Revista do Brasil #116

revista de política, economia, cultura e ambiente

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LITERATURA<br />

FOTOS EVERTON AMARO/FUNDAÇÃO MAURÍCIO GRABOIS<br />

Camila Lanes, estava lá. Ficou feliz com<br />

o encontro entre a jovem de 19 anos e o<br />

poeta de 90, “muito consciente e simpático”.<br />

Ela conta que já conhecia um pouco<br />

da obra de Thiago na escola e por amigos<br />

que gostam de poesia. No primeiro ano<br />

<strong>do</strong> ensino médio, fez um trabalho com<br />

base no poema Faz Escuro Mas eu Canto.<br />

“Thiago de Mello conviveu com uma<br />

parte muito grande da história <strong>do</strong> país”,<br />

diz Camila. Para ela, o atual momento<br />

politico, conturba<strong>do</strong>, ajuda a refletir sobre<br />

o papel de cada pessoa como cidadão.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, acrescenta, Thiago é<br />

referência, “por sua militância, na poesia<br />

e na vida”.<br />

Em sua dissertação, Pollyana Furta<strong>do</strong><br />

Lima destaca o fato de Thiago de Mello<br />

não ter permaneci<strong>do</strong> em seu esta<strong>do</strong> de<br />

origem. “Sem esse deslocamento geográfico<br />

e as estratégias a<strong>do</strong>tadas pelo escritor,<br />

seria pouco provável a repercussão<br />

de sua obra. Da mesma forma, a atividade<br />

diplomática no Chile e na Bolívia, as<br />

perseguições políticas no perío<strong>do</strong> militar,<br />

o refúgio nos países da América Latina<br />

segui<strong>do</strong> de exílio na Europa, foram<br />

acontecimentos de sua vida que tiveram<br />

efeito sobre a sua visão de mun<strong>do</strong>, a sua<br />

criação literária e, sobretu<strong>do</strong>, a circulação<br />

de sua obra em países considera<strong>do</strong>s centros<br />

literários mundiais, como a França<br />

e a Alemanha.”<br />

E se porventura a dermos<br />

ao mun<strong>do</strong>, tal como a flor<br />

que se oferta – humilde luz –,<br />

teremos então cumpri<strong>do</strong><br />

a missão que é dada ao poeta.<br />

E como são onda e mar,<br />

seremos homem e palavra.<br />

(Silêncio e Palavra, 1951)<br />

Em 1951, aos 25 anos, Thiago lançou<br />

o seu primeiro livro, Silêncio e Palavra.<br />

O mais recente, e segun<strong>do</strong> ele o último,<br />

é de 2015: Ajuste de Contas. Entre um e<br />

outro, duas dezenas de obras. Desde a poética<br />

engajada de Faz Escuro Mas Eu Canto<br />

(1965) e Poesia Comprometida com a<br />

Minha e a Tua Vida (1975), há publicações<br />

sobre o escritor argentino Jorge Luis<br />

Borges e até sobre uma paixão de infância,<br />

Arte e Ciência de Empinar Papagaio.<br />

Faz Escuro Mas eu Canto é também o<br />

nome de um show, dirigi<strong>do</strong> por Flávio<br />

Rangel, em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos 1970, com<br />

Thiago declaman<strong>do</strong> e Sérgio Ricar<strong>do</strong><br />

cantan<strong>do</strong>. Estreou no Teatro Opinião,<br />

no Rio de Janeiro, e correu o país. Eles<br />

conseguiram liberar o espetáculo, mas a<br />

censura vetou parte <strong>do</strong>s textos.<br />

“Foi um momento heróico da nossa vida”,<br />

lembra Sérgio Ricar<strong>do</strong>, que inicialmente<br />

procurou, além de Thiago, o também<br />

poeta Ferreira Gullar, que acabou<br />

não entran<strong>do</strong> no projeto. “Foi um convívio<br />

maravilhoso, sem nenhum atrito,<br />

um trabalho meio épico. Cada lugar que<br />

a gente passava, deixava uma marca.” Segun<strong>do</strong><br />

ele, mesmo obras censuradas acabavam<br />

entran<strong>do</strong> no roteiro. “Em alguns<br />

lugares a gente driblava, fazia mesmo o<br />

que estava proibi<strong>do</strong>. Era uma contravenção<br />

total”, diz, rin<strong>do</strong>.<br />

Para o cantor, compositor, cineasta e<br />

artista plástico, aquele foi, talvez, o show<br />

mais importante de sua vida. “Não era<br />

entretenimento, era guerrilha mesmo.<br />

Uma guerrilha cultural. Éramos <strong>do</strong>is pagãos<br />

pelo <strong>Brasil</strong>”, afirma, consideran<strong>do</strong><br />

Thiago um grande artista de palco. “Ele<br />

declaman<strong>do</strong> os poemas é uma coisa arrepiante”,<br />

diz Sérgio Ricar<strong>do</strong>.<br />

38 ABRIL 2016 REVISTA DO BRASIL

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